Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A história é o lugar da realização do Absoluto como realidade infinita, i.e., absoluto livre.
Se o Absoluto assume a condição histórica isso significa que assume formas finitas,
temporalmente limitadas, ou seja, torna-se imanente. Contudo, esta ligação ao finito não
é uma prisão porque nenhuma forma finita, dada a sua limitação, pode ser
definitivamente o Absoluto: manifesta-o de uma forma provisória.
O Absoluto será na sua longa encarnação histórica um devir dialéctico, isto é um processo de
constante negação e ultrapassagem das suas figuras finitas, Estas serão suprimidas e ao
mesmo tempo conservadas (Este processo de negar e ao mesmo tempo conservar tem o
nome de superação - AUFHEBUNG)
a) São suprimidas porque nenhuma figura finita pode existir por si própria, não tem autonomia
ontológica. Suprimir significa portanto negar que as realidades finitas possam subsistir em
si mesmas e afirmar que elas só existem como manifestação temporária, limitada, do Absoluto.
b) São conservadas porque sendo manifestações do Absoluto são integradas na totalidade
constituída pelo conjunto das manifestações do Absoluto. Se o Absoluto não conservasse
essas manifestações, apesar de ultrapassadas, não teria uma história e deixaria fora de si as
realidades finitas o que implicaria que não se realizaria como totalidade.
INDIVÍDUOS HISTÓRICO-MUNDIAIS
(Seres finitos como Júlio César e Napoleão, que realizam mesmo que disso não se apercebam
aquilo que o Espírito de um povo - enquanto lugar ou veículo da manifestação do Espírito
Universal - reclama. Cumprem, quer o queiram quer não,aquilo que o seu tempo deles exige,
sendo assim meios para o desenvolvimento da vida dos povos).
A FILOSOFIA HEGELIANA DA HISTÓRIA
A FILOSOFIA HEGELIANA DA HISTÓRIA
1. O Sentido da História é a Realização da Liberdade.
Para Hegel o Absoluto (o Espírito, a Ideia, Deus) é o tema da Filosofia. Hegel não se
limita a dizer que Deus é ou existe. Mostra como Deus ou o Absoluto toma consciência
de que é absoluto ou realidade infinita. Ora uma realidade só prova que é infinita provando a
si mesma que não é finita. Uma realidade para se definir concretamente exige a relação com a
sua contrária, a identidade forma-se por meio das diferenças.
Como é que o Absoluto prova a sua infinitude? Assumindo a forma do finito, de realidade
histórica, espacio-temporalmente circunscrita. Por isso se o Absoluto, fosse concebido como
realidade que transcende, que está absolutamente separada da história, do mundo, isto é, das
realidades finitas, ele não tomaria consciência de si como Absoluto ou infinito, não se realizaria,
não passaria de Absoluto em potência a Absoluto em acto.
A história, a manifestação do Absoluto no domínio do espaço e do tempo é a maneira de
o Absoluto mostrar a si mesmo que é absoluto, isto é, a totalidade do real. Por outras
palavras, a história revela progressivamente que nada existe fora do Absoluto, que este
governa tudo, que não há limites ao seu poder.
A afirmação do Absoluto como realidade histórica é consequência da afirmação do Absoluto
como realidade imanente, isto é, realidade que só existe efectivamente manifestando-se no
domínio espácio-temporal. O Absoluto não é uma realidade que se realize como tal de forma
imediata porque isso seria transformá-lo numa realidade que estaria dada de uma vez para
sempre. Porque razão não pode ele ser uma realidade imediata (não mediata)? Porque razão
não pode ele ser uma realidade fechada em si mesma? Porque só se realiza como Absoluto ou
Infinito mediante o outro de si mesmo, mediante a assunção de formas finitas cuja realidade
consiste em serem constantemente ultrapassadas e nunca definitivas. Negada a absoluta
transcendência do Absoluto, devemos dizer que o Absoluto faz-se e não simplesmente que
é. O palco privilegiado desta realização é a História Universal. A vida do Absoluto
desenvolve-se no seio da História. Quando dizemos que o Absoluto se realiza como
absoluto devemos ter em atenção que o Absoluto é uma realidade espiritual. Ora, Para Hegel
espírito e liberdade são realidades idênticas. Deste modo, a História deve ser perspectivada
como um vasto movimento de realização ou actualização da liberdade. Assim, quanto mais a
liberdade está presente no mundo humano ou histórico tanto mais o Absoluto se
absolutiza. A vida do Absoluto é inseparável da experiência humana da liberdade. Caso não
houvesse lugar para a liberdade no domínio humano, o Absoluto seria uma realidade abstracta
sem vida.
Esta correlação significa que mediante a história o Absoluto se torna para si aquilo que é em si.
Em si mesmo, o Absoluto é aquilo que é, mas não tem consciência efectiva de o ser.
Como é que o Absoluto toma consciência de que é o fundamento que torna inteligível
toda a realidade histórica? Tornando-se presente nessa realidade, ou seja,
reconhecendo progressivamente que toda e qualquer figura histórica é um momento da
sua vida, uma etapa na progressiva consciencialização de que toda a história é a sua
história.
Não se esgotando em nenhum dos momentos históricos aos quais é imanente, o Absoluto vai
adquirindo consciência de que é uma imanência total, ou seja, que todas as etapas históricas
são as formas finitas mediante os quais o infinito se realiza, se actualiza, se conhece a si
mesmo. Sendo o Absoluto a razão divina, deve-se dizer que a história é governada pela razão
e que devemos ultrapassar uma visão superficial que a transformaria no lugar do caos e da
arbitrariedade. A história tem um sentido, uma finalidade racional: a afirmação do Absoluto
como realidade livre, ou seja, como realidade que transforma todo e qualquer obstáculo
aparentemente exterior numa negação que o Absoluto constantemente nega ou ultrapassa.
Podemos dizer que através da história se vai suprimindo progressivamente a distância entre o
Absoluto e o mundo humano. Sabemos que o Absoluto deve ultrapassar a fixação em si
mesmo e tornar-se imanente. Ora esta imanência não se realiza de forma imediata mas
historicamente.
Assim o que significa tornar-se imanente? Significa que há um processo de realização
do Absoluto mediante o qual este se revela a si próprio como incluindo os vários
momentos históricos no seu seio. O mundo humano torna-se um conteúdo imanente ao
Absoluto. Eis o segredo da História: para o Absoluto, torna-se imanente ao mundo é
tornar o mundo imanente a si, ou seja, quando o Absoluto se manifesta na história ele
transforma-a num conjunto de momentos, que são momentos da sua vida. É nisto que
consiste o progresso na consciência da liberdade. Tornando a história um conteúdo que
lhe é imanente, o Absoluto ultrapassa todo e qualquer limite exterior.
Reencontramos então uma das afirmações fundamentais da filosofia hegeliana: o Absoluto é a
totalidade do real sob ~ forma de devir, ou seja, o Absoluto transforma-se, mediante a imensa
odisseia histórica, na totalidade do real. Marcando a sua presença no mundo histórico o
Absoluto faz deste a sua presença viva.
Qual a relação entre esta odisseia do Absoluto e a experiência histórica do Homem?
Sabemos já que a efectiva realização do Absoluto é inseparável da realização do Homem
como ser livre, ser que não está dividido consigo mesmo. Hegel tinha clara consciência desta
cisão. Há no homem uma vocação metafísica, uma aspiração ao Absoluto. Se o Absoluto for
concebido como transcendente ao mundo ou à história, a aspiração do Homem é fonte de
infelicidade e pode conduzir à alienação, isto é, à negação do mundo e à procura ilusória do
além. A sede de Absoluto transforma-se em vivência infeliz a partir do momento em que o
homem procura, fora do mundo, algo que está fora do seu alcance. Instala-se o conflito entre
este mundo e o outro, entre o mundo terrestre e o reino dos céus (reino espiritual), entre o
homem como ser corpóreo e o homem como ser espiritual. Para Hegel, este conflito ou ruptura
do homem consigo próprio só pode ser ultrapassado ou resolvido se for vencido o fosso entre o
Absoluto (Deus) e o mundo. Esta reconciliação entre Deus e o mundo leva ao reencontro do
homem com o mundo, com Deus e com o outro homem. A partir do momento em que o
Absoluto é visto como realidade que se realiza na história, a aspiração do homem ao Absoluto
deixa de ser uma quimera porque a realização do Absoluto é inseparável da realização da
liberdade do Homem. Em suma, a História é concebida de uma forma teleológica, ou seja,
como tendo uma finalidade que é a progressiva revelação do Absoluto como sendo e sabendo
ser toda a realidade. Por outro lado, a história é uma teodiceia porque
tudo o que nela acontece se justifica como tendo um sentido divino.
A História é um vasto processo, um movimento de progresso que apresenta, sob a aparência
superficial do caos e da arbitrariedade dos acontecimentos, os diferentes graus de realização
da liberdade, ou seja, de absolutização do Absoluto. Quanto mais a liberdade está presente no
mundo humano tanto mais o Absoluto se reconhece como tal, tanto mais efectiva, clara e
transparente é a sua consciência de si. Em linguagem religiosa, que Hegel várias vezes utiliza,
pode-se dizer que Deus conhece-se no homem, que o "reino de Deus" é também constituído
pelo homem.
A razão divina manifesta-se, realiza-se progressivamente, nas criações humanas. Quanto mais
o homem é livre, ou seja, se reconhece a si como homem, tanto o mais o Absoluto se
absolutiza, i. e, se desaliena, reconhece o mundo como presença de si ou espelho da sua
glória. Liberdade do homem e realidade efectiva do Absoluto são termos correlativos.
Reacções:
1 comentário: Hiperligações para esta mensagem
Enviar a mensagem por e-mailDê a sua opinião!Partilhar no TwitterPartilhar no
FacebookPartilhar no Pinterest
Etiquetas: HEGEL
O TEMA CENTRAL DA FILOSOFIA DE HEGEL
O TEMA CENTRAL DA FILOSOFIA DE HEGEL
A ultrapassagem de uma concepção abstracta do Absoluto (Deus, o
Infinito)
O que significa conceber o Absoluto de forma Abstracta? Concebê-lo como realidade fechada
em si mesma, sem relação com o mundo, com o plano espacio - temporal ou finito. É
estabelecer um fosso irredutível uma separação absoluta entre o infinito e o finito, tornando-os
realidades que não têm nada a ver uma com a outra. Ora existir efectivamente é estar em
relação e não fechado em si mesmo. Conceber o absoluto como coisa em-si (abstracta) é
negar-lhe a existência efectiva concreta.