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Apostila Art of Hosting Vicosa 2014
Apostila Art of Hosting Vicosa 2014
NOME:
NOME:
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26 ART OF HOSTING BRASIL
VIÇOSA, 2014
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Olá!
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Bem vindx ao Art of Hosting Viçosa!
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Ou, se preferir, bem vindx à primeira edição, em Viçosa, das
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Arte de Anfitriar
Conversas Significativas
e
Arte de Colher
Resultados que Importam
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É muito importante te termos conosco.
Sem você nosso encontro não aconteceria!
Gratidão!
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As páginas que seguem são apenas um compilado de algum dos temas que trataremos
nesse tempo juntos. Esperamos que essas folhas sejam apenas o começo de uma longa
relação entre você e esses temas. Por isso, risque, escreva, colora.. essa apostila é sua!
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! Aproveite-a para expressar tudo aquilo que você quiser durante esse processo,
usando imagens, texto, poesia, arte... Essa é uma forma para dar vazão, elaborar e
organizar seus pensamentos e emoções, para que possa apreender e aproveitar mais
esses dias - e depois se reconectar com esses momentos e emoções!!
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Mel, Cacá, Guto, Edite e Darlene!
Equipe de Anfitriões AoH Viçosa!
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ESCUTATÓRIA
Rubem Alves
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Sempre vejo anunciados cursos de oratória.
Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar…
Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória,
mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que…
Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
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Filosofia é um monte de idéias,
dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
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Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade:
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A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer,
que é muito melhor.
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Nossa incapacidade de ouvir
é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos...
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Tenho um velho amigo, Jovelino,
que se mudou para os Estados Unidos
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estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios:
Reunidos os participantes, ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança...
Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto,
diante do piano, ficam assentados em silêncio...
Abrindo vazios de silêncio…
Expulsando todas as idéias estranhas.
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial.
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Aí, de repente, alguém fala.
Curto. Todos ouvem.
Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito,
pois o outro falou os seus pensamentos...
Pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir…
São duas as possibilidades.
Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar
quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.
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Segunda: Ouvi o que você falou.
Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
É coisa velha para mim.
Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo.
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O que é pior que uma bofetada.
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O longo silêncio quer dizer:
Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora.
É preciso silêncio dentro.
Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro,
a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
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Fernando Pessoa conhecia a experiência...
E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras…
No lugar onde não há palavras.
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A música acontece no silêncio.
A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada.
Somos todos olhos e ouvidos.
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Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia,
ouvimos a melodia que não havia...
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Que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros:
A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente
se juntam num contraponto.
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PRELÚDIO
E se, na verdade, não importa o que você faz e sim como você faz, seja lá o que for?
Como isso mudaria o que você decidiu fazer com a sua vida?
E se você pudesse ser mais presente e ter uma atitude mais acolhedora com cada
pessoa que encontrasse? Se, em vez de estar fazendo um trabalho que achasse
importante, estivesse trabalhando como caixa de uma pequena loja ou recepcionista de
um estacionamento?
Como isso mudaria o modo como você quer passar seu precioso tempo neste planeta?
E caso sua contribuição para o mundo e a conquista da sua felicidade não dependam
da descoberta de um novo método de rezar ou de uma técnica de meditação mais
adequada, nem de ler o livro certo ou comparecer ao seminário apropriado, e sim de
você realmente ver e apreciar profundamente a si mesmo e ao mundo como eles são
neste momento?
Como isso afetaria todos os aspectos da sua vida em que você está sempre procurando
ser melhor?
Como isso afetaria a maneira como você se sente quando acorda de manhã?
E se quem você é essencialmente agora for exatamente o que você será sempre?
E se a questão não for por que é tão raro eu ser a pessoa que realmente quero ser, e,
sim, por que é tão raro eu querer ser a pessoa que realmente sou?
Como isso determinaria as escolhas que você faz a respeito de como quer viver o
momento presente?
E se você soubesse que o impulso para agir de uma maneira que irá criar a beleza no
mundo surgirá bem no seu íntimo e servirá de orientação sempre que você
simplesmente prestar atenção e esperar?
Como isso daria forma à sua quietude, seu movimento, sua disposição de seguir este
impulso, de apenas se soltar e dançar?
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MEL MARIANA TISO!
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ANA CAROLINA SIMAS!
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29 jul a 01 ago 2014
AUGUSTO GUTIERREZ!
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EDITE FAGANELLO QUERER!
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DARLENE COELHO!
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COMUNIDADE DE PRÁTICA ART OF HOSTING
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Bem vindo ao encontro da arte de anfitriar conversas significativas. Somos uma
comunidade crescente de praticantes que desejam encontrar a sua forma de anfitriar
processos coletivos para governança, tomadas de decisão, desenvolvimento humano e
organizacional e aprendizagem. No nosso dia- a-dia, somos gestores, formadores,
professores, consultores, políticos, empreendedores, inovadores sociais, trabalhadores
da juventude, articuladores, anfitriões. Aqui, somos curiosos, trilhando o caminho das
conversas com signficado, guiados pelas questões que realmente importam.
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Necessidade e Desejo
A razão de existência de um grupo devem ser as verdadeiras necessidades dessa
comunidade.
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Mais e mais líderes anseiam experimentar e praticar um tipo diferente de liderança.
Por meio de várias práticas de hosting, tornou-se claro: os desafios atuais clamam por
envolvimento, inteligência coletiva e a co-criação das soluções que precisamos
encontrar. Buscamos uma liderança que está querendo se desfazer do controle para
alcançar cooperação e os resultados que o nosso tempo está pedindo.
O Art of Hosting parte da prerrogativa e da experiência de que nós precisamos
encontrar novas soluções para o bem comum, seja nas empresas, nos governos, na
educação, no terceiro setor, nos movimentos sociais, nas comunidades ou nas famílias.
Em alguns momentos precisamos focar em nós mesmos, às vezes nas nossas equipes,
em outros momentos nas nossas comunidades – às vezes nos três simultaneamente. O
tempo é agora.
É senso comum juntar mais pessoas em conversações. Assim que fizemos as
coisas por muitas gerações passadas, juntando-nos ao redor do fogo e sentando em
rodas. É a forma que ocasionalmente experimentamos hoje, construindo relações
chave que convidam a colaboração verdadeira. Os seres humanos que são envolvidos
e convidados a trabalhar juntos tomam propriedade e assumem a responsabilidade
quando as ideias e soluções precisam ser levadas à ação.
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História do Art of Hosting
A primeira geração de pessoas praticantes de conversas levando em conta os “sistemas
integrais” inovou e quebrou paradigmas, com um grande - e jamais visto - número
pessoas participando da criação de suas próprias respostas. A partir dessa experiência,
1 Termo formado pela derivação de duas palavras gregas: DIA (através, por en- tre, oposto) e
ENERGES (ativo). Trata-se do processo universal de criação de padrões harmônicos, através da
união e cooperação entre os opostos que naturalmente coexistem. !
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4. Colha algo útil!
Quais são as coisas mais úteis que podemos colher das nossas conversas?
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Nunca se encontre a não ser que planeje colher os seus aprendizados. Uma dica básica
aqui é pensar que você não está planejando uma reunião. Ao invés disso, você está
planejando uma colheita. Saiba o que é necessário e planeje o processo de acordo.
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29 jul a 01 ago 2014
Colheitas nem sempre têm que ser visíveis; às vezes você planeja um encontro apenas
para criar aprendizado. Mas dê suporte ao aprendizado pessoal com boas perguntas e
pratique a colheita pessoal (diários, anotações, poemas, desenhos).
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Para colher bem, esteja consciente de 4 dicas:
• Crie um artefato. Colheita se trata de tornar conhecimento visível. Faça um
mapa mental, desenhe figuras, tome notas, mas seja lá o que fizer, crie um
registro da sua conversa.
• Tenha um loop de feedback (canal de realimentação). Artefatos são inúteis se
eles ficam em uma prateleira. Saiba como você vai usar a sua colheita antes de
começar sua reunião. Será colocada novamente dentro do sistema (grupo,
organização)? Irá gerar perguntas para um encontro futuro? Será compartilhada
com pessoas como notícias e aprendizado? Descubra isso e faça planos de
compartilhar a colheita.
• Esteja consciente tanto de uma colheita intencional como emergente. A
colheita responde perguntas específicas que você está fazendo, mas garanta
também que você está prestando atenção nas coisas bacanas que estão
emergindo em boas conversas. Existe valor real no que está aparecendo e que
ninguém poderia antecipar. Colha isto.
• Quanto mais a colheita é co-criada, mais ela é apropriada coletivamente
por todos. Não defina simplesmente uma secretária,
um “anotador” ou escriba. Convide as pessoas a co-criarem a colheita. Coloque
papel no meio da mesa para que todos possam alcançar. Distribua post-its para
que as pessoas possam capturar ideias e adicionar ao todo. Use seu espírito
criativo para achar maneiras do próprio grupo ser anfitrião de sua colheita.
5. Tome uma sábia decisão coletiva !
Como nós esperamos tomar decisões de maneira que elas criem clareza e
ações sábias?
Se a sua reunião tem que chegar a uma decisão, faça dela uma decisão sábia. Decisões
sábias emergem de conversas, não de votação. A maneira mais simples de chegar a
decisões sábias é usar o processo de consenso com as três posições de dedões.
Primeiro, faça uma proposta clara. Uma proposta é uma sugestão de como algo
pode ser feito. Tenha-a expressa em palavras, escrita e colocada no centro do círculo.
Faça uma enquete no grupo, pedindo para que todas as pessoas mostrem os seus
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A ARTE DA COLHEITA
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“As apostas estão muito altas: nossa era é muito complexa,
seus desafios muito significativos, suas promessas grandes, e
a sua velocidade rápida demais para simplesmente
reagirmos. Ao invés temos que amplificar o poder de nossos
cérebros, individualmente e coletivamente, para lidar com as
nossas novas circunstâncias.”
Eamonn Kelly –Powerful Times
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Mesmo se estamos falando de algo que une a arte de ser anfitrião e de colher
conversas significativas, a natureza dessas duas atividades pode diferir.
Se o trabalho do facilitador ou anfitrião é empenhar esforços para que todos
possam dizer “sua verdade” escutar abertamente, tentar entender diferentes pontos de
vista, trazer o seu melhor à tona e trabalhar com efetividade, o foco dos “colhedores”
está na captura da sabedoria, em lembrar, enxergar padrões e dar significado – e
depois fazer com que este significado fique visível e disponível.
O primeiro pode ser de natureza predominantemente divergente – instigando as
diferentes linhas. O segundo é convergente – entrelaçando as diferentes linhas.
Mesmo assim é unicamente uma coisa ou outra.
É como se o anfitrião encorajasse o processo de descoberta e de aprendizagem,
e o colhedor tentasse encaixar os insights e o aprendizado para fazê-las tão relevantes
e úteis em nosso próprio contexto quanto o possível.
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Dois lados de uma coisa só
A arte de ser anfitrião de conversas significativas e a arte de colher conversas
significativas são dois lados de um mesmo esforço para amplificar nossos cérebros e
nossos corações, assim como para empenhar nossa inteligência coletiva e sabedoria
em busca de achar as soluções emergentes e sustentáveis de desafios complexos.
Há um dito popular de Oliver Wendell Holmes: “Eu não daria nada pela
simplicidade deste lado da complexidade, mas eu daria minha vida pela simplicidade
do outro lado da complexidade.”
Às vezes eu imagino se a Arte de Ser Anfitrião e Colher Conversas
Significativas não é a porta para a simplicidade do outro lado da complexidade –
mesmo se a estrada para o outro lado passa pelo caos.
“Caos é criatividade na procura da forma.”
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Círculo
Nós vivíamos em pequenos grupos como nômades. O círculo se tornou a mãe de todas
as nossas formas de organização - os humanos começaram a sentar-se em círculo
assim que tiveram o fogo para estar ao redor. Nós contávamos histórias, realizávamos
conselhos dos sábios e resolvíamos problemas desta forma. Esta forma é muito útil
para estimular a reflexão, contar histórias e estar juntos. O propósito está no centro – e
é compartilhado.
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Triângulo (Hierarquia)
Assim que paramos nossas vidas nômades para nos estabelecer em um lugar, nós
desenvolvemos a agricultura. Nossa comunidade aumentou, emergiram as classes do
clero (de ritual) e dos guerreiros ou soldados (para proteção). Começamos a
desenvolver hierarquias e a nos organizar em “níveis” onde uma pessoa, ou grupo de
pessoas, tinha poder sobre os outros. A forma triangular da hierarquia é muito útil para
a ação, para fazer as coisas. O propósito é realizado no nível superior.
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29 jul a 01 ago 2014
Burocracia
Hierarquias simples são extremamente instáveis em face do inesperado. A idade
industrial trouxe a mudança e mais complexidade.A burocracia tornou-se o modelo
organizacional predominante, especializando-se na horizontalidade e na hierarquia
abrangente, que controlava verticalmente. Juntos, eles conseguiram complexidade
muito maior do que qualquer um poderia fazer sozinho. Burocracia é fantástico para a
estabilidade, otimização e manutenção do status quo, e para gestão de situações
complexas, até certo ponto. Assim que a complexidade e a velocidade aumentam,
aburocracia não é ágil o suficiente para dar respostas. Ela normalmente se move
lentamente em frente à mudança. O propósito da burocracia também está no topo.
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Redes
Uma forma mais recente de organização (descrita pela primeira vez na década de 70),
as redes surgiram na idade da informação/comunicação, como uma resposta a uma
necessidade de organização e reorganização rápida e flexível. As redes são um
conjunto de indivíduos, círculos (pequenos grupos) ou triângulos (hierarquias) que se
interconectam. As redes podem ligar todos os tipos de organizações.Nós raramente
encontrarmos redes de burocracias, mas as redes podem e muitas vezes realmente
surgem dentro delas. Redes são ótimas para relacionamento, flexibilidade e inovação,
e para fazer as coisas rapidamente. As ligações são guiadas pelos propósitos
individuais em harmonia com um propósito coletivo. Os diferentes nós são conectados
porque os respectivos propósitos precisam uns dos outros. Uma vez que a necessidade
não está mais lá, a conexão da rede se quebra.
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26 Art of Hosting Brasil 1 Art of Hosting Viçosa !94
29 jul a 01 ago 2014
O significado do U está relacionado ao processo de mudança e seu formato
deve- se ao fato de que ao descer o lado direito o indivíduo percorre um caminho para
compreender seus modelos mentais e como eles estão relacionados à realidade na qual
está inserido. O fundo do U é um espaço para reflexão, o indivíduo já tem um maior
conhecimento sobre si e do ambiente, e agora tem a possibilidade de compreender a
realidade atual e iniciar um processo de inovação, que é a subida do U. Nesta parte,
todas as novas ideias são colocadas em práticas, o que não significa o fim, já que o
processo pode iniciar novamente ou etapas serem revistas se necessário.
A teoria U pode auxiliar pessoas a melhorarem sua capacidade de compreensão
de problemas, além de gerar habilidades para lidar com diferentes desafios. Para isso,
o líder deve ser capaz de suspender suas formas habituais de enxergar e compreender.
Ele não pode buscar apenas em sua experiência ou conhecimento informações para
auxiliar os outros - ele precisa ir além do que já sabe e começar a buscar informações
que ainda não detém. Além disso, ele deve ser capaz de criar espaços de aprendizagem
e inovação, nos quais um grupo possa co-criar novas soluções.
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O primeiro tipo de escuta acontece toda vez que a pessoa recebe um estímulo e
reage a ele. Ou seja, ela tende a reproduzir hábitos e acaba por reproduzir padrões
passados continuamente. Tal atitude faz com que o indivíduo se torne muito centrado
em si; ele está sempre julgando e analisando o que ouve, prestando pouca atenção no
que está realmente sendo dito. Nesse nível, há pouco espaço para a criatividade e
novas ideias. Um exemplo é o indivíduo que tende a sempre interromper e dizer “isso
eu já sabia”.
O segundo tipo é o ouvir focado no objeto, ou seja, o indivíduo centra sua
atenção no que está vendo ou ouvindo, deixando de utilizar a análise imediata do fato,
ou a voz do julgamento. A ideia central do debate é conhecer o outro e verificar se as
ideias dele são diferentes das próprias ideias. Apesar de já se focar o outro, ainda
existe a tendência de se comparar ideias. Nesse momento, surgem perguntas e mais
interesse no que está acontecendo, possibilitando maior conhecimento dos fatos.
O terceiro tipo é o ouvir empático o qual surge quando se pensa: “Ah, sim, eu
sei o que você está sentindo”. Quando o indivíduo muda o foco de atenção do centro
para o exterior (focado no objeto), ele tem a possibilidade de se engajar em um
diálogo, participando ativamente dos fatos que ouve. É preciso abertura para a
empatia, ou seja, o líder passa a ver através dos olhos do próximo. Este ouvir já
proporciona mais criatividade e novas informações. Porém, ele está voltado apenas
2No inglês, há uma ligeira mudança na grafia da palavra relativa a Chronos: escreve-se Kronos.
Kairós permanece da mesma maneira, porém sem o acento: Kairos.
3 Na versão original desse texto, disponível na apostila do AOH Floripa, Chronos estava como sua
versão em inglês, Kronos. Para essa edição, já houve a adaptação.
4Informações obtidas em artigos da Wikipédia. Buscar autores externos (livros, teses). Ver endereço
em referências.
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29 jul a 01 ago 2014
Chronos refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, que pode ser medido,
associado ao movimento linear das coisas terrenas, com um princípio e um fim. Kairós
refere-se a um momento indeterminado no tempo, em que algo especial acontece, o
tempo da oportunidade. Aeon já era um tempo sagrado e eterno, sem uma medida
precisa, um tempo da criatividade onde as horas não passam cronologicamente,
também associado ao movimento circular dos astros, e que na teologia moderna
corresponderia ao tempo de Deus.
Kairós é o tempo em potencial, tempo eterno e não-linear, enquanto Chronos é
a medida linear de um movimento ou período. Enquanto Chronos é de natureza
quantitativa, Kairós possui natureza qualitatitva Na disciplina Retórica, por exemplo,
Kairós era uma noção central, pois caracterizava "o momento fugaz em que uma
oportunidade/abertura se apresenta e deve ser encarada com força e destreza para que
o sucesso seja alcançado”.
De forma sistemática5:
5 Quadro desenvolvido por Mariana Tiso a partir de informações disponíveis na wikipédia. Ver nas
referências. Ver também Mark Freier (2006) "Time Measured by Kairos and Kronos".
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METODOLOGIAS
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As próximas páginas introduzem as principais metodologias para boas práticas de
liderança colaborativa propostas pela comunidade do Art of Hosting. Elas foram
elaboradas para engajar grupos de pessoas (pequenos ou grandes) em conversas
estratégicas, onde a sabedoria e inteligência coletiva pode ser colocada à serviço da
descoberta de melhores soluções para propósitos em comum.
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Existem alguns princípios básicos, ou qualidades, que são comuns para todas essas
metodologias:
• elas oferecem estruturas simples que ajudam a engajar pequenos ou grandes
grupos em conversas que levam à resultados.
• cada um tem suas vantagens e limitações específicas.
• são geralmente baseadas no diálogo, com fala intencional (falar quando você
realmente tem algo a dizer) e escuta atenta (escutar e compreender) como suas
práticas básicas, permitindo que exploremos e descubremos juntos, ao invés de
tentar convencer cada uma das nossas verdades presentes.
• suspender pré-concepções é uma prática básica. nos permite ouvir sem
julgamento e examinar nossas verdades presentes.
• círculo é o modelo de organização primário, seja ele a única forma usada
(como na prática do círculo) ou utilizado em diversos grupos de conversa em
círculo, dentro de uma grande prática (como no world cafe ou open space).
• um encontro no círculo é um encontro de iguais. essas metodologias inspiram
descobertas e aprendizados peer-to-peer.
• investigação e perguntas poderosas são uma força motriz. respostas costumam
fechar a conversa enquanto a investigação leva a conversa para pontos ainda
mais profundos.
• o propósito disso tudo é “pensar melhor em conjunto”, que é engajar a
inteligência coletiva para melhores soluções.
• facilitar esses engajamentos ou conversações é um trabalho de anfitriação,
permitindo que soluções emerjam da sabedoria do centro. anfitriar requer um
certa proficiência na prática dos quatro quadrantes: estar presente no momento
em que está acontecendo, engajar-se em conversas com outros, anfitriar
conversar e co-criar e co-anfitriar com outros.
• existem algumas condições necessárias para que esse engamento funcione bem.
qualquer engajamento ou conversa estratégica precisa estar fundada em uma
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Intenção
Intenção dá forma e determina quem vem ao círculo, o tempo que ele dura e que tipo
de resultado é esperado. O chamador dispende tempo articulando a intenção e o
convite do círculo.
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Ponto de partida ou boas-vindas
Uma vez que as pessoas estão reunidas, é útil iniciar o círculo com um gesto que
mude a intenção do grupo de espaço social para espaço de conselho. Este gesto de
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A dinâmica do world café
• Grupos de 4 a 6 pessoas sentam-se em mesas ou agrupamentos circulares.
• São definidas rodadas de conversação, geralmente entre 20 a 30 minutos. Em cada
rodada, uma questão poderosa é apresentada aos grupos.
• Uma das pessoas do grupo é convidada a permanecer na mesa como “anfitrião”
enquanto o restante troca de mesa como “embaixadores” das ideias e insights
gerados.
• O “anfitrião” compartilha insights, perguntas e ideias que emergiram nas rodadas
anteriores com os novos particpantes do mesa e então partem para a pergunta da
rodada.
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Para refletir, ponderar e inspirar, ofertamos uma série de textos sobre a prática de
anfitriar conversas significativas. Alguns desses são textos técnicos e outros mais
poéticos, e todos foram elaborados por diferentes membros da comunidade ao longo
dos nossos anos de prática. Independente da sua forma e conteúdo, todos se unificam
pelo propósito de tangibilizar o poder da lógica e das ferramentas do Art of Hosting e
é um presente nosso para você usar quando se sentir chamado à leitura.
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A PODÊNCIA DA EDUCAÇÃO
André Gravatá
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Educação é feita principalmente de gente
Gente é feita principalmente de abundância
Freire disse que se a educação não pode tudo
alguma coisa fundamental ela pode
E a educação pode uma podência
Que surgiu bem antes de método ou ciência
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A educação tem a podência do esticamento do olhar
Para que ele se abra enorme
Do tamanho do mar
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A educação tem a podência da expansão
Do cultivo de campos de diversidade
Para fertilizar os sertões
Que hoje têm nome de cidade
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A educação tem a podência do desafiamento
Passa pelo encontro com nossos redemoinhos internos
Que giram, sem trégua, num movimento de bagunçação
Daquelas entranhas feitas principalmente de emoção
!
A educação tem a podência de instaurar
Uma catação de horizontes dentro de cada um
Para que as abundâncias sejam descobertas
Neste encontro certamente vamos visitar o nosso passado para trazer toda a
coletividade, assim reafirmar a nossa identidade e estabelecermos um elo com nossos
antecedentes, certamente seremos inspirados a fazermos a conexão de esforços que
irão nos co-inspirar no percurso que queremos fazer juntos.
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Realizar o primeiro encontro da Arte da Liderança Colaborativa no Nordeste
para nós é também trazer Paulo Freire para nosso círculo. Porque na Arte de Anfitriar
somos chamados a exercitar muito do que Paulo Freire trouxe como proposta
educativa e de convivência: o compromisso, os sonhos, a co-criação, o dialogo, a
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Livro: Cuidado, escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas.
Harper, Babette, 1994.
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Como dar conta de uma visão sistêmica, se até então, os desafios globais foram
vistos de forma fragmentada e linear? Hoje carecemos compreender as incertezas e a
complexidade da vida humana e suas relações. De alguma maneira todos nós já nos