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ISSN: 2238-1112

Para citar esse documento:


AUHAREK, Claudia Marques; SOUZA, Beatriz Adeodato Alves de. Estudos
anatômicos integrados ao corpo em movimento: um relato de experiência. Anais do
6º Congresso Científico Nacional de Pesquisadores em Dança – 2ª Edição Virtual.
Salvador: Associação Nacional de Pesquisadores em Dança – Editora ANDA, 2021.
p. 2107-2111.

www.portalanda.org.br

2106
ISSN: 2238-1112

Estudos anatômicos integrados ao corpo em movimento: um relato


de experiência.

Claudia Marques Auharek (PRODAN, UFBA)


Beatriz Adeodato Alves de Souza (UFBA)

Relatos de Experiência com ou sem demonstração artística

Resumo: O presente relato abordará o curso de extensão “Estudos anatômicos


integrados à experiência do corpo em movimento” oferecido na escola de Dança da
UFBA em 2018 para pessoas interessadas no tema, vinculadas ou não a essa
instituição. O curso teve como principal referência a proposta de uma “anatomia
experiencial” (GLASER 2015; OLSEN:2004), a qual propõe que a experiência
daquele que estuda seja a base para o entendimento e relação com o conteúdo
investigado. As aulas foram dedicadas ao sistema muscular, em seus aspectos
anatômicos, cinesiológicos e fisiológicos. Esse relato tem como objetivo descrever
temas e metodologia das aulas, analisar depoimentos gerados e tecer algumas
reflexões sobre as potencialidades do estudo anatômico dentro de um enfoque
corporalizado no contexto da dança (COHEN: 2015; EDDY 2006).

Palavras-chave: ANATOMIA EXPERIENCIAL. EDUCAÇÃO SOMÁTICA. DANÇA.

Abstract: The present report will address the development of the course entitled
"Anatomical studies integrated to the experience of the body in movement". It was
held at the School of Dance (UFBA), in 2018, and the group of students was formed
by people from different backgrounds, including students from the university as well
as other institutions. The course was based on the idea of an "experiential anatomy"
(GLASER 2015; OLSEN:2004), which deals with the concept of lived experience
being the foundation to understanding and relating to the investigated content. This
report will then describe the themes studied – that focused specially the muscular
system in its anatomical, kinesiological and physiological aspects – will approach the
methodology of the classes, revealing some of the testimonies generated, and finally
weave some reflections about the potentialities of anatomical studies with this
conception within the context of dance training and teaching (COHEN: 2015; EDDY
2006).

Keywords: EXPERIENTIAL ANATOMY. SOMATIC EDUCATION. DANCE.

O presente relato aborda o curso de extensão “Estudos anatômicos


integrados à experiência do corpo em movimento”, oferecido na escola de Dança da
UFBA, e ministradas por mim, Claudia Auharek, hoje pesquisadora do mestrado
profissional em dança PRODAN, sob orientação de Beatriz Adeodato, e, na ocasião,
aluna da graduação em Fisioterapia da UFBA. O projeto teve coordenação da 2107
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Professora Me. Clara Trigo e foi desenvolvido através do LabSomática, espaço para
experiências poéticas, somáticas e estudos cinesiológicos (Figuras 1). As aulas
foram gratuitas, abertas para pessoas interessadas no tema, vinculadas ou não à
UFBA e aconteceram durante os meses de Abril a Julho de 2018. Participaram do
projeto ao longo dos encontros 20 pessoas, dentre elas estudantes e profissionais
de Dança e de outras áreas profissionais.

Figura 1. Registro do curso de extensão “Estudos anatômicos


integrados à experiência do corpo em movimento no
Labsomática, Escola de Dança da UFBA, Abril 2018.

O curso foi uma proposta de um estudo corporalizado 1 da Anatomia do


sistema muscular. Esse tipo de abordagem, também referida como “Anatomia
experiencial” (COHEN:2015; OLSEN:2004) propõe que a experiência daquele que
estuda seja a base para o entendimento e relação com o conteúdo investigado. O
foco não está em decorar detalhes estruturais (como origens e inserções de
músculo) e sim em sentir e usar a anatomia a partir da sua própria experiência, seja
através do movimento, toque, voz, ou qualquer outra maneira que potencialize sua
conexão com o próprio corpo. A partir desse referencial, o conteúdo das aulas
abarcou diferentes temas relacionados ao sistema muscular: aspectos fisiológicos,
cinesiológicos e anatômicos.
1
Trago aqui o conceito de “corporalização” (embodiment) definido por Bonnie Bainbridge Cohen do
tm
Body-Mind centering , abordagem de Educação Somática a qual me formei como Educadora do 2108
Movimento Somático (2014-2016, SP).
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Os primeiros encontros foram dedicados à aspectos fisiológicos e


cinesiológicos do sistema muscular. Foi realizado um estudo sobre a célula (fibra) e
o tecido muscular. Para abordar esse conteúdo dentro de uma perspectiva
experiencial, além de oferecer informações teóricas e visuais foram realizadas
práticas para corporalizar essas estruturas: se movimentar com a atenção nos
músculos imaginando e sentindo o deslizamento das fibras; movimentar com a
atenção no sistema muscular e na sensação de variações de tônus.
Já nos encontros dedicados à aspectos cinesiológicos os alunos foram
guiados, através de experimentações com propostas de contrações concêntricas e
excêntricas, e percepção do tônus corporal. Essas experimentações foram feitas
através de movimentos livres e improvisados e também através de criação de
sequências de movimentos.
Outros encontros foram dedicados a regiões e grupos musculares
específicos: músculos abdominais, musculatura posterior do tronco, músculos
envolvidos na dinâmica respiratória e músculos do assoalho pélvico. Para cada um
desses grupos musculares foram apresentados nomenclatura, localização, anatomia
palpatória e aspectos cinesiológicos. Junto a isso, os alunos foram sempre
orientados, através de visualização, sensação e de direcionamentos para atenção à
corporalização essas estruturas.
A partir das falas e depoimentos gerados pelos alunos ao longo do curso,
encontrei diálogos com Glasser (2015), que aborda implicações pedagógicas,
artísticas e pessoais do ensino da anatomia experiencial, no contexto da dança.
Para ilustrar esses diálogos, os quais explicitarei na sequencia, reproduzo abaixo
trechos de um depoimento2 de uma das participantes do curso:

Ludicidade! Ser divertido explorar o corpo. A música estimula os sistemas.


Estar atento durante o movimento, quais sistemas são acionados: ossos,
músculos, articulações, fluidos, fáscias. (...) Abdomen concentra e retrai
emoções: ao experimentar no movimento, as imagens físicas do músculo
abdominal, de todos os músculos, brotavam na minha tela mental imagens
de forma lúdica; eram coloridas e de diversos tamanhos e texturas. Foi
gostoso fazer e visualizar a musculatura se movendo e auxiliando no
movimento, que experimentei de diversas forma”. (...)Mas ao experimentar
sentar no chão, relaxar e respirar o abdomen, me veio uma vontade de
choro, de criança, de não ter controle ou precisar controlar, só soltar... Foi
uma experiência forte e que comecei a sentir meu assoalho pélvico
também, acho que quando respirava no baixo abdômen (I.V., aluna do
curso, 2018).

2
A utilização dos depoimentos em publicações acadêmicas foi acordada previamente com os 2109
participantes.
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Esses trechos são representativos de aspectos que foram recorrentes nos


depoimentos dos alunos. Sintetizo então abaixo alguns pontos significativos e que
estão em diálogo com o artigo citado: maior abertura e prazer no estudo anatômico;
relevância dos processos de visualização e imaginação para aprendizagem; ganhos
perceptivos sobre o próprio corpo e seu movimento; integração de conteúdos
emocionais no processo de aprendizagem anatômica.
Essa experiência aponta então para uma enorme potencialidade do
estudo experiencial da anatomia no campo da dança e do movimento de forma
geral. Nesse sentido, corroborando Eddy (2006), identifico uma importante afinidade
entre o ensino experiencial da anatomia e o ensino da dança. Entrar em contato com
a anatomia à luz de recursos como visualização, improvisação, criação de
movimentos e qualidades de atenção se mostra uma via muito potente de
aprendizagem, criatividade e conexão com o próprio corpo e sua subjetividade.

Claudia Marques Auharek


PRODAN, UFBA
claudiaauharek@gmail.com
Artista da dança, mestranda em Dança (PRODAN, UFBA)
cientista social (UFMG), fisioterapeuta (UFBA)
e educadora do movimento somático pelo Body-Mind centering sm

Beatriz Adeodato Alves de Souza


UFBA
beatrizadeodato@gmail.com
Professora efetiva da Escola de Dança da UFBA. Doutora em Artes Cênicas pelo
Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas (PPGAC/UFBA) e membro do Grupo
de Pesquisa Corpolumen: Redes de estudos de corpo, imagem e criação em Dança
(UFBA). A área de concentração de suas pesquisas engloba as interações da Dança
com a Educação Somática, estudos da percepção e a Prática como Pesquisa

Referências:

COHEN, bonnie bainbridge. "Sentir, perceber e agir: educação somática pelo


método Body-Mind Centering®." Tradução de Denise Maria Bolanho. São Paulo:
Edições Sesc São Paulo (2015).
OLSEN, Andrea, and Caryn McHose. Bodystories: A guide to experiential
anatomy. UPNE, 2004.
EDDY, Martha. "The practical application of Body-Mind Centering®(BMC) in
dance pedagogy." Journal of Dance Education 6.3 (2006): 86-91.
GLASER, Laura. "Reflections on somatic learning processes in higher
education: Student experiences and teacher interpretations of experiential 2110
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anatomy into contemporary dance." Journal of Dance & Somatic Practices 7.1
(2015): 43-61

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