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MARINHA DO BRASIL

CENTRO DE INSTRUÇÃO ALMIRANTE BRAZ DE AGUIAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE – EFOMM

QUÍMICA I

RADIOATIVIDADE

Profª. Andréa Oliveira

Aluno: Arthur Gustavo Ferreira Costa - 1075


TÓPICOS

Princípios de radioatividade:

1 - Leis de desintegração radioativa;

2 - Princípios básicos da cinética das emissões;

3 - Fissão de fusão nucleares;

4 - Principais aplicações práticas de radioatividade;

5 - Principais cuidados no trato com substâncias radioativas;

6- Princípios básicos do enriquecimento do urânio;

7- Constituição dos reatores de água pressurizada (PWR); e

8 - Aplicações dos reatores (PWR), na geração de eletricidade e propulsão de


embarcações.

9 – Referências.
Leis de desintegração radioativa.

Quando submetemos as emissões radioativas naturais (por exemplo, do polônio ou do


rádio) a um campo elétrico ou magnético, notamos sua subdivisão em três tipos bem
distintos.
Quando o feixe radioativo passa entre as duas placas fortemente eletrizadas, ele se
subdivide em três partes, como pode ser constatado por meio de uma tela fluorescente
ou uma chapa fotográfica colocada em sua trajetória:
• a emissão que sofre um pequeno desvio para o lado da placa negativa foi denominada
emissão α (alfa);
• a que sofre um desvio maior para o lado da placa positiva foi denominada emissão β
(beta);
• a que não sofre desvio foi denominada emissão γ (gama).
A experiência é realizada no vácuo, pois o ar poderia absorver parte das emissões.

As emissões α.
O físico Ernest Rutherford (1871-1937) verificou que as emissões α são partículas
formadas por 2 prótons e 2 nêutrons, que são “atirados”, em alta velocidade, para fora
de um núcleo relativamente grande e instável.
Sendo formadas por 2 prótons e 2 nêutrons, as partículas α têm carga elétrica igual a "2
e número de massa igual a 4. A carga positiva explica por que elas são atraídas por uma
placa eletricamente negativa; a massa elevada (maior inércia) explica por que o desvio é
pequeno na aparelhagem acima.
Uma decorrência da emissão α é a chamada primeira lei da radioatividade ou lei de
Soddy:
“Quando um núcleo emite uma partícula α, seu número atômico diminui duas unidades
e seu número de massa diminui quatro unidades.”

As emissões β.
As emissões β são elétrons “atirados”, em altíssima velocidade, para fora de um núcleo
instável.
Sendo partículas negativas, elas são atraídas pela placa positiva quando submetidas a
um campo elétrico ou magnético; a massa (inércia) extremamente pequena do elétron
explica por que seu desvio é maior que o das partículas α.
A velocidade, o poder de penetração e, portanto, os efeitos fisiológicos das partículas β
são bem mais acentuados que os das partículas α; tendo carga elétrica menor, as
partículas β são menos ionizantes que as α. A esta altura, você deve estar intrigado com
o seguinte: se os núcleos são formados por prótons e nêutrons, como pode um elétron
sair do núcleo?
Na verdade, o elétron não existe no núcleo; ele se forma a partir de um nêutron (em
núcleos instáveis) de acordo com a “reação”.
O próton permanece no núcleo; o elétron é “atirado” para fora do núcleo como
partícula β; o neutrino também é “atirado” para fora do núcleo; como o neutrino é
eletricamente neutro e tem massa desprezível, ele nem chega a ser percebido na
aparelhagem da página anterior.
Pelo que foi exposto, torna-se evidente a segunda lei da radioatividade ou lei de
Soddy-Fajans-Russel:
“Quando um núcleo emite uma partícula β, seu número atômico aumenta uma unidade
e seu número de massa não se altera.”

As emissões γ
As emissões γ não são partículas, mas ondas eletromagnéticas semelhantes à luz,
porém de comprimento de onda muitíssimo menor (λ % 0,01 a 0,001 Å) e, portanto, de
energia muito mais elevada (superando inclusive os raios X).
Não possuindo massa nem carga elétrica, as emissões γ não sofrem desvio ao
atravessar um campo elétrico ou magnético.
Embora dependam do átomo emissor, as emissões γ têm sempre um poder de
penetração bem maior que as partículas α e β; normalmente, uma emissão γ atravessa 20
cm no aço ou 5 cm no chumbo (quanto mais denso é o metal, mais ele detém as
radiações). Por esse motivo, as emissões γ representam o perigo máximo do ponto de
vista fisiológico.
Por outro lado, o poder de ionização (que depende de carga elétrica) das emissões γ é
menor que o das α e β.
Evidentemente, uma emissão γ não altera nem o número atômico nem o número de
massa do elemento; sendo assim, não se costuma escrever a emissão γ nas equações
nucleares.
Conclusões
Radioatividade é a propriedade que os núcleos atômicos instáveis possuem de emitir
partículas e radiações eletromagnéticas, para se transformarem em outros núcleos mais
estáveis. Esse fenômeno espontâneo é chamado de reação de desintegração radioativa
ou reação de transmutação ou reação de decaimento.
A radioatividade natural ocorre, geralmente, com átomos mais pesados do que o
chumbo (de número atômico 82). Entretanto, como veremos mais adiante, podem-se,
atualmente, produzir isótopos radioativos (também chamados de radioisótopos) de todos
os elementos químicos.
Resumindo: das três radiações mencionadas, γ é a mais penetrante (e, em geral, a mais
perigosa para o ser humano), β tem penetração média e α é pouco penetrante.
Princípios básicos da cinética das emissões
Sabemos que, entre as pessoas nascidas no dia de hoje, algumas terão vida mais curta,
e outras, vida mais longa. Com os núcleos radioativos acontece algo semelhante. Em um
conjunto de átomos radioativos, pode ocorrer de um átomo estar se desintegrando
(deixar de existir) neste instante, um segundo átomo se desintegrar daqui a uma hora,
um terceiro daqui a três meses e assim por diante. O urânio-238, por exemplo,
desintegra-se tão lentamente que continua existindo — desde a formação da Terra; pelo
contrário, há elementos produzidos artificialmente cuja radioatividade se esgota em
questão de minutos — ou, em alguns casos, em frações de segundo. Conhecer a rapidez
com que um elemento radioativo se desintegra é muito importante na prática. Um
primeiro exemplo que podemos mencionar é o da medicina nuclear: quando um
radioisótopo é injetado em uma pessoa para se fazer um exame clínico, é importante
saber por quanto tempo haverá radioatividade no organismo do paciente. Outro exemplo
é o do armazenamento do lixo nuclear: nesse caso, torna-se necessário saber por quanto
tempo o lixo deve permanecer estocado. E muitos outros exemplos poderiam ser
citados. A forma mais usual de medir a rapidez de uma desintegração é a que é dada
pela seguinte definição:
“Tempo de meia-vida (t1/2) ou período de semidesintegração (P) é o tempo necessário
para desintegrar a metade dos átomos radioativos existentes em uma dada amostra.”

Fissão e fusão nuclear

Fissão nuclear
Em 1934, Enrico Fermi, bombardeando átomos de urânio com nêutrons, obteve um
material radioativo; a princípio, ele desconfiou da formação de elementos transurânicos.
Em 1938, os químicos alemães Otto Hahn (1879-1968) e Fritz Strassmann (1902-1980),
repetindo a mesma experiência de Fermi constataram a existência do bário entre os
produtos obtidos. Estranho, pois o bário, tendo número atômico 56, é um átomo muito
menor que o urânio (de número atômico 92)! Nesse mesmo ano, a física austríaca Lise
Meitner (1878-1968) e seu sobrinho, o físico britânico Otto Frisch (1904-1979),
explicaram o fenômeno admitindo a quebra do átomo de urânio-235.
Essa reação é chamada de fissão (quebra) nuclear. O fato mais importante a ser
comentado é que a quebra de um átomo de urânio-235 produz 3 nêutrons, que irão
quebrar outros átomos de urânio vizinhos, e assim sucessivamente, dando origem a uma
reação em cadeia, que prossegue espontaneamente.
Sendo assim, define-se:
“Fissão nuclear é a divisão do núcleo de um átomo em dois núcleos menores, com
liberação de grande quantidade de energia.”
O desenvolvimento da fissão nuclear foi muito rápido, devido às pressões político-
militares existentes na Europa, na década de 1930. De fato, em setembro de 1939, os
nazistas invadiram a Polônia, iniciando-se assim a Segunda Guerra Mundial. O receio
de que os alemães viessem a construir a bomba atômica levou vários cientistas norte-
americanos a escrever uma carta ao então presidente dos Estados Unidos, Franklin
Delano Roosevelt, aconselhando-o a desenvolver um projeto atômico. Assim nasceu o
Projeto Manhattan, plano secreto de se construir a bomba atômica, do qual Fermi foi um
dos coordenadores.

Fusão nuclear
De certa maneira, a fusão nuclear é o fenômeno inverso da fissão nuclear:
• a fissão quebra átomos grandes (urânio, plutônio etc.), reduzindo-os a átomos
menores;
• a fusão aglomera átomos pequenos (hidrogênio, deutério, trítio etc.), produzindo
átomos maiores.

“Fusão nuclear é a junção de núcleos atômicos produzindo um núcleo maior, com


liberação de grande quantidade de energia.”

Essas reações liberam, por unidade de massa, muito mais energia do que as reações de
fissão. São reações desse tipo que ocorrem no Sol e nas estrelas, o que explica a
quantidade imensa de energia que é liberada por esses astros.
Na Terra, as reações de fusão nuclear só foram conseguidas nas bombas de hidrogênio
(bombas H). A primeira bomba de hidrogênio foi construída sob orientação do físico
húngaro Edward Teller (1908-2003) e explodiu em 1952.
Dentro da bomba de hidrogênio, explode uma bomba atômica que produz a
temperatura necessária para a fusão nuclear; em outras palavras, a bomba atômica
funciona como espoleta da bomba de hidrogênio. Desse modo, consegue-se produzir
explosões de até 500 megatons (o que corresponde a 500.000.000 de toneladas de TNT).

Principais aplicações práticas de radioatividade

Radioisótopos são as formas radioativas de um elemento químico. Apesar de todo o


preconceito existente contra essas substâncias, podem trazer inúmeros benefícios à
população e ao meio ambiente quando usadas de forma controlada e com o
acompanhamento de técnicos especializados. No Brasil, vários são os campos que tiram
proveito dos radioisótopos, que são controlados pela Comissão Nacional de Energia
Nuclear (CNEN).
Medicina
Na área médica, os radioisótopos são usados principalmente para obter diagnósticos.
Segundo dados da CNEN, cerca de 2 milhões de exames com a utilização de
radioisótopos são feitos anualmente no Brasil. Para que não causem danos à saúde dos
pacientes, os isótopos devem emitir partículas gama, pois elas apresentam grande poder
de penetração, não permanecendo no organismo. Além disso, devem ter um período de
meia-vida (tempo necessário para que a radioatividade de uma amostra de um elemento
radioativo se reduza à metade) não muito curto ou muito longo. Deve ter o tempo
suficiente para que seja realizado o diagnóstico. Outra aplicação na Medicina é o
tratamento de doenças, especialmente o câncer. A radioterapia consiste na destruição
das células do tumor cancerígeno pelo uso de fontes de radiação. O problema é que o
tratamento apresenta diversos efeitos colaterais, como náuseas e vômitos.

Meio ambiente

Técnicas nucleares podem ser extremamente danosas ao meio ambiente, mas, se


usadas corretamente, ajudam na sua preservação e recuperação. Uma das utilidades dos
radioisótopos é acompanhar o trajeto de poluentes no ar, na água ou no solo. É possível
identificar em amostras de sedimentos, por exemplo, a presença de metais pesados,
como o mercúrio, muito utilizado por indústrias e garimpos.

Indústria e agricultura

Na indústria, os radioisótopos são muito utilizados na esterilização de materiais


médicos e odontológicos. São usados também para identificar minas de pedras preciosas
e para o tratamento e a valorização comercial dessas pedras. Na agricultura, a
radioatividade permite o estudo do metabolismo das plantas e a produção de insetos
estéreis, o que possibilita o desenvolvimento de técnicas de eliminação de pragas sem o
uso de inseticidas. Além disso, torna possível determinar a quantidade de agrotóxicos
presente nos produtos agrícolas.

Alimentos
Os radioisótopos também são utilizados na irradiação de alimentos. Essa técnica
aumenta o tempo de conservação ao destruir bactérias, fungos e outros microrganismos,
em produtos embalados, diminuindo os riscos de transmissão de doenças e de perda de
qualidade. Em frutas e legumes, a irradiação quebra hormônios do amadurecimento, o
que retarda esse processo e aumenta o tempo para consumo.

Principais cuidados no trato com substâncias radioativas

Existem três fatores extremamente importantes se você deseja trabalhar com fontes
radioativas:

Tempo de exposição

Distância

Blindagem
O tempo de exposição a uma fonte radioativa vai sempre estar atrelado a quantidade de
radiação que você vai receber. Digamos que uma fonte radioativa emita uma taxa X de
radiação. Se você fica 1 hora exposto a essa radiação, no final desse tempo, você
recebeu X de radiação. Ficando 3 horas exposto, você recebe 3X de radiação. A taxa de
radiação é sempre proporcional ao tempo de exposição.

A distância de uma fonte radioativa determina a intensidade da radiação que você


recebe. Quanto maior a distância de uma fonte radioativa, menor a intensidade da
radiação. A intensidade da radiação vai decair pelo inverso do quadrado da distância
toda vez que você se afasta da distância inicial da fonte radioativa. Existe uma fórmula
para calcular isso, que é: a dose inicial (D1) dividida pela dose final (D2) é igual a
distância final ao quadrado (r2²) dividida pela distância inicial ao quadrado (r1²).

A blindagem é todo e qualquer material que seja colocado entre uma fonte radioativa e
uma pessoa, objeto ou meio ambiente, a fim de atenuar a quantidade de radiação emitida
pela fonte. Esses três fatores normalmente andam juntos, mas existem aplicações em
que você não consegue trabalhar com todos eles. Existem momentos em que você vai
trabalhar apenas com o tempo e a distância, momentos em que você vai trabalhar com
os três e momentos em que você vai trabalhar mais especificamente com a blindagem,
porque você não consegue usar o tempo e a distância ao seu favor.

Princípios básicos do enriquecimento do urânio

Os minérios de urânio contêm, em geral, vários óxidos desse elemento, como UO2,
UO3 e U3O8. A extração e a purificação desses minérios — e a subseqüente produção
do urânio metálico — podem ser feitas com os processos normais de mineração e de
metalurgia usados para outros metais. Surge, porém, uma grande dificuldade quando o
objetivo é usar o urânio nos processos de fissão nuclear. O urânio, encontrado na
natureza, é uma mistura de 99,3% de 238U e apenas 0,7% de 235U. O urânio-235 é um
isótopo físsil (ou fissionável), pois explode. O urânio-238, que é o predominante na
natureza, não é físsil; pelo contrário, ele absorve os nêutrons. transformando-se em
plutônio.

Em linhas gerais podemos dizer que, uma vez extraído, o minério é submetido aos
seguintes tratamentos:

• separação das impurezas, por processos físicos;

• tratamento químico até se chegar a uma pasta, chamada yellow cake (literalmente,
“bolo amarelo”), que contém cerca de 80% de U3O8;

• purificação do U3O8;

• redução do U3O8 a UO2;

• transformação do UO2(sólido) em UF6 (gasoso).


Temos agora uma mistura de 238UF6 e 235UF6 — dois gases cuja separação é
extremamente difícil e onerosa. Por esse motivo, poucos países no mundo dispõem de
técnicas e recursos para separá-los. Diante dessa dificuldade, o que se faz na prática é
procurar aumentar a porcentagem do 235 em relação à do 238; esse processo é
denominado enriquecimento do urânio, e com ele se obtêm misturas com até 98% de
urânio-235. Após o enriquecimento, produz-se o urânio metálico, por meio da reação
com o cálcio. Esse urânio metálico será então usado como combustível em reatores e
bombas atômicas. Outro processo consiste em transformar o UF6 novamente em UO2
— e usar esse UO2, agora enriquecido, em forma de pastilhas, nas barras de
combustível dos reatores nucleares.

Constituição dos reatores de água pressurizada (PWR)


A primeira usina átomo-elétrica brasileira está situada na Praia de Itaorna, em Angra
dos Reis, Rio de Janeiro. É um reator do tipo água pressurizada e opera com urânio
enriquecido (3% de 235U), que fica colocado em 30.000 varetas metálicas. A fissão do
urânio aquece a água sob alta pressão (160 atm), que envolve as varetas metálicas
(circuito primário). Esse circuito, por sua vez, aquece a água do circuito secundário, que
irá movimentar as turbinas que acionam os geradores elétricos.
Essa sequência é mostrada, esquematicamente, na ilustração seguinte.
Aplicações dos reatores (PWR), na geração de eletricidade e propulsão de
embarcações.

Os reatores PWR foram originalmente projetados para servir como propulsão para
submarinos nucleares e foram utilizados, no seu desenho original na segunda geração de
centrais de energia nuclear, reator Nuclear de Shippingport, nos EUA. Os reatores de
energia PWR's que operam nos EUA são consideradas da segunda geração. Os reatores
nucleares do tipo VVER da Rússia são similares aos PWR's dos EUA.
A primeira usina átomo-elétrica brasileira está situada na Praia de Itaorna, em Angra
dos Reis, Rio de Janeiro. O reator Angra-I tem potência de 626 MW e produz energia
para o sistema elétrico Rio-São Paulo O reator Angra-II entrou em funcionamento no
início de 2001, com um atraso de vários anos e um custo muito superior ao previsto.
Com a potência de 1.300 MW, esse reator pode abastecer uma cidade de 1,5 milhão de
habitantes. O governo brasileiro tem a intenção de construir o reator Angra-III.
A produção da energia elétrica pelos reatores nucleares é interessante, pois,
comparando, podemos dizer que:
• 1 g de carvão produz energia suficiente para manter acesa uma lâmpada de 200 W
durante 1 min;
• 1 g de urânio produz energia para iluminar uma cidade de 500.000 habitantes, durante
1 h.
Referências

FELTRE, Ricardo, Química, Vol 2, Moderna, 2004;

Agência Câmara de Notícias;

The Virtual Nuclear Tourist. Revised: December 19, 2005;

radioprotecaonapratica.com.br/cuidados-fundamentais-ao-trabalhar-com-fontes-radioativas/.

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