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Técnico em Radiologia

Fundamentos de Radiologia
A palavra radiação tem um peso muito forte. A primeira coisa que vem à cabeça da maioria
das pessoas quando se fala em radiação é que é perigosa ou que pode causar algum mal. Essa
má impressão se deve a particularmente dois fatos: as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki
e ao lixo radioativo gerado pelas usinas nucleares. No Brasil destaca-se, ainda, o acidente com o
césio-137 em Goiânia, em 1987, acontecimento que fez o público, de um modo geral, passar a ter
receio dos procedimentos médicos com radiação. Mas, na verdade, esses foram alguns dos
poucos casos infelizes. Na maioria das vezes, a radiação é benéfica, e não devemos ter medo
dela, afinal só há vida na Terra devido à radiação que vem do Sol. A radiação faz parte da
natureza. Ela é emitida nas rochas, vem do espaço e até mesmo do nosso próprio corpo, que
emite alguns tipos de radiação. Por exemplo: o infravermelho emitido pelo corpo para perder calor,
que os nossos olhos não podem ver, porém uma coruja pode, e por isso ela nos encontra no
escuro.Veja, antes de se dizer que a radiação é perigosa ou não, se provocará câncer ou não, é
preciso ser cuidadoso e, acima de tudo, obter mais informações sobre ela.

Mas o que é RADIAÇÃO?

Os princípios físicos dos raios-X foram


descobertos por Wilhelm Conrad Roentgen em
1895, na Alemanha, esta descoberta marcou o
início de uma nova era de diagnóstico na
Medicina. William Crookes havia desenhado o
tubo que Roentgen utilizou para produzir os
raios-X. Estes raios foram chamados de x, pois
não era conhecido este tipo de radiação, que
atravessava madeira, papel, e até o corpo
humano. Sua descoberta valeu-lhe o prêmio
Nobel de Física em 1901. Na época - começo
do século XX - ocorreu uma revolução no meio
médico, trazendo um grande avanço no
diagnóstico por imagem.

“Um grande número de invenções verdadeiramente


notáveis ocorreram no século XIX, mas o descobrimento de
Roentgen fascinou o publico de modo especial –ele proporcionou um meio
de: sem cortar, nem abrir, explorar o corpo humano”.
(GRAHAM FARMELO)

Radiação é uma das muitas formas de energia existente. Na natureza temos a energia
térmica (calor), a energia elétrica, a energia mecânica, a energia química e a radiação, além de
outras. Radiação é uma forma de energia em movimento, que não se armazena. Essa é uma
informação muito importante, pois não há maneira de guardar a radiação. Por exemplo, quando
alguém se expõe à luz, que é um tipo de radiação (como se verá mais adiante), e como a luz não
se armazena, esse alguém não se contaminará com a luz. Isso significa que o fato de uma pessoa
se expor à luz não fará que ela emita luz. A mesma idéia vale para os raios X. Quando um paciente
é exposto, ele não irá sair da sala de exames emitindo raios X.
A energia que a radiação possui é uma das suas principais características. Quando a
radiação atingir o paciente, será justamente essa energia que provocará ou não um dano biológico
sério. O estrago dependerá da quantidade de energia depositada nas células. Imagine como se

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fosse uma bomba, a radiação de baixa energia seria uma bombinha de festa junina, enquanto a
radiação de alta energia seria uma dinamite. De forma que a célula que for atingida pela bombinha
corre um risco insignificante, porém a dinamite pode provocar lesões sérias, ou até matá-Ia.
Também é a energia da radiação que será utilizada na hora de formar uma imagem
médica. Seja na radiologia convencional, na tomografia computadorizada, na mamografia ou na
medicina nuclear, um dos parâmetros mais importantes é calibrar adequadamente a energia da
radiação que será aplicada no paciente. No aparelho de raios X, por exemplo, quando
aumentamos ou diminuímos o "kV';aumentamos ou diminuímos a energia dos raios X.
Então não se esqueça: RADIAÇÃO É ENERGIA.
E de onde vem essa energia? Qual é a origem da radiação?
As radiações vêm dos átomos. Existem vários tipos de radiação, que são produzidas de
formas diferentes no átomo. Bem, isso nos leva a uma outra pergunta: Como é um átomo?
Imaginar como é um átomo não é tarefa fácil. Você nunca viu e nunca verá um. Mas, assim como
na religião, em que ter fé significa acreditar sem ver, tenha fé no átomo. A palavra átomo significa
indivisível, pois na antiguidade imaginava-se que o átomo era a menor partícula que compõe a
matéria. De certa forma isso não está totalmente errado, porque tudo é formado por átomos.
Porém, o átomo não é a menor partícula, pois ele é formado por outras partículas menores. Hoje
sabemos que os átomos são formados, basicamente, pelos prótons, nêutrons e elétrons.
Mas será que é importante saber como é o átomo para aprender radiologia? Tenha a certeza que
sim. Já dissemos que a radiação é uma forma de energia e que não se armazena. Você também já
sabe que a radiação vem dos átomos. E quem recebe e absorve a energia da radiação quem é?
Ora, outro átomo! O primeiro modelo atômico importante foi criado por J.J.Thompson. O
átomo para ele parecia-se com um pudim de passas, ou um panetone, no qual as passas
representam os elétrons com carga negativa e a massa seria positiva. Embora esse modelo possa
parecer infantil, na época foi bastante aceito, porque foi Thompson quem descobriu o elétron.

Mas a história continuou. E um aluno de Thompson, chamado Ernest Rutherford, deu


continuidade ao trabalho do mestre. Rutherford criou o segundo modelo atômico. Ele concluiu,
após muitas experiências, que o átomo deveria ter um núcleo, coisa que o modelo de Thompson
não previa. Foi então que apareceu o modelo planetário do átomo, no qual deveria haver um
núcleo pesado contendo os prótons (carga positiva) e os nêutrons (sem carga, mas com a mesma
massa do próton), e em torno dele giram os elétrons; assim como no nosso sistema planetário,com
o Sol no centro e os planetas orbitando ao redor.

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E que ironia, o terceiro nome que aparece nessa história é o de Niels Bohr, aluno de
Rutherford. O que nos leva a concluir que, antes de tudo, eles eram ótimos professores. Embora o
modelo de Rutherford fosse muito bom e explicasse vários fenômenos, ainda faltava alguma coisa.
E foi justamente Bohr que acrescentou o que faltava, a quantização. Por tal modelo era possível
dizer onde estaria o elétron em torno do núcleo (a órbita) e com qual energia giraria. Bohr foi o pai
do modelo do átomo que o leitor deve conhecer como modelo de camadas, lembra: camada K, L,
M, N, ... Somente a partir de então foi possível explicar como a radiação sai do átomo. Observe a
figura a seguir:

Figura 1.3 - com o átomo de Bohr (modelo de camadas) e explicação da emissão da radiação durante a
mudança de órbita do elétron. Indica a emissão nuclear.

Veja, se soubermos a energia do elétron na órbita inicial e na final é possível dizer a


energia que será emitida na forma de radiação. Essa quantidade de energia liberada na mudança

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de órbita tem um nome especial: fóton. Ainda neste capítulo você verá que existem vários tipos de
fótons; por exemplo de raios X, de luz, de ultravioleta, de raios gama, entre outros. A diferença
entre eles é justamente a energia.
Do ponto de vista energético podemos classificar as radiações como ionizantes e não-
ionizantes. A radiação ionizante é aquela que possui energia suficiente para tirar um elétron do
átomo ou, do ponto de vista biológico, aquela que consegue quebrar uma ligação química forte. Já
a radiação não-ionizante possui energia apenas para excitar o átomo, ou seja, provocar uma
mudança de órbita do elétron.

Radiações ionizantes - raios X, raios gama e partículas.


Radiações não-ionizantes - infravermelho, luz visível, ultravioleta, microondas e ondas de rádio e
TV.

Quais são os tipos de radiação?


Na natureza existem apenas dois tipos de radiação: a corpuscular e a eletromagnética.
Todas as radiações se encaixam nessa classificação.

Radiação corpuscular
O nome vem de corpúsculo, ou seja, algo que tem massa. A radiação corpuscular é
formada por partículas e subpartículas como os elétrons, os nêutrons, os prótons, os pósitrons, as
partículas α (alfa) e β(beta). Essas últimas provêm de materiais radioativos, a partícula α é formada
pela união de dois prótons e dois nêutrons, e a partícula β, por um elétron (β-) ou por um pósitron
(β+). Comparando as partículas α e β percebe-se que a partícula α é muito maior do que a
β.Imagine que a partícula β é uma bola de futebol, então a partícula α será do tamanho do estádio
do Maracanã. Por isso a α é muito mais ionizante do que a β, porque o impacto transferirá mais
energia.
Na área de radiologia utiliza-se a radiação corpuscular em algumas situações. Os elétrons
são utilizados na produção de raios X (Capítulo 2); prótons e nêutrons participam de reações
nucleares em materiais radioativos usados em medicina nuclear e em radioterapia; pósitrons são
usados em uma técnica chamada PET (Pósitron Emission Tomography) (ver o Capítulo 7), e as
partículas β são usadas em terapias, como a iodoterapia ou a braquiterapia no combate ao câncer.
A radiação corpuscular transfere sua energia, principalmente, por impacto, ou seja,pela colisão de
uma partícula com a outra. O impacto pode ser forte o suficiente para tirar um elétron da órbita e
ionizar o meio. É dessa forma que se destroem células cancerígenas com a radiação corpuscular.
Imagine a radiação corpuscular como uma bala de revólver para a célula. Ela perfura e quebra
estruturas importantes para o funcionamento da célula e morre.

Radiação eletromagnética

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São ondas formadas pela sobreposição de um campo elétrico e um campo magnético.

Figura 1.6 - Onda eletromagnética.

Toda onda pode ser caracterizada por seu comprimento de onda, sua freqüência, sua
amplitude, sua velocidade e sua energia. Graficamente é assim:

Figura 1.7 - Gráfico da onda com as características.

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Diferenciamos as radiações eletromagnéticas pela onda, ou seja, a diferença entre um
fóton luz visível e um fóton de raios X é a onda. A luz visível tem um comprimento de onda maior
que os raios X e, conseqüentemente, uma freqüência menor.

Figura 1.8 - Três ondas (fótons) diferentes - radiações diferentes.

Como sabemos que a energia transportada pela onda depende da sua freqüência,

Voltemos ao átomo de Bohr. O modelo possibilita identificar a energia do elétron em cada


órbita. Se o elétron receber energia, uma quantidade de energia, poderão acontecer duas coisas:
1. Ele ganha energia e muda de órbita - essa quantidade de energia é chamada de energia de
excitação;
2. Ele ganha energia e é retirado, ou ejetado, do átomo - essa quantidade é chamada de energia
de ionização.
No primeiro caso, quando o elétron ganha energia e muda de órbita, dizemos que ele
passou para um estado excitado. Porém, a natureza possui um princípio chamado Princípio da
Mínima Ação. Por seu intermédio ela busca, sempre, a situação mais estável, ou de menor gasto
de energia. De forma que, imediatamente após a excitação, o elétron retorna à sua órbita original,
mas para isso precisa perder a justa medida de energia que ganhou na excitação. Como ele perde
essa energia?

A resposta é RADIAÇÃO - FÓTON.


Se temos vários tipos de átomos, com quantidades e órbitas diferentes dos elétrons, fica
relativamente fácil entender que existem vários fótons com energias diferentes. Lembre: energia
diferente significa uma onda diferente (freqüência diferente), como no exemplo da luz e dos raios
X.

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Figura 1.9 - Fótons diferentes de ·um mesmo átomo.

Espectro eletromagnético
o espectro eletromagnético é uma forma de representar o conjunto de todas as radiações
eletromagnéticas, organizadas por comprimentos de onda ou por freqüências.

Figura 1.10 - Espectro eletromagnético.

Na área da saúde existem aplicações práticas para todas as radiações eletromagnéticas.


Por exemplo: Ondas de rádio são usadas em imagem por ressonância magnética. Nessa técnica é
necessário aplicar um pulso de RF(radiofreqüência) para provocar a ressonância. Microondas e
infravermelho são usados em fisioterapia para provocar aquecimento. Essa técnica ajuda a
amenizar a dor por um aumento da vascularização do local. Luz visível pode ser utilizada de várias
formas, mas destaquemos o bisturi a laser. Essa palavra é uma sigla e significa: Jight ampiiticaticn
by stimuJated emission of radiation (amplificação de luz por emissão estimulada de radiação). O
laser é uma luz pura (único comprimento de onda) e de intensidade modulada; ou seja, todos os
fótons emitidos de uma fonte laser possuem a mesma energia, e a quantidade de fótons emitidos
aumenta ou diminui a intensidade do feixe. O bisturi a laser tem várias propriedades interessantes,
como cortar por aquecimento, que ao mesmo tempo cauteriza, evitando sangramentos e
acelerando o processo de cicatrização.
Ultravioleta é usado em fisioterapia, pois auxilia na prevenção de infecções em escaras.
Ele tem a propriedade de estimular a produção de vitamina A na pele; é dividido em três faixas:
UVA,UVB e UVc. Os dois primeiros são perigosos à nossa saúde. São eles que podem produzir o
câncer de pele e o envelhecimento precoce. Já o UVC é benéfico, faz bem à pele, porém não
chega a ultrapassar a atmosfera da Terra. É por isso que os protetores solares indicam a proteção
apenas contra UVA e UVB. Raios X são, sem dúvida, as radiações mais utilizadas na medicina, e
serão os mais aplicados neste livro.
Raios gama (ou raios) são as únicas radiações eletromagnéticas nucleares, ou seja, que
vem do núcleo dos átomos. São usados em medicina nuclear, em radioterapia e em ensaios
clínicos.

Interações da radiação com a matéria


Até aqui você já viu várias características das radiações. A mais importante delas é que a
radiação possui energia. Ela é emitida de um átomo e deverá atingir, ao longo do seu caminho, um
ou mais átomos. Quando uma radiação encontra um átomo pela frente dizemos que acontecerá
uma interação. Estudar essas interações é fundamental para entender não somente como as
imagens médicas são formadas com o uso da radiação como também vários procedimentos de
radioproteção e de qualidade de imagens.

Tipos de interação

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Radiação Corpuscular - transfere sua energia por colisão - impacto.
Radiação Eletromagnética - transfere sua energia por:
1. Efeito fotoelétrico - transferência total de energia do fóton para o elétron.

Fig 1.11 - Efeito fotoelétrico

2. Efeito Compton - transferência parcial da energia do fóton para o elétron, também pode ser
chamado de espalhamento, há mudança da direção da trajetória do fóton incidente e redução da
sua energia.

Fig. 1.12 - Efeito Compton

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3. Produção de pares - tipo de evento que acontece para fótons de altas energias, acima de 1,022
MeV, o que não se observa na área de radiodiagnóstico, mas pode ser observado em radioterapia.

4. Espalhamento Raylegh - nesse tipo de interação não ocorre transferência de energia para o
elétron como no espalhamento Compton, apenas muda a trajetória do fóton. Ocorre para baixas
energias, abaixo de 30 keV. Em radiologia, as interações mais freqüentes são os efeitos
fotoelétrico e Compton devido à faixa de energia utilizada e ao número atômico médio dos tecidos
do corpo humano. Veja o gráfico abaixo:

Figura 1.13 - Gráfico de probabilidades de interação.

Veja que a probabilidade de interação depende do número atômico (Z) do material, pois
quanto maior o Z maior é o número de elétrons e, portanto, a chance do fóton atingir um
elétron.Também depende da energia, quanto menor ela for maior é a chance de ocorrer efeito
fotoelétrico. Na prática da radiologia convencional, observa-se que aumentando a energia do feixe
de raios X (aumentando o kV) perde-se resolução por causa do aumento do espalhamento. Outro
fator de qualidade das imagens radiológicas é o contraste, que também pode ser reduzido com o
aumento da energia.
Portanto, deve-se usar a menor energia possível, ou seja: o menor kV, sempre que
possível. Desses eventos de interação surge um efeito chamado atenuação. Este é a base para a
formação da imagem radiológica e da radioproteção. Atenuar significa diminuir a intensidade, ou
seja: se uma lâmpada emitir 100 fótons de luz, mas somente passarem por uma folha de papel 50
fótons, podemos dizer que o papel atenuou 50% da radiação. A figura abaixo mostra os possíveis
efeitos dessas interações com um material.

Figura 1.14 - Resultado das interações das radiações).

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As intensidades espalhadas e absorvidas são as responsáveis pela atenuação. De forma que:

(1)

Pode-se deduzir, então, que a intensidade transmitida será sempre um percentual da


intensidade incidente. E esse percentual irá depender da energia da radiação (E) e da composição
do material (Z). Podemos reescrever a equação (1) acima como uma função exponencial:

Figura 1.15 - Atenuação, mi e x - Camada semi-redutora.


A figura acima mostra, além da dependência da atenuação com o coeficiente de atenuação
e com a espessura do objeto, o conceito de camada sem i-redutora, ou seja: a espessura do
material que reduz a intensidade incidente pela metade. Esse conceito é muito utilizado no cálculo
de blindagens. A tabela a seguir mostra as camadas serni-redutoras para raios X em alguns
materiais e para energias diferentes.

Tabela 1 - camadas semi-redutoras (HVL) e camadas deci-redutoras (TVL)


Material Atenuador
Kilovolt Chumbo(cm) Concreto(cm)
Pico HVL TVL HVL TVL
50 0,006 0,17 0,43 1,5
70 0,017 0,052 0,84 2,8
100 0,027 0,088 1,6 5,3
125 0,028 0,093 2 6,6
150 0,03 0,099 2,24 7,4
200 0,052 0,17 2,5 8,4
250 0,088 0,29 2,8 9,4
300 0,147 0,48 3,1 10,4
400 0,25 0,83 3,3 10,9

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500 0,36 1,19 3,6 11,7
1000 0,79 2,6 4,4 14,7
2000 1,25 4,2 6,4 21

Radioatividade
Em 1896, o físico francês Henri Becquerel descobriu uma propriedade de alguns átomos
até então desconhecida: a radioatividade. Em suas pesquisas com urânio, descobriu que esse
material emitia radiações parecidas com as descobertas por Roéntqen um ano antes. No mesmo
período, a cientista Marie Sklodowska Curie descobriu as mesmas propriedades em outros
materiais, como o rádio, que deu origem à palavra radioatividade, e o polônio,que recebeu esse
nome porque madame Curie era polonesa. A radioatividade está associada a uma instabilidade
nuclear, ou seja: existem átomos que possuem um excesso de energia no seu núcleo.
Esses átomos são chamados de radioativos e emitirão radiações até que se estabilizem.
Na natureza existem vários exemplos de materiais radioativos, como o tório-232, o urânio-238, o
urânio-235, o rádio-226 e o potássio-40, entre outros. Porém os materiais radioativos mais
utilizados na medicina são artificiais, como tecnécio-99m, iodo-123, iodo-131, gálio-67, tálio-201 e
flúor-18.Veja que temos isótopos (mesmo elemento químico com massas diferentes) radioativos,
que podem ser chamados de radioisótopos.

Fig. 1.16 - Material radioativo

Como foi dito, um material radioativo estabiliza-se emitindo radiação, pois dessa forma ele
perde energia (radiação gama) e/ou massa (partículas alfa e beta). Veja a figura. Esse processo é
chamado de desintegração nuclear. Cada material radioativo tem o seu próprio esquema de
desintegração. Alguns emitem apenas o raio gama (tecnécio-99m), outros, além do raio gama,
também alfa e/ou beta (iodo-131). Como se trata de radiação, é importante a energia de cada uma
dessas radiações; o tecnécio-99m, por exemplo, emite um raio gama com energia de 140,5 keV, já
o iodo-131 emite um gama de 364 keV e uma partícula beta.
O que torna um material radioativo perigoso ou não é a quantidade e a energia da radiação
emitida por ele. Todo material radioativo possui certa atividade, ou seja, um número de
desintegrações por segundo. Como em cada desintegração haverá a emissão de radiação,
dizemos que, quanto mais ativo, mais radiação será emitida, portanto, mais perigoso o material.
Em homenagem aos descobridores da radioatividade, as unidades de medida de atividade
receberam seus nomes. São elas:
o Becquerel

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1 Bq = 1 desintegração por segundo
Curie o
1 Ci = 3,7 x 1010 Bq
Uma conversão muito utilizada em medicina nuclear é 1 mCi=37MBq

Em um exame de cintilografia cerebral utiliza-se aproximadamente 20 mCi de 99mTc, para


se ter uma idéia da atividade fornecida aos pacientes em diagnóstico. Já em iodoterapia,
tratamento de disfunções das glândulas tireóides com iodo-131, a atividade pode chegar a 300
mCi.
Por segurança, os locais onde são utilizados esses materiais devem ser sinalizados com o
símbolo internacional da radiação ionizante abaixo, conforme a Portaria 453, de 1º de julho de
1998,publicada pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, e Resolução "NE
3.01 - Diretrizes Básicas de Radioproteção" da Comissão Nacional de Energia Nuclear.

Fig. 1.17 - Símbolo internacional da radiação.

Cada material radioativo tem certa velocidade de desintegração. Isso significa que um
material se desintegra mais rápido do que o outro. O parâmetro físico que determina essa
velocidade é a meia-vida, que nada mais é que o tempo que o material radioativo leva para se
desintegrar pela metade. O tecnécio-99m, por exemplo, tem meia-vida de 6 horas, enquanto a do
césio-137 é de 30,7 anos. O gráfico abaixo mostra o decaimento de uma dose de tecnécio-99m;
note que a cada 6 horas haverá metade da quantidade anterior.

Fig. 1.18 - Curva de decaimento radioativo.

A função matemática que descreve o processo de decaimento de um material radioativo é:

Fundamentos de Radiologia 13
Em que A(t) é a atividade do material no ternpo;.t. A, a atividade inicial;e ‫ג‬, a constante de
decaimento do material,que está relacionada com a meia-vida da seguinte maneira:

Uma maneira prática de determinar a atividade é multiplicar a atividade pelo fator de


decaimento (F).
A tabela abaixo mostra os fatores de decaimento para o tecnécio.
99m
Fatores de Decaimento para o Tc
Minutos
Hora 0 15 30 45
0 1,000 0,972 0,944 0,917
1 0,891 0,866 0,841 0,817
2 0,794 0,771 0,749 0,727
3 0,707 0,687 0,667 0,648
4 0,630 0,612 0,595 0,578
5 0,561 0,545 0,530 0,515
6 0,500 0,486 0,472 0,459
7 0,445 0,433 0,420 0,408
8 0,397 0,385 0,375 0,364
9 0,354 0,343 0,334 0,324
10 0,315 0,306 0,297 0,289
11 0,281 0,273 0,264 0,257
12 0,250 0,243 0,236 0,229

Por exemplo, vamos supor que retiramos com uma seringa 10mL de tecnécio de um
frasco,cuja atividade era 120 mCi às 8h30 da manhã. Qual será a atividade às 11h00 da manhã?
Temos que:

Ao = 120 mCi

Das 8h30 às 11h00 se passaram uma hora e trinta minutos. Na tabela, 1h30 corresponde a
um fator de decaimento de 0,841, então:
F = 0,841
A atividade às 11h00 será:
A = Ao x F
A = 120 x 0,841
A = 100,92 mCi

Fundamentos de Radiologia 14
Raios X

A descoberta de Roéntqen

Produção

Tipos de raios X

Funcionamento da ampola

A
ciência é repleta de histórias de cientistas e
descobertas fascinantes, por exemplo a
descoberta dos raios X.Em 1895, um físico
holandês, chamado Wilhelm Conrad Roéntqen,
estudava em seu laboratório, na Universidade
de Würzburg, fenômenos gerados pela alta tensão em
tubo de raios catódicos, conhecido como ampola de
Crookes. No dia 8 de agosto de 1895, Roêntqen
descobriu, de maneira casual, uma radiação até então
desconhecida. Por coincidência, naquele dia havia uma
caixa revestida com uma substância fluorescente (que
emite luz) próxima da sua bancada de trabalho.
Revestindo o tubo que trabalhava com um papelão preto,
percebeu que, na medida em que aumentava a tensão,
uma luz era emitida da caixa.Trabalhou vários dias
analisando a nova radiação que descobrira e, por
desconhecimento de sua origem, deu o nome de incógnita
Ke assim surgiram os raios X.Por essa descoberta,
Roéntqen foi o primeiro físico a receber o premio Nobel
em 1901. No mesmo ano da descoberta dos raios X,
Roéntqen produziu a primeira radiografia da história.
Fig.2.1 - Primeira radiografia da história, a
mão da mulher de Roéntqen.

Produção de raios X
A produção de raios X se dá através da interação de elétrons com certos materiais.
Lembremos que a radiação, neste caso os raios X, é energia, e que energia não se perde nem se
cria, energia se transforma (primeira lei da termodinâmica). Ou seja, se os raios X são produzidos
por elétrons, e os raios X carregam energia, esta tem de vir dos elétrons. Essa energia é chamada
de energia cinética e é diretamente proporcional à velocidade do elétron. Quanto maior for a
velocidade do elétron maior será sua energia cinética. Quando o elétron atingir o alvo, sua energia
cinética será transformada em energia eletromagnética, os raios X. A figura abaixo ilustra os dois
tipos de raios X, o característico e o de freamento, também chamado de Bremsstrahlung.

Fundamentos de Radiologia 15
Fig 2.2 - Produção de raios X. (A) raios X de freamento. (B) raios X característicos.
Os raios X de freamento são produzidos pela atração elétrica entre o núcleo (+) e o elétron
(-). Quando o elétron passa próximo do núcleo, ele é atraído, e sua velocidade diminui (freamento).
Quanto maior a desaceleração mais energia cinética é transformada em eletromagnética, ou seja,
em raios X de freamento. Esse mecanismo acontece com maior freqüência do que os raios X
característicos. Já esse outro tipo é produzido quando o elétron se choca com algum elétron do
alvo e o retira de órbita. Nesse caso, um elétron de uma camada mais externa do átomo ocupará
essa lacuna, porém para isso deverá perder energia, e assim é emitido um fóton de raio X
característico.

Os raios X característicos recebem


esse nome porque a energia emitida do átomo
terá sempre um valor fixo, que depende das
energias dos elétrons distribuídos nas órbitas.
O gráfico ao lado mostra o espectro de
energias dos raios X. A linha curva e contínua
corresponde aos raios X de freamento e as
linhas verticais, aos raios X característicos.
Observe que a maior parte do espectro é
ocupado pelo freamento, e que os
característicos têm energias bem definidas.

Fig. 2.3 - Espectros de raios X

Funcionamento da ampola
As cargas elétricas em um material interagem entre si através das forças elétricas. Elas
podem ser de atração, quando as cargas forem opostas, ou de repulsão, quando as cargas tiverem
o mesmo sinal. Quanto mais cargas de sinais opostos separarmos, maior será a força de atração

Fundamentos de Radiologia 16
entre elas, e desta forma podemos dizer que existe uma energia potencial armazenada nesse
caso. Se uma carga elétrica for colocada entre os pólos, ela será atraída e se movimentará na
direção do pólo de carga oposta. Esse é o conceito de potencial elétrico, que também pode ser
chamado de tensão ou voltagem. A unidade de medida de tensão é o volt. No exemplo abaixo,a
velocidade V1 será maior
que a velocidade V2 , pois é aplicada uma tensão maior no segundo caso. Conclusão: quanto
maior a tensão aplicada, maior será a velocidade do elétron e, conseqüentemente, sua energia
cinética. Na produção de raios X utiliza-se alta tensão, ou seja, múltiplos de 1000 volts, ou 1 kV
(quilovolt).

Figura 2.4 - Velocidade do elétron dependente da tensão aplicada.

O movimento das cargas elétricas gera um fluxo chamado de corrente elétrica. Por
definição, a corrente elétrica será a quantidade de cargas em um intervalo de tempo, ou seja:

Em que:
I é a intensidade da corrente - medida em ampére (A)
Q é a carga elétrica - medida em coulomb (C)
t é o tempo - medido em segundo (s)
No procedimento de disparo dos raios X, além da escolha da tensão (kV), também deve
ser escolhida a corrente em mA (miliarnpere).

1 mA =0,001 A

Se multiplicarmos a corrente pelo tempo teremos a carga elétrica,

A unidade de medida de carga, neste caso, pode ser o A.s (arnpere x segundo), ou, nesse
caso, mA.s. Quando as cargas elétricas se deslocam ao longo de um material, sempre existirá
certa dificuldade ao seu movimento. Isso é chamado de resistência elétrica do material, ou seja, a
oposição que o material oferece à passagem de corrente elétrica. Os materiais que têm alta
resistência elétrica são chamados de isolantes elétricos, como a borracha, a madeira e alguns tipos
de óleos e cerâmicas. Já os materiais chamados de condutores devem ter baixa resistência
elétrica. A relação entre a tensão, a corrente e a resistência elétrica é dada pela lei de Ohm,

A unidade de medida de resistência é o ohm (O).


Por exemplo, um aparelho de raios X odontológico opera com uma tensão de 70 kVe com
corrente de 9 mA. Qual a resistência utilizada?

Fundamentos de Radiologia 17
Um outro conceito muito utilizado para produção de raios X é o de potência. Potência é
definida como energia utilizada ao longo do tempo, ou pela equação:

P= i.U
A unidade de medida de potência é o watt (W).
Utilizando os valores do exemplo acima,
P = 0,009 x 70000
P=630 W
P = 630 J/s
P = 150,7cal/s

A ampola

Figura 2.5 - Esquema do funcionamento da ampola.

Desde o descobrimento dos raios X por Roéntqen até os dias de hoje, o princípio de
produção de raios X não mudou, porém a tecnologia ajudou a aperfeiçoar o método. Todo aparelho
de raios X contém uma ampola, que tem a função de produzir os raios X a partir da colisão de
elétrons com um alvo.Como já foi dito neste capítulo, quando os elétrons atingirem o alvo (átomo)
poderá ser produzido raio X característico ou de freamento. Portanto, a ampola deve ter um
dispositivo que acelere os elétrons em alta velocidade na direção de um alvo. Os componentes
mais importantes da ampola são o ânodo (alvo) e o filamento (emite os elétrons).
Quando uma corrente elétrica passa pelo filamento acontece um fenômeno chamado efeito
termiônico, no qual a corrente elétrica aumenta a temperatura do material a tal ponto que alguns
elétrons se soltam do fio. Quando isso acontece, os elétrons ficam livres ao redor do filamento, e
são atraídos pelo ânodo, que é carregado com carga positiva. Quanto maior for a quantidade de
carga positiva no ânodo maior será a força que acelerará o elétron de encontro ao alvo,ou seja,
maior será a energia cinética do elétron,e por sua vez maior a energia dos raios X produzidos. Na
prática, isso acontece quando o operador do aparelho aumenta o kV,ou seja,quando aumenta o
potencial no ânodo.Conclusão:

Fundamentos de Radiologia 18
O aumento de energia dos raios X é necessário quando a camada de tecido que deverá
ser ultrapassada é grande ou muito densa. Caso contrário, em estruturas mais finas ou menos
densas, diminui-se o kV para que os raios X tenham menos energia. A corrente elétrica quando é
aumentada, aumento do mA, faz que se desprendam mais elétrons do filamento. Dessa maneira,
mais elétrons serão atraídos pelo ânodo e, portanto, maior será a quantidade de fótons de raios X
produzidos, o que significa um aumento da intensidade dos raios X aplicados. Ou seja,

O aumento da mA, que aumenta a intensidade do feixe de raios X, tem um efeito positivo,
que é o aumento da resolução espacial, ou seja, permite ver detalhes pequenos na imagem; por
exemplo, as microcalcificações em uma mamografia. Porém, o aumento da mA provoca um
aumento da dose de radiação aplicada no paciente. O ajuste do tempo de exposição interfere na
quantidade de carga liberada do filamento, e o seu aumento tem o mesmo efeito do aumento da
miliamperagem.
Um outro dado importante que não se pode esquecer é a curva de potência que é
fornecida com o equipamento. Esse gráfico nos diz se a técnica que será utilizada em um
procedimento pode danificar ou não a ampola. Acontece que a colisão dos elétrons com o alvo
produz muito calor; normalmente 99% da energia dos elétrons é convertida em calor e apenas
1%,em raios X. A quantidade de calor produzida no ânodo é grande o suficiente para provocar
fusão do metal,ou seja,derretê-lo.Como exemplo, observe a curva de potência de um tubo de raios
X da figura abaixo. Se um operador do equipamento de raios X selecionar uma tensão de 120
kV,uma corrente de 100 mA e um tempo de 1 s (ponto A da curva), o gráfico mostra que não há
problema.
Porém,se quiser mudar para 10s (ponto B da curva),estará trabalhando em uma potência
acima da recomendada pelo fabricante e fatalmente danificará o equipamento. Nesse caso,o
gráfico mostra que o operador deverá mudar a tensão para 80 kV.

Fig, 2.6 - Curva de potência de uma âmpola.

Convém, portanto, analisar na escolha da compra do equipamento a capacidade térmica


da ampola. A capacidade térmica, medida em joule ou HU (unidade de calor), determinará a faixa
de operação.
O material que reveste o ânodo, o tungstênio por exemplo, tem alto número atômico, que
favorece a produção de raios X,e alto ponto de fusão (3.380 °C),fundamental pela quantidade de

Fundamentos de Radiologia 19
calor produzida. Em mamografia utiliza-se o molibdênio. Outra característica tecnológica é a
possibilidade de se produzir os raios X com ampola de ânodo fixo ou giratório. O ânodo giratório
também contribui para a dissipação de calor, pois aumenta a superfície de impacto dos elétrons. A
velocidade da maioria dos tubos comerciais está dentro do intervalo de 3.000 rpm a 10.000 rpm
(rpm - rotações por minuto).
TM
A Siemens lançou recentemente um novo modelo de tubo de raios X - o Straton (figura
abaixo), que tem uma eficiência maior na dissipação de calor, pois o ânodo tem contato direto com
o óleo de arrefecimento.

Fig. 2.7 - Tubo de raios X Siemens Straton™.

Também existe a possibilidade de se trabalhar com dois tipos de filamento, chamado foco
dual: o filamento fino (0,3 a 1,0 mm) e o foco grosso (1,0 a 3,0 mm). A produção de raios X
depende também de geradores e transformadores de tensão. O gerador tem a função de adaptar a
energia elétrica da rede a uma forma mais adequada para a produção dos raios X no tubo.Já os
transformadores devem elevar a tensão da rede elétrica, por exemplo de 220 V a 120.000 V (120
kV).

Formação das Radiografias

Componentes do aparelho

Tubo de raios X

Bucky

Console de operação

Grade antidifusora

Chassi

Écran

Filme

Princípio de formação

Fundamentos de Radiologia 20
Revelação

Imagens

Acessórios

N
os capítulos anteriores foram
descritos os mecanismos de
produção da radiação, em
particular os raios X.Vimos que essa
radiação provém de ampolas, porém é
necessário conhecer o equipamento
como um todo. Cada componente do
aparelho tem sua função na produção da
imagem. Este capítulo tem o objetivo de
mostrar os componentes de um aparelho
de raios X convencional e o mecanismo
de formação da imagem radiográfica
convencional.
Fig.3.1 - O aparelho de raios X.

Tubo de raios X

Fig. 3.2 - Âmpola de raios X

O tubo de raios X, mostrado na figura acima, tem a função de blindar os raios X emitidos
nas direções fora da janela. Para cumprir essa função,essa carcaça deve ser de material bem
denso, normalmente de chumbo. Dentro do tubo fica a ampola de raios X ligada aos circuitos
eletrônicos de retificação de corrente e de alta tensão, além do sistema de arrefecimento (perda de
calor).Também se pode observar no tubo os locais para a conexão dos cabos de alta tensão
provenientes do transformador.

Fundamentos de Radiologia 21
Fig. 3.3 - Colimador

Acoplados ao tubo encontram-se o colimador e o comando de movimentação. O colimador tem a


função de mostrar por intermédio de um foco de luz a região que será exposta aos raios x para a formação da
imagem. O comando de movimentação é formado por botões que executam os movimentos do tubo ao longo
da mesa.
Bucky mural – Estativa

O bucky mural é uma estrutura destinada à obtenção de imagens compostas por uma gaveta para o
chassi,a grade antidifusora e uma placa alvo.Também possui sistema de movimentação vertical para auxiliar
no melhor posicionamento do paciente.

Fundamentos de Radiologia 22
Fig. 3.4 – Estativa - Console de operação.

O console é o componente do equipamento no qual são selecionados os parâmetros


técnicos do disparo, que basicamente determinam o foco (grosso ou fino), a quantidade (corrente -
mA e tempo - s) e a energia (tensão - kV) dos fótons de raios X.
O console de operação deve ficar em um local blindado da radiação, para que o
profissional não se exponha desnecessariamente.

Fundamentos de Radiologia 23
Fig. 3.5 - Console de operação. Grade antidifusora.
A grade antidifusora está presente tanto no bucky mural quanto no da mesa. Sua função é
absorver os fótons espalhados (radiação secundária) para que não cheguem no filme. Sem a
grade antidifusora, a imagem fica borrada, o que significa perda de resolução da imagem
(definição), além de diminuir o contraste.

Fig. 3.6 - Esquema da grade anti-difusora.

As grades são definidas de acordo com o material de que são formadas e com as suas
dimensões (T,W e S). Existe um número chamado razão de grade que determina a eficiência da
grade:

Por exemplo, se uma grade tem comprimento de 3 mm e a espessura do furo é de 0,25


mm, a razão de grade será:
RG= 3 / 0,25 = 12
Ou seja, 12:1. Normalmente, as grades utilizadas têm RG entre 4:1 e 16:1.
Chassi
O chassi, ou cassete, é o compartimento onde é acoplado o filme e o écran. Os tamanhos
são definidos em função do filme. Os que se encontram no mercado normalmente são:

Fundamentos de Radiologia 24
Fig. 3.7 - Chassi.

Écran
O écran é a tela que absorve os raios X e os transforma em luz. Esse fenômeno é
chamado de fluorescência. Basicamente existem dois tipos de tela: as que emitem luz azul e as
que emitem luz verde. No acoplamento com o filme essa informação será importante, pois cada
filme absorve melhor determinado tipo de comprimento de onda de luz, ou seja, é mais sensível a
uma das duas cores.
Um outro fator importante, que justifica a utilização das telas, é a redução da exposição à
radiação. Para fóton de raios X incidente na tela haverá uma quantidade muito maior de fótons de
luz produzidos, aproximadamente 30 vezes, de tal forma que a utilização das telas exige uma dose
de raios X no paciente bem menor do que quando se utilizava apenas o filme.

Filme
O filme radiológico é composto por uma película plástica, chamada de base, revestida por
uma substância chamada emulsão e por uma camada protetora. Esse tipo de revestimento pode
ser aplicado dos dois lados do filme ou apenas em uma face. A emulsão é formada por haletos de
prata (brometo e iodeto). Quando a luz incide sobre os haletos ocorre uma transferência de energia
do fóton para o haleto, que provoca uma mudança nas suas características químicas. Nesse
momento, o filme apresenta o que se chama imagem latente, pois essas impressões no filme não
são visíveis a olho nu, somente se verá a imagem após o processo de revelação.

Fundamentos de Radiologia 25
Fig. 3.8 - Acoplamento écran + filme.

Assim como o chassi, as dimensões dos filmes radiológicos são padronizadas. As medidas
são as mesmas apresentadas na tabela citada anteriormente.

Princípio de formação
A formação da imagem radiológica depende de três componentes: o dispositivo que emite
a radiação (aparelho de raios X), o paciente e o conjunto grade, tela e filme. Quando a radiação é
emitida do aparelho e direcionada em determinada estrutura do corpo do paciente, ela irá ter maior
ou menor dificuldade de atravessar os tecidos, dependendo de sua densidade e tamanho. Estamos
falando da atenuação dos raios X no corpo, que é o princípio para o entendimento da formação da
imagem no filme (veja a figura abaixo). Os tecidos mais densos, como o ósseo, atenuam mais os
raios X e, por isso, menos radiação chegará até a tela, produzindo menos luz, que por sua vez
impressionará menos o filme. O resultado após a revelação será uma região mais clara na
imagem. Já em um tecido menos denso, como a gordura ou o músculo, acontece o contrário
(atenua menos), e a imagem ficará mais escura.

Fundamentos de Radiologia 26
Fig. 3.9 - Formação da radiografia.

A densidade óptica de uma região da imagem representa,de certa forma, uma medida
quantitativa do grau de enegrecimento do filme. A densidade óptica será muito útil para a
determinação do contraste da imagem. Observe:

Fig. 3.10- Contraste.


Fica fácil entender a importância do contraste observando a figura acima. Repare no
quadro do relógio. Qual é mais nítido?

Revelação
A revelação do filme é o processo de transformação da imagem latente em uma imagem
visível. Esse processo envolve algumas etapas que podem ser realizadas manualmente ou por um
equipamento chamado processadora automática, em ambiente apropriado, denominado câmara
escura. Na prática da radiologia médica atual, costuma-se utilizar o processo automático por uma
série de vantagens. Basicamente, dois produtos químicos são utilizados na revelação: o revelador
e o fixador.
O revelador fará a transformação dos haletos de prata em prata metálica, e o fixador terá a
função de retirar do filme os haletos de prata que não sofreram reação com a luz. Após as duas
primeiras fases, revelação e fixação, o filme passa por uma fase de lavagem e, por último, de
secagem. O diagrama a seguir mostra o funcionamento de uma processadora automática de
filmes.

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Fig. 3.11 - Esquema de funcionamento da processadora automática.

Imagens

Imagens do tórax em dois posicionamentos: o primeiro em AP (ântero-posterior) e depois


uma de perfil.

Radiografias digitais

Fundamentos de Radiologia 28
Fundamentos de Radiologia 29
1 - Espessômetro.

Fundamentos de Radiologia 30
2 - Colgadura.

3 - Divisor de filmes.

4 - Cone de extensão.

5 - Registrador de filmes.

Fundamentos de Radiologia 31
6 - Goniômetro.

7 - Proteções de chumbo.

1- Protetor de tireóide

2- Luvas

3- Protetor de gônadas

8 - Negatoscópio de 1 corpo.

Fundamentos de Radiologia 32
9 - Sensitômetro.

10- Densitômetro óptico.

Fundamentos de Radiologia 33
Bibliografia

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Sites interessantes na Internet

www.cbr.org.br - Site do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem

www.spr.org.br-Site da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem

www.conter.gov.br - Site do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia

www.radiology.com.br - Site com notícias e informações sobre a radiologia no Brasil

http://www.gehealthcare.com/worldwide.html- Home page mundial da GEHealthcare

www.siemens.com.br/medical - Site da Siemens Medical Solutions

http://www.medical.philips.com/br - Site da Philips Medical Systems

Fundamentos de Radiologia 34

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