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Química IV: Radioatividade

Professor: Romario Oliveira


A radioatividade
Em 1986, o cientista francês Henri Becquerel (1852-1908) estava estudando o minério urânio, conhecido como blenda
resinosa, quando descobriu que ele espontaneamente emitia radiação de alta energia. Essa emissão espontânea de radiação é
chamada de radioatividade. Com a sugestão de Becquerel, Marie Curie e seu marido, Pierre, começaram experimentos
para isolar os componentes radioativos do mineral.
Estudos posteriores sobre a natureza da radioatividade, principalmente os do cientista neozelandês Ernest Rutherford,
revelaram três tipos de radiação: radiações alfa (α), beta (β) e gama(γ). Cada tipo difere um do outro quanto a sua reação
a um campo elétrico. Os caminhos das radiações α e β é desviado pelo campo elétrico, apesar de estar em sentidos opostos,
enquanto que a radiação γ não é afetada.

Comportamento das partículas alfa


(α), beta (β) e gama (γ) em um campo
elétrico.

Rutherford mostrou que os raios α e β consistem de partículas de movimento rápido nomeadas partículas α e β. na
realidade, partículas β são elétrons em alta velocidade e podem ser consideradas o análogo radioativo dos raios catódicos;
por tanto são atraídas pela placa positiva. As partículas α são muito mais compactas do que as partículas β e tem cargas
positivas; portanto, são atraídas pela placa negativa. Em unidades de carga de elétron, partículas β têm carga -1, e
partículas α têm carga de 2+. Rutherford mostrou posterior mente que partículas α combinam-se com elétrons para formar
átomos de hélio. Além disso, ele concluiu que a radiação γ é de alta energia, similar a dos raios X; ela não consiste de
partículas e não possui carga.
Radiação alfa (α)
A radiação alfa somente é emitida por núcleos cujo número atômico é superior a 83 (número atômico do bismuto).
Durante essa emissão, ocorre o desaparecimento gradual do elemento original e o aparecimento de um novo elemento.
Esse processo é chamado de transmutação.
O decaimento alfa (também pode ser representado por He) do isótopo 235 do elemento do uranio está representado a
seguir:

𝑈→ 𝑇ℎ + α ou 𝑈→ 𝑇ℎ + He

Quando um núcleo se decompõe espontaneamente dessa forma, diz-se que ele decaiu, ou sofreu decaimento radioativo.
Como a partícula alfa está envolvida nessa reação, os cientistas também descrevem o processo como decaimento alfa.

Exemplo: qual produto formado quando a radio-226 sofre decaimento alfa?


O radio tem número atômico 88, portanto ele pode ser representado por 𝑋 = 𝑅𝑎, assim o decaimento pode ser
representado pela seguinte reação nuclear:

𝑅𝑎 → 𝑅𝑛 + α

Ou

𝑅𝑎 → 𝑅𝑛 + He
Radiação beta (β)
partículas β são elétrons em alta velocidade e podem ser consideradas o
análogo radioativo dos raios catódicos; por tanto são atraídas pela placa
positiva. Em unidades de carga de elétron, partículas β têm carga -1.
O decaimento beta também pode ser representado por 𝟎𝟏e ou 𝟎𝟏β. Observe
a formação da radiação beta no exemplo a seguir, do decaimento do isótopo
14 do elemento carbono.

𝐶→ 𝑁 + β

Esse tipo de radiação ocorre em núcleos cuja relação entre o número de


nêutrons e o número de prótons está fora do cinturão de estabilidade. Esse
cinturão é um gráfico que mostra os números de nêutrons e prótons para
todos os núcleos estáveis conhecidos.

Exemplo: qual produto formado quando a iodo-131 sofre decaimento beta?

O Iodo tem número atômico 53, portanto ele pode ser representado por 𝑋 =
𝐼. A emissão beta não muda a massa do novo elemento formado, mas
aumenta em uma unidade o numero atômico, assim esse decaimento pode ser
representado pela seguinte reação nuclear:

𝐼→ 𝑋𝑒 + β
Radiação gama (γ)
a radiação γ é de alta energia, similar a dos raios X; ela não consiste de partículas e não possui carga. Elas são
emitidas quando ocorrem transmutações nucleares. Por isso, mesmo um elemento emissor de partículas alfa pode
ser perigoso, pois também emite raios gama.
Por ser muito energética, a radiação gama é denominada radiação ionizante. Quando passa através da matéria,
interage com as moléculas, resultando em íons e radicais livres. Estes últimos, por sua vez, são prejudiciais as
células vivas. As células mais sensíveis a radiação ionizante são as do tecido linfático, as da medula, as das
membranas mucosas intestinais, as das gônodas e as do cristalino dos olhos.

Papel Alumínio Chumbo

Poder de penetração das radiações alfa (α), beta (β) e gama (γ).
Emissão de pósitrons
Radioisótopos que apresentam elevado número de prótons
podem emitir pósitrons (β 𝟎𝟏e ou 𝟎𝟏β).
Essas partículas têm carga positiva e massa próximas a do
elétron. Quando um radioisótopo emite um pósitron, seu numero
atômico diminui em uma unidade e seu número de massa
permanece inalterado.

𝟎
𝐶→ 𝐵+ 𝟏β

O fenômeno da emissão de pósitrons é usado na em diagnostico


por imagem cintilográfica, conhecido por pósitron emission
tomography (PET).

A tomografia por emissão de pósitrons com F-


fluorodeoxiglicose (FDG-PET) mostra múltiplos
acúmulos, incluindo o coração, retroperitônio direito,
parede pélvica e colo do fêmur esquerdo (seta).
Nêutrons
Em 1932, o cientista inglês Chadwick observou que, ao
bombardear berílio com partículas α , que eram emitidas
partículas não carregadas eletricamente e de massa
ligeiramente maior que a dos prótons. Ele denominou de
nêutrons.

α + 𝐵𝑒 → 𝐶 + n

Em 1939, Fritz strassman e Otto Hahn descobriram que as


fissões (quebras) de núcleos instáveis por choques com
nêutrons liberam energia. Isso abriu caminho para o primeiro
reator nuclear (em que ocorreria uma reação em cadeia de
nêutrons com núcleos instáveis, liberando mais nêutrons, que
iam quebrar mais núcleos instáveis, liberando mais nêutrons,
que iam quebrar mais núcleos , e assim sucessivamente).
Raios X
São produzidos quando elétrons são acelerados em direção a um alvo metálico, como, por exemplo o tungstênio. São
capazes de penetrar através de grandes espessuras de diversos materiais, especialmente materiais menos densos.
Metais de alta densidade, como o chumbo, bloqueiam essa radiação de maneira mais intensa. Também são capazes de
produzir fluorescência em varias substâncias. Graças ao seu pode de penetração e a sua capacidade de sensibilizar
chapas fotográficas , são utilizados na radiografia.
Transmutação artificial
Quando núcleos estáveis de elementos naturais são bombardeados com diferentes tipos de partículas (alfa, beta, prótons,
nêutrons, etc.) pode ocorrer a transmutação artificial.
Uma das reações de transmutação mais importantes foi realizada por James Chadwick, em 1932, que lhe valeu a descoberta
do nêutron.

α + 𝐵𝑒 → 𝐶 + n

Em 1934, o casal Irene Joliot Curie e Frederic Juliot produziu o isótopo , a partir do bombardeamento do Al-27 com
partículas alfa.
α + 𝐴𝑙 → 𝑃 + n

Eles descobriram, também, que o isótopo 30 do elemento fósforo era radioativo e emitia uma partícula, o pósitron, que
possui a mesma massa do elétron, mas com carga positiva. Essa partícula é representada por 𝟎𝟏e ou por 𝟎𝟏β.

𝑃 → 𝑆𝑖 + β
Meia-vida ou período de semidesintegração
Durante a transmutação, seja ela natural ou artificial, os núcleos instáveis emitem as radiações e com o passar do tempo,
o numero de átomos vai diminuindo. Por exemplo, uma amostra que contenha x isótopos de Ba-142, após 6 minutos
conterá x/2 núcleos desse isótopos. Após mais 6 minutos, o número de núcleos cairá para x/4, e assim por diante. O
período de 6 minutos é chamado de tempo de meia-vida (t1/2), do isótopo Ba-142.

Gráfico do tempo de meia-vida de uma amostra de I-131,


usado em medicina nuclear para exames de tireoide, cujo
(t1/2) é de 8 dias.
Meia-vida
Exemplo: O 201Tl é um isótopo radioativo usado na forma de TlCl3 (cloreto de tálio), para diagnóstico do
funcionamento do coração. Sua meia-vida é de 73h (3 dias). Certo hospital possui 10g deste isótopo. Qual a sua
massa, em gramas, após 9 dias?

O (t1/2) é de 3 dias .

9 dias são quantas meia-vidas?


9
= 3 𝑚𝑒𝑖𝑎 − 𝑣𝑖𝑑𝑎𝑠
3

10 𝑔
= 5 𝑔 → 3 𝑑𝑖𝑎𝑠
2

5𝑔
= 2,5 𝑔 → 3 𝑑𝑖𝑎𝑠
2
2,5 𝑔
= 1,25 𝑔 → 3 𝑑𝑖𝑎𝑠
2

𝐴𝑝ó𝑠 9 𝑑𝑖𝑎𝑠 𝑎 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑠𝑒𝑟á 𝑖𝑔𝑢𝑎𝑙 𝑎 1,25 𝑔


Meia-vida
Exemplo: O isótopo P é utilizado para localizar tumores no cérebro e em estudos de formação de ossos e dentes.
Uma mesa de laboratório foi contaminada com 100 mg desse isótopo, que possui meia-vida de 14,3 dias. Qual o
tempo mínimo, expresso em dias, para que a radioatividade caia a 12,5 % do seu valor original?

O (t1/2) é de 14,3 dias .

Quantas meia-vidas são necessárias para chegar a 12,5 % do valor original?

100 %
= 50 % → 14,3 𝑑𝑖𝑎𝑠
2
50 %
= 25 % → 14,3 𝑑𝑖𝑎𝑠
2

25 %
= 12,5 % → 14,3 𝑑𝑖𝑎𝑠
2

𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑎𝑠 = 3 𝑥 14,3 = 42,9 𝑑𝑖𝑎𝑠


Datação com carbono-14
Na atmosfera, o gás carbônico é formado por três isótopos de Gráfico do tempo de meia-vida de uma amostra de C-
carbono, nas seguintes proporções: C-12, aproximadamente 14, mostra o decaimento radioativo em função do
98,9 % ; C-13, aproximadamente 1,1 %; e C-14, tempo. Nesse gráfico, nota-se que o (t1/2) é de 5730
aproximadamente 10 ppb (partes por bilhão). Desses isótopos, anos.
somente o C-14 é radioativo, com emissão de partículas beta.
A proporção de isótopo c-14 na atmosfera se mantem constante
por que ele é reposto na atmosfera pela transmutação de n14,
por ação do bombardeamento de nêutrons originados dos raios
cósmicos.
𝐶→ 𝑁 + β
As plantas que são seres autótrofos, incorporam o gás
carbônico do ar sem diferenciar os isótopos de carbono. Nas
cadeias alimentares, esses isótopos são transferidos aos outros
seres, nas mesma proporção em que estão na atmosfera ou nas
plantas. A partir do momento em que morre, deixa de
incorporar átomos de carbono e, assim, o deu teor de C-14 é
utilizado para datação de fosseis e de objetos antigos, como
tecidos, utensílios de madeira, pergaminhos etc.
Datação com carbono-14
Exemplo: A técnica de carbono-14 permite a datação de fosseis pelos valores de emissão beta desse isótopo presente
no fóssil. Para um ser em vida, o máximo são 15 emissões beta(min/g). após a morte a quantidade de C-14 se reduz
pela metade a cada 5.730 anos.
Considere que um fragmento fóssil de massa igual a 30 g foi encontrado em um sitio arqueológico, e a medição
apresentou 6.750 emissões beta por hora. A idade desse fóssil, em anos, é

O (t1/2) é de 5730 anos.


Número de emissões morto = 6.750 emissões

Número de emissões vivo

15 emissões min/g x 30 g = 450 emissões/ min x 60 min = 27.000 emissões (vivo)


27000
= 13500 𝑒𝑚𝑖𝑠𝑠õ𝑒𝑠 → 5730 𝑎𝑛𝑜𝑠
2
13500
= 6750 𝑒𝑚𝑖𝑠𝑠õ𝑒𝑠 → 5730 𝑎𝑛𝑜𝑠
2
𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑎𝑛𝑜𝑠 = 5730 + 5730 = 11460 𝑎𝑛𝑜𝑠
Medicina
Agricultura
Fissão nuclear
Em 1939, Fritz Strassman e Otto Hahn, cientistas alemães, Bomba atômica lançada em Hiroshima
bombardearam uranio com nêutrons, enquanto tentavam obter
elementos trasuranicos. Acabaram descobrindo a reação de fissão
nuclear, cujo processo envolve a quebra de núcleos grandes,
formando núcleos menores e liberando uma grande quantidade de
energia.
A reação de fissão do uranio é representada por:

n+ 𝑈→ 𝐵𝑎 + 𝐾𝑟 + 3 n

Quando um núcleo pesado é atingido por um nêutron, há emissão de,


no mínimo mais dois nêutrons. Cada uma desses nêutrons pode ser
usado para atingir outros átomos. O resultado é a emissão de
nêutrons, que também podem ser usados em outras fissões. Assim,
temos uma sucessão de reações de fissão que podem acontecer a
partir de um único nêutron. A essas sucessivas fissões dá-se o nome
de reação em cadeia.
É a reações em cadeia que faz a bomba atômica tão devastador. Nesse
caso, não há controle no numero de nêutrons que serão utilizados em
novas fissões. Como há grande liberação de energia em cada uma
dessas fissões, o poder de destruição torna-se algo assustador.
Infelizmente temos em nossa história dois exemplos trágicos do uso
da bomba atômica: Hiroshima e Nagasaki.
Acidente em Chernobyl
Acidente em césio-137 em Goiânia
Fusão nuclear
A fusão nuclear é o oposto da fissão. Consiste na união de dois núcleos atômicos, com grande liberação de
energia. A fusão nuclear geralmente se processa com núcleos de baixa massa, e a união entre eles fornece
núcleos com maior massa.

H + H → He

O maior problema que envolve a fusão nuclear é conseguir superar a força de repulsão decorrente das cargas
positivas dos núcleos. Para que a fusão seja efetiva, são necessárias altas temperaturas e, consequentemente,
uma grande quantidade de energia para que o núcleos sejam unidos.

Bomba de hidrogênio
Maior acelerador de partículas do mundo, o LHC

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