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Styling Conheça a profissão do Stylist,

entenda os processos de criação


Rodrigo Polack
e construção de imagens

Leitura Complementar
Editoras de Moda
AS EDITORAS DE MODA
ANNA WINTOUR
Anna Wintour, editora-chefe da Vogue América e diretora
artística da Condé Nast, é amplamente considerada a figura
mais influente da moda.

A Vogue americana alcança mais de 12 milhões de leitores


impressos e uma média de 1,2 milhão de visitantes mensais on-
line. Wintour é sem dúvida a editora mais comercialmente
ocupado de todas. Ela aproveitou a posição da Vogue US como
documentador e selo de aceitação para colocar a revista dentro
do coração comercial da indústria. Durante seus 25 anos na
Vogue América, Wintour liderou a prática editorial de
apresentar celebridades na capa, tirar as páginas de moda do
título do estúdio e ir para a rua e usou a influência do título
principal da Condé Nast para conquistar novos designers
americanos através da premiação CFDA / Vogue Fashion Fund.
Wintour também lançou o Fashion’s Night Out, evento que visa
promover as novidades da estação.
A editora britânica descreveu seu novo papel como diretora
artística como "uma extensão do que estou fazendo agora, mas
com um escopo mais amplo". O New York Times descreveu-a
como uma "consultora interna para revistas problemáticas ou
datadas.

Em 2009, no filme do diretor R. J. Cutler, “The September Issue”


(documentário que mostra a criação e produção da edição de
setembro da revista Vogue América), Wintour disse: “Crescendo
em Londres nos anos sessenta você teria que andar com um
saco em sua cabeça para não perceber que algo extraordinário
estava acontecendo na moda. Toda a revolução que acontecia
naquela época, a pílula, a emancipação das mulheres e o fim do
sistema de classes, me fez amar a moda desde cedo.” Wintour,
já equipada com o que se tornaria sua marca registrada,
conseguiu um emprego em uma loja de roupas de Londres,
antes de completar um programa de treinamento na Harrods
(loja de departamento). Logo depois, após um período
ganhando experiência na revista Oz, Wintour assumiu um papel
na Harper's & Queen.

Depois de se mudar para Nova York, Wintour tornou-se editora


júnior de moda na Harper's Bazaar, um papel que ela deixou
para ocupar o cargo na revista Viva e, mais tarde, em 1980,
Savvy, um título voltado para mulheres independentes. Após um
breve, mas bem-recebido período na New York Magazine,
Wintour foi escolhida para ser a diretora criativa da Vogue
América. Em 1985, Wintour tornou-se editora-chefe da Vogue
Britânica, onde implementou mudanças abrangentes. "Há um
novo tipo de mulher por aí", disse ela ao Evening Standard (jornal
inglês). "Ela está interessada em negócios e dinheiro. Ela não
tem mais tempo para fazer compras." Wintour retornou a Nova
York em 1987 para assumir a revista House & Garden, dez meses
depois, em 1988, ela assumiu a direção da Vogue América. Sua
primeira capa, uma foto de rua mostrando uma modelo vestindo
jeans e um suéter de alta costura do estilista Lacroix declarou
um novo capítulo na história da revista.

Hoje, as páginas da Vogue US são preenchidas por um círculo


de fotógrafos, editores e designers que fornecem à revista uma
estética visual variável, mas consistente; muitos dos quais
foram nutridos e defendidos por Wintour. Os fotógrafos Mario
Testino, Annie Leibovitz, Craig McDean, Steven Meisel e David
Sims são todos colaboradores regulares. Wintour foi pioneira
no uso de figuras de fora da indústria da moda, incluindo o
jogador de basquete LeBron James e o rapper Puff Daddy, para
representar o zeitgeist (espírito do tempo) e ilustrar suas
mensagens editoriais. Sua habilidade e profissionalismo já foi
fonte de inspiração para o filme hollywoodiano “O Diabo Veste
Prada”, de 2006.
"Acredite no seu próprio Estilo. Deixe que ele
seja único para você mesma e ao mesmo
tempo identificável para os demais."

Wintour é curadora do Museu Metropolitano de Nova York, seu


envolvimento transformou a gala anual do museu em um dos
eventos de maior destaque do ano. O departamento de moda do
museu foi rebatizado com o seu nome, Anna Wintour Costume
Institute, em 2014. Além disso, ela é uma firme defensora do
Partido Democrata e levantou fundos para as propostas
presidenciais de Hillary Clinton e Barack Obama. Wintour tem
dois filhos e está em um relacionamento com Shelby Bryan, um
empresário texano.
"Se você observar qualquer grande
fotografia do mercado de moda fora de
contexto, ela te dirá tanto sobre o que
está se passando no mundo quanto
uma manchete do New York Times.”
ENTREVISTA COM ANNA WINTOUR
A LIÇÃO DE ANNA WINTOUR
Por David Alendete, 19 de outubro de 2015.
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/16/eps/1445007640_626556.html
MATÉRIA ORIGINALMENTE PUBLICADA NO SITE EL PAÍS

A mulher mais poderosa e influente na história da moda


contemporânea entra com elegância e timidez na sombreada
biblioteca da Embaixada norte-americana em Madri. Usa um
vestido plissado Gucci com uma fina estampa em ziguezague e
um grosso colar com pedras amarelas e roxas e rosa. O
penteado é o mesmo há décadas, um sóbrio bob até o queixo,
de linhas retas, que muitas mulheres no mundo podem usar,
mas que é dela e só dela, o corte de cabelo de  Anna Wintour.
Está com aqueles óculos de sol pretos Chanel que os tabloides
dizem serem eternos, que nunca tira, uma barricada que parece
antecipar uma entrevista fria e rápida, já que, conforme
comunicaram seus assistentes, “Anna só tem alguns minutos”.
É então uma verdadeira surpresa quando Anna Wintour se
senta com uma sutileza quase modesta na poltrona, tira os
óculos e revela inquisitivos olhos azuis que com frequência
interrogam seu interlocutor com atenção e curiosidade. A
mítica diretora da edição norte-americana da Vogue sorri muito
e está disposta não só a explicar como faz com tanto sucesso
seu trabalho em um mundo editorial que muda a passos
agigantados, mas também a dar conselhos muito necessários
para que a Espanha amplie sua limitadíssima presença no
mercado internacional da moda. Ao final, com uma escrupulosa
educação, não olha seu fino relógio dourado nenhuma vez e
deixa o tempo ultrapassar o limite estabelecido.
Sua carreira tem sido marcada por decisões audazes e
provocadoras. A mistura de alta costura com o prêt-à-porter
mais comum se tornaria um verdadeiro cânone da moda desde
da sua chegada na revista americana Uma década depois,
ofereceu a capa da revista à então primeira-dama norte-
americana, Hillary Clinton, justamente no auge do escândalo
sexual do seu marido na presidência. Moda e política se
uniriam.  Michelle Obama protagonizou duas vezes a capa da
revista, e Wintour foi uma formidável máquina de arrecadação
de fundos para o atual presidente: mais de cinco milhões de
dólares (19,5 milhões de reais) desde 2007, segundo estimativas
do The New York Times.
Em abril de 2014, fez com que a premiada fotógrafa Annie
Leibovitz retratasse o casal do momento, o rapper Kanye West
e a socialite Kim Kardashian, gerando uma explosão nas redes
sociais. Era a sublimação de uma tendência iniciada por ela
mesma de levar gente famosa, não só modelos e estilistas, às
capas das revistas de moda.

– Foi muito trabalhosa a sessão de Kanye West e Kim


Kardashian?
– Sabíamos que teria um impacto enorme. Não se pode fazer
algo assim em todas as edições. É preciso ter um equilíbrio
entre as capas mais tradicionais e algo que seja muito
surpreendente. A Vogue tem que ser uma autoridade, não pode
ir longe demais, nem tampouco ficar muito atrás. É preciso
saber exatamente quando ultrapassar os limites.
O incrível é que conseguimos mantê-la em segredo. Tínhamos
outra capa que havíamos mostrado em todos os lugares, que
todo mundo pensava que seria a verdadeira.
A Internet trouxe uma mudança fantástica. Com ela você pode
falar com o seu público. Antes, estava muito afastada dele.

"Na minha primeira edição de setembro,


coloquei a Naomi Campbell na capa. A
direção não podia acreditar que eu havia
escolhido uma modelo negra"
A carreira de Wintour também tem sido marcada por desafios.
Quando lhe perguntamos se colocaria uma transexual na
capa, como a Vanity Fair fez com Caitlyn Jenner em julho, diz
que já dedicou espaço no interior da revista a  Andreja Pejić,
modelo transgênero australiana, em maio.

– A senhora enfrentou muito cedo outro desafio, o da raça.


– Na primeira edição de setembro que fiz, coloquei a Naomi
Campbell na capa. Recordo que nessa época tínhamos que
mostrar a revista à direção. Quando mostrei houve um silêncio
total, porque não podiam acreditar que tivesse colocado uma
modelo negra na capa da edição de setembro [a que tem mais
páginas e mais anúncios, a verdadeira bíblia da estação]. Então
isso foi considerado muito arriscado.

– Há todo um movimento que pede uma maior presença de


pessoas mais velhas no cinema, na TV e nas revistas de moda.
Pessoas como Madonna, que se queixam de discriminação.
Acredita que é um tema pendente?
– Nunca pensei nisso. Veja, Karl Lagerfeld tem 82 anos e é o
maior gênio criativo atuante no momento. Acho que todo
mundo o admira como a um deus. Ralph Lauren tem mais de 70
e controla um negócio de um bilhão de dólares (3,9 bilhões de
reais) [Lauren deixou o cargo há algumas semanas, após esta
entrevista] com muito sucesso. Acho que é uma pergunta um
pouco negativa.
A carreira de Wintour na crista da moda não esteve isenta de
crises. Várias vezes foi cogitada sua saída da  Vogue, sempre
erroneamente. A última foi após a reeleição de Obama como
presidente. Os tabloides diziam que Wintour seria embaixadora
no Reino Unido. Nada mais longe da realidade. Em 2013, foi
promovida. Ficou na direção da  Vogue  e ainda assumiu a
direção artística de toda a Condé Nast, a editora que também
publica títulos como Glamour, Vanity Fair e GQ.
A maioria das polêmicas foram as habituais no mundo da
moda,  como a magreza das modelos  e o uso de peles nas
sessões de fotos. Também houve boatos sobre uma suposta
frieza e dureza na redação. Uma assistente que passou só 10
meses sob suas ordens escreveu em 2003 um livro fictício,  O
Diabo Veste Prada, cuja protagonista foi inspirada nela.

Certo é que tudo nela envolve um magnetismo reforçado por um


surpreendente senso de humor. Quando compareceu à estreia
de O Diabo Veste Prada, os jornalistas perguntaram o que vestia
e ela respondeu: Prada, claro. Um dos vídeos mais vistos na
página da Vogue na internet é uma série de 73 perguntas onde
conta que se levanta às 5h da madrugada e toma um café da
Starbucks, gosta de nardos, tem medo de aranhas e nunca,
nunca, vestiria só de preto. “Onde está a cor?”, pergunta a uma
empregada que traz um cabide cheio de roupas escuras.
Wintour, naturalmente, não é só a diretora de uma revista. É
uma das principais artífices da consolidação da moda como um
negócio que movimenta fortunas em todo o mundo, que
emprega milhões de pessoas e que tem sua grande liturgia nas
quatro semanas da moda de Nova York, Paris, Milão e Londres,
de outono e primavera. Dizem os estilistas que um gesto seu
num desfile pode fazer despontar ou afundar uma carreira, um
claro exagero, mas que indica a grande influência que ela tem
nesse mundo. Sobretudo, destaca-se por ter ajudado jovens
promessas a chegar mais alto, o que lhe valeu lealdades
inabaláveis.

Teve também gestos muito humanos e quase magnânimos,


como pedir em dezembro passado que John Galliano lhe
entregasse um prêmio honorário na Grã-Bretanha, onde usou
um vestido desse estilista para  a marca que o contratou, a
Maison Martin Margiela. A mensagem: o mundo da moda
deveria virar a página do escândalo causado por comentários
antissemitas que Galliano proferiu na intimidade em Paris, em
2011, e que foram gravados por turistas. Ele havia pedido
perdão. Foi demitido da Christian Dior. Era punição suficiente.

Seu desafio agora é enorme. A  Vogue  norte-americana


continua sendo a revista de moda de referência no mundo. Mas
os leitores da mídia impressa caem a olhos vistos, e a
publicidade e o faturamento despencam junto. Sua empresa se
encontra imersa em um processo de conversão digital. Em
2014, relançou o portal  vogue.com, que em um ano aumentou
suas visitas em 108%.
— No que a Internet e as redes sociais alteraram seu trabalho?
— O avanço tecnológico mudou o trabalho de todos, não só o
nosso mundo. Evidentemente, para nós é fantástico, significa
que podemos falar com os leitores por mídias muito diferentes.
E você também pode falar com seu público. São 24 horas por
dia e sete dias por semana, mas isso é em parte o que torna tão
interessante, e a principal mudança durante os últimos anos é
que antes se estava muito afastado do leitor.

— As redes sociais, Instagram, Twitter e Facebook não


provocam distorções e distrações no setor da moda, que
antes era mais piramidal?
— Mas acredito que as distrações são muito importantes, e não
podemos esquecer que a moda existe e vive e respira pela
mudança, seja por estilistas que emocionam, por um filme que
lhe agradou, uma exposição ou um novo candidato político. Há
muitas coisas que podem afetar o mundo onde vivemos, e
acredito que, em certo sentido, a  Vogue  continua sendo uma
espécie de autoridade serena em meio a todo o ruído.
– Mas a capa da Vogue continua sendo a capa da Vogue.
– Sim. Acredito que sair na capa, ou aparecer na  Vogue, dá ao
personagem um caráter de autoridade e reconhecimento. É
interessante quando falamos com modelos, celebridades ou
políticos, com quem quer que seja; sim, eles se emocionam
com o fato de contarmos sua história na Internet, nas redes
sociais, mas o que de verdade eles querem é sair na revista, que
confere um toque de seriedade, uma sensação de força e
importância. Talvez o motivo seja que na Internet tudo é muito
rápido e imediato, mas também desaparece rapidamente. Sim,
ok, há notícias, reconhecimento e atenção, mas não têm o
mesmo peso.

Wintour, com sua perseverança, ajudou a erguer a moda à


categoria de arte. Não é exagero. O núcleo de moda do
mítico  Museu Metropolitan de Nova York leva o seu nome. Nas
últimas décadas, ajudou a organizar 16 cerimônias de gala e
eventos com essa instituição. Suas exposições de desenho
receberam milhões de visitas. O ponto de inflexão, e um
momento muito emotivo da sua carreira, foi a retrospectiva
dedicada em 2011 ao estilista britânico Alexander McQueen,
morto um ano antes, de quem ela era amiga.
– Anteviu o sucesso da exposição de McQueen?
– A verdade é que nunca vi nada parecido num museu, essas
multidões e as filas ao redor do quarteirão. Foi uma exposição
tão popular que decidimos deixar o museu aberto no último fim
de semana, e às duas da madrugada a fila chegava até o Central
Park. Conto muito esta história porque ficou gravada. Andrew
Bolton, curador do Centro de Moda do Metropolitan, e eu
ficamos autografando catálogos nesse último dia, e até para
recebê-los as pessoas faziam fila. Uma senhora afro-americana
que devia ter uns 90 anos chegou pedindo o catálogo
autografado. Pedi desculpas por ela ter precisado ficar na fila, e
me disse que passou nove horas esperando para ver essa
exposição e que voltaria a esperar outras nove horas.

– Você e McQueen eram muito próximos.


–Sim, eu o conhecia, e evidentemente me pareceu totalmente
correto por parte do museu querer fazer uma exposição, para
realmente reconhecer seu extraordinário talento. Suas roupas
merecem estar em um museu, são absolutamente fantásticas;
sua mente era muito criativa, inventiva, e também um pouco
louca. Às vezes eu não acreditava, trabalhávamos juntos e só se
dava para ver seus dedos voando sobre o casaco ou o vestido ou
o que ele estivesse fazendo. Era como um mago.
Um dos mais recentes desafios de Wintour foi corporativo. A
Condé Nast mudou de sede em Nova York. Transferiu-se da
comercial Times Square para o One World Trade Center, o
arranha-céu mais alto nos Estados Unidos, no terreno onde se
erguiam as Torres Gêmeas até o fatídico 11 de setembro de 2001.
Houve uma grande resistência entre os funcionários.

– Seus funcionários já estão mais adaptados ao novo


escritório?
–Para muita gente foi difícil. Mas é parte do espírito norte-
americano, do espírito de Nova York: levanta e anda, você
precisa ir em frente e demonstrar que consegue. O primeiro dia
foi difícil, mas é surpreendente o que está acontecendo ali
embaixo, na obra. É como uma cidade nova. Quase não parece
que você está em Manhattan.

– A Condé Nast e a  Vogue  sempre foram associadas à Times


Square.
–Não era exatamente o que se chama de chique.

– Com certeza foi uma mudança e tanto.


– Mudar é bom.

A mudança é boa. Não é só uma lição, é uma filosofia que Anna


Wintour adota, numa carreira marcada por mudanças de
apostas, tendências e cânones, com um só fim: que na moda
seja levada tão a sério quanto merece.

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