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‘Armaduras de Cisalhamento para o Aumento da Resistência à Punção

em Lajes Lisas
Shear Reinforcement to Improve Punching Shear Strength of Flat Slabs

Jéssica P. Moreira(1); Rafael N. M. Barros(2); Manoel J. M. Pereira Filho (2);


Marcos H. Oliveira(3); Aarão F. Lima Neto(4); Maurício P. Ferreira(5)

(1) Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará


(2) Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal do Pará
(3) Professor, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília
(4) Professor, Faculdade de Engenharia Civil, CAMTUC, Universidade Federal do Pará
(5) Professor, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal do Pará, e-mail: mpina@ufpa.br
Rua Augusto Corrêa, Número 01. Guamá – Belém – Pará. CEP: 66075-970

Resumo
As armaduras de cisalhamento podem aumentar significativamente a resistência à punção de ligações laje-
pilar em sistemas estruturais com lajes lisas. O acréscimo de resistência obtido com o uso destas armaduras
está associado à uma alteração dos mecanismos de distribuição de esforços internos após a formação de
fissuras, que permitem que parte das tensões de tração sejam resistidas pelas armaduras. Existem diversos
tipos de armadura de cisalhamento, podendo ser classificados de forma geral como estribos, conectores,
shearheads e barras dobradas. Uma quantidade expressiva de pesquisas experimentais foi e vem sendo
desenvolvida buscando determinar seu comportamento e eficiência, uma vez que em lajes lisas tais
armaduras enfrentam condições críticas de ancoragem e os aspectos relacionados ao mecanismo de
resistência ainda não foram esclarecidos satisfatoriamente. Este artigo tem como objetivo fazer uma revisão
dos tipos de armadura utilizados nestas pesquisas e avaliar seu desempenho e eficiência no combate à
punção. São avaliados resultados de lajes lisas armadas com estribos e conectores submetidas ao
puncionamento simétrico com ruptura no interior da região das armaduras.
Palavra-Chave: Concreto armado, Punção, Laje lisas,Armadura de cisalhamento.

Abstract
Shear reinforcement can significantly increase the punching shear strength of slab-column connections of flat
slabs. This increase of strength is due to changes on the distribution of internal stress and strains after crack
formation, that make that part of the tension stresses be resisted by reinforcement. Several types of shear
reinforcement have been used to increase punching shear strength. In general, they may be classified as
stirrups, headed studs, shearheads and shear bands. Many experimental studies has been carried on the past
decades aiming to better understand its behavior and efficiency, since in flat slabs such reinforcement are
subjected to critical anchorage conditions and the available aspects related to strength mechanisms are still
unclear. This paper gives an overview the principal types of shear reinforcement used on these studies and
discusses results of slabs reinforced with stirrups and headed studs failed by symmetrical punching inside the
zone reinforced to shear.
Keywords: Reinforced concrete, Punching shear, Flat slabs, Shear reinforcement.

ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO -CBC2015 – 57CBC 1


1 Introdução
Durante a etapa de projeto é possível adotar algumas medidas para evitar a ruptura por
punção, como aumentar a secção do pilar, espessura da laje, a utilização de ábacos e
capiteis, a taxa de armadura de flexão, a resistência do concreto e a utilização de armaduras
de cisalhamento. Aumentar a seção do pilar e utilizar ábacos e capiteis normalmente é uma
solução que desagrada aos arquitetos. Aumentar a espessura da laje pode acarretar em
problemas econômicos, pois aumenta o peso próprio da estrutura elevando as cargas nas
fundações. Aumentar a resistência do concreto e a taxa de armadura é pouco eficiente e
para alguns casos não é prático. Sendo assim a solução técnica mais econômica e eficiente
é a utilização de armaduras de cisalhamento.

2 Resistência à punção de lajes lisas armadas ao cisalhamento


2.1. Tipos de armadura
As primeiras armaduras para punção testadas por GRAF (1938), ELSTNER e
HOGNESTAD (1956) e ANDERSON (1963) foram barras dobradas (Figura 1a). Essas
armaduras podem ser eficientes se corretamente dimensionadas, porem podem gerar um
problema construtivo grande quando for necessário o uso de várias camadas para evitar a
ruptura fora da região das armaduras.

O uso de vários tipos de estribos também é comum para combater à punção, tendo ensaios
com estribos fechados (Figura 1b), estribos abertos (Figura 1c), estribos em pente (Figura
1d), e estribos inclinados (Figura 1e). De modo geral estribos fechados e estribos pente são
de difícil utilização devida complicações durante a etapa de armação. Estribos abertos,
embora tenham uma execução mais simples em relação aos estribos anteriores,
necessitam custo elevado de mão-de-obra para envolver suas pernas superiores e
inferiores nas barras de flexão. Pesquisas brasileiras como as de MELO et al. (2000),
ANDRADE (2000) e TRAUTWEIN (2001) desenvolveram um tipo estribo aberto com
ângulos de inclinação de 45º e 60º, estes estribos quando inclinados a 60º mostraram ter
grande eficiência, porem pouco utilizado por questões construtivas.

Estribos pré-fabricados foram desenvolvidos por CHANA (1993). Eles são módulos de
estribos soldados em uma armadura em forma de aro colocados em torno do pilar. Com
esse sistema em buscou-se resolver muitos dos problemas construtivos apresentados
pelos estribos, embora ainda houvesse a necessidade certa mão-de-obra para envolver as
armaduras de cisalhamento nas armaduras de flexão superiores. Para evitar esses
eventuais problemas construtivos observados nos estribos convencionais, BEUTEL e
HEGGER (2000) desenvolveram dois tipos de estribos com boas condições de ancoragem
(envolvendo a armadura superior) e de fácil montagem, um tipo não envolvendo a armadura
inferior e outro envolvendo. Porém, assim como CHANA (1993), sua fabricação tem a
necessidade de acrescentar a atividade de soldagem.

Armadura com cabeças de ancoragem são muito utilizadas, devida sua industrialização que
resulta em um maior controle de qualidade. Stud rails (Figura 1f), desenvolvidos na
Universidade de Calgary, consistem em barras soldadas em tiras de aço com cabeça de
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ancoragem na extremidade, são muito eficientes e de fácil montagem in loco. Double
headed studs (Figura 1g), embora menos eficientes que os studs rails como observado nos
ensaios de REGAN e SAMADIAN (2001), são mais utilizados, pois sua montagem é mais
simples, podendo ser colocado após a montagem das armaduras de flexão, ao contrário
dos studs rails. GOMES e REGAN (1999) utilizaram fatias de perfis I metálicos para utilizar
como armaduras de combate a punção, se demonstraram muito eficientes, alcançando
acréscimos de resistência de aproximadamente 100% em relação à laje de referência e
com ruptura fora da região das armaduras.

a) Barras dobradas b) Estribos fechados

c) Estribos abertos d) Estribos em pente

e) Estribos inclinados f) Studs rails

g) Double headed studs


Figura 1 – Tipos de Armaduras de Cisalhamento (FERREIRA, 2010)

2.2. Mecanismo de resistência das armaduras


Para o correto funcionamento das armaduras é importante que as armaduras estejam em
posições que permitam seu funcionamento. Para isso a NBR 6118 (2014), assim como o
Eurocode 2 (2010), limitam as distancias da primeira camada de armaduras até a face do
pilar (s0) e o espaçamento entre camadas (sr), tendo em vista que a resistência à punção
de lajes lisas armadas ao cisalhamento com a ruptura dentro da região das armaduras
depende significativamente do numero de barras pela superfície de ruptura.
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Para o s0, os limites são de no mínimo 0,3d e no máximo 0,5d, enquanto que para o sr,
apenas limita-se a distância máxima em 0,75d. Essas limitações se justificam devido à
hipótese de a superfície de ruptura não cruzar nenhuma armadura para sr acima de 0,75d,
caso a superfície de ruptura se dê em 45º. A partir da Figura 2, podemos observar a ruptura
por punção admitindo um angulo de 45º, onde podemos observar que caso a primeira
camada de armadura esteja muito próximo do pilar e com um espaçamento entre ela for
elevado é possível que sua ancoragem não seja eficiente.

Figura 2 – superfície de ruptura interceptando a armadura de cisalhamento


(FERREIRA, 2010)

Mesmo corretamente posicionada, determinar a tensão provocada nas armaduras de


cisalhamento cortadas pelas superficie de ruptura, a nível de projeto, não é simples, pois,
em lajes relativamente finas, segundo REGAN (2000), em média, o comprimento de
ancoragem efetivo é aproximadamente um quarto do comprimento da armadura, porém, na
prática, devido a inclinação da fissura, o comprimento de ancoragem efetivo pode ser
aumentado para um terço do comprimento da armadura. Devido as limitações geometricas
em que estão as armaduras de cisalhamento, elas não necessariamente escoam, podendo
ocorrer a falha de ancoragem por escorregamento da armadura no concreto ou através da
ruptura de um cone de concreto, dependendo das condições de ancoragem.

Para observar a direfença de eficiência entre vários mecanismos de ancoragem, REGAN


(2000) fez ensaios de arrancamento em seis condições de ancoragem direntes em concreto
não fissurado com comprimentos de ancoragem abaixo de 100 mm, simulando armaduras
em lajes delgadas. Na condição 1, foi arrancado um conector com cabeça de uma superficie
inclinada a 60º, simulando a o plano de ruptura na punção, na condição 2 os ensaios foram
em conectores com cabeça porem em superficies retas. Nas condições 3 e 4 os ensaios
foram realizados em barras dobradas com ângulo de 90º e 180º respectivamente, enquando
que nas condições 5 e 6 são semelhantes às anteriores, diferenciando-se apenas pela
inclusão de uma barra horizontal envolvidas pelas dobras das barras. Todas tiveram ruptura
pelo arrancamendo de um cone de concreto.

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Através da Figura 3 observa-se que os resultados de carga última seguem a mesma
tendência para as condições 1, 2, 5 e 6, com apenas as barras dobradas, sem envolver
uma barra horizontal, obtendo uma curva de resultados mais baixa. Justificando as
exigências das recomendações normativas de exigir que as armaduras de cisalhamento
envolvam as armaduras de flexão. Apesar de a carga última ser um parâmentro importante
na avaliação da ancoragem, o parâmetro mais importante é o escorregamento da
armadura, pois escorregamentos excessivos provocam uma abertura na fissura reduzindo
a parcela resistente do concreto ao cisalhamento.

Figura 3 – Arrancamento de barras embutidas no concreto – REGAN (2000)

Para avaliar de modo qualitativo o escorregamento das armaduras com várias situações de
ancoragem BEUTEL e HEGGER (2002) fizeram na´slises computacionais não-lineares
tridimensionais. O Primeiro modelo, denominado de A pelos autores, simulou o caso mais
simples, uma barra reta sendo arrancada do concreto; o modelo B é um barra com uma
dobra em 90º envolvendo uma armadura longitudinal; o modelo C e D foram com barras
com dobras em 180º sem e com o envolvimento da armadura longitudinal; os modelos E, F
e G foram combinações de situações com barras longitudinais soldadas as barras
arrancadas. Por fim, o modelo H simula uma armadura com ancoragem mecanica, com
uma cabeça de diametro três vezes o diametro da barra.

A Figura 4 mostra os resultados das analises computacionais de BEUTEL e HEGGER


(2002). Fica evidente, através de seus resultados, que as condições de ancoragem
influenciam no escorregamento da armadura. A barra reta do modelo A obteve, como
esperado a menor rigidez ao escorregamento, os modelos B e C obtiveram a mesma rigidez
e o modelo D apenas um pouco mais rigido, mesmo os modelos B, C e D tendo rigidez
superiores a barra reta seus comportamento ainda se manteram semelhantes ao modelo
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A. As barra soldadas à barras logitudinais obteram rigidez muito superiores as barras dos
modelos B, C e D, chegando a niveis proximos ao modelo H, com barra com ancoragem
mecânica.

Figura 4 – Análise computacional de BEUTEL e HEGGER (2002)

2.3. Recomendações Normativas


2.3.1 ACI 318 (2014)
Para o dimensionamento de lajes lisas, o ACI recomenda que a resistência à punção seja
determinada a partir de uma tensão resistente em um perímetro de controle afastado do
pilar a uma distância de d/2 cruzando uma fissura inclinada a 45º ao longo da altura útil. A
Figura 5 mostra um perímetro de controle correspondente ao recomendado pelo ACI.

Figura 5 – Perímetro de controle a punção segundo o ACI 318-14

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Para o ACI, a tensão resistente à punção é função apenas da raiz da resistência à
compressão do concreto. Assim a resistência à punção de uma laje sem armadura de
cisalhamento pode ser estimada, de forma empírica, pela Equação 1.

VRc =0,33∙√fc∙u1 ∙d Equação 1


Onde:
fc é a resistência à compressão do concreto limitada ao valor máximo de 69 MPa;
u1 é o perímetro de controle segundo o ACI;
d é a altura útil da laje.

Na utilização de armaduras para o combate a punção, o ACI recomenda a verificação de


três possíveis modos de ruptura: uma ruptura com a fissura cruzando a região das
armaduras (VRcs), uma ruptura com a fissura cruzando a região posterior às armaduras
(VRout) e o esgotamento da capacidade resistente da laje a partir do esmagamento do
concreto adjacente ao pilar (VRmax). Para lajes armadas a punção com barras dobradas ou
estribos, com uma ou múltiplas pernas, abertos ou fechados, pode-se utilizar as equações
abaixo.
d
VRcs =0,17∙√fc ∙u1 ∙d+Asw ∙fyw ∙ ( ) Equação 2
sr
VRout =0,17∙√fc ∙uout ∙d Equação 3
VRmax =1,5∙VRc Equação 4
Onde:
Asw é a área de aço da secção transversal de um perímetro de armaduras;
fyw é a tensão de escoamento da armadura de cisalhamento limitada ao valor máximo de
420 MPa;
sr é o espaçamento entre os perímetros de armadura;
uout é o perímetro de controle afastado a d/2 da região das armaduras, como mostra a Figura
6.

Figura 6 – Perímetro de controle fora da região das armaduras segundo o ACI 318-14

Devida eficácia de armaduras ancoradas mecanicamente nas extremidades com uma


cabeça de área superior a dez vezes a área do conector, como studs rails e double headed
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studs, o ACI 421.1R-08 permite que se considere um aumento na resistência no caso da
ruptura com a fissura cortando a região das armaduras e da ruptura por esmagamento da
biela comprimida de acordo com a Equações 5 e Equação 6.
d
VRc =0,25∙√fc ∙u1 ∙d+Asw ∙fys ∙ ( ) Equação 5
sr
VRmax =2∙VRc Equação 6

2.3.2 Eurocode 2 (2010)


O Eurocode, igualmente ao ACI, prevê a resistência à punção aplicando uma tensão
resistente em uma área determinada a partir de um perímetro de controle, porem esse
perímetro é posicionado ao fim da fissura de punção, considerando o ângulo de 26,6º, ou
seja, com um afastamento de 2d em relação ao pilar, como exemplificado na Figura 7.

Figura 7 – Perímetro de controle segundo Eurocode 2-10


Para encontrar a tensão resistente, o Eurocode utiliza a mesma recomendação empírica
para prever a resistência de vigas, a qual considera efeitos de escala e taxa de armadura
de flexão, além da resistência a compressão do concreto utilizada pelo ACI. A resistência
à punção sem armaduras de cisalhamento pode ser obtida através da Equação 7.
1
VRc =0,18∙k∙(100∙ρ∙fc)3 ∙u1 ∙d ≥ vmin ∙ b0,EC ∙d Equação 7

Onde:
200
k é a parcela do efeito de escala obtida através de k =1+√ ≤ 2, d em mm;
d
ρ é a media da taxa de armadura nas duas direções calculado por 𝜌 = √𝜌x ∙ 𝜌y ≤ 0,02, onde
ρx e ρy são as taxas de armadura de flexão da laje nos sentidos x e y, levando em
consideração apenas uma faixa de laje igual à base do pilar mais 3d para cada lado.
fc é resistência à compressão do concreto;
u1 é o perímetro de controle afastado em 2d do pilar;
d é a altura útil da laje.

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vmin é a tensão resistente mínima para o caso de taxas de armadura de flexão muito baixas.
2
Obtida através de vmin =0,035∙k 3 ∙√fc

No dimensionamento de lajes com armaduras de combates a punção o Eurocode, assim


como o ACI, também estabelece a verificação de três modos de ruptura. Na verificação da
ruptura com a superfície da fissura cortando a região das armaduras (VRcs) a norma
recomenda que some 75% da resistência à punção sem armadura com a resultante do aço
dentro da área de influência do perímetro de controle. Na verificação da ruptura fora da
região das armaduras (VRout) é recomendado o uso da tensão resistente à punção fora em
um perímetro afastado em 1,5d da região das armaduras, como ilustra a Figura 8. E para
ruptura pelo esmagamento da biela (VRmax), o Eurocode utiliza a mesma recomendação
para o esmagamento de bielas em vigas, porem com a área limitada ao perímetro do pilar.

1,5∙d
VRcs =0,75∙VRc +Asw ∙fyw,ef ∙ ( ) Equação 8
sr
1
VRout =0,18∙k∙(100∙ρ∙fc )3 ∙uout ∙d Equação 9
VRmax = 0,4∙fc ∙ υ ∙ u0 ∙ d Equação 10
Onde:
Asw é a área de aço da secção transversal de um perímetro de armaduras;
fyw,ef é a tensão de efetiva na armadura de cisalhamento, a qual deve ser calculada através
fyw,ef =1,15∙(250+0,25∙d)≤fyw , em MPa e o d em mm;
sr é o espaçamento entre os perímetros de armadura;
uout,EC é o perímetro de controle afastado a 1,5d da região das armaduras
ν é o fator de redução da eficiência da resistência à compressão do concreto da biela devida
a localização em uma zona fissurada devida a tensões de tração lateral. Dado por υ=0,6∙ (1-
fc
);
250
u0 é o perímetro do pilar.

Figura 8 – Perímetro de controle fora da região das armaduras segundo o Eurocode 2

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2.3.3 NBR 6118 (2014)
Igualmente ao Eurocode, a NBR 6118 tem suas recomendações à punção baseadas no
CEB-FIP MC 90 (1993). Assim, para a verificação da resistência de lajes sem armadura de
combate à punção (VRc) se dá pela Equação 7, porém sem as limitações para a taxa de
armadura de flexão e para o efeito de escala.

Para lajes armadas a punção, a NBR verifica três modos de ruptura. Para o cálculo com
plano de ruptura dentro da região das armaduras (VRcs) utiliza-se a Equação 8, porem com
fyw,ef não superando 345 MPa para conectores e não superando 287,5 MPa para estribos.
Para o cálculo com o plano ruptura fora da região das armaduras (VRout) é feito de acordo
com a Equação 7, porem o perímetro de controle afastado em 2d da última camada de
armaduras, como ilustra a Figura 9. E na verificação ao esmagamento da biela comprimida
(VRmax), o cálculo é feito por analogia ao esmagamento de bielas em vigas de acordo com
a Equação 11.

VRmax = 0,378∙fc ∙ υ ∙ u0 ∙ d Equação 11

Figura 9 – Perímetro de controle fora da região das armaduras segundo a NBR 6118

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3 Resultados Experimentais
3.1 Apresentação do banco de dados
São avaliados os resultados experimentais de 46 lajes submetidas ao puncionamento
simétrico armadas ao cisalhamento na região de ligação laje-pilar, das quais vinte e oito
são armadas com estribos a 90° do plano horizontal da laje e vinte e nove com double
headed studs. As lajes com estribos são divididas em dois grupos: um com pernas
ancoradas por ganchos semicirculares e retos envolvendo as camadas de armadura de
flexão comprimida e tracionada e outro com ganchos envolvendo apenas a camada de
armadura de flexão tracionada. Na análise, considerou-se apenas as lajes com ruptura
caracterizada por superfície de ruptura dentro da região das armaduras transversais, de
modo a garantir que a contribuição destas armaduras tenha sido efetiva. Não foram
considerados os casos em que houve deformação plástica excessiva, que evidencia ruptura
por flexão. Os dados para análise foram coletados de treze trabalhos de onze autores
diferentes, produzidos entre os anos de 1980 e 2010.

A contribuição das araduras é avaliada neste trabalho relacionando-se o acréscimo de


resistência devido à adição de armadura calculado ao acréscimo de resistência real obtido
em ensaios, ambos relativamente ao resultado calculado para lajes sem armadura de
cisalhamento. A Figura 10 mostra essa relação comparando o desempenho de lajes
armadas com doube headeds studs e com estribos. Nesta figura, o nome Estribo 1 é
atribuído a lajes armadas ao cisalhamento com estribos com ganchos de ancoragem
envolvendo ambas as camadas de armadura de flexão comprimida e tracionada. O nome
Estribo 2 é atribuído a lajes armadas ao cisalhamento com estribos com ganchos de
ancoragem envolvendo a camada de flexão apenas na zona tracionada do plano da laje.
Para a avaliação foi utilizada a norma Eurocode 2 (2010), em que Vc representa a
resistência à punção calculada para lajes sem armadura de cisalhamento; V cs, a resistência
à punção calculada para lajes com armadura de cisalhamento e superfície de ruptura
localizada dentro da região das armaduras e; V Exp, a resistência obtida em experimento.

Para todas as lajes, observa-se que com o aumento do valor estimado para a resistência à
punção a partir da adição de armadura de cisalhamento, há uma diminuição do acréscimo
efetivo de resistência. Os resultados apontam para uma relação Vcs/Vc pouco abaixo de 1,5
como sendo um limite abaixo do qual as estimativas se tornam conservadoras e acima,
inseguras. Comparando-se os diferentes tipos de armadura, observa-se que as lajes
armadas com doube headed studs são as que apresentam melhor desempenho em relação
às outras, visto que a faixa de valores a favor da segurança se estende a maiores valores
de Vcs/Vc, além de os resultados para estas lajes apresentarem menos dispersão.
Comparado entre si os dois tipos de estribo, observa-se uma grande disparidade entre os
resultados. Isto se deve principalmente às diferentes condições de ancoragem entre os dois
grupos. Todas as lajes armadas com estribos do tipo 2 obtiveram resultados abaixo das
estimativas. Isto mostra, para as lajes analisadas que, apesar de a extremidade do estribo
não ancorada à camada de armadura de flexão se situar na zona comprimida (o esperado
seria que as tensões de compressão garantissem a devida ancoragem), estribos ancorados

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por ganchos que envolvem ambas as camadas de armadura de flexão comprimida e
tracionada garantem melhores resultados.

2,50

2,00

1,50
VExp/Vc

1,00

Estribo 1
0,50
Estribo 2
DH Stud

0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
Vcs/Vc
Figura 10 – Relação entre o incremento de carga calculado e o
incremento real obtido

4 Conclusões
Os resultados apresentados indicam uma tendência da diminuição da eficácia das
armaduras de cisalhamento no aumento da resistência à punção conforme o aumento da
relação entre a resistência calculada para uma laje armada ao cisalhamento e a resistência
para uma laje com as mesmas características, mas sem armadura de cisalhamento.
Observou-se que double headed studs garantem um maior acréscimo de resistência à
punção em comparação com estribos. Esta tendência pode estar relacionada ao processo
industrializado empregado na fabricação destas armaduras e a uma maior eficiência do
mecanismo de ancoragem nas extremidades em relação aos estribos. Estribos ancorados
externamente à armadura de flexão em ambas as extremidades comprimida e tracionada
apresentaram melhores resultados em comparação a estribos ancorados desta maneira
apenas na extremidade tracionada. Porém, devido à grande variedade de tipos de estribos,
quanto à geometria e condições de ancoragem, uma análise mais específica deve ser feita.
Analisando todos os resultados com base apenas nas estimativas de normas, tem-se que
a diminuição da eficácia das armaduras está relacionada um unicamente ao aumento da
taxa de armadura de cisalhamento, visto que o modelo de cálculo utilizado admite que, para
lajes com mesma geometria e mesmos materiais, V cs aumenta apenas em função da área
de aço, mantendo a contribuição do concreto constante. Porém, para uma melhor
compreensão do efeito do aumento da taxa de armadura de cisalhamento, bem como do

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tipo de armadura utilizado, é necessário considerar-se o efeito de uma quantidade maior de
variáveis.

5 Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer pelo apoio a esta e a outras pesquisas à: Universidade
Federal do Pará; ao Núcleo de Desenvolvimento Amazônico em Engenharia (NDAE); ao
Campus de Tucuruí; à Eletronorte; e às Agências de fomento CNPq, CAPES e FAPESPA.

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ANAIS DO 57º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO -CBC2015 – 57CBC 14

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