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QUINHENTISMO
III
CANTAM:
Entrai ad altare Dei
virgem mártir mui
formosa,
pois que sois tão digna
esposa
de Iesu, que é sumo rei.
Debaixo do sacramento,
em forma de pão de trigo,
vos espera, como amigo,
com grande
contentamento.
Ali tendes vosso assento.
Entrai ad altare Dei,
virgem mártir mui
formosa,
pois que sois tão digna
esposa
de Iesu, que é sumo rei.
Naquele lugar estreito
cabereis bem com Jesus,
Pois ele, com sua cruz,
vos coube dentro no
peito,
ó virgem de grão respeito.
Entrai ad altare Dei,
virgem mártir mui
formosa,
Vindes, pobres Quem vos fez tão
pecadores, namorado
Ao Santíssimo A comer. De quem tanto vos
Sacramento Não tendes de que temer ofende?!
José de Anchieta Senão de vossos Quem vos ata, quem vos
pecados; prende
Oh que pão, oh que Se forem bem Com tais nós?!
comida, confessados, Por caber dentro de nós
Oh que divino manjar Isso basta. Vos fazeis tão pequenino
Se nos dá no santo altar Que este manjar tudo Sem o vosso ser divino,
Cada dia. gasta, Se mudar.
Filho da Virgem Maria Porque é fogo gastador, Para vosso amor plantar
Que Deus Padre cá Dentro em nosso coração
mandou Achastes tal invenção
E por nós na cruz passou Que com seu divino ardor De manjar,
Crua morte. Tudo abrasa. Em o qual nosso padar
E para que nos conforte É pão dos filhos de casa Acha gostos diferentes
Se deixou no Sacramento Com que sempre se Debaixo dos acidentes
Para dar sustentam Escondidos.
-nos com aumento E virtudes acrescenta Uns são todos incendidos
Sua graça. m Do fogo de vosso amor,
Esta divina fogaça De contino. Outros cheios de temor
É manjar de lutadores, Todo al é desatino Filial,
Galardão de vencedores Se não comer tal vianda, Outros com o celestial
Esforçados. Com que a alma sempre Lume deste sacramento
Deleite de enamorados anda Alcançam conhecimento
Que com o gosto deste Satisfeita. De quem são,
pão Este manjar aproveita Outros sentem
Deixem a deleitarão Para vícios arrancar compaixão
Transitória. E virtudes arraigar De seu Deus que tantas
Quem quiser haver vitória Nas entranhas. dores
Do falso contentamento, Suas graças são Por nos dar estes sabores
Goste deste sacramento tamanhas, Quis sofrer.
Divinal. Que se não podem E desejam de morrer
Ele dá vida imortal, contar, Por amor de seu amado,
Este mata toda fome, Mas bem se podem Vivendo sem ter cuidado
Porque nele Deus é gostar Desta vida.
homem De quem ama. Quem viu nunca tal
Se contêm. Sua graça se derrama comida
É fonte de todo bem Nos devotos corações Que é o sumo de todo
Da qual quem bem se E os enche de benções bem,
embebeda Copiosas. Ai de nós que nos detém
Não tenha medo de queda Oh que entranhas Que buscamos!
Do pecado. piedosas
Oh! que divino bocado De vosso divino amor! Como não nos
Que tem todos os Ó meu Deus e meu enfrascamos
sabores, Senhor Nos deleites deste Pão
Humanado! Com que o nosso coração
Tem fartura. Meu Esposo, meu Senhor, Me mudais.
Se buscarmos formosura Meu amigo, meu irmão, Quando na minha alma
Nele está toda metida, Centro do meu coração, entrais
Se queremos achar vida, Deus e Pai. É dela fazeis sacrário,
Esta é. Pois com entranhas de De vós mesmo é relicário
Aqui se refina a fé, Mãe Que vos guarda.
Pois debaixo do que Quereis de mim ser Enquanto a presença
vemos, comido, tarda
Estar Deus e homem Roubai todo meu sentido De vosso divino rosto,
cremos Para vós O saboroso e doce gosto
Sem mudança. Prendei Deste pão
Acrescenta -me com fortes nós, Seja minha refeição
-se a esperança, Iesu, filho de Deus vivo, E todo o meu apetite,
Pois na terra nos é dado pois que sou vosso Seja gracioso convite
Quanto lá nos céus cativo, De minha alma.
guardado que comprastes Ar fresco de minha calma,
Nos está. Com o sangue que Fogo de minha frieza,
A caridade que l derramastes, Fonte viva de limpeza,
á Com a vida que Doce beijo.
Há de ser aperfeiçoada, perdestes, Mitigador do desejo
Deste pão é confirmada Com a morte que Com que a vós suspiro, e
Em pureza. quisestes gemo,
Dele nasce a fortaleza, Padecer. Esperança do que temo
Ele dá perseverança, Morra eu, por que viver De perder.
Pão da bem Vós possais dentro de Pois não vivo sem comer,
-aventurança, mim; Como a vós, em vós
Pão de glória. Ganha vivendo,
Deixado para memória -me, pois me perdi Vivo em vós, a vós
Da morte do Redentor, Em amar comendo,
Testemunho de Seu amor -me. Doce amor.
Verdadeiro. Pois que para incorporar Comendo de tal penhor,
Oh mansíssimo Cordeiro, -me Nela tenha minha parte,
Oh menino de Belém, E mudar E depois de vós me farte
Oh Jesus todo meu Bem, -me em vós de todo, Com vos ver.
Meu Amor. Com um tão divino modo Amém.