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FACULDADE PIO DÉCIMO

LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS E ESPANHOL


LITERATURA BRASILEIRA I
PROFª: Me. Luciana Novais Maciel E-mail: luciana.m@piodecimo.edu.br

O INÍCIO DA LITERATURA NO BRASIL


CANDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira. São Paulo: Ouro sobre
Azul, 2014.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 49. ed. São Paulo: Cultrix,
2013.

Há décadas, a relação entre história literária e ensino de literatura pode ser


exemplificada pela aceitação da obra História concisa da literatura brasileira do
Professor Alfredo Bosi, publicada em 1970, tendo em vista a apresentação
historiográfica sucinta da Literatura Brasileira, com um discurso historiográfico objetivo,
bem fundamentado na crítica literária e um dos mais conhecidos e respeitados
manuais de literatura brasileira.
O História concisa da literatura brasileira trata de um complexo colonial de vida
e de pensamento nos três primeiros séculos da colonização, compreendendo “as
origens de nossa literatura” e percebendo alguns “descompassos” existentes entre as
influências vindas do continente europeu, nas palavras de Bosi: “A sequência de
influxos da Europa, responsável pelo paralelo que se estabeleceu entre os momentos
de além-atlântico e as esparsas manifestações literárias”. Desse modo, o autor analisa
os períodos literários conforme as questões histórico-sociais e estuda as várias
manifestações literárias formadas em gêneros literários, além das biografias dos
autores de cada estilo de época; logo, Bosi acaba por criar uma narrativa
historiográfica tradicional direcionando o leitor à “Condição Colonial”, aos Ecos do
Barroco, à Arcádia e Ilustração, ao Romantismo, ao Realismo, ao Simbolismo, ao Pré-
Modernismo & Modernismo e às Tendências Contemporâneas.
Alguns teóricos defendem que a origem da Literatura Brasileira se deu a partir
dos primeiros escritos em terras sul-americanas. Ou seja, a Carta de Pero Vaz de
Caminha e os textos dos padres Jesuítas teriam dado o pontapé inicial à nossa
Literatura. Entretanto, uma grande polêmica gira em torno disso, já que esses textos
foram criados para uma finalidade utilitária e não estética. Isso quer dizer que eles se
encaixariam melhor na categoria de textos não literários, se aproximando mais de
documentos de cunho histórico. Qual seria, então, a verdadeira origem da Literatura
Brasileira? O que os especialistas em Literatura dizem sobre a formação de uma
estrutura literária genuinamente brasileira?

Em Literatura como sistema, Antônio Cândido nos apresenta uma discussão


acerca da formação da literatura Brasileira, apontando para duas tendências, a
primeira
Universalista em que está dirigida para as obras neoclássicas e a segunda
Particularista voltada para as obras românticas. Compreendendo que o processo de
Manifestações literárias ocorre por um sistema de obras ligadas por denominadores
comuns, tais como língua, temas, imagens, elementos de natureza social e psíquica.
Observamos também como são compostas essas manifestações ao longo da história,
através de produtores das obras, dos receptores provenientes de diferentes públicos,
e o transmissor de acordo com a linguagem utilizada no texto.
O conjunto dos três elementos dá lugar a um tipo de
comunicação inter-humana, a literatura que aparece sob este
ângulo como sistema simbólico, por meio do qual as veleidades
mais profundas do indivíduo se transformam em elementos de
contato entre homens e de interpretação das diferentes esferas
da realidade (BOSI, 2013, p. 23).
Para o sistema de formação literária é preciso que haja também a continuidade
literária como um processo de tradição.
No Brasil:
Séc. XVI: autos e cantos de Anchieta
Séc. XVIII: Academias (Antônio Vieira, Gregório de Matos)
1750: homens de letras formando conjuntos orgânicos e manifestando em graus
variáveis, a vontade de fazer literatura Brasileira (BOSI, 2013, p. 24/25)
A literatura dos escritores neoclássicos foi considerada por Bosi como uma
literatura empenhada, principalmente pelo desejo de provar que eram tão capazes
quanto os europeus. A exemplo temos:
Santa Rita Durão – Caramuru
Basílio da Gama – O Uraguai
Caldas Barbosa – Almanak das Musas
Com a independência do Brasil em 1822 houve um espírito nacional a partir de
uma atividade literária consciente em busca de uma definição do que é ser brasileiro,
da identidade cultural de um povo.

QUINHENTISMO

Corresponde à introdução da cultura europeia em terras brasileiras. Não se


pode falar em uma literatura "do Brasil”, mas em literatura "no Brasil”. Uma vez que
denota uma literatura voltada para os interesses e intenções do homem europeu. Este
período ocorreu no século XVI.
Há uma descrição minuciosa da nova realidade. São narrados os
acontecimentos e, de forma simples, objetivam uma disposição humanista de tentar
entender os nativos ao mesmo tempo em que tenta aculturá-los.
A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos
cronistas é o reflexo das grandes navegações. É apenas um levantamento da fauna,
flora e do povo da terra então “descoberta”. É, portanto, uma literatura meramente
descritiva; logo, sem grande valor literário, servindo, na verdade, como documento.
Destacam-se: cartas de viagem, diários de navegação etc. O primeiro documento da
literatura no Brasil foi “A Carta” de Pero Vaz de Caminha.
A literatura jesuítica ou catequética, por sua vez, explicita a exaltação à fé
cristã, visando à conversão dos índios. Logo, possuindo caráter moralizante e
pedagógico.
➢ Principais nomes:
✓ José de Anchieta;
✓ Pero Vaz de Caminha;
✓ Pero de Magalhães Gândavo;
✓ Hans Staden;
✓ Pero Lopes Sousa;
✓ Manuel da Nóbrega.

Há uma descrição minuciosa da nova realidade. São narrados os


acontecimentos e, de forma simples, objetivam uma disposição humanista de tentar
entender os nativos ao mesmo tempo em que tenta aculturá-los. Os jesuítas
preocupavam-se de fato com o trabalho de catequese, o que acaba determinando a
sua produção literária, isso tanto na poesia quanto no teatro. No entanto, do ponto de
vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo.
Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de caráter
pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores
na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.
Ao realizar um exaustivo trabalho de catequese, José de Anchieta deixou uma
fabulosa herança literária: a primeira gramática do tupi-guarani, insuperável cartilha
para o ensino da língua dos nativos; várias poesias no estilo do verso medieval; e
diversos autos, segundo o modelo deixado pelo poeta português Gil Vicente, que
agrega à moral religiosa católica os costumes dos indígenas, sempre com a
preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal, o anjo e o diabo.

Biografia de José de Anchieta

 O apóstolo do Brasil nasceu aos 19 de março de 1534 em Tenifre, ilhas


Canárias.
 No batismo, recebeu o nome de José, porque veio à luz na festa de São José.
 Foi estudar em Coimbra aos 14 anos de idade. Fez o curso superior de
Humanidades e tornou-se excelente latinista.
 Entrou para a Companhia em 1551.
 Adoeceu seriamente no Noviciado e após os votos foi destinado ao Brasil, por
sua fama de bom clima para doentes.
 De fato, aqui melhorou muito. Foi mestre em Piratininga, que se tornou a
cidade de São Paulo, e refém de pazes em Iperuí onde compôs o Poema da
Virgem. 
 Participou na fundação da cidade do Rio de Janeiro.
 Ordenado sacerdote, trabalhou dez anos na região de São Paulo, como
superior, e depois outros dez anos provincial do Brasil.
 Anchieta é contado entre os primeiros que aprenderam a língua tupi. Os
últimos anos passou numa aldeia de índios: Reritiba, hoje cidade de
Anchieta.
 Lá veio a adoecer gravemente e a falecer no dia 9 de junho de 1597.
 Sua morte foi assistida por cinco de seus colegas, após ter recebido o
sacramento dos enfermos. Seu corpo foi levado pelos índios, numa viagem de
80km para Vítória, onde foi sepultado.

 Foi grande escritor, historiador, poeta e teatrólogo. Beatificado solenemente


por João Paulo II no dia 22 de junho de 1980.
Era dia 13 de julho de 1553, quando Anchieta chegou ao Brasil, o “paraíso
terrestre”, como descreviam os historiadores contemporâneos do padre. A Terra de
Santa Cruz podia ser considerada um sanatório onde aportavam doentes com
tuberculose, varíola e outras doenças contagiosas. Anchieta tinha 19 anos. era o
mais jovem dos jesuítas na esquadra do Governador Duarte da Costa. A saúde do
noviço melhorava sensivelmente. Quando desceu em Salvador estava praticamente
curado.

Para José de Anchieta e todos os jesuítas que vieram evangelizar o Novo


Mundo, os índios eram pagãos a serem convertidos. Os evangelizadores
acreditavam que não havia salvação fora da Igreja e até imaginavam, antes de
conhecer as condições de vida na América, que qualquer pessoa só poderia ser
católica se vivesse de acordo com a civilização cristã europeia.

O irmão José acabou se tornando o elo de aproximação definitiva entre os


índios e os padres. Conseguiu unificar a língua falada pelos nativos, com a qual
apresentou a doutrina cristã.

A Santa Inês porque vossa vinda estevosso trigo,


José de Anchieta lhe dá lume novo. mas Jesus amigo
I Virginal cabeça é vosso desejo.
Cordeirinha linda, pela fé cortada, Morro porque vejo
como folga o povo com vossa chegada, que este nosso povo
porque vossa vinda já ninguém pereça. não anda faminto
lhe dá lume novo! Vinde mui depressa deste trigo novo.
Cordeirinha santa, ajudar o povo, Santa padeirinha,
de Iesu querida, pois com vossa vinda morta com cutelo,
vossa santa vinda lhe dais lume novo. sem nenhum farelo
o diabo espanta. Vós sois, cordeirinha, é vossa farinha.
Por isso vos canta, de Iesu formoso, Ela é mezinha
com prazer, o povo, mas o vosso esposo com que sara o povo,
porque vossa vinda já vos fez rainha. que, com vossa vinda,
lhe dá lume novo. Também padeirinha terá trigo novo.
Nossa culpa escura sois de nosso povo, O pão que amassastes
fugirá depressa, pois, com vossa vinda, dentro em vosso peito,
pois vossa cabeça lhe dais lume novo. é o amor perfeito
vem com luz tão pura com que a Deus amastes.
Vossa formosura II Deste vos fartastes,
honra é do povo, Não é d’Alentejo deste dais ao povo,
porque deixe o velho pois que sois tão digna
pelo trigo novo. esposa
Não se vende em praça de Iesu, que é sumo rei.
este pão de vida,
porque é comida
que se dá de graça.
Ó preciosa massa!
Ó que pão tão novo
que, com vossa vinda,
quer Deus dar ao povo!
Ó que doce bolo,
que se chama graça!
Quem sem ele passa
é mui grande tolo,
Homem sem miolo,
qualquer deste povo,
que não é faminto
deste pão tão novo!

III
CANTAM:
Entrai ad altare Dei
virgem mártir mui
formosa,
pois que sois tão digna
esposa
de Iesu, que é sumo rei.
Debaixo do sacramento,
em forma de pão de trigo,
vos espera, como amigo,
com grande
contentamento.
Ali tendes vosso assento.
Entrai ad altare Dei,
virgem mártir mui
formosa,
pois que sois tão digna
esposa
de Iesu, que é sumo rei.
Naquele lugar estreito
cabereis bem com Jesus,
Pois ele, com sua cruz,
vos coube dentro no
peito,
ó virgem de grão respeito.
Entrai ad altare Dei,
virgem mártir mui
formosa,
Vindes, pobres Quem vos fez tão
pecadores, namorado
Ao Santíssimo A comer. De quem tanto vos
Sacramento Não tendes de que temer ofende?!
José de Anchieta Senão de vossos Quem vos ata, quem vos
pecados; prende
Oh que pão, oh que Se forem bem Com tais nós?!
comida, confessados, Por caber dentro de nós
Oh que divino manjar Isso basta. Vos fazeis tão pequenino
Se nos dá no santo altar Que este manjar tudo Sem o vosso ser divino,
Cada dia. gasta, Se mudar.
Filho da Virgem Maria Porque é fogo gastador, Para vosso amor plantar
Que Deus Padre cá Dentro em nosso coração
mandou Achastes tal invenção
E por nós na cruz passou Que com seu divino ardor De manjar,
Crua morte. Tudo abrasa. Em o qual nosso padar
E para que nos conforte É pão dos filhos de casa Acha gostos diferentes
Se deixou no Sacramento Com que sempre se Debaixo dos acidentes
Para dar sustentam Escondidos.
-nos com aumento E virtudes acrescenta Uns são todos incendidos
Sua graça. m Do fogo de vosso amor,
Esta divina fogaça De contino. Outros cheios de temor
É manjar de lutadores, Todo al é desatino Filial,
Galardão de vencedores Se não comer tal vianda, Outros com o celestial
Esforçados. Com que a alma sempre Lume deste sacramento
Deleite de enamorados anda Alcançam conhecimento
Que com o gosto deste Satisfeita. De quem são,
pão Este manjar aproveita Outros sentem
Deixem a deleitarão Para vícios arrancar compaixão
Transitória. E virtudes arraigar De seu Deus que tantas
Quem quiser haver vitória Nas entranhas. dores
Do falso contentamento, Suas graças são Por nos dar estes sabores
Goste deste sacramento tamanhas, Quis sofrer.
Divinal. Que se não podem E desejam de morrer
Ele dá vida imortal, contar, Por amor de seu amado,
Este mata toda fome, Mas bem se podem Vivendo sem ter cuidado
Porque nele Deus é gostar Desta vida.
homem De quem ama. Quem viu nunca tal
Se contêm. Sua graça se derrama comida
É fonte de todo bem Nos devotos corações Que é o sumo de todo
Da qual quem bem se E os enche de benções bem,
embebeda Copiosas. Ai de nós que nos detém
Não tenha medo de queda Oh que entranhas Que buscamos!
Do pecado. piedosas
Oh! que divino bocado De vosso divino amor! Como não nos
Que tem todos os Ó meu Deus e meu enfrascamos
sabores, Senhor Nos deleites deste Pão
Humanado! Com que o nosso coração
Tem fartura. Meu Esposo, meu Senhor, Me mudais.
Se buscarmos formosura Meu amigo, meu irmão, Quando na minha alma
Nele está toda metida, Centro do meu coração, entrais
Se queremos achar vida, Deus e Pai. É dela fazeis sacrário,
Esta é. Pois com entranhas de De vós mesmo é relicário
Aqui se refina a fé, Mãe Que vos guarda.
Pois debaixo do que Quereis de mim ser Enquanto a presença
vemos, comido, tarda
Estar Deus e homem Roubai todo meu sentido De vosso divino rosto,
cremos Para vós O saboroso e doce gosto
Sem mudança. Prendei Deste pão
Acrescenta -me com fortes nós, Seja minha refeição
-se a esperança, Iesu, filho de Deus vivo, E todo o meu apetite,
Pois na terra nos é dado pois que sou vosso Seja gracioso convite
Quanto lá nos céus cativo, De minha alma.
guardado que comprastes Ar fresco de minha calma,
Nos está. Com o sangue que Fogo de minha frieza,
A caridade que l derramastes, Fonte viva de limpeza,
á Com a vida que Doce beijo.
Há de ser aperfeiçoada, perdestes, Mitigador do desejo
Deste pão é confirmada Com a morte que Com que a vós suspiro, e
Em pureza. quisestes gemo,
Dele nasce a fortaleza, Padecer. Esperança do que temo
Ele dá perseverança, Morra eu, por que viver De perder.
Pão da bem Vós possais dentro de Pois não vivo sem comer,
-aventurança, mim; Como a vós, em vós
Pão de glória. Ganha vivendo,
Deixado para memória -me, pois me perdi Vivo em vós, a vós
Da morte do Redentor, Em amar comendo,
Testemunho de Seu amor -me. Doce amor.
Verdadeiro. Pois que para incorporar Comendo de tal penhor,
Oh mansíssimo Cordeiro, -me Nela tenha minha parte,
Oh menino de Belém, E mudar E depois de vós me farte
Oh Jesus todo meu Bem, -me em vós de todo, Com vos ver.
Meu Amor. Com um tão divino modo Amém.

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