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BIOFÍSICA

Vanessa de Souza Machado


Radiação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Identificar os conceitos básicos relacionados à radiação.
„„ Caracterizar as distintas aplicações acerca de radiação.
„„ Definir os efeitos biológicos da radiação.

Introdução
Você já percebeu que estamos expostos diariamente à radiação?
Quando se fala em radiação, as pessoas geralmente associam esta
palavra com algo perigoso. No entanto, radiação nada mais é do que
a emissão e propagação de energia de um ponto a outro, seja no
vácuo, seja num meio material. Isto pode ocorrer por meio de fenô-
menos ondulatórios ou por partículas com energia cinética.
Neste texto, você vai estudar essencialmente sobre o tema radia-
ção, além dos conceitos sobre o assunto, vai entender de que forma
essa energia nuclear atua no meio ambiente, no nosso corpo, sua im-
portância, bem como os cuidados que devemos ter ao lidar com a
radiação devido aos seus efeitos físicos.

Identificar os conceitos básicos relacionados à


radiação
Radiação é a proliferação de energia, sob diversas formas, originada nos
ajustes que ocorrem no núcleo atômico ou nas camadas eletrônicas do átomo,
ou, ainda, por meio da relação de outras radiações ou partículas com o núcleo
ou átomo. Em geral, as radiações são divididas em dois grupos: Radiação Cor-
puscular e Radiação Eletromagnética:

„„ Radiação Corpuscular: possui um feixe de partículas elementares ou


núcleos atômicos, tais como prótons, nêutrons, elétrons, dêuterons,
partículas alfa, entre outras.
„„ Radiação Eletromagnética: possuem campos elétricos e magnéticos os-
cilantes e se proliferam com velocidade constante no vácuo, tais como:
raios X, raios gama, ondas de rádio, luz visível, raios infravermelhos,
raios ultravioletas, etc.

Criada por Max Planck em 1900, a Teoria dos Quanta assegura que a
radiação eletromagnética é emitida e se propaga descontinuamente em pe-
quenos pulsos de energia, chamados pacotes de energia, quanta ou fótons,
(Caráter Corpuscular) esta teoria está na base de toda a física moderna.
A dualidade onda-partícula constitui uma propriedade fundamental da
mecânica quântica e consiste na aptidão das partículas subatômicas de se
comportarem ou terem atributos tanto de partículas como de ondas. Foi rela-
tada pela primeira vez pelo físico francês Louis-Victor de Broglie em 1924,
que divulgou que os elétrons apresentavam características tanto corpuscu-
lares como ondulatórias, comportando-se de um ou outro modo dependendo
do experimento específico.

Tipos de radiações
Veja agora um pouco sobre os tipos de radiação alfa, beta, gama, raios X e os
tipos de radiação ultravioleta (UVA, UVB e UVC)

„„ Radiação Alfa: as partículas desta radiação são compostas por 2 nêu-


trons e 2 prótons. As partículas Alfa, por terem carga elétrica e massa
relativamente maior, podem ser detidas com facilidade, até mesmo por
uma folha de papel. Partículas Alfa são consideradas inócuas, pois não
têm capacidade de ultrapassar as camadas externas de células da pele.
Contudo, podem penetrar no organismo através da aspiração ou por um
ferimento aberto provocando lesões graves.
„„ Radiação Beta: as partículas dessa radiação são elétrons emitidos pelo
núcleo de um átomo instável. Ao emitir uma partícula Beta, ocorre o
aumento de um próton no núcleo e a diminuição de um nêutron, con-
servando constante a massa. Essas partículas são capazes de penetrar
nos tecidos humanos e ocasionar danos à pele.
„„ Radiação Gama: esta radiação é formada por ondas eletromagnéticas
emitidas por núcleos instáveis. A emissão da radiação gama estabiliza
um núcleo instável. Radiação Gama é extraordinariamente penetrante,
sendo detida somente por uma parede de metal ou concreto.
„„ Raios X: os raios X são capazes de obterem fotografias dos órgãos
internos de humanos e de animais. Nestas fotografias, é possível di-
ferenciar os ossos do esqueleto e detectar diferentes deformações dos
tecidos. Para obter raios-X, um aparelho acelera elétrons e os faz colidir
contra uma placa de chumbo, ou outro material. Na colisão, os elétrons
perdem a energia cinética, ocorrendo uma transformação em calor e
um pouco de raios-X.
„„ Radiação ultravioleta (UV): esta radiação faz parte da luz solar que
atinge a Terra e está diretamente associada ao câncer de pele e ao en-
velhecimento da pele. Ela penetra profundamente na pele, atingindo a
derme e desencadeando reações como vermelhidão na pele, bronzea-
mento e tumores. Ela pode ser dividida em três tipos: UVA, que penetra
profundamente na pele, uma das principais responsáveis pelo fotoen-
velhecimento e pelo câncer de pele; UVB, que penetra mais superfi-
cialmente na pele e é a radiação responsável pela vermelhidão na pele
e pelas queimaduras solares; e a radiação UVC, que não atinge a terra.
A redução da camada de ozônio, considerada um filtro da radiação
UV, faz com que os raios solares cheguem ao nosso planeta com maior
intensidade. Além disso, o Brasil está situado em uma região com alta
incidência de raios ultravioleta, o que aumenta o risco de problemas.

Estrutura atômica: modelos atômicos


Diferentes experimentos no século XIX confirmaram a existência do átomo,
tornando a hipótese em teoria e essa ficou conhecida como a Teoria Atômica
de Dalton. Esta teoria indicou um modelo científico sobre o átomo, que ficou
conhecido como o Átomo de Dalton. O modelo do Átomo de Dalton sugere
que o átomo é indivisível e este modelo serviu como base para diversos traba-
lhos por muitos anos. Contudo, novas observações e experimentos demons-
traram que o átomo não era indivisível.
O modelo de Dalton não permitia justificar o motivo que em algumas so-
luções passavam corrente elétrica e outras não. Assim, para elucidar este fato,
Arrhenius imaginou que as soluções por onde não passava a corrente eram
formadas por moléculas eletricamente neutras, enquanto que as soluções con-
dutoras possuíam algumas moléculas que estariam divididas em partículas
menores, chamadas íons, alguns com carga elétrica positiva, cátions, e outros
com carga negativa, ânions. Estes íons eram responsáveis pelo transporte da
corrente elétrica.
Thomson propôs em 1904 um novo modelo de átomo, formado com carga
elétrica positiva recheada pelos elétrons, com carga elétrica negativa. O mo-
delo considera que o número de cargas negativas era igual ao da positiva,
garantindo a neutralidade. O modelo de Thomson admite a divisibilidade
do átomo e a natureza elétrica da matéria, mas algumas questões ainda não
eram claramente explicadas. Por exemplo, como era possível a retirada de um
elétron do átomo formando um íon positivo ou como um átomo poderia de
unir-se a outro átomo e formar uma molécula. Assim, os cientistas deram con-
tinuidade na procura de novos modelos de átomos. A descoberta da radioativi-
dade foi um passo fundamental para a criação de um modelo mais completo,
sendo Rutherford o cientista responsável pelo desenvolvimento deste modelo.
Ernest Rutherford, no início do século XX, utilizando a radioatividade
descobriu que o átomo não era uma esfera maciça, como sugeria Dalton. O
modelo atômico de Rutherford concluiu que o átomo era composto por um
pequeno núcleo com carga positiva neutralizada por uma região negativa, de-
nominada eletrosfera, onde os elétrons giravam ao redor do núcleo.
O movimento de rotação dos elétrons ao redor do núcleo acabou trazendo
outro conflito com relação à mecânica clássica, que diz que toda a partícula
elétrica em movimento emite energia na forma de ondas eletromagnéticas. De
acordo com a mecânica clássica, o movimento do elétron iria consumir energia
e sua velocidade de rotação diminuiria até cair sobre o núcleo. Este fenômeno
só pode ser mais bem compreendido com o uso da mecânica quântica.
O cientista Niels Bohr aperfeiçoou o modelo proposto por Rutherford, for-
mulando sua teoria sobre distribuição e movimento dos elétrons. Baseado na
Teoria Quântica proposta por Plank, Bohr elaborou os seguintes postulados:
I- Os elétrons descrevem ao redor do núcleo órbitas circulares, chamadas
de camadas eletrônicas, com energia constante e determinada. Cada órbita
permitida para os elétrons possui energia diferente.
II- Os elétrons ao se movimentarem numa camada não absorvem nem
emitem energia espontaneamente.
III- Ao receber energia, o elétron pode saltar para outra órbita mais ener-
gética. Dessa forma, o átomo fica instável, pois o elétron tende a voltar à
sua órbita original. Quando o átomo volta à sua órbita original, ele devolve a
energia que foi recebida em forma de luz ou calor.
O modelo Rutherford-Bohr não explica por que o elétron apresenta energia
constante, não explica as reações químicas, descreve órbitas circulares ou
elípticas, quando na verdade os elétrons não descrevem essa trajetória, dentre
outras restrições. Ao longo dos anos, foram realizados muitos estudos com
relação à estrutura do átomo, levando à criação de outros modelos, porém o
modelo Rutherford-Bohr ainda é o mais difundido no ensino médio.
A Figura 1 compara os diferentes modelos descritos anteriormente.

Figura 1. Modelos atômicos.

Fonte: http://portalacademico.cch.unam.mx/ alumno/quimica1/unidad2/modelos_atomicos/introduccion

Espectros atômicos
Sabe-se que cada elemento químico, em determinadas condições, emite um
espectro característico. Tal espectro é exclusivo de cada elemento. Com isso
foi possível desenvolver a Espectroscopia, um método de análise baseado
nestas emissões. Quando se fornece energia a um elétron em um átomo de
um determinado elemento, tal elétron pode “saltar” para um nível superior de
energia e, ao retornar ao seu estado inicial, emite radiação eletromagnética.
Toda a radiação eletromagnética possui uma frequência e com isto pode-se
determinar seu comprimento de onda. Cada átomo é capaz de emitir ou ab-
sorver radiação eletromagnética, somente em algumas frequências especí-
ficas o que torna a emissão característica de cada material.
Para fornecermos energia aos elétrons de um determinado material, uma
das formas de fazer é aquecê-lo em sua forma gasosa. Assim, este elemento
pode emitir radiação em certas frequências do visível, o que constitui seu
espectro de emissão.

Saiba Mais
Para saber mais sobre a radiação solar e a proteção contra os raios UV, leia o texto
“Proteção à radiação ultravioleta: recursos disponíveis na atualidade em fotoproteção”
(BALOGH et al., 2011).

Aplicações das radiações em biologia e


medicina

Esterilização de materiais cirúrgicos


A irradiação por raios gama pode ser utilizada para esterilização de produtos
nos segmentos de medicina, alimentação, embalagens, fármacos, cosméticos,
produtos veterinários, etc. A tecnologia é alternativa a métodos tradicionais
como, por exemplo, o tradicional uso de óxido de etileno.
A esterilização por energia ionizante através de raios gama consiste na
exposição dos produtos à ação de ondas eletromagnéticas curtas, geradas a
partir de fontes de Cobalto 60 em um ambiente especialmente preparado para
esse procedimento. As ondas eletromagnéticas possuem grande poder de pe-
netração, os germes podem ser alcançados onde quer que estejam, inclusive
se estiverem na embalagem lacrada.
No decorrer do processo, os produtos já embalados são encaminhados em
uma esteira para a sala de esterilização. Nesse ambiente protegido por es-
pessas paredes de concreto (bunker), encontra-se a fonte de Cobalto 60, que
emite os raios gama responsáveis pela quebra de DNA dos microrganismos.
O processo pode ser considerado similar ao de um micro-ondas, ou seja, o
produto é tratado e pode ser consumido/ utilizado imediatamente após o tra-
tamento.
O processo de esterilização de materiais na medicina tem várias utilidades
como, por exemplo, irradiação de produtos destinados a transplantes e im-
plantes, esterilização de materiais descartáveis, como luvas, seringas, agu-
lhas, gaze, máscaras cirúrgicas, entre outros.

Radiologia diagnóstica
A radiologia diagnóstica consiste na utilização de um feixe de raios X para a
obtenção de imagens do interior do corpo. O médico, ao examinar as imagens,
pode verificar as estruturas anatômicas do paciente e descobrir a existência de
anormalidades. Essas imagens podem ser tanto estáticas quanto dinâmicas,
vistas na TV em exames, por exemplo, de cateterismo para verificar o funcio-
namento cardíaco.

Radiografias
A radiografia baseia-se no fato de que o feixe de raios catódicos emitidos por
uma ampola de raios X pode atravessar de modo diferente os diversos tecidos
orgânicos e atingirem uma película a eles anteposta, gerando imagens. Como
esses raios atravessam com mais facilidade as partes aeradas e os tecidos
moles do corpo, chegam ao filme com maior intensidade e o impressionam
mais fortemente na projeção desses órgãos, gerando registros mais escuros.
Os tecidos mais densos, como os ossos, por exemplo, os retém mais e eles
chegam ao filme com menor intensidade e geram, na projeção desses órgãos,
registros mais claros. Assim, depois de revelados, os filmes mostram imagens
dos órgãos em diferentes tons de cinza. Na verdade, as imagens projetadas
correspondem a áreas de sombra dos raios X emitidos.

Medicina nuclear
A Medicina Nuclear é uma especialidade médica que realiza diagnóstico por
imagem, tratamento radionuclídico e cirurgia radioguiada. Seus exames uti-
lizam métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos para fornecer
informações que outros exames diagnósticos não conseguem. Normalmente,
os materiais radioativos são administrados por via venosa, oral, inalatória ou
subcutânea, e apresentam distribuição para órgãos ou tipos celulares especí-
ficos, não havendo risco de reações alérgicas.
Esta especialidade estuda a fisiologia do nosso organismo de acordo com a
distribuição de alguns elementos radioativos (radionuclídio) ou, outras vezes,
do radiofármaco (radionuclídio + fármaco), de acordo com sua afinidade por
determinados tecidos. A medicina nuclear estuda então a distribuição desses
radiofármacos no organismo, determinando, assim, seu estudo fisiológico.
Podemos afirmar, então, que a principal diferença dos outros exames diag-
nósticos radiológicos para a medicina nuclear é que enquanto a radiologia
estuda a morfologia, a medicina nuclear estuda a fisiologia.

Radioterapia
A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando
feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada,
em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor,
buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às
células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da
área irradiada.
As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e car-
regam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos
que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a
ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados
mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua inca-
pacidade de reprodução.
A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como
a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim
como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é
administrada.
Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a
tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser
administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se
usa a terapia externa.
Radiossensibilidade e radiocurabilidade
A velocidade da regressão tumoral representa o grau de sensibilidade que
o tumor apresenta às radiações. Depende fundamentalmente da sua origem
celular, do seu grau de diferenciação, da oxigenação e da forma clínica de
apresentação. A maioria dos tumores radiossensíveis são radiocuráveis. En-
tretanto, alguns se disseminam independentemente do controle local; outros
apresentam sensibilidade tão próxima a dos tecidos normais, que esta impede
a aplicação da dose de erradicação. A curabilidade local só é atingida quando
a dose de radiação aplicada é letal para todas as células tumorais, mas não
ultrapassa a tolerância dos tecidos normais.

Proteção radiológica: unidades de radiação


A Proteção Radiológica pode ser definida como um conjunto de medidas que
visam proteger o homem e o ecossistema de possíveis efeitos indesejáveis cau-
sados pelas radiações ionizantes. Para isso, são analisados os diferentes tipos
de fontes de radiação, as diferentes radiações e modos de interação com a
matéria viva ou inerte, as possíveis consequências e sequelas à saúde e riscos
associados. Para avaliar quantitativa e qualitativamente tais possíveis efeitos,
necessita definir as grandezas radiológicas, suas unidades, os instrumentos
de medição e detalhar os diversos procedimentos do uso das radiações ioni-
zantes. O estabelecimento de normas regulatórias, os limites permissíveis e
um plano de proteção radiológica para as instalações que executam práticas
com radiação ionizante têm por objetivo garantir o seu uso correto e seguro.
Procedimentos para situações de emergência também devem ser definidos
para o caso do desvio da normalidade de funcionamento de uma instalação
ou prática radiológica.

Efeitos biológicos da radiação


Frequentemente ficamos expostos a fontes de radiação como, por exemplo,
em radiografias e exames médicos que envolvem radioisótopos. O próprio
corpo humano é fonte de radiação, em razão dos radioisótopos naturais do
organismo, como o carbono-14.
Portanto, o efeito biológico que essas radiações podem trazer ao orga-
nismo dos seres vivos depende de muitos fatores. Entre eles, os principais
são: o tipo de radiação, a intensidade da fonte radioativa, o tipo de tecido vivo
atingido e o tempo de exposição. Analisemos os fatores:

„„ Tipo de radiação: as radiações naturais são três: alfa, beta e gama.


Dentre essas, a menos nociva aos seres vivos é a radiação alfa, pois
ela tem um baixo poder de penetração, isto é, uma capacidade muito
pequena de atravessar os materiais. A própria pele pode reter essas
partículas e praticamente não se produz nenhum efeito ao organismo.
Entretanto, as radiações beta e gama, em virtude das altas energias que
apresentam, podem interagir com as células do organismo. Isso pode
fazer com que as moléculas do corpo percam elétrons, formando íons,
ou, ainda, podem fazer com que tenham as suas ligações rompidas,
originando radicais livres, que são espécies com elétrons desempare-
lhados. Esses radicais livres podem degradar as células, causando até
reações químicas nocivas que causam uma divisão celular acelerada,
que, com o tempo, pode gerar a formação de tumores, anemias e muta-
ções genéticas. Exames de raios-X podem, em excesso, causar efeitos
biológicos também.
„„ Tipo de tecido vivo atingido: alguns tecidos são mais sensíveis que
outros, como os da medula óssea, dos órgãos reprodutores, do tecido
linfático, das membranas mucosas intestinais, das gônadas, do cris-
talino dos olhos e das células responsáveis pelo desenvolvimento em
crianças. Quanto mais jovem for o paciente, maior é o risco de ele so-
frer alterações genéticas ao se submeter a exames, como raios-X. É por
isso que se aconselha que mulheres em idade fértil somente realizem
exames, como radiografias, quando estiverem menstruadas. Do con-
trário, é necessário proteger a região que envolve os órgãos sexuais
com um avental de chumbo, pois pode haver uma gravidez ainda não
conhecida. Mulheres grávidas não devem fazer radiografias na bacia ou
no abdome. Além disso, a relação entre dosagem da radiação e efeitos
biológicos varia com a espécie de ser vivo. Por exemplo, espécies mais
simples, como as bactérias, são mais resistentes que os mamíferos.
„„ Tempo de exposição: esse fator é especialmente importante para pes-
soas que trabalham com isótopos radioativos, pois a radiação recebida
é cumulativa e os danos eventualmente provocados são irreparáveis.
Esses profissionais usam um avental de chumbo e se mantêm afastados
do equipamento no momento do disparo. Além disso, eles realizam
exames periódicos para verificar se o nível de radiação recebida pode
ou não pôr em risco a saúde da pessoa. Pessoas que realizam esses
exames somente quando necessário não precisam se preocupar.
„„ Intensidade da fonte radioativa: em casos de acidentes com vazamento
em usinas nucleares e de explosões de bombas atômicas, é liberada uma
grande quantidade de isótopos radioativos. A maioria desses isótopos
possui tempo de meia-vida curto, não causando prejuízos. Porém, os
isótopos que possuem uma meia-vida muito longa podem se fixar no
solo, na vegetação ou nas águas, permanecendo por anos no ambiente
e contaminando os organismos vivos.

Efeitos somáticos
Os efeitos somáticos classificam-se em imediatos e retardados com base num
limite, adotado por convenção, de 60 dias. O mais importante dos efeitos ime-
diatos das radiações após exposição do corpo inteiro a doses relativamente
elevadas é a Síndrome Aguda de Radiação (SAR). O efeito retardado de maior
relevância é a cancerização radioinduzida, que só aparece vários anos após a
irradiação.
O quadro clínico apresentado por um irradiado em todo o corpo depende
da dose de radiação absorvida. A unidade para expressar a dose da radiação
absorvida pela matéria é o Gray (Gy), definido como a quantidade de radiação
absorvida, correspondente a 1 Joule por quilograma de matéria.
Doses muito elevadas, da ordem de centenas de grays, provocam a morte
em poucos minutos, possivelmente em decorrência da destruição de macro-
moléculas e de estruturas celulares indispensáveis à manutenção de processos
vitais. Doses da ordem de 100 Gy produzem falência do sistema nervoso
central, que resultam em: desorientação espaço-temporal, perda de coorde-
nação motora, distúrbios respiratórios, convulsões, estado de coma e, final-
mente, morte, que ocorre algumas horas após a exposição ou, no máximo,
um ou dois dias mais tarde. Quando a dose absorvida numa exposição de
corpo inteiro é de dezenas de grays, observa-se síndrome gastrointestinal,
caracterizada por náuseas, vômito, perda de apetite, diarreia intensa e apatia.
Em seguida, surgem desidratação, perda de peso e infecções graves. A morte
ocorre poucos dias mais tarde. Doses da ordem de alguns grays acarretam
a síndrome hematopoiética, decorrente da inativação das células sanguíneas
(hemácias, leucócitos e plaquetas) e, principalmente, dos tecidos responsáveis
pela produção dessas células (medula). Para doses inferiores a 10 Gy, as pos-
sibilidades de uma assistência médica eficiente são maiores.

Saiba Mais
Saiba mais sobre os efeitos biológicos da radiação entrando no link abaixo:
https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/8044/8044_4.PDF
Referência
ABCMED, 2013. Radiografia: como é feita? Para que serve? Quais são as vantagens e as
desvantagens médicas? Disponível em: <http://www.abc.med.br/p/exames-e-proce-
dimentos/ 347409/radiografia-como-e-feita-para-que-serve-quais-sao-as-vantagens-
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BALOGH, Tatiana Santana et al. Proteção à radiação ultravioleta: recursos disponí-


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Leituras recomendadas

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<https://www.sbcd.org.br/pagina/1715> Acesso em: 28 de mar. 2017.

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