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Climatologia

Material Teórico
Balanço de energia e circulação do ar

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Balanço de energia e circulação do ar

• Introdução
• Radiação solar
• Mecanismos de troca de calor entre os ambientes
• A circulação global do ar
• Variações latitudinais de calor
• Variações de calor devido à altitude
• A temperatura

·· Esta unidade tem por objetivo discutir os processos que envolvem a circulação
de energia na atmosfera e superfície terrestre, bem como as interações dessa
circulação na diferenciação climática na Terra.

Nesta unidade, em que trataremos sobre o balanço de energia e circulação do ar, você terá
acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra, sempre que possível, às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais
dúvidas sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além disso, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema “Balanço de energia e
circulação do ar”. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o seu estudo
e para a sua formação profissional.
Bom estudo!

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Contextualização

Tempestade solar deixa céus coloridos e pode perturbar redes elétricas e satélites
(17/03/2015)

Duas erupções solares no último final de semana provocaram uma grande tempestade
geomagnética que atingiu a atmosfera terrestre nesta terça-feira (17), podendo perturbar as
redes elétricas e as telecomunicações, informaram autoridades norte-americanas. A tempestade
também está causando fenômenos como um colorido especial nas auroras boreais.
A tempestade solar “poderia provocar problemas generalizados de controle de voltagem e
afetar os sistemas de proteção nas redes elétricas”, alertou a Agência Oceânica e Atmosférica
dos Estados Unidos (NOAA, em inglês).
Os sistemas de transmissão de rádio a alta frequência também poderiam ser perturbados e o
funcionamento de satélites de navegação podem experimentar falhas “durante várias horas”,
explicou a agência.
A tempestade “severa” foi observada às 10h58 (horário de Brasília) e alcançou uma força
4 sobre uma escala máxima de 5, apontou Thomas Berger, diretor do Centro de Previsão
Meteorológica Espacial em coletiva de imprensa.
O fenômeno pode durar de 24 a 36 horas, disse o especialista, afirmando que até o
momento nenhum problema foi reportado nas redes elétricas e de telecomunicações.
A Nasa informou que esta tempestade solar não representa um nível perigoso de radiação
para os astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS).

Fonte:http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/afp/2015/03/17/tempestade-solar-pode-perturbar-redes-eletricas-e-satelites.htm#fotoNav=11. Acessado em 22/03/2015

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Introdução

O ser humano, assim como todos os seres vivos, sente calor ou frio, muito embora apenas
o primeiro expresse tal percepção. Os outros seres vivos têm meios de repercutir aquilo que
chamamos de sensações. É o exemplo das plantas de regiões situadas em médias a altas
latitudes que adaptam sua fisiologia às estações do ano (Figura 1).

Figura 1. Adaptação das plantas às quatro estações

Fonte: iStock/Getty Images

Nesta unidade, você vai conhecer os processos que geram e regulam o balanço de energia,
considerado um dos fenômenos mais importantes para a existência da vida na superfície
terrestre. Veremos o papel desempenhado pela radiação solar, seus fluxos e interações
com os diversos ambientes existentes, bem como a compreensão humana a respeito do
comportamento e dos padrões de distribuição que, apesar de desigual, promove um equilíbrio
necessário à existência e à manutenção da vida em geral.

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Radiação solar

A fonte de energia de onde provém o que chamamos de calor é o Sol. Ele emite energia
em forma de radiação eletromagnética. Parte dessa energia é interceptada pelos elementos
da superfície terrestre, incluindo os componentes atmosféricos e convertida em calor e em
cinética que promove o movimento ou a circulação atmosférica.

Eletromagnetismo
Chamamos de radiação eletromagnética o conjunto de ondas (elétricas e magnéticas) que
viaja na velocidade da luz desde o Sol até a Terra. Há grande variação no comprimento e
frequência na radiação eletromagnética. O comprimento de onda é a distância entre as alturas
(crista) e os vales (cavados) sucessivos das ondas. Já a frequência é o número de ondas completas
que passam por um dado ponto por unidade de tempo ou o que podemos denominar de ciclo
eletromagnético.
A denominação radiação eletromagnética deve-se ao fato de a onda ser composta de duas
formas de energia distintas, uma elétrica e outra magnética que viajam simultaneamente no
espaço-tempo, à velocidade da luz que é de 300.000 quilômetros por segundo e oscilando
perpendicularmente entre si (Figura 2). A radiação emitida pelo Sol leva apenas 9 minutos e 30
segundos para percorrer os cerca de 150 milhões de quilômetros que separam a Terra do Sol.

Figura 2. Esquema de uma onda eletromagnética

Legenda:
E: campo elétrico
M: campo magnético
Z: direção de propagação da onda eletromagnética
L: comprimento de onda

Fonte: dpi.inpe.br
XZ: plano de excitação do campo elétrico
YZ: plano de excitação do campo magnético

O conjunto de comprimentos de onda que compõem a radiação eletromagnética é conhecido


como Espectro Eletromagnético (Figura 3), o qual é “dividido” em certo número de “regiões”
chamadas bandas espectrais ou, simplesmente, “bandas” (MENESES e ALMEIDA, 2012).

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Figura 3. Esquema do espectro eletromagnético

Fonte: Wikimedia Commons

Irradiação solar, absorção, reflexão e difusão ou espalhamento de calor


Da radiação que atinge a Terra, aproximadamente, 70% é absorvida, sendo 51% pela superfície
e 19% pela atmosfera. A Terra irradia para o espaço uma quantidade de energia igual à que
absorve do Sol. Essa irradiação ocorre sob a forma de radiação eletromagnética infravermelha ou,
simplesmente, calor. Isso ocorre, pois diversas partículas e objetos da superfície terrestre, antes
de liberar calor, armazenam-no por um tempo e isso é suficiente para produzir um aquecimento
perene da superfície, já que o Sol emite sua radiação permanentemente para a Terra.
Ao fenômeno que determina a retenção de energia na superfície terrestre dá-se o nome
de “efeito estufa”. Em termos planetários, o “efeito estufa” produz uma média térmica de
aproximadamente 15 °C.

Distribuição da radiação na superfície terrestre


As nuvens, dependendo da sua espessura, podem refletir (albedo específico) boa parte da
radiação solar de volta para o espaço embora permitam que parte desta radiação atinja a
superfície terrestre tendo em vista o tipo de nuvem que estejamos tratando (Quadro 1).
Quadro 1. Os tipos de nuvens e o albedo específico
Tipo de nuvem Albedo %
Cumuliforme 70– 90
Cumulonimbus: grande e espessa 92
Stratus (150-300 metros de espessura) 59– 84
Stratus de 500 metros de espessura, sobre o oceano 64
Stratus fino sobre o oceano 42
Altostratus 39– 59
Cirrostratus 44 50
Cirrus sobre o continente 36
Fonte: Ayoade (1975, p. 29)

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

As taxas de radiação que atingem a superfície da Terra variam em função de três


aspectos astronômicos:
A órbita elíptica que a Terra faz ao redor do Sol varia entre o Afélio (cerca de 152 milhões
de km), em 4 de julho e o periélio (cerca de 147 milhões e km), em 3 de janeiro, quando a
Terra atinge, respectivamente, a maior distância e a maior proximidade do Sol.
A altitude do Sol que é a relação entre o ângulo ao qual a radiação solar atinge uma
determinada porção da Terra, a latitude desta e a estação do ano. Quanto maior a altitude do
Sol, mais concentrada é a intensidade da radiação por unidade de área. Quanto maiores as
latitudes, menor é a altitude do Sol (Figura 4). A altitude do sol também varia conforma a hora
do dia, sendo maior ao redor do meio dia e menor ao amanhecer e ao entardecer.

Figura 4. A altitude do Sol ao longo das quatro estações vista por um observador a uma latitude de cerca de 30°S

Fonte: Azevedo (1945)

A duração do período de luz ao longo de um dia que varia com a latitude e com as quatro
estações do ano. Nas latitudes mais altas, acima dos 45° ao Sul ou ao Norte, a duração da luz
solar aumenta no verão e diminui no inverno. Por outro lado, nas baixas latitudes entre 15 e
0° de latitude, os dias e as noites são praticamente iguais ao longo do ano.
A superfície terrestre também é responsável pela reflexão da radiação solar. Cada tipo de
superfície acaba tendo uma taxa de reflexão ou albedo específico de superfície (Quadro 2),
considerada a razão entre a radiação refletida e a radiação incidente, o que contribui para o
retorno da radiação para o espaço ou para a difusão da radiação na própria atmosfera ou na
superfície por condução.
A difusão ou espalhamento é o fenômeno em que a luz solar é defletida em todas as
direções pelos objetos.

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Quadro 2. Albedo específico para a superfície terrestre
Superfície Albedo %
Solo negro e seco 14
Solo negro e úmido 8
Solo nu 7–20
Areia 15–25
Florestas 3–10
Campos naturais 3–15
Campos de cultivo secos 20–25
Gramado 15–30
Neve recém-caída 80
Neve caída já dias ou há semanas 50–70
Gelo 50–70
Água, altitude solar > 40° 2–40
Água, altitude solar 5 –30° 6–40
Cidades 14–18
Fonte: Ayoade (1975, p. 29)

Além da radiação direta que incide diretamente do Sol e pode ser absorvida pelos ambientes
na superfície terrestre, ocorre também o que chamamos de radiação difusa.
A radiação difusa resulta da porção de luz solar que atinge partículas atmosféricas com
capacidade de difundir a luz. Podemos considerar que isso ocorre quando a luz atinge: o vapor
d’água; as partículas sólidas suspensas no ar; as nuvens e alguns gases aos quais denominamos
de aerossóis.
Os aerossóis difundem a radiação solar em todas as direções, proporcionando a claridade
do dia ou o “azul” do céu e permitindo que mesmo os locais que não recebem a radiação direta
possam ser iluminados, como é o caso dos ambientes internos das edificações ou os locais a
céu aberto, mas sombreados. Dependendo do ângulo da radiação solar incidente, a percepção
humana pode perceber a luz azul, amarela ou até vermelha no céu, bem como fenômenos
como o arco-íris.

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Radiação infravermelha
Toda a radiação que não é refletida de volta para o espaço é absorvida pelos elementos
existentes na superfície terrestre. Cada um deles “devolve” ou “recebe” radiação na medida
em que o ambiente que o cerca exija, isto é, se um objeto na superfície estiver mais quente
que o seu entorno, ele perderá parte desse calor para “igualar-se” ao ambiente e se estiver
mais frio, será aquecido quando estiver em um ambiente mais quente. A isso damos o nome
de transferência de calor ou de radiação infravermelha (Figura 5). A radiação infravermelha é
emitida por qualquer objeto existente na superfície e independe da presença da radiação solar.

Figura 5. Imagem infravermelha de um cão

Fonte: Wikimedia Commons

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Mecanismos de troca de calor entre os ambientes

Enquanto a reflexão muda a direção da radiação solar, a absorção a converte em calor.


A partir daí, entram em ação os mecanismos que buscam promover as trocas de calor entre
os ambientes. Além da radiação, já tratada, consideramos como mecanismos de troca de calor
na superfície terrestre a radiação (já tratada), a condução e a convecção.

A condução de calor
A condução de calor pode ocorrer tanto dentro de um objeto, quanto entre objetos que
estejam em contato físico direto. O calor migra das partes mais quentes para as mais frias de
um objeto ou de um ambiente mais quente para um mais frio. Tudo depende da característica
física dos elementos em questão: metais são excelentes condutores de calor, sólidos são bons
condutores, a água é um razoável condutor de calor e o ar é um mau condutor de calor. O
Quadro apresenta as taxas de condutividade aproximadas dos vários ambientes.
Quadro 3. Condutividade de calor dos vários elementos da superfície terrestre
Elementos Condutividade
Metais Excelente
Sólidos em geral Boa
Água Razoável
Ar Ruim
Compilado por Carlos Eduardo Martins, modificado de Grimm (1999)

A condução ocorre devido ao aumento da radiação solar promovida pelo Sol. Esse aumento
promove o aquecimento ao nível atômico e, consequentemente, leva à movimentação das
partículas e às colisões interatômicas dando mobilidade a estas. Este processo ocorrido nas
partículas repercute nos objetos como um todo, obrigando-os a transferir calor para os objetos
vizinhos, teoricamente, mais frios na tentativa de retomar o estado de repouso original, isto é,
retomar o equilíbrio.

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

A convecção do ar
A convecção consiste na transferência de calor dentro de um fluido através dos movimentos
promovidos pelas colisões entre partículas. No caso do ar, a movimentação ocorre, pois o
ar mais aquecido perde densidade e tende a subir para as zonas mais altas da atmosfera.
Nestas, o ar vai perdendo aos poucos o calor que havia armazenado e tende a descer frio
para as zonas mais baixas da atmosfera recuperando, assim, o calor que havia perdido e
subindo novamente. Esta ciclicidade é mais bem compreendida na circulação observada nas
frentes de mesoescala encontradas nas zonas costeiras.
Durante o dia, o Sol ilumina as terras emersas da mesma forma que ilumina o mar.
No entanto, o total de radiação armazenado no mar é muito maior, embora seja armazenado
mais lentamente que a terra, que aquece muito rapidamente, mas apenas superficialmente.
O resultado disso é que o ar mais frio da superfície do mar é atraído para a superfície de terra
seca e quente superficialmente, é chamada “brisa marinha”. À noite, na ausência da radiação
direta do Sol, a superfície esfria rapidamente e o mar perde calor mais lentamente. Isso
provoca uma inversão na circulação do ar que passa da terra emersa para a superfície do mar,
ao que chamamos de “brisa continental” (Figura 6).

Figura 6. Brisa marinha (“a”) e brisa continental (“b”)

Fonte: ces.fau.edu

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A circulação global do ar

O mesmo processo que exemplificamos com as transferências de calor entre mar e terra
pode ser observado na escala global. O primeiro modelo a propor uma circulação global do
ar foi proposto por George Hadley, em 1735. Ele acreditava que a radiação solar obrigava
o ar mais quente, com pressão atmosférica mais baixa e menos denso, a subir até o topo da
atmosfera na zona intertropical e descer, frio e denso, nas zonas polares onde temos altas
pressões atmosféricas. Assim, Hadley promoveu o modelo de duas células hemisféricas de ar
que circulavam desde o Equador até os polos, pelo topo da atmosfera e de volta ao Equador,
rente à superfície da terra e do mar (Figura 7).
Figura 7. Modelo das Células de Hadley

Fonte: web.gccaz.edu

O modelo de Hadley admitiu pela primeira vez que o ar, além de circular verticalmente
(convectivamente) também é deslocado horizontalmente na superfície terrestre entre uma
região e outra. Tal movimento do vento é denominado de advecção.
Os questionamentos que se seguiram ao modelo de Hadley chamavam a atenção para o
fato de que o autor desconsiderara a rotação da Terra. Foi graças à descoberta de Gaspard-
Gustave Coriolis, em 1835, que o modelo de Hadley foi aperfeiçoado. Coriolis percebeu que,
em um sistema em rotação como a Terra que gira no sentido oeste-leste, o ar que é disperso
a partir dos polos assume uma trajetória curva na direção do Equador (Figura 8).

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Figura 8. Princípio de Gaspard-Gustave Coriolis (1835)


Quando a descoberta de Coriolis passou a ser
considerada como alternativa aos movimentos
propostos por Hadley, passou-se a considerar também
que os ventos vindos dos polos para o Equador,
influenciados pela rotação, assumiriam uma trajetória
rente à superfície na direção nordeste-sudoeste e
voltariam para os polos na direção sudoeste-nordeste.
No hemisfério Sul, ocorreria o oposto, do polo
Sul ao Equador, os ventos assumiriam uma trajetória
sudeste-noroeste e depois de noroeste-sudeste para
os polos novamente.
Com o tempo, verificou-se que esse modelo seria
improvável, dadas as dimensões do espaço percorrido
pelo ar e as variações continentais e oceânicas,
Fonte: Elaborado pelo autor
bem como a variação latitudinal da radiação solar,
variações de pressão e de umidade. Assim, durante a década de 1920, adotou-se um modelo
de três células (Figura 9), no qual as células cumpririam apenas 30° de latitude cada em ambos
os hemisférios.

Figura 9. Modelo de três células

Fonte: science.kennesaw.edu

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No modelo de três células, temos as células de Hadley, agora, limitadas à região que
compreende as latitudes 0° e 30° Norte e Sul, onde ocorrem os Ventos Alísios. Separadas no
Equador por uma área de baixíssima pressão atmosférica denominada de Zona de Calmaria
ou de Zona de Convergência Intertropical – ZCIT, na qual os Alísios de Sudeste, após terem
cumprido uma trajetória sudeste-noroeste no hemisfério Sul e nordeste-sudoeste no hemisfério
Norte (Alísios de Nordeste), são aquecidos, perdem pressão e sobem a baixas densidades. Nas
faixas de 30°, o ar desce frio em áreas de alta pressão atmosférica, as quais coincidem com as
grandes zonas desérticas do mundo.
Do ponto de vista global, a ZCIT é um cinturão de baixas pressões considerado um importante
sistema gerador de precipitação sobre a região equatorial dos oceanos Atlântico e Pacífico.
Já no âmbito regional, a Zona de Convergência do Atlântico Sul - ZCAS se caracteriza pela
presença de uma banda de nebulosidade e chuvas com orientação noroeste - sudeste que se
estende desde a Amazônia até o sudeste do Brasil.
Conceito associado:

• Ventos Alísios: são ventos persistentes, em baixos níveis, que sopram a partir dos
centros de alta pressão subtropicais em direção ao cavado equatorial, ou Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), e que no Hemisfério Sul sopram de sudeste e no
Hemisfério Norte de nordeste.

• Zona de Convergência Intertropical – ZCIT: é o sistema meteorológico que é o


principal responsável pela estação chuvosa no norte do Nordeste brasileiro, quando se
desloca mais para o sul durante o ano.
Entre as latitudes 30° e 60°, o ar descendente, de altíssima pressão subtropical, frio e
muito denso assume uma trajetória noroeste-sudeste no hemisfério Sul e sudoeste-nordeste
no hemisfério Norte. Esta célula foi denominada Ferrel em homenagem ao seu descobridor
William Ferrel (1817 – 1891).
Das latitudes 60° a 90° Norte e Sul, ocorrem as chamadas células polares, embora
importantíssimas no ordenamento dos climas regionais e continentais, foram muito
pouco estudadas.
Conceito associado:

• Vento Geostrófico: é um vento horizontal, não acelerado, que sopra ao longo de


trajetórias retilíneas, que resulta de um equilíbrio entre a força de gradiente de pressão
horizontal e a força de Coriolis (GRIMM, 1999).

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Variações latitudinais de calor

Devido à curvatura do planeta Terra, a radiação solar direta acaba sendo mais intensa nas
porções intertropicais e menos nas zonas extratropicais. Nas áreas polares, dependendo da
época do ano, essa radiação pode ser anulada tendo em vista a obliquidade do eixo de rotação
em comparação ao de órbita ou de translação. Assim, nos invernos polares e subpolares é
preciso considerar ausência total ou parcial da luz solar. O que acabamos de afirmar é a causa
das variações latitudinais de calor (Figura 10).
Figura 10. Modelo de isotermas na superfície terrestre

Fonte: Wikimedia Commons

A Figura 8 apresenta a distribuição das isotermas ou faixas térmicas de igual temperatura


em função da curvatura da superfície terrestre. As isotermas apresentam um decréscimo
geral de temperatura dos trópicos para os polos. O fato de o hemisfério Sul dispor de maior
superfície oceânica que o continental produz maior regularidade na distribuição latitudinal
das isotermas.
Diferentemente com o que ocorre com a radiação solar, que sofre diminuição em direção às
zonas polares, não se verifica esta degradação com a radiação infravermelha.
Assim, enquanto nas zonas de altas latitudes, o resfriamento dos elementos por emissão
de radiação infravermelha ou calor é maior que a absorção da radiação solar, nas regiões
intertropicais, ocorre o oposto, o aquecimento por radiação solar ultrapassa, muitas vezes,
o esfriamento por emissão de radiação infravermelha. Isso obriga, necessariamente, a
transferência de calor das regiões intertropicais para as extratropicais, promovendo a circulação
do ar (massas de ar) e das águas (correntes marítimas).

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Conceitos associados:

• Massas de ar são extensas porções da atmosfera com características termodinâmicas


praticamente uniformes de umidade, temperatura e estabilidade.

Conforme a curvatura da Terra aumenta em direção aos polos, diminui a intensidade da


radiação, pois há um aumento da área iluminada devido ao aumento da obliquidade em relação
à fonte de luz, no caso o Sol. Essa situação leva ao entendimento do conceito de radiância,
ilustrado logo a seguir pela Figura 11.

Conceito associado:

• Radiância: é o quociente entre a intensidade de radiação de um determinado elemento


de superfície, direção e a área da projeção ortogonal desse elemento em um plano
perpendicular a essa direção.
Figura 11. Esquema explicativo de radiância

Compilação: Carlos Eduardo Martins

A distribuição irregular de calor na atmosfera terrestre promove também uma diferença na


espessura da atmosfera que é mais espessa na faixa do Equador e mais estreita nos polos.

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Variações de calor devido à altitude

A altitude é um parâmetro que influencia significativamente a distribuição do calor na


superfície terrestre. Embora cerca de 99% de toda a matéria existente na atmosfera esteja
concentrada nos primeiros 32 km de altitude, os componentes não estão distribuídos
igualmente ao longo de toda a atmosfera, pelo contrário, estão concentrados a baixas
altitudes e são rarefeitos a elevadas altitudes. Essa irregularidade, conforme a altitude,
acaba sendo correspondente à diminuição da densidade e da pressão atmosférica, como
veremos a seguir.
A partir do nível do mar ao limite superior da troposfera, as médias térmicas diminuem
cerca de 6,5 °C por km. Por outro lado, a cerca de 5,5 km de altitude, a densidade do ar é
a metade da encontrada ao nível do mar. A 16 km é de apenas 10% e a cerca de 30 km, a
densidade do ar sofre uma rarefação para apenas 1%.
Como a absorção do calor depende da quantidade de elementos com capacidade de refletir
e/ou de absorver radiação solar, com o aumento da altitude e a consequente diminuição de
compostos atmosféricos, o ar vai ficando cada vez mais rarefeito e, consequentemente, frio.

A temperatura

A estrutura térmica da superfície terrestre é a resultante da somatória entre a radiação solar


direta e difusa e a radiação infravermelha, ou o calor emitido pelos elementos absorvedores,
pode ser percebida pelos sentidos humanos.
Quando afirmamos: está calor! Estamos emitindo a nossa representação mental do que
os sentidos percebem em relação à resultante anteriormente mencionada. Tendo em vista a
grande subjetividade das percepções humanas, utilizamos sensores artificiais para medir as
variações térmicas da atmosfera, ao que denominamos de temperatura.
Medimos a temperatura a partir das variações de volume que alguns fluidos como, por
exemplo, o álcool e o mercúrio, apresentam frente à dinâmica da agitação das moléculas
promovidas pela energia térmica existente no ambiente. Ao estabelecer uma escala para as
variações no volume dos fluidos supracitados obtemos, então, as medidas de temperatura.
As escalas mais utilizadas para a medição da temperatura são:

• Grau Celsius ( °C): medida a partir da qual o 0 °C (Zero Grau Celsius) corresponde à
temperatura de solidificação da água e 100 °C à de sua ebulição.
• Grau Kelvin (°K): medida a partir da qual o 0 °C (Zero Grau Celsius) corresponde a –273
°C ou o que chamamos de zero absoluto. Nesse caso, considera-se a situação em que as
partículas encontrem-se realmente em estado de repouso em total ausência de radiação solar.

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• Grau Fahrenheit (°F): média a partir da qual o 0 °C (Zero Grau Celsius) corresponde
a 32°F e o 100 °C, a 212°F. Essa é uma escala utilizada exclusivamente para medidas
de temperatura apenas em alguns países como os Estados Unidos da América - EUA.
A escala Celsius foi criada por Anders Celsius em 1742, tendo por finalidade medir a
temperatura considerando como referenciais as mudanças do estado físico da água:

• Congelamento ou fusão do gelo: < que 0 (menor que zero grau).


• Ebulição da água: > 100 (maior que cem graus).

Como as variáveis desse modelo conceitual vão de 0 a 100 unidades, Celsius denominou cada
uma das unidades da escala de “Grau Centígrado”. Em reconhecimento ao trabalho de Anders
Celsius, a resolução da Conferência Geral de Pesos e Medidas, ocorrida em Paris, em 1948,
alterou a denominação da graduação que passou a levar o sobrenome do seu inventor. A partir
daí, a unidade de medida de temperatura passou a ser denominada de Grau Celsius (°C).

A unidade de medida de temperatura em Grau Figura 11. Comparação entre as medidas de temperatura
Celsius não é a única, temos também o Grau Fahrenheit, Celsius e kelvin
Fahrenheit e o Grau Kelvin. O aparelho que mede
as temperaturas é denominado de termômetro
(Figura 11). Quando o ar é aquecido, o líquido
se expande dentro do tubo graduado. Se o ar
esfriar, o líquido sofre contração. A graduação
nos permite estabelecer um parâmetro de
alternância do aquecimento/resfriamento do ar
ao qual denominamos de temperatura.

Como é possível observar na imagem da


Figura 11, a referência que corresponde ao ponto
de fusão do gelo, ou ponto de congelamento
da água, que é o 0º na escala Celsius (C), que
equivale a 32º na escala Fahrenheit (F) e a 273
na escala Kelvin (K). Já o ponto de ebulição da
água corresponde, respectivamente, a 100 °C,
212 °F e 373 °K. Essa variação não é equivalente
porque as escalas são distintas. Cada unidade de
medida em Fahrenheit vale 1.8 em relação à
unidade em Celsius. Fonte: Elaborado pelo autor

Conceito associado:
• Conversão entre unidades Celsius e Fahrenheit:
• Para converter graus Celsius em graus Fahrenheit, multiplique por 1,8 e adicione 32.
• °F = °C × 1, 8 + 32
• Para converter graus Fahrenheit em graus Celsius, subtraia 32 e divida por 1,8.
• °C = (°F − 32) ÷ 1, 8

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Conversão entre unidades Celsius Kelvin:


Como a escala de ambas as unidade é a mesma, converter Celsius para Kelvin passa pelo
acréscimo ou subtração de 273.
O emprego de cada uma das escalas é muito diferente. A escala Celsius tornou-se universal,
a Fahrenheit é usada em países de língua inglesa e a graduação Kelvin é mais comumente
aplicada em experimentos científicos.
As necessidades humanas de obtenção de dados atmosféricos são cada vez mais amplas e
para tornar a compreensão sobre o comportamento do clima mais previsível aperfeiçoam-se dia
a dia os instrumentos e técnicas de medição. Dessa forma, as medidas de temperatura podem
ser mais bem compreendidas por meio da obtenção das mínimas e máximas temperaturas de
um período por meio dos termômetros de máxima e mínima.
O termômetro de máxima, movido a mercúrio, contém um estreitamento ou constrição
na extremidade do tubo junto ao bulbo. Quando a temperatura se eleva, o mercúrio
expande e é forçado a passar pelo estreitamento até alcançar a temperatura máxima.
Quando a temperatura abaixa, o mercúrio não volta pelo estreitamento, mantendo-se na
posição de máxima alcançada anteriormente. É assim que sabemos qual foi a temperatura
mais alta de um dia.
O termômetro de mínima é geralmente movido a álcool e deve conter um índice de metal
na parte interna e no alto da coluna do líquido. Se a temperatura abaixar, o líquido contrai
e o índice é puxado para a direção do bulbo. Mas ele não retorna à posição inicial quando a
temperatura volta a subir. Assim, temos registrada a mínima temperatura de um dia.
É importante salientar que os dois aparelhos são utilizados na posição horizontal, como
indica a Figura 12.

Figura 12. Termômetros de mínima e de máxima temperatura.

Fonte: 2012books.lardbucket.org

Há casos em que os termômetros são adaptados para permitir o registro gráfico das
variações térmicas em um período. Nestes casos usa-se um termômetro acoplado a um sensor
bimetálico formado por duas placas de metais diferentes e que tenham dilatações e contrações
distintas, permitindo registrar a variação continuamente. O registrador gráfico de temperatura
é chamado de termógrafo.

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As variações térmicas podem ser expressas de forma analítica por meio de um recurso
chamado termograma. Trata-se de um gráfico que relaciona a escala de temperatura (°C),
registrada no eixo vertical, em um dado período, determinado no eixo horizontal. A Figura 13
apresenta termogramas das séries temporais de quatro capitais brasileiras distribuídas segundo
diferentes regiões, referentes à Normal Climatológica 1961-1990.
Figura 13. Termogramas de cidades brasileiras selecionadas

Adaptado de fisica.ufpr.br

Quando comparamos os dados térmicos de 12 meses das cidades brasileiras selecionadas


da Figura 13, podemos notar significativas variações nas séries apresentadas. Há que se
considerar que por força das variações térmicas, ou amplitudes encontradas em cada caso, os
gráficos não apresentam a mesma graduação no eixo vertical.
Enquanto em Curitiba a graduação vai de 12 °C a 21 °C, Manaus registra variações
apenas entre 25.5 °C a 28 °C. Essas diferenças se devem muito ao fato de ambas as cidades
encontrarem-se em situação latitudinal e altitudinal distintas. Enquanto Manaus está a apenas
3° de latitude Sul e a 92 m sobre o nível do mar, Curitiba encontra-se a 25° de latitude Sul e a
934 m de altitude. Essas diferenças são, em grande parte, responsáveis pelo comportamento
padrão das temperaturas encontradas em cada uma das cidades comparadas.
As cidades de Salvador e Campo Grande apresentam grande similaridade nos padrões
térmicos, ainda que a primeira encontre-se na faixa costeira, com altitudes variando entre 0 m
e 100 m, compreendendo uma latitude de cerca de 13° Sul, enquanto a segunda encontra-se
a cerca de 850 km do litoral, a uma altitude de 520 m e a uma latitude de 20° Sul.
As comparações feitas a respeito das informações dos termogramas da Figura 13 são
comprobatórias de que os componentes do terreno como a topografia, a proximidade
ou distanciamento do mar, a altitude, a latitude entre outros interferem diretamente no
comportamento térmico do ar. Isso implica na diferenciação climática de um local para o
outro, mesmo em se tratando de um país. Os climas não respeitam as fronteiras políticas.

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Material Complementar

Para se aprofundar no tema da unidade, realize as leituras abaixo:

Leituras:
• Meteorologia e Climatologia: http://goo.gl/uVUrVg
• Aula 1: O que é Meteorologia: http://goo.gl/kkYlNU
• Meteorologia e Climatologia Agrícola: http://goo.gl/2kt8Vg

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Referências

AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Bertrand Brasil, Rio de


Janeiro, 1996.

AZEVEDO, A. Geografia do Brasil. Editora Companhia Nacional. Rio de Janeiro, 1945.

GRIMM, A. M. Meteorologia básica: notas de aulas. Versão eletrônica. Disponível em


http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/. Acessado em 18/03/2015.

MENESES, P. R. e ALMEIDA, T. (Organizadores). Introdução ao processamento de


imagens de sensoriamento remoto. UNB/CNPq. Brasília, 2012. Versão digital disponível
em http://www.cnpq.br/documents/10157/56b578c4-0fd5-4b9f-b82a-e9693e4f69d8.
Acessado em 18/03/2015.

VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e Climatologia. Versão eletrônica disponível


em http://www.icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/METEOROLOGIA_E_
CLIMATOLOGIA_VD2_Mar_2006.pdf. Acessado em 18/03/2015.

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Unidade: Balanço de energia e circulação do ar

Anotações

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