A Produção do Espaço Urbano: uma perspectiva trialética
Antônio Carlos Robert de Morais
O conceito de produção do espaço, criado por Lefebvre, causou uma grande
intervenção na ciência geografia e no uso do espaço como categoria de análise. Segundo Morais, Lefebvre “compreende o espaço não como algo estático, agente passivo ou como mero palco das ações humanas. O espaço passa a ser entendido enquanto processo, produto e produtor de relações sociais”. Diversos autores ressaltam a importância da teoria de Lefebvre que acaba com o dualismo espaço e ação humana. Coloca como uma relação dialética e indissociável. Sendo o espaço produzido e produto das relações sociais, dentro da esfera capitalista de acumulação e produção de desigualdades, o resultado que temos é uma produção do espaço desigual que reflete as desigualdades de acumulação do nosso modelo econômico. O capital, por tanto, age de maneira mais feroz na produção do espaço de acordo com seus interesses, como acontece no mercado imobiliário e no uso do solo urbano, criando as formas e infraestruturas que atenderão a reprodução do capital. O autor destaca duas concepções na produção do espaço de Lefebvre: A primeira refere-se a concepção de produção stritu sensu, ou seja, mais restrito vinculado a produção de coisas, objetos, produtos e mercadorias. A outra concepção é a latu sensu ligada a ideia de produção das relações sociais ao produzir ideologias, costumes, valores, ou seja, é uma produção mais ampla que se refere a produção da vida. Assim, a produção e reprodução do espaço cuja lógica atende aos interesses da acumulação do capital se realiza tanto ao produzir objetos e mercadorias quanto ao produzir e recriar modelos de comportamento que invadem o cotidiano, a cada dia mais regulado, que induzem ao consumo.
¹Mestrando em Geografia – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
A produção do espaço pela sociedade se dá ao longo do tempo e reflete as características técnicas de cada tempo. A sociedade se relaciona sobre o espaço que é produzido também por essas relações. É o espaço social, produzido pelos agentes da sociedade, ainda que em escalas e intensidades diferentes. Como o Estado que possui papel hegemônico na produção capas de regular a vida pública e privada. Mais do que dual, Lefebvre percebe o espaço a través de 3 dimensões: o espaço concebido, o espaço percebido e o espaço vivido. O autor destaca que o espaço concebido é aquele das normas, instituído pelos agentes hegemônicos da produção capitalista. O espaço percebido “é um espaço de mediação entre o concebido e o vivido, pois o que é percebido é antes concebido e tende a se reproduzir no vivido”. E o espaço vivido diz respeito as relações sociais de uso desse espaço e sua produção em cima do que foi concebido, resultando muitas vezes em embates e conflitos de interesses. A interação dialética desta tríade espacial conforma a produção do espaço. Entender como se dá a produção do espaço contemporâneo através da tríade lefebvriana pode relevar as contradições, disputas e conflitos dos agentes que produzem este espaço, podem ainda nos revelar as práticas espaciais, os usos e as apropriações do espaço em questão. A partir destes conceitos cria-se uma teoria unitária do espaço cuja relação se dá por meio da simultaneidade e entrecruzamento entre estas lógicas, que ao invés de se oporem, se articulam.