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(QG02)
Química Geral 2
Apostila de conteúdos e exercícios
1
Sumário
Química Geral II ................................................................................................................... 5
Informações da disciplina.......................................................................................................... 5
Ementa da disciplina ................................................................................................................. 5
Unidade I: Estrutura Eletrônica do átomo ........................................................................... 6
Matéria x Energia ...................................................................................................................... 6
Mecânica Ondulatória ............................................................................................................... 6
A natureza quântica da matéria ................................................................................................ 9
O modelo atômico de Dalton .................................................................................................... 9
Os experimentos de Faraday e Crookes com tubos de descarga ........................................... 10
A natureza elétrica da matéria: O modelo atômico de Thomson ........................................... 12
Determinação da razão carga-massa do elétron .................................................................... 13
Milikan determinou a carga do elétron com o m.m.c............................................................. 14
Os vazios do átomo: o modelo planetário de Rutherford ...................................................... 15
O problema do corpo negro: a catástrofe do ultra-violeta ..................................................... 19
As origens da teoria quântica: Max Planck faz uma viagem muito louca ............................... 22
O efeito fotoelétrico: o Nobel de Einstein e como Planck estava certo ................................. 23
Os espectros de absorção e emissão da matéria .................................................................... 28
O modelo de Bohr e os níveis de energia................................................................................ 32
Os raios-X: Henry Moseley “conserta” a Tabela Periódica ..................................................... 35
O efeito Compton .................................................................................................................... 37
O problema do modelo de Bohr ............................................................................................. 37
A dualidade onda-partícula e a relação de De Broglie ............................................................ 38
O experimento de Young da fenda dupla: natureza ondulatória da luz ................................. 40
O princípio da incerteza de Heisenberg e o princípio da complementaridade de Bohr ......... 46
A função de onda do elétron: a Equação de Schrödinger ....................................................... 47
A partícula na caixa rígida ....................................................................................................... 51
Aplicação da partícula na caixa: polienos conjugados ............................................................ 57
Resolvendo a equação de Schrödinger: os orbitais atômicos ................................................. 60
Orbitais p e degenerescência .................................................................................................. 65
Os níveis de energia dos orbitais atômicos para o hidrogênio ............................................... 66
A energia dos orbitais multieletrônicos: o princípio da exclusão e o princípio de aufbau ..... 68
Blindagem e carga nuclear efetiva em átomos polieletrônicos .............................................. 72
A configuração eletrônica e a Tabela Periódica ...................................................................... 75
O efeito do par inerte.............................................................................................................. 82
2
O gato de Schrödinger............................................................................................................. 82
Lista de exercícios: Unidade I ........................................................................................... 85
Unidade II: Ligações Químicas ......................................................................................... 87
Por que os átomos se ligam? .................................................................................................. 87
Ligações polares ...................................................................................................................... 88
A ligação iônica........................................................................................................................ 89
Sólidos iônicos e a energia de rede ......................................................................................... 91
Propriedades dos sólidos iônicos: solubilidade, PF e PE ......................................................... 97
O efeito da polarização: corrigindo o modelo de ligação iônica ............................................. 98
A ligação covalente ................................................................................................................. 99
Radicais químicos e reatividade ............................................................................................ 102
Ressonância ........................................................................................................................... 103
O efeito da eletronegatividade e a força das ligações .......................................................... 104
O modelo VSEPR e a Geometria Molecular .......................................................................... 106
A Teoria de Ligação de Valência (TLV)................................................................................... 109
Hibridização dos orbitais atômicos ....................................................................................... 111
Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM) ................................................................................ 114
O comportamento magnético dos compostos covalentes ................................................... 123
A ligação metálica ................................................................................................................. 124
A teoria de bandas: Condutores e semicondutores.............................................................. 126
Forças intermoleculares ........................................................................................................ 128
Complexos de Metais de Transição: o bloco d da tabela ...................................................... 131
Isomeria de compostos de coordenação .............................................................................. 137
TLV para Complexos de Metais de Transição........................................................................ 140
Teoria do Campo Cristalino (TCC) e a Série Espectroquímica ............................................... 143
Propriedades magnéticas dos complexos ............................................................................. 151
Energia de Estabilização do Campo Cristalino(EECC) e efeito Jahn Teller ............................ 153
Teoria do Campo Ligante ...................................................................................................... 158
Lista de exercícios: Unidade II ........................................................................................ 159
Unidade III: Química Nuclear .......................................................................................... 166
Histórico da Química Nuclear................................................................................................ 167
Partículas Nucleares .............................................................................................................. 169
Tipos de reações nucleares ................................................................................................... 171
Aplicações das reações nucleares ......................................................................................... 173
Estabilidade nuclear e o Cinturão de estabilidade ................................................................ 173
Séries de Decaimento Nuclear .............................................................................................. 181
3
Unidades de radiação ............................................................................................................ 182
Cinética de reações nucleares ............................................................................................... 183
Carbono-14 e datação ........................................................................................................... 184
Lista de exercícios: Unidade III ....................................................................................... 187
Material Suplementar ....................................................................................................... 190
Canais de aulas no youtube .................................................................................................. 190
Materiais online .................................................................................................................... 190
Animações interativas ........................................................................................................... 190
Referências ....................................................................................................................... 191
Anexos .............................................................................................................................. 192
Tabela Periódica dos Elementos ........................................................................................... 192
Funções de onda do átomo de hidrogênio ........................................................................... 193
Propriedades periódicas........................................................................................................ 194
Geometria molecular (VSEPR) ............................................................................................... 195
Tipos de decaimentos nucleares e representações .............................................................. 197
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Química Geral II
Informações da disciplina
Esse curso está estruturado em três unidades que focam, diferente
da Química Geral I, entender o comportamento químico da matéria na
escala microscópica. Os fundamentos que explicam as Leis da
Termodinâmica, as espontaneidades de reações eletroquímicas ou a
formação de moléculas orgânicas partem dos conhecimentos desse
universo.
Na primeira unidade vemos os conhecimentos acumulados ao longo
da ciência moderna na construção da estrutura eletrônica da matéria, o
átomo. Precisamos passar por bases da Física Clássica como o
eletromagnetismo de Maxwell e a mecânica de Newton para
entendermos o surgimento da Física Moderna as descrições quânticas dos
átomos até chegarmos aos orbitais atômicos.
Na segunda unidade, vamos entender como os átomos foram
organizados pelos químicos e como eles podem interagir entre si para
formar os compostos químicos de acordo com sua estrutura eletrônica
(com foco nos grupos s e p da Tabela Periódica). As diferentes ligações
químicas e suas propriedades gerais são vistas nessa unidade, bem como
estruturas químicas radicais e a hibridização, a formação dos orbitais
moleculares.
Na terceira unidade, introduziremos aspectos gerais das ligações dos
elementos do grupo d e iniciaremos um breve curso sobre Química
Nuclear, abordando o desenvolvimento histórico e os aspectos práticos da
aplicação dos conhecimentos relacionados.
Ementa da disciplina
Periodização: 2º (Bacharelado), 3° (Engenharias)
CH: 60 h (Teórica) Créditos: 3.0
ESTRUTURA ATÔMICA. ORIGENS DA TEORIA QUÂNTICA. O ÁTOMO DE
BOHR. MECÂNICA QUÂNTICA. ESTRUTURA MOLECULAR. LIGAÇÃO
COVALENTE. LIGAÇÃO IÔNICA. LIGAÇÃO METÁLICA. LIGAÇÕES
INTERMOCULARES. TÓPICOS DE QUÍMICA. QUÍMICA ORGÂNICA. QUÍMICA
NUCLEAR.
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Unidade I: Estrutura Eletrônica do átomo
Na primeira unidade desse curso vamos fazer uma viagem histórico-
físico-química para entendermos como chegamos aos conhecimentos que
temos hoje sobre a unidade fundamental da matéria, o átomo (e suas
subpartículas) e a Física Moderna que explica o comportamento quântico do
átomo.
Vídeo introdutório: A Escala do Universo Quântico | O que é
quantização?
https://www.youtube.com/watch?v=xdqlKlIJ1-E
Inicialmente, é prudente termos em mente alguns conceitos importantes
para o que vem a seguir. Vamos distinguir matéria de energia e falar sobre
física ondulatória, especialmente sobre ondas eletromagnéticas, que são de
fundamental importância nessa unidade.
Matéria x Energia
A matéria pode ser entendida como tudo aquilo que tem massa e
ocupa uma lugar no espaço. Ela apresenta estados (sólido, líquido, gasoso,
plasma) e tem propriedades físicas e químicas. Em um sistema fechado, a
matéria é conservada.
A energia, diferente da matéria, não tem volume e é definida como a
capacidade de realizar trabalho. Várias formas de energia existem e
coexistem em diversos sistemas e elas podem ser transformadas entre si. Em um
sistema isolado, a energia é conservada.
Formas de energia: cinética,
potencial, mecânica, química, elétrica,
magnética, nuclear e térmica. Jennifer
Fogaça, Escola Kids.
Mecânica Ondulatória
Ondas são perturbações oscilantes que se propagam em um
determinado espaço transportando energia sem transportar matéria. Existem
vários tipos de onda, e uma das classificações que nos interessam são as
ondas mecânicas ou eletromagnéticas.
6
A onda mecânica envolve o transporte de energia através de um meio
material. O som por exemplo, precisa de um meio para se propagar, que
pode ser o ar. Quando alguém fala, você escuta porque as moléculas do ar
vibram transportando a onda da boca de alguém até o seu ouvido. Isso
significa também que no vácuo não é possível haver a propagação do som.
As ondas eletromagnéticas se propagam independente de um meio material.
É o caso da luz visível. A luz é uma forma de energia que pode viajar no vácuo
com velocidade de 3,00.108 m/s.
A radiação eletromagnética é
constituída por dois campos
perpendiculares entre si, o campo
elétrico e o campo magnético. Elas
formam uma variedade de ondas
com grande aplicabilidade no nosso
dia a dia de acordo com seu
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comprimento de onda ou sua frequência.
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A natureza quântica da matéria
Nas primeiras tentativas de entender o universo e o comportamento das
forças que nele existem, as grandes civilizações do passado trouxeram um:
nascia no berço da Grécia Antiga, o raciocínio lógico. Não demorou muito
para que os gregos se perguntassem do que as coisas eram constituídas. Seria
possível dividirmos a matéria até sua unidade fundamental?
• Inicialmente se pensou que as coisas eram feitas de uma partícula
constituidora de tudo. A essa partícula foi dada o nome de átomo, que
vem do grego atom, que significa indestrutível.
• Demócrito e Leucipo foram os primeiros filósofos a criarem o conceito de
átomo, mas suas ideias não foram muito populares na época em grande
parte porque o grande filósofo Aristóteles acreditava que a matéria era
contínua, e portanto infinitamente divisível.
• Algumas poucas ideias foram além distinguindo os átomos. Eles poderiam
ser elementarmente diferentes. Uma das propostas consistia em quatro
elementos básicos, fogo, água, terra e ar, dos quais tudo era formado a
partir deles e eles se distinguiam entre si pela sua forma física.
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A hipótese de Dalton era condizente com as leis de Lavoisier e Proust
além de que era uma evidência definitiva da Lei dos Gases Ideais partindo
das leis de Newton para energia cinética de gases. Dalton inclusive criou um
sistema de representação gráfica dos diferentes átomos que eram conhecidos
até então, e publicou no seu livro Filosofia da Química.
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forte o brilho se tornava. Quando Faraday experimentou trocar o gás do
recipiente, o brilho no ânodo assumia diferentes cores de acordo com o gás
presente. Quando modificou o material do cátodo, nada aconteceu: o brilho
permanecia. A esse brilho, ele nomeou brilho catódico.
Faraday então concluiu
que a corrente elétrica fluía no
sistema através do gás a baixa
pressão e que a cor da luz
próxima ao ânodo dependia da
composição do gás e o brilho
catódico independia do mesmo.
Anos mais tarde, ao elevar
ainda mais a diferença de
potencial na célula, Faraday
Tubo de descarga em gás de Michael Faraday. observou o brilho catódico se
tornar um feixe luminoso e
atravessar a ampola de vidro até
o ânodo. Esse feixe foi chamado de raio catódico.
A ciência estava curiosa para saber do que eram compostos os raios
catódicos na época. Por volta dos anos 1870, Thomas Crookes desenvolveu
um novo projeto conhecido como ampola de Crookes e fez alguns testes e
observações.
Inicialmente Crookes
constatou que os raios
catódicos eram partículas
com massa. Ao inserir uma
ventoinha paralela a
direção do feixe de luz,
Crooks observou que ela
era rotacionada pela
passagem do feixe e
quando a ventoinha era
posicionada perpendicular
ao feixe, o raio atingia o
material e era interrompido
no anteparo.
Crookes observou
ainda que a trajetória dos
raios catódicos era
influenciada pela presença
de um campo magnético.
O raio era atraído na
direção de um campo
magnético positivo e o feixe
de raios catódicos devia ser certamente composto por partículas carregadas
negativamente que “saltavam” de qualquer cátodo e percorriam o caminho
da ampola até o ânodo.
Esquema experimental da ampôla de Crookes e os
experimentos realizados na década de 1870.
11
Havia apenas um pequeno furo nas conclusões de Crookes. Se os raios
catódicos interagiam com um campo magnético, eles também deveriam
interagir com um campo elétrico, enquanto partículas eletricamente
carregadas. Ao realizar os experimentos com um campo elétrico, Crookes não
observou nenhuma distorção dos raios catódicos, o que pôs em xeque suas
conclusões.
Quem resolveu o problema quase que num golpe de sorte foi o prêmio
Nobel de 1906, o físico inglês Joseph John Thomson. Você deve ter lembrado
de um pudim de passas do ensino médio.
12
Thomson definiu os elétrons como corpúsculos negativamente
carregados presos a esfera do átomo em movimento circular uniforme (o
elétron se movimentava ao redor do átomo) espalhados em uma
conformação mais estável eletrostaticamente. Seu postulado foi publicado
em 1904 na Philosophical Magazine e hoje em dia para fins práticos foi
reduzido a simplesmente “o modelo do pudim de passas”.
13
Onde W e r foram verificados experimentalmente e q e B eram
conhecidos na montagem experimental. Aplicando vários campos
magnéticos com diferentes valores de B, Thomson obteve vários valores para
“r” e chegou ao valor de e/me.
Ao encontrar um valor muito alto para a razão carga/massa, Thomson
pensou que ou a carga do elétron era de fato muito elevada, ou sua massa
muito pequena. Ele intuiu corretamente que sua massa era de fato muito
pequena, e um cabra muito bom de laboratório, Robert Milikan, provou isso
anos mais tarde.
Thomson ainda repetiu os experimentos com átomos de hidrogênio
ionizados, H+. Sabendo que H+ seria equivalente a um átomo sem elétrons, ele
determinou a razão carga/massa do H+ e observou que esta era cerca de
2000 vezes maior que o valor da razão carga-massa dos elétrons. Hoje
sabemos que o valor da massa do elétron é aproximadamente 1836 vezes
maior que a massa do próton.
Para tirar essa conclusão, Thomson se apoiou no fato de que o átomo
de hidrogênio é neutro em condições normais (não é eletricamente
carregado), e, portanto, a carga do H+ teria que ser igual a carga do elétron
em módulo (de acordo com o seu modelo atômico) para justificar as
substâncias não serem naturalmente carregadas.
14
intensidade → do mesmo, controlar o movimento da gota. Caso ele elevasse
𝐸
→ , poderia equilibrar a gota parada no ar desde que a força gravitacional
𝐸
fosse equivalente a força
elétrica e de resistência
do ar.
g = aceleração da
gravidade
η = viscosidade do ar
r = raio da gota (esférica)
Sendo que :
FE = q.E (força elétrica)
15
de Avogadro só foi determinado com precisão no século XX com o avanço
da tecnologia e batizado em homenagem ao cientista que lançou os
princípios para que este pudesse ser obtido.
NA = 6,02 x 1023 quantidades de átomos ou moléculas/mol de
substância
A partir do número de Avogadro, foi possível determinar qual seria a
ordem de grandeza do volume de um átomo (dividindo o volume molar por
NA). Os cientistas descobriram que o volume dos átomos era da ordem de 10 -14
m³. Guarde essa medida, vamos usá-la futuramente.
Outro tópico que estava aquecendo a ciência nessa época foi o
experimento realizado em 1896 por Antoine Becquerel, um químico francês
que trabalhava com radioatividade. Becquerel identificou que cristais de
urânico emitiam três “raios invisíveis” distintos de forma natural. O primeiro foi
chamado de raio α (alfa), que era facilmente absorvido por um papel, o
segundo de raio β (beta), que podia atravessar metais com até 2,5 cm de
espessura, e os raios γ (gama) que foram observados atravessarem placas de
metal de até 20 cm de espessura. Vamos falar mais a fundo desses raios na
terceira unidade, mais experimentos seguintes demonstraram que os raios α
eram positivamente carregados e a razão carga/massa era igual a
e/2.mHidrogênio. Hoje sabemos que as partículas alfa são compostas de um
núcleo contendo 2 nêutrons e 2 prótons (He2+). Essas partículas foram utilizadas
em muitos experimentos após a sua descoberta, em um deles, pelo
neozelandês Ernerst Rutherford em 1909.
Rutherford havia sido aluno de Thomson na Universidade de Cambridge,
e estava intrigado com a proposição de seu ex-professor de que o átomo era
uma esfera maciça cuja carga positiva era distribuída uniformemente em sua
extensão pois isso contradizia um experimento que ele havia feito com
partículas alfa e uma fina folha de ouro.
Rutherford e seus alunos bombardearam uma fina folha de ouro com
partículas α e posicionaram um anteparo de sulfeto de zinco por trás da folha
para investigar a deflexão/o desvio que as partículas sofreriam. Vamos reforçar
que nesse momento já era possível conhecer a velocidade das partículas
(pelo ângulo de deflexão em um campo magnético).
No final do experimento, ao
contabilizar as partículas no
anteparo, Rutherford observou que
o ângulo de deflexão de algumas
partículas era bem elevado e que
um número muito pequeno de
partículas que foi lançada (1 a
cada 20.000) não foi contabilizada
no anteparo. Ele imaginou que
com baixíssima frequência,
algumas partículas eram
retroespalhadas.
Rutherford então repetiu os
experimentos com um anteparo
maior como o da figura ao lado e
16
conseguiu então encontrar essas partículas. Ora, se os átomos tinham massa e
carga positiva uniformemente distribuídas em seu redor, como poderia haver
partículas retroespalhadas? E como para muitas outras o ângulo do desvio era
tão grande?
Representação do experimento de Rutherford e do espalhamento de partículas
alfa ao atingir uma folha de ouro. Google Imagens.
𝜃 𝑧.𝑍²
𝑡𝑎𝑛 =
2 4𝜋𝜀0 𝑚𝑣²𝑏
17
𝑧𝑍²
𝐸𝑃(𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎) = 4𝜋𝜀0 𝑟𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜
núcleo positivo. Os nêutrons, por não terem carga, só foram descobertos em 1932 por
James Chadwick como vamos falar mais a frente.
Note também que o diâmetro do átomo é 100.000 vezes maior que o núcleo.
2
Imagine uma bola de futebol no centro da Arena Pernambuco. A bola poderia ser o
núcleo e a eletrosfera o estádio.
18
não orbitam grandes astros por atração de cargas elétricas. É a gravidade
que as mantêm em órbita.
19
As medidas experimentais dos cientistas na
época mostravam que os padrões de emissão de
energia como radiação térmica eram do tipo do
gráfico mostrado ao lado (Observe que foi
deixado destacada a região de luz visível).
Contrariando portanto a física clássica, o padrão
de emissão de energia representado pela
intensidade luminosa I da radiação, se
relacionada a frequência e ao comprimento de
onda, e não somente a sua amplitude. Mais um
problema pra os cientistas da época
Perfil experimental da emissão de radiação
resolverem. E de fato, muitos tentaram. térmica de um dado material aproximado ao
corpo negro aquecido a diferentes temperaturas.
20
daqui pra frente. A intensidade da radiação emitida é proporcional ao cubo
de sua frequência (contradição com a física clássica, como dissemos) e a
exponencial da frequência pela temperatura. Observe no gráfico anterior,
que à medida que a T aumenta, a Lei de Wien passa a apresentar erros
consideráveis na sua predição.
21
𝟐𝝅𝒉𝒇𝟑 𝟏
𝑳𝒆𝒊 𝒅𝒆 𝑷𝒍𝒂𝒏𝒄𝒌 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒓𝒂𝒅𝒊â𝒏𝒄𝒊𝒂 𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒓𝒑𝒐 𝒏𝒆𝒈𝒓𝒐 𝑰 (𝒇, 𝑻) =
𝒄𝟑 𝒉𝒇
𝒆𝝈𝑻 −𝟏
22
de saber), mas de forma discreta nos múltiplos inteiros de hf. Daí surge a Lei de
Planck:
𝐸 = 𝑛. ℎ. 𝑓 𝑜𝑛𝑑𝑒 ℎ = 6,63.10−34 𝐽. 𝑠
23
elétrons” das superfícies metálicas. Daí então foi dado a esse fenômeno o
nome de efeito fotoelétrico.
Em seus experimentos,
Lenard fazia um feixe de luz branca
incidir sobre uma placa metálica
dentro de uma ampola de vidro
sob vácuo como mostra a figura
ao lado. Essa placa metálica era
posicionada opostamente a uma
placa coletora e ambas ligadas
em um circuito com um
amperímetro para avaliar a
corrente elétrica. Ao incidir a luz,
Experimento de Lenard. Mundo educação.
um fluxo de elétrons era formado
da placa metálica até a placa
coletora, e a corrente formada era
medida.
Esperava-se que ao aumentar a intensidade/brilho da luz, os elétrons
fossem ejetados com maior velocidade, portanto, maior energia cinética, já
que pelo eletromagnetismo clássico, o corpo absorveria toda a energia
irradiada. A primeira observação de Lenard ao ligar a luz, é que uma corrente
elétrica era gerada instantaneamente, e ao aumentar a intensidade da luz, a
corrente aumentava (em concordância com a Física Clássica) mas mesmo a
intensidades muito baixas, o aparecimento da corrente era sempre
instantâneo. Classicamente, era difícil compreender esse segundo resultado,
porque acreditava-se que a absorção de energia era contínua e à
intensidades baixas, ela deveria levar mais tempo para acontecer
(consequentemente, o aparecimento da corrente elétrica não deveria ser
instantâneo quando I muito baixo). Esse era o primeiro indício de que a
matéria não podia absorver energia contínua e indiscriminadamente.
Outra observação de Lenard foi de que haviam certas frequências de
onda (certos tipos de luz que não eram capazes de produzir o efeito
fotoelétrico (não geravam corrente ao ligar a luz). Lenard concluiu que existia
uma frequência mínima, a partir da qual os elétrons podem ser excitados. E
essa frequência mínima variava de acordo com o material irradiado (o metal
no cátodo). Essa observação vai totalmente contra o eletromagnetismo
clássico, que não predizia a dependência da frequência da luz com a
absorção de energia dos átomos.
Ao ligar a bateria do experimento (até agora Lenard tinha feito essas
descobertas com uma DDP =0) de forma positiva (ΔV > 0) para uma mesma
intensidade de luz, foi observado que a corrente elétrica subia até um platô,
um valor constante. Até aí, estamos de acordo com a teoria clássica: maior
diferença de potencial, mais elétrons chegam no ânodo, maior corrente
elétrica até um dado ponto onde a luz não consegue emitir mais elétrons do
que os que já estão sendo emitidos e a corrente é constante. Se aumentamos
a intensidade da luz nessas configurações, aumentamos o valor do platô da
corrente.
24
Efeito de uma diferença de potencial no efeito fotoelétrico e gráfico do efeito da intensidade
da luz na corrente. Autor.
25
e aparecer corrente no sistema é nulo, o elétron absorve a energia do fóton e
instantaneamente escapa do cátodo.
Explicava também a existência da frequência mínima (relacionada a função
trabalho) característica para cada material para o efeito fotoelétrico ocorrer.
Se a energia do quantum depende da sua frequência, certos valores de
energia não são suficientes para que o elétron absorva e escape dos átomos.
A partir daquele valor, os elétrons vão escapar. Essa energia mínima do
quantum foi chamada de função trabalho ϕ.
Os postulados de Einstein ainda explicavam o fato de que ao operar o sistema
com a DDP negativa, existia um potencial único (o potencial de corte)
independente da intensidade da luz. Ao variar a intensidade da luz, significava
apenas mandar mais fótons para o metal, e não mandar fótons mais
energéticos. Dessa forma, a uma dada DDP <0 referente ao potencial de
corte o elétron não consegue escapar do metal enquanto a frequência da luz
não for aumentada. Logo, ao mudar a frequência, muda-se o potencial de
corte:
ℎ
𝑃𝑜𝑡𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑟𝑡𝑒 ∝ (𝑓 − 𝑓0 ) Observe que a constante de Planck h
𝑒 funciona como um parâmetro de
O experimento que provou essa teoria de grandeza para que comecemos a
Einstein veio anos mais tarde feito por visualizar o efeito das trocas de energia
Milikan, que ainda mediu o valor de h quantizada. Em processos cujas ordens de
experimentalmente, confirmando o valor grandeza das transferências de energia
predito anteriormente por Planck com boa são maiores que a ordem de grandeza de
exatidão. h, as transferências de energia parecem
contínuas aos nossos olhos.
Einstein então postulou o modelo
para o efeito fotoelétrico como um
comportamento linear extremamente simples:
fϕ
26
O efeito fotoelétrico não condizia com a realidade da Física Clássica,
pois de acordo com o eletromagnetismo clássico, um corpo iluminado deveria
absorver toda a radiação emitida sobre ele e eventualmente liberá-la. Mas de
acordo com o efeito fotoelétrico, isso só acontecia a partir de uma
determinada frequência de onda (correspondente a função trabalho ϕ), que
era particular para cada material do corpo irradiado. O que temos aqui é a
prova de que Planck estava certo.
A absorção de energia de uma onda eletromagnética se dá em
“pacotes de energia inteiros”. Por isso a energia cinética dos elétrons liberados
não era maior ao aumentarmos a intensidade. Aumentar a intensidade da
radiação significa simplesmente liberar mais pacotinhos de energia luminosa
com a mesma energia, e não pacotes com energia mais elevada. Ao invés de
aumentar a energia cinética dos elétrons, aumentávamos a quantidade de
elétrons ejetados ao aumentar-se a intensidade da radiação.
No nível macroscópico enxergávamos as trocas de energia como
contínuas, mas no nível microscópico, elas acontecem
quantizadas, na forma de pacotes de energia. Isso
Lembre-se que sempre
marca definitivamente o nascimento da Física Quântica podemos converter
e o fim da Física Clássica na explicação dos fenômenos frequência em
microscópicos. Por isso, Max Planck recebeu o prêmio comprimento de onda:
Nobel de Física em 1918 e Albert Einstein em 1921 pela 𝑐
𝑓=
equação do efeito fotoelétrico. 𝜆
O efeito Duane-Hunt
O efeito Duane-Hunt em linhas gerais é o
efeito análogo/simétrico ao efeito fotoelétrico. Ao
inserir uma corrente elétrica em um metal, os
elétrons desse metal deveriam emitir energia na
forma de fóton. O físico alemão Wilhelm Roentgen
observou que esse efeito ocorria com altas
tensões aplicadas aos metais (DDP > 10000 V) e
produziam raios invisíveis (radiação
Einstein aos 26 anos em 1905. eletromagnética) com comprimentos de onda
Ano em que publica três artigos
tão pequenos que esses raios podiam atravessar
no Annalen der Physik, entre eles
estava o artigo da explicação materiais de baixa densidade. A esses raios,
do efeito fotoelétrico. Roentgen deu o nome de Raios X. Ele é o
princípio dos equipamentos médicos utilizados
nos exames de rádio-imagem que todos nós já fizemos em algum momento.
27
Exemplo de uma ampola de
Raios-X. De Ampola digital
Wordpress.
28
Um espectro contínuo demonstra radiação de todos os comprimentos de onda em
uma faixa determinada, similar ao que Newton obteve. Um espectro de absorção vai
revelar certas radiações com certos comprimentos de onda que foram absorvidos por
um determinado material impedindo que aquela luz chegue ao prisma e formando as
raias ou linhas escuras. Essas linhas ficaram conhecidas como linhas de Frauenhofer.
Um espectro de emissão é simétrico ao de absorção e traz as linhas complementares
(as linhas escuras no espectro de absorção).
Observe os espectros de
absorção e emissão do hidrogênio
acima. O que você pode dizer sobre
eles?
Vamos fazer um novo exercício.
Observe os espectros de absorção e
29
emissão ao lado. Você consegue concluir qual é o gás desconhecido no
estudo dos espectros de absorção? E no espectro de absorção?
Em 1885, Knut Johan Ångström mediu todos os comprimentos de onda
espectro de emissão do hidrogênio (que ele poderia ver, ou seja, na região de
luz visível).
Você pode observar que eram apenas 5 comprimentos de onda (na
figura acima).
Em 1885, Johannes Balmer tentou criar uma correlação matemática
que fornecesse esses comprimentos de onda do espectro de Hidrogênio, e ele
chegou a tal fórmula:
1 1 1
𝜆
= 𝑅 (4 − 𝑛2 ) 𝑛 ∈ I, 2 ≤ n ≤ 6
30
Vamos olhar para a figura e trabalhar com valores. Observe que o
elétron no nível 1 tem uma energia de -13,58 eV, a menor possível. Esse é o
estado de menor energia para um elétron no átomo de hidrogênio (o lugar
mais confortável para ele, o estado fundamental). Se incidirmos uma radiação
com frequência f tal que a energia do fóton Efoton = h.f. seja igual a 10,19 eV,
então o elétron no nível 1 certamente irá absorver esse fóton e passará para o
nível 2. Essa frequência corresponde exatamente a primeira linha no espectro
de absorção do H em λ = 656,3 nm (luz vermelha). Por outro lado, se essa
radiação tem frequência f tal que a energia do fóton é Efoton < 10,19 eV, nada
acontece (o elétron não é excitado ao n =2). O elétron não é capaz de
absorver mais de um fóton para somar essas energias. Da mesma forma, se
Efoton > 10,19 eV nada acontece pois o elétron não pode absorver uma parte
da energia de um fóton. No universo quântico é tudo ou nada. Dizemos que o
Hidrogênio é transparente às radiações que não podem ser absorvidas por
ele.
Naturalmente, um elétron do átomo de H no estado excitado n=2 irá
eventualmente emitir radiação de frequência f tal que a Efoton seja igual a 10,19
eV. Essa radiação corresponde a linha vermelha no espectro de emissão.
• O que acontece se incidirmos uma radiação de frequência f tal
que Efoton = 12,07 eV em um átomo de H no estado fundamental
(n=1)?
R=_____________________________________________________________
____.
• O que acontece se incidirmos uma radiação de frequência f tal
que Efoton = 12,68 eV em um átomo de H no estado fundamental
(n=1)?
R
=_______________________________________________________________
__.
• O que acontece se um átomo de H no estado excitado n=4
emitir uma radiação cuja energia do fóton corresponde a 12,73
eV?
R
=_______________________________________________________________
__.
31
O modelo de Bohr e os níveis de energia
Buscando resolver o problema da instabilidade do modelo do átomo de
Rutherford, o então aluno do próprio Rutherford e goleiro da seleção de
futebol dinamarquesa, o físico Niels Bohr, propôs um novo modelo atômico
estável que correspondia aos espectros descontínuos de absorção e emissão
do hidrogênio. E você aí reclamando que 24h no seu dia não está sendo
suficiente.
Bohr se apoiou nas ideias de Max Planck e Einstein da interação da
radiação eletromagnética com o elétron, e tomou quatro postulados (Mahan
e Myers, capítulo 10):
1. Os elétrons viajam por órbitas estacionárias de
Estacionário: a variação
energia fixa e definida no átomo ao redor de um
núcleo parado; de um parâmetro, nesse
2. No estado estacionário fundamental o elétron caso energia dE, é
não emite luz, mas pode absorver energia da constante em dt.
ordem de um quantum (h.f) e saltar para um
nível superior e voltar ao estado estacionário após emitir
radiação da ordem correspondente;
3. No estado estacionário a órbita do elétron é circular sobre
influência da força coulômbica e da força centrípeta;
4. As órbitas possíveis definidas para o elétron têm o momento
angular múltiplo de h/2π.
ℎ
𝐿 = 𝑚𝑒 . 𝑣. 𝑟 = 𝑛. ℏ = 𝑛 2𝜋 ; 𝑛 ∈ 𝐼+
32
𝑍𝑒 2 𝑚𝑒 𝑣 2
=
4𝜋𝜀0 𝑟 2 𝑟
Podemos encontrar uma expressão para v a partir do momento
quantizado de Bohr.
ℎ 𝑛ℎ
𝑚𝑒 𝑣𝑟 = 𝑛 ∴𝑣=
2𝜋 2𝜋𝑚𝑒 𝑟
Substituindo v na força centrífuga:
𝑍𝑒 2 𝑚𝑒 𝑛ℎ 2 𝑍𝑒 2 𝑚𝑒 𝑛2 ℎ²
= ( ) ∴ =
4𝜋𝜀0 𝑟 2 𝑟 2𝜋𝑚𝑒 𝑟 4𝜋𝜀0 𝑟 2 4𝑟𝜋 2 𝑚𝑒2 𝑟²
O raio de cada órbita do átomo de Hidrogênio poderia então ser dado
por:
𝑛² ℎ2 𝜀𝑜 𝑛²
𝑟= = 𝑎
𝑍 𝜋. 𝑚𝑒 𝑒² 𝑍 0
Observe que aqui criamos uma nova constante, a0, que é chamada de
raio de Bohr. Ele equivale a exatamente o raio da primeira órbita do átomo de
hidrogênio (quando n =1 e Z=1).
𝑎0 = 0,52918 Å
(veja que o tamanho típico da eletrosfera é da ordem de 10-10 m)
A energia do elétron na órbita r será a soma das suas energias
potenciais e sua energia cinética. Podemos considerar a energia potencial
coulômbica e escrever então:
𝑍𝑒 2 1
𝐸𝑇 = 𝑈𝐶 + 𝐸𝑐𝑖𝑛 = − + 𝑚𝑣²
4𝜋𝜀0 𝑟 2
𝑍𝑒 2 1 𝑍𝑒²
𝐸𝑇 = − +
4𝜋𝜀0 𝑟 2 4𝜋𝜀0 𝑟
𝟏 𝒁𝒆²
𝑬𝑻 = −
𝟐 𝟒𝝅𝜺𝟎 𝒓
Na mecânica planetária, a energia potencial dos corpos é igual ao
módulo negativo do dobro da Ecin. Na mecânica do átomo de Bohr, a
energia do elétron em uma órbita estável é igual ao módulo negativo da
metade da sua energia potencial (U = -2 Ecin). Assumimos aqui que a energia
total do átomo depende de r, e pela mecânica clássica newtoniana, r
poderia assumir qualquer valor. Sendo assim, poderíamos ter qualquer valor de
ET.
Bohr precisava então quantizar r (para atender ao requisito de que ET só
pode ser valores específicos). Bohr fez muitas proposições antes de chegar ao
valor de limitar r ao momento angular h/2π. No final das contas, esse resultado
foi o mais plausível. Bohr sabia que a quantização dos níveis de energia teria
que ter a ver com a constante de Planck h pois ela relacionada os fenômenos
de transferência de energia quântica.
Substituindo r na expressão para ET, temos que:
33
1 𝑍𝑒 2 𝑍 𝑍2 𝑒²
𝐸𝑇 = − 2
= − 2
2 4𝜋𝜀0 𝑛 𝑎0 2𝑛 4𝜋𝜀0 𝑎0
𝑍2 1 1 𝑒²
𝛥𝐸𝑖−𝑓 = 𝐸𝑓 − 𝐸𝑖 = ℎ𝑓 = (𝑛2 − 𝑛2 ) 4𝜋𝜀 (absorção ni < nf)
2 𝑖 𝑓 0 𝑎0
34
As transições energéticas que aparecem nos gráficos acima foram
chamadas de saltos quânticos, e estavam relacionadas cada uma a um valor
de energia que o fóton teria que ser para ser absorvido (setas para cima) ou
emitido (setas para baixo). Sem querer, Bohr explicou as linhas escuras no
espectro de absorção e as linhas claras no espectro de emissão dos gases.
Você é capaz de receber porque quando n →∞, a energia associada a
esse nível tende a 0? E porque a diferença entre os níveis de energia ΔEn
diminui à medida que n aumenta? (lembre-se que 𝑛 ∈ 𝐼 + ).
• Balmer e Rydelberg permitiram calcular as energias associadas a
transição de cada nível de energia do átomo de H.
35
muito energético de elétrons dos níveis superiores liberando radiações de
frequência característica de raios X.
• Primeira observação de Moseley: A relação de intensidade ρ (λ) da
radiação emitida dependia somente do material alvo, e não do
eletrodo.
Pensando nas transições de energia dos níveis de Bohr, Moseley
encontrou para a transição de n=2 para n=1 que:
𝑍2 1 1 𝑒²
𝐸2 − 𝐸1 = ℎ𝑓 = ( 2 − 2)
2 1 2 4𝜋𝜀0 𝑎0
Passando a constante de Planck para o lado direito da equação e
chamando os constantes naturais da equação de ER, temos que:
1 3
𝑓 = 𝑍 2 (1 − ) 𝐸𝑅 = 𝑍 2 𝐸𝑅
4 4
Portanto:
𝑓 ∝ 𝑍2
A ideia de Bohr explicava a relação do número atômico com a
frequência dos raios X emitidos nas transições eletrônicas, apesar de um monte
de coisa estranha que misturava no movimento do elétron a física clássica e a
mecânica quântica.
Testando vários materiais alterando a frequência da onda produzida,
Moseley foi capaz de corroborar os números atômicos dos elementos
conhecidos e inferir os ainda não
conhecidos.
36
número atômico. O mesmo problema ocorria para os pares Ni e Co, e Te e I.
O efeito Compton
Em 1923, A.H. Compton bombardeou
raios-X em uma amostra de grafite, e
observou que a radiação que atingia a
amostra ejetava elétrons e liberava uma
radiação de frequência menor.
O efeito do espalhamento Compton se
explica pelos postulados de Einstein e o
princípio da conservação de energia.
• Só ocorre em radiações de alta energia: UV, raios X e raios γ;
• A frequência da radiação liberada está relacionada a energia
absorvida pelos elétrons;
• Energia e momentum são conservados.
37
De fato, a ideia de níveis de energias quantizados para a permanência
do elétron no átomo se prova plausível em diversos pontos experimentais. O
átomo de Bohr concorda com os dados encontrados por Henry Moseley. O
experimento de Franck-Hertz também corrobora o modelo de Bohr.
As equações de Bohr se aplicam com bastante previsibilidade para os
íons hidrogênoides: H, He+, Li+2, etc... Esses modelos contemplam apenas um
elétron orbitando o núcleo.
Todavia, o modelo de quantização baseado no momento angular do
elétron não explica a carga sentida por elétrons em níveis de energia mais
elevados quando outros elétrons estão presentes no átomo. Existe um efeito de
blindagem, que estudaremos mais a seguir em átomos polieletrônicos (com
vários elétrons), que define a carga efetiva (Zef) que um elétron sentiria em
níveis mais externos:
𝑍𝑒𝑓 = 𝑍 − 𝑏 sendo b ∈ N+ .: Zef < Z
Partículas Ondas
EM
Tem
Leis de momentu Leis de Interfere
Newton me Maxwell m entre si
colidem
38
Aqui reside o coração da física quântica moderna. Até então, a
radiação eletromagnética era considerada uma onda, mas o efeito
fotoelétrico era uma evidência do comportamento corpuscular da luz. Como
a radiação EM é capaz de atingir elétrons e ejetá-los, como se fossem
partículas em uma colisão? Como a energia dessas partículas está
relacionada a uma frequência f e um comprimento de onda λ? Quem tem f e
λ característicos são ondas. E agora, José?
Radiação
eletromagnética
Efeito fotoelétrico
Difração
e efeito Compton
Comportamento Comportamento
corpuscular da luz ondulatório
ℎ𝑐 ℎ
𝑚𝑐 2 = => 𝑚𝑐 =
𝜆 𝜆
39
ℎ
𝑝= equação que incorpora o comportamento corpuscular p com o
𝜆
comportamento ondulatório λ da luz.
ℎ
𝑐= (Relação de De Broglie, p = momentum linear da partícula)
𝑝
Se pensarmos, portanto, em uma partícula de m = 1,0 g a uma
velocidade 1m/s, teremos que λ = 7.10 -30 m. Esse valor associado ao mundo
macroscópico é muito, muito, muito pequeno para ser detectado. Não
conseguimos identificar ondas dessa magnitude de frequência. A Física não
consegue medir nada com desse tamanho.
O que são as ondas de matéria de De Broglie? Antes de chegar lá,
vamos falar do experimento de Young, que comprovou o comportamento
ondulatório da radiação eletromagnética.
40
Definições:
• Número de onda k = 2π/λ;
• frequência angular da onda w = 2 π. v;
• velocidade da onda harmônica (senoidal): v = w/k
Somando F1 e F2 em um determinado ponto onde elas interagem,
podemos usar identidade trigonométrica para resolvê-la.
𝛼−𝛽 𝛼−𝛽
𝑠𝑒𝑛 𝛼 + 𝑠𝑒𝑛 𝛽 = 2 cos ( 2
) 𝑠𝑒𝑛 (2
)
𝑘(𝑟1 − 𝑟2 ) 𝑘(𝑟1 + 𝑟2 )
𝐹1 + 𝐹2 = 2𝐴 𝑐𝑜𝑠 𝑠𝑒𝑛 ( − 𝑤𝑡)
2 2
Superposição construtiva
Superposição destrutiva
41
Probabilidade de o fóton atingir a franja δ com largura x = energia total
que chega em determinada área por unidade de tempo / energia de um
fóton
𝐼(𝑥)𝐴𝑥𝑦 𝑦
𝑁δ = = 𝐼(𝑥)𝑑𝑥
ℎ𝜐 ℎ𝜐
42
Segunda parte, será que a matéria pode se comportar como onda? Se
sim, nós conseguiríamos escrever uma função de densidade de probabilidade
para ela também?
Como vimos na relação de De Broglie, somente uma partícula com
uma massa muito pequena seria capaz de produzir um comprimento de onda
possível de ser medido (da ordem de ~10-15 m, pelo menos). O que eles tinham
de menor na época, era o elétron.
Exercício: Qual o comprimento de onda que um elétron com energia
cinética igual a 10 eV (em baixo estado de energia) emite? Você imagina que
esse tipo de onda era fácil ou difícil de medir naquela época (anos 10)?
Lembre-se que nessa questão, a energia do elétron é dada em eV (1eV =
1.602×10-19 J).
1 𝑝²
𝐸𝑐𝑖𝑛 = 2
𝑚𝑣 2 = 2𝑚
𝑝 = √2𝑚𝐸𝑐𝑖𝑛
ℎ ℎ 6,626069.10−34
Relação de De Broglie: 𝜆= = = =
𝑝 √2.𝑚.𝐸𝑐𝑖𝑛 √2.9,109.10−31 .(10.1,602.10−19 )
6,626069.10−34
1,708369.10−24
𝜆 = 38,76.10−9 𝑚
38 nm é da ordem do comprimento de ondas dos raios-X.
43
Figura acima (Morgon, 2008, Química Nova, Vol. 21, No7). Figuras abaixo, Google
Imagens.
E = hν λ = h/p
Comportamento Comportamento
corpuscular da luz ondulatório da
por Planck matéria de Broglie
44
Parêntesis: De Broglie até chegou a propor um modelo atômico que
incorporava o comportamento dual do elétron no átomo:
45
energia do fóton absorvido e emitido está relacionada
diretamente a essa energia cinética do elétron.
46
1,054.10−34
𝛥𝑣 = ≅ 107 𝑚/𝑠
2 .(5.10−12 )(9.10−31 )
47
precisamos descrevê-lo como uma função de onda. Isso foi a raiz do
desenvolvimento de infinitas novas tecnologias que você, caro leitor, não
consegue nem imaginar. Semicondutores, microscópios de tunelamento,
televisores, WiFi e 5G pra conversar durante a aula, entre outras.
Inicialmente, precisamos desenvolver novas funções de onda, porque
na física uma equação de uma onda harmônica não poderia descrever o
elétron no átomo. Uma onda harmônica tem um a densidade de
probabilidade uniforme no espaço, já o elétron não, ele oscila como uma
onda, mas também está localizado em regiões do espaço localizadas com
densidade de probabilidade não uniforme. Traduzindo, existem regiões com
maior probabilidade e regiões como menor probabilidade de encontrar o
elétron no átomo.
O primeiro a conseguir a proeza de escrever uma função de onda
satisfatória para o elétron foi o austríaco Erwin Schrödinger, representada pela
letra grega psi Ψ:
• Contínua
• Unívoca (cada domínio só tem uma imagem)
• Quadraticamente integrável
• Primeira derivada integrável
48
que me dá informações é o quadrado da função de onda. O quadrado da
função de onda (Ψ²) é uma densidade de probabilidades e por isso o modelo
quântico do átomo é probabilístico, e não determinístico (como o de Bohr).
ℋ𝜓𝑖 = 𝐸𝑖 𝜓𝑖
49
A energia Ei diz respeito a energia total (soma das energias potenciais e
cinética) em um dado estado i quando o operador Hamiltoniano 𝓗 é
aplicado na função Ψ respectiva a i. O hamiltoniano quando é definido, torna
o problema puramente matemático. Quando o hamiltoniano opera sobre
uma função adequada Ψi, o resultado será o produto da função pelo
resultado numérico de Ei, chamado de auto-valor.
𝑚𝑣𝑥 ² (𝑚𝑣𝑥 )² 𝑝𝑥 ²
𝐸𝑐𝑖𝑛,𝑥 = = =
2 2𝑚 2𝑚
𝑖ℎ 𝑑
𝑝𝑥 = 𝑚𝑣𝑥 = −
2𝜋 𝑑𝑥
Elevando o operador diferencial ao quadrado e aplicando sobre ψ:
ℎ² 𝑑²𝜓
𝐸𝑐𝑖𝑛 𝜓 = −
8𝜋²𝑚 𝑑𝑥²
Se uma partícula está livre, assumimos que Epot é nula, e escrevemos
que o hamiltoniano é igual a energia cinética.
ℎ² 𝑑²𝜓
ℋ𝜓 = 𝐸𝜓 = −
8𝜋²𝑚 𝑑𝑥²
Caso a partícula tenha energia potencial no átomo (da atração
eletrostática ou da posição, etc.), temos a equação geral da Schrödinger
para um problema unidimensional:
ℎ2 𝑑 2 𝜓 ℏ𝟐 𝒅𝟐 𝝍
𝐸𝜓 = − + 𝑉𝜓 == − + 𝑽𝝍
8𝜋 2 𝑚 𝑑𝑥 2 𝟐𝒎 𝒅𝒙𝟐
É comum representar a energia potencial por V.
ℏ2 𝑑2 𝜓 𝑑2 𝜓 𝑑2 𝜓
𝐸𝜓 = − ( )( )( ) + 𝑉𝜓
2𝑚 𝑑𝑥 2 𝑑𝑦 2 𝑑𝑧 2
50
A resolução dessa equação só é possível para o átomo de hidrogênio
quando assumindo valores de E específicos. Dessa forma, no modelo do átomo
de Schrödinger a energia já é quantizada matematicamente de forma
automática, diferentemente do modelo de Bohr, que impõe essa condição na
formulação do modelo para descrever o espectro de emissão do átomo de
Hidrogênio.
51
ℏ2 𝑑2 𝜓 𝒅𝟐 𝝍 𝟐𝒎𝑬
− 2
= 𝐸𝜓 ∴ 𝟐
=− 𝝍
2𝑚 𝑑𝑥 𝒅𝒙 ℏ²
2
𝟐𝒎𝑬 𝟐𝒎𝑬 𝟏/𝟐
𝑏 = ∴ 𝝍 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 ( 𝟐 ) 𝒙
ℏ² ℏ
Observe que a energia da partícula E pode ter qualquer valor se a
partícula tem trajetória livre. Porém, se restringirmos o movimento da partícula
(a confinamos na caixa), ela terá um movimento periódico/de energia
quantizada. Impondo a condição das paredes, podemos traçar suas
condições de contorno, sabendo que a função é nula dentro das paredes
impenetráveis (energia da partícula =0).
𝝍 (𝟎) = 𝟎 (automaticamente)
2𝑚𝐸 1/2
( 2 ) 𝐿 = 𝑛𝜋
ℏ
Se reorganizarmos a equação em função de E, temos que:
Esse é o valor imposto para
1/2
a energia da partícula na
2𝑚𝐸 𝑛𝜋 𝒏²𝒉² caixa, pois n =1,2,3, ... e
( ) = ∴ 𝑬= 𝒉²
ℎ 𝐿 𝟖𝒎𝑳² é constante.
(2𝜋) ² 𝟖𝒎𝑳²
52
𝟏
𝒏²𝒉² 𝟐𝒎𝑬𝒏 𝟐 𝑛𝜋
𝑬𝒏 = 𝝍 (𝒙) = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 (
ℏ𝟐
) 𝒙 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏
𝐿
𝒙
𝟖𝒎𝑳²
𝑚𝑣² 𝑚 ℎ𝑛 2
𝐸= = (𝑚2𝐿)
2 2
Pela relação de De Broglie,
chegamos exatamente no
mesmo autovalor para a energia
ℎ² da partícula na caixa.
𝐸𝑛 = 𝑛²
8𝑚𝐿²
Temos a função de onda tal que, num caso muito simples, pode
ser deduzida diretamente da relação de De Broglie.
𝑛𝜋 2𝜋
𝜓 (𝑥) = 𝐴. 𝑠𝑒𝑛 𝑥 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 𝒙
𝐿 𝜆
53
A função de onda só é possível ser deduzida pela equação de De
Broglie para os casos mais simples como a partícula na caixa unidimensional.
𝑛𝜋
𝜓𝑛 (𝑥) = 𝐴. 𝑠𝑒𝑛 𝑥
𝐿
𝐿 𝟐 𝟏/𝟐
𝐴2 =1 ∴ 𝑨=( )
2 𝑳
54
• Para Ψ(x,y):
55
nx = 1, ny = 1 nx = 1, ny = 2
nx= 2 , ny = 1 nx = 2, ny = 2
56
A partícula na caixa tridimensional
Isso ocorre
devido as transições
eletrônicas que
ocorrem entre a
interação dos orbitais
p conjugados de
carbono nesse
sistema, formando
57
um híbrido de ressonância. Nos aprofundaremos sobre ressonância na próxima
unidade quando falarmos de orbitais moleculares e ligações covalentes.
Imagine uma transição eletrônica do nível n=2 para n=3. Ela ocorrerá
do nível ocupado mais alto para o nível desocupado mais baixo (indicado
pela seta vermelha). Podemos utilizar o autovalor da energia para a partícula
na caixa (que deduzimos anteriormente) para encontrar uma solução
aproximada para essa transição de energia:
n²h²
En =
8mL²
Se fizermos que o número de energia ocupados é igual N/2 em que N é
o número de carbonos envolvidos (três átomos de carbono compartilham um
elétron dois a dois), o valor de N/2 é igual ao número quântico principal do
nível ocupado mais alto (n = N/2). Uma transição do nível 2 para o três seria
portanto N/2 para (N/2) +1. A diferença de energia entre os níveis para a
transição será dada por:
𝑁 2 𝑁 2
[( )+1] ℎ2 ( ) ℎ2
2 2
∆𝐸 = −
8𝑚𝐿2 8𝑚𝐿2
𝑁 2 𝑁 2 ℎ2
∆𝐸 = [( + 1) − ( ) ]
2 2 8𝑚𝐿2
𝒉𝟐
∆𝑬 = (𝑵 + 𝟏)
𝟖𝒎𝑳𝟐
Essa diferença de energia da transição ΔE pode ser relacionada ao
comprimento de onda com a equação de Planck.
𝑐 ℎ𝑐 𝟖𝒎𝑳²𝒄
∆𝐸 = ℎ𝑓 = ℎ ∴ 𝜆= =
𝜆 ∆𝐸 𝒉(𝑵 + 𝟏)
58
Para o butadieno, temos N=4. O valor de L (a largura da caixa) será o
comprimento da molécula. Ligações duplas (uma σ e uma π) tem o
comprimento de 1,35 Å enquanto que ligações simples tem o comprimento de
1,54 Å. O raio do átomo de carbono é aproximadamente 0,77 Å (Å = 10−10 m).
O comprimento L da molécula será, portanto,
Radiação
−7 UV
𝜆 = 2,20.10 𝑚 = 220 𝑛𝑚
𝐿²
𝜆∝
(𝑁 + 1)
ΔE2→3
59
Observe outros exemplos de polienos conjugados encontrados
comumente na natureza:
Google Imagens
Para evitar que as funções se apresentem com três funções seno (sen³
(x, y, z)), utilizamos coordenadas esféricas pois θ e ϕ são limitados (de 0 a π e
de 0 a 2π, respectivamente).
60
a0 (modelo de Bohr)
Quando n aumenta, a
região de maior densidade
se distancia do núcleo
𝒁𝒓
𝒁 𝟑/𝟐 −𝒂 1 1/2
𝜓100 = 𝟐 ( ) 𝒆 𝟎[ ]
𝒂𝟎 4𝜋
𝒁𝒓
𝟏 𝒁 𝟑/𝟐 𝒁𝒓 − 1 1/2
𝜓200 = 𝟐 ( ) ( ) (𝟐 − ) 𝒆 𝟐𝒂𝟎 [ ]
𝟐√𝟐 𝒂𝟎 𝒂𝟎 4𝜋
2𝑍𝑟
1 𝑍 3/2 20𝑍𝑟 2𝑍𝑟 2 − 1 1/2
𝜓300 = 2 ( )( ) (6 − +( ) ) 𝑒 6𝑎0 [ ]
9√3 𝑎0 3𝑎0 3𝑎𝑜 4𝜋
61
cuja densidade de probabilidade é dada por Ψ².
𝑚𝑒 4 𝑍 2
𝐸𝑛 = −
8𝜀02 𝑛2 ℎ2
62
Vale uma pausa aqui para ressaltarmos que a maior densidade de
probabilidade para um elétron no átomo de H é exatamente o raio de
Bohr e que sua energia é ~13,6 eV, correspondendo aos valores que Bohr
estimou.
Cada orbital individual pode agregar somente dois elétrons (isso é muito
importante para o fundamento das ligações químicas). Dessa forma, dois
elétrons poderiam ter os mesmos números quânticos. Em 1920, Otto Stern e
Walter Gerlach incidiram um feixe de átomos de prata no vácuo sobre um
campo magnético não -uniforme, e observaram que uma parte dos átomos se
direcionava para o norte, e outra para o sul (Figura abaixo). Como eles sabiam
que o átomo de Ag tinha apenas um elétron “desemparelhado”, ou seja,
sozinho em um orbital atômico (Kr36, 4d10, 5s1), eles aproximaram o
comportamento do átomo com 47 elétrons como sendo um átomo de apenas
1 elétron desemparelhado que seria defletido em uma dada direção pelo
campo magnético.
Experimento de Stern-Gerlach.
Google Imagens.
Para explicar os
resultados de Stern e
Gerlach, os físicos Samuel
Gouldsmit e George
Uhlenbeck propuseram que
o elétron girava em torno de
seu eixo dentro do átomo
em 1925. Esse sentido de
rotação poderia ser horário,
ou anti-horário, e em um orbital, apenas um elétron em cada sentido poderia
ser acomodado. Dessa forma, elétrons desemparelhados teriam a
propriedade de interagir com um campo magnético. Essa característica do
elétron foi chamada de spin e assim foi criado o quarto número quântico: o
número magnético de spin, que pode assumir os valores +1/2 (↑) ou -1/2 (↓).
63
(↑↓). Quando um orbital tem somente um elétron, dizemos que ele está
desemparelhado (↑_).
Agora você consegue entender porque nos referimos a 1s, 2s e 3s como Ψ100,
Ψ200 e Ψ300?
64
Identificação N elétrons
n l ml mspin Função de onda
do orbital máximo
1 1 𝒁 𝟑/𝟐 −𝒁𝒓 𝟏 𝟏/𝟐
1 0 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
1s 2 𝝍𝟏𝟎𝟎 = 𝟐 ( ) 𝒆 𝒂𝟎 [ ]
𝒂𝟎 𝟒𝝅
1 1 𝟏 𝒁 𝟑/𝟐 𝒁𝒓 − 𝒁𝒓 𝟏 𝟏/𝟐
2 0 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
2s 2 𝝍𝟐𝟎𝟎 = 𝟐 ( ) ( ) (𝟐 − ) 𝒆 𝟐𝒂𝟎 [ ]
𝟐√𝟐 𝒂𝟎 𝒂𝟎 𝟒𝝅
𝝍𝟐𝟎𝟎
𝟏 𝒁 𝟑/𝟐
1 1 = 𝟐( ) ( ) (𝟐
2 1 +1 +
2
𝑜𝑢 −
2
2px 𝟐√𝟐 𝒂𝟎
𝒁𝒓 −𝟐𝒂 𝒁𝒓 𝟑 𝟏/𝟐
6 − ) 𝒆 𝟎 [ ] 𝒔𝒆𝒏𝜽𝒄𝒐𝒔𝜽
𝒂𝟎 𝟒𝝅
1 1
2 1 0 + 𝑜𝑢 −
2 2
2py
1 1
2 1 -1 + 𝑜𝑢 −
2 2
2pz
𝟏 𝒁 𝟑/𝟐 𝟐𝟎𝒁𝒓
𝝍𝟑𝟎𝟎 = 𝟐 ( ) ( ) (𝟔 −
1 1 𝟗√𝟑 𝒂𝟎 𝟑𝒂𝟎
3 0 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
3s 2 𝟐𝒁𝒓 𝟐 −𝟐𝒁𝒓 𝟏 𝟏/𝟐
+( ) ) 𝒆 𝟔𝒂𝟎 [ ]
𝟑𝒂𝒐 𝟒𝝅
1 1
3 1 +1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3px
1 1
3 1 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
3py 6
1 1
3 1 -1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3pz
1 1
3 2 +2 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dz²
1 1
3 2 +1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dx²-y²
1 1
3 2 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dxy 10
1 1
3 2 -1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dxz
1 1
3 2 -2 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dyz
Nos anexos, você encontrará uma Tabela do Mahan e Myers (4º edição
traduzida) que trás as funções de onda para todos os orbitais escritas de uma
forma resumida.
Orbitais p e degenerescência
Vamos examinar os orbitais do tipo p:
65
Olhe para a função de onda na tabela dada. Na função de onda dos
orbitais s, olhe para a parte angular. Não há dependência em teta ou fi, isso
explica porque o orbital s é esférico. Ele depende somente de “r” nas
coordenadas esféricas. Já o orbital 2px, como exemplo, depende de sen θ.cos
ϕ, que é igual a zero quando θ=0º e 180° ou quando ϕ= 90°. A revolução do
plano cartesiano que representa essas funções gera a figura tridimensional
correspondente ao orbital 2px que você pode ver acima. Analogamente, o
mesmo ocorre para os orbitais 2py e 2pz.
No nível n=2 (primeiro estado excitado para H), temos oito orbitais
degenerados:
n l ml ms
Naturalmente, em
2 0 (s) 0 +1/2 estados excitados mais
2 0 (s) 0 -1/2 elevados (n=3, n=4,
n=5...) haverão mais
2 1 (p) +1 +1/2
combinações possíveis.
2 1 (p) +1 -1/2
n = 3 (18)
2 1 (p) 0 +1/2
2 1 (p) 0 -1/2 n = 4 (32)
2 1 (p) -1 +1/2
2 1 (p) -1 -1/2
Os nós radiais, como o nome já diz, são regiões com um raio r cuja
probabilidade de encontrar o elétron é zero. Nos orbitais s do hidrogênio,
podemos observar esses nós a partir de n=2. Os nós radiais de um orbital são
iguais a n - l -1.
𝑛ó𝑠 = 𝑛 − 1
𝑎0 𝑛² 1 𝑙(𝑙 + 1)
𝑟̅ = {1 + [1 − ]}
𝑍 2 𝑛2
67
probabilidade radial do elétron para o átomo de hidrogênio, como podemos
claramente observar ao lado.
Então revisando:
68
(perpendiculares entre si). É natural imaginar os elétrons do orbitais p não
conseguem penetrar o núcleo como os elétrons dos orbitais s. Assim também
os orbitais d permitem menos ainda que os elétrons cruzem o núcleo. Portanto,
a energia dos orbitais para
manter o elétron crescerá na
ordem s < p < d.
Diagrama típico de energia dos
orbitais do hidrogênio (a) e de
átomos polieletrônicos (b)
mostrando as diferenças de
energias entre os níveis.
O princípio da exclusão diz que dois elétrons não podem ter o mesmo
conjunto de números quânticos. Isso tudo ocorre devido a repulsão elétron-
eletrón e o efeito de blindagem nuclear. Agora podemos falar das
configurações eletrônicas de um átomo.
69
com elétrons de spins paralelos, e então começamos a
preenche-los com elétrons desemparelhados.
70
Agora observe que é através dessas propriedades eletrônicas do estado
fundamental que estudamos os elementos (e os organizamos na tabela
periódica):
71
maiores números atômicos agora e vamos introduzir uma outra forma de
representar a distribuição eletrônica colocando a quantidade de elétrons nos
últimos níveis de energia (essa forma é mais prática para átomos com Z
elevado).
Isso ocorre
porque a diferença de
energia entre o orbital
4s e 3d do Cr é muito
baixa e leva a uma
simetria muito boa, que
justifica um estado de
menor energia (que a
gente sabe que é o que
a natureza gosta né).
Em cátions de metais de
transição como Cr3+, Ti3+,
Mn2+ e Cu2+, o orbital 3d
possui uma energia
menor que o nível 4s por
essas razões de simetria.
72
sofre o efeito de repulsão com os elétrons vermelhos mais próximos do núcleo.
Em átomos com muitos elétrons, um dado elétron vai sofrer um efeito da
blindagem de todos os elétrons que se se encontram em níveis mais internos.
Dessa forma, podemos pensar como a Zefetiva diminui ao longo da tabela
periódica.
1s 2s 2p 3s 3p 3d 4s 4p 4d 4f .....
73
K – 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 4s¹
1s 2s 2p 3s3p 4s
Note que:
𝑁é(𝑛=1) = 2 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
𝑆 = 2.1,00 + 8.1,00 + 8.0,85 + 0.0,35
𝑁é(𝑛=2) = 8 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
𝑆 = 16,1
𝑁é(𝑛=3) = 8 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
𝑍𝑒𝑓 = 19 − 16,1 = 2,9
𝑁é(𝑛=4) = 0 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
Sr38 – 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 4s² 3d10 4p6 5s2
Resposta: S = 35,15
Resposta: S = 27,7
74
blinda os elétrons melhor que um orbital p (que possui uma região nodal), e o
orbital p por sua vez, blinda os elétrons melhor que um orbital d (que possui
duas regiões nodais). Existem outros modelos de estimativa de Zef: mais
complicados e que não são apropriados a esse curso).
Tabela periódica dos elementos com classificação típica. Fonte: Toda Matéria. (Você
encontrará uma tabela similar nos anexos da apostila em tamanho maior)
75
Redução da carga nuclear devido à diferença de forças de atração
do núcleo sobre elétrons mais externos do átomo. Ocorre devido a repulsão
eletrônica entre um dado elétron e outros elétrons em níveis de energia
menores (mais próximos ao núcleo). Esse fenômeno é descrito na física pela Lei
de Gauss do eletromagnetismo.
• Raio atômico
76
Já se considerarmos os elementos de um mesmo período, o raio
atômico é menor no lado direito da tabela devido ao efeito de atração das
cargas. Em um mesmo período, a quantidade de níveis de energia é a
mesma, porém como há mais elétrons no último nível a medida que vamos da
esquerda para a direita, o efeito de blindagem é mais diluído entre os elétrons
da última camada fazendo com que o raio do último nível de energia seja
cada vez menor.
• Raio iônico
Considerando
uma mesma família da
tabela, o raio iônico
aumentará de cima
para baixo de forma
óbvia e acompanhando
a tendência do raio
atômico. E
considerando um
mesmo período ele
também aumentará da
direita para a esquerda.
Comparação entre raio iônico de vários elementos e seus
Porém, podemos
átomos neutros. Fonte: Manual da Química.
destacar aqui que há
77
uma descontinuidade entre os ametais e os metais, pois os metais tem
tendência a formar cátions, e, portanto, seu raio iônico será menor que o raio
atômico, enquanto que os ametais tem a tendência de formar ânions, e seu
raio iônico será maior que o raio atômico.
• Energia de ionização
,
Observe que no mundo
macroscópico a unidade eV não
é muito prática, e costumamos
representar essas energias em
unidades de Joule por mol de
substância = 6.1023 átomos.
79
Diagrama das primeiras energias de ionização na Tabela Periódica. Fonte: Infoescola.
• Afinidade eletrônica
80
É possível também falarmos da
segunda e terceira afinidade eletrônica dos átomos, assim como a energia de
ionização, seguindo o mesmo princípio. Nos elementos das famílias 5A, 6A e 7A
é possível adicionar um elétron com uma liberação de energia positiva da
ordem de kJ/mol. Adicionar um segundo ou terceiro elétron normalmente vai
envolver uma absorção de energia. O que significa que a afinidade eletrônica
irá ser negativa para X2- e também para X3-. No caso da família 7A, os
halogênios, adicionar um segundo elétron requer preencher um novo nível de
energia, mais distante do núcleo. Isso envolve uma energia muito alta e por
isso não vemos ânions de halogênios X2-.
81
Propriedades características dos metais e não-metais. Google Imagens.
O gato de Schrödinger
82
A Física quântica é esquisita. Assim também achavam Erwin
Schrödinger, Niels Bohr e Albert Einstein, então quem somos nós pra achar que
tudo que vimos nessa lição é algo normal.
83
é que no mundo macroscópico, não faz sentido pensarmos em duas
realidades excludentes, antagônicas. Ou é Hg ou é Au. Ou tá vivo ou tá morto.
84
Lista de exercícios: Unidade I
Fatores de
Constantes
conversão/Unidades
Raio de Bohr a0 = 0,52918 Å 1 eV 1,602. 10-19 J
Permissividade no vácuo ε=8,85419x10-12 C/N.m²
h (cte. Planck) 6,626070⋅10−34 J⋅s
4,135667.10-15 eV.s
h.c 1240 eV/mm
85
Faça um esboço da forma e orientação dos seguintes tipos de orbitais:
s, p e d. E justifique a quantidade de regiões nodais que cada uma deve
apresentar com relação a sua função de onda Ψ.
86
Unidade II: Ligações Químicas
Se você sobreviveu a unidade anterior, já é muita coisa. Falamos
extensamente do átomo e sua estrutura eletrônica bem como falamos dos
elementos, os tipos de átomos diferentes e como eles são organizados na
tabela periódica. A realidade é que os átomos não caminham sozinhos. A
nossa realidade da existência da vida e do desenvolvimento de tecnologias
se dá ao fato de que átomos diferentes podem se combinar
(espontaneamente ou não) para formar uma variedade inexplicável de
compostos com diversas propriedades.
Já começamos a falar sobre ligações químicas ao falarmos das
propriedades periódicas dos elementos e você já certamente entendeu que
elas ocorrem no universo da eletrosfera do átomo. E não, elas não são
simplesmente um traço que usamos pra ligar um átomo ao outro como nas
representações de Lewis. Na verdade, as ligações químicas só puderam ser
entendidas com clareza a partir do desenvolvimento da mecânica quântica,
no século passado.
Pois bem, sabemos que a energia do átomo pode ser expressa em
função do momento angular orbital e do spin total dos elétrons. Nas ligações
químicas, podemos ignorar os momentos angulares dos elétrons de camadas
interiores e concentrar nossos esforços no momento
de spin dos elétrons da camada de valência (pois
são eles que vão participar das ligações químicas).
Nessa unidade vamos estudar os três tipos
principais de ligações entre átomos: iônica,
covalente e metálica. Além disso, estudaremos
também ligações entre moléculas de caráter mais
“fraco”, as ligações intermoleculares. Vamos aplicar
as tendências observadas na tabela periódica para
predizer qual o tipo e quantas ligações um átomo
pode fazer. Vamos aprender a corrigir os modelos de
ligação iônica e covalente no cerne do que
distingue esses dois processos. Primeiramente, vamos
entender por que uma ligação química acontece.
87
Fonte: Blog do Rafael Mori.
Ligações polares
A eletronegativade
(uma nova propriedade
periódica que vamos introduzir
aqui) é a afinidade de um
átomo com os elétrons em
uma ligação. Um átomo com
eletronegatividade muito alta
(canto superior direito da
tabela) é capaz de retirar um
elétron de um átomo cuja
eletronegatividade é baixa,
como em um cabo de guerra.
A propriedade análoga a
eletronegatividade é a
eletropositividade.
88
Tendência de aumento da eletronegatividade na tabela periódica. Fonte: O mundo
da química.
A ligação iônica
Na ligação iônica ocorre uma transferência definitiva de elétrons de um
átomo (que se torna um cátion) para outro (que se torna um ânion). Devido a
interação coulômbica entre o cátion e o ânion (que são positivamente e
89
negativamente carregados, respectivamente) os átomos ficaram próximos uns
dos outros em um arranjo tal cuja carga total do arranjo é nula e as cargas
pontuais são simetricamente distribuídas de forma a minimizar os efeitos de
atração e repulsão.
90
Sabemos que a energia liberada da reação de Na e Cl será a
diferença entre a energia de ionização (para retirar um elétron) de sódio pela
energia da afinidade eletrônica (a energia liberada ao receber um elétron) de
cloro.
+
𝑁𝑎(𝑔) + 𝐶𝑙(𝑔) → 𝑁𝑎(𝑔) + 𝐶𝑙𝑔−
91
repulsão sobre ele. Obviamente, os átomos mais próximos de um dado átomo
na estrutura vão ter uma contribuição maior, e à medida que consideramos
átomos mais distantes na estrutura, essa contribuição diminui.
Existe uma ciência que se dedica a estudar essas formas cristalinas,
chamada cristalografia. Vamos ver algumas formas de retículos cristalinos
encontradas na natureza:
92
potencial coulômbico será admitido com o maior número de cargas opostas
possíveis ao redor de um íon. O tamanho do íon será fundamental pois íons
menores permitem que os íons de cargas opostas fiquem mais próximos,
aumentando a repulsão entre eles. Íons maiores vão manter os íons de carga
oposta mais afastados entre si. Esse efeito é chamado de efeito da dupla
repulsão.
Para situações mais simples do tipo A1X1 (como
haletos de metais alcalinos), podemos simplesmente
↑ r+ ↑ coordenação
dividir o raio do cátion pelo raio do ânion:
Somente cátions muito
Modelo de sólidos iônicos do tipo A1X1
grandes como metais terra-
Número de
r+/r- Sistema cristalino raras podem ter nº de
coordenação
<0,155 2 Linear coordenação entre 8 e 12.
0,155 - 0,225 3 Trigonal
0,225 – 0,414 4 Tetraédrico
0,414 – 0,732 6 Octaédrico
0,732 – 1,0 8 Dodecaédrico
Hexagonal
>1,0 12
compacta
93
Estruturas do tipo AmXn e AmXnYp são mais complexas e não vão seguir a
regra da razão entre o raio do cátion e o raio do ânion. Veja alguns exemplos.
Número de Número de
Estrutura
Sólido iônico coordenação coordenação
cristalina
dos cátions do ânion
Fluoritas (CaF2, UO2, ThO2) 8 4 CS
Perovskitas (BaTiO3, SrZrO3, SrSnO3) 12 e 6 6 CFC
Espinélios (MgAl2O4, FeAl2O4) 4e6 4 CFC
hematita
(Fe2O3)
Goetita
(FeO(OH))
94
resultante de atração pelas cargas opostas e uma força resultante de
repulsão pelas cargas iguais atuando sobre ele. A energia de rede é o que
mantém os íons unidos. Quanto maior for a energia de rede, mais difícil
separar os íons da ligação.
Vamos escrever a lei de Coulomb para essas forças:
𝑄1 𝑄2 𝑄1 𝑄2
𝐸12 = − (𝐴𝑡𝑟𝑎çã𝑜) 𝐸12 = (𝑅𝑒𝑝𝑢𝑙𝑠ã𝑜)
4𝜋𝜀0 𝑑12 4𝜋𝜀0 𝑑12
95
uma menor força de atração resultante. Isso é equivalente dizer que a força
da ligação iônica diminui. Observe também que ao aumentarmos as cargas
tanto dos ânions (de -1 para -2) quanto dos cátions (de +1 para +2 e +3) temos
um aumento da constante de Madelung que aumenta proporcionalmente a
energia de rede. Lembre-se que por convenção representamos eles valores
de forma negativa: energia liberada ao desfazer a ligação iônica.
Vamos pensar na influência da energia de rede nas propriedades dos
sólidos iônicos. Qual sólido iônico terá maior resistência à choques mecânicos,
maior solubilidade e maior ponto de fusão: MgO, NaCl ou Al2O3? Ordene em
ordem crescente por propriedade e pesquise na internet os PFs e solubilidade
em água dos compostos.
E como podemos medir a energia de rede? Não podemos, na
verdade. O que podemos fazer é utilizar a Lei de Hess para avaliar os
processos que ocorrem com as espécies químicas (de acordo com suas
energias conhecidas) e aplicar o diagrama de Born-Haber. A energia
associada a um processo pode ser igualada a soma das energias envolvidas
nas etapas. Observe os processos correspondentes a formação de NaCl.
Etapa ΔH (kJ/mol)
96
A vaporização de Ca(s) para Ca(g) requer ΔH1 = 178 kJ/mol. A primeira
energia de ionização do Ca corresponde a ΔH2 = Ei(1) = 590 kJ/mol e a
segunda energia de ionização é ΔH3 =1145 kJ/mol. Note que aqui utilizamos a
primeira e a segunda energia de ionização do cálcio, pois como discutimos
anteriormente, a segunda Ei sempre será maior que a primeira. Em seguida
temos a quebra da ligação entre o Cl2 (atomização) para formação de Cl A
atomização de ½ Cl2 como vimos antes é igual a ΔH4 =121 kJ/mol. Por fim,
sabemos que a afinidade
eletrônica do Cl(g) + 1 é→
Cl-(g) é igual a ΔH5 = 2x(-
349) kJ/mol. Observe que
aqui multiplicamos o valor
por 2 pois dois átomos de
Cl recebem cada um, um
elétron. Por fim, achamos
que a energia de rede ΔH6
relacionada a entalpia da
reação de formação do
CaCl2 a partir dos íons no
estado gasoso é igual a:
97
sólido é insolúvel. Exemplos são o CaCO3 e o AgCl, praticamente insolúveis.
Você já estudou o equilíbrio de solubilidade em Química Geral 1 e sabe que
mesmo sólidos solúveis, há um limite de sólido
que é possível dissolver, quando o equilíbrio de
solubilidade atinge o ponto de saturação.
Microscopicamente falando, todas as
moléculas de água possíveis já estão
ocupadas solvatando os íons dissociados, e
não é possível dissociar mais íons.
Podemos aplicar o diagrama de Born-
Haber a dissolução de um sal iônico e vamos
verificar que a energia das cargas parciais do
solvente precisa ser equivalente a energia de
separação dos íons ao estado gasoso (a entalpia de rede).
• Os sólidos iônicos são normalmente duros e quebradiços. Ao quebrarem
por ação de uma força mecânica, eles tendem a conservar sua
estrutura cristalina apenas diminuindo de tamanho, mas não de forma;
98
cátion provocar na nuvem eletrônica do ânion, mais polarizável esse íon será e
crescerá o caráter covalente do sólido iônico.
A ligação covalente
A grande maioria das ligações presentes nos compostos químicos é
covalente. O entendimento da ligação covalente se deu cerca de 10 anos
antes da criação formal da mecânica quântica. Nessa época, o modelo de
Bohr não era capaz de explicar esse tipo de ligação em sua completude. De
fato, elétrons são compartilhados como se as órbitas ou níveis de energia de
valência se sobreposse, mas há muitas regras que regem esse
compartilhamento.
Ligações iônicas ocorrem com elementos cuja energia de ionização é
baixa o suficiente para formar cátions e com elementos cuja energia de
99
afinidade eletrônica é alta, compensando energeticamente a troca de
elétrons para a natureza. Diferentemente da ligação iônica, quando as
diferenças de eletronegatividade não são suficientes para que haja uma
transferência definitiva de um elétron do cátion para outro átomo. Quando a
diferença de eletronegatividade entre as espécies não é tão alta, dois átomos
podem superpor suas funções de onda atômicas resultando no
compartilhamento de elétrons e em uma função de onda molecular, que
corresponde aos dois átomos.
Esses elétrons são chamados elétrons ligantes e eles devem ter energia
suficiente para anular a repulsão eletroestática entre os dois núcleos.
Precisamos entender um pouco mais sobre as funções de onda atômicas e
sobre o efeito do spin eletrônico. Lewis propôs antes mesmo do entendimento
da mecânica quântica e das funções de onda que, em uma ligação
covalente, nenhum dos átomos não-metálicos “perde totalmente” o elétron
(pois a energia de ionização dos não-metais é bastante alta para a natureza).
Dentre as principais ligações covalentes destacam-se os não metais
como espécies diatômicas (H2, N2, O2, F2, Cl2, Br2, I2) e espécies poliatômicas
(P4, S8, C (diamante, grafite, fulereno, etc), Si). Moléculas são substâncias que
possuem em sua maioria (ou totalidade) ligações covalentes e permite a
formação de uma infinidade de compostos pela combinação do pequeno
grupo de não-metais da Tabela Periódica. Como esses elementos são ricos em
elétrons em sua camada de valência e obedecem a regra do octeto,
tipicamente eles farão 1, 2, 3 ou 4 ligações e poderão ter, respectivamente, 3,
2, 1 ou nenhum par de elétrons livres (aqueles na camada de valência que
não participam de ligações).
Dois elementos podem compartilhar mais de um par de elétrons
fazendo ligações múltiplas, sendo uma ligação dupla (ao compartilhar dois
pares de elétrons) ou uma ligação tripla (ao compartilhar três pares). Ligações
triplas apresentam um comprimento menor que o das ligações duplas e esses
por sua vez, menor que das ligações simples, pois mais orbitais atômicos estão
se sobrepondo aumentando a aproximação entre os átomos. Por sua vez, a
energia para quebrar uma ligação da ligação tripla é menor que a da
ligação dupla e essas, menores que da ligação simples.
Na ligação covalente, falamos da carga formal de um átomo como
sendo a carga que ele teria se a ligação fosse perfeitamente covalente
(cada par de elétrons é compartilhado igualmente por um par de átomos).
Devido a uma diferença de eletronegatividade, haverá o aparecimento de
uma carga parcial que discutimos no início dessa unidade quando falamos
de polarização. Na ligação covalente, os átomos procuram um arranjo cuja
carga formal é a menor possível pois essa conformação tem a menor energia.
Isso explica as estruturas O=C=O e N=N=O.
100
Para calcular a carga formal de um elemento usamos a fórmula:
𝑆
𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 = 𝑉 − (𝐿 + 2)
101
Compostos de enxofre e fósforo que são exceções à regra do octeto.
Fonte: Manual da química.
O tamanho dos ligantes também é importante. Com
o Fluor (o menor dos halogênios, o enxofre consegue
acomodar até 6 ligações covalentes formando o
hexafluoreto de enxofre e expandido sua valência para 12
elétrons.
Alguns elementos do segundo e terceiro período da
tabela periódica sofrem o efeito oposto, chamado de contração do
octeto. Já vimos o exemplo do boro acima ao falarmos de ligações
covalentes coordenadas, e o Be e os haletos de Al são outros exemplos
comuns. Observe que no dicloreto de berílio o Be é estabilizado com uma
camada de valência com 4 elétrons enquanto que no cloreto de alumínio
a valência do Al tem apenas 6 elétrons.
102
empregados na oxidação de matéria orgânica poluente da água. Em
contrapartida, radicais de oxigênio também podem ser formados pela
degradação de alimentos no nosso corpo, e esses radicais tem potencial
de destruição dos nossos componentes celulares. Antioxidantes são
substâncias que reagem rapidamente com os radicais livres evitando danos
e envelhecimento precoce. Vitaminas A, C e E são bons antioxidantes que
nutricionistas e dermatologistas estão sempre dispostos a recomendar.
Ressonância
Como vimos anteriormente, podemos aplicar a equação da
partícula na caixa para um sistema de ligações conjugadas pois os elétrons
compartilhados nessas ligações podem fluir entre elas. Na verdade,
evidências experimentais mostraram que elétrons envolvidos em sistemas
deslocalizados sofrem o efeito de ressonância, fazendo com que as
ligações que participam desse sistema tenham um caráter híbrido, um
caráter que transita entre as características de uma ligação simples e uma
ligação dupla.
Em Química Orgânica
você aprenderá sobre
fatores que influenciam
na estabilidade de uma
estrutura de
ressonância.
103
A ressonância atua abaixando a energia correspondente a molécula,
tornando o sistema mais favorável a natureza. As estruturas de ressonância
influenciam na estabilidade de diversas espécies orgânicas com cargas formais
ou parciais e em propriedades de acidez e basicidade. No entanto, existem um
número limitado de estruturas de ressonância para cada composto, e algumas
regras precisam ser seguidas para se desenhar estruturas de ressonância. As
principais dela são:
1. Somente elétrons podem ser movidos.
2. Somente os elétrons pi e pares de elétrons livres podem ser movidos.
3. O número total de elétrons não deve mudar.
4. O número de elétrons emparelhados e desemparelhados não deve
mudar.
5. Elétrons pi podem ser movidos em direção a uma carga positiva ou
ligação pi;
6. Um par de elétrons livres podem ser movido em direção a uma
ligação pi;
7. Um único elétron não ligante (radicais) pode ser movido em direção a
uma ligação pi.
Lembre-se: Elétrons sempre se movem em
direção a um carbono com hibridização
sp², mas nunca sp³. Por isso, as estruturas
de ressonância só ocorrem com sistemas
de ligações duplas conjugadas.
O efeito da eletronegatividade e a
força das ligações
Já falamos anteriormente que a natureza não delimita uma fronteira
muito clara entre a ligação iônica e a ligação covalente. Isso acontece
porque todas as ligações são híbridos de ressonância entre estruturas
puramente covalentes e puramente iônicas.
104
ligação terá cargas parciais δ que podem ser influenciadas pela atuação
de um campo magnético e maior serão as cargas parciais quanto maior for
a diferença de eletronegatividade entre os átomos da ligação. Em outras
palavras, a diferença de eletronegatividade será a força motriz do cabo de
guerra entre os elétrons da ligação compartilhada.
Como foi dito anteriormente, uma diferença de eletronegatividade
de 2,0 ou mais tem um maior caráter iônico que covalente. O contrário
também é válido. Ligações entre átomos com diferença de
eletronegatividade menor que 2,0 apresentarão um maior caráter
covalente, embora o caráter iônico também estará lá, porque uma das
estruturas que contribuem para o híbrido de ressonância será a estrutura
iônica. Assim como é possível estimar para a ligação covalente, também é
possível estimar o %caráter iônico da ligação covalente. Mas esses modelos
não serão foco desse curso.
Outras duas propriedades associadas as ligações covalentes são a
força de ligação e o comprimento da ligação. De modo geral, elas são
inversamente proporcionais, umas as outras. A força de uma ligação é
medida pela energia de dissociação (ED), a energia para separar dois
átomos ligados. Veja alguns
exemplos: Observe que a ligação covalente mais
ED forte conhecida (C≡O) é da ordem de
Ligação
(kJ/mol) ligações iônicas típicas.
C≡O 1062
C-H
~400 Você é capaz de explicar porque
(hidrocarbonetos)
as forças de ligação estão nessa
I-I (I2) 139 ordem e prever a ordem de
comprimento dessas ligações.
105
Ligação ED (kJ/mol) Quais fatores você reconhece que influenciam a
C-H 412 força de uma ligação?
C-C 348 Veja que a ordem da ligação influencia.
C=C 612 Ligações triplas são mais fortes que duplas e
C=C* 518 duplas mais fortes que simples (não
C≡C 837 proporcionalmente, devido aos efeitos de
C-O 360 repulsão entre os pares de elétrons
C=0 743 compartilhados).
C-N 305
C-F 484 ↑ ordem de ligação ↑ ED (kJ/mol)
C-Cl 338 Veja que o tamanho dos átomos também
C-Br 279 influencia, como já vimos anteriormente.
C-I 238
N-H 388 ↑ raio covalente ↓ ED (kJ/mol)
N-N 163
*Observe que na ligação C=C do benzeno, tem
N=N 409
um valor intermediário entre a ligação C-C e C=C
N-O 210 em cadeias alifáticas, devido ao híbrido de
N=O 630 ressonância (como falamos anteriormente).
N-F 195
N-Cl 381 Pares de elétrons livres também contribuem para
O-H 463 a repulsão entre os átomos, enfraquecendo a
O-O 157 ligação como pode ser comparado entre as
O=O 493,6 energias de dissociação de N-H e N-N:
*benzeno
↑ elétrons livres ↓ ED (kJ/mol)
106
cristalinos bem definidos assim com os sólidos iônicos que vimos anteriormente.
Exemplos de sólidos covalentes são o diamante e a sílica.
107
Estruturas de Lewis demonstram facilmente o princípio. Veja algumas
estruturas possíveis. Ligações múltiplas não podem ser tomadas em
consideração no modelo VSEPR.
2 pares de elétrons livres entre si > 1 par de elétrons livres e 1 par ligante > 2
pares de elétrons ligantes
108
A Teoria de Ligação de Valência (TLV)
O modelo VSEPR descreve muito bem a geometria das moléculas
qualitativamente, mas somente um modelo mecânico-quântico poderia ser
capaz de descrever quantitativamente os ângulos entre as ligações e as forças
de repulsão entre as nuvens eletrônicas. Veremos inicialmente o modelo da
teoria de ligação de valência, de Linus Pauling (The nature of Chemical Bond,
1960). Para continuarmos a partir daqui você precisa lembrar que os elétrons
não estão fixos na eletrosfera do átomo nem sua posição pode ser
determinada com precisão. Claro que Lewis ainda não sabia disso quando
previu o modelo VSEPR.
Pois bem, na teoria de ligação de valência, dois orbitais atômicos (que
vimos serem descritos pensa função de densidade de probabilidade Ψ²) se
superpõem para formar um orbital molecular que contém os dois elétrons
ligantes emparelhados ↑↓ localizados entre os dois núcleos. Podemos pensar
que quanto mais volume dois orbitais conseguem se sobrepor, mais forte será a
ligação (já falamos dos aspectos quantitativos da força de ligação). Vamos
olhar para a ligação covalente mais simples, o H2. Temos dois orbitais 1s com
um elétron que se fundem/sobrepõem, formando o orbital molecular e uma
ligação que chamamos de ligação σ.
109
Observe que ao longo de um eixo z, os orbitais da ligação sigma se
sobrepõem perpendicularmente. A ligação s-p tem uma forma levemente
diferente da ligação s-s, embora seja igual se olharmos ao longo do eixo
internuclear da ligação (z). E as ligações múltiplas que
ocorrem com os orbitais p? Após formar uma ligação σ
com o orbital pz, não é possível estericamente sobrepor
outro orbital p na mesma direção da ligação (pois como
vimos, os orbitais p tem os lóbulos orientados em eixos
diferentes).
Então pra onde vão as densidades de
probabilidade das ligações dupla e tripla? De acordo
com a TLV, um novo tipo de ligação precisa ser formado.
As ligações múltiplas são formadas pela sobreposição
lateral dos orbitais px e py e é chamada ligação π.
Note que a ligação σ não gera planos nodais, enquanto que o produto
da ligação π são duas regiões de densidade de probabilidade contendo um
plano nodal sobre o eixo internuclear. Podemos imaginar o porquê as ligações
π são mais fracas agora. Por razões estéricas, podemos observar que a
superposição dos orbitais não é tão eficiente quanto na mesma ligação σ.
Também por questões estéricas você pode notar que não é possível formar
duas ligações σ entre o mesmo par de átomos.
Toda ligação covalente simples é σ; uma ligação dupla é composta por
uma ligação σ e uma ligação π; uma ligação tripla é composta por uma
ligação σ e duas ligações π. Observe a molécula do etino (as duas ligações pi
representadas pelas densidades de probabilidade lilás e azul e as ligações
sigma C-C e C-H pelas densidades de probabilidade amarelas).
110
De acordo com a TLV, admite-se que para a ligação ocorrer, existe uma
posição adequada que os orbitais precisam se sobrepor, caso contrário não
haverá a formação da ligação. Isso explica porque você estudou em QG 1
que um dos fatores que afeta a cinética da reação química é a posição do
choque das moléculas.
111
Na realidade a energia para promover um elétron do nível 2s para o
nível 2p é bem pequena (inclusive abaixada ainda mais por razões de simetria).
E ao fazer ligações químicas, os átomos liberam energia. Para a natureza, o
gasto energético de elevar um elétron do nível 2s para o nível 2p do carbono é
mais do que compensado quando se formam 4 ligações sigma C-H, como no
caso do metano. Daí surge uma outra questão: porque as quatro ligações do
metano são exatamente iguais (comprimento, força e ângulo)? Se temos um
elétron no orbital s e 3 elétrons em orbitais p, uma das ligações σ deveria
apresentar uma diferença das outras, ainda que pequena, pois vimos que o
orbital s tem uma energia diferente do orbital p. Aqui, precisaremos introduzir o
conceito de hibridização.
Os orbitais são ondas de densidade Aqui já vamos começar a falar dos
eletrônica centradas no núcleo. Ao se orbitais moleculares da teoria TOM.
ligarem, orbitais atômicos irão produzir De forma simples, imagine que
arranjos com pontos de interseção entre si, quando dois orbitais atômicos se
chamados de orbitais híbridos. No metano, sobrepõem para formar uma
1 orbital atômico s e 3 orbitais atômicos p ligação, são formados dois orbitais
interagem entre si produzindo 4 novos moleculares resultantes: um de
orbitais moleculares com propriedades energia mais baixa e outro de
intermediárias entre o orbital s e o orbital p. energia mais atla.
É como se cada novo orbital molecular
agora fosse 25% s e 75% p, e dizemos que
nesse caso, o carbono central tem a hibridização sp3. Cada um dos 4 orbitais
moleculares sp³ forma então uma ligação com um orbital s do átomo de H em
geometria tetraédrica.
Para o carbono com ligações múltiplas, teremos diferentes hibridizações.
Tome de exemplo o eteno e o etino. No eteno, um orbital s é “misturado” com
2 orbitais p, gerando 3 orbitais sp² (e naturalmente o quarto orbital será um
orbital p puro que fará uma ligação múltipla, a dupla ligação do eteno). No
etino, apenas um orbital s é hibridizado com um orbital p, gerando 2 orbitais
moleculares sp (e outros dois orbitais atômicos p puros que participarão da
ligação dupla e tripla cada um). A hibridização dos orbitais gera sempre
ligações σ, nunca ligações π. Esse fenômeno não é restrito ao carbono. Veja
como ocorre a hibridização do boro:
112
realizar uma associação entre a hibridação e a geometria molecular do átomo
central:
113
A hibridização do B será sp e P será sp³d.
O carbono é um composto atípico e sua característica tetravalente
permite que ele forme uma infinidade de compostos de cadeias curtas até
cadeias bem longas. Nem outros elementos da família 14 apresentam essa
versatilidade. Você consegue imaginar o porquê?
Uma grande quantidade de compostos de carbono contém ligações
duplas e triplas, e uma grande quantidade de compostos tem ligações duplas
em sistemas conjugados. A interação entre os orbitais p puros em ligações
múltiplas é dificultada em átomos do 3º período em diante (com poucas
exceções), devido ao tamanho desses átomos. Por isso os elementos mais
pesados não são capazes de formas duplas e triplas ligações. Uma
característica importante das ligações múltiplas é que elas restringem a
rotação dos átomos na ligação (pois um grau de rotação elevado
necessariamente teria que quebrar a ligação pi).
114
Os orbitais moleculares se formam a partir da superposição dos orbitais
atômicos da camada de valência dos átomos. Vamos olhar para o H2 para
entendermos melhor. Observe a formação de uma região de densidade
eletrônica (em c) relativa à interferência construtiva das funções de onda de
cada orbital 1s.
𝜓 = 𝜓𝐴1𝑠 − 𝜓𝐵1𝑠
𝜓 = 𝜓𝐴1𝑠 + 𝜓𝐵1𝑠
115
orbitais moleculares σ1s e σ1s*, mas ambos estarão preenchidos já que
temos 4 elétrons envolvidos. Isso resultaria numa configuração eletrônica tal
que: He2 (σ1s)² (σ1s*)².
O conceito de ordem de ligação também vale para a TOM, e ele
deve ser equivalente ao definido pela TLV. De acordo com a TOM:
116
Formação de orbitais moleculares a partir de orbitais atômicos 2p (à esquerda) e
diagrama de caixas típico com os respectivos níveis de energia (à direita).
Observe que os OMs π2p e π2p* são duplamente degenerados entre si.
Observe também a forma dos orbitais e note que, quanto menos regiões
nodais, menor será a energia do orbital associada (que está em conformidade
com a TLV). Já vimos o que acontece entre Be2 e Li2. Vamos olhar agora o que
ocorre nas outras moléculas diatômicas homonucleares do segundo período
que envolvem a formação de OMs do tipo p.
117
Isso acontece porque quando o número
atômico diminui, a probabilidade do OA 2s
interagir com a do OA 2p aumenta,
consequentemente a energia de OM σ2s
diminui e OM σ2p aumenta. Para B2, C2 e N2 a
interação 2s-2p é grande o suficiente para que
OM π2p tenha menor energia que OM σ2p.
Agora vamos ver esses diagramas
aplicados ao B2, C2, N2, O2, F2 e Ne2 (os dois
últimos estão em branco de presente para
você):
118
geral, envolve integrais numéricas resolvidas apenas por computadores de alta
performance. Um dos métodos mais utilizados é o método da Combinação
Linear de Orbitais Atômicos (CLOA-OM ou LCAO-MO, da sigla em inglês)
combinado ao método do campo auto-consistente de Hartree-Fock. Não
vamos entrar em detalhe na tipologia desses cálculos, porém é necessário que
você saiba que esse é um ramo da química que ainda está em
desenvolvimento, e existem muitas oportunidades de pesquisa nessa área.
Apesar de levar em consideração no cálculo da energia dos OMs as energias
potenciais de atração com os núcleos, de repulsão com os outros elétrons e as
energias cinéticas dos elétrons, o modelo de Hartree-Fock apresenta valores
não tão satisfatórios para moléculas reais.
Para uma molécula diatômica heteronuclear podemos esperar que a
equação resultante da interferência construtiva dos OAs leve em consideração
a contribuição da diferença de eletronegativade entre os átomos A e B.
𝜓 = 𝑐𝐴 𝜓𝐴1𝑠 + 𝑐𝐵 𝜓𝐵1𝑠
Na molécula de HF, por exemplo, sabemos que F é bem mais
eletronegativo que H e que se espera que a energia do OM seja mais próxima
da energia de um OA F 2p, já que os elétrons serão mais fortemente atraídos
pelo F. A energia do OA H 1s é igual a -0,500 u.a. (como vimos na unidade
anterior) e a energia do AO F 2p pode ser estimada pelo método de Hartree-
Fock em -0,730 u.a.
(observe que estamos
desconsiderando o
efeito dos OAs F 1s e F
2s). Veja que ocorre
um grande
abaixamento de
energia para o
elétron do H, o que
indica quão
favorável é essa
ligação. É comum
que ocorra o
abaixamento de
orbitais σ ligantes em comparação a orbitais não-ligantes (nesse caso 2px e
2py).
Orbitais moleculares não-ligantes são aqueles
que não participam da ligação.
119
matematicamente) chegamos ao fim do cálculo a um valor de 538 kJ/mol.
Naturalmente esse modelo requer maior esforço computacional.
E para moléculas maiores (poliatômicas)?
Aqui é o ponto em que a TOM se difere na prática da TLV. Em moléculas
com mais que dois átomos, observamos que o OM formado se espalha por
todos os átomos da molécula, auxiliando toda sua estrutura a permanecer
ligada. Dizemos que aqui os elétrons ligantes estão deslocalizados (diferente da
TLV em que eles estavam localizados entre os núcleos da ligação na área de
superposição dos orbitais).
Vamos ver o caso da água. Temos 8 elétrons disponíveis e seis OAs (O2s,
O2pz, O2px, O2py, H1s e H1s). Observe a forma dos OMs. Você consegue
visualizar a diferença entre OM ligantes e antiligantes?
120
Uma nota importante: tanto o modelo de Lewis, quanto a TLV e a TOM
obedecem ao princípio da exclusão de Pauli e a regra de Hund na distribuição
eletrônica.
Um Orbital Hibrido de
acordo com a TLV é uma
interpenetração, isso é, mistura de
funções matemáticas, que
originam novos orbitais, de modo
favorável à formação de uma
geometria adequada para a
ligação química.
Um OM é uma função
matemática que descreve
tendências a um comportamento
Vamos olhar o diagrama do benzeno. No de uma nuvem eletrônica em uma
benzeno, todos os carbonos tem hibridização sp². molécula. A construção deste
A TLV não consegue explicar porque as ligações modelo matemático é feita a
C-C no benzeno são intermediárias entre a partir da combinação das funções
ligação dupla e a simples (em força e de onda de orbitais atômicos.
comprimento). De acordo com a TOM, todos os
orbitais C2s, C2p e H1s contribuem para a
estabilidade da molécula porque todos os elétrons ligantes podem habitar
espaços em toda a extensão da molécula (ou seja, são deslocalizados). Todos
os orbitais C2s, C2px, C2py e H1s estão formam OM σ que contribuem para a
121
deslocalização dos elétrons ao longo da molécula. Os 6 OAs C2pz se
combinaram para formar os 6 OMs mostrados abaixo.
Totalmente anti-ligante
(seis regiões nodais)
Totalmente ligante
(zero regiões nodais)
122
eletrônica está presente em todos as moléculas deficiente em elétrons que são
estáveis.
Outra influência dessas estruturas conjugadas é nas cores de diversas
substâncias naturais e sintéticas. Muitos corantes, frutas e verduras tem cores
características pois tem extensos sistemas conjugados que fazem com que a
energia entre o orbital HOMO seja somente um pouco mais baixa que a
energia do orbital LUMO. Vimos isso acontecer nos polienos conjugados, que
você aplicou para um sistema de caixa onde o elétron oscila na primeira
unidade. Você viu também que a partir de certas extensões do sistema,
podemos associar o comprimento de onda de excitar o elétron do HOMO para
o LUMO pode ser de baixa energia, na região do visível. Isso faz com que esses
compostos sejam coloridos para nós.
Β- caroteno
(450 nm: laranja)
Licopeno
(470 nm: vermelho)
123
Nos elementos mais leves (do lado esquerdo), os OMs σ2s e σ2s* estão mais
próximos do OM σ2p, causando sua desestabilização (por repulsão
eletrostática). Diferentemente, os OAs 2s do O e do F tem energias muito
baixas e os OMs σ2s e σ2s* pouco afetam o OM σ2p, levando a “sequência
normal” de energia esperada para os orbitais, como visto anteriormente.
Lembre-se: como falamos anteriormente, a ordem
ligação também pode ser utilizada como um Para finalizar seus estudos
parâmetro de estabilidade/força da ligação. sobre a ligação covalente
você pode fazer um resumo
das principais características
e limitações do modelo
A ligação metálica VSEPR de Lewis, TLV de
Pauling e TOM.
Você deve imaginar que a ligação metálica
difere da ligação iônica e da ligação covalente por
ocorrer apenas entre os metais, certo? Metais puros também vão ter a
característica de diferença de eletronegatividade zero, certo? Ligações
metálicas formam retículos cristalinos similares aos sólidos iônicos e aos sólidos
covalentes, os sólidos metálicos ou simplesmente metais. Os sólidos metálicos
são agregados de cátions coesos por elétrons livres que podem fluir ao longo
do material (por isso metais conduzem eletricidade e calor melhor).
Dentre as principais características dos metais, podemos destacar:
• Maleabilidade;
• Ductibilidade;
• Boa condução de calor e eletricidade;
• Baixos valores de energia de ionização;
• Reagem com ácidos formando H2.
Para explicar a ligação metálica, inicialmente vamos utilizar a Teoria do
Mar de Elétrons. De acordo com essa teoria, cátions de átomos metálicos fluem
em um mar de elétrons de valência que podem se movimentar quase que
“livremente” com energia equivalente a da própria temperatura ambiente. Os
núcleos estariam empilhados com elétrons passeando as suas voltas. Esse
modelo explica as propriedades de ductibilidade e maleabilidade dos
matérias, e ainda é capaz de explicar porque os metais do Grupo 1 são tão
moles e podem ser cortados com uma faca, enquanto que os metais do Grupo
124
2 já são mais duros e seguindo essa lógica, os metais do grupo B são muito mais
duros e só conseguiram ser cortados com ferramentas específicas. Esse fato
estaria relacionado a carga dos cátions. Quanto maior fosse a carga,
poderíamos esperar maiores forças de coesão para manter o mar de elétrons
fluindo. Porém, essa teoria não é capaz de explicar a variação do Ponto de
Fusão e da energia da ligação ao longo da tabela periódica.
Sódio metálico sendo cortado (à direita). Os metais do Grupo 1 são conhecidos como
metais “moles”. Google Imagens.
125
A teoria de bandas: Condutores e semicondutores
Alguns materiais tem a capacidade de condução eletrônica, como
vimos que é o caso dos compostos iônicas na forma líquida ou dissociada.
Sólidos precisam permitir o fluxo de elétrons entre os átomos para conduzir
corrente elétrica. Isso ocorre comumente nos metais. Os metais são
classificados como condutores metálicos, cuja condutividade elétrica aumenta
com a diminuição da temperatura. Semicondutores são substâncias que
permitem a condução elétrica com o aumento da temperatura. E um isolante
é aquela substância que não conduz eletricidade de forma quantitativamente
apreciável.
Na prática, a condutividade elétrica pode ser explicada pela TOM.
Quando N orbitais atômicos interagem para formar N orbitais moleculares, ao
invés de formar poucos OMs com energias espaçadas (que é o que ocorre em
pequenas moléculas), os metais apresentam uma rede extensa de OMs com
níveis de energia tão próximos que formam uma banda quase contínua. Dessa
forma, nos condutores os elétrons podem ocupar OMs antiligantes facilmente.
Na ciência da condução esses OMs antiligantes são chamados de banda de
condutividade. Os OMs ligantes são chamados de banda de valência. Observe
a magnitude das diferenças de energia entre os materiais. Essa diferença de
energia é chamada de band-gap.
126
Observe que a
condutividade de sólidos
metálicos é da ordem
de 107, o que resulta em
valores de Eg muito
próximos de zero. Eg
para semicondutores
vão variar tipicamente
até 4,0 eV.
Semicondutores só
conduzem eletricidade
se houverem condições
de excitar os elétrons
para a banda de
condução.
127
na banda de valência. Essa lacuna se comporta com uma carga positiva
na BV, e elétrons podem facilmente serem promovidos para essa região.
Forças intermoleculares
Vamos revisar os tipos de sólidos que vimos nessa unidade e suas
propriedades.
Como falamos anteriormente, sólidos iônicos apresentam grande
energia de rede devido a presença de cargas formais, enquanto que sólidos
covalentes (ou sólidos reticulares) e sólidos moleculares apresentam menor
energia de rede com a formação de cargas parciais. Sólidos metálicos são
ligações isotrópicas explicadas também pela combinação de orbitais
moleculares. Vamos agora falar de compostos moleculares que não se
128
apresentam na forma sólida. Não estando nesse estado, ainda sim haverão
forças de coesão e repulsão entre as partículas no estado líquido e gasoso.
Tipos de sólidos de acordo com a ligação
Características e
Tipo Exemplos
propriedades
Duro, rígido, quebradiço,
elevado PE e PF e boa NaCl, KNO3,
Iônico
condução elétrica em CuSO4.4H2O.
solução aquosa
Duro, rígido, quebrado,
Reticular elevadíssimos PE e PF, B, C, P, BN, SiO2.
insolúveis em água.
Observe as diferenças
entre energias envolvidas.
129
Propriedades dos sólidos reticulares/covalentes:
Polimorfismo
Conteúdo:
• Funcionamento de semicondutores;
• Síntese e propriedades do TiO2;
• Aplicação de TiO2 em células solares.
130
Complexos de Metais de Transição: o bloco d da tabela
Demos até o momento, grande importância as ligações químicas e aos
compostos formados de metais alcalinos dos grupos 1 e 2 (bloco s) e os diversos
elementos do bloco p. Vamos olhar um pouco agora para o bloco d e seus
compostos. Os aspectos que serão vistos nessa disciplina são introdutórios e
serão aprofundados em Química inorgânica.
Os metais do bloco d e f formam cátions
Ácido de Lewis: espécie capaz de
facilmente. Na verdade, eles podem atuar facilmente
receber pares de elétrons.
como ácidos de Lewis, e receber pares de elétrons
Base de Lewis: espécie capaz de
livres por ligações covalentes coordenadas. Os metais
doar pares de elétrons.
de transição são caracterizados pela presença de
orbitais atômicos do tipo d e f semipreenchidos. Na
prática, o efeito desses orbitais atômicos (5 orbitais degenerados tipo d ou
orbitais degenerados tipo f) de energia muito próxima ao orbital s do nível
seguinte (reveja o tópico distribuição eletrônica de átomos multieletrônicos)
permitem aos elementos de transição acomodar muitos elétrons
Inicialmente, não se entendia muito bem o comportamento de
solubilidade e ionização de metais de transição, e por isso eles foram
chamados de “complexos” de metais de transição. Esses estudos foram
iniciados com os famosos sais de Werner. Werner notou que cátions de Cobalto
no cloreto de cobalto poderiam ser estabilizados por ligações coordenadas
com 6 moléculas de amônia.
131
Isômeros: espécies químicas
amônia apresenta duas cores possíveis. Essa com propriedades
variação seria explicada pela presença de diferentes, mas mesma
isômeros. Observe que a forma violeta exibe uma fórmula molecular.
isometria cis (vizinhos) entre os cloretos e a forma
verde, uma isometria trans (distantes) entre os átomos de Cl. Vamos falar de
isomeria em mais detalhes futuramente. Vamos agora aprender os conceitos
fundamentais na ciência dos compostos de coordenação/complexos.
• Valência primária: estado de oxidação do metal;
• Ligantes: bases de Lewis capazes de fazer ligações coordenadas;
• Valência secundária: número de coordenação do íon metálico;
• Íon complexo/esfera de coordenação: centro metálico + ligantes.
Um íon complexo se
comporta com um único
íon grande.
VP (Co) = 3
VS (Co) = 6
132
coordenação. [Ni(NH3)6]2+ é estável bem como [Ni(CN)4]2- também com
apenas quatro ligantes.
3. Tamanho do centro metálico: Complexos tricoordenados podem ser
pirâmides trigonais ou trigonal plano. Complexos tetracoordenados são
tetraédricos ou quadráticos planos enquanto que complexos
hexacoordenados são octaédricos.
Complexos de metais de
transição com NC = 3 nas
geometrias (a) pirâmide trigonal
e (b) trigonal plana.
Compostos de coordenação
com NC = 4 nas geometrias
quadrado planar [Pt(NH3)4]2+ e
tetragonal [ZnCl4]2-.
Note que os
compostos de Zn e
Sn são ânions
complexos.
Cis-platina: aplicação
nos coquetéis
fitoterápicos para
tratamento do câncer.
Trans-platina não tem
atividade biológica.
133
Quanto maior for o
número de ligações que
o ligante faz, mais
favorável é a ligação
(força da ligação
aumenta).
Oxalato de cálcio (II) (ligante bidentado aniônico). Citrato de Ferro (III) (ligante
tridentado aniônico, derivado do ácido cítrico. Etilenodiaminotetraacétrico de metal
(ligante neutro e aniônico polidentado).
134
As hemácias possuem um grupo porfirina que é capaz de complexar o
Fe(II), que por sua vez se liga ao oxigênio molecular e o transporta ao longo dos
vasos sanguíneos. Similarmente, a respiração celular dos vegetais ocorre
catalisada pela atividade do Mg(II) na clorofila A, que também possui um
grupamento de porfirina.
O que os metais de transição tem a ver com... permanecer vivo?
Algumas das enzimas críticas de nossas células são metaloproteínas.
Essas metaloproteínas tem sido intensamente estudadas pelos bioquímicos
porque elas controlam a vida e nos protegem das doenças. Elas também são
utilizadas para traçar o caminho das etapas da evolução. Os metais do bloco
d formam componentes de membranas, músculos, peles e ossos, catalisam
reações ácido-base e redox, controlam o fluxo de energia e do oxigênio, e
executam a fixação do nitrogênio.
Encontre mais informação e exemplos no Capítulo 16 do Atkins e Jones
no quadro 16.1.
135
Para dar nome a esses complexos:
1. Regra geral: (Nome do ânion -eto/-ato/-ito) de (Nome do cátion);
2. Centro metálico como o cátion: Colocar o nome dos ligantes com os
prefixos de quantidade (di, tri, tetra, penta, hexa, etc.) + colocar o
nome do centro metálico com seu estado de oxidação em algarismo
romano.
136
[Ni(en)2]Cl2 : Cloreto de bisetilenodiaminoníquel (II)
[Fe(Bipy)3]Cl2 : Cloreto de tris-bipiridinaferro (II)
Exercício - Escreva as fórmulas e os nomes dos seguintes complexos de
coordenação:
137
Isomeria de
ionização
Isomeria de
hidratação
Estrutural
Isomeria de
coordenação
Isomeria de
compostos de Isomeria de ligação
coordenação
Diasteroisômeros
Geométrica
Enantiômeros
138
haver a troca do centro metálico de uma para a outra. Essa isomeria ocorre
entre dois centros metálicos de raios iônicos e cargas semelhantes.
139
Enântiômeros octaédricos.
140
Em geral haletos (F-, Cl-, Br-, etc.) não
Note que apenas o conseguem forçar o emparelhamento de
comportamento magnético é elétrons do metal de coordenação. Os ligantes
diferente. A geometria e cianeto (CN-) e monóxido de carbono (CO) são
hibridização são as mesmas. conhecidos por promoverem esse efeito. Com
base nisso, prediga a hibridização, a geometria
molecular e o caráter magnético dos complexos de Ni2+ abaixo:
Ni2+ tem 26 elétrons.
[NiCl4]2- [Ni(CN)4]2-
Hibridização: Hibridização:
Geometria: Geometria:
141
NC* Geometria do centro metálico Hibridização Exemplo
2 Linear sp [Ag(NH3)2]+
Quadrado
4 sp²d [Ni(CN)4]2-
planar
Trigonal
5 sp³d [CuCl5]3-
bipiramidal
Piramidal de
5 sp³d [Ni(CN)5]3-
base quadrada
Trigonal
6 sd5 ou sp³d² [ZrMe6]2-
prismática
Pentagonal
7 sp³d³ [V(CN)7]4-
bipiramidal
Trigonal
7 prismática sp³d³ [NbF7]2-
monocapada
8 Cúbica sp³d³f [PaF8]3-
Quadrada
8 sp³d4 [TaF8]3-
antiprismática
Trigonal
9 prismática sp²d5 [ReH9]2-
tricapada
*Número de Coordenação
142
Teoria do Campo Cristalino (TCC) e a Série Espectroquímica
Para entendermos a TCC, precisamos relembrar os orbitais atômicos d
que desempenham o papel fundamental na formação dos compostos de
coordenação.
Observe que os orbitais dyz, dxz e dyx estão alinhados entre os planos
cartesianos, enquanto que os orbitais dx²-y² e o dz² estão alinhados sobre eixos
cartesianos. O dx²-y² tem os lóbulos sobre os eixos x e y, enquanto que o orbital
dz² está sobre o eixo z. Em átomos ou em íons isolados, os cinco orbitais d são
degenerados, isto é, apresentam a mesma energia. De acordo com a TLV, os
ligantes se aproximam do metal e sobrepõe seus orbitais com dois elétrons livres
sobre um orbital vazio, formando uma ligação covalente coordenada, como
vimos anteriormente. Via de regra, os orbitais dos ligantes só preencherão
orbitais vazios do metal, mas para explicar o comportamento magnético de
alguns materiais, admitimos que alguns ligantes são capazes de forçar o
emparelharemanto dos elétrons desemparelhados no metal, os ligantes fortes
(como vimos anteriormente).
Vamos agora falar de uma nova teoria de ligação dos compostos de
coordenação e ele diferente da TLV em muitos aspectos. Na Teoria do Campo
Cristalino (TCC), vamos admitir que a interação entre o metal e os ligantes é
puramente eletrostática (desprezados o caráter covalente das ligações). Isso
significa dizer que os elétrons ligantes se aproximam dos metais por atração
eletrostática e exercem apenas uma perturbação dos orbitais d, sem sobrepô-
los, como propõe a TLV. Ao se aproximarem, os elétrons promovem uma
diferenciação de energia dos orbitais d, ou como chamamos em química
inorgânica, a quebra da
degenerescência dos orbitais d, A TCC foi lançada por Hans Bethe em
fazendo com que as energias dos 1929 e modificada por Van Vleck em
orbitais sejam diferentes e formando 1935, mas só na década de 50 começou
um campo cristalino entre os metais e a ser utilizada pelos química para
os ligantes. Veja um exemplo: interpretar os espectros dos complexos
de metais de transição.
143
Observe os orbitais do d do Ti3+. Quando ligantes se aproximam por
atração eletrostática (nesse caso, moléculas de água), é formado um campo
repulsivo de simetria esférica, elevando igualmente a energia dos orbitais d.
Chamamos esse estado de baricentro de energia. A depender da orientação
espacial dos ligantes ao redor do átomo central, as cargas dos ligantes
promoverão o desdobramento das energias dos orbitais d, quebrando a
degenerescência e gerando novos orbitais de energias diferentes.
Se os ligantes formassem um campo
cristalino perfeitamente esférico em torno da
espécie central, as energias de todos os orbitais
aumentariam igualmente. Porém, como os
ligantes ocupam apenas algumas posições
específicas em torno do átomo central, os
orbitais que ficarem mais próximos dos ligantes
são mais afetados do que os que ficam mais
afastados. Olhe para a figura ao lado e
entenda o porquê os orbitais dx²-y² e o dz² tem
energias mais altas que os orbitais dyz, dxz e dyx.
Os dois orbitais dx²-y² e o dz² são orientados ao
longo de eixos cartesianos que coincidem com
a posição de ligantes em compostos
octaédricos (o caso do [Ti(OH2)6]3+). No
momento em que as ligações são formadas, a
energia desses orbitais serão mais altas devido à
alta repulsão entre os ligantes e os orbitais dx²-y²
Orbitais eg Orbitais t2g e o dz². Obviamente, os elétrons preferirão
ocupar orbitais de menor energia (dyz, dxz e dyx).
144
Uma vez que o complexo é formado, a energia de atração iônica entre
as cargas, leva a formação de grupos de orbitais degenerados com energia
mais baixa que os orbitais atômicos do metal isolado, justificando a formação
dos complexos (lembre-se que a natureza sempre procura o estado de menor
energia). Após a efetivação da ligação, o parâmetro de desdobramento de
energia sobre o campo cristalino é chamado de 10Dq (ou simplesmente Δ0
para compostos octaédricos e tetraédricos) e seu valor pode ser medido
experimentalmente por medidas espectroscópicas.
Você já deve ter concluído que para estudar o efeito dos
desdobramentos de energia dos orbitais complexos, precisamos admitir uma
geometria específica. Vamos observar o que acontece em um campo
cristalino octaédrico e um campo cristalino tetraédrico.
145
Em um composto tetraédrico, opostamente à geometria octaédrica,
observe que os ligantes interagem mais fortemente com os orbitais dyz, dxy, dyz
(entre os eixos cartesianos) e mais distantes dos orbitais dz² e dx²-y², justificando a
“troca” da posição dos orbitais no diagrama de energia em relação ao
composto octaédrico.
A diminuição de energia dos orbitais d, do campo esférico até gerar os
orbitais t2g, é igual ao aumento de energia de d, do campo esférico até formar
os orbitais eg. Nos complexos octaédricos, cada elétron em orbital t2g tem
energia 4Dq menor do que a energia que teria se o campo fosse
perfeitamente esférico. E cada elétron em
orbital eg tem energia 6Dq maior do que Campo cristalino octaédrico:
teria em campo esférico. O valor de 10 Dq
depende da força de interação metal- • E(dxz, dxy, dyz) < E(dz² e dx²-y²)
ligante e esta, por sua vez, depende da • Energia de dxz, dxy, dyz = 0,4Δ
natureza das espécies coordenadas. E assim, • Energia de dz² e dx²-y² = 0,6Δ
nós conseguimos explicar o que a TLV não
conseguiu: porque existiriam ligantes fortes e Campo cristalino tetraédrico:
fracos. Os fatores que afetarão os valores de • E(dz², dx²-y²) < E(dxz, dxy, dyz)
10Dq são: • Energia de dxz, dxy, dyz = 0,6Δ
• Natureza do ligante (força) • Energia de dz² e dx²-y² = 0,4Δ
• Carga (VP) do metal
• Geometria molecular (NC)
Vamos falar primeiro da natureza do ligante. Continuaremos
examinando compostos octaédricos, mas você pode estender esse
conhecimento para outras geometrias. Observe a série espectroquímica de
ligantes para compostos octaédricos:
Série espectroquímica para compostos octaédricos
146
Você deve lembrar que falamos que o CN- era um ligante capaz de
“forçar” os elétrons d desemparelhados de um metal, a se emparelharem para
formar uma ligação, certo? Falamos disso na aplicação da TLV, mas não era
muito claro o porquê. Essa era uma das limitações que a TCC resolve.
147
hexacianomanganato (II).
1 1
𝑀[𝑀𝑛(𝐶𝑁)6 ]4− = 2. (3𝑥 (+ ) + 2𝑥 (− )) + 1 = 2
2 2
Baixa
Alto campo
Forte multiplicidad
(> Δ)
e de spin
Ligante
Alta
Baixo campo
Fraco multiplicidad
(< Δ)
e de spin
148
correspondente a uma transição eletrônica pela Equação de Planck:
ℎ𝑐
𝐸 = ℎ𝑓 = 𝜆
Espectrofotometria de UV/Visível
Complexos de Ni2+ com diferentes
• Mede a intensidade de absorção da
ligantes.
radiação do visível e do ultravioleta
Amostras que apresentam duas de uma amostra.
transições eletrônicas na região do • A cor observada pelo nosso olho de
um material é a oposta a cor que é
visível (dois picos entre 400 e 700 nm)
absorvida.
149
vão apresentar uma cor complementar. Enxergamos a
mistura das cores, a depender da absorção relativa entre
eles (quão mais forte é um pico em relação ao outro).
150
Por último, vamos avaliar o efeito da geometria molecular no
desdobramento de energia. Vimos em detalhes dois tipos de desdobramento
de energia dos orbitais d, para um complexo octaédrico e para um complexo
tetraédrico. De forma bem simples, quantos mais ligantes, maior será a
diferença de energia Δ (10Dq) do desdobramento. Sendo assim, complexos
octaédricos tem o valor de Δ mais elevados se comparados aos seus
correspondentes tetraédricos. Isso acontece devido ao efeito da repulsão
entre os ligantes e os orbitais d, que é maior quando a quantidade de ligantes
é maior.
151
magnético H, e a extensão da variação na massa observada pode ser
correlacionada proporcionalmente com a susceptibilidade magnética. A
susceptibilidade magnética (o comportamento paramagnético) é
proporcional ao número de elétrons desemparelhados.
• Quanto maior a
força do ligante, menos
elétrons desempare-
lhados.
• Quanto mais
elétrons desemparelha-
dos, maior o momento
magnético.
152
Energia de Estabilização do Campo Cristalino(EECC) e efeito Jahn
Teller
A magnitude do desdobramento do campo cristalino, 10 Dq ou Δ, deve
ser função da natureza do ligante, já que dois ligantes diferentes vão gerar
campos eletrostáticos diferentes sobre os orbitais d. Em consequência, os
ligantes podem classificar-se em termos da força relativa dos correspondentes
campos que geram. Isto será visto posteriormente como a série
espectroquímica. Determinações dos valores de 10 Dq podem ser feitas
usando-se a espectroscopia de absorção na região do ultravioleta e visível,
uma vez que as diferenças de energia entre orbitais t2g e Eg, geralmente
correspondem a energias dos fótons nesta faixa do espectro eletromagnético.
Onde ét2g é a quantidade de elétrons nos orbitais t2g (dyz, dxz, dyx) e éeg é
a quantidade de elétrons nos orbitais eg.
...
153
e d7 – complexos de baixo spin teriam maior estabilização da energia Dq,
porém temos que considerar a repulsão coulômbica que ocorre entre os
elétrons emparelhados.
Então como são formados os campos de alto spin ou baixo spin? VocÊ
lembra que a natureza sempre escolhe a conformação mais favorável, certo?
Então fica fácil entender, que se a energia de estabilização for alta o
suficiente para superar a repulsão coulômbica dos elétrons emparelhados, o
campo será de baixo spin. Porém se a energia
de estabilização for menor que a repulsão Somente ligantes fortes
coulômbica, o emparelhamento dos elétrons é conseguem distorcer o campo
energeticamente desfavorável e será criado de forma tão efetiva a fim de
um campo de alto spin. gerar um campo de baixo spin,
como vimos anteriormente.
O efeito Jahn-Teller é uma distorção
causada pela presença de diferentes níveis de
preenchimento eletrônico nos orbitais degenerados, ocasionando a quebra
da degenerescência (o que impacta a geometria do composto). Traduzindo,
se houverem orbitais degenerados com quantidades diferentes de elétrons,
ocorrerá efeito Jahn Teller:
154
Essas distorções causam uma mudança na geometria do complexo seja com
um aumento ou diminuição do comprimento de ligação. Já vimos que alterar
a geometria do complexo é, portanto, alterar o desdobramento de energias
dos orbitais d. Lembre-se que sistemas com geometrias diferentes, essas
características mudam.
Figura: sem efeito Jahn Teller, com efeito no orbital dx²-y² com
155
Observe as consequências nos desdobramentos de energia. O orbital
com elétron desemparelhado terá sempre uma energia mais elevada que o
orbital preenchido completamente. Observe também que a energia dos
orbitais t2g também mudam, porém com menores desdobramentos de
energia. Caso a estabilização seja maior no orbital dz² com o alongamento
das ligações no eixo z, o orbitais dzy e dzx terão suas energias abaixadas por
causa da estabilização em todo o eixo z. Caso a estabilização seja maior no
orbital dx²-y² com o encurtamento da ligação no eixo z, então a energia de dyx
será abaixada.
156
Ao estabilizarmos os
orbitais dz² com dois elétrons
emparelhados, o efeito de
repulsão coulômbica faz com
que a energia do dz² abaixe e do
dx²-y² aumente (1). Isso faz com
que a ligação seja mais
alongada, devido a repulsão
coulômbica no eixo z do ligante
e do orbital dz² (devido a
distorção Jahn Teller).
Quando removemos o
ligante no eixo z (no quadrado
planar), a energia do orbital dz²
cai ainda mais, junto com a
energia dos orbitais dzx e dzy,
devido a ausência de repulsão
coulômbica no eixo z (2). Em
contrapartida, a energia dos
orbitais dx²-y² e dxy aumentam,
porque os ligantes nos eixos x e y
se aproximam mais devido a
ausência de ligantes no eixo z.
Um ligante forte para compostos octaédricos pode não ser forte para
compostos tetraédricos (pois a barreira de energia para forçar elétrons
a se emparelharem é muito maior que Dq no segundo caso, fazendo
com que os elétrons prefiram formar configurações de alto spin em
compostos tetraédricos).
157
Para revisar o assunto de química de coordenação e TCC, assista essa
aula do canal Universidade da Química:
https://www.youtube.com/watch?v=RNY1vLrHtaU
158
Lista de exercícios: Unidade II
Professores Welenilton Júnior, Walter Mendes e Eduardo Falcão
159
(a) Valores altos de energia de ionização estão associados aos gases
nobres.
(b) O raio do Al é menor que o raio do Mg.
16) Dados os raios iônicos (em Å) do Na+ (0.95), K+ (1,33), Cs+ (1,69), Cl- (1,81) e
I- (2,16), responda:
(a) A estrutura cristalina do KI deve ser igual à do NaCl ou à do CsCl?
Justifique sua resposta.
(b) Entre o KI e o sal com mesma estrutura (NaCl ou CsCl), qual deve ter
ponto de fusão mais alto? Por quê?
(c) Esboce o ciclo de Haber-Born para a formação do KI sólido a partir do
potássio metálico e do I2.
160
a) Esboce o ciclo de Haber-Born para o CaF2 a partir do cálcio metálico e
do F2. Determine o ΔHformação.
Dados: ΔHsub(Ca) = 179,3 kJ mol-1; ED0(F2) = 139 kJ mol-1; Ei1(Ca) = 589,8 kJ mol-1;
I2 = 1145,5 kJ mol-1; EAE(F) = -327,9 kJ mol-1.
4 e, 2 6 a0
2 Zr h2
= a0 = 0 2
onde
na0 e me .
(a) Estime o valor de Ψ(r,q,f) para = 0, 90 e 180 em função de Z, r e a0.
(b) Verifique a existência de nós radiais e planos nodais. Explique o que
significam esses termos.
(c) Baseado nas suas respostas anteriores determine que orbital esta
função descreve.
161
(c) Coloque-os em ordem crescente de 1ª energia de ionização. Defina
energia de ionização e explique de que fator(es) essa propriedade
depende.
(d) Explique o ordenamento dos itens (b) e (c) em termos da distribuição
eletrônica, da carga nuclear e da blindagem.
(d) O que acontece com as energias dos OAs quando mais elétrons são
considerados?
162
diamagnético ou paramagnético. Comente sobre as estabilidades e
distâncias internucleares.
29) Para cada uma das fórmulas abaixo: (i) escreva o nome do complexo; (ii)
dê o número de oxidação e configuração eletrônica do íon metálico; (iii)
proponha pelo menxos uma geometria possível para o íon complexo
(não precisa considerar o sal) ou para o complexo neutro.
(a) [Co(NH3)5Br](NO3)2
(c) [TiCl3(OH2)3]
(d) K3[Fe(CN)6]
30) Dados os nomes dos compostos abaixo: (i) escreva a fórmula química do
complexo; (ii) dê o número de oxidação e configuração eletrônica do
163
íon metálico; (iii) proponha pelo menos uma geometria possível para o
complexo.
(a) cloreto de tetraaminoplatina(II)
(b) diaquabis(oxalato)cromato(III) de potássio
(c) perclorato de pentaaminoclorocromo(III) (perclorato: ClO4−)
(d) tetrafluoroborato de tetraacetonitrilocobre(I) (acetonitrila: :N−C≡CH3)
(e) etilenodiaminobis(oxalato)cobaltato(III) de sódio
32) (a) Explique como cada um dos OA d se orienta em relação aos eixos
coordenados. Faça desenhos mostrando os orbitais.
(b) Em um átomo ou íon isolado, os OA d têm todos a mesma energia,
isto é, são degenerados. Faça um desenho mostrando o que acontece
com as energias dos OA d quando 6 cargas pontuais são dispostas em
torno de um íon, numa configuração octaédrica.
(c) Explique o que deve acontecer com as energias quando duas cargas
(trans uma em relação à outra) são removidas. Para facilitar o raciocínio,
remova as cargas colocadas ao longo do eixo z.
164
é o número de elétrons desemparelhados. Determine μ para os dois
casos da letra (a).
c) Em qual dos casos da letra (a) se espera que ocorra absorção de luz de
menor comprimento de onda?
165
Unidade III: Química Nuclear
Agora você já aprendeu como ocorrem uma boa parte dos processos
de transformação da natureza e reconhece que eles ocorrem
majoritariamente na eletrosfera do átomo com as transferências eletrônicas:
as ligações químicas. De fato, por conter níveis de energia ordinários da nossa
atmosfera, os elétrons dos átomos passam por diversos processos facilmente
formando ligações. Mas algumas transformações podem ocorrer no núcleo.
Você deve esperar que essas transformações envolvem trocas de energia
muito maiores, já que a coesão que mantém os prótons e neutrôns unidos no
núcleo é alta. Essas reações chamamos de reações nucleares.
Relembre como os cientistas representam o átomo:
166
Caso esse núcleo não seja estável, as partículas vão se separar por
repulsão eletrostática. Esse processo se chama decaimento nuclear e ocorre
frequentemente em núcleos muito pesados (muito prótons e neutrôns), onde
fica mais difícil a estabilização por conta de a distância entre as partículas
serem maiores. Uma nova ciência foi criada em torno dessas emissões de
partículas/energia do núcleo e é chamada radiatividade (batizada por Marie
Curie em homenagem ao decaimento do rádio). Dizemos que um átomo de
núcleo instável é um átomo radioativo e um decaimento sempre leva a
liberação de energia pois leva a formação de um ou dois átomos de menor
energia.
Encontre no link abaixo uma animação interativa que permite avaliar a
ocorrência dos isótopos
Monte um núcleo atômico:
https://phet.colorado.edu/es/simulations/build-a-molecule
E outra animação interativa que permite “montar” átomos com
diferentes números atômicos e de massa e observar a estabilidade do núcleo
Monte um átomo: https://phet.colorado.edu/sims/html/build-an-
atom/latest/build-an-atom_es.html
Wilhelm Röntgen (acima), Henri Becquerel (abaixo) e o casal Marie e Pierre Curie em
seus experimentos. Google Imagens.
167
1985 Wilhelm Röntgen descobriu os raios X e tirou a primeira radiografia
168
Partículas Nucleares
A Radioatividade é a ciência que
estuda as reações nucleares. Essas reações Dizer que os processos radioativos
acontecem exclusivamente no núcleo
são essencialmente espontâneas e
significa que um elemento radioativo será
ocorrem naturalmente exclusivamente no
radioativo em qualquer forma, óxido,
núcleo dos átomos. Existem seis tipos de puro, sulfato, etc. pois a transformação
decaimentos radioativos conhecidos e nuclear independe das transformações
vamos falar sobre as propriedades de ocorridas na eletrosfera do átomo.
cada um deles e como escrevemos Fluoreto de Urânio, Urânio metálico ou o
reações nucleares. minério uranita, são todos radioativos.
169
nula. Para que isso seja plausível, temos que deixar de imaginar o nêutron
como uma partícula sem carga para enxergá-lo como uma partícula nula
contendo uma unidade de carga positiva e uma negativa, equivalente a
carga fundamental. Dessa forma, ao emitir uma partícula beta, um nêutron se
transforma em neutrino, um próton e um elétron (esse último deixa o núcleo
do átomo), por isso representamos o número atômico como -1, mas a massa
atômica não é alterada (zero).
A emissão gama por sua vez, não sofria nenhum desvio (portanto
nenhuma carga) e tinha velocidade equivalente à da luz. Ficou claro que a
emissão gama só poderia ser constituída de radiação eletromagnética. Os
raios γ tem comprimento de onda na região de λ<0,0001 nm que (lembre-se
que radiação pode se comportar como partícula) é emitido quando um
átomo sai de um alto estado de excitação para o estado fundamental.
Normalmente a emissão de radiação gama está associada a emissão de
partículas alfa. Ao decair em número atômico, o átomo pode liberar uma
“energia extra” para manter um núcleo menor, coeso. Como exemplo similar,
podemos falar da emissão de radiação na região do visível ocorre em testes
de chama com metais do grupo 1 e 2 e na queima de fogos de artifício. No
caso da radiação gama, nosso olho não consegue enxergá-la.
170
penetração e velocidade serão muito superiores, capaz de atravessar meios
muito densos (como paredes de chumbo).
Escrevemos então as reações nucleares:
16 12
8𝑂 → 6𝐶 + 42∝ 235
92𝑈 → 234 4
90𝑇ℎ + 2∝
16
8𝑂 → 16
8𝑂 + 00𝛾
16 16 0 14 16 0
8𝑂 → 9𝐹 + −1𝛽 6𝐶 → 7𝐹 + −1𝛽
171
Um exemplo famoso de fissão nuclear fissão do U-235, utilizada na
geração de energia. O isótopo mais estável do urânio é o A=238, e apenas o
U-235 é radioativo, portanto, para produção de energia é necessário fazer o
“enriquecimento” do Urânio (até 20% da amostra), ou seja, aumentar a
proporção de U-235. Então podemos bombardear o U-235 com um nêutron, e
teremos o seguinte decaimento:
𝟐𝟑𝟓 𝟏 𝟏𝟒𝟎 𝟗𝟑
𝟗𝟐𝑼 + 𝟎𝒏 → 𝟓𝟔𝑩𝒂 + 𝟑𝟔𝑲𝒓 + 𝟑 𝟏𝟎𝒏 + 𝒆𝒏𝒆𝒓𝒈𝒊𝒂
Tanto o Ba quanto o Kr ainda têm atividade radioativa, e note que são
produzidos 3n dessa reação. Essa reação é muito interessante do ponto de
vista energético. E isso nos leva ao conceito de reação em cadeia:
Exemplo de fissão nuclear em
cadeia do U-235 que ocorre em
usinas nucleares.
172
Aplicações das reações nucleares
Medicina e Imagem:
Medicina e Tratamentos:
Produção de energia:
173
OBS: Não imagine que o nêutron se põe no meio de próton impedindo
a repulsão eletrostática. Ele simplesmente interage com os prótons com uma
força muito mais elevada, superando a repulsão próton-próton.
Essa teoria explica o que ocorre nos tipos de decaimento. Vamos olhar
com mais detalhes para todos eles em breve. Mas veja o decaimento beta,
por exemplo. Quando dizemos que o nêutron “se quebra e vira” um próton, o
que queremos dizer é que a conexão dos quarks é desfeita no modelo de
nêutron e refeita no modelo de próton, gerando um anti-neutrino e emitindo
um elétron. Por isso dizemos o nêutron é uma partícula nula. Para que ele vire
um próton de carga positiva, ele precisa “liberar” uma carga negativa. Se
você bem lembra, a massa do nêutron é um pouco maior que a do próton
(mn = 1,674928.10-27 kg; mp = 1,672621.10-27 kg). É lógico pensar que um nêutron
equivale a um próton, um elétron e um neutrino (o neutrino e o anti-neutrino
são partículas de massa muito pequena, menor que a do elétron e cargas
desconhecidas até o momento). Já na emissão β+, a conexão de quarks que
forma um próton é desfeita para formar um nêutron, e a carga positiva
“excedente” é emitida na forma de pósitron (uma partícula de massa
pequena).
A estabilidade do átomo depende, como vimos, da força elétrica que
mantém os elétrons ao redor do núcleo, e estabilidade de um núcleo,
portanto, depende da Força Nuclear Forte que ocorre da interação entre os
quarks dos prótons e os núcleos e supera a força elétrica que provoca a
repulsão próton-próton. Dessa forma, a presença de nêutrons é necessária
para a estabilidade do núcleo, exceto pelo núcleo de hidrogênio (que só tem
um próton e não experimenta esse efeito de repulsão). Então se adicionarmos
nêutrons infinitamente no núcleo, ele será mais estável? É claro que a resposta
é não e você vai entender o porquê.
Inicialmente vamos converter as massas dessas partículas em unidades
atômicas u.m.a para facilitar nosso trabalho.
174
𝑚𝑂−16 = 𝟖𝒎𝒑 + 𝟖𝒎𝒏 + 𝟖 𝒎𝒆 = 16,131912 𝑢. 𝑚. 𝑎.
Se calcularmos a energia da
reação de formação do O-16 a Isso significa que no universo subatômico, a
partir da variação de massa, Lei da Conservação de Massa e a Lei da
teremos que: Conservação de Energia não são
independentes entre si.
Δ𝑚 = 𝑚𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 − 𝑚𝑟𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠
Δ𝑚 = 𝑚𝑂−16 − (8. 𝑚𝑛 + 8. 𝑚𝑝 + 8. 𝑚𝑒 )
Δ𝑚 = −0,136997 𝑢. 𝑚. 𝑎.
(−0,136997 u. m. a. ) ∗ (1,660540.10−27 𝑘𝑔) ∗ (2,997925.108 𝑚. 𝑠 −1 )2 𝑒𝑉
ΔE =
1,602177.10−19 𝐽
𝚫𝑬 = − 𝟏, 𝟐𝟕𝟔 . 𝟏𝟎𝟖 𝒆𝑽 = − 𝟏𝟐𝟕, 𝟔 𝑴𝒆𝑽
175
• Observe que a energia de formação de um átomo é muito maior que
a energia típica de uma transformação na eletrosfera (reações químicas) e
isso está condizente portanto com o que discutimos ao longo dessa unidade.
Nos processos nucleares, as liberações de energia são da ordem de milhões
de vezes maior.
Núcleons são as partículas
Aprendemos agora como calcular a Energia da Ligação presentes no núcleo.
Nuclear (ELN). É muito comum ainda dividirmos esse valor pela
quantidade de núcleons do átomo. No caso do O-16, 8 nêutrons e 8 prótons.
Δ𝐸 −127,6 𝑀𝑒𝑉
𝐸𝐿𝑁𝑂−16 = = = −𝟕, 𝟗𝟖 𝑴𝒆𝑽/𝒏𝒖𝒄𝒍𝒆𝒐𝒏
𝐴 16
176
Observe que um dos núcleos mais estáveis da Tabela periódica é o
56Fe.Elementos menores tem estabilidade crescente e tendem a sofrer fusão
nuclear para se tornarem núcleos maiores enquanto que elementos maiores
que o 56Fe tendem a sofrer fissão nuclear para se tornarem menores. Se um
núcleo a direita da região de maior estabilidade sofrer fissão ele produzirá
dois núcleos com ENL mais elevada. Da mesma forma se dois núcleos da
região a esquerda se fundirem, eles produzirão um núcleo com maior ENL.
Qualquer núcleo maior que o 208Pb é naturalmente instável.
Agora veja o cinturão de estabilidade dos isótopos:
Relação N/Z na estabilidade de
isótopos e cinturão de
estabilidade.
177
misótopo é a massa experimental que você encontra nas tabelas
periódicas.
Números mágicos do núcleo:
Correção em modelos de previsão da estabilidade dos núcleos (Não
veremos esses modelos nessa disciplina). Modelos que consistem em tratar o
núcleo similarmente a eletrosfera, com camadas de energia onde as
partículas poderiam habitar, e não somente um aglomerado de partículas
coesas indefinidamente.
178
Agora que você entende como um núcleo é estável, vamos retomar
nossos estudos sobre os decaimentos nucleares. Falamos das emissões α, β e γ
e algumas de suas propriedades, agora vamos entender como elas ocorrem
e vamos aprender outros processos de decaimentos conhecidos.
𝐴 𝐴−4
Decaimento alfa ( 𝟒𝟐𝜶): 𝑍𝑋 → 𝑍−2𝑌 + 42𝛼
Liberação de um núcleo de He que ocorre naturalmente com
elementos A>200. Ele ocorre em átomos muito grandes para tornar os núcleos
mais leves e próximos da estabilidade nuclear.
1 0
Decaimento beta ( −𝟏𝟎𝜷): 0𝑛 → 11𝑝 + −1𝑒 + 𝑣−
Em um decaimento beta um nêutron se transforma em um próton, o
que altera o elemento e Z, mas não altera a massa do núcleo
significativamente, pois o núcleo emite um életron e um neutrino (de massa
menor que o é). Esse elétron não existia no átomo. Ele é formado da
transformação do nêutron. Esse decaimento ocorre quando há um excesso
de nêutrons com relação ao número de Z (quando a razão N/Z está muito
alta) tornando o núcleo instável.
Um exemplo: 14
6𝐶 → 14
7𝑁 + 0
−1𝛽
Conservação do número de núcleons.
Conservação de cargas.
179
Decaimento gama (γ):
Um átomo em um estado excitado de energia (promovido por alguma
transição eletrônica de alto nível), volta ao seu estado energético inicial
emitindo uma radiação muito energética, a radiação gama.
Um exemplo: 60
27𝐶𝑜 ∗→ 60
27𝐶𝑜 + 00𝛾 Conservação do número de núcleons.
Observe que não há Conservação de cargas.
transmutação no decaimento gama.
Além desses decaimentos, outros processos podem ocorrer:
Fissão espontânea (n):
quando um núcleo grande instável se transforma em dois núcleos
menores redistribuindo as massas atômicas e os elétrons. Nesse processo, o
núcleo emite uma certa quantidade de nêutrons (n), pois vimos no cinturão
de estabilidade que a razão N/Z da estabilidade cai, quando Z diminui.
1 0
Captura eletrônica K (raios X): 1𝑝 + −1𝑒 → 10𝑛 + 𝑟𝑎𝑖𝑜𝑠 𝑋/𝛾
Um núcleo instável pode capturar um élétron da camada k ou pode
ser bombardeado com um elétron e faz o processo análogo ao que ocorre
na radiação beta. Um próton “absorve” esse elétron e gera uma partícula de
carga nula, um novo nêutron. Como resultado, o núcleo emite radiação na
faixa de 0,1 nm (raios X) até 0,001nm (raios γ). Se sua memória é boa, vai
lembrar que vimos na Unidade I o efeito Compton, e como Moseley estudou
as massas atômicas com os raios X ao lançar elétrons em átomos.
Um exemplo: 41
20𝐶𝑎 + 0
−1𝑒 → 41
19𝐾
Conservação do número de núcleons.
Conservação de cargas.
1 0
Decaimento Pósitron (β+): 1𝑝 → 10𝑛 + +1𝑒 + 𝜈
Um próton também pode se transformar em um nêutron sem precisar
“absorver” um elétron. Para isso, o próton precisaria “perder” sua carga
180
positiva. Nesse processo, o próton emite um pósitron, uma partícula de
mesma massa do elétron, porém com carga positiva, formando um nêutron e
um neutrino. O pósitron é antimatéria do elétron. Nesse caso, A também não
varia, porém o valor de Z diminui, transmutando o átomo. O decaimento
pósitron β+ é análogo ao decaimento β e vai ocorrer em núcleos cuja relação
N/Z está baixa, o alto número de prótons está causando instabilidade.
Um exemplo: 43
22𝑇𝑖 → 43
21𝑆𝑐 + 0
+1𝛽
Conservação do número de núcleons.
Conservação de cargas.
Como você pode observar,
tanto o decaimento pósitron quanto a captura de elétron K ocorrem com a
transformação de um próton em nêutron. O que define qual dos processos
vai ocorrer é a ordem de energia do processo. Se a energia é da ordem
inferior até duas vezes a massa do elétron, o átomo precisará absorver um
elétron da camada K do átomo para realizar a emissão. A lacuna criada na
camada K emitirá radiação na ordem dos Raios X. Se a energia relacionada
a instabilidade do núcleo é igual ou superior a 2x massa do elétron, o átomo
emite um pósitron na transformação.
• Se Δm < 2.mé (ocorre captura do elétron K)
• Se Δm ≥ 2.mé (ocorre emissão pósitron)
Compare as propriedades dos decaimentos com valores numéricos
aproximados:
Emissão Massa Velocidade
Tipo Penetração Carga Exemplo
radioativa (u.a.)* relativa**
4
2𝛼 partícula Baixa 4,0015 +2 ~ 0,1 c
0
−1𝛽 partícula Moderado 0,0005 -1 > 0,9 c
0
0 𝛾 fóton Elevado 0 0 c
1
0𝑛 partícula Elevado 1,0087 0 <0,1 c
raios-X fóton Elevado 0 0 c
+1
0
𝛽 partícula Moderado 0,0005 +1 > 0,9 c
1
+1𝑝 partícula Moderado 1,0073 0 ~ 0,1 c
* u.a. = 10-27 kg (unidade atômica) ** c = 2,99.108 m/s
181
Caracteristicamente o pesado
núcleo U-238 decai para o Th emitindo
uma partícula alfa. O Th-234 por sua
vez tem uma elevada quantidade de
nêutrons para sua estabilidade.
Consequentemente, duas
transmutações envolvendo emissão a
transformação de núcleos em prótons
vão ocorrer, levando a formação de
U-234. E a série de decaimento
continua até que se chegue no Pb-
206, um isótopo de núcleo estável.
Exercício: Quais são os valores
do número atômico e da massa
quando o 238 92𝑈 emite seis partículas
alfa e quatro partículas beta?
Exercício: Qual a energia (em
MeV) na transmutação do primeiro decaimento nuclear da série do U-238?
Dados:
Lembre-se que o átomo He tem dois elétrons a mais que a partícula alfa e
que nenhum elétron do U-238 é emitido na emissão de partículas alfa.
Unidades de radiação
Os efeitos das reações nucleares podem ser quantificados em
unidades de contagem de partículas por unidade de tempo (geralmente
segundo), mas é fundamental também estabelecer unidades de energia
equivalente a radiação liberada frequentemente nesses processos. A
radiação sofre efeito de espalhamento e absorção ao ser liberada de um
núcleo e viajar por uma trajetória a depender do meio em que se propaga.
Para quantificar numericamente os efeitos da radiação, algumas unidades
foram criadas:
Grandeza Símbolo Unidade SI
Taxa de decaimento ou 1 Ci (Currie) 3,7 .1010 decaimentos. s-
transmutação 1
182
Cinética de reações nucleares
Como você aprendeu em Química Geral I, a Cinética é o ramo da
química que se dedica a estudar a dependência temporal da concentração
dos reagentes em uma reação química. Em alguns aspectos, a cinética das
reações nucleares se assemelha, a começar pela lei da velocidade.
Similarmente a velocidade de reação v, a grandeza Atividade (A) é utilizada
para descrever a velocidade de desintegração do núcleo. A “concentração
de reagentes” em reações químicas será substituída pela concentração de
núcleos radioativos (N), e podemos escrever que:
𝑑𝑁 Note a taxa negativa relativa
𝐴= − ao ‘decaimento’ nuclear.
𝑑𝑡
Podemos esperar que as reações nucleares se aproximem de cinéticas
de primeira ordem se pensarmos que a taxa de decaimento só depende de
um dos reagentes, o núcleo (até porque a maioria das reações nucleares só
envolve um reagente, a não ser que ela seja promovida pelo
bombardeamento de partículas).
𝑑𝑁
𝐴 = − 𝑑𝑡 = 𝑘𝑁 k = constante de decaimento nuclear
1
𝑁
𝑑𝑁 = −𝑘𝑑𝑡
𝑙𝑛𝑁 − ln 𝑁0 = −𝑘 (𝑡 − 0)
𝑁
ln = −𝑘𝑡
𝑁0
𝑵 = 𝑵𝟎 𝒆−𝒌𝒕
𝐴 = 𝐴0 𝑒 −𝑘𝑡
183
desintegração nuclear, ou seja, sua concentração cai pela metade.
𝑁0 /2
ln = −𝑘𝑡1
𝑁0 2
1
− 𝑙𝑛 2
𝑡1 =
2 𝑘
ln 2
𝑡1 =
2 𝑘
0,693
𝑘 =
𝑡1
2
O trítio (H-3) decai por emissão β para o He-3 com t1/2 = 12,2 anos. Uma
amostra de um composto contendo trítio possui uma atividade inicial de 0,833
Bq. Calcule o número N0 de núcleos de trítio na amostra inicial, a constante de
decaimento e a atividade após 2,5 anos.
Carbono-14 e datação
Você já viu que o tempo de meia-vida da
amostra independe da concentração de núcleos.
Uma amostra de concentração N0 levará 1 tempo
de meia-vida até chegar N0/2. Passado mais um
tempo de meia-vida a partir de N0/2 ela chegará à
concentração de N0/4. Após um terceiro tempo de
meia vida, a concentração será de N0/8. Esse
resultado é justificado pelo perfil exponencial do
decaimento. Então se eu conheço o tempo de meia
vida de uma substância, e conheço a concentração atual dela, eu posso
facilmente estimar quantas meias-vidas já se passaram para aquela amostra. E
é assim que o ser humano arrumou um jeito de encontrar a idade de coisas
muito antigas. Veja abaixo o tempo de meia vida de alguns isótopos:
184
Observe que o carbono-14, um
isótopo instável do carbono, tem um
t1/2 da ordem de milhares de anos
(5730 anos). O carbono-15 por
exemplo, é muito mais radioativo e
tem um decaimento muito mais
acelerado, da ordem de segundos. E
porque o carbono-14 é tão
interessante na datação de fósseis?
Precisamos entender como o C-14 é
comumente formado.
185
186
Lista de exercícios: Unidade III
1. Indique quantas partículas ∝ e β são emitidas no decaimento nuclear do Urânio
para o Chumbo:
235 207 4 0
92𝑈 → 82𝑃𝑏 + 𝑛 2𝛼 + 𝑦 −1𝛽
231 231
3. Na transformação de 92𝑈 em 91𝑈𝑃𝑎 , responda:
6. Núcleos pesados podem abaixar sua energia total, fissionando após uma
pequena perturbação externa. Por exemplo, um canal de fissão possível
para o é o seguinte: . Nesta reação, a
perturbação é , um nêutron térmico, lento. Calcular a energia total
liberada na fissão acima. De onde vem esta energia?
187
pesada ). O número de nêutrons é controlado para não ter explosão
com barras de um material absorvedor de nêutrons como o cádmio. O
conjunto combustível+moderador+barras de controle forma o caroço do
reator e é resfriado por um líquido, o qual produz vapor que ativa as
turbinas (veja figura abaixo).
10. Uma amostra de carbono de massa 1,00 g que foi extraída da madeira de uma
tumba, em Israel, produziu 2,1 desintegrações por minuto do carbono-14. Estime
o tempo decorrido desde a morte do indivíduo considerando que a atividade de
1,00 g de uma amostra recente produziu 15,3 desintegrações por minuto do 14C.
188
11
11. O isótopo 6 C tem uma meia-vida de cerca de 20 minutos, decaindo por emissão
de pósitron (99,8%, liberação de 0,96 MeV) ou por captura eletrônica (~0,2%,
liberação de 1,98 MeV).
(a) Escreva a equação balanceada e calcule a energia de ligação por núcleon dos
núcleos envolvidos.
(b) Determine a diferença de massas e variação de energia total do processo de
emissão de pósitron. Se esta energia não for igual a 0,96 MeV, como ela deve se
manifestar no processo?
(c) Assumindo que esses 0,96 MeV são liberados na forma de um fóton de raio-γ,
aproximadamente quantos fótons foram liberados após 40 minutos de
11
decaimento de uma amostra inicialmente contendo 11 g de 6 C ?
(d) O que acontecerá quando um pósitron colidir com um elétron?
189
Material Suplementar
Canais de aulas no youtube
Química Geral II / Prof João Bosco Paraíso (DQF/UFPE)
https://www.youtube.com/playlist?list=PLAb2UhgwEUwPaz1NElo8LxIKm-1FEM2Ew
https://www.youtube.com/@FisicaModernaUFF
https://www.youtube.com/@UniversidadedaQuimica/featured
https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulations/filter?subjects=chemistry&type=html,prototype
Materiais online
https://blogdorafaelmori.wordpress.com/category/estrutura-da-
materia-2022/
Sólidos Cristalinos:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1641845/mod_resource/content
/1/Aula%203%20Liga%C3%A7%C3%A3o%20qu%C3%ADmica%20e%20Estrutura%
20cristalina%20de%20%C3%B3xidos.pdf
http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/EME774/Aula%2003_CM.pdf
Animações interativas
pHET (Colorado State University)
Polaridade das moléculas:
https://phet.colorado.edu/sims/html/molecule-polarity/latest/molecule-
polarity_en.html
190
Referências
Referências Bibliográficas
Literatura recomendada:
Morgon, N.H. (2008) O comportamento do elétron: uma análise do efeito
Compton e da relação de De Broglie. Química Nov, Vol. 31, No. 7, p. 1869-
1874.
O mundo da química >> Introdução a Química
https://www.omundodaquimica.com.br/academica/intro_atomol
191
Anexos
Tabela Periódica dos Elementos
192
Funções de onda do átomo de hidrogênio
Mahan e Myers, capítulo 10.
193
Propriedades periódicas
• Raios iônicos (A)
194
Geometria molecular (VSEPR)
195
196
Tipos de decaimentos nucleares e representações
Fonte: chemwiki.ucdavis.edu
197