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Ciência de dados: conheça a profissão que

decifra os números
Brasil começa a ter mais oportunidades para este
profissional, inclusive com instituições de ensino dedicadas
ao curso, semelhante ao que já ocorre em mercados como a

América do Norte e Europa


A última pesquisa do LinkedIn sobre as profissões mais recrutadas em 2018 mostrou o
engenheiro de DevOps (que trabalha com desenvolvimento e operação de software) em
primeiro lugar na lista geral, seguido pelo executivo de contas corporativas e engenheiro
front-end (que trabalha com a arquitetura inicial de um software). Porém, há outros destaques
crescendo ano a ano. Entre eles, está a profissão de cientista de dados, cargo mais procurado
por empresas do ramo financeiro.

Segundo a pesquisa, as companhias estão investindo cada vez mais nesse tipo de profissional,
cujas habilidades poderiam ajudá-los a gerenciar riscos e analisar os mercados. De acordo
com a pesquisa, os títulos dos cargos mais comuns que os cientistas de dados possuíam há
cinco anos atrás eram "assistente de pesquisa" e "pesquisador".

Batizado de "The most 33 recruited jobs", o relatório do LinkedIn traz ainda as posições mais
recrutadas em cinco indústrias. O estudo foi realizado entre abril de 2017 e abril de 2018, por
meio dos InMails (mensagens privadas no LinkedIn) que recrutadores enviaram para esses
profissionais. Fazendo uma rápida busca, o número de oportunidades para a área de Ciência
de Dados cresce no Brasil e no mundo.

Foram listadas 204 vagas com o termo cientista de dados no Brasil. Quando a busca é
ampliada, com o termo em inglês "data science", o número sobe para 441 resultados. Se o
termo (em inglês) for "data scientist", a quantidade cresce para 443.

Já quando a busca é ampliada para o mundo todo, com o termo "data scientist", vê-se 61.780
resultados. Quando o termo, na busca mundial, é modificado para "data science", surgem
162.620 resultados. Se usarmos cientista de dados, e procurarmos globalmente, temos 207
vagas. Os números foram aferidos no dia 3 de setembro. Importante ressaltar que algumas
vagas apontadas nessas buscas não são de cientistas de dados, mas sim relacionadas, como
analista de dados ou arquiteto de dados.

Mas o que faz o cientista de dados e o que o torna tão fundamental para uma empresa? A
profissão já é uma realidade no suporte a decisões empresariais? "A Ciência de Dados já
ajuda muitas empresas de diversas formas: na redução de custos, aumento de produtividade e
a principal delas: dando auxílio à tomada de decisão. Gestores e diretores são apoiados por
meio da análise de 'dashboards' (painéis com métricas), com indicadores que foram
previamente escolhidos como de suma importância. Esses indicadores, podem trazer, por
exemplo, previsões de vendas, tendências de mercado, podem ter relações diretas com o
cenário de mercado atual e ou repercussões das ações governamentais nacionais e
internacionais. As empresas que ainda não têm essa tecnologia, precisam buscar urgentemente
profissionais e empresas com experiência em trabalhos com Ciência de Dados de forma a se
tornarem competitivas e com maior possibilidade de crescimento", afirma Lenilson Pinheiro
Valério, mestre em Ciências.

Douglas Xavier, mestre em Web Technology, acredita que, por muito tempo, várias empresas
tiveram um comportamento intuitivo e reativo acerca do mercado e do consumidor. O
diferencial, quando havia, se dava na aplicação de pesquisas e grupos focais.

"Hoje, por meio de análise de dados mais abrangentes e variados (Big Data), as empresas
podem identificar outros potenciais negócios, ter insights para novos produtos e serviços,
feedbacks para melhorias de suas atividades, de uma maneira mais eficiente e
semiautomatizada. Assim, a Ciência dos Dados aplicada aos negócios é um ganho, sem
dúvidas, não só para estes, mas também para o público, que passa a ter uma marca atenta aos
seus anseios. Isso diz respeito não só aos aspectos meramente comerciais, mas às demandas
sociais do século 21, como meio ambiente, diversidade cultural, racial, sexual e de gênero",
garante.

Formação

Ainda não é algo comum um curso de graduação em Ciência de Dados. Há um ofertado pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) e outro do Centro Universitário Iesb/DF.

Em 2020, a Universidade de São Paulo (USP) vai inaugurar graduação na área. No Ceará, é
comum ver especializações como as ofertadas pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e
Faculdade Farias Brito. Há ainda o MBA da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Para o professor Lenilson, "a prática deverá ser uma constante ao longo de todo o caminho de
um estudante, especialmente para um profissional de TI". Desta forma, segundo ele, existem
diversos caminhos (carreiras na área de TI), cursos online e provas com certificações para
homologar a aptidão/domínio.

Porém, os entusiastas devem seguir cinco passos básicos. Primeiramente, obter um diploma
de bacharel em Informática, Ciência da Computação, Matemática, Física ou outro campo
relacionado (como Estatística). Depois, buscar mestrado e ou doutorado em Ciência da
Computação/Dados ou outro campo relacionado. Em seguida, o interessado deve ganhar
experiência no campo em que pretende trabalhar. Deve ainda obter certificações das
principais empresas e/ou tecnologias nas quais deseja atuar. Por fim, continuar atualizando-se.

Para Douglas, Ciência de Dados não é uma prerrogativa do setor privado, nem só de grandes
empresas e negócios digitais. Para o mestre, à medida que se populariza, que se tem mais
especialistas formados ou em formação, aumentam as oportunidades para médias e pequenas
empresas (MPEs), por exemplo, também explorarem esse campo, sem necessariamente
contratarem um profissional para tal. "Estas podem fazer uso de dados de domínio público, já
processados e disponibilizados na Web. Aqui entra também a importância do setor público e
do terceiro setor investirem nessa área para reorientarem suas atividades e contribuírem para a
sociedade e a comunidade empresarial. Essa contribuição, aliás, deve vir também da
Academia, onde a Ciência dos Dados tem se desenvolvido bastante nos cursos de pós-
graduação e, a partir de agora, também em graduações", afirma.
A expectativa é de que governos nas três esferas invistam em Ciência de Dados. No Ceará, já
vemos isso ocorrendo pelo menos em duas secretarias: Segurança Pública e Saúde. A primeira
já criou um sistema de inteligência baseado em dados. A segunda está iniciando o processo
para até 2021 ter vários serviços baseados em dados.

Popularização

Quando se fala em Ciência de Dados logo se pensa que apenas gênios, pessoas da área de
Exatas poderiam trabalhar no setor, certo? Não é bem assim. Segundo Carlos Melo, formado
em Ciências Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea (AFA) e mestre em Ciências e
Tecnologias Espaciais pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e, atualmente cientista
de dados e engenheiro de missão de satélites no Centro de Operações Espaciais (Cope), em
Brasília, pessoas de qualquer área de conhecimento podem e devem se interessar em se tornar
um cientista de dados.

Melo acredita que os termos Business Intelligence, Data Science e Inteligência Artificial (IA)
viraram buzzwords (chavões). Por estarem na "moda", ele acredita que vamos ver, cada vez
mais, o surgimento de cursos de graduação e pós-graduação.

Afirma ainda que qualquer pessoa pode aprender e se tornar uma excelente cientista de dados
apenas com o material disponível gratuitamente na internet e por meio de livros. "Como
exemplo, um dos maiores data scientist que eu conheço, Jeremy Howard, possui formação em
Filosofia. Autodidata, foi capaz de aprender sozinho todas as habilidades necessárias e
alcançar o topo das principais competições do mundo na área. No Brasil, o diploma ainda é
muito requisitado por empregadores. Já no exterior, o que vale é o portfólio e habilidade
comprovada na prática. Muitas pessoas na Europa optam por não fazerem o curso superior,
inclusive", garante Melo.

"Data Science é aplicada a qualquer área do conhecimento, para qualquer tipo de problema.
Resumidamente, significa ser capaz de extrair informações úteis a partir de uma massa de
dados brutos. Como exemplo, temos no Brasil a Operação Serenata de Amor, projeto através
do qual cientistas de dados monitoram contas públicas para identificar desvios e uso indevido
do dinheiro por parte dos políticos. Na equipe há jornalistas e sociólogos", completa.

Fim de profissões

No livro digital "Como se tornar um cientista de dados?" (http://bit.Ly/2lySNeL), Carlos


Melo é taxativo ao dizer que, em 10 anos, quem não souber programar estará, muito
provavelmente, fora do mercado. Ele explica que isso ocorrerá devido ao surgimento de
técnicas de Inteligência Artificial (IA), cada vez mais poderosas.

Mesmo funções que aos nossos olhos não eram repetitivas, puderam ser "aprendidas" por
robôs.

Para exemplificar, Carlos Melo fala do caso em que uma máquina venceu renomados juristas
em um desafio (http://bit.Ly/2k1R29F). "Eu sempre repito que daqui a 10 anos você vai
desejar ter começado hoje", completa.

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