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A VONTADE DE DEUS

Dois Caminhos: Vida Natural X Evangelho

A
VONTADE
DE DEUS
Aula 3

DOIS CAMINHOS:
VIDA NATURAL X EVANGELHO

“Não ameis o mundo nem o que nele há. Se alguém


ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque
tudo o que há no mundo, o desejo da carne, o desejo
dos olhos e o orgulho dos bens, não vem do Pai, mas
sim do mundo. Ora, o mundo passa, bem como seus
desejos; mas aquele que faz a vontade de Deus per-
manece para sempre.” (1 Jo 2.15-17 – A21)

1. REVISANDO

Por mais genuíno que seja o nosso amor ao Senhor e sincero o de-
sejo de agradá-lo em nossas decisões, buscar a sua vontade indivi-
dual e secreta, além de não ser um mandamento bíblico nem uma
promessa que Deus nos assegura revelar, é uma prática que, por
vezes, nos conduz a uma espiritualidade perigosa e imatura. Esse
não é o desejo de Deus! Seu desejo é que nos tornemos maduros
e cresçamos em sabedoria, através de aplicarmos os seus princípios
à nossa vida.

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Dois Caminhos: Vida Natural X Evangelho

O ensino de que precisamos descobrir a vontade de Deus para as


nossas vidas ficou popular no meio cristão por causa do pensamen-
to de que o centro da vontade de Deus é o lugar mais seguro da
terra. Nesse lugar − pensamos − nós somos inatingíveis e nada de
ruim poderá nos acontecer, nada dará errado, antes seremos bem
sucedidos e tudo dará certo. Por causa desse pensamento concen-
tramos todas as nossas forças, nossos pensamentos e energia na
tentativa de descobrir a vontade perfeita de Deus, esse lugar cen-
tral da sua vontade para as nossas vidas.

2. O CAMINHO DA VIDA NATURAL

Se formos sinceros admitiremos que o fato de descobrir a vontade


de Deus é fundamental, porque no fundo o que realmente que-
remos é ser poupados do sofrimento. Não é difícil perceber isso
quando ao passarmos por momentos de crise perguntamos: “Será
que foi realmente da vontade de Deus ter tomado essa decisão?”.
Sobre isso leia abaixo o comentário de Heber Campos Jr.:

“Quando tomamos uma decisão, arcamos com suas


consequências. Como ninguém gosta de tropeçar em
suas decisões, ‘descobrir a vontade de Deus’ se torna
fundamental. No fundo, queremos ser livres das con-
sequências negativas. Embora nem sempre articule-
mos assim, queremos a orientação divina na escolha
da universidade, do emprego ou do ministério a ser
seguido porque não queremos olhar para trás com la-
mento e curiosidade, e se eu tivesse optado por outro
caminho?”.1

O desejo de estar confortável e privar-se do sofrimento é intrín-


seco à natureza humana. Tal desejo não é em si fruto do pecado
nem necessariamente é ruim, mas algo natural do ser humano por
causa da sua finitude. Porém, com a queda a natureza humana,
assim como seus desejos, foi afetada e corrompida pelo pecado. O
homem tornou-se escravo de si mesmo, de seus desejos impulsivos
e de sua própria cobiça.

1
Heber Campos Junior, Tomando Decisões Segundo a Vontade de Deus
(Editora Fiel), pág. 25.

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C. S. Lewis, um dos maiores pensadores cristãos do século XX, em


um de seus livros mais famosos, “Cristianismos Puro e Simples”, co-
menta sobre a característica primordial da vida natural:

“A vida natural de cada um de nós é uma coisa ego-


cêntrica, que quer ser paparicada e admirada, quer
tirar vantagem das outras vidas e usar para seu pro-
veito o universo inteiro. Acima de tudo, ela quer ser
deixada em paz...”.
(Cristianismo puro e simples, C. S. Lewis, pág. 66)

O caminho da vida natural tem a ver com nossas movimentações


neste mundo, as quais estão enraizadas na vantagem e no egocen-
trismo.
O homem natural vive em torno de si mesmo, se sente o centro
do universo, e tende a fazer tudo o que é possível para estar con-
fortável na terra. Essa busca por descobrir “a vontade perfeita para
a minha vida” tem a ver com controle, conforto e com fazer desse
mundo o meu lar.
A tendência natural do ser humano é querer ser poupado de tudo o
que possa lhe causar desconforto, perda ou dor, ou seja, ser poupa-
do de tudo o que possa lhe causar sofrimento; quanto mais puder
permanecer em seu conforto melhor, pois é ali que o ser humano
quer estar.

3. O CAMINHO DO EVANGELHO

Há um desejo arraigado em nós de fazer a vida na terra funcionar,


ou seja, o nosso desejo é ter sucesso, por isso, usamos Deus como
um meio disso acontecer. Como ele é conhecedor do futuro e tam-
bém todo poderoso, obviamente andar em sua companhia irá nos
garantir uma vida boa na terra. Mas, se olharmos para as Escrituras,
veremos que não é isso o que a Bíblia diz.

a. Deus não nos promete uma vida sem aflições no mundo

Deus não é sádico, não sente prazer em nos ver sofrer. Mas o sofri-
mento existe e está ao alcance de todos nós porque vivemos num
mundo caído e em rebelião contra Deus. Ao nos alcançar com seu
amor Deus não nos tira do mundo nem nos coloca dentro de uma

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bolha, mas nos dá graça para vencê-lo. O próprio Jesus nos assegu-
rou que passaríamos por aflições neste mundo:

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês


tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; con-
tudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo.”
(Jo 16.33 – NVI).

Ser bem sucedido na perspectiva de Deus é bem diferente de ser


bem sucedido na perspectiva deste mundo. Segundo os padrões
do mundo ser bem sucedido na vida é viver uma vida sem perdas,
aflições, fracassos, sofrimentos e angústias. Na perspectiva divina,
porém, sucesso é ter paz com Deus, mediante Jesus Cristo; uma
paz que o mundo não conhece, pois excede a todo entendimen-
to naturalmente humano. Sucesso, segundo Deus, é ter a paz em
Jesus, mesmo em meio às adversidades e tribulações da vida (Fp
4.7). Essa paz é fruto de uma confiança absoluta em Deus, em seu
caráter santo e em sua providência soberana, sabendo que todas as
coisas cooperam para o nosso bem e aperfeiçoamento (Rm 8.28).
Pelo fato de estarmos neste mundo temos aflições, mas pelo fato
de estarmos em Jesus temos paz, mesmo em meio às aflições.

b. Deus e o mundo são inimigos

O apóstolo João diz que não há possibilidade de, ao mesmo tempo,


amarmos a Deus e a este mundo, pois ambos propõem caminhos e
estilo de vida diferente.

“Não ameis o mundo nem o que nele há. Se alguém


ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque
tudo o que há no mundo, o desejo da carne, o desejo
dos olhos e o orgulho dos bens, não vem do Pai, mas
sim do mundo. Ora, o mundo passa, bem como seus
desejos; mas aquele que faz a vontade de Deus per-
manece para sempre.”
(1 Jo 2.15-17 – A21).

Da mesma forma, Tiago diz que é impossível ser amigo de Deus e


ser amigo do mundo.

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“De onde vêm as batalhas e os desentendimentos


que há entre vós? De onde, senão das paixões que
guerreiam dentro de vós. Cobiçais e nada tendes. Ma-
tais e invejais, porém não conseguis obter o que dese-
jais; viveis a brigar e a promover contendas. Todavia,
nada conquistais, porque não pedis.  E quando pedis
não recebeis, porquanto pedis com a motivação
errada, simplesmente para esbanjardes em vossos
prazeres.  Adúlteros! Ou não estais cientes de que a
amizade com o mundo é inimizade contra Deus? Ora,
quem quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de
Deus.” (Tg 4:1-4 KJA).

Jesus e o mundo são opostos, portanto, não há conciliação entre


eles. Ou amamos a Jesus ou amamos a vida proposta pelo mundo,
ou seja, a vida natural.
O problema é que, sem o perceber, usamos uma “falsa espiritualida-
de cristã” para nos assegurar de que a nossa vida neste mundo será
bem sucedida, segundo os padrões de sucesso desta era presente.
Porém, o apóstolo Paulo diz que não tem como ter a mesma men-
talidade deste mundo, e agradar a Deus.

“Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas


transformem-se pela renovação da sua mente, para
que sejam capazes de experimentar e comprovar
a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm
12.2 NVI)

c. O homem natural é inimigo da cruz de Cristo

O Apóstolo Paulo chama aos que vivem na base da vida natural de


“inimigos da cruz de Cristo”.

“Irmãos, sede meus imitadores e prestai atenção nos


que andam conforme o exemplo que tendes em nós;
porque há muitos, sobre os quais vos falei diversas ve-
zes, e agora vos digo até chorando, que são inimigos
da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição; o deus
deles é o estômago; e a glória que eles têm baseia-
-se no que é vergonhoso; eles se preocupam só com

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as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está no céu,


de onde também aguardamos um Salvador, o Senhor
Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa humi-
lhação, para ser semelhante ao corpo da sua glória,
pelo seu poder eficaz de sujeitar a si todas as coisas.”
(Fp 3.17-21 – A21)

No texto acima percebemos a aflição do apóstolo Paulo em, mais


uma vez, exortar os irmãos da igreja em Filipos, a serem seus imita-
dores e não imitadores daqueles que, segundo ele, são inimigos da
cruz de Cristo.
É comum pensarmos que os inimigos da cruz de Cristo são as pesso-
as que cometem pecados escandalosos, mas perceba a descrição
que Paulo faz dos “inimigos da cruz de Cristo”:
“O deus deles é o estômago” − Paulo estava falando de pessoas
que vivem em função de si mesmas. Na versão bíblica JFAA diz:
“O deus deles é o ventre”. Isso nos faz entender que são pessoas
centradas em seu próprio ego, que vivem para si mesmas e só se
preocupam em satisfazer os instintos da natureza humana.
“Se preocupam só com as coisas terrenas” − Só se preocupar com
as coisas terrenas é ter a ambição de fazer a vida nesta terra fun-
cionar, ou seja, querer sempre tirar vantagem das situações, desejar
ser bem sucedido e, principalmente, fazer deste mundo, sujeitado
à vaidade, o nosso lar.
Esse estilo de vida proposto pelo mundo – a vida natural – não é
algo inofensivo. Ela é pautada na sabedoria humana, a qual age por
instinto animal que, por fim, torna-se demoníaca.

“Mas não vos orgulheis, nem mintais contra a verda-


de, se tendes inveja amarga e sentimento ambicioso
no coração. Essa não é a sabedoria que vem do alto,
mas é terrena, animal e demoníaca.”
(Tg 3.14,15 – A21)

A vida natural é um meio de vida contrário ao proposto pelo evan-


gelho, pois o evangelho não traz a esperança de que tudo vai dar
certo nesta vida. Não vai dar certo porque estamos em um territó-
rio hostil.

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Quando o evangelho nos alcança traz a consciência de que não es-


tamos em casa, que este mundo como é não é o nosso verdadeiro
lar. O evangelho nos coloca em guerra com este mundo, e contra
os desejos da nossa carne; em uma guerra a última coisa com que
devemos nos preocupar é com o nosso próprio conforto.
Por isso, o apóstolo Paulo, em Romanos, fala que quem vive segun-
do a natureza humana, ou seja, quem vive segundo a vida natural,
não pode agradar a Deus.

“Aqueles que são dominados pela natureza humana


pensam em coisas da natureza humana, mas os que
são controlados pelo Espirito pensam em coisas que
agradam o Espirito. Portanto, permitir que a nature-
za humana controle a mente resulta em morte, mas
permitir que o Espirito controle a mente resulta em
vida e paz. Pois a mentalidade da natureza humana
é sempre inimiga de Deus. Nunca obedeceu às leis
de Deus, e nunca obedecerá. Por isso aqueles que
ainda estão sob o domínio da natureza humana não
podem agradar a Deus.” (Rm 8.5-8 – NVT)

d. O chamado do evangelho

O caminho proposto pelo evangelho é o oposto da vida natural.


O homem natural procura permanecer o máximo que der em seu
conforto. Já o apóstolo Pedro nos ensina que o nosso chamado
como cristãos é o de sermos ativos na prática do bem, mesmo que
isso custe sofrimento.

“...se suportais sofrimento quando fazeis o bem, isso


é digno de louvor diante de Deus. Para isso fostes
chamados, pois Cristo também sofreu por vós, dei-
xando-vos exemplo, para que sigais os seus passos.”
(I Pe 2.20b,21 – A21).

Percebe o quanto o caminho do evangelho é contrário ao caminho


da vida natural?
A mentalidade da vida natural é a seguinte: Se tomo a decisão “cer-
ta”, as consequências serão boas, tudo prosperará. Esse tipo de pen-
samento está baseado na linearidade, em um padrão normativo

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de causa e efeito, por isso, quando algo começa a dar errado em


nossas vidas, a primeira pergunta que nos atormenta é: “Onde foi
que eu errei?”.
Mas o que Pedro diz é que se sofremos ao fazermos o bem, isso é
louvável diante de Deus e para isto fomos chamados.

e. O exemplo de Jesus
Jesus é o nosso maior exemplo. A Bíblia diz que ele percorria por
toda a parte fazendo o BEM a todos, mesmo sabendo que aqueles
mesmos homens iriam rejeitá-lo e matá-lo.

“Essa palavra, vós bem sabeis, foi proclamada (...), e


diz respeito a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu
com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda
parte, fazendo o bem e curando todos os oprimidos
pelo Diabo, porque Deus era com ele. E somos teste-
munhas de tudo quanto ele fez, tanto na terra dos ju-
deus como em Jerusalém; mas eles o mataram, pen-
durando-o num madeiro.” (At 10.37-39 – A21)

Existe um caminho deixado por Jesus que é fazer o bem e sofrer, e


isso não é algo linear.
O chamado do evangelho é para nos unirmos ao que Jesus, o Filho
de Deus, iniciou, isto é, rendermos voluntariamente a Deus a nossa
vontade carnal, a nossa natureza humana.
Sobre essa rendição da vontade humana a Deus, o autor Gerald
Bray, escreve o seguinte:

A vontade é uma função da nossa natureza humana


e, por isto, corresponde instintivamente ao que a Bí-
blia chama de “carne”. Isto não é algo que surgiu por
causa da queda de Adão. Ela já existia no Jardim do
Éden, pois era a vontade de Adão reagindo à tenta-
ção da carne que o conduziu ao pecado, em primeiro
lugar. 

Até mesmo Jesus já sabia da força disto, pois no Jar-


dim do Getsêmani, na noite em que foi traído, a sua

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oração ao Pai dizia: “...não seja feita a minha vontade,


mas a tua” (Lc 22.42). Como assim? Se o Pai e o Filho
são Deus e se só existe um único Deus, por que eles
não teriam a mesma vontade? Como Jesus pode infe-
rir que não só a sua vontade era diferente da do Pai,
como  (pelo menos nesse caso) também aparente-
mente contraditória? 

A resposta para isso é: visto que a vontade é uma


função da natureza, Jesus tinha duas vontades, assim
como tinha duas naturezas − uma divina e outra hu-
mana. Em sua vontade divina, ele era um com o Pai,
pois só há uma natureza divina unindo  as três  pes-
soas de Deus. Na natureza humana, a sua vontade
era outra, e essa vontade estava ligada à carne cujos
desejos são por ela expressados. Jesus, o Filho  de
Deus, dirigiu-se voluntariamente à própria morte, mas
o ser humano Jesus pode não estar disposto a acei-
tar a própria extinção. O instinto de autopreservação
é algo fundamental na natureza humana, e Jesus, se
não tivesse  mostrado qualquer sinal disso, não seria
totalmente humano. No Getsêmani, foi essa vontade
humana que se impôs, como naturalmente  deveria
ocorrer, visto que  Jesus era um ser humano psicolo-
gicamente normal e não uma criatura masoquista en-
louquecida.

Ao dizer ao Pai que não queria morrer, Cristo não es-


tava se rebelando contra a vontade do Pai. Ao con-
trário, ele estava revelando  quão profundo e  quão
vasto é o chamado à obediência em relação àquela
vontade. Como o autor  de Hebreus ensina, o Filho
do  Homem aprendeu a obediência por meio daqui-
lo  que sofreu, pois se não tivesse agido assim, não
poderia ter-se tornado o nosso  Salvador (Hb 5.8-9).
Dever-se-ia esperar que sua vontade humana e sua
vontade divina fossem contrárias, pois a natureza hu-
mana e a divina são diferentes e essencialmente in-
comparáveis.  O que aconteceu no Getsêmani não

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foi um tipo de  conciliação  de vontades, nem uma


cooperação do humano com o divino a fim de cum-
prir o propósito de Deus. Mas uma rendição da von-
tade humana  à vontade divina, mesmo em Jesus, o
desejo da carne precisava ser mortificado, e nenhum
desejo é mais universal ou fundamental que o desejo
pela sobrevivência. Somente quando isso é posto  à
morte é que Cristo pode se dirigir à própria  morte
na cruz, pois a partir disso, essa última teria o efeito
de  algo realizado de forma verdadeiramente volun-
tária.2
Você já considerou esse caminho? Sabia que este é o nosso chama-
do? Poupar-se do sofrimento não é uma atitude espiritual ou nobre,
mas uma atitude natural.

f. A esperança cristã

Para o cristão existe uma esperança acima das aflições, não uma
esperança de que tudo dará certo nesta vida e de ter uma vida sem
crises. Mas uma esperança gloriosa, na qual podemos nos alegrar no
fato de que Jesus já venceu o mundo e nos dá graça para trilharmos
o mesmo caminho de esvaziamento e rendição que ele trilhou.

“Cada um não se preocupe somente com o que é seu,


mas também com o que é dos outros. Tende em vós o
mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que,
existindo em forma de Deus, não considerou o fato
de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar,
mas, pelo contrário, esvaziou a si mesmo, assumindo
a forma de servo e fazendo-se semelhante aos ho-
mens. Assim, na forma de homem, humilhou a si mes-
mo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus também o exaltou com soberania e lhe
deu o nome que está acima de qualquer outro nome;
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos

2
Teu é o Reino, Gerald Bray, págs. 77 a 79.

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que estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e


toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para
glória de Deus Pai.” (Fp 2.4-11 – A21)

“Da mesma forma, Jesus sofreu fora das portas da ci-


dade, para santificar seu povo mediante seu próprio
sangue. Portanto, vamos até ele, para fora do acam-
pamento, e soframos a mesma desonra que ele so-
freu. Pois não temos neste mundo uma cidade per-
manente; aguardamos a cidade por vir.”
(Hb 13.12-14 – NVT)

“E, chamando a multidão com os discípulos, disse-lhes:


Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser preservar
sua vida, irá perdê-la; mas quem perder a vida por
causa de mim e do evangelho, irá preservá-la. Pois
que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e per-
der a sua vida?” (Mc 8.34-36 – A21)

Nesse caminho do sofrimento nós experimentamos a bondade de


Deus, a bela obra que está produzindo em nosso interior, pois ele
nos aperfeiçoa através do sofrimento.

“Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria


sempre que passarem por qualquer tipo de provação,
pois sabem que, quando a sua fé é provada, a perse-
verança tem a oportunidade de crescer. E é neces-
sário que ela cresça, pois quando estiver plenamente
desenvolvida vocês serão maduros e completos, sem
que nada lhes falte.” (Tg 1.2-4 – NVT)

4. O CONTRASTE
Perceba o quão diferentes são esses dois caminhos. O caminho da
vida natural nos incita a fortalecermos o nosso próprio egoísmo e
vaidade. Já o caminho do evangelho nos conduz à prática do bem
para a glória de Deus, mesmo que isso nos custe o nosso conforto
neste mundo.
As seguintes palavras do apóstolo Pedro precisam estar bem enrai-
zadas em nosso coração:

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“Pois digno de louvor é o fato de alguém suportar


tristezas, sofrendo injustamente, por causa da cons-
ciência para com Deus. Pois que mérito há em ter de
suportar sofrimento se cometeis pecado e sois esbofe-
teados por isso? Mas se suportais sofrimento quando
fazeis o bem, isso é digno de louvor diante de Deus.
Para isso fostes chamados, pois Cristo também sofreu
por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais os
seus passos. Ele não cometeu pecado, nem engano
algum foi achado na sua boca; ao ser insultado, não
retribuía o insulto, quando sofria, não ameaçava, mas
entregava-se àquele que julga com justiça.”
(1 Pe 2.19-23 – A21)
O sofrimento relacionado ao evangelho não tem a ver com sofri-
mentos que sofremos por consequência de pecados que comete-
mos, mas com vivermos em um mundo caído que está em oposição
a Deus.
O evangelho tem a ver com aqueles que sem murmurar sofrem por
fazer o bem; com aqueles que se entregam àquele que julga com
justiça; com aqueles que confiam no Deus soberano sobre toda a
história, e que faz com que tudo seja para o bem e aperfeiçoamen-
to do seu povo.
Ao compararmos os dois caminhos, veremos que eles vão para di-
reções opostas:

a. O caminho da vida natural constitui-se de cau-


sa e efeito, “se eu faço uma determinada ação,
isso produzirá tal resultado almejado”. Esta é uma
visão linear da vida, visto que nunca almejamos
um resultado ruim. Essa expectativa coloca sobre
nós uma pressão muito grande, então, quando as
coisas não saem como o esperado, somos con-
sumidos pela culpa de termos deixado escapar
algum detalhe importante.

b. O caminho proposto por Deus não é linear, ele


tem a ver com fazer o bem e suportar o sofrimen-
to. O caminho do evangelho é impossível para o

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homem natural, somente aqueles que nasceram


de novo são capacitados a trilhar o caminho que
Jesus trilhou e abriu diante de nós. O caminho do
evangelho é fazer a vontade de Deus e suportar
a injustiça desta era presente.

Poupar-se de sofrimento é apenas um desejo natural, e não de-


vemos nos envergonhar disso. Porém, o caminho proposto pelo
evangelho inclui o sofrimento. Não estamos querendo dizer com
isso que o cristão sofre mais que o não cristão, mas que o cristão é
consciente de que Deus trabalha através do sofrimento. Não pre-
cisamos ter medo de nos lançarmos nas mãos de Deus, pois o so-
frimento é uma condição generalizada desta era, ou seja, todo ser
humano passa por sofrimento, sendo ele cristão ou não.
O cristão não é tirado do sofrimento que há no mundo, mas para
ele o sofrimento tem um novo significado, sentido e propósito. Ele
tem o privilégio de perceber Deus, através do sofrimento, purifi-
cando seu interior, moldando seu caráter e encarnando em si mais
um aspecto de Cristo. É nisso que consiste o fato de sermos mais
que vencedores; por causa do aparente fracasso e da momentânea
dor, há algo de precioso e indestrutível que está sendo construído
em nós.
Precisamos visualizar esses dois caminhos, e avaliar o nosso coração.
Quais são nossas expectativas quando buscamos “descobrir a von-
tade de Deus”?

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