Você está na página 1de 16

Styling Conheça a profissão do Stylist,

entenda os processos de criação


Rodrigo Polack
e construção de imagens

Leitura Complementar
Editoras de Moda
AS EDITORAS DE MODA
DIANA VREELAND:

Nascida em Paris em 1903, Diana Vreeland começou sua


carreira no Harper's Bazaar em 1936. Sua coluna "Why Don't
You ...?" era famosa por oferecer dicas de moda e estilo
extravagantes para os tempos. Vreeland mais tarde se tornou a
editora de moda da revista e se estabeleceu como uma das
principais árbitras de estilo do país. Em 1962, ela se juntou à
equipe da Vogue América e continuou a ser uma força poderosa
no mundo da moda, muitas vezes capaz de identificar
tendências futuras, como a popularidade do biquíni. Vreeland
também trabalhou com muitos fotógrafos conhecidos, como
Richard Avedon, ao fazer a revista.
Diana Vreeland deixou a Vogue em 1971, mas não deixou o
mundo da moda. Trabalhou como consultora do Metropolitan
Museum of Art, montando exposições de moda. Morreu em 22
de agosto de 1989. Casada com T. Reed Vreeland desde 1º de
março de 1924, ela teve dois filhos: Thomas R. Jr. e Frederick.
Em 2012, a diretora Lisa Immordino Vreeland, esposa do neto de
Vreeland, lançou o documentário “Diana Vreeland: O Olho Tem
Que Viajar”

O Documentário está disponível no Vimeo, no link abaixo:


https://vimeo.com/153660328
MÁTERIA SOBRE DIANA VREELAND

DIANA VREELAND: A ENCARNAÇÃO DO LUXO E SEU


FARO INFÁLIVEL PARA DESCOBRIR NOVOS TALENTOS
Matéria originalmente publicada no jornal O Globo, em 2013
Por Gilberto Scofield Jr.
https://oglobo.globo.com/ela/moda/diana-vreeland-encarnacao-do-
luxo-seu-faro-infalivel-para-descobrir-novos-talentos-16951628

Quando, na década de 1980, o editor George Plimpton perguntou


a Diana Vreeland – a lendária editora de moda da "Harper's
Bazaar", editora-chefe da "Vogue" e curadora do Instituto de
Vestuário do Metropolitan Museum of Art – o que poderia ajudar
uma pessoa a ser, como ela, um “Ícone de Estilo”, uma
“Imperatriz da moda”, uma “Soberana do luxo” (todas expressões
usadas para descrevê-la), Diana respondeu com uma de suas
célebres frases: “Meu querido, a primeira coisa a providenciar é
nascer em Paris. Depois disso, tudo segue bem naturalmente.”
É uma deliciosa piada para uma mulher que nasceu em Paris
durante a Belle Époque, mas emigrou ainda menina para Nova
York às vésperas da Primeira Guerra Mundial, mudou-se para
Londres logo depois da Grande Depressão e por fim retornou a
Nova York no início da Segunda Guerra Mundial para tornar-se
uma lenda do luxo e do estilo sem nunca ter tido uma educação
formal.

"Você tem que ter estilo. Ele te ajuda a descer a


escada. Ele te ajuda a levantar de manhã. É um
modo de vida. Sem ele, você não é nada"
afirmou, na biografia “D.V.”, editada por Plimpton em 1984 e
imediatamente transformada numa espécie de manual fashion
até hoje. A mulher que criou a figura da editora de moda como
conhecemos hoje viveu uma vida luxuosa de verdade (e eu não
me refiro a dinheiro).
Diana nasceu Diana Dalziel, filha do corretor inglês Frederick
Dalziel e da socialite americana Emily Hoffman. Emily não era
exatamente uma supermãe. Vivia lembrando a menina sobre
sua aparência em comentários do tipo: “É muito chato que você
tenha uma irmã tão bonita e que seja tão feia e tão
terrivelmente invejosa dela”.
"Pais, você sabe", diz Diana em sua biografia, "podem ser
terríveis.”
No documentário “Diana Vreeland: the eye has to travel”,
lançado em 2011 e dirigido por Lisa Imordino Vreeland (mulher
do neto Alexander), percebe-se que a autoestima de Diana só se
fortaleceu de vez com o casamento com o banqueiro bonitão
Reed Vreeland, que a adorava. Com isso, Diana desenvolveu um
olhar para enxergar muito além das aparências, especialmente
o extraordinário e o incomum.

Diana conseguia ver o melhor nas pessoas e desenvolvê-lo – diz


a estilista Diane Von Furstenberg em “The eye has to travel”, ela
mesma uma descoberta de Diana.

Em 1936, a então editora-chefe da “Bazaar”, Carmel Snow,


encantou-se com aquela morena exótica, nariguda, vestida de
Chanel e dançando nos salões do Hotel St. Regis em Nova York.
Imediatamente lhe ofereceu uma coluna chamada “Why don't
you...” (Por que você não...), em que Diana dava os mais loucos
conselhos de estilo de vida num momento em que o mundo
rumava para um de seus piores conflitos planetários com a
ascensão de Hitler e do nazismo. “Por que você não pinta um
mapa-mundi nas paredes do quarto de seus filhos para que eles
não cresçam tendo uma visão muito provinciana de mundo?”.
Luxo.
“Com uma atitude dessas,
vocês mantêm a civilização
atrasada uns mil anos.”
Em pouco tempo, Diana se tornava editora de moda da revista,
um cargo que, aliás, ela simplesmente reinventou, tirando de
cena as conversas de dondocas e trazendo um olhar que
misturava moda, arte, comportamento, música, literatura. Em
1947, foi a primeira a fotografar uma modelo de biquíni,
causando horror em sua equipe. Disse ela então: “Com uma
atitude dessas, vocês mantêm a civilização atrasada uns mil
anos.” Mais tarde, descobriu o blue jeans.

Foi dela o olhar que fez de Lauren Bacall modelo muito antes da
atriz hollywoodiana de sucesso que se tornou. E Anjelica
Houston. E Twiggy. E Edie Sedgwick. E Penelope Tree. E
Veruschka. Ao mesmo tempo, ajudou a turbinar a carreira de
fotógrafos como Richard Avedon, Irving Penn, David Bailey,
Patrick Litchfield e Cecil Beaton. Trouxe para a revista de moda
gente como os Beatles, Elizabeth Taylor, Barbra Streisand (ela
celebrou o nariz de Barbra numa capa da "Bazaar" inesquecível).
comprar a Condé Nest, para ser editora-chefe da "Vogue".
Ao fim da década de 1950, Carmel saiu de cena, mas Diana não
assumiu o cargo de editora-chefe. Ressentimentos afloraram.
Em “D.V”., ela sai atirando: “Depois de 28 anos, em 1959, os
Hearst (donos da revista) me deram um aumento – mil dólares.
Você imagina? Você daria à sua cozinheira isso depois de 28
anos trabalhando para você?”
Em 1962, aceitou o convite de Sam Newhouse, que acabara de
comprar a Condé Nest, para ser editora-chefe da "Vogue".

E voou ainda mais alto. Era a editora-chefe que não poupava


dinheiro para mandar suas equipes aos lugares mais exóticos
para fazer as produções mais incríveis. E agigantou a figura
irascível que humilhava assistentes, gritava e deixava a todos
terrivelmente intimidados com sua presença, de modelos a
estilistas, o verdadeiro “Diabo veste Prada”. Quando o marido
morreu, em 1966, foi ao velório de branco. E passou a
frequentar festas e sair com jovens talentos. É absolutamente
hilária a história do dia em que o ator Jack Nicholson, com dor
nas costas, fez Diana cruzar Nova York atrás de um emplastro.
Nicholson não aguentava de dor e, sem maiores formalidades,
arriou as calças e fez a própria Diana colocar o emplastro no
corredor do banheiro de um restaurante.

"Que maravilha", disse ela, diante do derriére do ator. "Eu devo


dizer que sua química é muito boa: redonda e rosa".
Tornou-se consultora (e amiga) de Jackie Kennedy.
Frequentava Warhol e sua Factory, dançava no Studio 54, até
que os diretores da "Vogue" começaram a enjoar de sua linha
editorial muito focada em novas tendências e reclamar do custo
de manutenção da revista. Em 1971, foi demitida.

O que parecia o fim de uma carreira, com ela próxima do 70


anos, transformou-se em sua mais espetacular virada
profissional, ao assumir a curadoria do Instituto de Vestuário do
Metropolitan Musem, onde não apenas organizou as mostras de
roupas e grifes mais sensacionais, reunindo um público jamais
visto no museu, como angariou fundos e modelitos para o
acervo do instituto. "

"Eu tinha 70 anos. O que esperavam


que eu fizesse? Me aposentar?”.

O trunfo de Diana à frente do instituto, segundo sua biografia,


não foi apenas exibir os figurinos de balés russos ou modelos
magníficos de castings hollywoodianos, mas contextualizá-los
em suas épocas, mostrando costumes, hábitos e rotinas
correlatas, espécies de crônicas da vida privada de cada
momento. Uma exibição de Balenciaga ou YSL não era apenas
um apanhado de vestido de alta-costura. Era a interpretação da
moda no costume da época e da própria História do vestuário.
Diana Vreeland em uma de suas exposições. Ao
lado de um manequim Balenciaga, no Costume
Institute, Metropolitan, Nova Iorque. 1973.

Morreu em 1989 praticamente cega e acompanhada do


discípulo André Leon-Talley, que mais tarde viria a trabalhar
com outra lenda da moda: Anna Wintour. Como se disse, uma
vida luxuosa de verdade.

Você também pode gostar