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Desenvolvimento Econômico e o conceito de Subdesenvolvimento (uti lizando

como base a teoria de Celso Furtado).


Em primeiro plano, tendo em vista que a conceituação de subdesenvolvimento
deriva do conceito de desenvolvimento, faz-se necessário a exposição detalhada deste.
É sabido que, ao transcorrer dos anos, o conceito de “desenvolvimento econômico”,
isto é, na sua concepção tradicional, se confundiu com o conceito de “crescimento
econômico”, com muitos tratando ambos como sinônimos, sobretudo pela esfera de
economistas clássicos. Isto posto, é evidente, não se configura ao se realizar uma
análise mais minuciosa da realidade, uma vez que o crescimento, se considerado
isolado e prioritariamente, não alcança o desenvolvimento econômico – almejado por
todos os países. Dito isso, em concordância com Celso Furtado, pode-se afirmar que o
conceito de desenvolvimento vai para além dos indicadores de quantidades, a saber,
por exemplo, o Produto Interno Bruto. O que se implica, isto sim, numa irradiação do
progresso econômico para o grosso da sociedade. Tal concepção, que para muitos se
traduz como “humanista”, abarca o mundo todo, de forma que pensar em
desenvolvimento se torna algo complexo. Ou seja, é preciso levar em consideração o
desenvolvimento da humanidade e não (tão somente) o desenvolvimento isolado de
um país, que muitas vezes se dá às custas dos outros.
Enquanto que “crescimento econômico” é entendido pela capacidade que um
território possui de combinar acertadamente seus fatores de produção, de modo a gerar
maiores produtos e, por consequência, maior renda e maior quantidade ofertada de
emprego; por outro lado, “desenvolvimento econômico”, em termos simples e direto, é
a apropriação do crescimento para todas as classes da sociedade. Com essa
apropriação da riqueza gerada, a população é remetida a uma maior distribuição de
renda, contribuindo para um aumento do consumo e, de modo geral, para melhores
indicadores sociais. Nas palavras do pensador Schumpeter têm-se: “(...) pois o estado
econômico de um povo não emerge simplesmente das condições socioeconômicas
precedentes, mas unicamente da situação total precedente.” [Schumpeter, 1997].
Até aqui, em suma, percebe-se que o crescimento econômico de um país é fruto de
uma variação quantitativa do produto [agregado], ao passo que o desenvolvimento
abarca mudanças qualitativas no modo de vida das pessoas e nas suas expectativas,
das instituições envolvidas na economia e, também, das estruturas produtivas – veja
que, neste último ponto, se tem uma sinergia de fatores, pois para o avanço e
melhoramento da produção se faz importante um aprimoramento da tecnologia
incorporada, a saber o capital físico, e, sobretudo, da tecnologia desincorporada, dada
pelo capital humano. Assim, “(...) o desenvolvimento caracteriza-se pela
transformação de uma economia arcaica em uma economia moderna, eficiente,
juntamente com a melhoria do nível de vida do conjunto da população” [Souza, Nali
de Jesus de; Desenvolvimento econômico].
É perceptível que crescimento econômico se torna condição indispensável para o
desenvolvimento, entretanto não se configura condição suficiente, visto que é
necessária a apropriação. Nesse sentido, cabe elucidar os pontos que corroboram para
a apropriação do crescimento econômico:
a. homogeneização da renda;
b. melhores e maiores níveis de consumo (evidenciando um forte
mercado interno);
c. melhores indicadores sociais, como GINI e IDH;
d. melhores taxas de alfabetização, acompanhadas de baixa mortalidade
infantil e reduzidos índices de criminalidade;
e. menores índices de pobreza;
f. erradicação da pobreza;
g. modelo civilizatório, com boa infraestrutura e padrão sustentável.
Fica claro que não é possível pensar (e almejar) certo nível de desenvolvimento
econômico sem antes levar em consideração a humanidade como um todo, de modo a
garantir relações saudáveis e seguras. E aqui cabe expor que ainda que o termo
pobreza, por exemplo, seja relativo a cada país, a busca pela erradicação da mesma
deve ser necessariamente uma pauta levantada a nível global.
Em linhas gerais, uma economia cujo crescimento não está se traduzindo em
aumentos dos padrões de vida de toda a população tende a propiciar, no transcorrer
dos anos, um ambiente social e político praticamente insustentável. Dito isso, tem-se a
sustentabilidade do desenvolvimento como ponto fundamental para a perspectiva
econômica, uma vez que ações que promovem falsa distribuição equitativa de renda,
por exemplo, não se configuram em um cenário seguro para a expansão harmônica da
econômica de uma nação, bem como do mundo. A elevação da produtividade, bem
como do nível de bem estar social, somado a preservação do meio ambiente, deve se
dar com perspectiva de longo prazo, com continuidade, sustentabilidade.
Portanto, todas as dimensões do desenvolvimento, seja social, ambiental, cultural
ou técnico-científica, devem precisa e indispensavelmente abarcar entre si uma
dinâmica intertemporal. Quer se dizer que as decisões socioeconômicas devem se
relacionar de modo a contribuir e apontar para a harmonia da população (toda a
sociedade realmente) e, por consequência, garantir um cenário positivo no futuro,
perpetuando as boas decisões e ações. Ou seja, é preciso que haja incremento na renda,
acompanhado de melhorias na saúde, no trato com o meio ambiente e, sobretudo, na
educação. O desenvolvimento sustentável (e o que se deve ser almejado) deve
apresentar um vetor que não ignora o que foi conquistado e aprimorado no tempo
anterior.
A sociedade como um todo somente poderá alcançar um nível global adequado de
bem estar quando o objetivo central das atividades socioeconômica (para afunilar a
análise) for fundamentado no aprimoramento da relação social, econômica e ambiental
dos indivíduos, em vez do simples lucro pelo lucro, ou crescimento pelo crescimento.
Em suma, para se ter uma análise certa a respeito do desenvolvimento econômico faz-
se necessário conhecer a fundo a sua concepção, de modo a erradicar quaisquer ideias
insustentáveis de se alcançar bem-estar social.
Em conformidade com o que ficou dito, é claro que crescimento econômico não é
fator suficiente para se atingir o desenvolvimento. Nesse sentido, entra-se na
compreensão mais condensada do que diz respeito ao subdesenvolvimento. Um país
que é constituído por uma sociedade com alto nível de concentração de renda, de certa
forma, impede a passagem do crescimento para o desenvolvimento econômico. Isto é
de fácil percepção quando se faz uma análise mais minuciosa das relações sociais. Há
grande disparidade de renda e, por consequência, acesso ao consumo de bens – até
mesmo no nível que se é necessário –, deficiência na formação do indivíduo,
sobretudo pela falta de educação de qualidade, e, por consequência, diferenças na
produtividade, o que levam a economia geral perder eficiência, entrando assim em um
processo em cadeia. Nas palavras do renomado economista Celso Furtado: “(...) a
civilização surgida da Revolução Industrial europeia conduz inevitavelmente a
humanidade a uma dicotomia de ricos e pobres, dicotomia que se manifesta entre
países e dentro de cada país de forma pouco ou muito acentuada”. Ou seja,
conceituar subdesenvolvimento se faz possível com o olhar voltado para a realidade,
uma vez que as deficiências econômicas, proveniente da concentração de renda e
investimento, bem como da debilitada transferência de tecnologia, auxilia na
compreensão do mesmo processo.
Em síntese, “nas economias desenvolvidas existe um paralelismo entre a
acumulação nas forças produtivas e diretamente nos objetos de consumo (...) e a raiz
do subdesenvolvimento reside na desarticulação entre esses dois processos causada
pela modernização” [FURTADO, Celso Monteiro]. Enquanto que a difusão de
tecnologia pressupõe a acertada apropriação do conhecimento, a mesma lógica pode
ser estendida para a questão do desenvolvimento, que somente pode ser alcançado
com níveis sociais agregados adequados. Se distanciando disso, o país entra na esfera
econômica que não se potencializa, reduzindo-se ao subdesenvolvimento. Este
caminho alarma, pois que, quando estendido por um período considerável de tempo,
debilita cada vez mais a produção e o desempenho científico, e precariza as relações
sociais. Ou seja, recuperando a fala do Furtado, há a dicotomia dos ricos e dos pobres,
com perdas cada vez mais substanciais para estes.
Como forma de contornar eficazmente o subdesenvolvimento tem-se, em primeiro
plano, a busca pela homogeneização social – com melhoramento dos indicadores
sociais. Em continuidade, é preciso que haja uma relativa autonomia tecnológica, de
modo que tanto a nível externo como interno, o país encontre-se com níveis
satisfatórios na produção científica. E, obviamente, para se trilhar tal caminho, é
preciso que a sociedade esteja educada. Se se deseja uma distribuição adequada da
renda, um desempenho tecnológico satisfatório e uma participação competitiva
internacionalmente, o capital humano deve estar com formação adequada e
fortalecida, isto é, com educação.
Finaliza-se, ainda, com as palavras do Furtado, onde o subdesenvolvimento “é um
impasse histórico que espontaneamente não pode levar senão a alguma forma de
catástrofe social. Somente um projeto político apoiado em conhecimento consistente
da realidade social poderá romper a sua lógica perversa” [O Subdesenvolvimento
Revisitado].

Bibliografia extra utilizada:


- Livro “Mapa da exclusão social do Brasil: radiografia de um país
assimetricamente pobre” (Lemos, José de Jesus Sousa)

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