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Oscar Wilde através das suas personagens:

Lord Henry Wotton

Basil Hallward

Dorian Gray

Susana Sousa, A93489

Estudos Portugueses

Teoria Literária
Introdução

Este trabalho foi realizado no âmbito da Unidade Curricular Teoria Literária e tem
como objetivo analisar a presença do autor na sua obra através das suas personagens, mais
concretamente, Oscar Wilde na obra O Retrato de Dorian Gray.

Esta análise vai ser feita a partir da leitura da obra, mas também a partir da
psicocrítica e da hermenêutica.

No final deste trabalho será possível observar as características que nos permitem
afirmar a presença de Oscar Wilde na sua obra de diversas formas e que não passa só de
uma obra ficcional, mas sim de uma representação da própria realidade do autor.

Psicanálise

Psicanálise é um ramo clínico teórico que se ocupa em explicar o funcionamento da mente


humana, ajudando a tratar distúrbios. O objeto de estudo da psicanálise concentra-se na relação entre
os desejos inconscientes e os comportamentos e sentimentos vividos pelas pessoas.

Psicocrítica

Método de crítica literária, inspirado pela psicanálise, que consiste no estudo da frequência e da
estrutura de temas prediletos da obra que formam a personalidade íntima do autor.

Hermenêutica Critica
A crítica hermenêutica é fundada em uma certa conceção de significado. É uma abordagem crítica
que postula que dentro de qualquer texto ou obra de arte existe um significado inconsciente ou latente,
vinculado ou não à arte.

Por psicocrítica entende-se a crítica literária baseada na psicanálise,


nomeadamente no contributo do seu fundador Sigmund Freud. A psicanálise sempre
estabeleceu uma ligação com a literatura, dada a importância conferida ao processo
narrativo e por sua vez a literatura também utiliza a psicanálise na forma de critica
literária, daí o aparecimento da psicocrítica.

Interessa salientar que a psicocrítica defende que todos os Homens possuem uma
personalidade que se expressa de forma inconsciente. Sendo assim, conclui-se que as
obras literárias também têm subjacente o inconsciente do seu autor, o que possibilita a

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hermenêutica crítica, ou seja, a interpretação e a procura na obra de sinais e significados
que conectem o autor à sua obra e às suas personagens.

Deste modo, tendo por base a psicocrítica, pretende-se identificar em n’ O Retrato


de Dorian Gray as marcas da presença do autor bem como os processos psíquicos
subjacentes.

Oscar Wilde, um escritor irlandês escreveu apenas um único romance: O Retrato


de Dorian Gray.

Foi o fundador do culto estético ao qual chamou “Dandismo”. Um “Dandy” seria


um homem com um estilo extravagante e “janota” e teria uma postura de superioridade
elitista e no seu dia-a-dia se dedicava à preguiça.

Tanto Oscar Wilde como as suas personagens vivem na “Época Vitoriana” em


Inglaterra, podendo assim também atribuir essa ligação entre autor e personagens onde
autor e personagens vivem no mesmo mundo. Além disso tanto como Oscar Wilde, como
Dorian Gray oferecem a visão de Londres Gótica da perspetiva de um estrangeiro, de
alguém que não pertence ali.

Tal como Oscar Wilde, a sua personagem Dorian Gray tem características deste
mesmo “dandismo” do qual o autor foi fundador, podendo assim ser possível começar a
partir daí a observar as características comuns entre o autor e a sua personagem. Dorian
Gray a meu ver viria a ser a representação das fantasias de Oscar Wilde, ou seja, o autor
iria refletir na sua personagem o seu “eu”, desde o seu estilo de vida, que tanto em Gray
como em Wilde é caracterizado como sendo um modo de vida luxuosa, imoral e
decadente, os seus desejos mais sombrios, como também a sua relação com homens e
mulheres, ou seja, Dorian Gray não só vai condenar as mulheres à sua volta à desgraça,
como os homens com quem se vai relacionar, chegando mesmo a ter algumas das
características da femme fatale, como acontece por exemplo com as personagens de Lord
Staveley, Sir Henry Ashton, Adrian Singleton, Duque de Perth e até mesmo o seu amigo
pintor Basil. Esta relação com os homens está intimamente ligada a Oscar Wilde, pois, o
autor foi condenado sobre a acusação da sua homossexualidade e também era
caracterizado por uma estética de dandismo afeminado. Esta projeção das fantasias do
artista na sua obra, foi falado por Freud, em Escritores Criativos e Devaneios, onde abre
uma discussão envolvendo o brincar da criança e a fantasia dos adultos, os adultos

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geralmente reprimem as suas fantasias, porém, uma parcela, os escritores criativos, assim
como as crianças, as externalizam. Enquanto as crianças o fazem por meio da brincadeira,
os escritores utilizam a criação literária, ou seja, Oscar Wilde passa para o papel as suas
fantasias, os seus desejos, morais ou não e os assuntos reprimíveis de forma a serem
abordados com prazer.

A personagem de Lord Henry Wotton seria a forma que Oscar Wilde arranjou de
conseguir apontar os erros e criticar a sociedade inglesa vitoriana, mas esta critica nunca
é feita de forma direta, mas sim a partir de frases elaboradas, sarcasmo e cinismo de forma
a disfarçar a critica como por exemplo:

- Nada desejo transformar em Inglaterra, a não ser o tempo – respondeu – Satisfaz-me


perfeitamente a contemplação filosófica. Mas como o século XIX faliu por excesso de simpatia, sou de
opinião que se apele para a Ciência, a fim de pôr as coisas no seu devido lugar. A vantagem das emoções é
transviarem-nos e a vantagem da Ciência é não ser emocional. (Wilde, 2020: 53)

Neste excerto podemos claramente observar uma critica direta à sociedade inglesa
do século XIX. O autor usa a sua personagem para expressar o que realmente pensa acerca
da sociedade em que vive, ou seja, tecnicamente poderíamos ver como sendo o próprio
Wilde a falar.

A ligação mais importante está entre Oscar Wilde e o pintor Basil Hallward, esta
personagem será a verdadeira representação de Wilde, ou seja, o artista que através da
sua arte expõe muito de si, tal como Basil diz acerca do seu quadro:

- Sei que vai rir-se de mim - respondeu ele -, mas de facto não posso expô-lo. Pus nele demasiado
de mim mesmo. (idem)

Da mesma forma que Basil assume que colocou demasiado dele na sua obra, Oscar
Wilde coloca demasiado de si neste romance. Também nesta personagem podemos falar
da suposta homossexualidade de Oscar Wilde, através da ligação de Basil a Dorian, onde
o pintor o vê como um objeto de desejo, havendo até mesmo momentos de ciúmes, por
exemplo, quando este não quer que Lord Henry conheça Dorian revelando um receio de
este lhe roubar o amigo que até ali conseguiu manter como se fosse o seu segredo.

As personagens de Lord Henry e de Basil Hallward podem ser vistas como uma
representação do bem e do mal, uma guerra que existiria dentro de Oscar Wilde sobre o
que era correto ou incorreto. Estas duas personagens vão mediar a vida de Dorian Gray,
que por si vai escolher fazer o errado ou então vai ficar na indecisão que pode ser uma
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reflexão da crise existencial pela qual Wilde está a passar, ou até mesmo uma
demonstração da imaturidade que o caracterizava.

Por fim, o posição de narrador de Wilde é ambígua, pois, ao mesmo tempo que
critica a perda de controlo que torna o individuo quase como automático, ou seja, a
influencia que Lord Henry tem sobre Dorian Gray quase faz parecer como se as ações
deste fossem na verdade provocadas por Lord Henry, o narrador, ou seja Oscar Wilde,
reconhece a atração pelo pecado e a rebelião. Apesar disto Wilde tenta sempre distanciar
a voz do narrador e a sua perspetiva justificando que o que é dito é a opinião e a perspetiva
de Dorian Gray, oferecendo assim uma forma de desapegar o autor das personagens.

Conclusão

Numa palavra, através da análise efetuada que recorreu à psicanálise e à


hermenêutica critica, foi possível comprovar a presença de Oscar Wilde na sua obra O
Retrato de Dorian Gray e a representação de diversos aspetos da vida e personalidade do
autor a partir das suas personagens, Dorian Gray, Lord Henry Wotton e Basil Hallward,
o autor vai utilizar as mesmas para criticar a sociedade em que viveu e para exteriorizar
os desejos e fantasias, imorais ou não, que na vida real não poderia expor.

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Bibliografia

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Liebman, Sheldon W. (1999) Studies in the Novel, Vol. 31, No. 3, pp. 296-316,
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Walker, Richard J. (2008) Labyrinths of Deceit, pp. 91-115, s/l, Liverpool


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Wilde, Oscar (2020) O Retrato de Dorian Gray, Porto, Porto Editora.

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