DA VERDADE
2
A TOCHA DA VERDADE
(Chag chen ngondro shi jor ang ngoshii tri rim dordu nguedon dronme she jawa
shugso)
3
Publicado Pela Associação Daghpo
Samye Dzong Barcelona
Pau Claris, 74, 2o
08010 Barcelona
I.S.B.N.: 84-605-2030-7
Depósito Legal: B. 43.316-1994
Proibida a reprodução, parcial ou total, por qualquer meio eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia, registro, tratamento informático ou outros métodos, sem a autorização escrita dos
titulares do Copyright.
4
ÍNDICE
INVOCAÇÃO 25
PRELIMINARES COMUNS 26
PRELIMINARES EXTRAÓRDINÁRIAS 45
DEDICAÇÃO 91
Apêndice 92
Notas 97
Glosário 102
5
Prefácio
O livro de Jamgon Kongtrul Lodro Taye que tenho o prazer de apresentar reúne
estes requisitos de forma excelente. Ao longo de sua vida, Jamgon Kongtrul
compôs um compêndio monumental de textos chamado “Os cinco grandes
tesouros” proporciona a compreensão correta do Dharma budista em toda a sua
pureza, e que será de grande ajuda a todos. O benefício que cada um pode obter
dependerá do uso que fizer dos ensinamentos aqui contidos.
Para mim, é uma grande satisfação apresentar este livro aos leitores de língua
espanhola, e meu desejo é que todos consigam, através dele, um certo grau de
conhecimento, que os capacite a fazer o bem a muitos seres.
6
Prólogo do tradutor para o espanhol
Meu propósito, ao traduzir o texto, foi manter o estilo coloquial em que está escrito
e tentar que ficasse facilmente compreensível para aqueles que não estão muito
familiarizados com a terminologia budista. Para isso, prescindi de vários termos
sânscritos ou tibetanos, crendo ser útil e valioso traduzi-los ao castelhano, apesar
de serem utilizados durante anos na literatura budista em castelhano. Desta
forma, espero ter tornado acessível o conteúdo das palavras, o qual, de outro
modo, tende a ficar dividido e incompleto sob a carcaça de termos inexpressivos.
Ainda assim, deve-se notar o seguinte: que o “h” aspirado tem se ser pronunciado
como em inglês (aproximadamente como o “j” do espanhol); e tanto o “j” – em
palavras como Vajra, Dorje e Nagarjuna – como o”g” seguido de “y” – como, por
exemplo, em Kagyu, Gyalpo ou Urgyen – têm de ser pronunciadas como o “j” do
inglês ou do catalão, ou seja, com um som intermediário entre o “j” e o “ch” do
castelhano.
7
O último capítulo de “Nguedon Dronme”, que consiste de instruções para a prática
da meditação Mahamudra, não está incluído na presente tradução, de acordo com
o desejo dos meus lamas de que tal capítulo não se publique em língua não
tibetana.
Tenpa Dargye também fez correções muito úteis na redação final do texto. Carla
Luyckx, por sua vez, contribuiu desinteressadamente com várias das ilustrações.
Falta dizer que a excelente versão inglesa de Judith Hanson (“The torch of
certainly”) foi o tempo todo uma inestimável fonte de consulta.
Finalmente tenho que agradecer o apoio constante proporcionado por meus pais
durante o trabalho de confecção do livro, assim como a generosa colaboração de
todos os meus companheiros de Samye Dzong Barcelona.
É meu desejo que esta modesta tradução de “A tocha da verdade” contribua para
a propagação do Dharma de Buddha pelos países de língua hispânica e
proporcione um caminho de liberdade a todos aqueles que o buscam.
8
Introdução
Para entender o budismo e poder praticá-lo sem confusão, é essencial ter uma
idéia clara do conceito budista da verdade.
Ao ter estes dois possíveis níveis de percepção, fazemos uma falsa distinção
entre a verdade em si – o estado natural em que tudo esteve desde sempre – e o
aspecto relativo desta verdade, tal como a compreendemos em nosso presente
estado. Chamamos o primeiro, de verdade absoluta e, o segundo, de verdade
relativa.
9
Este é o modo real como existem as coisas no nível relativo de percepção. O
universo que nós, seres comuns, percebemos não está composto de objetos e
fatos independentes e causais - trata-se, isto sim, de uma totalidade única de
movimentos interconectados, vinculados pelo contínuo fluir de causas e efeitos. E
este fluir está regido por leis infalíveis: de uma semente de cereja nasce uma
cerejeira, e não um marmelo. Isto é o que chamamos de lei do Karma. É uma
verdade relativa.
Existe uma infinidade de termos para designar a verdade absoluta: estado natural,
Dharmadhatu, Tathatá, Tathagatagarbha, Dharmakaya, Gnosis Vajra, Dharmatá,
Nirvana, Prajñaparamita, Vacuidade, Bodhichitta, Grande Perfeição, Mahamudra,
Cognição (conhecimento) Pura, Sabedoria Primordial, Buda, Iluminação, Clara Luz
etc. Porém, por mais que sejam os nomes, a verdade que tentam designar
continua sendo a mesma. Os nomes são meros sinais que pretendem conduzir à
compreensão do objeto que representam. Nomes distintos enfatizam aspectos
distintos da verdade, de tal modo que, segundo o contexto, uns podem ser mais
adequados que outros.
É uma experiência unilateral, como viver sempre na noite e não conhecer o dia.
10
universo e de nós mesmos. Na realidade, esta busca é a única coisa que dá
sentido à nossa vida, e a única coisa que pode nos proporcionar felicidade
verdadeira, a nós mesmos e aos demais.
Na tradição Kagyu o termo principal que se usa para designar a base, o caminho e
o resultado da busca da verdade absoluta é “Mahamudra”. “Mudra” significa
expressão (marca) ou gesto e “maha” significa grande. Assim, a palavra
Mahamudra indica que todas as aparências manifestadas são sinais ou
expressões da verdade absoluta. Todos os fenômenos são gestos da mesma
essência primordial, da mesma forma que as ondas são gestos do mar, e que
cada gota do oceano contém em si as características – ou seja, a expressão ou
marca – do oceano inteiro.
O MAHAMUDRA DA BASE
Em essência, esta mente é não criada, não nascida, está vazia de toda a
característica e é inefável. Não tem forma nem se encontra em parte alguma.
11
Porém, isto não quer dizer que é uma ilusão e que nada exista, ou que não exista
mais que um nada total. Isto seria cair em um ponto de vista externo: o niilismo.
O MAHAMUDRA DO CAMINHO
12
O que nos mantém em nosso estado de consciência condicionado e imperfeito
são, os dois véus ou ofuscações. Estes véus são: o véu cognitivo; ou seja, a
ignorância ou o não reconhecimento da vacuidade; e o véu emocional, ou seja, as
reações de atração e repulsa que derivam automaticamente da noção dualista ,
junto com todas as emoções conflitantes subseqüentes: desejo, ira ciúmes,
orgulho, cobiça, ignorância, avareza etc.
Na prática, a gnose está muito longe de nosso alcance; por outro lado, sabemos
distinguir entre o bem e o mal, o prazer e a dor. Portanto, é imprescindível e de
máxima importância cultivar a compaixão e praticar o bem. A compaixão debilita a
noção dualista do “eu” e “ os demais”, e nos aproxima, assim, da sabedoria. Seria
o mesmo que dizer que, por si própria à prática da compaixão contém a sabedoria
e a desperta.
A acumulação de mérito consiste, por um lado, em evitar toda ação egoísta e toda
ação que tenda a aumentar a confusão e o sofrimento: próprios ou alheios; e por
outro lado, em cultivar uma atitude altruísta e realizar as atividades que
proporcionem algum benefício aos demais, ou que tendam a transformar
positivamente nossa mentalidade e a criar condições favoráveis de existência.
Quanto mais mérito e virtude se acumulam, mais perto se está da sabedoria. Com
o tempo, chega-se a cultivar a compaixão e a sabedoria simultaneamente, agindo
o tempo todo da forma mais correta ao mesmo tempo em que a mente permanece
desapegada, repousando em sua essência pura. Ou seja, fazendo com que a
13
meditação seja um fluir contínuo, um estado natural da mente em qualquer
circunstância.
O MAHAMUDRA DO RESULTADO
14
Finalmente, chega-se ao Caminho da Perfeição, correspondente à última fase do
nível de “não meditação” É o resultado final do caminho, o retorno à sabedoria
primordial.
Por outro lado, insiste-se com freqüência em que a preparação é mais importante
que a prática em si, ou seja, mesmo que a pessoa esteja dedicada à prática de
meditação propriamente dita, é muito importante continuar mantendo vivas as
práticas e meditações preliminares.
15
A prática central tem duas etapas: “fase de criação” e a “fase de conclusão”. A
primeira consiste nas práticas relacionadas com a visualização de uma divindade
e a recitação de seu mantra.. A segunda consiste nas práticas relacionadas com a
purificação e controle das energias sutis do corpo e o desenvolvimento da
sabedoria, através das seis iogas de Naropa e a meditação Mahamudra.
AS PRELIMINARES COMUNS
É por isto que os quatro preliminares comuns precedem sempre qualquer prática.
AS PRELIMINARES EXTRAORDINÁRIAS
Segundo disse Jamgon Kongtrul, nunca foi mencionado nas escrituras budistas
um meio mais eficaz para purificar as ofuscações e reunir as acumulações que os
“sete ramos”. As quatro preliminares especiais não são nada mais que um método
excelente para se por em prática os sete ramos.
16
Com ligeiras variantes em alguns detalhes, estas preliminares são praticadas
pelas quatro escolas do budismo tibetano como preparação indispensável para
qualquer outra prática. Na verdade, constituem o fundamento essencial para
qualquer desenvolvimento possível, o que é compreensível se atentarmos para
seus pontos essenciais: purificação, gerar confiança, compaixão e devoção,
eliminar o egoísmo e, em suma, levar a mente a um estado excelente ou perfeito
para que nele cresçam galhos, as flores e os frutos da meditação.
A ordem em que são descritas no texto é a melhor e mais natural, pois, de certo
modo, cada uma das práticas serve de preparação para a seguinte. Isto não exclui
a possibilidade de que, em circunstâncias particulares ou seguindo o conselho do
guru, se possa alterar a ordem ou praticar somente uma das preliminares. Na
realidade, cada uma delas é uma prática completa, com todos os elementos
mencionados anteriormente e, por isso, é potencialmente capaz de conduzir à
iluminação. Não bastante, o normal é que se pratiquem todas de forma gradual,
como preparação para meditações posteriores mais profundas.
Ainda que se mencionem diversos sinais favoráveis como resultado das práticas,
não é necessário esperando que apareçam. Não importa se estes sinais se
manifestem ou não. O que importa é continuar praticando com dedicação e sem
expectativas, mais como um modo de vida.
O KARMA A REENCARNAÇÃO
17
A filosofia budista tem se mostrado atraente ao pensamento ocidental; goza de
grande prestígio por sua profundidade e sua lógica definitiva, por sua exposição
sistemática e exaustiva da realidade. Contudo, muitas vezes o ocidental se vê
diante de conceitos estranhos – ou esquecidos – a sua cultura, os quais podem
criar dúvidas ou confusão e colocar um freio à prática.
Isto inclui nossas experiências e sensações pessoais. Cada ser é uma parte
inseparável do todo, resultado de uma enormidade de causas e condições, e em
estado de contínua transformação. A personalidade, as tendências emocionais e
os eventos experimentados por cada pessoa têm também causas precisas, que
podem provir de um passado longínquo.
Assim, um nascimento não pode ser a origem de uma vida “nova”. Nada pode ser
novo no sentido de aparecer de repente onda nada existia; isto seria absurdo. Um
nascimento é só uma fase de transição, assim como também é a morte. Nada
cessa ou começa em termos absolutos. Se uma pessoa sente, percebe e pensa,
não pode se extinguir de repente em um estado de total ausência, pois isto
também seria um absurdo.
18
O que transmigra de vida em vida é o fluxo mental do indivíduo, que não é uma
alma eterna, e sim um conglomerado de cinco agregados psicofísicos (skandas):
forma e concepção sensorial, consciência, sensações, discernimento e reações
mentais. A essência búdica do indivíduo está além deste conglomerado transitório
que, por ignorância, se autodenomina “eu”. Enquanto a mente não reconhecer sua
essência não condicionada e seguir acreditando que é “eu” sua transmigração de
vida não cessará.
DIMENSÕES DE EXISTÊNCIA
Outro tema que se aceita com certa resistência é o dos modos distintos de
existência, que na tradição budista se classificam em três grandes dimensões ou
em seis reinos. Uma classificação praticamente idêntica em suas linhas básicas
existe, desde as próprias origens da história, em todas as culturas do mundo,
embora, atualmente, algumas pessoas tendam a se sentir cépticas ante tal
possibilidade.
Os reinos dos infernos, dos espíritos, dos deuses e etc. são estados de existência
reais, tão válidos quanto o nosso. Não são meras descrições simbólicas de
estados humanos – ainda que no reino humano se experimentem estados de
prazer e dor semelhantes ao dos demais reinos, e sim os modos distintos em que
os seres experimentam a exigência, como conseqüência dos respectivos estados
emocionais de intensidade avassaladora.
19
como tal, simbólica – derivada da ignorância e atitudes e ações kármicas
diversas.
BUDAS E DIVINDADES
Assim, do ponto de vista relativo, ao invocar todos os Budas das dez direções,
evitamos o erro de crer que só existe um único ser supremo, ao mesmo tempo em
que expressamos nosso respeito por todos os seres que tenham conseguido se
converter em Buda . Ao mesmo tempo, de um ponto de vista absoluto, quem,
realmente invocamos, é Dharmakaya, a essência de nossa própria mente. Ou
seja, invocamos a essência pura de nossa mente que é idêntica e inseparável da
de todos os Budas.
Por isso disse o Buda que, ainda que aos olhos dos homens ele veio ao mundo e
deu muitos ensinamentos, na realidade nunca apareceu nenhum Buda, nem deu
nenhum ensinamento, nem havia ninguém a quem ensinar. Vemos, pois, que a
chave para compreender todos os aspectos paradoxos ou aparentemente
contraditórios do Dharma é considerá-lo à luz das duas verdades a relativa e a
absoluta.
20
Portanto, de um ponto de vista absoluto, as divindades não são nada a não ser
manifestações da essência pura de nossa própria mente. À medida que o iogue
vai purificando os elementos psicofísicos de seu ser, pode ter diversas visões das
divindades que personificam estes diversos elementos em seu estado primordial,
São manifestações do Dharmakaya, percebidas por aqueles que estão em um
nível de desenvolvimento intermediário entre o de um ser comum e o de um Buda.
Diz-se que, deve-se buscar Buda em nossa mente, e que buscá-lo em qualquer
outro lugar é afastar-se dele. Reconhecer a natureza absoluta de nossa própria
mente é encontrar o Buda; é ver que, além da mente, não existe outra divindade.
Na prática, se a pessoa tem devoção, a graça do guru, dos Budas e das deidades
se manifestam. Se não tem devoção, não existe. O sol esta sempre no céu;
porém, se não abrimos as janelas de nossa mente, nunca receberemos sua luz.
REFÚGIO
O texto litúrgico utilizado para praticar as preliminares intitulado “ O carro que leva
pelo caminho dos seres excelsos”, do IX Karmapa, que contém as distintas preces
e descrições para recitar. Cada uma das práticas tem uma parte que deve ser
repetida 111.000 vezes, contando cada volta do “mala” (ou rosário) como 100, não
21
como 108. (O numero exato é, na realidade , cem mil, mas costuma-se
acrescentar dez repetições por cada cem, para compensar possíveis erros e
imperfeições).
Não é através da dor que se purifica o corpo, e sim através da atitude de entrega,
de respeito e de humildade que as prostrações infundem na mentalidade do
praticante. A dor é simplesmente uma conseqüência secundária, como se
experimentada em qualquer trabalho ou esporte. Por outro lado, o praticante se
purifica aprendendo a aceitá-la.
O MANTRA DE VAJRASATTVA
22
A OFERENDA DA MANDALA
Esta oferenda de trinta e sete elementos é feita uma vez só no início de cada
sessão. Em seguida, separa-se o arroz do disco efetua-se algumas vezes a
oferenda simplificada de sete montes, recitando simultaneamente as quatro linhas
de oferenda, contando seu número com o rosário.
Seja como for, a idéia do universo muda segundo os conceitos culturais as épocas
distintas. O Buda se adaptou aos conceitos de sua época entre outras coisas
porque a cosmologia da mandala inclui a totalidade dos distintos planos de
existência, por se tratar de uma visão completa do mundo; enquanto que a nossa
percepção deste plano humano é uma visão limitada e incompleta do universo.
Mas isto não significa que seja a forma única e definitiva de ver o mundo, pois um
dos ensinamentos fundamentais do Buda é que as aparências do mundo externo
não são senão projeções da mente dos seres. Além disso, ao fazer uma oferenda
aos seres mais excelsos, temos que fazê-la da forma mais sublime. Assim, em se
tratando de uma oferenda mental, imaginamos o mundo como se fosse de
23
materiais e objetos preciosos e, desta forma, converte-se em uma oferenda muito
mais valiosa.
A YOGA DO GURU
24
INVOCAÇÃO
25
PRELIMINARES COMUNS
26
I – A PRECIOSA EXISTÊNCIA HUMANA
INTRODUÇÃO
AS OITO LIBERDADES
Por não experimentar nenhum dos oito estados favoráveis da existência, nosso
corpo humano é dotado de oito liberdades e dez atributos, e é mais precioso que
uma jóia dos desejos. Examinemos as circunstâncias que fazem com que seja tão
difícil conseguí-lo.
1- Os habitantes dos infernos experimentam as dores do frio e do calor sem
um momento de descanso.
2- Os espíritos famintos, atormentados pela sede e pela fome.
3- Os animais, afundados na estupidez e na confusão, são incapazes de
entendimento e de compreensão.
4- Os países nos quais o budismo se difundiu são escassos, enquanto
aqueles dos quais ainda não chegou são numerosíssimos. Os bárbaros
nascidos em terras distantes desconhecem o Dharma.
5- Os deuses anciãos do reino dos Desejos, do reino das Formas e do reino
Sem Formas, fascinados pelos prazeres sensoriais e pelo êxtase
contemplativo, não pensam no Dharma.
6- Os heréticos e os que têm uma aversão natural ao Dharma professam
crenças errôneas.
7- Durante as idades escuras, nas quais não aparece nenhum Buda, as
características das Três Jóias são reconhecidas e o mundo é um lugar
desolado.
8- Os mudos por terem, atrofiada a faculdade da linguagem, não são
receptivos ao Dharma.
Todos estes seres sofrem as conseqüências de seu karma e não têm a sorte de
praticar o Dharma. Carecem de capacidade e oportunidade. Nós, por não termos
nascido em nenhum destes oito estados desfavoráveis, possuímos oito tipos de
liberdade e uma condição física que nos permite praticar o Dharma. Contudo, para
27
que a prática seja bem pura, é necessário estar livre também das seguintes
condições desfavoráveis.
OS DEZ ATRIBUTOS
1- Ter obtido um precioso corpo humano, que é o contrário dos oito estados
desfavoráveis.
2- Ter nascido em um país que, em virtude da palavra do Dharma, é
considerado “central”, ou seja, um lugar onde a doutrina budista se difundiu.
3- Ter os cinco sentidos completos e poder compreender o que se ensina.
4- Não ter se envolvido em crenças errôneas e ter atravessado o portal do
ensinamento de Buda, devido ao qual não se realizam atividades
perniciosas.
5- Confiar nos Raros e Sublimes e ter fé.
28
Os cinco atributos derivados de outros
COMENTÁRIO
Todos os seres têm uma tendência natural a atuar de forma prejudicial. São
pouquíssimos os que praticam a virtude. E, dentre os virtuosos, são muito raros os
que são capazes de seguir um código moral que conduza à obtenção de um corpo
humano, a tal ponto que os seres dos reinos inferiores são tão numerosos quanto
os montículos de pó sobre a terra, enquanto que os homens e os deuses são
extremamente escassos. E ainda, dentre estes, os humanos que vivem no
Dharma são mais que uma mera possibilidade. São inúmeros os insetos que há
embaixo de uma laje de pedra, mas não são inumeráveis as pessoas de um país.
Delas, somente uma fração segue o caminho do Dharma. E mais ainda, aqueles
que o praticam de forma apropriada são raros como ver estrelas durante o dia.
Não encontraremos todas vezes um corpo humano precioso como o que temos
agora. Não o desperdicemos inutilmente! Se tivéssemos obtido um corpo animal,
os meios para chegarmos à iluminação estariam fora de nosso alcance. Além de
não saber recitar um único “mani” 2, acumularíamos o impulso de muitas causas
de renascimento nos reinos inferiores.
O grande valor do corpo humano é que, por meio dele, podemos alcançar o
perfeito estado de Buda. Contudo, estamos desperdiçando-o sem sentido. Com o
objetivo de conseguir bem-estar num futuro imediato, as pessoas mundanas
suportam todo tipo de dificuldades em seus negócios e empresas; por outro lado,
na tarefa que nos beneficiará durante muitas vidas, somos incapazes de mostrar
29
um pouco de coragem diante das dificuldades que surgem em nossa prática;
levamos uma vida dissipada, imprudente nos deixamos seduzir pelo mal 3.
Meditemos de vez em quando pensando: “a partir de hoje não farei outra coisa
que não seja me esforçar na prática do santo Dharma”.
“ Há dez tipos de pessoas para quem é difícil renascer como seres humanos:
Aqueles que não cultivam a raiz da virtude.
Aqueles que não acumulam méritos.
Aqueles que imitam o comportamento de amigos corruptos.
Aqueles que se acostumam a ter emoções conflitantes.
Aqueles que não temem os sofrimentos de vidas futuras.
Aqueles que vivem atormentados por problemas emocionais.
Aqueles que, por preguiça ou distração, permanecem sempre indolentes com
relação ao Dharma.
Aqueles que crêem na palavra de Buda, porém não a praticam.
Aqueles que adotam crenças errôneas.
Aqueles que aderem firmemente a crenças errôneas”
Aquele que, por compreender corretamente o valor do corpo humano, pensa que é
uma grande pessoa, que é um sábio, respeitável e de classe superior, mostra
desdém para com os demais. Deve abandonar esta atitude, É incorreto desprezar
até um inseto, já que todos os seres têm a essência Tathágata.
30
Diz-se que quem despreza um bodhisattva experimentará os sofrimentos dos
infernos durante muitos aeons. Evitemos fazê-lo mesmo que seja por brincadeira
ou por mera imaginação.
31
II - IMPERMANÊNCIA
Há pessoas mais velhas que nós, outras são mais jovens ou da mesma idade;
porém, recordemos que são muitos os que já morreram. Esse morreu, aquêle
outro nos deixou... A velhice vem seguida da morte; uma nunca existe sem a
outra.
32
Ser perseguido e molestado por um espírito maligno.
Tomar uma substância emética e vomitar.
Agir de forma violenta, atropeladamente.
Não ter moderação na atividade sexual.
Nem sequer o poder de Buda pode fazer retroceder uma vida consumida.
Sem controle mental, como uma pluma levada pelo vento, perambularemos sobre
o abismo aterrador do estado intermediário, errando, sozinho e sem lugar fixo pelo
mundo do além.
Nossas ações, negativas e positivas, nos seguirão e não haverá formas de nos
desfazermos do mal que tenhamos cometido. O santo Dharma e a virtude podem
ajudar; porém, lembremos, se não praticamos com diligência agora, ninguém
poderá nos prestar ajuda depois.
Não podemos ignorá-lo; devemos fazer com que se converta em parte de nós.
33
Temos que nos acostumar ao Dharma até que passe a fazer parte de nossa
existência, e conseguir uma estabilidade que nos permita morrer felizes e que faça
com que os outros nos venerem, considerando-nos perfeitos praticantes.
Com freqüência se ouve dizer: “Ó morreu uma pessoa! Lama ajude-a! No entanto,
não somos conscientes de que breve nos acontecerá o mesmo. Sabemos que um
dia morreremos, mas, pensamos que isso ocorrerá dentro de muito tempo.
Pensemos assim: neste momento, a morte pode ter chegado à minha porta. Não
há tampo para pensar em comida, dinheiro, ou vestido, na forma e em coisas
parecidas. Há que se dedicar ao Dharma de corpo, palavra e pensamento, sem
perda de tempo.
34
III – O KARMA: OS EFEITOS CAUSADOS PELAS AÇÕES
Porém, de uma maneira geral, pode-se resumir assim: uma ação causal virtuosa
tem como resultado a felicidade; uma ação causal não virtuosa tem como
resultado o sofrimento.
Devido a tudo isso, não sabemos qual é a origem da existência cíclica, qual é sua
natureza, que ações resultam em benefício nem quais resultam em prejuízo.
Se estes três venenos emocionais não estão presentes, não se acumula karma; e
se não se cria karma, as ações não têm conseqüências. Portanto, temos que fazer
o possível para evitar os três venenos, que são a raiz de nosso vagar pelo ciclo
das existências.
35
existência cíclica não terá fim. O nécio que, por meditar com a mente em branco,
afirma te realizado a essência da mente e não ter necessidade e vigiar o resultado
de suas ações é um grande usurpador da doutrina.
As três primeiras são ações físicas, as quatro seguintes são verbais e as três
últimas, mentais.
36
3- Manter a disciplina ética em público ou privado.
4- Dizer a verdade.
5- Reconciliar aqueles que estão em contenda.
6- Falar com delicadeza.
7- Falar de coisas proveitosas.
8- Alegrar-se com a boa sorte dos outros
9- Pensar unicamente no bem estar dos outros.
10- Manter a confiança na palavra de Buda, sem criticar outras teorias e
religiões.
COMENTÁRIO
Podemos passar o tempo realizando diversas ações neutras, como andar, mover-
nos, dormir ou repousar; ações que não são virtuosas nem prejudiciais e que não
criam um karma que amadureça em experiências boas ou más. Ainda assim, isto
é desperdiçar inutilmente a vida humana. Temos que permanecer atentos,
conscientes, dedicando-nos exclusivamente à virtude, em vez de perder o tempo
na diversão e na preguiça.
37
Uma vez que deixemos de desejar a existência condicionada, temos de aprender
a abandonar uma causa: a conduta negativa. Pratiquemos estas oito ações e
outros modos de virtudes criadoras de mérito – tais como os votos, os
compromissos sagrados e demais virtudes que conduzem à libertação –
independente de estarmos sós ou acompanhados, e sem enganar a nós mesmos.
Matar para fazer oferendas aos Raros e Supremos, ou insultar e humilhar uma
pessoa de caráter difícil para seu próprio bem são ações feitas com boa
motivação, porém estão mal aplicadas.
Erigir templos por desejo de fama; estudar por desejo de competição; ou dar uma
aparência respeitável por medo do ridículo, são ações bem aplicadas, porém feitas
com má motivação.
38
Aquele que não gerar intenções e atos não experimentará nenhuma
conseqüência; o que for cometido pelos demais nunca poderá afetá-lo. Assim, se
uma pessoa é capaz de discriminar acerca das causas e do resultado das ações,
de acordo com a doutrina de Buda, de forma alguma ela se verá lançada aos três
reinos inferiores, por mais perversos que sejam os demais.
39
IV – OS DEFEITOS DA EXISTÊNCIA CÍCLICA
OS INFERNOS
Dos oito infernos, o Avichi é onde o sofrimento chega a seu ponto Maximo. Diz-se
que nem sequer o Buda se atreve a falar dele, pois, quando o faz, os bodhisattvas
compassivos vomitam sangue e ficam à beira da morte.
OS ESPÍRITOS FAMINTOS
Aqueles que renascem como espíritos famintos nunca encontram comida nem
bebida. Sentem aumentar fome e sede e procuram sem descanso, mas não
conseguem encontrar nem sequer pouco do que desejam. Não possuem roupas,
torrando no verão e congelando no inverno. Sentem as gotas de chuva como se
fossem faíscas ardentes de fogo. Vêem a água como se fosse sangue e pus. As
articulações de seus ossos deslocam e dela sai fogo. Consideram-se inimigos uns
dos outros e brigam continuamente. Sua vida pode durar quinze mil anos.
OS ANIMAIS
40
De outro lado, os animai domésticos são utilizados para os trabalho do campo, ou
sacrificados por sua carne ou por sua pele; e, além de seu estado de
obscurecimento e estupidez, sofrem frio, calor e dores parecidas com aquelas que
se padecem nos infernos e no reino dos espíritos famintos.
OS DEUSES
OS SEMIDEUSES
OS SERES HUMANOS
Uma vez que o nascimento vem acompanhado de intensa dor, o fato de nascer é
sofrimento.
41
O nascimento implica encontrar-se em uma má situação, porque joga a semente
que dará lugar ao crescimento e desenvolvimento das emoções conflitantes.
Além disso, os homens fazem grandes esforços para conseguir alimento, dinheiro
ou fama. Sem que lhes importe a moralidade, o sofrimento ou a má reputação; no
entanto, não conseguem o que desejam. Este é o sofrimento de não encontrar o
que se busca.
O temor de que surjam inimigos; o temor de que apareçam ladrões; o temor de ser
atacado com violência; ir parar debaixo da ponte; o cansaço e a fadiga pelo
excesso de trabalho; o temor de não ter êxito; o temor de não superar os
adversários: este é o sofrimento da preocupação em conservar o que tem.
Em resumo, o sofrimento dos três reinos inferiores, junto com as doenças as más
línguas e demais nos reinos divino e humano, constituem o sofrimento da dor.
42
três classes de sofrimento. Às vezes a vida é feliz e agradável, se desfruta de um
lugar, de boa saúde, de estabilidade econômica, de bons amigos e empregados.
Mas tudo isso não é mais que sofrimento disfarçado; é como dar comida a um
doente que tem náuseas; ou como uma festa oferecida pelo verdugo ao prisioneiro
que vai ser executado.
CONCLUSÃO:
Se não assimilarmos estas quatro instruções com certa firmeza, todas as práticas
de meditação, propriamente ditas, não faremos senão que fortalecer os oito
valores mundanos. A raiz de todo o Dharma é renunciar a esta vida. Mas toda
nossa pratica até o presente não tem eliminado o apego à vida. Nossa mente não
se tem separado do desejo; não temos abandonado o apego a nossos parentes,
amigos, companheiros e empregados; nossa atração pela comida, pela roupa e a
maledicência não tem diminuído no menor grau. Não temos captado o significado
essencial do Dharma; nossa pratica e nossa existência vai por um caminho de
equívocos.
O Vitorioso Drikung tem dito que as preliminares são mais profundas que a prática
principal, tem um resultado mais satisfatório inculcar um pouco em nosso ser
estas quatro preliminares para completar as sadhanas dos quatro tantras de uso
corrente em nossos dias. Praticar o Dharma, permitindo que nosso ser permaneça
na vulgaridade é desperdiçar nossa vida enganando a nós mesmos e aos demais.
43
montanha. Refletindo nas misérias da existência cíclica e na incerteza da hora da
morte, devemos reduzir nossos projetos, sejam quais sejam.
Diz-se que a fé de uma pessoa que tenha entrado no santo Dharma diminui
quando se tropeça nos obstáculos de Mara. Os sinais de estar sobre a influencia
de Mara são: examinar os defeitos do guru ou amigo espiritual; encontrar sérios
defeitos nos praticantes do Dharma em geral; fazer amizade com pessoas
ordinárias; aflorar a diligencia na pratica; abandonar-se aos prazeres sensoriais e
não ter devoção pelos Raros e Supremos.
Quando isto acontece, tem-se que pensar nas qualidades do guru e nos Raros e
Supremos; considerar todo budista com pureza de pensamento - perceber defeitos
nos demais é sinal de que nossos próprios atos são impuros: é, como ver, nossas
caras sujas, refletidas no espelho -; não devemos nos envolver com gente vulgar
nem escutar o que dizem e recordar a natureza insatisfatória dos prazeres
mundanos.
Alguns parecem ter muita fé quando estão em companhia dos Lamas, mas a
esquecem quando não estão com eles. Em certas circunstancias têem fé; logo a
perdem. Quando obtêm os ensinamentos e as coisas que desejam, ou quando se
vêem ameaçados pela enfermidade e problemas, tem muita fé; depois, deixam de
tê-la. Não sentem uma confiança fervorosa num guru-raiz, num profundo
ensinamento, senão que amiúdo, deixam uns em favor de outros.
44
PRELIMINARES EXTRAORDINÁRIAS
45
I - O REFÚGIO E O ESPIRITO DE ILUMINAÇÃO
VISUALIZAÇÃO
O lugar é uma terra pura de vasta extensão, de solo fértil e produtivo. Em meio a
verdes prados cheios de flores, um lago cujas águas tem oito atributos 5. Por todo
lugar se ouve os agradáveis trinados de múltiplos pássaros celestiais. No centro
do lago se ergue a árvore dos desejos, cujos galhos se inclinam com o peso de
suas folhas, seus frutos, suas flores, feitos de pedras preciosas. De seu tronco
que tem uma só raiz, saem cinco galhos, um ao meio e os outros em quatro
direções, formando um guarda-sol.
Sobre sua cabeça, ordenado um acima do outro estão: Pema Ninje Wangpo,
Mipam Chodrub Gyamtso, DUDUL DORJE, Chokyi Jungne, JANCHUB DORJE,
Chokyi Dondrub, YESHE DORJE, Yeshe Ningpo, CHOYING DORJE, Chokyi
Wangchug, WANGCHUG DORJE, Konchog Yenlag, MIKYO DORJE, Sangye
Nenpa, CHODRAG GYAMTSO, Palijor Dondrub, Jampal Sangpo, TONGWA
DONDEN, Rigpe Raltri, DESHIN SHEPA, Kacho Wangpo, ROLPE DORJE,
Yungton Dorje Pal, RANGJUNG DORJE, Orgyenpa Rinchen Pal, DRUBCHEN
PAKSHI, Pomtrag Sonam Dorje, Drogon Rechen Sangye Drag, DUSUM
KHYEMPA, Namme Dagpo, Jetsun Mila. Marpa Lotsa, Maitripa, Shawari,
Nagarjuna, Saraha, Ratnamati y Vajradhara 7.
46
No galho da direita (a que fica à tua esquerda), sobre um trono de leões com uma
lótus e um disco lunar, está nosso mestre Shakyamuni, rodeado pelos mil Budas
da era afortunada e por todos os demais Budas das dez direções e dos três
tempos.
No galho da esquerda (ou seja, o que está à direita) estão os Senhores das Três
Famílias e o resto dos Oito Filhos Prediletos, os bodhtsattvas das eras
afortunadas, o Par Excelente, Ananda, os Dezesseis Anciãos 10, e o resto da
Sangha do Mahayana e do Hinayana, com um sem números de bodhisattvas
shrávakas e pratyekabuddhas.
Abaixo, ante eles, te encontras, com teu pai à direita e tua mãe à esquerda,
principais dentre todos os seres que te rodeiam impregnando os confins do
universo. Em especial te acompanham teus inimigos odiosos, forças nocivas,
seres vingativos, credores kármicos desde o tempo sem princípio e todos os
fantasmas, demônios e espíritos malignos agrupados em uma grande multidão.
Tomando-te como líder, todos eles expressam física, mental e verbalmente sua
veneração, juntando suas mãos, adorando com devoção e recitando num
murmúrio a oração de refúgio. Pensando em seu significado e sem distrair-te com
outras coisas, repete as palavras de refúgio cem, mil ou mais vezes 11.
Por fim, cria o espírito da iluminação. Logo as divindades do refúgio, com seus
assentos, os tronos e tudo o mais, se dissolvem em luz e fundem em ti. Imagina
que seu Corpo, sua Fala e sua Mente se tornam inseparáveis de teu corpo, fala e
mente, e deixa repousar a mente em si mesma.
Dedica o mérito.
As fontes de refúgio
47
Em circunstâncias mundanas, quando sentimos medo diante da violência ou
perigo, buscamos um refúgio seguro ou a proteção de alguém superior.
Amedrontados por inúmeros temores que nos assaltam ao longo desta vida, em
vidas futuras e no estado intermediário, nos fundimos irremediavelmente ao mar
da aflição da existência cíclica; mas nada pode nos proporcionar refúgio: nem
nossos pais, nem amigos, nem parentes, nem deuses, nem fadas, nem tão pouco
magos. Tão menos somos capazes de evitá-los por nossos próprios meios. Se
não encontrarmos refúgio, estaremos perdidos.
Nada pode resgatar-nos do ciclo da existência, a exceção das Três Jóias. Para
poder salvar os demais é necessário estar a salvo em si mesmo.
Sendo que o Buddha é quem mostra o que se deve aceitar e o que se deve
afastar, temos que tomar o Buddha por mestre. Uma vez que seus ensinamentos
são o material para a prática, temos que tomar o Dharma como caminho. Devido a
que o caminho não nos é familiar, necessitamos seguir os conselhos e o contínuo
exemplo dos seres excelsos, entorno do que se tem que praticar. Por ele temos
que tomar a Sangha como companheiros.
48
No sentido provisório, certos objetos de referência podem servir para gerar fé. Nos
sutras se fala do Buddha situado à frente. Isto significa uma imagem ou uma
estupa. Por dedução, podemos também meditar que os textos dos sutras e dos
tantras, por um lado, e a comunidade dos indivíduos com votos monásticos, por
outro, são, verdadeiramente, o Dharma e a Sangha, e desse modo, buscar refúgio
com fé e reverência.
Diz-se nas escrituras que a forma correta de encomendar-se ao refúgio tem quatro
características:
• Compreender as qualidades dos Raros e Supremos tal e como se explicam
nos sutras
• Apreciar a superioridade do Buda, o Dharma e a Sangha sobre os mestres
não budistas, os caminhos errôneos e os seguidores de doutrinas heréticas.
• Comprometer-se sinceramente a buscar refugio baseando-se nesta
apreciação.
• Não buscar mais refúgio além das Três Jóias, ainda que a custa da própria
vida.
Quando maduram nesta vida os efeitos inevitáveis de nosso mal karma, nos
parece como se a compaixão dos Raros e Supremos estivesse se esvaído. Mas,
se temos fé e confiança, certamente nos protegerá em vidas futuras. Se, quando
sucede uma pequena coisa desagradável, dizemos que, os Raros e Supremos
não têem compaixão ou colocamos nossa esperanças na adivinhação, na magia
ou no tratamento médico, isto indica que nossa atitude é de indecisão. Se tem
ocasiões em que a compaixão dos Raros e dos Supremos não se manifesta, é
nossa culpa por não fazermos uso da oração, e não porque os Raros e Supremos
carecem de graça.
Medita com fé, recordando as qualidades das três Jóias em todo momento, e
fortalece-te na oração. Não acumules más ações falando sem sentindo ou
criticando os demais. Rendes culto e veneração aos símbolos do Corpo, da Fala e
da Mente de Buda 16, assim como aqueles que usam hábitos amarelos,
considerando que são realmente os Raros e Supremos. Restaura velhas imagens,
textos e estupas, e construa outros novos. Não os deposite ao chão nem em
lugares onde se possa tropeçar. Nem se te ocorra trocar uma imagem por comida
49
ou usá-la como prenda ou hipoteca. É inadmissível inclusive passar por cima de
um caco de escultura de divindades ou de estupa quebradas ou de uma só letra
impressa de qualquer oração sagrada.
Recordando sua compaixão, oriente aos outros a buscar refúgio e fale das
grandes qualidades das três Jóias.
Se se faz isto corretamente, a maior parte do caminho gradual dos sutras e dos
mantras contidos na prática é buscar refúgio. Aqueles que não fazem com que a
prática do refúgio passe a ser minimamente parte de sua vida, por maior que seja
sua veemência ao falar de vacuidade não fazem mais que tomar um caminho falso
que conduz a vida em um grande abismo.
RESULTADOS
50
Desta forma temos tratado as particularidades da prática do refúgio e os grandes
benefícios que a acompanham.
O ESPIRITO DA ILUMINAÇÃO
51
Assim, a princípio, o que determina a presença ou ausência do espírito da
iluminação é a adoção de seu aspecto relativo, faz falta um método para criá-lo
em primeiro lugar. O espírito da iluminação relativo tem um aspecto de inspiração
e outro de aplicação; necessitamos de métodos específicos para obtê-los.
Ao fazer a prática, antes de terminar o refúgio se recita três vezes a oração curta
de refúgio. Logo, diante desta sublime assembléia pense: assim como os
anteriores Budhas e seus filhos 19 criaram o espírito da iluminação, depois, se
exercitaram na aplicação das práticas do espírito dos bodhisattivas, também eu,
para o bem de todos os seres: meus pais engendrarei o espírito da iluminação e
me exercitarei gradualmente nas seis virtudes transcendentes.
52
Se, num arrebatamento de vaidade ou de ira, nos enfurecemos com alguém, se
tratando de uma pessoa ou de muitas, afastando-as mentalmente – como quando,
por alguma razão de discórdia pessoal, decidimos não ajudar a alguém ainda que
se apresente à oportunidade -, isto constitui a transgressão de abandonar
mentalmente todos os seres.
Pensar: “uma pessoa como eu não pode fazer nada para ajudar a si mesmo ou
aos demais; vale mais que siga sendo uma pessoa mundana ou vulgar”, ou
pensar: “ conseguir o perfeito estado de Budha é tão difícil que dá no mesmo criar
ou não criar o espírito da iluminação”, ou bem, considerar que um é incapaz de
beneficiar aos demais e, em conseqüência, adotar uma atitude de shrávaka ou de
prayekabuddha, interessada no benefício próprio; ou pensar que, no final e ao
cabo, o espírito da iluminação não é muito proveitoso e, como conseqüência,
relaxar o cuidado do voto. Tudo isto são atitudes inadequadas.
Se estas duas faltas não se corrigirem antes das três horas, se rompe o voto.
Mantém uma atenção constante para que não possam aparecer; mas em caso de
que se originem involuntariamente, a confissão imediata reparará o voto.
São quatro as ações negativas que são a causa de que se esqueça o espírito de
iluminação em futuras reencarnações. Tem que evitá-las e cultivar as quatro
ações benéficas, que não se pode esquecer.
1- A primeira ação negativa é mentir conscientemente para enganar a um
lama ou a alguém digno de veneração. Não importa que se consiga
enganar ou não, nem que seja muitas ou poucas palavras; é incorreto dizer
uma pequena mentira, ainda que seja disfarçada.
2- Arrepender-se das más ações é necessário, mas fazer com que outro
53
pessoas vulgares. Diz-se que a partir do pressuposto que todas as pessoas
tem a essência búdica, não diferem dos Budhas enquanto sejam o objeto
que nos permite reunir as acumulações e purificar as ofuscações.
4- É incorreto atormentar, enganar ou insultar aos outros, física, verbal ou
mentalmente, em benefício próprio, ainda que seja somente para
escamotear o peso das negociações. Temos de querer proporcionar
felicidade e bem estar a todo os seres, nesta vida e nas próximas, e fazer
do bem estar alheio nossa responsabilidade. Inclusive ao falar, deveríamos
fazê-lo com franqueza, como um pai a seu filho.
Se deseja uma boa colheita não é suficiente uma boa semente: tem que
primeiro arar a terra. O mero desejo de chegar à iluminação não basta é
necessário praticar a conduta do bodhisattva na medida e de maneira
apropriada.
54
há que um filho de Budha não possa aprender”. Portanto, pratica a virtude sem
preferências e contempla com alegria o que os demais realizaram.
Uma vez iniciado o caminho do Mahayana tem que tomar como prática principal
o que chamamos de quatro incomensuráveis, a pura essência do Dharma.
Consistem em considerar aos inumeráveis seres que empregam os confins do
espaço, sem distinção entre amigos, inimigos ou indiferentes, com as seguintes
atitudes:
55
Preocupar-se só do bem estar pessoal sem pensar no bem dos demais é
equivocar-se na base. Tem que se ter em mente que todos somos iguais e cultivar
a atitude de nos colocarmos no lugar dos demais. Isto é extremamente importante.
Para fazer isto proveitosamente, não te preocupes por ti. Haverás de pensar e agir
somente para o bem do próximo, disposto inclusive a suportar intenso sofrimento
para proporcionar felicidade aos demais.
As poucas obras virtuosas que fazemos no presente são realizadas para nosso
próprio proveito, como um assunto pessoal, e consideramos que o que os outros
fazem é assunto deles. Semelhante atitude não nos leva a lugar algum. Temos de
ativar-nos, andar, dormir, fazer e, como não, praticar o Dharma, com a única
intenção de ajudar aos demais.
Se podes desfrutar de bem estar, utiliza tua vida, dinheiro e influência em bem da
virtude. Ao invés de ficar indolente, aplica teu corpo e tua palavra à virtude e
formula bons desejos para o bem estar de todos os seres.
Em resumo, não desejas que nenhum de teus atos fique limitado a interesses
pessoais, pois toda a pratica budista deve estar embasada a combater o egoísmo.
56
Que o mar do sofrimento se resseque.
Inclusive no momento de tua morte, quando não puderes praticar nenhuma outra
coisa, dedica-te a enviar bons pensamentos enquanto possas respirar.
Porque, tanto os amigos como os inimigos como os seres indiferentes são a base
para teu aprimoramento espiritual e te ajudam a purificar o mal karma, as
emoções e a ignorância, considere quanto amáveis são.
Não digas nem faças nada com a esperança de que os demais pensem que não
és egoísta. Toda tua conduta deve ser limpa e pura, e estar em consonância com
o código do Vinaya.
Não comentes os defeitos dos demais. Hás de saber que, se vês defeitos, é
porque tua própria percepção é impura. Não mostres aos demais teus defeitos;
não uses palavras rudes; não uses mantras violentos contra os espíritos.
Assim que é pelo teu próprio bem que praticas o Dharma, não alardeies diante dos
outros, por maiores que sejam tuas austeridades.
Se não suportas o menor prejuízo nem ofereces a menor ajuda aos outros, não
tens compreendido o significado de criar o espírito de iluminação. Deveis lançar-te
com total determinação na pratica de entremear com os demais 22, pois este é um
método hábil, especialmente poderoso.
57
CONCLUSÃO
Aqueles que pensam que é suficiente um só aspecto, estão presos a uma vaga
experiência meditativa incapaz por si só, de superar as circunstâncias adversas.
Isto denota que não estudaram a palavra de Budha e as escrituras dos homens
santos.
58
II - O MANTRA DAS SEIS SILABAS QUE PURIFICA AS
MÁS AÇÕES E AS VENDAS MENTAIS
INTRODUÇAO
Por sua vez a versão de Vajrasattva existe em duas formas: cem silabas, que
constituem a família das divindades pacificas, por ser uma compilação dos
mantras nominais da ilimitada família das divindades transmundanas; e cem
silabas do Heruka oriundo, mencionados no Tantra Abihidhnottara, entre outros.
Ainda nestas diversas versões o numero de silabas podem ser realmente cem, ou
não, todas elas constituem o mesmo tipo de mantra, conhecido como “As cem
silabas”. As fases de visualização que aqui se descrevem são as correspondentes
as cem silabas de Vajrasattva em seu aspecto pacifico. Pode acontecer de duas
maneiras: segundo o Tantra Yoga, no qual se visualiza ao herói solitário, com a
aparência de rei universal; o segundo o Tantra Anuttara, no qual se o visualiza
abraçando a sua esposa. Nós aplicaremos o sistema de meditação Tantra Yoga.
VISUALIZAÇÃO
Olhando teu corpo comum visualiza-se sobre tua cabeça uma silaba PAN, que
se converte em um Lótus; em cima um A, que se converte em um disco lunar.
Em cima tem um HUNG, que se converte em um vagira branco de cinco pontas,
marcados com HUNG em seu centro. O Vagira irradia luz que faz oferendas
aos seres excelsos e realiza o bem dos seres; logo, reabsorve essa luz e se
transforma em Vajrasattva, indiferentemente de teu guru raiz.
Seu corpo é branco tem um rosto e dois braços. Com a mão direita mantém um
Vagira de cinco pontas na altura do coração. Com a costa da mão esquerda
apoiada em sua coxa mantém uma campainha de prata.
59
azulado corpete. Seu corpo ostenta as marcas e sinais de perfeição e irradia uma
luz infinita aparecendo de forma clara independente de sustentação como o
reflexo da lua na água.
Tem as três silabas nos três lugares 24, em seu coração, sobre um lótus e uma
lua, um HUNG branca rodeado pelo mantra das cem silabas, como se fosse um
colar branco. O mantra tem suas letras olhando para fora e esta preso à direita
começando desde a frente, como uma serpente enrolada. Dele saem raios de luz
que invocam aos Budas e aos Bodhisattvas das dez direções e dos três tempos 25.
Imagina que estes se fundem nele, convertendo-se assim na essência de todos os
Raros e Supremos; assim, roga que purifica teu mau karma e tuas vendas
emocionais e cognitivas.
Imagina que teu corpo fique puro pleno de elixir de gnoses, e que este se arraste
até tocar o pé de Vajrasattva.
60
BONS SIGNOS DA PRÁTICA.
COMENTARIO
Em resumo, além do que exemplificamos, sem notá-lo nem ter consciência dele,
uma montanha de más ações acumuladas ao longo da vida sem principio, a
maioria de nossas atuais atividades físicas, verbais e mentais estão impulsionadas
exclusivamente pelos três venenos, que seguimos acumulando ainda mais karma
negativo, e aumentando nossa ofuscação.
Quem comete tais ações nesta vida se vê criticado e acusado por homens e
deuses e se encontra com multidões de infortúnios. Suas divindades protetoras se
voltam perigosas, dando oportunidade de ações a demônios e forças obstruidoras
passa engrossar as classes vís da humanidade, e como conseqüência se vê
envolto na sombra do vicio. Inclusive em sonhos experimenta todo tipo de má
61
sorte. Se sente inquieto em seu interior. Sofre terríveis acidentes e severas
enfermidades. Ao morrer se sente angustiado pelo medo de perder a vida, e no
estado intermediário experimenta alucinações pavorosas.
É um erro crer que é valido atuar de forma imoral porque parece indiscutível que
repercuta em beneficio próprio. O mesmo cabe dizer no caso de querer dominar
aos inimigos ou proteger os amigos por vantagens de dinheiro, posições ou
renome; para conseguir alimento, ou vestimenta e etc. Seja lá o que for que
consigamos neste sentido, na hora da morte nos será de menos ajuda que um
grão de sézamo. Não podemos levar se quer um pedaço de pão ou um pedaço de
tecido, ou menos ainda a fama, a riqueza, os filhos, o cônjuge e etc. Quando
perambulamos sós pelos reinos inferiores não podemos passar aos outros o
sofrimento resultante de nossas más ações. Teremos que suportá-los, nós
mesmos.
62
Dizer ”eu cometi esta falta” é admitir o que se tem feito de mal. Dizer com
sentimento de intensa aflição e arrependimento é confessar-se. A essência da
confissão é sentir grande admiração e reverencia por aqueles que carecem de tais
faltas e, com sentimento de vergonha e em razão declará-las abertamente,
rogando de todo coração deste modo: “tende compaixão de mim e purifica meu
mal karma”
Para que a confissão seja completa deve estar acompanhada dos quatro poderes:
O poder da repulsa que é sentir o intenso arrependimento pelas más ações
cometidas no passado como se tivesse ingerido um veneno.
O poder de aplicar todo tipo de remedos isto é, realizar praticas virtuosas – como
as seis vias do remédio – orientadas a purificar o mal karma.
Se não se sente remorso pelo que se tem feito, a mera representação do ato de
confissão não purificara o mal karma.
63
divindades, uma vez que se haja entrado no Mantrayana; e em especial, oferecer
ao guru as cinco coisas que o agradem 29.
IV – recitar os sutras e os tantras ensinados por Buda como são os sutras de
Prajñaparamita ou o Mahaparinirvana
V – pronunciar as cem silabas do tathagata e os profundos mantras de Virochana,
Akshobhya, etc.
VI – meditar no significado da existência do ego com plena confiança na essência
do Tathagata.Para ele tem que cultivar a profunda vacuidade durante as sessões
de pratica, recitando o mantra sem conceitos de triplicidade – isto é, as
ofuscações e o mal karma, que é o que deve ser purificado; o mantra da divindade
que é o que purifica; e o mesmo, que é quem realiza a purificação-, e entre
sessões meditar na irrealidade das coisas como se tudo fosse uma ilusão.
Por outra parte, as más ações e as ofuscações acumuladas nesta vida, por serem
tão recentes contaminam grandemente as experiências da meditação. Em
especial, as transgressões dos três votos -, sobre tudo, as das promessas ao
corpo, a fala e a mente do guru 30 – são faltas muito graves. Romper outros
compromissos sagrados do Mantrayana, trocar imagens sagradas e objetos
religiosos por comida, etc, são ações que atrapalham também as experiências
previamente obtidas e impedem a aparição de outras novas.
Para purificar tudo isto, as cem silabas de Vajrasattva são o mais recomendável
de todos os remédios.
É por isso que se da uma extensa explicação da meditação e recitação das cem
silabas. Por outra parte, seus inumeráveis benefícios, tanto em sentido imediato
como ultimo se proclamam unanimemente nos tantras das escolas antigas e
novas.
64
gnoses da entidade onipresente,
não tem tanto mérito
como um só mantra das cem silabas.
diz-se não haver mérito mais excelente
que a pronuncia das cem silabas,
ornamentadas, como estão, por todos os budas,
numerosos como os montes de pó”
e depois:
Em geral se, se crê na lei do karma é impossível não lamentar as más ações;
então a confissão será genuína.Tendo feito purificação desta forma, é quase
impossível que não se originem experiências e realizações.Sem engano, para
aqueles que realizam as recitações e as praticas monásticas, com afetação e
65
barulho, mas sem a autenticidade da convicção, do arrependimento e das
demais qualidades, as experiências e a realizações serão tão inexistentes como
os pelos de uma tartaruga.
66
III - A OFERENDA DA MANDALA QUE COMPLETA A
DUAS ACUMULAÇÕES
MATERIAIS
A MANDALA DA REALIZAÇÃO
67
A MANDALA DA OFERENDA
Mantenha a mandala com a mão esquerda. Colha flores com a mão direita e
limpa a mandala com o antebraço, dando três voltas pela direita recitando, ao
mesmo tempo o mantra das cem sílabas. Imagina que todas as enfermidades e
infortúnios, as más ações, as ofuscações e todas as impurezas do universo e de
seus habitantes, de ti mesmo e dos demais, cuja origem comum é o conceito
dualista da existência, sejam completamente eliminados.
68
mares, o céu e os continentes de cada uma das direções refletem as cores
respectivas.
Em volta tem sete montanhas de ouro quadradas, a altura de cada uma das
quais é a metade da anterior (começando pela mais próxima ao monte Meru).
Chamam Yugandara, Ishadara, Kadiraka, Sudarshana. Ashvakama, Vinataka e
Nimindara. Nos espaços intermediário tem lagos de águas saltarinas dotadas
com os oito atributos, cheios de jóias dos desejos e outros muitos tesouros dos
nagas.
O bosque da arvores dos desejos, das quais cai como chuva tudo o que se
deseja.
A colheita que necessita o cultivo, que satisfaz a fome e é o sete preciosos
objetos da realeza 36 .
Também tem a fascinante vasilha do grande tesouro que contem os sete tipos
de jóias safiras e etc. em quantidades inesgotáveis.
A donzela branca do encanto, com suas mãos cerradas apoiadas nas cadeiras.
69
A donzela verde de dança bailando
No céu a nordeste, brilha o sol com intensa luz, qual disco de cristal e fogo. Ao
sudoeste a lua refrescante como um disco de cristal e água.
Por cima de tudo isso, nuvens preciosas do céu, estão por ordem ascendente, o
Céu Sem Luta, o Tushita e as demais moradas dos deuses com suas infinitas
riquezas.
Por cima, por baixo e nos espaços intermediários tem os oito símbolos
auspiciosos; o precioso parasol, o pé dourado, o jarro, o lótus, o caracol branco
com espiral à direita, o nudo da eternidade, o estandarte da vitória e da roda.
Tem diversos tipos de remédios que curam as enfermidades, como são: os seis
medicamentos excelentes; substancias que prolongam a vida e a saúde: um
excelente jarro de barro com bebida e outros elixires especiais de longevidade.
70
Tem os cinco objetos agradáveis aos sentidos: formas, sons, odores, sabores e
objetos do tato, assim como multidão de deuses e deusas serventes.
Milhões de mundos como é formado pelo monte Meru e quatro continentes, que
constituem um trilocosmo. Faça oferendas contínuas ao guru e aos Raros e
Sublimes de inumeráveis universos, como este repleto de nuvens de oferendas
de Samantabhadra 39, assim como do corpo, as possessões, os pais, os
familiares e toda fonte de virtude, tuas e de todos os seres.
Depois reza para que não haja obstáculo no caminho da iluminação e para que
possamos chegar à realização de Mahamudra nesta mesma vida.
1- Monte Meru
2- Videha
3- Dsambudvipa
4- Godaniya
5- Utarakura
6- Sol
7- Lua
71
A MANDALA DE TRINTA E SETE ELEMENTOS
72
BONS SIGNOS DA PRATICA
COMENTARIO
AS ACUMULAÇÕES
73
libertação condutores ao estado búdico. Se além, se realizam vendo a completa
pureza do sujeito, objeto e ação, constituem, acumulação sem mancha, o
verdadeiro meio para obter a iluminação.
Pensa em como farás oferenda de teu corpo e de teus bens quando, no futuro,
possuíres o reino de um monarca universal.
- Proteção diante do medo. É dizer, curar aos enfermos, proteger aos maus
espíritos, advertir aos demais diante dos caminhos da perdição, acompanhar-
lhes em momentos de perigo, eliminar obstáculos de sua prática e de sua
conduta moral, oferecer proteção diante dos castigos ou sentenças, diante de
inimigos, ladrões, animais selvagens, danos produzidos por elementos, etc.
Pratica sinceramente este tipo de generosidade tanto quanto possas.
Depois reza para que possas chegar a proteger aos demais inclusive de
sofrimentos dos reinos inferiores.
Se não tens esta aptidão, recita em voz alta os sutras e mantras pronunciados
por Buda, imaginando que ensinas o Dharma a homens e a seres não humanos
74
- Trabalhar em benefício dos seres, engendrando o espírito da iluminação e
depois, fazendo o possível para ajudar aos demais segundo nossas
capacidades. Se não podes ajudar, tem que aspirar vigorosamente o poder fazê-
lo. O mero fato de estar livre de faltas não e suficiente.
MEDITAÇÃO:
- Permanecer feliz, na condição presente, com perfeito domínio de corpo e
mente.
- Aquisição de certos poderes, como são as faculdades supranormais 42, a
capacidade de metamorfosear-se a vontade e etc.
- Fazer o bem aos seres mediante o poder da absorção contemplativa.
Os três aspectos dependem necessariamente de um estado de serenidade
impecável. O estado de serenidade é à base de todas as boas qualidades; sem
estar bem enraizado nele não há forma de avançar. Para alcançar tal resultado
se necessita solidão mental 43, e esta se consegue mediante a solidão física. A
solidão física é possível quando não se tem objetivos nem pretensões para o
qual é necessário minimizar os desejos e contentar-se com a pobreza no que se
refere a alimentos, roupas e casa.
75
SABEDORIA
- Conhecimento da verdade absoluta, devido à realização da vacuidade ou
estado natural.
- Conhecimento da verdade relativa, devido à perfeita compreensão dos vínculos
da interdependência.
- Saber ajudar aos seres mediante os quatro modos de reunir discípulos 44.
AS SETE RAMAS
Diz-se que com uma só prostração se obtém dez benefícios: boa compleição,
beleza, credibilidade de palavra, autoridade sobre subordinados, estima dos
homens e deuses, companhia de homens santos, grandes celebridades, riqueza,
divindade e liberação.
Também esta escrito que havendo uma só prostração com intensa devoção se
obterão tantos impérios de monarca universal como partículas de pó caem
embaixo das cinco extremidades estendidas no chão, desde a superfície da terra
até a majestosa base dourada.
76
diligencia que não levam a pô-lo em pratica. Deixamos os símbolos do Corpo, a
Fala e a Mente de Buda cobertos de pó. Alguns desconsiderados os deixam
embaixo de suas roupas farrapentas. Abandonamos descuidadosamente nossos
altares e recipientes de oferendas, enquanto que dedicamos desnecessária
atenção a admirarmos ou a embelezar nosso corpo. Não oferecemos nem uma
flor aos Raros e Sublimes com sentimento de compaixão e vacuidade.
Diz-se que quem não tem recitado nunca as sete vertentes não possui mérito
algum. Assim lemos: “ Como se adquire mérito? Para criar mérito tem que reunir
as acumulações.
Nunca se tem mencionado nos sutras nem em tantras uma formula mais
profunda para efetuar as acumulações que as sete ramas. Cada um das ramas
tem mais mérito que a precedente. As oferendas têem mais mérito que as
prostrações: confessar as, mas ações mais que fazer oferendas; alegrar-se pela
virtude mais que a confissão, etc. Qualquer que seja a versão que se recite,
externa ou resumida, é essencial pensar em seu significado. A mera recitação é
enganar-se a si mesmo.
No que se refere a fazer oferendas, diz-se nas escrituras que nenhuma oferenda
que se possa fazer com as mãos tem mais mérito que a da mandala. Nela estão
plenamente contidos os diversos aspectos das seis virtudes transcendentes e
proporciona igualmente todos os benefícios.
Por muito que alardeamos do que somos capazes de dar, nossas oferendas
materiais sempre estão limitadas a um certo numero: cem, mil, dez mil, cem mil,
etc. Se o fazemos pensando vaidosamente no muito que temos dado ou
esperando melhorar nossa reputação, a oferenda fica manchada por esta falta
de pureza. Ademais, nos faz sentir ansiosos em nosso desejo de que o guru se
77
interesse por ela. Por outra parte, os destinatários de tais oferendas não podem
ser mais de uns centos ou mil como muito.
Já que não temos obtido um corpo inferior como o das bestas – que não sabem
distinguir o bem do mal – e, ainda que consigam fazê-lo, são incapazes de
recitar um só mani ou realizar qualquer outra ação parecida – senão que
gozamos da liberdade dos atributos do corpo humano, não demoremos mais a
prática do Dharma. Não desperdicemos nossa condição humana. É de grande
importância implantar, de modo que seja todo tipo de tendências virtuosas.
78
IV - A YOGA DO GURU QUE INFUNDE RAPIDAMENTE A GRAÇA
VISUALIZAÇÃO
Imagina que todos eles são perfeitos desde o tempo primordial e que seus aspectos
de compromisso sagrado e de gnoses são inseparáveis 48.
Com a energia de uma devoção autentica e sincera, e com forte e vibrante voz,
recita as seguintes orações: a que começa assim: “Senhor todo penetrante..”; a
oração das sete vertentes, “Ante ti, venho de Akanishta, o palácio do
Dharmadatu...”; a oração da linhagem de Mahamudra seja a cumprida ou a curta,
segundo convenha; o grupo dos quatro “ Ma-nam”; e, em especial, a invocação vajra
do venerável Dusum Khyempa – a oração das seis linhas -, que recitarás uma ou
outra vez em que sua mente se distraia em outras coisas, contando o numero de
recitações.
79
Ao final, solicita a iniciação da oração: “Gloriosos e santos gurus...”. Então as
divindades ao redor se dissolvem em luz e se fundem nos lamas da linhagem. Os
lamas da linhagem se fundem gradualmente em um e outro, se dissolvem em luz e
se fundem no guru-raiz, que se converte na essência comum de todos os Raros e
Sublimes.
Logo, de sua frente sai uma luz branca que se funde entre tuas sobrancelhas.
Desta forma se purificam tuas faltas de origem corporal – como se o tivesse matado
-, recebes a iniciação do vaso, estejas autorizado a praticar a Fase de Criação e te
é concedido à afortunada possibilidade de obter o resultado do Nirmanakaya.
Do mesmo modo, da garganta do guru sai uma luz vermelha que se funde em tua
garganta. Tuas faltas de origem verbal – como mentir – ficam purificadas, recebes
a iniciação secreta, ficas autorizado a meditar nos nadis e no prana, e te é concedida
à afortunada possibilidade de realizar o Sambhogakaya.
De seu coração sai uma luz azul que se funde em teu coração. Tuas faltas de origem
mental – como as crenças errôneas – ficam purificadas, recebes a iniciação da
sabedoria e gnoses, ficas autorizado a meditar na união equânime e te concede a
afortunada possibilidade de realizar o Dharmakaya.
De seus três lugares saem luzes brancas, vermelha e azul que se fundem em tua
frente, tua garganta e teu coração. Tuas faltas físicas, verbais e mentais, reunidas
através da união dos véus cognitivos e emocional, ficam simultaneamente
purificados. Recebes a quarta iniciação, ficas autorizado a meditar no Mahamudra
– a inseparabilidade da cognição e da vacuidade – e te concede a afortunada
possibilidade de realizar Svabhvikakaya.
Quando saíres deste estado imagina que todas as aparências que percebes são a
variedade de gestos do corpo do guru; todos os sons, audíveis são sua voz, o som
próprio do fragor da vacuidade; e todos os pensamentos aparecem e vibram na
mente são a energia própria da gnoses vajra. Logo ofereces o mérito.
80
PRATICA ENTRE SESSÕES
Ao andar, imagina que rodeias ao guru, que está situado no espaço à tua direita,
sobre um assento de lótus e lua Quando comeres ou beberes imagina que os
alimentos se fundem em elixir e que o ofereces ao guru, sentado sobre um lótus
vermelho em tua garganta. Contempla tudo o que dizes como orações e tudo o que
fazes, fique quieto ou movimentando, como servindo ao guru.
Quando adquires uma casa nova, roupa nova, etc, ofereça em primeiro lugar ao
guru, seja mentalmente ou diretamente. Quando estiveres doente, imagina que do
diminuto corpo do guru no lugar da doença sai o elixir que elimina todas as
enfermidades. Medita com alegria, imaginando que todos os meios para purificar as
enfermidades, o mau karma e as frustrações, provêem da graça do guru. No caso
de aparições demoníacas, considera que é o jogo da atividade búdica do guru
exortando-te a virtude.
COMENTARIO
Tem algo que devemos compreender para seguir a via mística de Vajrayana e, em
especial, para praticar as instruções da Fase de Complementação, é necessário
fazer da graça do guru o caminho. Enquanto a graça não nos tenha penetrado não
nasceremos no caminho reto.
Diz-se que se um discípulo que mantenha seus compromissos sagrados sente uma
profunda devoção a um mestre vajra qualificado, conseguira os engodos espirituais
comuns e supremos ainda que necessitando de qualquer outro meio.
Se uma pessoa não tem devoção ao guru, ainda que pratique todas as sadhana dos
yidams dos quatro tantras, nunca obterá o supremo logro espiritual. Enquanto os
logros comuns deverá estar disposto a orientar suas esperanças a múltiplos
objetivos – longa vida, riqueza, poder, etc. – e, apesar de tudo, alguns deles não
conseguirá. Para conseguir pequenos resultados, terás que suportar grandes
dificuldades. Este não é o caminho profundo.
Quem gera em seu coração uma devoção autentica, verá os obstáculos serem
retirados, separados, e expulsos de seu caminho, e realizará os logros comuns e
81
supremos sem necessidade de nada mais. Este é o denominado “ profundo caminho
do yoga do guru”.
Em especial, tem que evitar a todo custo o mestre que se comporte como indica a
continuidade, pois tal mestre é a benção de Mara: que transmite conhecimentos as
pessoas sobre os diversos aspectos de nadis e prana, de mudras e mantras, e
sobre os profundos pontos essenciais da Fase de Complementação; que divulgue
abertamente a profunda filosofia e conduta de Mantrayana, afirmando que se trata
de instruções que ninguém mais possui; que atue indisciplinadamente, ao estilo
tântrico, e fale como se tivesse um elevado ponto de vista filosófico; que tenha
grande avidez pelos objetos e pelos bens de caráter religioso; que seja falso e
hipócrita; que de instruções e iniciações que não pertençam a nenhuma tradição;
que se deleite nos prazeres da bebia e do sexo; e que de ensinamentos que se
contradigam com o Dharma, com palavras de sua própria invenção, sem saber
indicar o caminho verdadeiro.
Por outro lado, o mestre não deve iniciar em seguida um vínculo profundo com um
discípulo que não tenha fé, que não guarde seus compromissos sagrados, que seja
instável e superficial em suas relações, que tenha um temperamento muito
caprichoso, etc, a não ser que sua atitude melhore gradualmente.
Dizem as escrituras.
82
“ se depois de escutar um só verso
perdes a consideração pelo guru
renascerás cem vezes como cachorro
e depois como pessoa repelente”
Com o passar dos tempos já não se encontram gurus que tenham desprendido de
todos os defeitos e hajam se aperfeiçoado em todas as qualidades. Inclusive se
fosse possível encontrar algum, devido a pouca pureza de nossa percepção
subjetiva confundiríamos suas qualidades por defeito, do mesmo modo que
Devadata encontrava defeitos no Bhagavat 50.
83
Diz o Mukhagama de Mañjushri:
E também:
Dizem os tantras
Diz no Pradipodyotana:
Não tem praticamente nenhuma diferença entre um guru daquele que escuta os
sutras o Hinayana e o Mahayana, exceto uma ligeira diferença nas repercussões
que nossa relação possa ter em um e outro caso. Que possam ou não ser objeto da
transgressão do primeiro voto tântrico, é algo que depende te ti mesmo. É dizer que
não é algo a ter em conta unicamente na relação guru-raiz, tem que guardar o
84
primeiro voto fundamental em relação a todos aqueles gurus dos que temos
solicitado iniciações, pois ao fazê-lo temos criado um vinculo espiritual com eles.
Portanto, uma vez solicitado instrução, seja muita ou pouca, seja de ensinamentos
do sutras ou do tantra, é muito importante não cometer más ações.
Se não existe tal vinculo espiritual, não são teus gurus, pelo que não é objeto do
voto fundamental ainda que sejam lamas de linhagem. Mas é de todo impróprio
difamar ou considerar com desprezo.
Em geral, não examines os defeitos dos seres. Sabendo que são tuas mães,
recorda sua bondade e cultiva o amor e a compaixão. Em especial, não examines
os defeitos de quem tem atravessado as portas do Dharma. Pensa que estamos
todos num mesmo barco; tem em conta unicamente às boas qualidades alegra-te
delas e trate-as com reverencia. Mas, sobre tudo, não examine os defeitos do guru.
Diz o sutra e Arya Shraddhabaladhanavataramudra:
Seja como for, não podemos saber quem é um santo ou quem é um yogui secreto
55
.
Segundo ensina-se, nada, exceto um perfeito Buda, é apto para estimar as
capacidades do demais. Assim, criticando ou menosprezando a qualquer, varremos
nossas próprias boas qualidades. Examinar os defeitos alheios é a essência mesma
de nossa própria ruína; é muito importante reconhecer unicamente os próprios
defeitos.
É muito evidente que todos aqueles que não tenham confiança no guru e não
apreciam a pureza de quem pratica o Dharma encontram muitas adversidades, são
vistos como inimigos pelos demais, morrem em circunstancias pouco propicias e
com maus presságios, e todo mundo fala mal deles
Quem confia no guru com reverencia e vêem só pureza nos demais obtém
espontaneamente sorte e celebridade, são aclamados por todos, suas palavras são
ouvidas, morrem em boas circunstancias e com excelentes sinais. Estas são coisas
que se vêem e das que se ouve falar.
Diziam os antigos mestres Kagyupa:
85
“Se vês ao guru como Buda, receberás a benção de Buda. Se o vês como
bodhisattva, receberás a benção de um bodhisattva. . Se o vês simplesmente como
uma pessoa comum que é um bom amigo espiritual, tal é a benção que receberás.
Se não tens vocação, não recebereis nenhum tipo de benção.”
Não tem nenhum Buda, em nenhuma parte, superior a teu guru-raíz. Ele é, a
essência comum, de todos os Raros e Sublimes nas dez direções e os três tempos.
Todas as qualidades sem limites dos Raros e Sublimes são a expressão manifesta
de teu guru-raíz. E não é só isto, senão que todas as pessoas que em todas as
partes estão operando em benefício dos seres, assim como é o sol e a lua, remédio
e elixires, barcos e pontes, são também manifestações do guru.
86
Meditar que o guru é Buda é a chave para receber imediatamente a benção. Se
praticais meditação Mahamudra imaginas que o guru é Darmakaya despido. Se
desejais longevidade, imaginas como Amitayus ou Tara branca. Se quiseres aliviar
as enfermidades, imagina-o como Bhaishajyaguru. Diante de influências
demoníacas ele é o remédio eficaz. Ao praticar qualquer mandala tântrico deves
considerá-lo o que se chama de “ o senhor da mandala”. Considerando as práticas
desde esta perspectiva, serão como diversos aspectos do yoga do guru.
Não apreciar a bondade do guru é sinal de que não se valoriza o Dharma. Se não
se valoriza o Dharma, todos os esforços serão inúteis, e as boas qualidades não
aparecem em nós. Por dedução, não acreditarás possível – se é muito arrogante –
que o guru tenha qualidades espirituais ou – se o é menos – que outros praticantes
do Dharma as tenham. É dizer, que estarás meditando contra uma visão errônea.
Ao ter infringido deste modo os votos tântricos, todo teu mérito previamente
acumulado cairá literalmente varrido.
Se te torna difícil sentir uma devoção sincera, faça oferendas aos raros e Sublimes,
serves a Sangha, acumula méritos tanto quanto possas, praticando a virtude do
corpo e fala, e então faz a seguinte oração: “ que em virtude deste mérito cresça
em mim uma extraordinária devoção pelo guru”. Diz-se que, meditando assim a
devoção aparecerá definitivamente.
Nós não somos capazes de fazer o mesmo. Ter uma devoção autêntica e sem
artifício é difícil; mas guiando-nos por meio da oração aprenderemos gradualmente
o geral.
87
Que defeitos pode ter um Buda? Tenha o que tiver, deixa. Inclusive se vez que
tem relações sexuais, que mente, etc. medita pensando que (esta conduta) são
métodos incomparáveis para ensinar aqueles que necessitam. Não duvides de
que esta forma tem estabelecido a muito seres o amadurecimento e a libertação
espiritual. É uma conduta cem mil vezes mais maravilhosa que a de quem guarda
um puro código moral. É o mais excelente meio de trabalhar; não vás confundir
crendo que é hipocrisia ou falsidade.
Pensas sobre tudo em sua grande bondade; pensa que te ama como um pai a um
filho e que não tem falsidade em sua amizade. Se tem aspecto de estar
descontente ou parece confiar em ti, pensa que é a retribuição por não haver
purificado teus véus karmicos. Em conseqüência, purifica tuas manchas e esforça-
te no possível em comprazer, prestando serviço com o corpo, a palavra e o
pensamento.
“Tudo o que este precioso e genuíno guru faz, está bem feito.
Todas suas obras são meritórias.
Ainda que trabalhando como detestável carniceiro
É excelente; inclusive isto é louvável,
Ao estar inspirado, certamente, pela compaixão até as bestas.
Se, se comporta como um libertino e comete adultério,
Suas virtuosas qualidades crescem e desenvolvem,
Sinal da união de método e sabedoria.
As mentiras com as quais desconcerta aos demais
São modos diversos de indicar o caminho,
Conduzindo a todos os seres até a liberdade.
Se rouba, converte o roubo
Em bens úteis para os demais,
aliviando a pobreza dos homens.
As reprimendas de um guru como este
São mantras ferozes que eliminam em verdade
Obstáculos e circunstâncias adversas.
Suas rezas com bendições
Das que se originam todo o logro espiritual
E deleitam a quem tem devoção”.
Não tenhas, em conta o muito ou o pouco que satisfazes ao guru nesta vida com
teu exercício da devoção. Preocupa-te exclusivamente a ter devoção, já consigas
88
ou não logros espirituais, já te trate ou não com compaixão, sem agarrar sequer a
esperança de chegar ao logro supremo.
Em assuntos mundanos, uma pessoa de grande valia faz o possível para mostrar
respeito aos seus superiores, em público ou sozinho ou em situações
intermediárias.Tal pessoa é um homem do mundo, cujos objetivos se limitam a
alguns meses ou há alguns anos.
Assim, pois, considera toda tua atividade física, verbal ou mental, como um
serviço do guru. Pensa sempre nele com afeto e reza para que tenha vida longa e
para a expansão de suas obras e de sua atividade.
Se te encomenda ao guru com estas atitudes, não cabe a menor duvida de que
teu ser amadurecerá e se libertará.
Em prática, tudo se resume em duas coisas: ter tudo o que ordena e atuar
segundo teus desejos.
Usa a fala para orar, para reder-lhe homenagens e sacrifícios e para dar a
conhecer aos demais as qualidades as qualidades do guru. Respondes às suas
perguntas de modo agradável, fale com palavras agradáveis, utilizando uma
linguagem respeitosa e não ocultando o que queres dizer. Não pronuncies uma só
palavra de desprezo, nem em público nem a sós.
89
Enquanto a objetos materiais, deveríamos oferecer ao guru nossas posições mais
queridas e qualquer coisa que tenhamos que possa ser de seu agrado, sem
acanhamento. Sem engano, nós guardamos nossos melhores e mais valiosos
pertences, cavalos, gado etc, e o oferecemos a quem mais nos agrada. Nós
atribuímos importância e pedimos iniciações e ensinamentos por mais profundos
que sejam. Por pouco que algo se nos negue fazemos lamentações e alegamos
quão amáveis temos sido com ele. Em vez de agradecer-lhe sua bondade pelos
ensinamentos e instruções que nos tem dado, dizemos que o temos feito em favor
solicitando-lhe instruções e escutando-lhe. Somos arrogantes e mostramos ares
de grandeza diante do guru, sem dar-nos conta de que é por nosso próprio bem
que lhe fazemos oferendas e prestamos serviço. Para fazer assim, mas valia e
não houvéssemos feito.
Os sinais de que a benção tem penetrado em nosso ser devido ter gerado
autentica devoção, como são determinados sonhos e verdadeiras experiências, se
elucidam nas escrituras. Em especial, se desvanece toda preocupação pelos oito
valores mundanos e se perde o interesse pelas coisas desta vida. O verdadeiro e
melhor sinal são os momentâneos átmos de realização que se experimentam
quando a consciência cai em um estado de claridade e vacuidade despidas.
Que se produza ou não a verdadeira meditação Mahamudra depende disto. Por
tanto cultiva as qualidades básicas em teu ser, antes de apressar-te na pratica do
estado de serenidade e da visão superior.
DEDICATÓRIA
90
E praticando com diligência
Conseguirá, um imenso benefício.
Produz o autêntico despertar do Mahamudra de base. O estado natural;
Adquire-se estabilidade no Mahamudra do caminho dual;
E se faz manifesto o Mahamudra do resultado, nossa própria paz.
Que possamos chegar assim, nesta vida, ao majestoso estado de
Vajradhara!
A BENÇÃO
Meu venerável guru Karma Osal Gyurme, a quem, com o mais humilde respeito,
trago sempre em minha mente, me ordenou escrever uma explicação completa,
clara e amena das quatro preliminares de Mahamudra e de suas visualizações
correspondentes. Precisando de experiência e realização, e sem nenhuma
pretensão de criar uma obra original, tenho-me limitado a reordenar as poderosas
palavras dos antigos mestres como apêndice complementar para o texto do nono
Karmapa, “ O oceano da verdade de Mahamudra”.
Escrito pelo falso renunciante Karma Ngawang Yontem Gyamtso, a idade de trinta
e um anos, no Centro de Kunsang Dechen Ling do monastério de Palpung. Que
estes ensinamentos possam ser úteis a todos.
APÊNDICE
91
Ao longo dos cinqüenta anos que o Buda dedicou-se a comunicar sua sabedoria
em nosso mundo depois de chegar à iluminação, deu ensinamentos a diferentes
níveis de profundidade segundo as capacidades intelectuais de seus ouvintes.
Assim falamos de três fases ou grau de ensino, chamadas os três giros da roda
do dharma que, com o tempo, cristalizaram em três grandes veículos condutores a
libertação: Hinayana, Mahayana e Vajrayana.
É muito útil recordar sempre esta premissa para não cair em erro como o
fanatismo, o sectarismo ou a obcecação. Ao longo dos séculos, seus
ensinamentos foram sistematicamente codificados, classificados e estudados.
Nasceram diversas escolas filosóficas que interpretaram estes ensinos desde
distintos ângulos, assim como diversas tradições ou linhagens de transmissão. A
formação de escolas filosóficas e ordens religiosas organizadas é um fato
compreensível, se, se tem em conta à necessidade de preservar a continuidade
dos ditos ensinamentos e de tornar acessíveis a grande número de pessoas.
92
Mas fazia tempo que as doutrinas haviam estendido até o Tibet e outros países.
Foi durante o reinado de Trisong Detsen, no século VIII, quando o budismo se
implantou de modo oficial no Tibete. O traslado dos ensinos desde a Índia foi ,
sem engano, um processo de vários século, durante os quais apareceram
diversas linhagens, que deram lugar a escolas distintas. Logo, a saber, um total de
oito, mas várias delas foram absorvidas por outras desaparecendo como escolas
independentes.
A linhagem da tradição oral tem basicamente duas vertentes: uma iniciada pelo
Buda primordial – Samantabhadra – e uma manifestação do Sambhogakaya –
Vajrasattva – de quem Guru Rimpoché recebeu a transmissão. Depois dele, seis
de seu discípulo ficaram como depositários dos ensinamentos, os quais tem
chegado até nossos dias ao longo de vária linhagens.
Com o tempo, esta tradição foi assimilada pelos demais , mas o século XV deu
lugar a uma nova escola. O grande mestre Tsongkapa (1357-1419) fundou o
93
monastério de Gaden e iniciou a ordem GGUELUGPA, também chamada Nova
Kadampa, por basear seus ensinamentos no caminho gradual e Atisha. Vinte e
nove anos depois, Guendun Drub, discípulo de Tsongkapa, fundou o monastério
de Tashi Lhunpo. E foi o primeiro dalai Lama, cujas subseqüentes reencarnações
tem sido a cabeça espiritual da ordem e o chefe político do Tibete até nossos dias.
Tem diversas descrições das transmissões que Tilopa recebeu de seus mestres.
Segundo Situ Riponche, as “ quatro transmissões especiais”, que são parte
essencial à escola Kagyu, são : o calor místico (tummo), do mestre Tsaryapa, o
corpo ilusório e a cara luz, de Nagarjuna; o yoga do sono, de Lavapa; e o estado
intermediário (bardo) e a transferência da consciência (powa), e Sukhsidhi.
As quatro principais foram iniciadas por três discípulos de Gampopa (“ os três Kam
“) e por um discípulo do sobrinho Gampopa. Respectivamente:
- PAG-DRU KAGYU, e Pagmo Drupa Dorje Gyalpo (1110-1170).
- BARAM KAGYU, de Baram Dharma Wangchug.
- KAMTSANG ou KARMA KAGYU, de Kampa Use, conhecido depois como
Dusum Khyempa, o primeiro Karmapa (1110-1193).
94
- TSALPA KAGYU, de shangtsalpa Tsondu Dragpa (1123-1194).
A diferença entre estas diversas escolas está no estilo dos rituais, enquanto que
os ensinamentos e a pratica são basicamente idênticas.
95
ESCOLA CHODRUG – O sistema da escola CHODRUG se baseia na
transmutação de seis aspectos impuros da verdade relativa em seus aspectos
puros absolutos, mediante os ensinamentos e seis tantra-raíz combinadas com o
de Kalachakra.
A pratica dos três vajras consiste em purificar os três valos através das fases de
visualização e complementação, transmutando o corpo, a palavra e a mente nos
três Kayas.
Notas
96
4- Seus vestidos associam as flores que os adornam, se mesclam, suas axilas
suam, seu corpo desprende mau odor e se sentem incômodos em seu
assento. Um dia no reino dos deuses equivale a mil anos humanos.
5- A água fresca, clara limpa, suave, doce, cai bem no estomago e refresca a
garganta.
6- Trinta e duas marcas principais e oitenta características secundárias que
adornam o corpo de um Buda perfeito. Por exemplo, o pêlo enrolado em
espiral entre as sobrancelhas, a protuberância da cabeça, a aura ao redor
de seu corpo etc.
7- Desde Pema Ñinje até nossos dias a linhagem tem estado presidida pelos
seguintes gurus, pela ordem cronológica: TGCHOG DORJE, Yontm
Gyamtso (Jamgom KongtrulI, KAKHYAB DORJE, Pema Wangchog,
KHYENTSE Oser, RANGJUNG RIGPE DORJE e YEN TINLE. Os nome o
dezesete Karmapas estão escritos em maiúsculas.
8- Nagarjuna, Asanga, Dignaga, Aryadeva, Vasubandhu e Dharmakirti, seis
grandes mestres índios.
9- Nossa era cósmica (kalpa) é uma era afortunada porque ao longo da
história de nosso mundo apareceram mil Budas, dos quais o Buda
Sakyamuni foi o quarto. Eras obscuras são aquelas nas quais não aparece
nenhum Buda.
10- Os Senhores das Três Famílias são Avalokitesvara, Vajrapani e Mañjushri.
O resto dos Oito Filhos são Kshitigarba, Maitreya, Samantabhadra.
Akashagarba e Sarvanivaranavshkambi, os principais discípulos de
Shakyamuni. Ananda era seu atendente pessoal. Os dezesseis Anciões
eram discípulos destacados de Buda, a quem mandou propagar o Dharma
em diversas regiões.
11- Fazendo prostrações completas ao mesmo tempo
12- Os gurus estão incluídos no Buda ou na Sangha, segundo seu grau de
realização.
Os yidams são manifestações de Buda. Por outro lado, como sádhana para a
prática, através da qual se podem obter todas as qualidades do Dharma,
podem considerar-se parte do dharma.
97
13- O conhecimento da totalidade é o aspecto da gnoses que conhece a
essência absoluta,. E da multiplicidade é o que percebe esta essência em
todos os seres.
14- A verdade da cessação e a do caminho são duas das quatro nobres
verdades que ensinou Buda: o sofrimento, as causas do sofrimento, a
cessação do sofrimento e o caminho que conduz a esta libertação. Os
fatores da iluminação são 37 qualidades ou aspectos do caminho que tem
que desenvolver para chegar ao resultado.
15- Os bodhisattvas tem entrado já no caminho da realização definitiva, na qual
só faz avançar, não é possível retroceder. Por outro modo, as realizações
do caminho Hinayana – arhats, etc- são estados provisórios, e devem
passar pos diversas fases do caminho e Mahayana para poder
desenvolver-se
16- Os símbolos (T: rtan, suporte). Do Corpo são as imagens ou estátuas, que
contém (“suportam”), de alguma forma, o corpo de Buda. Os símbolos da
Fala são os textos, que contém sua palavra. Os símbolos da Mente são as
estupas, que são uma representação simbólica da iluminação e contém
relíquias.
17- Estes três compromissos constituem o voto que vai implícito no ato de
refugiar-se nas três Jóias.
18- Ver nota 46.
19- É dizer, os bodhisattvas.
20- As transgressões mais graves da disciplina monástica: matar, roubar, ter
relações sexuais, mentir sobre o grau de realização que tem.
21- Ao longo de inumeráveis vidas sem princípio todos os seres tem sido
muitas vezes nossos pais e tem cuidado de nós com grande amor.
22- A atitude de tomar para si mesmo o sofrimento dos demais lhes oferecer
em troca toda nossa felicidade.
23- Que invocam o nome do Buda Shakyamuni
24- OM na cabeça A na garganta e HUNG no coração.
25- Passado, presente e futuro.
26- Os cinco atos de conseqüências imediatas são atos que tem seus
resultados kármicos imediatamente depois da morte, renascendo
diretamente nos reinos inferiores. São estes: matar ao pai; matar a mãe;
matar ao guru ou a um arhat; criar uma excisão na Sangha, e ferir a um
Buda.
Os cinco atos muito graves (lit. de gravidade “ acerca” à dos cinco anteriores)
são: matar a um monje ou a uma monja, seduzir a uma pessoa que tenha
tomado votos monástico e destruír imagens de Buda , textos sagrados ou
templos.
Os dez atos negativos se descrevem no capítulo sobre o karma.
Os quatro atos de peso são quatro grupo de quatro ações cada um: 1) Ato
perversos: tratar com desdém a pessoas instruídas e a pessoas santas ou
religiosas, roubar comida de alguém em retiro e roubar objetos rituais de um
yoguin. 2) Atos degenerados: jurar para ocultar uma culpa e violar voto os três
yanas. 3) Atos de ofensa verbal: vilipendiar imagens sagradas, difamar os
conhecimentos se pessoas instruídas, ridicularizar o que é verdade e estimular
98
polêmicas religiosas por prejuízo. 4) Atos blasfêmicos: sustentar idéias
pervertidas, injuriar a uma pessoa santa, insultar a um igual e acusar a um
inocente.
Os oito atos contraditórios são: menosprezar o beneficio, glorificar o prejudicial;
burlar aos buscadores da verdade; abandonar ao mestre espiritual; dividir a
Sangha;abandonar aos irmãos espirituais e profanar as mandalas sagradas.
A arvore Pariyatra é uma arvore que satisfaz todos os desejos. Tem suas
raízes no reino dos semideuses e dá seus frutos nos dos deuses, o qual é
motivo de inveja por parte do semi-deuses e causa de sua constante busca e
luta.
Armonica é a deusa de pedra sobre a que sentou o Buda quando foi ao reino
dos deuses a dar ensinamentos a sua mãe, que havia falecido e reinado ali.
99
ininterruptamente, formando nuvens de oferendas cada vez maiores que se
entendem pelo espaço sem fim.
40- Ver página 41
41- As primeiras experiências do estado contemplativo, que são como se
aproximar ao “fogo” da realização.
42- Citam-se seis faculdades supranormais (T: mngon-shes): Visão divina: ver
coisas longe ou minúsculas, assim como a transmigração de quem tenha
falecido. Ouvido divino: ouvir sons longe ou muito sutis. Recordar as vidas
prévias, próprias e alheias. Conhecer o pensamento dos demais. Poderes
milagrosos, como são metamorfosear-se à vontade, atravessar objetos
sólidos, voar pelo ar etc. Saber que os elementos externos tem perdido o
poder de manter-nos em um estado condicionado.
43- Desapego mental dos assuntos mundanos
44- Generosidade, palavras amáveis, prestar ajuda e adotar costumes
conforme os dos demais.
45- Prostrações e sacrifícios, oferendas, confissões, regozijo pela virtude,
solicitar ao Dharma, suplicar aos seres iluminados que permaneçam no
mundo e dedicar mérito.
46- (T: lhan-cig-skyes-pa). Expressão típica de Vajrayana que significa
“aparição simultânea” e indica que a sabedoria primordial coexiste com a
ignorância e que, por tanto, é inata ou inerente a nós.
47- Vajrayoguini transmitiu suas instruções diretamente a Tilopa, é dizer, em
uma época relativamente recente e, por tanto, próxima a nós.
48- Ver nota 33.
49- Ver nota 20.
50- Devadata, primo e discípulo de Buda, intentou impor suas próprias idéias as
e criou uma grave clima na comunidade e inclusive atentou várias vezes
contra a vida de Buda.
51- Um guru pode reunir as qualificações requeridas para poder ser
considerado como tal, e sem engano, não ter uma realização muito
profunda. Mas se a devoção do discípulo até ele é muito grande e percebe
todas as coisas como puras manifestações de seu guru, receberá da
mesma benção que se fosse um Buda, pois a condição para receber a
graça não é outra que a própria devoção
52- Em ambos os casos quem fala é Vajradhara.
53- A gnosis é a essência única de todos os Budas. O guru é quem instrui ao
discípulo no espírito da iluminação – é dizer, no caminho até a gnoses” – e
é alem, sua personificação. Por tanto o mestre tem para o discípulo muito
mais valor que todos os possíveis Budas a quem não conhece, e de fato é
a essência de todos eles.
54- Uma yojana equivale a uns oito quilômetros.
55- Um yoguin secreto é alguém que tem uma profunda realização interior, mas
que aparenta ser uma pessoa comum.
56- Para que alguém possa ser considerado guru tem que reunir uma série de
virtudes e qualificações como as descritas anteriormente. Um guru deve ter
recebido a transmissão de uma linhagem, e sua qualidade fundamental há
100
de ser o estar motivado pela mais pura compaixão. Tudo isto se tem de ter
muito em conta na hora de escolher o mestre
Mais tarde, quando a devoção do discípulo para seu mestre chegue a ser tão
grande que o considere realmente como a um Buda, a relação se baseará
totalmente na devoção; as qualificações antes requeridas perdem então sua
vigência, e o guru pode utilizar meios menos ortodoxos para instruir o
discípulo.
GLOSÁRIO
101
Estão entre parêntesis, os termos sânscritos – no caso em que a palavra escrita
não esteja em sânscrito – e tibetano correspondentes, assim como a tradução de
seus respectivo significados. Quando o significado a palavra sânscrita coincide
com a tibetana, se dá somente uma delas.
102
princípio mesmo da iluminação e a omniscencia. Refugiar-se em Buda significa
tomar sua vida como exemplo e propor-se encontrar nele nossa propriamente.
CICLO DE LA EXISTENCIA (S: samsâra; deambular, transmigrar; T: ´khor-ba; dar
voltas). A existência no estado relativo é um ciclo de mortes e reencarnações sem
princípio nem fim, dentro dos distintos reinos dos três planos de existência. Sua
causa fundamental é a ignorância, e sua natureza característica é a insatisfação e
o sofrimento.
COMPROMISO SAGRADO (S: samaya; encontro, acordo; T: dam-tshig; palavra
sagrada). É o voto relacionado com a prática do Vajrayana e consiste em evitar 14
transgressões-raíz (que são a causa de cair nos reinos inferiores):
1- Depreciar o guru
2- Contradizer os preceitos dados por Buda ou pelo guru.
3- Depreciar aos irmãos vajra (os homens e as mulheres que tem recebido,
como nós, iniciações do mesmo mestre).
4- Abandonar a benevolência para com os seres.
5- Em sentido geral, perder o espírito da iluminação. Em sentido interno,
perder a essência vital através do prazer sexual (quando estão praticando
fases avançadas do Vajrayana).
6- Menosprezar os diversos níveis do Dharma ou outros caminhos espirituais.
7- Revelar ensinamentos secretos a aqueles que não estão preparados para
eles.
8- Considerar o corpo com algo impuro ou maltratá-lo.
9- Duvidar da pureza do dharma e abandonar a pratica por falta de convicção.
10- Associar-se afetuosamente a pessoas malvadas ou a inimigos do guru e do
Dharma.
11- Manter idéias errôneas (nihilismo ou eternalismo) acerca do estado natural
que transcende todo o conceito.
12- Fazer com que outros percam a fé no Dharma devido a não lhes ensinar o
que desejam ou a dar-lhes ensinamentos pouco apropriados. (Em outros
textos se descreve este voto de forma distinta: insultar, maltratar ou criticar
a benfeitores e boas pessoas em geral).
13- Afastar as substâncias sagradas do mantrayana nas ocasiões em que
devem ser usados. (Em alguns textos se descreve este voto e forma mais
geral: guardar intactos os votos dos três yanas).
14- Desagradar ou menosprezar as mulheres.
103
Na samaya tem três pontos especiais. O primeiro é considerar ao guru como a um
Buda; considerar que é a essência das três Jóias e das tres raízes e, ao praticar
uma divindade, ele é a divindade. Tem que cultivar e manter esta pureza de
percepção e apreciar cada vez mais qualidades no guru. Encontram-se defeitos
nele, se rompe a samaya.
DHARMA (S: que sustém; T: chos; doutrina). Palavra com muitas aplicações
distintas. De forma específica designa o conjunto dos ensinamentos budistas, é
dizer, o caminho. No sentido externo, o Dharma é o conjunto de todas as
escrituras budistas, consistentes no Kagyur e no Tengyur. O Kangyur contém 108
volumes nos que se discorre todos os ensinamentos dados por Buda, as quais se
dividem em “três cestos” ou tripitaka: o Vinaya, ou ensinamentos sobre a disciplina
monástica e a moralidade; o Abhidharma, que reúne os textos psicológicos e
matefísicos;e os Sutras, que contem os sermões de Buda sobre diversos temas.
Os Tantras, que tratam dos sistemas de meditação próprios de Vajrayana,
constituem uma parte importante do kangyur e, desde outro ponto de vista, podem
ser considerados como o terceiro cesto tripitaka, constituindo os Sutras e o
Abhidharma o segundo cesto.
104
posteriores a Buda, nos que se expandem, se resumem ou se comentam os
diversos temas contudo no Kangyur.
DHARMAKÃYA (T: chos sku; corpo do dharma ou corpo da verdade absoluta) ver
KÂYA.
DEMONIOS (T: gdon). Espíritos com tendências maliciosas que podem afetar aos
humanos produz-lhe diversas doenças físicas ou mentais ou criar desequilíbrios
no mundo externo. Tem muitas classes diferentes de espíritos.
105
bodhichitta é a intenção de chegar à iluminação para poder conduzir a todo os
seres a esse mesmo estado.
FÉ (T: dad-pa). Tem três aspectos: confiança na lei do karma e as quatro nobres
verdades; aspiração, o anelo de obter a liberação e seguir o caminho; e lucidez,
ou sincera disposição para as três Joyas, vendo que são o verdadeiro caminho.
106
e que possui uma experiência e umas qualidades que a capacitam para transmitir
os ensinamentos a outros.
Quando este chega a vê-lo realmente como a um Buda, deixa de necessitar uma
relação direta com ele, pois a essência do guru-Buda é a essência de sua própria
mente.
HERÉTICOS (S: tirthika; T: um-stegs-pa; adepto de outra crença). Esta palavra se
tem traduzido às vezes por herege. Mas em realidade, tírtica não designa
especificamente aos seguidores de doutrinas abertamente contrárias às budistas,
senão as que tem crenças religiosas ou filosóficas que, de algum modo, não
chegam a captar a verdade e forma completa, ainda que seus conceitos possam
ser muito próximos ao dela.
HÉROE (S: vira; T: dpa ´-bo). Se aplica no sentido geral a qualquer yidam
masculino. Também como contrapartida masculina de dakini.
HINAYÃNA (T: theg-pa dman-pa; veículo inferior ou pequeno) ver YÂNA.
ILUMINAÇÃO (S: bodhi; conhecimento iluminado; T: byang-chub; purificado e
aperfeiçoado). Termo equivalente ao estado de Buda. Um Buda é o que tem
chegado à iluminação.
107
para praticar a meditação mahamudra. Por meio desta prática se realiza o
Svabhavikakayai ou a vacuidade da mente, que abraça em si mesma aos
outros kayas.
As práticas relacionadas com as três primeiras iniciações correspondem ao
caminho do método, e a relativa à quarta iniciação é o caminho da libertação. Na
prática do Vajrayana é essencial conjugar ambos aspectos para obter resultado
supremo.
JOYAS, TRES (S: triratna; T: dkon-mchog gsum; ter raros e supremos). Buda,
Darma e Sangha. No Vajrayana se utiliza também num sentido mais geral para
incluir a guru, yidams e protetores.
KANGYUR (T: bka ´-´gyur, o que se tem convertido em preceito). Ver Darma.
KARMA (T: lãs; ações). A lei que governa o transcorrer da existência, segundo a
qual o estado presente é resultado de ações anteriores, enquanto que as ações
realizadas no presente condicionam o estado de existência futuro. Esta lei de
causa e efeito governa com absoluta precisão o devir de todas as coisas e dos
seres, tanto individualmente como coletivamente. (ver também a Introdução).
KAYA (T: sku; corpo). Basicamente tem dois aspectos: um princípio manifesto
(rupakaya o corpo com forma) e um princípio absoluto intangível (dharmakaya o
corpo da verdade). Quando alguém se converte em Buda, seu corpo, fala e mente
se transmutam em seus respectivos estados de perfeita pureza que chamamos o
tres kayas.
O Sambhogakaya é a fala búdica e tem cinco certezas: à sua volta estão os reino
búdicos; se manifestam em formas puras e radiantes; seu ensinamento é
exclusivamente o Mahayana; seus discípulos são os bodhisattvas nos dez níveis e
iluminação; e sua manifestação perdura enquanto dure o samsara.. A essência de
Sambhogakaya é claridade, a capacidade da mente para conhecer e
experimentar.
108
O Dharmakaya é o princípio absoluto e os quatro kaya constituem o rupakaya. Às
vezes se tem em conta outro aspecto, o Svabhavikakaya o princípio a essência
que indica o caráter inseparável dos três anteriores, no sentido de que constituem,
em realidade, uma só essência indiferenciável.
LAMA (S: guru; pesado respeitável; T: bla-ma; elevado e maternal). Nos países
ocidentais se tem, às vezes, utilizar esta palavra no sentido mais geral que o seu
equivalente em sânscrito, enquanto que se utiliza guru para se referir
especificamente ao mestre.
LOGRO ESPIRITUAL (S: siddhi; T: lung; logro). Os logros comuns são poderes
que permitem controlar a vontade dos fenômenos externos. O logro supremo é a
iluminação. Ao obter o logro supremo se obtém automaticamente os comuns. Não
obstante, estes podem adquirir também, em parte, mediante técnicas mentais ou
mágicas, o qual constitui um obstáculo mais que uma janela, porque isto separa
ao praticante o objetivo supremo.
MAHÂYÂNA (S: círculo, grupo; T: dkyil-´khor, centro e círculo). Disco de metal que
representa a base do mundo e sobre a que se colocam pequenos montes de arroz
ao praticar a oferenda do universo.
109
são a raíz do karma e de todo o sofrimento. 2) Os cinco agregados psicofísicos,
que são como uma prisão que limita nossa essência absoluta. 3) A morte, ou
melhor dito, o medo da morte, que alimenta a errônea noção de identidade com o
corpo – e como conseqüência, a esse a existência – e é a origem de todo o temor.
4) A sedução do prazer; é dizer, a insatisfação, a tendência a querer que as coisas
sejam sempre algo melhor do que são, o qual impede a equanimidade e o
contentamento necessários para aprofundar na verdadeira essência.
Segredo: a essência e origem de todo mal: não se dar conta de que o mundo
externo não é mais que um reflexo do eu, e que a distinção dualista entre eu e os
demais é uma noção falsa.
NÂGA (T: klu; serpente). Um tipo de espírito com dorso humano e parte inferior de
serpente, que habitam lagos, mares e outras zonas aquáticas. A miúdo se os tem
considerado guardiões da sabedoria e dos tesouros subaquáticos.
RAIZES, TRES (T: tsa-ba gsum). O guru da graça; o yidam, raiz do logro
espiritual; e os protetores e dakinis, raiz da atividade búdica. A benção do guru
capacita ao aspirante para praticar o sadhana e um yidam; esta o permitirá obter o
110
os logros espirituais, ajudado pela atividade dos protetores que por sua vez, o
permitem praticar sem obstáculos.
111
SANGHA (S: coletividade; T: dge-´dun; os que aspiram à virtude). No sentido
estrito, a coletividade de monjes e monjas que seguem as instruções de Buda. De
forma mais ampla inclui também a todos os budistas leigos.
Num nível mais elevado, que é o que se tem em conta ao buscar refúgio, a
Sangha consiste nos seres dotados de algum de realização – em especial, os
bodhsattvas – e por eles, capazes de guiar os outros. Refugiar-se na Sangha
significa tomar como guia a quem tem profunda experiência do caminho e
converter-se um mesmo em membro ativo desta comunidade.
SUKHAVATI (T: bde-ba-can; que tem felicidade). O plano budico precedido por
Amitabha. Os reinos búdicos são ao redor da experiência dos bodhisattvas que
percebem o Sambhogakaya. Não indicam lugares específicos no mundo externo,
senão o estado de bem aventurança e de pureza de percepção d quem se
encentram nos níveis de iluminação.
TANTRA (T: rgyud; continuidade). Em sua acepção como texto do Vajrayana ver
Dharma. Tantra significa continuidade no sentido de que a essência búdica está
presente em todos os seres por igual e ao longo de todo o caminho, desde a base
até o resultado.
112
Os quatro tantras são Kriya, Upa, Yoga e Anutara, quatro níveis nas praticas do
Vjarayana. Ver YÂNA.
TATHATÂ (T: de-bzhi-ñid; isso tal qual. Palavra que designa a verdadeira
essência de todas as coisas.
VAJRA (S: rayo; T: rdo-rje; pedra rainha, diamante). Cetro ritual utilizado nas
práticas de Vajrayana, que simboliza o caráter indestrutível, invariável e invencível
da gnoses búdica. Antigamente o vajra era o raio possuído por Indra, deus da
tormenta.
113
Os três venenos são a arrogância, o desejo e a ira; os cinco venenos são o três
mais o orgulho e a vaidade.
VINAYA (T: ´dul-ba; domar ou disciplinar). Os textos dos cânones budistas que
tratam da disciplina monástica e das regras da correta conduta. Ver Dharma.
VOTOS, TRES (T: sdom-pa gsum). Os três grupos de votos característicos os três
yanas: os votos monásticos ou de disciplina moral, os votos de bodhisattva e os
compromissos sagrados do Vajrayana.
Considerados em conjunto os três não são caminhos diferentes, senão mais bem
etapas ou elementos do mesmo e único caminho. Assim, a prática do Vajrayana
deve estar plenamente enraizada na do dois veículos anteriores Senão, é estéril e
perigosa.
114
transmutando assim sua emocionalidade e sua percepção ignorante em
sabedoria. Ver FASES DE CRIAÇÂO E DE COMPLEMENTAÇÂO.
115
116