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Urbanização e

Meio Ambiente
Material Teórico
A Questão da Água em Espaços Urbanos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Dra. Vivian Fiori

Revisão Textual:
Profa. Esp. Márcia Ota
A Questão da Água em Espaços Urbanos

• Introdução
• Os Usos da Água no Brasil
• Tratamento de Água e Esgoto
• Desperdício de Água no Brasil
• As Enchentes / Inundações
• Material Complementar

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Analisar a problemática da água em relação ao consumo, tratamento
e distribuição.
· Discutir a questão das enchentes em espaços urbanos.

ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, você irá estudar a existência da água em espaços urbanos,
enfatizando a poluição, consumo e distribuição da água, além da questão
das enchentes.

Leia, atentamente, o conteúdo disponibilizado e o material complementar e


procure relacioná-la à sua futura prática profissional.

Para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais interativo é


fundamental assistir à videoaula e realizar a atividade de fórum e sistematização.
Cada material disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado.
UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Contextualização
Leia atentamente o texto a seguir:

A água é um recurso natural essencial para a sobrevivência de todas as espécies que habitam
a Terra. No organismo humano a água atua, entre outras funções, como veículo para a troca
de substâncias e para a manutenção da temperatura, representando cerca de 70% de sua
massa corporal. Além disso, é considerada solvente universal e é uma das poucas substâncias
que encontramos nos três estados físicos: gasoso, líquido e sólido. É impossível imaginar
como seria o nosso dia-a-dia sem ela. Os alimentos que ingerimos dependem diretamente
da água para a sua produção. Necessitamos da água também para a higiene pessoal,
para lavar roupas e utensílios e para a manutenção da limpeza de nossas habitações. Ela é
essencial na produção de energia elétrica, na limpeza das cidades, na construção de obras,
no combate a incêndios e na irrigação de jardins, entre outros. As indústrias utilizam grandes
quantidades de água, seja como matéria-prima, seja na remoção de impurezas, na geração
de vapor e na refrigeração. Dentre todas as nossas atividades, porém, é a agricultura aquela
que mais consome água – cerca de 70% de toda a água consumida no planeta é utilizada
pela irrigação.

A ameaça da falta de água, em níveis que podem até mesmo inviabilizar a nossa existência,
pode parecer exagero, mas não é. Os efeitos na qualidade e na quantidade da água disponível,
relacionados com o rápido crescimento da população mundial e com a concentração dessa
população em megalópoles, já são evidentes em várias partes do mundo. Dados do Fundo
das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam
que quase metade da população mundial (2,6 bilhões de pessoas) não conta com serviço de
saneamento básico e que uma em cada seis pessoas (cerca de 1,1 bilhão de pessoas) ainda
não possui sistema de abastecimento de água adequado. As projeções da Organização das
Nações Unidas indicam que, se a tendência continuar, em 2050 mais de 45% da população
mundial estará vivendo em países que não poderão garantir a cota diária mínima de 50
litros de água por pessoa. Com base nestes dados, em 2000, os 189 países membros da
ONU assumiram como uma das metas de desenvolvimento do milênio reduzir à metade a
quantidade de pessoas que não têm acesso à água potável e saneamento básico até 2015.

Mesmo países que dispõem de recursos hídricos abundantes, como o Brasil, não estão livres
da ameaça de uma crise. A disponibilidade varia muito de uma região para outra. Além disso,
nossas reservas de água potável estão diminuindo. Entre as principais causas da diminuição
da água potável estão o crescente aumento do consumo, o desperdício e a poluição das
águas superficiais e subterrâneas por esgotos domésticos e resíduos tóxicos provenientes da
indústria e da agricultura.

Fonte: Trecho literal extraído de MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Consumo


sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC,
2005, p. 27-28. Disponível em: https://goo.gl/o9Ls9L. Acesso em 07/08/2015.

Como aponta o texto, há muitos problemas e escassez de água pelo mundo.


Leia o texto da disciplina e conhecerá mais sobre as situações existentes no Brasil.

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Introdução
Nesta unidade, traremos a discussão sobre a importância da água para os diversos
usos, enfatizando a questão do uso urbano da água, os problemas de poluição, o
tratamento, o esgoto e a problemática das enchentes nos espaços urbanos.

Os Usos da Água no Brasil


Observe os dados na tabela 1, sobre a distribuição da água no planeta Terra. A
maior parte da água existente no planeta Terra é proveniente dos oceanos (mais
de 90%). Além disso, parte das águas estão congeladas e há outras que estão em
rios e lagos, águas subterrâneas etc. E da ínfima parte de água doce (2,53%) muitas
estão poluídas.
Tabela 1: Distribuição da Água na Terra
% na Hidrosfera % de Água Doce
Oceanos 96,5 --
Subsolo 1,7 ---
Água doce no Subsolo 0,76 30,1
Umidade do Solo 0,0001 0,05
Glaciares e Cumes Gelados 1,74 68,7
Lagos: Água Doce 0,007 0,26
Lagos: Água Salgada 0,006 ---
Pântanos 0,0008 0,03
Rios 0,0002 0,006
Biomassa 0,0001 0,003
Vapor D´água 0,001 0,04
Água Doce 2,53 100
Total 100 ---
Fonte: Unesco & WWAP (2003:68). RIBEIRO, 2008, p. 25.

Desse modo, da água para consumo humano resta uma pequena porcentagem
e, em muitos casos, há a dificuldade de acesso à essa água ou sua qualidade não é
adequada, podendo estar poluída ou contaminada.
Já no Brasil, é importante considerar qual é o arranjo ecológico e/ou quadro
natural do território brasileiro, em suas feições regionais e paisagísticas, e como
estas foram sendo apropriadas social, política e culturalmente por diferentes grupos
ao longo de sua história.
É importante considerar a dimensão natural e ecológica, mas, ao mesmo tempo,
é essencial levar em conta como ela é apropriada pelos diferentes atores sociais,
entre eles: o Estado, com os diferentes níveis de governo (federal, estadual e
municipal); os donos dos meios de produção (indústria; agroindústria); proprietários
fundiários (proprietários de terras); as comunidades tradicionais (caiçaras, indígenas
etc.), os usos nas cidades, entre outros.

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Com a maior parte do seu território situado entre a linha do Equador e o Trópico
de Capricórnio, o Brasil, realmente, pode ser definido como “país tropical”, como
é popularmente chamado.

A disposição do território, mais extenso no sentido Norte-Sul do que no Leste-Oeste,


faz do Brasil, no entanto, um país com diferenças fundamentais entre suas regiões, no
que se refere ao clima e vegetação. Além disso, implica também em potencialidades no
que se refere aos recursos hídricos e tipos de produção agrícola tropical.

Existem inúmeros usos da água no Brasil e no mundo, por isso há uma disputa
por diferentes agentes sociais pela água doce, havendo inclusive disputas territoriais
entre países ou lugares devido ao acesso à água.

Entre os diferentes tipos de uso destacamos alguns, a saber: o uso do consumo


humano domiciliar; o uso das indústrias; para irrigação na agricultura; para os
animais beberem; o uso da água para atividade de lazer; para produção de energia
elétrica; como forma de transporte etc.

Há disputas dos diferentes usos da água e mesmo para o consumo, observa-se


que há uma tensão entre os diferentes interesses desse consumo e dos territórios
que o disputam.

Conforme nos explica Wagner Ribeiro:


As múltiplas propriedades da água permitem os diversos usos pela
espécie humana, resultando em uma das mais graves tensões ambientais
atuais: a diferença entre o ritmo natural de reposição da água e o de
desenvolvimento da sociedade consumista de bens materiais. De um lado,
conhecidas médias pluviométricas, que são mensuradas e redimensionadas
a cada chuva. De outro, a crescente produção econômica. Uma oscilação
importante na oferta de chuvas obriga a uma revisão de metas de produção
no campo e, cada vez mais, dificulta o abastecimento de alimentos e
também de mercadorias nas cidades (RIBEIRO, 2008, p. 24).

No Brasil, o governo federal estabelece normas como poderão ser feitos esses
diferentes usos e por quais agentes sociais. Em nível federal, quem regula esta
temática é a Agência Nacional de Águas (ANA), que estabelece as condições tanto
para o uso e consumo da água, quanto para o uso de energia elétrica e outros.

Observe, na figura 1, que o maior uso de água consumida no Brasil é para


agricultura (72%), para atividades urbanas, principalmente domiciliares (excetuando-
se à atividade industrial) é de 9% do total. Contudo, a maior parte da população
mora nas cidades no Brasil.

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Figura 1 - Vazão de Água Consumida - Brasil
Fonte: Agência Nacional de Águas, 2015

Além da ANA, há também a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que


cuida especificamente sobre a questão de energia elétrica, entre elas, a produzida
pelas hidrelétricas, ou seja, a partir das represas provenientes de rios brasileiros.

Conforme comenta a Agência Nacional de Águas (ANA), a distribuição dos


recursos hídricos superficiais no Brasil é bastante desigual:
A disponibilidade hídrica superficial no país é de 91.300 m³/s e a vazão
média equivale a 180.000 m³/s. A distribuição dos recursos hídricos
superficiais, entretanto, é bastante heterogênea no território brasi¬leiro:
enquanto nas bacias junto ao Oceano Atlântico, que concentram
45,5% da população total, estão disponíveis apenas 2,7% dos recursos
hídricos do país, na região Norte, onde vivem apenas cerca de 5% da
população brasileira, estes recursos são abundantes (aproximadamen¬te
81%). A disponibilidade hídrica subterrânea (reserva explotável) no país
corresponde a 11.430 m³/s (ANA, 2015, p. 29).

Nas cidades do semiárido nordestino, por exemplo, os baixos índices de


precipitação e sua irregularidade, aliado à sua condição hidrogeológica faz
com que haja necessidade de construção de açudes tanto na área rural quanto
urbana. Na região Nordeste, há uma variação paisagística quando percorremos
desde a costa leste até o sertão. Há a Zona da Mata, originalmente coberta
pela Mata Atlântica, que historicamente foi devastada pelo cultivo intensivo da
cana-de-açúcar. Indo para oeste, há uma região de transição, o Agreste, onde
ocorre uma redução da pluviosidade, que se acentua ao chegarmos no centro
da região – o Sertão (vide fig. 2).

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Figura 2 - Rio Temporário no Sertão de Alagoas, Major Izidoro


Fonte: pensamentoverde.com.br

Definir, portanto, se existe escassez ou estresse hídricos torna-se um fator


importante, sobretudo nas áreas urbanas:
Cada classificação proposta para quantificar a escassez ou o estresse
hídrico oferece vantagens e dificuldades. O conceito de escassez hídrica
aponta lugares onde existe dificuldade de acesso à água em quantidade e
qualidade adequada. Já o estresse hídrico depende da informação correta
do volume consumido. Isso exige um rigoroso sistema para quantificar o
volume de água usado todos os anos, o que também não é simples nem
barato. O fator de uso do fluxo da bacia é o indicador mais complexo
porque exige um apurado conhecimento da dinâmica de cada bacia
hidrográfica, além de não distinguir os usos da água. Se 70% da água de
uma bacia for usada para gerar hidroeletrecidade, por exemplo, seu reuso
pode ser total se forem tomados os devidos cuidados após sua passagem
pelas turbinas (RIBEIRO, 2008, p. 71).

Precisamos considerar que há fatores de ordem natural em relação à esta questão


dá água, caso da dinâmica da bacia hidrográfica, da quantidade de pluviosidade
(chuva) existente, bem como o de fatores de ordem social, econômica e política,
com seus diferentes usos da água.

Garantir água para consumo humano nas grandes cidades deve ser prioritário, já
que se trata de atendimento e necessidades básicas da população. Mas é necessário
considerar a grande diversidade geoclimática no Brasil, a distribuição da população
no território brasileiro e as situações de urbanização das últimas décadas.

Nas áreas litorâneas, embora com clima tropical úmido e menor déficit hídrico
abriga grandes concentrações urbanas e é composta de bacias hidrográficas de
pequeno porte. Nas grandes metrópoles do Sudeste, há maior dinamismo econômico,
grande densidade de ocupação e diversificadas formas de disputas pela água.

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Para exemplificar as disputas, recentemente, devido à escassez hídrica no Estado
de São Paulo e, sobretudo, na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), houve
casos de disputa da água, principalmente no sistema chamado Cantareira.

Tal situação serve como exemplo de como a água é fundamental e, ao mesmo


tempo, uma questão complexa, já que o Sistema Cantareira, que abastece parte da
RMSP, tem águas provenientes de Minas Gerais, cuja água vai sendo bombeada,
num sistema técnico, para as represas do sistema até ser tratada e abastecer os
moradores, indústrias etc. da região.

Este sistema foi autorizado no período da criação das Regiões Metropolitanas


(RMs) no Brasil, permitindo que para o abastecimento dessas regiões, pudessem
ser trazidas águas de outros lugares.

A geógrafa Vanderli Custódio comenta especificamente esta situação:


Este último sistema – o Cantareira - uma obra imensa, promoveu a
reversão das águas da Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba, ao norte,
para atendimento à demanda da Grande São Paulo. Até os dias atuais
há conflitos entre os usuários de ambas as bacias, afinal se as atividades
econômicas, as cidades e a população da região de Piracicaba, continuarem
em crescimento, a água se tornará escassa, porém, sem ela, 60% da
população da RMSP ficariam sem água potável. Mas o entendimento da
opção tomada, ao invés de se proceder ao tratamento das águas da Bacia
do Alto Tietê, passa por aspectos políticos nacionais dos anos sessenta
influenciadores da urbanização-processo e das cidades-formas de todo o
país, sobretudo da metrópole paulistana (CUSTÓDIO, 2012, p. 76).

Assim como a gestão do consumo da água é complexa, há também outro


problema no Brasil que é a falta de redes de esgotos na maior parte das cidades
brasileiras, situação que vamos tratar a seguir.

Tratamento de Água e Esgoto


Além da pouca disponibilidade de água doce superficial em áreas urbanas, há
casos, por exemplo, de águas, que seriam, a princípio, potáveis para consumo
humano e que, no entanto, devido à poluição e contaminação, ficam inapropriadas.

Esta contaminação e poluição, geralmente, são provenientes de indústrias, de


esgotos domiciliares, de resíduos sólidos e líquidos que são lançados nos efluentes,
de modo que impossibilitam ou encarecem o uso da água.

Se no Sudeste e Sul do Brasil há muito esgoto e efluentes líquidos e sólidos


sendo lançados pela atividade industrial e dos domicílios residências, na Amazônia,
apesar da grande disponibilidade de água, nas cidades há enormes problemas com
abastecimento de água tratada e rede de esgoto, devido à falta de saneamento básico.

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Há casos em que essa água pode ser tratada e, portanto, passará por um
processo físico-químico para que possa ser consumida; tal processo ocorre nas
Estações de Tratamento de Água (ETA), como parte do saneamento básico.

Você Sabia? Importante!

Saneamento Básico
Saneamento é o conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do
meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde, melhorar a
qualidade de vida da população e à produtividade do indivíduo e facilitar a atividade
econômica. No Brasil, o saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição
e definido pela Lei nº. 11.445/2007 como o conjunto dos serviços, infraestrutura e
Instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza
urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais.
Embora atualmente se use no Brasil o conceito de Saneamento Ambiental como sendo
os 4 serviços citados acima, o mais comum é o saneamento seja visto como sendo os
serviços de acesso à água potável, à coleta e ao tratamento dos esgotos.
Fonte: https://goo.gl/wBdJrM

Como mostra o esquema da figura 3, sobre como é comumente um sistema


de abastecimento de água, ele inicia-se com a captação de água de um manancial
(local onde haja água disponível para consumo humano), sendo levada por dutos
até uma adutora e, posteriormente, a uma Estação de Tratamento de Água (ETA).
Por fim, a água é levada por dutos até um reservatório e distribuída.

Adução de
Manancial Captação ETA
Água Bruta

Adução de
Reservatório Distribuição
Água Tratada

Figura 3 - Sistema de Abastecimento de Água


Fonte: Adapatado do Acervo do Conteudista

Apesar de haver disponibilidade de água em algumas regiões e bacias


hidrográficas brasileiras, muitos rios encontram-se poluídos, principalmente em
torno das grandes cidades, onde não há tratamento dos efluentes (esgoto) e este é
despejado na maioria das vezes in natura.

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Aprofundando o Tema:

Tratamento de Água
Segundo o Ministério da Saúde, para que a água seja potável e adequada ao consumo
humano, deve apresentar características microbiológicas, físicas, químicas e radioativas que
atendam a um padrão de potabilidade estabelecido. Por isso, antes de chegar às torneiras das
casas, a água passa por estações de tratamento, onde são realizados processos de desinfecção
para garantir seu consumo sem riscos à saúde. Após chegar à estação de tratamento, a água
passa basicamente pelas seguintes etapas:

1. Adição de coagulantes: consiste em misturar à água substâncias químicas (sulfato de


alumínio, sulfato ferroso etc.) e auxiliares de coagulação que permitem a aglutinação das
partículas em suspensão.

2. Coágulo-sedimentação: a água, já com coagulantes, é conduzida aos misturadores


(rápidos e lentos) que promovem a formação de flocos entre o íon alumínio ou ferro
trivalente e as partículas presentes na água. Dos misturadores, a água passa para os
tanques de decantação, chamados de decantadores, onde permanece por um período
médio de três horas. No fundo dos tanques, depositam-se flocos que arrastam grande
parte das impurezas.

3. Filtração: após a decantação, a água segue para os filtros, unidades de areia de


granulometria variada que retêm as impurezas restantes. O filtro tem dispositivos
capazes de promover a lavagem de areia, para que o processo de filtragem não seja
prejudicado pela obstrução do leito filtrante.

4. Desinfecção: a água, após filtrada e aparentemente limpa, ainda pode conter bactérias
e outros organismos patogênicos (não são visíveis a olho nu) que podem provocar
doenças como a febre tifoide, disenteria bacilar e cólera. Torna-se necessário, então, a
aplicação de um elemento que os destrua.

Esse elemento é o cloro, aplicado em forma de gás ou em soluções de hipoclorito, numa


proporção que varia de acordo com a qualidade da água.

5. Fluoretação: para prevenir a cárie dentária; o flúor e seus sais têm se revelado notáveis
como fortalecedores da dentina. A aplicação do flúor na água, por meio de produtos
como fluossilicato de sódio ou ácido fluossilícico, é a etapa final do tratamento. Estas
substâncias químicas, no entanto, podem causar problemas à saúde se não utilizadas
criteriosamente.

Fonte: Trecho literal extraído de MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Consumo


sustentável: Manual de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005,
p. 29-30. Disponível em: https://goo.gl/MRVEbC - Acesso em 07/08/2015.

Saiba mais sobre tratamento de água no site:


Explor

https://goo.gl/5ucVik

Em relação ao esgoto, este começa a ser formado após o uso da água humana.
Os resíduos do esgoto, em geral, são divididos da seguinte maneira:

» Os que são provenientes dos domicílios (residências), que formam os


esgotos domésticos;

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

»» Os oriundos das águas da chuva são chamados de esgotos pluviais; e

»» Os produzidos pelos de esgotos industriais.

Pode haver outras fontes, mas estas são as mais comuns em áreas urbanas.
Cada tipo possui substâncias diferentes e são necessários sistemas específicos para
o tratamento dos resíduos.

Geralmente, o esgoto não tratado contém muitos vetores de doenças como:


bactérias, vírus ou fungos. Os sistemas de coleta e tratamento de esgotos são
importantes para a saúde pública, porque evitam a contaminação e a transmissão
de doenças, além de preservar o meio ambiente.

Nas casas, comércios ou indústrias, ligações com diâmetro pequeno formam


as redes coletoras. Estas redes são conectadas aos coletores-tronco (tubulações
instaladas ao lado dos córregos), que recebem os esgotos de diversas redes, como
é possível visualizar na fig. 4, a seguir.

Figura 4: Rede coletora de esgotos


Fonte: SABESP

Dos coletores-tronco, os esgotos vão para os interceptores, que são tubulações


maiores, normalmente, próximas aos rios. De lá, o destino será uma Estação de
Tratamento, que tem a missão de devolver a água, em boas condições, ao meio
ambiente, ou reutilizá-la para fins não potáveis.

Contudo, nas cidades brasileiras, a maior parte deste esgoto não é tratada.

Conforme se observa no gráfico 1, a proporção de crianças de 0 a 14 anos


vivendo em domicílios sem esgotamento sanitário em rede geral e nem com fossa
séptica chega no Brasil a 46,2%, sendo ainda maior quando se verificam os dados
apenas do Nordeste (67%). Já em relação ao abastecimento de água, os dados são
melhores quanto comparados ao do esgoto.

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Fonte: IBGE, 2011

Dessa maneira, verifica-se que ainda há muito que melhorar o Brasil, em relação
à questão das formas de destino do esgoto (esgotamento sanitário).

Desperdício de Água no Brasil


Outro problema urbano-ambiental é o desperdício de água. Há muito desperdício
de água no Brasil, tanto por conta de problemas de infraestrutura (vazamentos
etc.) quanto pelo uso excessivo nas atividades do cotidiano, seja nos domicílios ou
em atividades de serviços, comerciais e industriais. É fundamental a existência de
práticas educativas que visem a diminuir o consumo e desperdício, tanto com o
reuso da água, como do uso da água pluvial (chuvas).

Como propõe, por exemplo, o Ministério do Meio Ambiente no documento


sobre consumo sustentável em relação à água:
Que mudanças eu posso fazer nos meus hábitos no sentido de dar minha
contribuição pessoal para um consumo sustentável de água? Que soluções
coletivas podemos encontrar na comunidade que contribuam para o
consumo sustentável de água? [...] Que mudanças devemos sugerir aos
representantes do executivo e do legislativo para que caminhemos no
sentido do consumo sustentável de água? (MMA, 2005, p. 40).

Uma das práticas que ajudam a minimizar o uso da água é usar a água da chuva,
ou seja, a água pluvial. Atualmente, em algumas cidades brasileiras, vem sendo
cobrado como lei que os novos empreendimentos imobiliários tenham uso de água
pluvial e reuso obrigatoriamente.

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Você Sabia? Importante!

Uso Industrial da Água no Brasil


O uso nos processos industriais vai desde a incorporação da água nos produtos até
a lavagem de materiais, equipamentos e instalações, a utilização em sistemas de
refrigeração e geração de vapor. Dependendo do ramo industrial e da tecnologia
adotada, a água resultante dos processos industriais (efluentes industriais) pode carregar
resíduos tóxicos, como metais pesados e restos de materiais em decomposição. Estima-
se que a cada ano acumulem-se nas águas de 300 mil a 500 mil toneladas de dejetos
provenientes das indústrias. Engana-se quem pensa que apenas as indústrias químicas
são grandes poluidoras. Uma fábrica de salsichas, por exemplo, pode contaminar uma
área considerável, se não adotar um sistema para tratar a água usada na lavagem dos
resíduos de suínos.
Fonte: MMA, 2005, p. 33

É importante ressaltar a diferença entre reuso de água e uso de água pluvial.


O uso de água pluvial é proveniente da captação de água da chuva, por meio de
cisternas ou outros sistemas que aproveitem a água da chuva.

Já o reuso da água é quando se utiliza novamente uma água que pode ser
tratada ou não. É o caso, por exemplo, de uso de água da do banho para jogar na
privada, ou, ainda, de água da máquina de lavar para lavar o chão.

Hoje, existem prefeituras que se utilizam de água de reuso para lavar ruas, usar
em banheiros, entre outros usos. É importante ressaltar que se a água de reuso não
for tratada para consumo humano, só poderá ser utilizada para outros fins.

Outra medida é o uso da água pluvial (chuvas) para fins de uso não potáveis, tais
como: rega de jardim; uso na privada dos banheiros; lavagem de roupas e carros
etc. A coleta da água pluvial nas cidades pode ser feita através das calhas das
edificações, podendo ser realizado um sistema simples de coleta dos telhados ou
de áreas pavimentadas que podem ser levadas por gravidade para um recipiente.

Como há sujeira nos telhados, existem alguns meios para minimizar esta poluição
ou mediante filtros que são colocados nos recipientes ou aguardando os primeiros
minutos da chuva para só depois utilizá-la.

Outra possibilidade é o reuso da água. Como política urbana, as águas de reuso


podem ser tratadas tanto para fins não potáveis quanto potáveis, dependendo de sua
origem e grau de poluição. Podendo ser usadas, por exemplo, para lavar as ruas.
Nas casas e em condomínios de prédios, por exemplo, a água de reuso de banhos e
da máquina de lavar, pode ser usada para lavagem de chão e também nas privadas.

Outra política que vem sendo desenvolvida mais recentemente é chamada de


“pagamentos por serviços ambientais”. Trata-se de uma política ambiental que
pode ser utilizada em áreas urbanas.

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Como exemplo, citamos o caso da cidade de Nova York, cuja água de consumo
humano não é tratada, mas é potável e vem diretamente de fontes de uma cidade
a cerca de 170 km, que preserva a água e para isso recebe pagamento da cidade
de Nova York. Neste caso, o pagamento por serviços ambientais ocorre de uma
cidade para outra, e apesar dos custos este é muito menor do que seria tratar a
água para o consumo.

Desse modo, há várias práticas possíveis que podem auxiliar num menor
consumo de água nas cidades brasileiras, sendo fundamental um trabalho educativo
com a população para esta conscientização.

As Enchentes / Inundações
Outro problema, nas grandes cidades, em relação à água, são as enchentes.
Nesse caso, é importante conceituar, já que enchente ou planície de inundação é
um processo natural que ocorre no período das cheias dos rios, córregos ou lagos.

Vamos imaginar que você precise explicar o fenômeno denominado de enchente


ou inundação numa cidade fictícia chamada de Santo Amaro. Primeiramente,
é essencial conceituar e ter uma definição para estes termos. Porque sem uma
definição como saber como explicar se há ou não inundação ou enchente?

Então, segue um conceito da geógrafa Vanderli Custódio para tais termos:


[...] ambas definições contém a dimensão natural, sobre a qual se
construiu a dimensão social. Em razão disto, neste trabalho são utilizados
os termos enchente e inundação como fenômenos similares, no sentido
de representarem o extravasamento das águas de um rio do seu leito
menor para o maior e o excepcional [...] (CUSTÓDIO, 2002, p. 9).

Cheia Excepcional - Enchente

Leito Maior - Enchente Periódica

Leito Menor

Figura 5: Esquema de Enchente-Inundação de um Rio


Fonte: Adaptado de Custódio, 2002

A definição para enchente e/ou inundação, segundo a autora se refere a um


fenômeno do extravasamento da água de um corpo d’água (rio, córrego, lago ou
represa), como mostra a figura 5, acima do leito menor, extravasando-o, podendo ser
periódica ou excepcional- neste último caso quando extrapola o leito maior do rio.

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Depois, dentro da explicação das enchentes do município de Santo Amaro, é


fundamental refletir o porquê da enchente/inundação na comunidade. Isso pode
ser explicado na escala local?

Quais os fatores que interferem no rio e contribuem para a inundação? As pessoas jogam lixo
Explor

no rio? Ele está assoreado por outros motivos? As casas de Barreirinhas estão construídas
nas várzeas do rio? As casas de Barreirinhas, apesar de longe do rio, ficam numa planície?
Todos estes fatores podem, eventualmente, ajudar a explicar a inundação em Barreirinhas.

Figura 6: Esquema de Região Fictícia


Fonte: Adaptado do Acervo do Conteudista

Pode ser que existam fatores locais, mas também que este rio ou seus afluentes
venham de outro município distante e que, nesse lugar, as pessoas joguem lixo no
rio, caso dos municípios de São João, Mogi, São Miguel ou Jacuí (vide figura 6).
Observe que os rios correm das maiores altitudes para as menores; logo, os afluentes
do Rio Jacu vêm destes outros municípios.

Dessa forma, pode ser que o problema do lixo no rio que amplia a possibilidade
de inundações seja regional e não apenas local. Ou mesmo que as chuvas intensas
nas partes mais altas (cabeceiras) tenham ocorrido em Mogi (próximo 1.200 m
de altitude) e acabem chegando aos pontos mais baixos (menor altitude), caso de
Santo Amaro (810 m de altitude).

Aliás, a unidade territorial a ser considerada quando se tratam de fenômenos


relacionados a recursos hídricos é a própria bacia hidrográfica. Não se pode
pensar no rio como um elemento espacial isolado. Se há um conjunto de rios é
essencial considerá-los.

O fundamental é descobrir a lógica do fenômeno, que, neste caso, é a inundação.


Se fossemos explicar a inundação no município de Jacuí (vide figura 6), esta
poderia ocorrer, por exemplo, devido às intensas chuvas nas cabeceiras do rio
Jacuí e/ou por causa da abertura das comportas da Represa de Iguaçu, assim
como também poderia ser devido às chuvas intensas em Mogi e ao excesso de lixo

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que os moradores de Mogi e São João jogam nos córregos, fazendo com que o
rio/córrego fique assoreado (espaço do rio está ocupado por sedimentos ou lixo),
ampliando as possibilidades de inundações. Afinal, neste caso, os córregos vão se
juntando ao Rio Jacuí, que é o rio principal deste conjunto de rios, que formam
uma Bacia Hidrográfica.

Quais são as dimensões que explicam esta enchente? Primeiramente, é a natural, já que sem
Explor

chuva e rio não há possibilidade de inundação. Depois, socioeducativas, pois pode haver
problemas de jogarem lixo no rio, o que ampliará a possibilidade de inundação, entre outras
possibilidades e fatores.

Pode ser também devido à falta de políticas públicas e obras de engenharia


ou outras que visem a reduzir os problemas da inundação. Então, há diferentes
elementos e dimensões que precisam ser considerados: da esfera pública; da falta
de consciência da população; da dimensão natural etc.

Desse modo, no que se refere à questão dos resíduos sólidos como da água
(redução do consumo da água, evitar jogar resíduos nos rios etc.) é fundamental a
participação da população, compreendendo que também é parte do processo da
relação sociedade-natureza.

Nas cidades brasileiras, devido à intensa ocupação urbana e a impermeabilização


dos solos, muitas vezes, este processo é ampliado, acarretando problemas de perdas
materiais e humanas e, portanto, redundando na ampliação dos problemas sociais
das populações que vivem em área de risco.

Entende-se por área de risco toda a condição que coloque em risco a vida
humana. Assim, podemos considerar que as enchentes nas cidades e as populações
que vivem próximas aos rios e córregos são populações que vivem em área de
risco, como pode se observar na figura 7.

Figura 7 - Comunidade no Entorno do Córrego Caaguaçu- São Paulo


Fonte: Adaptado do Acervo do Conteudista

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

A questão da enchente, portanto, tem diversas dimensões- socioeconômica,


política, educacional e também natural.

Em princípio, é necessário considerar a dimensão natural, já que para haver


enchentes é necessário que existam rios, lagos ou represas e que a quantidade de
chuva leve a tais corpos hídricos a extravasar suas águas.

Outra questão concerne ao processo de urbanização que tem levado muitas


cidades brasileiras a impermeabilizar o solo, comum principalmente nas grandes
cidades onde devido à grande quantidade de prédios, casas, avenidas e ruas com
asfalto, com pouco espaço para a infiltração da água, leva ao escoamento dessa
água, que rapidamente chega aos rios ou lagos, extravasando-o.

Há também casos relacionado ao fato da população jogar lixo nos rios


diretamente ou indiretamente nas ruas e quando chove estes acabam indo para os
rios, assoreando-os, como se verifica na imagem da figura 8:

Figura 8 - Margem de Córrego na Cidade de São Paulo


Fonte: Adaptado do Acervo do Conteudista

Existem casos de moradias no entorno e até sobre rios, no Brasil. Isso aumenta os
problemas sociais e de saúde dessas populações, pois tais grupos sociais ficam mais
vulneráveis às doenças de veiculação hídrica. Caso, por exemplo, da leptospirose,
doença ocasionada por uma bactéria, cujo vetor pode ser o rato.

Finalizando esta unidade, observamos que a questão da água nos espaços


urbanos é bastante complexa, pois há diferentes usos e interesses dos diversos
agentes sociais pela utilização da água.

Além disso, há problemas de poluição das águas, de falta de rede de esgoto e


de enchentes que ocasionam problemas de saúde para a população que vivem em
tais cidades.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Poluição das águas
BASSOI, Lineu José. Poluição das águas. In: PHILIPPI, Arlindo; PELICIONI, Maria Cecília F
(orgs.). Educação Ambiental e sustentabilidade. Barueri: Manole, 2014, p. 193-214

Sites
GLOBO - JORNAL NACIONAL. Nova York investe em preservação para garantir abastecimento de água
GLOBO. JORNAL NACIONAL. Nova York investe em preservação para garantir abastecimento
de água. Edição do dia 28/11/2014.
https://goo.gl/oHqRlR

Instituto Trata Brasil


http://www.tratabrasil.org.br

Educação ambiental e água: concepções e práticas educativas em escolas municipais


FREITAS, Natália Teixeira Ananias e MARIN, Fátima Aparecida Dias Gomes. Educação ambiental
e água: concepções e práticas educativas em escolas municipais. Nuances: estudos sobre
Educação, Presidente Prudente- SP, v. 26, número especial 1, jan. 2015, p. 234-253.
https://goo.gl/8fIcFz

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UNIDADE A Questão da Água em Espaços Urbanos

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE
(MMA). Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: informe 2014. Brasília,
ANA, 2015.

CUSTÓDIO, Vanderli. Escassez de água e inundações na Região Metropolitana


de São Paulo. São Paulo: Humanitas / FAPESP, 2012.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Consumo sustentável: Manual


de educação. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC, 2005,
p. 25-40; p. 97-113. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/
publicacao8.pdf. Acesso em 07/08/2015.

RIBEIRO, Wagner Costa. Geografia política da água. São Paulo: Annablume, 2008.

RIBEIRO, Wagner. Gestão das águas metropolitanas. In: Carlos, Ana Fani Alessandri
e Oliveira, Umbelino de - Orgs. Geografias de São Paulo: as metrópoles do
século. São Paulo: Contexto, 2004.

ZOMBINI, Edson Vanderlei; PELICIONI, Maria Cecília Focesi. Saneamento


básico: estratégia para a promoção da saúde da criança. Material educativo para
apoio pedagógico. São Paulo; Faculdade de Saúde Pública, USP, 2013. Disponível
em: http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/uploads/outrosestudos/Tese-de-
Doutorado-Edson-Vanderlei-Zombini.pdf. Acesso em 15/01/2016.

INSTITUTO TRATA BRASIL: Disponível em: http://www.tratabrasil.org.br

SABESP. Disponível em: http://site.sabesp.com.br

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