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MINHA VIDA ESCOLAR E A EXPERIÊNCIA COM ALUNOS AUTISTAS

Maria Arlete Veloso Santos

Sou a cursista Maria Arlete Veloso Santos, natural de Timon/MA, mas exercendo a
função docente na cidade vizinha de Teresina/PI. Estou na função há 20 anos na
mesma escola, sendo da rede pública estadual. Já passei pela coordenação
pedagógica, mas resolvi vivenciar outra área que tenho afinidade, a Educação
Especial, mas precisamente no Atendimento Educacional Especializado – AEE.
Tenho a Formação Acadêmica em Pedagogia e especialista em Psicopedagogia e
Atendimento Educacional Especializado.
A minha vida escolar iniciou muito cedo aos 5-6, pois mesmo antes de entrar para a
escola formal, a minha mãe já nos colocava ( eu e minhas irmãs ) em escolas de
reforço, que segundo ela ( que não é alfabetizada ) por não ter tido oportunidade, era
para já irmos bem “desarnadas”, ou seja, já conhecendo as letras.
Comecei na escola formal aos 6 anos no antigo “Pré-Escolar”, mas tive problema de
adaptação, chorava todo dia, até que fui inserida no 2º ano do Ensino Fundamental,
junto com as minhas irmãs. Então, acompanhei direitinho a série em curso e fui
seguindo todas as etapas escolares com êxito. Tive bons professores, o que me deu
uma boa base de escolarização.
Sei que sempre existiu pessoas com deficiências, mas naquela época, nunca soube
de nenhum aluno na minha turma ou em outras com autismo. Até porque os pais,
acredito que por não terem conhecimento, não os matriculavam, por vergonha ou
mesmo por não saber como lidar e também as escolas negavam as matrículas, como
até hoje ainda acontece.
Na época em que estudei, o máximo que víamos em deficiência era um ou outro aluno
cadeirante, as deficiências físicas e mesmo assim era raro, as relacionadas ao
intelecto, não se via. Autismo, ninguém ouvia falar, pelo menos na escola em que
estudei, que foi só uma para o Ensino Fundamental completo.
Com o passar dos anos percebeu-se mais abertura para alunos autistas, mas ainda
com restrições, pois a sociedade de um modo geral ainda carrega muitos esteriótipos
que ficaram enraizados ao longo dos anos. As escolas, também se inserem nesse
meio, há sempre a fala de que “não estamos preparados para lidar com este público”,
fator que não justifica, a Educação Especial não é nova na Educação, já vem sendo
discutida há muito tempo, tempo suficiente para irmos nos adequando à nossa nova
realidade, que é lidar com a inclusão, queiramos ou não precisamos nos qualificar
para levarmos essa corrente adiante e buscar desenvolver a empatia em nossa vida,
especialmente no que se refere à um aluno especial.
A escola ao qual trabalho, desde que estou lá sempre recebeu matrícula de aluno
especial, mas percebia-se que era um trabalho sem muito “preparo” para lidar com o
público, pois os professores na época não tinham a formação específica, o que havia
eram formações esporádicas na área, sem as especificações necessárias e também
os alunos eram matriculados todos na mesma turma, ou seja, eram separados dos
demais, havia as chamadas “Classes Especiais”. Com o avanço das leis, a situação
foi melhorando, inclusive a evolução da escola nesse sentido.
A equipe gestora da escola é bem sensível a esse público e não impõe resistência
quanto a receber os alunos ditos “especiais”, porque infelizmente ainda temos dentro
da nossa realidade escolas que negam a matrícula e o aluno se obriga a ir para um
local bem distante da sua residência e chegam até nós.
Já tivemos e temos alunos autistas atualmente, quando o recebemos no primeiro
momento há aquele medo de não saber lidar com algumas situações, mas a gente
busca meios, procura fazer parceria com as famílias, vai atrás de apoio junto à
Gerência de Educação Especial e vamos realizando o trabalho da melhor forma
possível, ora acertando, ora errando, ora aprendendo e aprendendo mesmo, pois a
cada dia é uma descoberta e um constante movimento a fim de tentar sensibilizar a
comunidade escolar sobre o acesso, mas principalmente a permanência, pois se esse
aluno ou pai não se sentir acolhido, certamente ele se evade. E o nosso objetivo é
fazer com ele permaneça com qualidade e bem acolhido no nosso ambiente escolar.
A nossa realidade hoje é bem mista, já tivemos casos de mães não confiarem no
trabalho da escola e querer interfeir na forma de lidar com o aluno, outros da mãe
simplesmente deixar a criança na escola e não atender telefone para não ser
incomodada no momento em que a criança está na escola, pais agressivos por não
aceitarem que crianças brigam e que podem se machucar, mas também de mães bem
receptivas, amigas, dispostas a colaborar para a evolução do filho. Por fim, podemos
destacar, que nos dias de hoje há uma diferença significativa, em relação ao que já
tivemos em outras épocas, inclusive no período em que estudei em relação à abertura
às crianças autistas, graças às conquistas de muitos estudiosos, pais, mães e tantos
outros que estão à frente dessa causa pela inclusão com a criação de leis que
garantem muitos direitos às pessoas autistas.

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