Você está na página 1de 24

Climatologia

Material Teórico
Atmosfera: estrutura e funcionamento

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
Atmosfera: estrutura e funcionamento

• Atmosfera: estrutura e funcionamento


• Estrutura química da atmosfera
• A origem da água na superfície terrestre
• Estrutura física da atmosfera
• Forma e dimensões astronômicas da superfície terrestre

·· Esta unidade tem por objetivo analisar as estruturas físicas e químicas da atmosfera
bem como as inter-relações com os outros meios da superfície terrestre e com as
forças astronômicas que regem os processos naturais e dentre eles os que ocorrem
na atmosfera.

Olá,
Nesta unidade, em que trataremos sobre a atmosfera sua estrutura e funcionamento, você terá acesso
a diversos recursos.
Veja o mapa mental que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra, sempre que possível, às videoaulas e ao PowerPoint narrado para tirar eventuais dúvidas
sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além disso, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema “Atmosfera: estrutura e
funcionamento”. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o seu estudo e para
a sua formação profissional.
Bom estudo!

5
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Contextualização

Ionosfera: mocinha e vilã das comunicações


Em sua coluna de setembro, Carlos Alberto dos Santos mostra de que forma as características
dessa camada da atmosfera podem beneficiar ou prejudicar as transmissões de sinais em longa
distância, como os de rádio, TV e GPS.
Nossa civilização depende vitalmente das comunicações de longa distância. Os sinais de
satélite nos trazem notícias e divertimentos pela televisão e orientação geográfica pelo GPS
(sistema de posicionamento global, em português). As ondas de rádio, sobretudo as chamadas
ondas curtas, são ainda hoje os principais meios de comunicação em grandes distâncias.
Esses dois tipos de sinal podem ser beneficiados e prejudicados pela ionosfera, uma camada
da atmosfera terrestre que se estende da altitude de aproximadamente 50 quilômetros até
cerca de 1.000 quilômetros. O nome ionosfera tem origem na existência de íons nessa região
da atmosfera. Mas os principais responsáveis pelos efeitos da ionosfera nas transmissões
eletromagnéticas são os elétrons livres, presentes em quantidades teoricamente iguais às dos
íons nessa camada.
Um fato curioso é que a ideia de que a ionosfera é uma camada condutora surgiu em 1882, cinco
anos antes da descoberta das ondas eletromagnéticas e vinte anos antes da primeira transmissão
intercontinental de ondas de rádio. E são essas ondas que nos permitem examinar as principais
propriedades da ionosfera. O conhecimento que se tem sobre essa camada vem justamente da
análise dos dados obtidos por meio da sua interação com as radiações eletromagnéticas.
Entre o final do século 19 e os anos 1920, a comunidade científica participou de intenso
debate em torno do modelo da ionosfera. O que se consolidou após as discussões é que a
ionosfera é dividida em três regiões: D (de 50 a 95 km de altitude), E (de 95 a 160 km de
altitude) e F (de 160 a 1.000 km de altitude), sendo esta última subdividida em F1, F2 e F3.
A interação de ondas eletromagnéticas com essas regiões resulta em diferentes fenômenos,
sendo a reflexão e a refração os mais conhecidos. Alguns desses fenômenos favorecem a
transmissão das ondas de rádio, outros prejudicam. Mas o que faz essas regiões serem diferentes?

Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que os pares íons-elétrons da ionosfera são
produzidos pelo efeito fotoelétrico, que ocorre quando determinado tipo de radiação (luz visível,
luz ultravioleta, raios X, entre outros) atinge a superfície de certos materiais, provocando
a ejeção de elétrons. A quantidade desses pares depende da energia e da intensidade da
radiação e das características físico-químicas da camada. Em seguida, os elétrons tomam
direções diferentes dos íons e tornam-se livres.

A atmosfera fica mais rarefeita à medida que cresce a altitude. Portanto, há menos moléculas
disponíveis nas grandes altitudes. Por outro lado, o espectro da radiação solar, que se estende
dos raios X aos raios ultravioleta e é capaz de produzir efeito fotoelétrico, é seletivamente
absorvido ao atravessar a ionosfera. Ou seja, o ultravioleta é preponderantemente absorvido
nas maiores altitudes (região F) e os raios X, mais penetrantes, chegam até a região D.

6
O resultado disso é que a distribuição de elétrons atinge seu máximo justamente na parte
intermediária da camada F. Acima, a densidade é menor porque a atmosfera é mais rarefeita,
e abaixo, porque há pouca radiação disponível.

Espelho ou lâmina de água?

Diante das ondas eletromagnéticas, essa estrutura funciona ora como um espelho, que
reflete a luz, ora como uma lâmina de água, que a refrata. E tanto um quanto o outro fenômeno
são produto da interação da radiação eletromagnética com os elétrons livres da ionosfera.

É essa capacidade de refletir e refratar as ondas eletromagnéticas que possibilita a transmissão


intercontinental de ondas curtas. Entre o emissor e o receptor, a onda pode ricochetear nas
camadas da ionosfera e na superfície da Terra ao longo de milhares de quilômetros.

Esse é o lado favorável da história. Mas as ondas de rádio também podem encontrar
obstáculos à sua transmissão. Um deles resulta da chamada rotação de Faraday, fenômeno em
que a direção de vibração de uma onda eletromagnética é alterada quando essa onda interage
com um campo magnético.

Os elétrons livres da ionosfera produzem um campo magnético que possibilita a ocorrência


da rotação de Faraday nas ondas de rádio. O resultado é que a intensidade do sinal recebido
pode ser reduzida consideravelmente, pois as antenas receptoras estão preparadas para
captar as ondas com uma determinada direção de vibração. Felizmente esse efeito é muito
pouco eficiente nas ondas de alta frequência, as famosas ondas curtas, que predominam nas
comunicações de rádio de longa distância e nos sinais de satélite.

Outro fenômeno que ocorre nessa camada da atmosfera e é capaz de perturbar as


comunicações por satélite são as chamadas cintilações ionosféricas, produzidas por
irregularidades na distribuição de elétrons na ionosfera. Geralmente elas abrangem regiões
muito pequenas, mas modificam os índices de refração do meio e provocam alterações nos
sinais de rádio, causando ruído que tem como contrapartida visual o piscar das estrelas – daí o
nome cintilações ionosféricas.

Esse fenômeno varia muito em função da latitude, sendo mais intenso na região equatorial.
Ele está relacionado com o processo de recombinação íon-elétron, em que essas partículas
voltam a se unir na molécula que as originou. Durante o dia, esse processo é menos frequente
do que a produção de pares íon-elétron pela luz solar. Mas, à noite, apenas a recombinação
acontece. Como esse processo deixa muitas irregularidades na distribuição de elétrons, as
cintilações ionosféricas são mais pronunciadas depois do pôr do sol. O efeito desse fenômeno
depende da frequência da onda: é reduzido em sinais de televisão, mas pode afetar bastante
os sinais de GPS.

Os fabricantes de receptores GPS têm tomado providências para minimizar os problemas


causados pela ionosfera. Mas alguns desses obstáculos – como as cintilações ionosféricas – são
quase insuperáveis, embora bem identificados.

A alternativa para quem usa esse equipamento é conhecer tais fenômenos e ter consciência
de que deficiências na recepção podem decorrer deles e não da operadora do sinal. A partir
desse conhecimento, é possível adotar algumas estratégias de uso.

7
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Por exemplo: as cintilações ionosféricas, embora imprevisíveis na sua intensidade e duração,


são de certo modo previsíveis quanto aos locais e horários de ocorrência na região equatorial.
Portanto, quem necessitar usar GPS para medidas precisas nessa área deve evitar o período
entre o pôr do sol e a meia-noite. Além disso, esse fenômeno é sazonal, sendo menos intenso
entre abril e agosto na parte das Américas e da África que fica em torno da linha do Equador.
As famosas tempestades solares também têm grande efeito sobre a ionosfera e, portanto,
sobre o funcionamento do GPS. Nesse caso, a coisa é mais séria nas regiões polares, para
onde convergem com mais intensidade as partículas carregadas liberadas pelo Sol durante
essas tempestades. A interação dessas partículas com a ionosfera resulta no aumento da
quantidade de elétrons livres e, consequentemente, em todos os seus conhecidos efeitos sobre
as ondas eletromagnéticas.
Então teremos que conviver com essas limitações? Não, pois já existe tecnologia para
a fabricação de receptores GPS mais resistentes às cintilações ionosféricas. Os resultados
de inúmeras pesquisas acadêmicas têm sugerido alternativas tecnológicas tanto para o
equipamento quanto para programas de tratamento de dados.
Por outro lado, também é possível incorporar a um GPS um sistema capaz de detectar se as
cintilações ionosféricas estão afetando o aparelho, de modo a permitir que sejam descartadas
outras fontes para erros de precisão. No entanto, não tenho conhecimento sobre a implantação
dessas alternativas em aparelhos comerciais.

Carlos Alberto dos Santos


Professor-visitante sênior da Universidade Federal da Integração Latino-americana

8
Atmosfera: estrutura e funcionamento
Nesta unidade, você vai conhecer as principais características ambientais da atmosfera, a
camada mais externa de material constituinte da Terra. Vamos analisar a estrutura vertical, as
subdivisões internas e as diversas particularidades físicas e químicas que, ao interagirem com os
aspectos astronômicos, criam e mantêm as condições para a existência das múltiplas formas
de vida na Terra, além de regular a dinâmica dos constituintes inorgânicos que compõem a
superfície terrestre.
Entre as particularidades ambientais mais importantes da atmosfera está o fato de que,
embora, na média, a temperatura na superfície terrestre seja de 15 °C há grandes amplitudes
térmicas entre as máximas e as mínimas observadas, que vão de 45 a -50 ºC, respectivamente.
Na ausência da atmosfera ou se esta apresentasse outra composição, a amplitude entre a mínima
e a máxima na superfície terrestre poderiam oscilar entre algumas centenas de graus Celsius
positivos e negativos. O que inviabilizaria as condições para as formas de vida que conhecemos.
Por fim, analisaremos os principais aspectos astronômicos que caracterizam a Terra e
repercutem em dinâmicas associadas à superfície terrestre em inter-relação com a atmosfera.
Desse modo, daremos início ao estudo da atmosfera, observando seus aspectos estruturais.

Estrutura química da atmosfera

A atmosfera é o que chamamos genericamente de “ar”. Na composição da atmosfera,


encontramos toda sorte de micro-organismos, vapor d’água, partículas sólidas e gases.
Para efeito de análise, decompomos a porção gasosa que chamaremos aqui de seca das
outras partes acima mencionadas. Assim, a atmosfera seca, formada apenas pelos gases
existentes na superfície pode ser observada no Quadro 1.
Quadro 1. Composição química da atmosfera seca
Gás 78,08 780.000,00
Nitrogênio 20,95 209.460,00
Oxigênio 0,93 9.340,00
Argônio 0,035 350,00
Dióxido de carbono 0,0018 18,00
Neônio 0,00052 5,20
Hélio 0,00010 1,00
Metano 0,00005 0,50
Kriptônio 0,000007 0,007
Óxido nitroso 0,000009 0,09
Hidrogênio 0,00005 0,50
Ozônio 0,000007 0,07
Xenônio 0,000009 0,09
Fonte: Compilado por Carlos Eduardo Martins

9
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

É relativamente fácil de notar que o valor das porcentagens de participação dos gases na
composição total da atmosfera seca é significativamente desigual.
Mais de 78% do volume total da atmosfera é composto de nitrogênio (N2), também conhecido
como azoto, e quase 21% de oxigênio (O2). Se somarmos esses dois gases, ambos perfazem cerca
de 99% de toda a composição gasosa do ar.
Do volume residual, há que se destacar o dióxido de carbono (CO2), gás esse que, apesar da
pouca expressividade, tem grande importância nos processos que se desenvolvem na atmosfera e
demais ambientes da superfície terrestre. Ao contrário desse último, tanto o N2 como o O2 têm
pouca importância nos processos que se desenvolvem na atmosfera. Mais à frente, especificaremos
o papel de cada um desses elementos.
Um aspecto ainda pouco esclarecido nos estudos atmosféricos é o seu alcance em termos
de altitude. Há quem defenda que a atmosfera chegue a ter por volta de 1.000 km, mas isso
não é consensual entre os pesquisadores que se dedicam ao estudo desse tema. O fato é que,
independentemente do alcance que a atmosfera venha a ter, o que interessa ao nosso estudo é a
porção na qual ocorrem os fenômenos climáticos.
Cerca de 99% de toda a matéria existente na atmosfera encontra-se concentrada nos primeiros
32 km de altitude.

O nitrogênio (N2)
O nitrogênio do ar é caracteristicamente estável em volume em toda a atmosfera, é inerte e,
ainda que abundante, praticamente inútil aos processos climáticos, à respiração e à fotossíntese,
apesar de ter um papel importantíssimo para os seres vivos. As bactérias nitrificantes existentes na
superfície do solo convertem o nitrogênio em amônia e nitrato, disponibilizando estes diretamente
às plantas e indiretamente aos animais.
Por sua vez, as bactérias diazotróficas, que vivem no interior dos nódulos formados em raízes, caules
e galhos das plantas, também são fixadoras de nitrogênio, transferindo parte deste também às plantas
e ao resto da cadeia alimentar. As plantas absorvem os nitratos e os utilizam para produzir as proteínas.
A devolução do nitrogênio à atmosfera, na forma original de N2, ocorre graças à ação de
outros tipos de bactérias, chamadas Pseudomonas denitrificans (desnitrificantes).
Na ausência de oxigênio atmosférico, essas bactérias usam o nitrato (NO3-) para oxidar
compostos orgânicos (respiração anaeróbia). Com isso, elas transformam os nitratos do solo em
N2 gasoso que volta à atmosfera fechando, assim, o ciclo desse elemento.

O oxigênio (O2)
Apesar de sua porcentagem bem menor do que o N2, sua importância nos processos
climáticos e ambientais é infinitamente mais relevante do que o N2. A fórmula molecular O2 do
oxigênio tem origem biológica decorrente da fotossíntese, realizada pelas plantas clorofiladas,
que utiliza como combustível para este processo o CO2, a ser detalhado em seguida, além de
água, na presença da luz.

10
Embora as próprias plantas consumam parte do O2 na sua própria respiração, a quantidade
liberada em forma de gás pode ser de dezenas de vezes mais o volume consumido, compensando
também aquele utilizado na respiração aeróbia, participando na conversão de nutrientes em
energia intracelular dos outros seres vivos ou na decomposição desses e, ainda, na oxidação de
minerais da superfície.

O argônio (Ar)
A origem do Ar deve-se ao decaimento radioativo do isótopo potássio (K), o que promove
a sua migração como gás para a atmosfera desde a formação da Terra a cerca de 4,5 bilhões
de anos. Assim como o N2, o Ar, apesar do volume considerável, é inerte e não participa dos
processos bioquímicos que ocorrem na superfície.

O dióxido de carbono (CO2)


O dióxido de carbono CO2, ou gás carbônico, apesar da sua aparente pequena expressão
percentual na atmosfera, apenas 0,035%, é um elemento de extrema importância tanto no
que diz respeito aos fenômenos climáticos, quanto nos processos bioquímicos.
O CO2 é um dos elementos constituintes do processo de fotossíntese e, portanto, sendo
absorvido por aquele processo e devolvido à atmosfera por meio da respiração diretamente
pelas plantas e indiretamente pelos seus consumidores, também desempenha um papel físico-
químico fundamental na atmosfera.
O CO2 é denominado de “gás do efeito estufa” pelo fato de ser, ao lado do vapor d’água e
do metano, um eficiente absorvedor de energia radiante (de onda longa) emitida pela Terra.
Essa energia proveniente do Sol e que no mesmo instante interage de modo diverso nas
várias porções da superfície, é devolvida pela superfície da Terra na faixa de 1 a 30 micra de
comprimento de onda, praticamente absorvidos pelo vapor d’água e pelo CO2.
Ocorre que cálculos feitos em pesquisas, desde a década de 1960, suspeitam que o percentual
de CO2 na atmosfera esteja sendo aumentado, isto é, a quantidade liberada não é consumida na
mesma proporção. Como o CO2 é um bom absorvedor de radiação infravermelha, acredita-se
que o efeito estufa natural esteja sendo influenciado pelas atividades humanas e que futuramente
as medias térmicas da superfície terrestre possam ser alteradas devido a essa influência.

O Ozônio (O3)
O Ozônio (O3) é a forma triatômica do oxigênio que respiramos, que é diatômico (O2).
O O3 tem presença relativamente pequena e distribuição irregular concentrando-se entre 10 e
50 km com um pico a cerca de 25 km. Sua distribuição varia também com a latitude, estação do
ano, horário e padrões de tempo, podendo estar ligada a erupções vulcânicas e atividade solar.
A importância do O3, apesar de sua baixíssima percentagem de ocorrência, apenas
0,000007% do volume total da atmosfera seca, ele é considerado relevante, pois oferece um
obstáculo à radiação ultravioleta do Sol, altamente perigosa aos organismos vivos na superfície.

11
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

A origem da água na superfície terrestre


A água, que consideramos existir na superfície terrestre, mede aproximadamente
1,4 x 1015 metros3. Ela tem origem geológica tão antiga quanto à própria Terra e até ao
Universo. A partícula primordial formada a partir do “Big Bang”, há cerca de 15 bilhões de
anos foi o hidrogênio, o qual, com o tempo, formou aglomerados cada vez mais densos. Um
desses aglomerados é o próprio Sol que se formou a cerca de 13 bilhões de anos, sendo a
partir daí orbitado por “nuvens” de poeira e gases como o hidrogênio, o hélio e o oxigênio.
Há certa controvérsia a respeito da origem da água na superfície terrestre. De um lado,
temos os que acreditam que tenha se desprendido das rochas, resultado do adensamento e
esfriamento da poeira cósmica que orbitava o Sol. De outro, os que defendem que a água
(H2O, ou, H-O-H) surgiu do choque de asteroides, cometas e outros corpos sobre a Terra.
Recentemente, uma pesquisa da área de astrobiologia defende que 35% a 38% da água da
Terra teve origem nos embriões planetários que a formaram; 60% nos asteroides; e de 2% a
5% nos cometas (Zolnerkevic, 2009).

O ciclo da água
O conceito de ciclo hidrológico representa a ideia de um sistema fechado aplicado às
mudanças de estados físicos da água, a saber: gasoso, líquido e sólido. Entre um estado e o
outro, a água participa de um sem número de processos biológicos e geológico-geomorfológicos
como pode ser observado na Figura 1.
Figura 1. Ciclo hipotético da água

12
É necessário ressaltar que os estados da água não estão, nem de longe, equitativamente
representados. O Quadro 2 mostra a distribuição da água na superfície terrestre e sua
distribuição irregular entre os diversos ambientes incluindo a atmosfera.

Quadro 2. Distribuição da água e seus estados na superfície

Reservatório Volume
Rios 0.0001
Atmosfera 0.0010
Solos 0.0050
Lagos salinos e mares interiores 0.0018
Lagos de água doce 0.0080
Água subterrânea 0.6150
(até 4 km de profundidade)
Calotas de gelo e glaciares 2.1500
Oceanos 97.2119
Total 100.0000
Fonte: SKINNER, B. J. & PORTER, S. C. (1987). “Physical Geology”. New York, John Wiley & Sons, p: 240.

Estrutura física da atmosfera

Ressalte-se, desde já, que a maioria dos processos químico-físicos e dos fenômenos
atmosféricos se dá devido à inter-relação entre a atmosfera e o Sol. Neste, é que se encontra
a fonte de energia que é transmitida à atmosfera na conversão de hidrogênio em hélio.

A atmosfera não é, como já foi mencionado, uma estrutura compacta e homogênea, pelo
contrário, ele é extremamente variável e dinâmica, quer dizer, o fato de ser um agregado de
gases acaba refletindo as características destes, ou seja, pode apresentar certa volatilidade, é
compressível e tem capacidade de dilatação ou expansão.

O fato de ser compressível, nas suas porções mais próximas da superfície terrestre ocorre
um adensamento muito maior do que nas suas porções mais elevadas. Quanto a isto, Ayoade
afirma que

“A pressão atmosférica diminui logaritmicamente com o aumento da altitude.


A pressão em um ponto na atmosfera é o peso do ar verticalmente acima da
unidade de área horizontal centralizada naquele ponto. Em outras palavras, é
a força direcionada para baixo sobre a unidade de área horizontal resultante
da ação da gravidade sobre a massa de ar situada verticalmente”. (McIntosh e
Thom, 1969 apud AYOADE, 1975, p. 18)

13
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Em termos quantitativos, ao nível do mar a pressão do ar é a maior possível (1.013,25


milibares ou mb) e a 9.000 metros, a altitude do Monte Everest, a pressão é de 300 mb.
Em termos de densidade, em cerca de 5,5 km de altitude a densidade do ar é a metade da
encontrada ao nível do mar. A 16 km é de apenas 10% e a cerca de 30 km, a densidade do
ar sofre uma rarefação para apenas 1%.
A Figura 2 representa o que se atribui à variação de densidade e pressão, conforme a
altitude na superfície terrestre.
Figura 2. Relação geométrica analítica pressão atmosférica/altitude

Thomson Highter Education

O fato de haver situações de pressão atmosférica diferenciada na superfície terrestre é


de fundamental importância para a atmosfera, pois essas diferenças colocam os fluidos,
especialmente o ar, em movimento produzindo os ventos. As zonas mais aquecidas apresentam
pressões mais baixas e as mais frias, pressões mais altas. Os ventos sopram das zonas de alta
pressão para as zonas de baixa pressão.

Subdivisão dos estratos verticais atmosféricos

Estudos de radiossonda permitiram estabelecer uma subdivisão da atmosfera em estratos,


segundo o comportamento térmico desses. Assim, a atmosfera compreende os seguintes
estratos, representados a seguir pela Figura 3.
O estrato mais próximo da superfície, denominado de Troposfera, contém aproximadamente
75% de todo o material gasoso que compõe a atmosfera, praticamente todo o vapor d’água
disponível, pois este, quase ausente acima dos 10 a 12 km de altitude, surge da baixa atmosfera
a partir da evapotranspiração da água da superfície terrestre e é levado para os estratos
mais altos por turbulência, mais eficiente abaixo dos ao km. A Troposfera retém também
praticamente toda sorte de aerossóis existentes e, portanto, é a faixa atmosférica na qual
realmente ocorrem os fenômenos climáticos propriamente ditos.

14
Do nível do mar ao limite superior da troposfera, as médias térmicas diminuem cerca de
6,5ºC por km. Seu limite superior é demarcado por uma faixa que alcança a casa dos 16 km
de espessura na faixa sobre o Equador e 8 km sobre os polos, denominada de Tropopausa.
Nesta, as condições de temperatura simplesmente se invertem.
Acima da Tropopausa, encontramos a Estratosfera, que se estende desde o limite com aquela
até uma altitude de 50 km. Ao contrário do que ocorre com a Troposfera, na Estratosfera,
as temperaturas sobem acompanhando a altitude, devido à presença do ozônio (Ozonosfera),
excelente absorvedor de radiação direta.
No limite superior da Estratosfera, ocorre uma camada de transição denominada de
Estratopausa, na qual, segundo Ayoade (1975) tem início o que se denomina de Atmosfera
Superior. Nesta, ocorre a Mesosfera, na qual, assim como ocorre com a Troposfera, as
temperaturas diminuem até o limite de 80 km, quando chegam aos -90ºC.
Entre 80 e 90 km, onde a pressão atmosférica cai para a casa dos 0,01 mb, ocorre um
estrato de nome Mesopausa. A partir dele, encontramos a Termosfera. Como o seu próprio
nome indica, nesse estrato da atmosfera, as temperaturas aumentam significativamente em
relação aos estratos mais baixos decorrentes da absorção da radiação ultravioleta por parte do
O2 atômico. Acima dos 100 km, na Ionosfera, a atmosfera tem baixíssima densidade sofrendo
fortemente a ação da radiação ultravioleta e dos raios-x, resultando em elevada ionização dos
elementos presentes. Essa particularidade favorece as transmissões de rádio que ocupam as
frequências de ondas eletromagnéticas dessa camada da atmosfera.
A partir do limite superiro da Termosfera ocorre o que se tem convencionado chamar de
Exosfera. Uma zona de baixíssima densidade e formada basicamente de nuvens rarefeitas de
hélio, hidrogênio e oxigênio, que tem interface com o espaço sideral propriamente dito.
A Figura 3 representa as subdivisões entre os diversos estratos que compõem a atmosfera
terrestre.
Figura 3. Subdivisão térmica dos estratos da atmosfera terrestre

2012books.lardbucket.org

Há, ainda, que se considerar a possibilidade de um estrato denominado de Magnetosfera


que consiste no próprio espaço interplanetário, cujo limite varia em torno de 60.000 a
100.000 km da Terra.

15
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Forma e dimensões astronômicas da superfície terrestre

A área total da superfície da terra é da ordem de 510,1 km². Entretanto, não se trata de
uma esfera perfeita. Enquanto a circunferência equatorial é de 40.075 km, e a do círculo que
passa pelos polos, tem 40.008 km. Geometricamente, podemos afirmar que a Terra é um
sólido elipsoidal, assim como afirmava Newton, em 1687, com achatamento polar.
A superfície terrestre também é caracterizada por uma irregularidade na qual o extremo de
altitude máxima em terras emersas é o Monte Everest com seus 8.848 metros de altitude sobre o
nível do mar. A maior depressão emersa está no Mar Morto, entre Israel, Jordânia e Cisjordânia,
onde temos a altitude de -395 metros. Se considerarmos a superfície como um todo, incluindo
aquelas áreas sob o nível dos oceanos, a maior depressão é a Fossa das Marianas no Pacífico
nordeste com profundidades de –11.022 metros em relação ao nível do mar.
Outro aspecto a ser levado em conta em Cartografia são os movimentos terrestres.
Excetuando-se os mais relativos como a Tectônica de Placas que chega a mover algumas
porções da superfície em até 10 centímetros por ano, temos dois movimentos astronômicos
de grande relevância.
A Rotação ou Revolução: movimento que a Terra faz ao redor de si mesma, no sentido
Oeste-Leste. Esse movimento tem uma velocidade de 1.674 km/h. Uma volta completa da
Terra leva 23 horas, 56 minutos e 4,09 segundos. Esse tempo é chamado de “dia sideral”.
Outro movimento que a Terra faz é a Translação, ou seja, a órbita ao redor do Sol. Esse
movimento tem uma velocidade média de 107.208 km/h. Uma volta completa da Terra ao redor
do Sol é efetuada em 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45,97 segundos. Este é o “ano sideral”.
Ao contrário do que os números atribuídos à órbita ao redor do Sol poderiam indicar, este
não ocorre sempre na mesma velocidade, pois o movimento de Translação não é um círculo
perfeito, mas de uma órbita elíptica, descoberta por Johannes Kepler (1571 – 1630).
O movimento como um todo pode ser subdividido em duas situações. No Afélio, em julho,
a Terra assume a maior distância em relação ao Sol que é de 152,1 milhões de km. Já no
Periélio, em Janeiro, a Terra encontra-se na menor distância possível em relação ao Sol, que
é de 147,1 milhões de km.
O conjunto do movimento e os estágios mais importantes estão registrados na Figura 4.
Figura 4. Esquema do movimento orbital da Terra

16
É claro que, nas duas situações opostas da órbita, a velocidade do movimento também
muda, tornando-se mais lenta no Afélio e mais rápida no Periélio.

Apesar de ambos os movimentos serem independentes e ocorrerem a velocidades distintas,


há uma consideração de grande importância que devemos levar em conta: não percebemos
nenhum deles por meio dos sentidos.

Ao contrário do que se afirma a respeito do movimento Leste-Oeste, ou do nascente ao


poente, do Sol, em verdade, é a Terra que gira na direção inversa. A nossa perspectiva
sensorial inverte a ordem do movimento, pois estamos nos movendo juntos com a Terra. O
“movimento” do Sol resulta do conceito astronômico de paralaxe.

Imagine-se dentro de um veículo, observando a paisagem a partir da janela. Admitir que o


Sol move-se no sentido Leste-Oeste, seria mais ou menos equivalente a admitir que os objetos
vistos da janela do veículo estão se movendo para trás deste. Essa experiência é a realização
da paralaxe.

O nascer, o percurso no céu e o pôr do Sol que se apresentam à perspectiva de um


observador na superfície terrestre são, na verdade, a progressão do movimento de Rotação
da Terra.

Além das informações anteriores, devemos considerar também as implicações que a


combinação dos movimentos de Rotação e da Elíptica causa aos elementos que compõem a
superfície terrestre e que serão representados nos mapas.

Não é exatamente essa a razão das variações climáticas chamadas mudanças de “estações”
sazonalmente observadas a cada três meses. O que determina as variações térmicas na
superfície terrestre são as oscilações na radiação solar sobre a superfície, promovidas pela
mudança de posição da Terra em relação ao eixo da Elíptica e a manutenção da inclinação do
eixo de Rotação em relação àquele (Figura 5).

Figura 5. Relação geométrica entre os ângulos do movimento de rotação e da Órbita da Terra ao redor do Sol.

Fonte: adaptado de Varejão (2006)

Note, na Figura 4, que entre o eixo da Rotação e o da Elíptica, há uma diferença de 23°27’ (vinte
e três graus e vinte e sete minutos). Essa diferença de ângulo reflete uma série de fatores ambientais
na superfície terrestre, incluindo as mudanças climáticas entre as estações do ano; a definição de
diversos aspectos socioculturais; referências no calendário mundial entre outros aspectos.

17
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Se compararmos as figuras 3 e 4, podemos constatar que essa diferença é responsável


pela oscilação da intensidade da radiação solar entre os hemisférios, pois é justamente essa
oscilação da radiação em relação aos hemisférios que promove as mudanças das estações, nas
datas abaixo correspondentes ao esquema da Figura 1.

Solstício de Verão (21 de Dezembro) - radiação perpendicular ao Trópico


de Capricórnio (23°27’ Sul);
Equinócio de Outono (21 de Março) – radiação solar perpendicular ao
Equador (0°);
Solstício de Inverno (21 de Junho) – radiação solar perpendicular ao
Trópico de Câncer (23°27’ Norte); e
Equinócio de Primavera (23 de Outubro) – radiação solar perpendicular
ao Equador (0°).

Cada uma dessas mudanças altera o ritmo e o ciclo de diversos gases, principalmente
o vapor d’água, o mais dinâmico e variável dos elementos que compõem a atmosfera.
Nas estações de solstício de inverno, é comum que ocorra a diminuição da evaporação no
hemisfério correspondente. Inversamente, no solstício de verão, devido à maior intensidade da
radiação solar, as taxas de evaporação aumentam. Essas variações também são responsáveis
pela regulação das chuvas em diversas partes da superfície terrestre.
Para exemplificar o significado de cada uma dessas datas, observe a Figura 6. Nela,
simplificamos a relação Terra-Sol em um dado instante dos movimentos de Rotação e Elíptica
da Terra, que corresponderia, hipoteticamente, ao dia 21 de Dezembro, isto é, o Solstício de
Verão no Hemisfério Sul.
Figura 6. Correlação entre os movimentos de rotação e Elíptica da Terra em um dado instante no dia 21 de Dezembro (sem escala).

Adaptado de educacional.com.br

O destaque na imagem (retângulo cinza) foi posicionado ao lado, tendo sofrido uma rotação
de 90°. Note que, na data mencionada anteriormente, a radiação solar forma uma linha
perpendicular à superfície sobre a linha do Trópico de Capricórnio, em um ângulo de 90°
representado pelo triângulo vermelho.
É importante salientar que a Terra tem sua forma arredondada e o seu eixo de Rotação
é inclinado 23°27’ em relação ao eixo da Elíptica. Assim, enquanto o dia 21 de Dezembro
demarca a entrada do Solstício de Verão para todo o Hemisfério Sul, ao mesmo tempo, ele
representa do Solstício de Inverno no Hemisfério Norte.

18
O esquema da Figura 5 é o nosso modelo de referência utilizado para demarcar a entrada
do Verão para o Hemisfério Sul. Esse mesmo esquema pode ser considerado para o Solstício
de Inverno e para os Equinócios, nas outras datas correspondentes. Desse modo, utilizando a
Figura 1, podemos considerar que a radiação solar varia de intensidade entre os trópicos ao
longo do ano, alterando o comportamento das pessoas e da natureza como um todo para se
ajustar a cada uma das condições impostas pela mobilidade astronômica da Terra.

O anúncio hipotético que acabamos de observar


anteriormente chama a atenção do público para um
detalhe da oferta imobiliária que é a expressão “FRENTE
NORTE”. O setor imobiliário também trabalha com uma
VENDO informação astronômica que é a posição do imóvel e
Apartamento em ótimo relação à radiação solar.
estado, 75m² de área útil,
Aparentemente, os imóveis parecem estar construídos
três dormitórios, dois
banheiros, um vaga de
respeitando a espacialidade dos lotes. Entretanto, no
garagem, FRENTE NORTE. Hemisfério Sul os imóveis “Frente Norte” são mais
valorizados que os que têm a frente voltada para outras
direções. A Figura 7 representa como esse imóvel ao Sul
da linha do Trópico de Capricórnio está posicionado em
relação aos movimentos que a radiação solar apresenta
ao longo do ano.

Figura 7 A posição da radiação solar em datas de mudança de estação em uma residência ao Sul do Trópico de Capricórnio.

Fonte: elaborado pelo autor

Note, na Figura 7, que o direcionamento da radiação solar, independentemente da estação


do ano, é favorável ao imóvel situado ao sul do Trópico de Capricórnio que tem suas janelas
e portas posicionadas na direção Norte. Assim, a residência é aquecida o ano inteiro desde o
nascer até o pôr do Sol.
Construções que têm janelas e portas voltadas para outras direções serão iluminadas em
porções menores do dia, ou apenas indiretamente, como seria o caso de um edifício com as
janelas voltadas para a direção oposta à do nosso exemplo da Figura 7.
Além dos aspectos mencionados, a radiação diferenciada pela curvatura da superfície
terrestre também promove uma diferenciação latitudinal nas médias térmicas, no geral, mais
elevadas nas zonas intertropicais e mais baixas nas zonas extratropicais.

19
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Material Complementar

Caso você queira conhecer um pouco mais a respeito dos assuntos tratados nesta unidade,
seguem algumas sugestões de filmes e leituras:

Sites:
Artigos sobre a climatologia dinâmica:
http://revistageonorte.ufam.edu.br/attachments/013_TEORIA%20E%20METODO%20EM%20CLIMATOLOGIA%20-%20Oficial.pdf

http://www.mercator.ufc.br/index.php/mercator/article/viewFile/289/235
http://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4248659.pdf

Comparações entre as abordagens clássicas e dinâmicas da climatologia:


http://www1.eesc.usp.br/ppgsea/files/Ref2011_ABORDAGENS_CLASSICA_E_DINAMICA_DO_CLIMA.pdf

http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciTechnol/article/download/5498/5498
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/revistaabclima/article/download/28586/20848

20
Referências

AYOADE, John O. Introdução à climatologia para os trópicos. 9. ed. Bertrand Brasil,


Rio de Janeiro, 1975.

NIMER, E. Climatologia do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1989.

SANT’ ANNA NETO, João Lima. Por uma geografia do clima: antecedentes históricos,
paradigmas contemporâneos e uma nova razão para um novo conhecimento. Terra Livre. n.
17, 2°semestre, p. 49-62. São Paulo, 2001.

ZAVATTINI, João Afonso. O paradigma da análise rítmica e a climatologia geográfica


brasileira. Geografia. v. 25, n. 3, p. 25 – 44. Rio Claro, 2000.

21
Unidade: Atmosfera: estrutura e funcionamento

Anotações

22

Você também pode gostar