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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Ciências Exatas e da Natureza


Departamento de Química Fundamental

(QG02)
Química Geral 2
Apostila de conteúdos e exercícios

Professor: MSc. Welenilton Júnior


Semestre: 2022.2
Turma: S3

Recife, dezembro de 2022

1
Sumário
Química Geral II ................................................................................................................... 5
Informações da disciplina.......................................................................................................... 5
Ementa da disciplina ................................................................................................................. 5
Unidade I: Estrutura Eletrônica do átomo ........................................................................... 6
Matéria x Energia ...................................................................................................................... 6
Mecânica Ondulatória ............................................................................................................... 6
A natureza quântica da matéria ................................................................................................ 9
O modelo atômico de Dalton .................................................................................................... 9
Os experimentos de Faraday e Crookes com tubos de descarga ........................................... 10
A natureza elétrica da matéria: O modelo atômico de Thomson ........................................... 12
Determinação da razão carga-massa do elétron .................................................................... 13
Milikan determinou a carga do elétron com o m.m.c............................................................. 14
Os vazios do átomo: o modelo planetário de Rutherford ...................................................... 15
O problema do corpo negro: a catástrofe do ultra-violeta ..................................................... 19
As origens da teoria quântica: Max Planck faz uma viagem muito louca ............................... 22
O efeito fotoelétrico: o Nobel de Einstein e como Planck estava certo ................................. 23
Os espectros de absorção e emissão da matéria .................................................................... 28
O modelo de Bohr e os níveis de energia................................................................................ 32
Os raios-X: Henry Moseley “conserta” a Tabela Periódica ..................................................... 35
O efeito Compton .................................................................................................................... 37
O problema do modelo de Bohr ............................................................................................. 37
A dualidade onda-partícula e a relação de De Broglie ............................................................ 38
O experimento de Young da fenda dupla: natureza ondulatória da luz ................................. 40
O princípio da incerteza de Heisenberg e o princípio da complementaridade de Bohr ......... 46
A função de onda do elétron: a Equação de Schrödinger ....................................................... 47
A partícula na caixa rígida ....................................................................................................... 51
Aplicação da partícula na caixa: polienos conjugados ............................................................ 57
Resolvendo a equação de Schrödinger: os orbitais atômicos ................................................. 60
Orbitais p e degenerescência .................................................................................................. 65
Os níveis de energia dos orbitais atômicos para o hidrogênio ............................................... 66
A energia dos orbitais multieletrônicos: o princípio da exclusão e o princípio de aufbau ..... 68
Blindagem e carga nuclear efetiva em átomos polieletrônicos .............................................. 72
A configuração eletrônica e a Tabela Periódica ...................................................................... 75
O efeito do par inerte.............................................................................................................. 82

2
O gato de Schrödinger............................................................................................................. 82
Lista de exercícios: Unidade I ........................................................................................... 85
Unidade II: Ligações Químicas ......................................................................................... 87
Por que os átomos se ligam? .................................................................................................. 87
Ligações polares ...................................................................................................................... 88
A ligação iônica........................................................................................................................ 89
Sólidos iônicos e a energia de rede ......................................................................................... 91
Propriedades dos sólidos iônicos: solubilidade, PF e PE ......................................................... 97
O efeito da polarização: corrigindo o modelo de ligação iônica ............................................. 98
A ligação covalente ................................................................................................................. 99
Radicais químicos e reatividade ............................................................................................ 102
Ressonância ........................................................................................................................... 103
O efeito da eletronegatividade e a força das ligações .......................................................... 104
O modelo VSEPR e a Geometria Molecular .......................................................................... 106
A Teoria de Ligação de Valência (TLV)................................................................................... 109
Hibridização dos orbitais atômicos ....................................................................................... 111
Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM) ................................................................................ 114
O comportamento magnético dos compostos covalentes ................................................... 123
A ligação metálica ................................................................................................................. 124
A teoria de bandas: Condutores e semicondutores.............................................................. 126
Forças intermoleculares ........................................................................................................ 128
Complexos de Metais de Transição: o bloco d da tabela ...................................................... 131
Isomeria de compostos de coordenação .............................................................................. 137
TLV para Complexos de Metais de Transição........................................................................ 140
Teoria do Campo Cristalino (TCC) e a Série Espectroquímica ............................................... 143
Propriedades magnéticas dos complexos ............................................................................. 151
Energia de Estabilização do Campo Cristalino(EECC) e efeito Jahn Teller ............................ 153
Teoria do Campo Ligante ...................................................................................................... 158
Lista de exercícios: Unidade II ........................................................................................ 159
Unidade III: Química Nuclear .......................................................................................... 166
Histórico da Química Nuclear................................................................................................ 167
Partículas Nucleares .............................................................................................................. 169
Tipos de reações nucleares ................................................................................................... 171
Aplicações das reações nucleares ......................................................................................... 173
Estabilidade nuclear e o Cinturão de estabilidade ................................................................ 173
Séries de Decaimento Nuclear .............................................................................................. 181

3
Unidades de radiação ............................................................................................................ 182
Cinética de reações nucleares ............................................................................................... 183
Carbono-14 e datação ........................................................................................................... 184
Lista de exercícios: Unidade III ....................................................................................... 187
Material Suplementar ....................................................................................................... 190
Canais de aulas no youtube .................................................................................................. 190
Materiais online .................................................................................................................... 190
Animações interativas ........................................................................................................... 190
Referências ....................................................................................................................... 191
Anexos .............................................................................................................................. 192
Tabela Periódica dos Elementos ........................................................................................... 192
Funções de onda do átomo de hidrogênio ........................................................................... 193
Propriedades periódicas........................................................................................................ 194
Geometria molecular (VSEPR) ............................................................................................... 195
Tipos de decaimentos nucleares e representações .............................................................. 197

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Química Geral II
Informações da disciplina
Esse curso está estruturado em três unidades que focam, diferente
da Química Geral I, entender o comportamento químico da matéria na
escala microscópica. Os fundamentos que explicam as Leis da
Termodinâmica, as espontaneidades de reações eletroquímicas ou a
formação de moléculas orgânicas partem dos conhecimentos desse
universo.
Na primeira unidade vemos os conhecimentos acumulados ao longo
da ciência moderna na construção da estrutura eletrônica da matéria, o
átomo. Precisamos passar por bases da Física Clássica como o
eletromagnetismo de Maxwell e a mecânica de Newton para
entendermos o surgimento da Física Moderna as descrições quânticas dos
átomos até chegarmos aos orbitais atômicos.
Na segunda unidade, vamos entender como os átomos foram
organizados pelos químicos e como eles podem interagir entre si para
formar os compostos químicos de acordo com sua estrutura eletrônica
(com foco nos grupos s e p da Tabela Periódica). As diferentes ligações
químicas e suas propriedades gerais são vistas nessa unidade, bem como
estruturas químicas radicais e a hibridização, a formação dos orbitais
moleculares.
Na terceira unidade, introduziremos aspectos gerais das ligações dos
elementos do grupo d e iniciaremos um breve curso sobre Química
Nuclear, abordando o desenvolvimento histórico e os aspectos práticos da
aplicação dos conhecimentos relacionados.

Ementa da disciplina
Periodização: 2º (Bacharelado), 3° (Engenharias)
CH: 60 h (Teórica) Créditos: 3.0
ESTRUTURA ATÔMICA. ORIGENS DA TEORIA QUÂNTICA. O ÁTOMO DE
BOHR. MECÂNICA QUÂNTICA. ESTRUTURA MOLECULAR. LIGAÇÃO
COVALENTE. LIGAÇÃO IÔNICA. LIGAÇÃO METÁLICA. LIGAÇÕES
INTERMOCULARES. TÓPICOS DE QUÍMICA. QUÍMICA ORGÂNICA. QUÍMICA
NUCLEAR.

5
Unidade I: Estrutura Eletrônica do átomo
Na primeira unidade desse curso vamos fazer uma viagem histórico-
físico-química para entendermos como chegamos aos conhecimentos que
temos hoje sobre a unidade fundamental da matéria, o átomo (e suas
subpartículas) e a Física Moderna que explica o comportamento quântico do
átomo.
Vídeo introdutório: A Escala do Universo Quântico | O que é
quantização?
https://www.youtube.com/watch?v=xdqlKlIJ1-E
Inicialmente, é prudente termos em mente alguns conceitos importantes
para o que vem a seguir. Vamos distinguir matéria de energia e falar sobre
física ondulatória, especialmente sobre ondas eletromagnéticas, que são de
fundamental importância nessa unidade.

Matéria x Energia
A matéria pode ser entendida como tudo aquilo que tem massa e
ocupa uma lugar no espaço. Ela apresenta estados (sólido, líquido, gasoso,
plasma) e tem propriedades físicas e químicas. Em um sistema fechado, a
matéria é conservada.
A energia, diferente da matéria, não tem volume e é definida como a
capacidade de realizar trabalho. Várias formas de energia existem e
coexistem em diversos sistemas e elas podem ser transformadas entre si. Em um
sistema isolado, a energia é conservada.
Formas de energia: cinética,
potencial, mecânica, química, elétrica,
magnética, nuclear e térmica. Jennifer
Fogaça, Escola Kids.

A energia para problemas do


universo macroscópico é
normalmente dada em múltiplos do
Joule que equivale a [J] = 1
kg.m²/s².
Nos sistemas químicos
normalmente nos interessam as
energias cinéticas (do movimento),
potencial (da posição) e potencial
coulômbica (da interação entre
cargas).

Mecânica Ondulatória
Ondas são perturbações oscilantes que se propagam em um
determinado espaço transportando energia sem transportar matéria. Existem
vários tipos de onda, e uma das classificações que nos interessam são as
ondas mecânicas ou eletromagnéticas.

6
A onda mecânica envolve o transporte de energia através de um meio
material. O som por exemplo, precisa de um meio para se propagar, que
pode ser o ar. Quando alguém fala, você escuta porque as moléculas do ar
vibram transportando a onda da boca de alguém até o seu ouvido. Isso
significa também que no vácuo não é possível haver a propagação do som.
As ondas eletromagnéticas se propagam independente de um meio material.
É o caso da luz visível. A luz é uma forma de energia que pode viajar no vácuo
com velocidade de 3,00.108 m/s.

Representação esquemática de uma onda. Educa mais Brasil.

Chamaremos o comprimento de onda (a distância entre uma crista e a


seguinte, ou um vale e o seguinte) de λ, e a amplitude da onda (a altura de
uma crista ou um vale) de A ou ρ. O comprimento de onda é tratado em
múltiplos do metro.

• A velocidade v de propagação da onda é dada em


comprimento de onda por unidade de tempo.
• O período T da onda é o tempo de oscilação de um ciclo
completo (um comprimento de onda).
• A frequência f da onda é o inverso do período expressa em hertz
[1Hz] = [1/s].,
• A fonte é o estímulo (normalmente um equipamento ou material)
responsável pela origem da onda. A perturbação dada a onda
em forma de energia para oscilar é chamada de pulso.

Tanto as ondas eletromagnéticas quanto as ondas mecânicas sofrem


alguns fenômenos ondulatórios ao encontrarem meios materiais como
obstáculos. Os principais fenômenos ondulatórios são a reflexão, a refração, a
polarização, a dispersão, a difração, a interferência e a ressonância.
Exemplos de fenômenos ondulatórios. Mundo
educação, UOL.

A radiação eletromagnética é
constituída por dois campos
perpendiculares entre si, o campo
elétrico e o campo magnético. Elas
formam uma variedade de ondas
com grande aplicabilidade no nosso
dia a dia de acordo com seu

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comprimento de onda ou sua frequência.

A frequência é o termo mais utilizado fora do meio científico. Você


certamente já ouviu sobre a frequência das ondas de rádio, ou das ondas do
micro-ondas. Pois bem, é muito conveniente representar um espectro de
ondas eletromagnéticas de acordo com seu λ ou f (lembre-se que eles são
inversamente proporcionais):

Espectro eletromagnético. Google Imagens.

Note que a luz visível (as cores


que enxergamos), ocupam uma
faixa muito restrita do espectro
eletromagnético. No passado, os
cientistas estudavam a radiação
eletromagnética apenas na faixa em
que podíamos ver. Como avanço da
tecnologia foi possível identificar
outros tipos de radiações
eletromagnética. Esse avanço foi
chave no entendimento dos átomos
e como a matéria é formada e
vamos ver o porquê mais adiante.

8
A natureza quântica da matéria
Nas primeiras tentativas de entender o universo e o comportamento das
forças que nele existem, as grandes civilizações do passado trouxeram um:
nascia no berço da Grécia Antiga, o raciocínio lógico. Não demorou muito
para que os gregos se perguntassem do que as coisas eram constituídas. Seria
possível dividirmos a matéria até sua unidade fundamental?
• Inicialmente se pensou que as coisas eram feitas de uma partícula
constituidora de tudo. A essa partícula foi dada o nome de átomo, que
vem do grego atom, que significa indestrutível.
• Demócrito e Leucipo foram os primeiros filósofos a criarem o conceito de
átomo, mas suas ideias não foram muito populares na época em grande
parte porque o grande filósofo Aristóteles acreditava que a matéria era
contínua, e portanto infinitamente divisível.
• Algumas poucas ideias foram além distinguindo os átomos. Eles poderiam
ser elementarmente diferentes. Uma das propostas consistia em quatro
elementos básicos, fogo, água, terra e ar, dos quais tudo era formado a
partir deles e eles se distinguiam entre si pela sua forma física.

O modelo atômico de Dalton


Após a Idade Média, sabemos que as ciências floresceram no
movimento chamada iluminismo, que dava razão ao empirismo sobre o
racionalismo. A humanidade agora intuía os princípios da ciência e
desenvolvia formas de testá-lo para criar então uma teoria. Lembre-se da
maçã que atingiu a cabeça de Sir Isaac Newton e graças a isso, conhecemos
a lei da gravitação universal.

Em 1785 no Tratado Elementar da Química, o químico francês Antoine


Laurent Lavoisier observou que em sistemas fechados, independente dos
processos que ali ocorressem, a massa total do sistema era sempre
conservada: A Lei da Conservação da Matéria.

Alguns anos depois, outro químico francês chamado Joseph Louis


Proust, observou que substâncias diferentes “reagiam” sempre em proporções
constantes com uma dada substância. Ele postulou o que conhecemos hoje
como a Lei das Proporções Definidas.

No contexto de explicar o porquê as Leis de Lavoisier e Proust eram


válidas 100% do tempo, o inglês John Dalton retomou os pensamentos dos
gregos esquecidos a quase 5 séculos e em 1803, esse senhor trouxe a primeira
hipótese atômica à luz do empirismo. A hipótese de Dalton postulava que o
“átomo” era então:

• Menor unidade da matéria;


• Esférico, indivisível, indestrutível e neutro;
• Com diferentes massas de acordo com a
substância que representa.

Por isso você lembra do modelo de Dalton como o


modelo da bola de bilhar (ou deveria lembrar).

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A hipótese de Dalton era condizente com as leis de Lavoisier e Proust
além de que era uma evidência definitiva da Lei dos Gases Ideais partindo
das leis de Newton para energia cinética de gases. Dalton inclusive criou um
sistema de representação gráfica dos diferentes átomos que eram conhecidos
até então, e publicou no seu livro Filosofia da Química.

Contra-capa do livro Chemical


Philosophy (J. Dalton, 1808) e sistema de representação de átomos e moléculas.

O pobre Dalton não conseguia distinguir muito bem as cores, mas


enxergava muito mais além do que os olhos podem ver.

Os experimentos de Faraday e Crookes com tubos de descarga


Sir Michael Faraday na primeira metade dos anos 1800 realizou diversos
experimentos avaliando a eletricidade das partículas. Sabemos que de
acordo com a Eletroquímica Da Química Geral I, uma reação química
espontânea pode transformar energia química em energia elétrica, e uma
reação química não-espontânea pode transformar energia elétrica em
energia química para acontecer. Em 1833, Faraday observou em uma célula
eletrolítica que uma determinada quantidade de eletricidade depositava
sempre a mesma massa em um eletrodo de um dado material e que a massa
depositada era proporcional ao peso equivalente do material. Esses fatos
sugeriam a existência de partículas capazes de reagir em reações químicas e
transportar energia na forma de eletricidade.
Em outros experimentos, ao criar uma atmosfera rarefeita (de baixa
pressão) em uma ampola de vidro e aplicar uma corrente elétrica em um
cátodo, Faraday observou um brilho característico no cátodo e outro brilho
característico no ânodo. À medida que aumentava a tensão elétrica, mais

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forte o brilho se tornava. Quando Faraday experimentou trocar o gás do
recipiente, o brilho no ânodo assumia diferentes cores de acordo com o gás
presente. Quando modificou o material do cátodo, nada aconteceu: o brilho
permanecia. A esse brilho, ele nomeou brilho catódico.
Faraday então concluiu
que a corrente elétrica fluía no
sistema através do gás a baixa
pressão e que a cor da luz
próxima ao ânodo dependia da
composição do gás e o brilho
catódico independia do mesmo.
Anos mais tarde, ao elevar
ainda mais a diferença de
potencial na célula, Faraday
Tubo de descarga em gás de Michael Faraday. observou o brilho catódico se
tornar um feixe luminoso e
atravessar a ampola de vidro até
o ânodo. Esse feixe foi chamado de raio catódico.
A ciência estava curiosa para saber do que eram compostos os raios
catódicos na época. Por volta dos anos 1870, Thomas Crookes desenvolveu
um novo projeto conhecido como ampola de Crookes e fez alguns testes e
observações.
Inicialmente Crookes
constatou que os raios
catódicos eram partículas
com massa. Ao inserir uma
ventoinha paralela a
direção do feixe de luz,
Crooks observou que ela
era rotacionada pela
passagem do feixe e
quando a ventoinha era
posicionada perpendicular
ao feixe, o raio atingia o
material e era interrompido
no anteparo.
Crookes observou
ainda que a trajetória dos
raios catódicos era
influenciada pela presença
de um campo magnético.
O raio era atraído na
direção de um campo
magnético positivo e o feixe
de raios catódicos devia ser certamente composto por partículas carregadas
negativamente que “saltavam” de qualquer cátodo e percorriam o caminho
da ampola até o ânodo.
Esquema experimental da ampôla de Crookes e os
experimentos realizados na década de 1870.

11
Havia apenas um pequeno furo nas conclusões de Crookes. Se os raios
catódicos interagiam com um campo magnético, eles também deveriam
interagir com um campo elétrico, enquanto partículas eletricamente
carregadas. Ao realizar os experimentos com um campo elétrico, Crookes não
observou nenhuma distorção dos raios catódicos, o que pôs em xeque suas
conclusões.
Quem resolveu o problema quase que num golpe de sorte foi o prêmio
Nobel de 1906, o físico inglês Joseph John Thomson. Você deve ter lembrado
de um pudim de passas do ensino médio.

A natureza elétrica da matéria: O modelo atômico de Thomson


J.J. Thomson usou um aparato muito parecido com a âmpola de
Crookes mas ele se beneficiou de bombas a vácuo muito mais potentes que
haviam sido projetadas na Alemanha em 1897. Ao utilizar um melhor “vácuo”,
Thomson observou o efeito do campo elétrico na trajetória dos raios catódicos,
e observou também o efeito de equilíbrio entre o campo magnético e elétrico
sobre os raios catódicos simultaneamente, não alterando sua trajetória.

Fcampo magnético = Fcampo elétrico

𝑞|𝑣||𝐵| = 𝑞|𝐸| (𝑒𝑞𝑢𝑖𝑙í𝑏𝑟𝑖𝑜)

(a) Aparato experimental utilizado por J.J. Thomson.


(b)Esquema do funcionamento do experimento de
condução de eletricidade em gases; (c) influência do
campo elétrico e magnético no vetor velocidade dos
raios catódicos.

Thomson sabia então que havia uma partícula, negativamente


carregada (pois era atraída pelo campo magnético positivo) presente em
todos os elementos (pois independia da natureza do cátodo) que era liberada
ao incidir diferenças de potenciais muito grandes nos materiais. Essa partícula
já havia sido nomeada por G.J. Stoney em 1874 como a partícula elétrica
fundamental, o elétron. Thomson sabia também que os átomos eram
eletricamente neutros em seu estado natural. Ele então imaginou que os
átomos eram esferas maciças constituídas de
uma região de plasma positivamente carregada
com partículas incrustra-das em sua superfície
negativamente carregadas, os elétrons. Os
elementos então se distinguiam não somente em
massa, como postulou Dalton, mas também na
quantidade de cargas elementares presentes.

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Thomson definiu os elétrons como corpúsculos negativamente
carregados presos a esfera do átomo em movimento circular uniforme (o
elétron se movimentava ao redor do átomo) espalhados em uma
conformação mais estável eletrostaticamente. Seu postulado foi publicado
em 1904 na Philosophical Magazine e hoje em dia para fins práticos foi
reduzido a simplesmente “o modelo do pudim de passas”.

Determinação da razão carga-massa do elétron


Thomson foi matematicamente criativo em seus
estudos ao pensar na energia cinética das partículas que
escapavam do cátodo formando os raios catódicos.
Inicialmente ele mediu a temperatura (energia cinética)
do sistema e a partir dessas medidas estimou o trabalho W
que o feixe de N elétrons de massa me cada poderia
exercer.
𝑁. 𝑚𝑒 𝑣²
𝑊=
2
Para calcular a carga total q do feixe de elétrons ele postulou que:
𝑞 = 𝑁. 𝑒 onde “e” representa a carga elementar (de um único elétron)
(aqui ele estava assumindo que não há diferença entre as cargas dos
elétrons)
Dividindo q por W, temos que:
𝑞 2. 𝑒 𝑒 𝑞𝑣²
= 2 ⟹ =
𝑊 𝑣 𝑚𝑒 𝑚𝑒 𝑊. 2

Nessa equação, o problema reside na velocidade, que não era possível


de ser medida experimentalmente com precisão razoável. Então Thomson
aplicou um campo magnético gerado por uma bobina, até que a deflexão
na trajetória do raio catódico fosse tanta que descrevesse um arco (que ele
poderia medir o raio considerando um movimento circular uniforme).
Esse vídeo demonstra esse experimento na prática (se estiver agoniado,
pule para o minuto 3).
https://www.youtube.com/watch?v=5QnBybstXxY
𝑒.𝑟.𝐵
𝑣=
𝑚𝑒

onde r é o raio da trajetória e B a intensidade do campo magnético


exercido.
Substituindo na Equação anterior:
𝑒𝑟𝐵 2
𝑒 𝑞𝑣² 𝑞 ( ) 𝑒 𝑒² 𝑞𝑟²𝐵² 𝒆 𝟐𝑾
𝑚𝑒
= = ⇒ = 2 ⟹ =
𝑚𝑒 2𝑊 2𝑊 𝑚𝑒 𝑚𝑒 2𝑊 𝒎𝒆 𝒒𝒓²𝑩²

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Onde W e r foram verificados experimentalmente e q e B eram
conhecidos na montagem experimental. Aplicando vários campos
magnéticos com diferentes valores de B, Thomson obteve vários valores para
“r” e chegou ao valor de e/me.
Ao encontrar um valor muito alto para a razão carga/massa, Thomson
pensou que ou a carga do elétron era de fato muito elevada, ou sua massa
muito pequena. Ele intuiu corretamente que sua massa era de fato muito
pequena, e um cabra muito bom de laboratório, Robert Milikan, provou isso
anos mais tarde.
Thomson ainda repetiu os experimentos com átomos de hidrogênio
ionizados, H+. Sabendo que H+ seria equivalente a um átomo sem elétrons, ele
determinou a razão carga/massa do H+ e observou que esta era cerca de
2000 vezes maior que o valor da razão carga-massa dos elétrons. Hoje
sabemos que o valor da massa do elétron é aproximadamente 1836 vezes
maior que a massa do próton.
Para tirar essa conclusão, Thomson se apoiou no fato de que o átomo
de hidrogênio é neutro em condições normais (não é eletricamente
carregado), e, portanto, a carga do H+ teria que ser igual a carga do elétron
em módulo (de acordo com o seu modelo atômico) para justificar as
substâncias não serem naturalmente carregadas.

Milikan determinou a carga do elétron com o m.m.c.


Robert Milikan foi um grande laboratorista que realizou diversos
experimentos para investigar descobertas da Física Moderna. O seu principal
trabalho foi medir a carga elementar com grande precisão, numa engenhoca
que construiu como mostrado na figura abaixo.
Vamos entender o que
ocorre nesse experimento.
Inicialmente, gotas de óleo eram
aspergidas em uma câmara na
forma de pequenas gotículas
(spray) formadas por um
atomizador. Essas gotículas eram
neutras e foram bombardeadas
com raios-X para se tornarem
partículas carregadas. No fundo da
câmera, havia um orifício muito
Representação do experimento de Milikan pequeno, pequeno o suficiente
(corte transversal). Maceti, Levada e para que uma gota de óleo
Lautenschleguer (2011) atravessasse para uma segunda
câmara ocasionalmente. Nessa
segunda câmara, havia um campo
elétrico e um observatório.

Agora imagine que uma gota carregada atravessa o orifício, e se


encaminha para o fundo da segunda câmara devido a força gravitacional.
Imagine também que há uma força contrária a queda livre da gota, a
resistência do ar. Ao ligar o campo elétrico, Milikan conseguia, ao ajustar a

14
intensidade → do mesmo, controlar o movimento da gota. Caso ele elevasse
𝐸
→ , poderia equilibrar a gota parada no ar desde que a força gravitacional
𝐸
fosse equivalente a força
elétrica e de resistência
do ar.
g = aceleração da
gravidade
η = viscosidade do ar
r = raio da gota (esférica)
Sendo que :
FE = q.E (força elétrica)

Fazendo uma manipulação das três forças atuando sobre a gota de


óleo em equilíbrio (Fresultante,y = 0), temos que:
𝑞𝐸 − 𝑚𝑔
0=
6𝜂𝜋𝑟
Bastava ajustar o campo elétrico → para que a gota parasse, e
𝐸
conhecer a massa e o raio da gota, que era facilmente medidos. Daí era só
calcular q, a carga total da gota. Na prática, o que Milikan fez foi calcular
para muitas gotículas de óleo, quais eram suas cargas elétricas totais q. Muitas
mesmo. Cerca de 100000 gotas. Tá pensando que fazer ciência é fácil?
Ele verificou que todos os valores eram múltiplos de um certo número.
No fim, ele simplesmente tirou o m.m.c. (que você deve ter visto pela última
vez no sexto ano da escola) que seria equivalente a carga fundamental do
elétron (de apenas 1 elétron, afinal, ele não teria como saber quantos elétrons
haviam sido ionizadas em cada gota). Ao final de todo esse trabalho, Milikan
observou que todos os valores experimentais eram múltiplos de 1,6 .10-19 C.
Com equipamentos mais sofisticados hoje sabemos a carga do elétron é igual
a e=1,602177 .10-19 C. Palmas pra Sir Robert Milikan.
Como Thomson havia determinado a razão e/m do elétron, tínhamos
então que a massa do elétron de acordo com Thomson e Milikan deveria ser
0,000000000000000000000000000000091 kg, ou melhor 9,1.10-31 kg. Palmas para
Thomson que intuiu que essa massa era realmente muito pequena.

Os vazios do átomo: o modelo planetário de Rutherford


Para entendermos o experimento de Rutherford, precisamos saber de
outras duas descobertas recentes que circulavam no mundo da ciência. A
primeira é que os cientistas conheciam a quantidade de átomos de uma
substância pura em um dado volume. No início do século XIX, Amedeo
Avogadro, o grande químico italiano postulou que haveriam sempre as
mesmas quantidades de átomos ou moléculas de em um mesmo volume de
gás e a uma dada pressão e temperatura, independente da natureza do gás.
Ele criou o conceito de volume molar. Ainda nesse século, muitos tentaram
determinar a quantidade de átomos por volume de substância, mas o número

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de Avogadro só foi determinado com precisão no século XX com o avanço
da tecnologia e batizado em homenagem ao cientista que lançou os
princípios para que este pudesse ser obtido.
NA = 6,02 x 1023 quantidades de átomos ou moléculas/mol de
substância
A partir do número de Avogadro, foi possível determinar qual seria a
ordem de grandeza do volume de um átomo (dividindo o volume molar por
NA). Os cientistas descobriram que o volume dos átomos era da ordem de 10 -14
m³. Guarde essa medida, vamos usá-la futuramente.
Outro tópico que estava aquecendo a ciência nessa época foi o
experimento realizado em 1896 por Antoine Becquerel, um químico francês
que trabalhava com radioatividade. Becquerel identificou que cristais de
urânico emitiam três “raios invisíveis” distintos de forma natural. O primeiro foi
chamado de raio α (alfa), que era facilmente absorvido por um papel, o
segundo de raio β (beta), que podia atravessar metais com até 2,5 cm de
espessura, e os raios γ (gama) que foram observados atravessarem placas de
metal de até 20 cm de espessura. Vamos falar mais a fundo desses raios na
terceira unidade, mais experimentos seguintes demonstraram que os raios α
eram positivamente carregados e a razão carga/massa era igual a
e/2.mHidrogênio. Hoje sabemos que as partículas alfa são compostas de um
núcleo contendo 2 nêutrons e 2 prótons (He2+). Essas partículas foram utilizadas
em muitos experimentos após a sua descoberta, em um deles, pelo
neozelandês Ernerst Rutherford em 1909.
Rutherford havia sido aluno de Thomson na Universidade de Cambridge,
e estava intrigado com a proposição de seu ex-professor de que o átomo era
uma esfera maciça cuja carga positiva era distribuída uniformemente em sua
extensão pois isso contradizia um experimento que ele havia feito com
partículas alfa e uma fina folha de ouro.
Rutherford e seus alunos bombardearam uma fina folha de ouro com
partículas α e posicionaram um anteparo de sulfeto de zinco por trás da folha
para investigar a deflexão/o desvio que as partículas sofreriam. Vamos reforçar
que nesse momento já era possível conhecer a velocidade das partículas
(pelo ângulo de deflexão em um campo magnético).
No final do experimento, ao
contabilizar as partículas no
anteparo, Rutherford observou que
o ângulo de deflexão de algumas
partículas era bem elevado e que
um número muito pequeno de
partículas que foi lançada (1 a
cada 20.000) não foi contabilizada
no anteparo. Ele imaginou que
com baixíssima frequência,
algumas partículas eram
retroespalhadas.
Rutherford então repetiu os
experimentos com um anteparo
maior como o da figura ao lado e

16
conseguiu então encontrar essas partículas. Ora, se os átomos tinham massa e
carga positiva uniformemente distribuídas em seu redor, como poderia haver
partículas retroespalhadas? E como para muitas outras o ângulo do desvio era
tão grande?
Representação do experimento de Rutherford e do espalhamento de partículas
alfa ao atingir uma folha de ouro. Google Imagens.

Rutherford então imaginou para explicar o que acontecia, que a


distribuição de massas no átomo não era uniforme, mas centrada em uma
pequena região de massa elevada e densa carga positiva a qual chamou de
núcleo. Surgia assim o primeiro modelo de átomo nuclear. Dessa forma,
haveria uma grande quantidade de volume vazio no átomo transpassado por
elétrons em movimento orbital que poderiam defletir as partículas alfa em um
pequeno ângulo, caso que ocorria com grande frequência no seu
experimento. E haveria também uma pequena região densa no centro do
átomo cuja frequência de colisão seria muito menor devido ao seu tamanho
muito pequeno, e que provocaria deflexões com grandes ângulos, devido a
sua densidade.
Rutherford deduziu o desvio das partículas a partir da lei de Coulomb
escrevendo o ângulo de deflexão θ das partículas assumindo uma trajetória
hiperbolóide e a atração Coulômbica entre a partícula e o núcleo de um
átomo Z.

𝜃 𝑧.𝑍²
𝑡𝑎𝑛 =
2 4𝜋𝜀0 𝑚𝑣²𝑏

onde z era a carga da


partícula α, Z a carga do átomo
de ouro, b representava o
parâmetro de impacto (b=0 => θ=180º).
Você pode encontrar a dedução dessa expressão no Mahan e Myers,
cap. 10.
Sabemos que para a energia potencial coulômbica máxima ocorre no
raio mínimo (menor distância possível entre as duas partículas carregadas
positivamente), então podemos escrever:

17
𝑧𝑍²
𝐸𝑃(𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎) = 4𝜋𝜀0 𝑟𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜

A energia cinética da partícula depende de sua velocidade e massa:


𝑚𝑣²
𝐸𝑐 = 2

Igualando as energias e isolando o rmínimo (no momento em que toda a energia


cinética da velocidade da partícula na direção do núcleo é convertida em
energia potencial coulômbica):
𝑧𝑍²
𝑟𝑚í𝑛𝑖𝑚𝑜 =
2𝜋𝜀𝑜 𝑚𝑣²

Rutherford refez o experimento com outros metais e observou que a


medida que folhas de átomos mais leves eram usadas (Z diminuía) a
velocidade das partículas v era maior. E observou nos seus experimentos que
quando ~ r < 10-14 m a lei de Coulomb não funcionava mais pra descrever a
trajetória das partículas. Você se lembra desse valor? Não? Então volte uma
página.

Assim Rutherford propôs uma descrição qualitativa do núcleo com uma


respectiva medida de carga e tamanho.

O átomo de Rutherford consistia em um


núcleo denso e positivo de 10-14 m de diâmetro
com carga positiva e espaços vazios da ordem
de 10-9 m de diâmetro ocupado por partículas
negativas, os elétrons. Esse espaço vazio foi
chamado de eletrosfera. Os elétrons então
deveriam orbitar ao redor do núcleo positivo
similar ao movimento dos planetas ao redor de
um astro. Lindo de se ver o universo
microscópico imitando o comportamento do
grande universo.
Note que ainda não temos as definições de próton e neutrôns, apenas um
1

núcleo positivo. Os nêutrons, por não terem carga, só foram descobertos em 1932 por
James Chadwick como vamos falar mais a frente.

Note também que o diâmetro do átomo é 100.000 vezes maior que o núcleo.
2

Imagine uma bola de futebol no centro da Arena Pernambuco. A bola poderia ser o
núcleo e a eletrosfera o estádio.

Havia um problema no modelo de Rutherford. Na verdade, um


problemão. Ele era contrário ao fundamento do eletromagnetismo clássico
que postulava que cargas elétricas aceleradas perderiam energia emitindo
radiação eletromagnética e, portanto, seriam naturalmente desaceleradas.
Isso significa que se o elétron fosse acelerado para orbitar ao redor do núcleo,
ele perderia energia continuamente e iria caindo na direção do núcleo até
colidir. Na verdade, isso aconteceria em 10-11 segundos. Portanto, nenhum
átomo seria estável, de acordo com Rutherford. No universo, grandes massas

18
não orbitam grandes astros por atração de cargas elétricas. É a gravidade
que as mantêm em órbita.

Rutherford sabia desse problema. Mas no momento, seu modelo


atômico era “o melhor que estava tendo”. Outros cientistas buscaram resolver
esse problema mudando descrições do átomo, como assumindo órbitas
elíptica. Mas a solução para o problema de Rutherford só veio em 1913 de um
de seus alunos, Niels Bohr. No entanto, vamos dar uma pausa na nossa história
pois para entender as proposições de Bohr, precisamos entender os avanços
na chamada Física Moderna e a trágica morte da Física Clássica na
explicação do universo microscópico.

O problema do corpo negro: a catástrofe do ultra-violeta


Vamos ao que se conhecia da luz até 1900. A luz era constituída por
radiação eletromagnética que se propagava no espaço e a energia que ela
carregava era proporcional ao quadrado das amplitudes dos campos elétricos
e magnéticos, de acordo com a teoria clássica do eletromagnetismo.
A energia da luz (em termos práticos, sua intensidade de brilho)
independia, portanto, da frequência e de seu comprimento de onda, mas
somente da amplitude. Vamos descobrir que essa afirmação está errada. Essa
lei explicava muito bem os fenômenos ópticos da luz, como a difração ou o
espalhamento. Mas não explicava o padrão de radiação emitida por sólidos
aquecidos.
Vamos introduzir agora o conceito do corpo
negro. O corpo negro é um objeto ideal capaz de
absorver toda a radiação que incida sobre ele.
Cavidades que recebem radiação por um orifício
podem funcionar com um comportamento próximo
ao de corpos negros (tenha em mente que o corpo
negro é um conceito, e não existe na natureza). As
partículas no interior da caixa podem emitir a Aproximação experimental de
radiação e funcionar como osciladores (geradores um corpo negro ideal. Fonte: dia
de ondas eletromagnéticas). a dia educação, GOV.

No final do século XIX, diversos físicos estudavam o comportamento de


sólidos aquecidos a altas temperaturas e o padrão de radiação térmica que
eles emitiam. Esses experimentos eram normalmente realizados com metais e
já era sabido que ao elevar a temperatura do sólido, a frequência da luz
emitida aumenta e o comprimento de onda da luz diminui.
𝑇𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜 ↑ 𝑓𝑜𝑛𝑑𝑎 ↑ 𝜆𝑜𝑛𝑑𝑎 ↓
De forma prática, pense numa barra de ferro sendo aquecida. Ao
elevar a temperatura, inicialmente ela ganha a cor vermelha, depois laranja,
então uma cor amarelada, até que ganha enfim, a
cor branca. A luz branca nada mais é do que a
presença de todas as radiações da região do visível
juntas (violeta + azul + verde + amarelo + laranja +
vermelho).

19
As medidas experimentais dos cientistas na
época mostravam que os padrões de emissão de
energia como radiação térmica eram do tipo do
gráfico mostrado ao lado (Observe que foi
deixado destacada a região de luz visível).
Contrariando portanto a física clássica, o padrão
de emissão de energia representado pela
intensidade luminosa I da radiação, se
relacionada a frequência e ao comprimento de
onda, e não somente a sua amplitude. Mais um
problema pra os cientistas da época
Perfil experimental da emissão de radiação
resolverem. E de fato, muitos tentaram. térmica de um dado material aproximado ao
corpo negro aquecido a diferentes temperaturas.

Joseph Stefan e Ludwig Boltzmann


foram os responsáveis pelas medidas
experimentais que levaram a essas
conclusões do gráfico. Ao investigarem o
aumento da intensidade (o brilho) da luz
emitida por um corpo negro a diferentes
temperaturas, eles descobriram que a
energia emitida era proporcional à quarta
potência da temperatura.
𝑃𝑒𝑚𝑖𝑡𝑖𝑑𝑎 (𝑊)
𝐼= = 𝑐𝑡𝑒. 𝑇 4
𝐴𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 (𝑚2 )
Lei de Stefan-Boltzmann
𝑷 = 𝜺𝟎 . 𝝈. 𝑨. 𝑻𝟒
A energia total emitida por um corpo é
proporcional à quarta potência de sua • ε0 = emissividade do corpo
temperatura. Em azul, o gráfico da energia
total emitida calculado por Wien.
(entre 0 e 1; 1 para o corpo negro
Wikipedia. ideal)
• σ = 5,67.10-8 W/m²K4
• A = área do material
Em 1893, Wilhelm Wien propôs um modelo empírico (baseado em
medidas experimentais) que explicava o comportamento da Intensidade da
luz em função da temperatura e da frequência da radiação emitida:
1
𝜆𝑚á𝑥 ∝
𝑇

𝑇. 𝜆𝑚á𝑥 = 𝑐𝑡𝑒. = 2,88.10−3 𝐾. 𝑚


−𝒉𝒇
𝟖𝝅𝒉𝒇𝟑
𝑳𝒆𝒊 𝒅𝒆 𝑾𝒊𝒆𝒏 𝑰 (𝒇, 𝑻) = 𝒄³
𝒆 𝝈𝑻

Não se assuste, essa equação não é o nosso objeto de estudo. Vamos


analisa-la superficialmente.
8𝜋ℎ
Veja que existe um termo constante onde h é a constante de Planck
𝑐³
e c é a velocidade da luz no vácuo. Vamos usar bastante essa constante h

20
daqui pra frente. A intensidade da radiação emitida é proporcional ao cubo
de sua frequência (contradição com a física clássica, como dissemos) e a
exponencial da frequência pela temperatura. Observe no gráfico anterior,
que à medida que a T aumenta, a Lei de Wien passa a apresentar erros
consideráveis na sua predição.

Lord Rayleigh e James Jeans também propuseram um modelo de


radiância a partir da Física Clássica.
𝟖𝝅𝒇𝟐
𝑳𝒆𝒊 𝒅𝒆 𝑹𝒂𝒚𝒍𝒆𝒊𝒈𝒉 − 𝑱𝒆𝒂𝒏𝒔 𝑰 (𝒇, 𝑻) = 𝝈𝑻
𝒄³

Ambas Lei de Wien e Rayleigh-Jeans eram empíricas com uma


abordagem termodinâmica e das leis do eletromagnetismo dentro dos
preceitos da Física Clássica. O resultado final é que nenhuma delas respeitava
o princípio da conservação de energia. À medida que a frequência
aumentava, a Lei de Rayleigh-Jeans tendia ao infinito. Analogamente, à
medida que a frequência diminua o modelo de Wien tendia ao infinito.

Catástrofe do ultravioleta. Wikipedia.

Na prática, a Lei de Rayleigh-Jeans dizia que o corpo humano a apenas


37°C poderia emitir radiação com tanta intensidade que brilharia no escuro.
Já a Lei de Wien dizia que uma lâmpada incandescente branca de tungstênio
como a que usamos em casa, teria que atingir 3000 K para iluminar a sua sala.
Esse foi um dos problemas com maior notoriedade na ciência e ficou
conhecido como “a catástrofe do ultravioleta”. Ao se aproximar dos
comprimentos de onda característicos da região ultravioleta (logo abaixo do
visível na escala de λ do espectro
eletromagnético) não era possível prever a
radiância do corpo negro. Não com a Física
Clássica, pelo menos.

A resolução desse problema veio em


1900 com Max Planck. Ele propôs uma
equação diferencial que podia ser
simplificada até que:

21
𝟐𝝅𝒉𝒇𝟑 𝟏
𝑳𝒆𝒊 𝒅𝒆 𝑷𝒍𝒂𝒏𝒄𝒌 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒓𝒂𝒅𝒊â𝒏𝒄𝒊𝒂 𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒓𝒑𝒐 𝒏𝒆𝒈𝒓𝒐 𝑰 (𝒇, 𝑻) =
𝒄𝟑 𝒉𝒇
𝒆𝝈𝑻 −𝟏

Para uma isoterma da radiância, um perfil a mesma temperatura, se h


tender a zero a lei de Planck se torna a lei de Rayleigh-Jeans. Essa foi a solução
matemática para o problema. Mas era preciso entender qual a física estava
por trás da equação de Planck. Essa Física se chama Física Moderna e
revolucionou a humanidade nesse último século. Graças a Física Moderna,
desenvolvemos os computadores, televisores, nossos meios de
telecomunicações, etc.
Você sabia que é possível
correlacionar a temperatura da
superfície de uma estrela com a cor
que observamos? Veja por
exemplo, a temperatura do sol e
porquê o enxergamos
amarelo/laranja. Qual estrela tem a
temperatura de superfície mais
quente, uma estrela azul, ou uma
estrela vermelha?

As origens da teoria quântica: Max Planck faz uma viagem muito


louca
Max Planck trabalhava com as cavidades que você viu anteriormente
que poderiam funcionar como osciladores eletromagnéticos. Eles se
comportavam absorvendo aproximadamente toda a radiação e emitindo
essa radiação na forma de radiação eletromagnética.
Quando as paredes internas recebiam a radiação e a
absorviam, os átomos responsáveis pela absorção
passavam a oscilar mais vigorosamente. Assim ocorria
a troca de energia, que chegava na forma luminosa
(de radiação eletromagnética) e era convertida em
energia potencial ou cinética do sistema químico. O
que Planck imaginou era que os átomos não poderiam oscilar com qualquer
energia, mas apenas com energias específicas. E que essas energias
específicas provavelmente não eram muito elevadas. Portanto, a absorção de
radiação era limitada a valores específicos e baixos.
Para que a Lei de Planck da radiância do corpo negro estivesse correta,
ele precisava assumir que cada átomo do oscilador ao absorver ou emitir luz
na frequência f, a energia do corpo só poderia aumentar ou diminuir em
múltiplos inteiros de hf, e h seria uma nova constante da natureza, proposta
por ele. A hipótese de Planck era muito esquisita e ia de encontro com tudo
que observamos no universo macroscópio e a Física Clássica conseguia
descrever com precisão. Planck estava assumindo que a transferência de
energia não ocorria de forma contínua (como a humanidade estava cansada

Existem diversas formas


experimentais de medir h.

22
de saber), mas de forma discreta nos múltiplos inteiros de hf. Daí surge a Lei de
Planck:
𝐸 = 𝑛. ℎ. 𝑓 𝑜𝑛𝑑𝑒 ℎ = 6,63.10−34 𝐽. 𝑠

Para explicar essa forma discreta de transferência de energia, Planck


criou o conceito de quantum. O quantum era, em suas palavras, um “pacote
de energia” que viajava na radiação eletromagnética, e que poderia ser
absorvido por completo por um corpo, ou emitido por completo, mas nunca
de forma parcial. Quando olhamos pra luz, vemos algo contínuo, que não tem
fim, nem começo. Planck imaginou uma luz granulada, quando olhamos a
olho nu ela pode ser contínua, mas na verdade ela é composta desses
pequenos pacotes. Mais tarde o quantum passa a se chamar fóton. Esses
pacotes são indivisíveis. Um objeto não poderia absorver uma fração de fotón,
apenas essa unidade fundamental.
Ora, e porque quando aquecemos uma superfície vemos sua
temperatura subir continuamente de acordo
com a taxa do aquecimento?
Quando falamos de
Olhe atentamente pra constante de transferências de energia no
Planck. Em J.s ela é da ordem de 10-34. É universo quântico, é
impossível observar a natureza descontínua da conveniente representar h em
absorção e emissão de energia porque estamos eV.
investigando uma troca de energia muito
pequena olhando pra algo muito grande. No h = 4,1357 x 10-15 eV.s
universo macroscópico de fato, as trocas de
energia parecem contínuas. Mas agora que h = 6,63 x 10-34 J.s
estamos falando de átomos e elétrons, podemos olhar para transferências de
energia muito pequenas (a quantidade de energia para excitar um elétron
por exemplo, que é da ordem de 10-18 J). Analisando nessa ordem de
grandeza, podemos observar que as transferências de energia são
quantizadas/descontínuas.
A realidade com a qual nos deparamos ao iniciarmos o século XX é de
muitos fenômenos recém-descobertos (ex. expectro de emissão do hidrogênio,
espectro de emissão do corpo negro, radioatividade, efeito fotoelétrico, etc.)
que não podiam ser explicados pela Física Clássica (mecânica d Newton,
Eletromagnetismo de Maxwell e Termodinâmica). Planck abria então uma
porta para a solução desses dilemas com a sua ideia de Física quântica, que
junto com a Física Relativística, mudaram a forma como vemos o mundo hoje.

O efeito fotoelétrico: o Nobel de Einstein e como Planck estava certo


Em 1886, Frederic Herz descobriu que uma superfície metálica ao ser
atingida por certas radiações eletromagnéticas, liberava elétrons. Por acaso,
ele observou que a incidência de radiação ultravioleta em certas chapas
metálicas, auxiliava na produção de faíscas. Philipp Lenard (Nobel 1905 em
Física e aluno de Herz) fez diversos experimentos junto com outros cientistas
para avaliar o efeito da incidência de radiação eletromagnética em
superfícies metálicas. Ele descobriu que os corpos metálicos adquiriam cargas
positivas e Thomson logo em seguida postulou que a radiação “arrancava os

23
elétrons” das superfícies metálicas. Daí então foi dado a esse fenômeno o
nome de efeito fotoelétrico.
Em seus experimentos,
Lenard fazia um feixe de luz branca
incidir sobre uma placa metálica
dentro de uma ampola de vidro
sob vácuo como mostra a figura
ao lado. Essa placa metálica era
posicionada opostamente a uma
placa coletora e ambas ligadas
em um circuito com um
amperímetro para avaliar a
corrente elétrica. Ao incidir a luz,
Experimento de Lenard. Mundo educação.
um fluxo de elétrons era formado
da placa metálica até a placa
coletora, e a corrente formada era
medida.
Esperava-se que ao aumentar a intensidade/brilho da luz, os elétrons
fossem ejetados com maior velocidade, portanto, maior energia cinética, já
que pelo eletromagnetismo clássico, o corpo absorveria toda a energia
irradiada. A primeira observação de Lenard ao ligar a luz, é que uma corrente
elétrica era gerada instantaneamente, e ao aumentar a intensidade da luz, a
corrente aumentava (em concordância com a Física Clássica) mas mesmo a
intensidades muito baixas, o aparecimento da corrente era sempre
instantâneo. Classicamente, era difícil compreender esse segundo resultado,
porque acreditava-se que a absorção de energia era contínua e à
intensidades baixas, ela deveria levar mais tempo para acontecer
(consequentemente, o aparecimento da corrente elétrica não deveria ser
instantâneo quando I muito baixo). Esse era o primeiro indício de que a
matéria não podia absorver energia contínua e indiscriminadamente.
Outra observação de Lenard foi de que haviam certas frequências de
onda (certos tipos de luz que não eram capazes de produzir o efeito
fotoelétrico (não geravam corrente ao ligar a luz). Lenard concluiu que existia
uma frequência mínima, a partir da qual os elétrons podem ser excitados. E
essa frequência mínima variava de acordo com o material irradiado (o metal
no cátodo). Essa observação vai totalmente contra o eletromagnetismo
clássico, que não predizia a dependência da frequência da luz com a
absorção de energia dos átomos.
Ao ligar a bateria do experimento (até agora Lenard tinha feito essas
descobertas com uma DDP =0) de forma positiva (ΔV > 0) para uma mesma
intensidade de luz, foi observado que a corrente elétrica subia até um platô,
um valor constante. Até aí, estamos de acordo com a teoria clássica: maior
diferença de potencial, mais elétrons chegam no ânodo, maior corrente
elétrica até um dado ponto onde a luz não consegue emitir mais elétrons do
que os que já estão sendo emitidos e a corrente é constante. Se aumentamos
a intensidade da luz nessas configurações, aumentamos o valor do platô da
corrente.

24
Efeito de uma diferença de potencial no efeito fotoelétrico e gráfico do efeito da intensidade
da luz na corrente. Autor.

Ao utilizar uma DDP negativa (trocar os polos da bateria), é esperado


que a corrente diminua. E à medida que a DDP é cada vez menor, teremos
uma situação em que mesmos os elétrons que saem com maior energia, não
conseguem alcançar o outro lado pois são atraídos novamente para o metal.
Outro aspecto que não fazia sentido de acordo com a Física Clássica era de
que havia um único valor de DDP negativa para que a corrente fosse zerada
(potencial de corte). Se a intensidade da luz fosse maior, a energia que os
elétrons absorveriam deveria ser maior e, portanto, sua energia cinética
deveria ser maior. Ao aumentar a intensidade da luz, esperava-se que a
velocidade dos elétrons ejetados aumentasse e que seu potencial de corte
fosse maior como consequência, porém os elétrons escapavam com a mesma
energia cinética ao se aumentar a intensidade da luz, o que mudava é que a
quantidade de elétrons ejetados era aumentada. Lenard só conseguiu
observar um aumento da energia cinética, quando ele aumentou a
frequência (mesmo que dizer que diminuiu o comprimento de onda λ). Esse
era outro indício de que a energia dos fotoelétrons não era absorvida
continuamente.
• Nesse link você pode simular o efeito fotoelétrico para diferentes
condições experimentais:
https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulations/photoelectric

Para explicar os resultados obtidos por Lenard e outros cientistas, Albert


Einstein propôs em 1905 a Equação do efeito fotoelétrico. Para isso, ele usou a
teoria de Planck do quantum, os pacotes de energia que viajavam na luz.
Einstein postulou que:
• A energia do quantum é proporcional frequência da luz (Equantum = h.f)
• Na interação entre o fóton e o elétron, a energia do quantum é
completamente absorvida ou não é absorvido nada.
• Um quantum/fóton só pode ser absorvido por um único elétron (não é
possível que a energia de um quantum se dividia para ser absorvida por
duas partículas).
A teoria de Einstein explicava os experimentos de Herz e Lenard.
O fato de que a energia não era absorvida aos poucos (de forma contínua)
no universo macroscópico explica porque o tempo entre ligar a fonte luminosa

25
e aparecer corrente no sistema é nulo, o elétron absorve a energia do fóton e
instantaneamente escapa do cátodo.
Explicava também a existência da frequência mínima (relacionada a função
trabalho) característica para cada material para o efeito fotoelétrico ocorrer.
Se a energia do quantum depende da sua frequência, certos valores de
energia não são suficientes para que o elétron absorva e escape dos átomos.
A partir daquele valor, os elétrons vão escapar. Essa energia mínima do
quantum foi chamada de função trabalho ϕ.
Os postulados de Einstein ainda explicavam o fato de que ao operar o sistema
com a DDP negativa, existia um potencial único (o potencial de corte)
independente da intensidade da luz. Ao variar a intensidade da luz, significava
apenas mandar mais fótons para o metal, e não mandar fótons mais
energéticos. Dessa forma, a uma dada DDP <0 referente ao potencial de
corte o elétron não consegue escapar do metal enquanto a frequência da luz
não for aumentada. Logo, ao mudar a frequência, muda-se o potencial de
corte:

𝑃𝑜𝑡𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑟𝑡𝑒 ∝ (𝑓 − 𝑓0 ) Observe que a constante de Planck h
𝑒 funciona como um parâmetro de
O experimento que provou essa teoria de grandeza para que comecemos a
Einstein veio anos mais tarde feito por visualizar o efeito das trocas de energia
Milikan, que ainda mediu o valor de h quantizada. Em processos cujas ordens de
experimentalmente, confirmando o valor grandeza das transferências de energia
predito anteriormente por Planck com boa são maiores que a ordem de grandeza de
exatidão. h, as transferências de energia parecem
contínuas aos nossos olhos.
Einstein então postulou o modelo
para o efeito fotoelétrico como um
comportamento linear extremamente simples:

Equação e Einstein para o efeito fotoelétrico e efeito da variação da frequência e da


intensidade na corrente do sistema. O autor.

26
O efeito fotoelétrico não condizia com a realidade da Física Clássica,
pois de acordo com o eletromagnetismo clássico, um corpo iluminado deveria
absorver toda a radiação emitida sobre ele e eventualmente liberá-la. Mas de
acordo com o efeito fotoelétrico, isso só acontecia a partir de uma
determinada frequência de onda (correspondente a função trabalho ϕ), que
era particular para cada material do corpo irradiado. O que temos aqui é a
prova de que Planck estava certo.
A absorção de energia de uma onda eletromagnética se dá em
“pacotes de energia inteiros”. Por isso a energia cinética dos elétrons liberados
não era maior ao aumentarmos a intensidade. Aumentar a intensidade da
radiação significa simplesmente liberar mais pacotinhos de energia luminosa
com a mesma energia, e não pacotes com energia mais elevada. Ao invés de
aumentar a energia cinética dos elétrons, aumentávamos a quantidade de
elétrons ejetados ao aumentar-se a intensidade da radiação.
No nível macroscópico enxergávamos as trocas de energia como
contínuas, mas no nível microscópico, elas acontecem
quantizadas, na forma de pacotes de energia. Isso
Lembre-se que sempre
marca definitivamente o nascimento da Física Quântica podemos converter
e o fim da Física Clássica na explicação dos fenômenos frequência em
microscópicos. Por isso, Max Planck recebeu o prêmio comprimento de onda:
Nobel de Física em 1918 e Albert Einstein em 1921 pela 𝑐
𝑓=
equação do efeito fotoelétrico. 𝜆

O efeito Duane-Hunt
O efeito Duane-Hunt em linhas gerais é o
efeito análogo/simétrico ao efeito fotoelétrico. Ao
inserir uma corrente elétrica em um metal, os
elétrons desse metal deveriam emitir energia na
forma de fóton. O físico alemão Wilhelm Roentgen
observou que esse efeito ocorria com altas
tensões aplicadas aos metais (DDP > 10000 V) e
produziam raios invisíveis (radiação
Einstein aos 26 anos em 1905. eletromagnética) com comprimentos de onda
Ano em que publica três artigos
tão pequenos que esses raios podiam atravessar
no Annalen der Physik, entre eles
estava o artigo da explicação materiais de baixa densidade. A esses raios,
do efeito fotoelétrico. Roentgen deu o nome de Raios X. Ele é o
princípio dos equipamentos médicos utilizados
nos exames de rádio-imagem que todos nós já fizemos em algum momento.

27
Exemplo de uma ampola de
Raios-X. De Ampola digital
Wordpress.

Uma alta tensão


chega no cátodo como
indicada pelas setas a direita
e o filamento de metal
(normalmente Tg) emite os
raios X.

Os espectros de absorção e emissão da matéria


Estamos prestes a incorporar o primeiro modelo atômico que
compreende aspectos da mecânica quântica: o modelo de Bohr. Não é
errada a concepção da fusão com o modelo de Rutherford, como nos é
apresentado no ensino médio (o modelo de Rutherford-Bohr). Porém existem
muitos detalhamentos que vamos nos aprofundar e é adequado aqui
fazermos as distinções entre os dois modelos. Lembre-se que o modelo de
Rutherford entrava em grande conflito com o eletromagnetismo de Maxwell
pois o átomo teria que ser extremamente estável. Bohr buscou uma solução
para essa questão observando os espectros de emissão e absorção dos
átomos e as teorias de Max Planck. Vamos entender o que são espectros de
emissão e absorção antes de falarmos do modelo atômico de Bohr.
Em 1666 (acompanhe essa volta no tempo), Isaac
Newton direcionou um feixe de luz branca contra um prisma
de vidro e observou o fenômeno de refração em que cada
tipo de radiação eletromagnética que compõe a luz branca
(todas as cores do espectro visível) era separada nas
radiações que a compõe: as cores do arco-íris. Podemos ver
que cada uma das radiações que compõe a luz branca é
desviada de forma diferente pelo vidro. A radiação na região do vermelho
sofre a maior angulação da refração enquanto que o violeta sofre a menor
angulação.
Em 1814, um físico alemão chamado Joseph von Frauenhofer realizou
experimentos de refração com a luz solar, e ao adicionar um anteparo para
observar o espectro (a ondas refratadas em um intervalo de comprimento de
ondas), ele observou linhas escuras no espectro (regiões em que estava
“faltando luz” no espectro solar). Hoje nós sabemos que essas regiões se
devem certas radiações eletromagnéticas/ondas que são absorvidas na
atmosfera solar.
Podemos repetir o experimento de Frauenhofer com uma luz qualquer
atravessando uma substância qualquer, gás hélio ou hidrogênio por exemplo.
Vamos observar linhas escuras também. E essas linhas são características da
substância que a luz atravessa. Você consegue imaginar o porquê de isso
acontecer?

28
Um espectro contínuo demonstra radiação de todos os comprimentos de onda em
uma faixa determinada, similar ao que Newton obteve. Um espectro de absorção vai
revelar certas radiações com certos comprimentos de onda que foram absorvidos por
um determinado material impedindo que aquela luz chegue ao prisma e formando as
raias ou linhas escuras. Essas linhas ficaram conhecidas como linhas de Frauenhofer.
Um espectro de emissão é simétrico ao de absorção e traz as linhas complementares
(as linhas escuras no espectro de absorção).

Para produzirmos espectros de absorção, é necessário apenas incidir o


feixe de radiação em uma substância característica na frente do prisma.
Quando utilizamos uma amostra de uma dada substância e a excitamos
energeticamente (por exemplo por meio do aquecimento), eventualmente
essa amostra tenderá a voltar ao seu estado energético fundamental, e irá
liberar a energia excedente na forma de radiação. Chamamos esse processo
de emissão e isso produzirá um espectro cujas linhas são correspondentes as
radiações específicas que aquela substância pode emitir.
Vamos observar alguns
exemplos:

Observe os espectros de
absorção e emissão do hidrogênio
acima. O que você pode dizer sobre
eles?
Vamos fazer um novo exercício.
Observe os espectros de absorção e

29
emissão ao lado. Você consegue concluir qual é o gás desconhecido no
estudo dos espectros de absorção? E no espectro de absorção?
Em 1885, Knut Johan Ångström mediu todos os comprimentos de onda
espectro de emissão do hidrogênio (que ele poderia ver, ou seja, na região de
luz visível).
Você pode observar que eram apenas 5 comprimentos de onda (na
figura acima).
Em 1885, Johannes Balmer tentou criar uma correlação matemática
que fornecesse esses comprimentos de onda do espectro de Hidrogênio, e ele
chegou a tal fórmula:
1 1 1
𝜆
= 𝑅 (4 − 𝑛2 ) 𝑛 ∈ I, 2 ≤ n ≤ 6

Em que R era a constante de Rydelberg, que vamos apresentar a seguir.


Naturalmente, a primeira pergunta que Balmer se fez e que, se o seu
raciocínio é tão perspicaz quanto o dele, você se fez também: e se n =7? Se n
= 7, tínhamos que λ ≈ 397 nm, que está fora da região visível (é como se fosse
uma cor que o olho humano não tem capacidade de detectar). Balmer
acabava de lançar um desafio entre os físicos teóricos: explicar porque a sua
correlação era verdadeira.
A Física Clássica não era capaz de explicar os espectros de absorção e
emissão dos átomos. De acordo com o eletromagnetismo clássico, os elétrons
deveriam ser possíveis de absorver energia de radiação eletromagnética com
qualquer frequência/comprimento de onda. Por que as absorções/emissões
de energia estavam sempre associadas a radiações de f (ou λ) específicas?
R= Os espectros de absorção e emissão do átomo de hidrogênio
apontavam para a quantização dos níveis atômicos. Entenda essa
quantização pela transferência de energia para o átomo na forma discreta,
quantidades de energias específicas possíveis e finitas. O oposto de contínuo.
Johannes Rydberg, um professor de física alemão, associou a fórmula
de Balmer com níveis de energias específicos, e que a transição entre esses
níveis de energia específicos deveria ser correspondente a energia do fóton
que era absorvido (no espectro de absorção) ou emitido (no espectro de
emissão) pelo hidrogênio. Veja uma representação da correlação entre esses
tais níveis de energia e as linhas dos espectros.

Rydberg postulou que o elétron que absorve ou emite a energia Efoton =


h.f do fóton vai realizar uma transição entre o nível n para o nível n’

30
Vamos olhar para a figura e trabalhar com valores. Observe que o
elétron no nível 1 tem uma energia de -13,58 eV, a menor possível. Esse é o
estado de menor energia para um elétron no átomo de hidrogênio (o lugar
mais confortável para ele, o estado fundamental). Se incidirmos uma radiação
com frequência f tal que a energia do fóton Efoton = h.f. seja igual a 10,19 eV,
então o elétron no nível 1 certamente irá absorver esse fóton e passará para o
nível 2. Essa frequência corresponde exatamente a primeira linha no espectro
de absorção do H em λ = 656,3 nm (luz vermelha). Por outro lado, se essa
radiação tem frequência f tal que a energia do fóton é Efoton < 10,19 eV, nada
acontece (o elétron não é excitado ao n =2). O elétron não é capaz de
absorver mais de um fóton para somar essas energias. Da mesma forma, se
Efoton > 10,19 eV nada acontece pois o elétron não pode absorver uma parte
da energia de um fóton. No universo quântico é tudo ou nada. Dizemos que o
Hidrogênio é transparente às radiações que não podem ser absorvidas por
ele.
Naturalmente, um elétron do átomo de H no estado excitado n=2 irá
eventualmente emitir radiação de frequência f tal que a Efoton seja igual a 10,19
eV. Essa radiação corresponde a linha vermelha no espectro de emissão.
• O que acontece se incidirmos uma radiação de frequência f tal
que Efoton = 12,07 eV em um átomo de H no estado fundamental
(n=1)?
R=_____________________________________________________________
____.
• O que acontece se incidirmos uma radiação de frequência f tal
que Efoton = 12,68 eV em um átomo de H no estado fundamental
(n=1)?
R
=_______________________________________________________________
__.
• O que acontece se um átomo de H no estado excitado n=4
emitir uma radiação cuja energia do fóton corresponde a 12,73
eV?
R
=_______________________________________________________________
__.

Assim, Rydberg associou a fórmula de Balmer a Equação de Planck e você


conhece a constante de Rydelberg R.
𝐹ó𝑟𝑚𝑢𝑙𝑎 𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑙𝑚𝑒𝑟 − 𝑅𝑦𝑑𝑏𝑒𝑟𝑔
O eV (eletrovolt) foi uma unidade
𝟏 𝟏 𝟏 criada para representar transições
𝑬𝒇𝒐𝒕𝒐𝒏 = 𝒉𝒇 = 𝒉. 𝒄 = 𝒉. 𝒄. 𝑹. ( ′𝟐 − 𝟐 )
𝝀 𝒏 𝒏 energéticas de ordem atômica. As
n’ < n ligações químicas e transições
energéticas dos elétrons são
R = h.c.cte = 0,0110 m-1
tipicamente da ordem do eV e são
valores muito baixos trabalharmos
em J.

31
O modelo de Bohr e os níveis de energia
Buscando resolver o problema da instabilidade do modelo do átomo de
Rutherford, o então aluno do próprio Rutherford e goleiro da seleção de
futebol dinamarquesa, o físico Niels Bohr, propôs um novo modelo atômico
estável que correspondia aos espectros descontínuos de absorção e emissão
do hidrogênio. E você aí reclamando que 24h no seu dia não está sendo
suficiente.
Bohr se apoiou nas ideias de Max Planck e Einstein da interação da
radiação eletromagnética com o elétron, e tomou quatro postulados (Mahan
e Myers, capítulo 10):
1. Os elétrons viajam por órbitas estacionárias de
Estacionário: a variação
energia fixa e definida no átomo ao redor de um
núcleo parado; de um parâmetro, nesse
2. No estado estacionário fundamental o elétron caso energia dE, é
não emite luz, mas pode absorver energia da constante em dt.
ordem de um quantum (h.f) e saltar para um
nível superior e voltar ao estado estacionário após emitir
radiação da ordem correspondente;
3. No estado estacionário a órbita do elétron é circular sobre
influência da força coulômbica e da força centrípeta;
4. As órbitas possíveis definidas para o elétron têm o momento
angular múltiplo de h/2π.

Momentum é o produto da massa pela velocidade e diz respeito a quantidade de


movimento que um corpo possui. O momentum angular é a quantidade de
movimento de um corpo que descreve uma trajetória circular dado pelo produto da
massa, velocidade e o raio dessa órbita.

(Condição da quantização do momento angular do átomo de Bohr)


𝐿 = 𝑚𝑒 . 𝑣. 𝑟 = 𝑛. ℏ = 𝑛 2𝜋 ; 𝑛 ∈ 𝐼+

Repare no símbolo ℏ (lê-se h cortado).


Ele é uma definição prática pois a relação
h/2π é muito frequente na mecânica
quântica dos átomos.
Para justificar que o átomo planetário
era estável, Bohr condicionou aos elétrons
uma órbita estacionária que deveria ocorrer
se a força coulômbica de atração que puxa
o elétron para o núcleo gerando uma força centrípeta (cargas opostas se
atraem) se iguala a força centrífuga que joga o elétron para fora do átomo no
seu movimento acelerado pela órbita.
𝐹𝑐𝑜𝑢𝑙𝑜𝑚𝑏𝑖𝑐𝑎 = 𝐹𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟í𝑓𝑢𝑔𝑎

32
𝑍𝑒 2 𝑚𝑒 𝑣 2
=
4𝜋𝜀0 𝑟 2 𝑟
Podemos encontrar uma expressão para v a partir do momento
quantizado de Bohr.
ℎ 𝑛ℎ
𝑚𝑒 𝑣𝑟 = 𝑛 ∴𝑣=
2𝜋 2𝜋𝑚𝑒 𝑟
Substituindo v na força centrífuga:

𝑍𝑒 2 𝑚𝑒 𝑛ℎ 2 𝑍𝑒 2 𝑚𝑒 𝑛2 ℎ²
= ( ) ∴ =
4𝜋𝜀0 𝑟 2 𝑟 2𝜋𝑚𝑒 𝑟 4𝜋𝜀0 𝑟 2 4𝑟𝜋 2 𝑚𝑒2 𝑟²
O raio de cada órbita do átomo de Hidrogênio poderia então ser dado
por:
𝑛² ℎ2 𝜀𝑜 𝑛²
𝑟= = 𝑎
𝑍 𝜋. 𝑚𝑒 𝑒² 𝑍 0
Observe que aqui criamos uma nova constante, a0, que é chamada de
raio de Bohr. Ele equivale a exatamente o raio da primeira órbita do átomo de
hidrogênio (quando n =1 e Z=1).
𝑎0 = 0,52918 Å
(veja que o tamanho típico da eletrosfera é da ordem de 10-10 m)
A energia do elétron na órbita r será a soma das suas energias
potenciais e sua energia cinética. Podemos considerar a energia potencial
coulômbica e escrever então:
𝑍𝑒 2 1
𝐸𝑇 = 𝑈𝐶 + 𝐸𝑐𝑖𝑛 = − + 𝑚𝑣²
4𝜋𝜀0 𝑟 2
𝑍𝑒 2 1 𝑍𝑒²
𝐸𝑇 = − +
4𝜋𝜀0 𝑟 2 4𝜋𝜀0 𝑟
𝟏 𝒁𝒆²
𝑬𝑻 = −
𝟐 𝟒𝝅𝜺𝟎 𝒓
Na mecânica planetária, a energia potencial dos corpos é igual ao
módulo negativo do dobro da Ecin. Na mecânica do átomo de Bohr, a
energia do elétron em uma órbita estável é igual ao módulo negativo da
metade da sua energia potencial (U = -2 Ecin). Assumimos aqui que a energia
total do átomo depende de r, e pela mecânica clássica newtoniana, r
poderia assumir qualquer valor. Sendo assim, poderíamos ter qualquer valor de
ET.
Bohr precisava então quantizar r (para atender ao requisito de que ET só
pode ser valores específicos). Bohr fez muitas proposições antes de chegar ao
valor de limitar r ao momento angular h/2π. No final das contas, esse resultado
foi o mais plausível. Bohr sabia que a quantização dos níveis de energia teria
que ter a ver com a constante de Planck h pois ela relacionada os fenômenos
de transferência de energia quântica.
Substituindo r na expressão para ET, temos que:

33
1 𝑍𝑒 2 𝑍 𝑍2 𝑒²
𝐸𝑇 = − 2
= − 2
2 4𝜋𝜀0 𝑛 𝑎0 2𝑛 4𝜋𝜀0 𝑎0

Unidades atômicas (u.a.)


= 1 hartree = 4,3598.10-18 J

Automaticamente o átomo de Bohr era estável, comparável ao de


Rutherford. Mas qual era a prova de que os postulados de Bohr eram
verdadeiros? Na teoria, tudo se encaixava, mas como provar que isso era
verdade? Agora vamos finalmente olhar para os espectros de
absorção/emissão. Para explicar os espectros, vimos que Bohr disse que o raio r
da órbita do elétron era quantizado, só podia assumir valores específicos
(órbitas discretas e estacionárias). Vimos que existem valores energéticos
específicos para cada nível de energia que o elétron pode ocupar (que
podem ser associados a radiações eletromagnéticas correspondentes na
absorção e emissão de fotóns).
Ao considerar as transições energéticas quantizadas, Bohr descreveu as
energias do seu átomo de forma a correlacionar com as Equações de Balmer-
Rydberg e a ideia de Max Planck de fóton (E = hf).
Suponha que um elétron sai do nível de energia ni para o nível de
energia nf.
Variação de energia das transições eletrônicas (ni < nf)
𝑍2 1 1 𝑒²
𝛥𝐸𝑖−𝑓 = 𝐸𝑖 − 𝐸𝑓 = ℎ𝑓 = (𝑛2 − 𝑛2 ) 4𝜋𝜀 (emissão ni > nf)
2 𝑓 𝑖 0 𝑎0

𝑍2 1 1 𝑒²
𝛥𝐸𝑖−𝑓 = 𝐸𝑓 − 𝐸𝑖 = ℎ𝑓 = (𝑛2 − 𝑛2 ) 4𝜋𝜀 (absorção ni < nf)
2 𝑖 𝑓 0 𝑎0

Abaixo você encontra transições mais completas para o elétron no


átomo de hidrogênio, inclusive representadas como no modelo planetário (na
figura a esquerda):

34
As transições energéticas que aparecem nos gráficos acima foram
chamadas de saltos quânticos, e estavam relacionadas cada uma a um valor
de energia que o fóton teria que ser para ser absorvido (setas para cima) ou
emitido (setas para baixo). Sem querer, Bohr explicou as linhas escuras no
espectro de absorção e as linhas claras no espectro de emissão dos gases.
Você é capaz de receber porque quando n →∞, a energia associada a
esse nível tende a 0? E porque a diferença entre os níveis de energia ΔEn
diminui à medida que n aumenta? (lembre-se que 𝑛 ∈ 𝐼 + ).
• Balmer e Rydelberg permitiram calcular as energias associadas a
transição de cada nível de energia do átomo de H.

• Bohr impôs ao modelo atômico da mecânica clássica de


Rutherford uma imposição quântica para o raio da órbita, e
portanto, o momento angular do elétron (no valor de h/2π) e
permitiu calcular as diferentes transições de energia em função
de f ou λ com precisão até a 3º ou 4º casa decimal de λ.

• A contribuição de Bohr poderia ser aplicada para diferentes Z


(átomos maiores que hidrogênio) utilizando a correção da massa
reduzida do elétron (já que Bohr postulou que o núcleo estaria
parado e ele não é infinitamente pesado) de forma apreciável.
Para átomos mais complexos com muitos elétrons, precisamos
calcular os efeitos da blindagem de carga
nuclear, a carga efetiva em um elétron Veremos como calcular
posterior a vários elétrons no átomo. a massa reduzida e
carga nuclear efetiva
no futuro.

Os raios-X: Henry Moseley “conserta” a Tabela Periódica


Em 1912, Henry Moseley incidiu um feixe elétrons acelerados por uma
alta diferença de potencial sobre um alvo metálico e observou os raios X que
eram emitidos a partir da frenagem dos elétrons na colisão.

Experimento de Moseley. Google Imagens.

Considerando que a diferença de potencial do experimento era muito


alta para geral a corrente de elétrons, os elétrons com altas energias cinéticas
conseguiam arrancar elétrons das camadas internas dos átomos metálicos.
Era criada então uma lacuna h+, rapidamente estabilizada pelo decaimento

35
muito energético de elétrons dos níveis superiores liberando radiações de
frequência característica de raios X.
• Primeira observação de Moseley: A relação de intensidade ρ (λ) da
radiação emitida dependia somente do material alvo, e não do
eletrodo.
Pensando nas transições de energia dos níveis de Bohr, Moseley
encontrou para a transição de n=2 para n=1 que:

𝑍2 1 1 𝑒²
𝐸2 − 𝐸1 = ℎ𝑓 = ( 2 − 2)
2 1 2 4𝜋𝜀0 𝑎0
Passando a constante de Planck para o lado direito da equação e
chamando os constantes naturais da equação de ER, temos que:
1 3
𝑓 = 𝑍 2 (1 − ) 𝐸𝑅 = 𝑍 2 𝐸𝑅
4 4
Portanto:
𝑓 ∝ 𝑍2
A ideia de Bohr explicava a relação do número atômico com a
frequência dos raios X emitidos nas transições eletrônicas, apesar de um monte
de coisa estranha que misturava no movimento do elétron a física clássica e a
mecânica quântica.
Testando vários materiais alterando a frequência da onda produzida,
Moseley foi capaz de corroborar os números atômicos dos elementos
conhecidos e inferir os ainda não
conhecidos.

Moseley obteve nada menos


que os espectros de emissão dos
átomos na região de frequência
dos raios X cuja √𝑓 ∝ 𝑍 e que só
ocorre com transições eletrônicas
energéticas o suficiente para os
níveis K e L.
• Elétrons muito próximo
do núcleo tem maiores energias
associadas a transição pois sofrem
menos influência da blindagem
nuclear.
A partir daqui foi possível
reorganizar a Tabela Periódica...
O famoso problema do
argônio e do potássio estavam
resolvidos e agora a tabela foi
organizada de acordo com o

36
número atômico. O mesmo problema ocorria para os pares Ni e Co, e Te e I.

Os nêutrons só foram descobertos


20 anos depois em 1932 por James
Chadwick com o avanço da
espectrometria de massas.

Infelizmente, três anos depois Moseley morreu com apenas 27 anos


servindo como soldado na primeira guerra mundial. Obrigado Moseley R.I.P.

O efeito Compton
Em 1923, A.H. Compton bombardeou
raios-X em uma amostra de grafite, e
observou que a radiação que atingia a
amostra ejetava elétrons e liberava uma
radiação de frequência menor.
O efeito do espalhamento Compton se
explica pelos postulados de Einstein e o
princípio da conservação de energia.
• Só ocorre em radiações de alta energia: UV, raios X e raios γ;
• A frequência da radiação liberada está relacionada a energia
absorvida pelos elétrons;
• Energia e momentum são conservados.

Prova definitiva do fóton e da natureza corpuscular da luz: durante o


choque entre o elétron e a radiação, energia deveria ser absorvida pelo
elétron e reemitida com a mesma frequência. Como o momentum era
conservado durante o choque acelerando o elétron e liberando uma
radiação de menor frequência, a luz só poderia estar se comportando como
partícula. Ondas não tem quantidade de movimento (que depende da
massa).

O problema do modelo de Bohr


O modelo de Bohr era um misto entre a Física Clássica e as ideias
quânticas.

37
De fato, a ideia de níveis de energias quantizados para a permanência
do elétron no átomo se prova plausível em diversos pontos experimentais. O
átomo de Bohr concorda com os dados encontrados por Henry Moseley. O
experimento de Franck-Hertz também corrobora o modelo de Bohr.
As equações de Bohr se aplicam com bastante previsibilidade para os
íons hidrogênoides: H, He+, Li+2, etc... Esses modelos contemplam apenas um
elétron orbitando o núcleo.
Todavia, o modelo de quantização baseado no momento angular do
elétron não explica a carga sentida por elétrons em níveis de energia mais
elevados quando outros elétrons estão presentes no átomo. Existe um efeito de
blindagem, que estudaremos mais a seguir em átomos polieletrônicos (com
vários elétrons), que define a carga efetiva (Zef) que um elétron sentiria em
níveis mais externos:
𝑍𝑒𝑓 = 𝑍 − 𝑏 sendo b ∈ N+ .: Zef < Z

À medida que são adicionados mais elétrons no átomo, o modelo de


Bohr passa a divergir dos resultados experimentais porque o momento angular
dos elétrons não é simplesmente múltiplo de h/2π e a carga que o elétron
experimenta não é simplesmente Z.
Outra inconsistência do modelo de Bohr era o valor de L em n=1.
Segundo Bohr, esse valor seria exatamente h/2π, mas medidas magnéticas
experimentais mostraram que o momento angular do nível S é zero, o que
corrobora o conceito do estado fundamental de energia.
O modelo de Bohr não consegue explicar a natureza corpuscular da
radiação eletromagnética (os choques elásticos e inelásticos observados no
efeito fotoelétrico, e no efeito Compton), mas mesmo assim, representa um
avanço muito grande no que tange deixar de lado a física clássica para
observar o universo microscópico. O modelo de Bohr era de fato, o melhor que
tava tendo.
Para formularmos um novo modelo atômico melhor e mais preditivo-
explicativo da realidade microscópica, vamos precisar avançar na mecânica
quântica.

A dualidade onda-partícula e a relação de De Broglie


Não tem
Posição e
posição
trajetória
definida
no espaço
no
espaço

Partículas Ondas
EM
Tem
Leis de momentu Leis de Interfere
Newton me Maxwell m entre si
colidem

38
Aqui reside o coração da física quântica moderna. Até então, a
radiação eletromagnética era considerada uma onda, mas o efeito
fotoelétrico era uma evidência do comportamento corpuscular da luz. Como
a radiação EM é capaz de atingir elétrons e ejetá-los, como se fossem
partículas em uma colisão? Como a energia dessas partículas está
relacionada a uma frequência f e um comprimento de onda λ? Quem tem f e
λ característicos são ondas. E agora, José?

Radiação
eletromagnética

Efeito fotoelétrico
Difração
e efeito Compton

Comportamento Comportamento
corpuscular da luz ondulatório

Fenômeno de difração de ondas. Google Imagens.

Material complementar: Vídeo no YouTube


De Broglie e a Dualidade - Onda ou Partícula?
https://www.youtube.com/watch?v=ccALWpzDIng
Fenda Dupla e a Física Quântica
https://www.youtube.com/watch?v=tZ768sbVzl8

O que se observou é que para entender o comportamento da luz no


Experimento de Young das fendas duplas, precisava-se tratar a luz como
onda. Mas para entender o efeito fotoelétrico que a luz tinha em superfícies
metálicas, precisávamos pensar na luz como uma partícula, ou melhor, muitas
partículas pequenas com energia definida, os fótons.
O príncipe francês Louis de Broglie (1924) então se
perguntou:
“Ora se a luz pode se comportar como onda e partícula
(comportamento dual), será que os corpos podem se comportar
como ondas?” --> simetria da natureza
E então De Broglie utilizou os trabalhos de Einstein do efeito fotoelétrico
e da relatividade para encontrar uma equação que incorporasse o caráter
ondulatório e corpuscular da luz.
ℎ𝑐
𝐸 = 𝑚𝑐² 𝐸=
𝜆

ℎ𝑐 ℎ
𝑚𝑐 2 = => 𝑚𝑐 =
𝜆 𝜆

Em que mc é o momentum linear da luz com velocidade c:

39

𝑝= equação que incorpora o comportamento corpuscular p com o
𝜆
comportamento ondulatório λ da luz.

𝑐= (Relação de De Broglie, p = momentum linear da partícula)
𝑝
Se pensarmos, portanto, em uma partícula de m = 1,0 g a uma
velocidade 1m/s, teremos que λ = 7.10 -30 m. Esse valor associado ao mundo
macroscópico é muito, muito, muito pequeno para ser detectado. Não
conseguimos identificar ondas dessa magnitude de frequência. A Física não
consegue medir nada com desse tamanho.
O que são as ondas de matéria de De Broglie? Antes de chegar lá,
vamos falar do experimento de Young, que comprovou o comportamento
ondulatório da radiação eletromagnética.

O experimento de Young da fenda dupla: natureza ondulatória da luz


Um pulso em uma corda, propaga energia e momentum (sem propagar
matéria) através de uma deformação na corda no sentido transversal. Sua
função (caso o pulso seja propagado de forma unidimensional) será y (x,t).

Ondas sonoras se propagam gerando diferenças de pressão no ar.


Como elas se propagam tridimensionalmente, sua função típica será ΔP
(x,y,z,t) (P maísculo para pressão).
Ondas eletromagnéticas se propagam pela oscilação de um campo
elétrico e de um campo magnético cuja função típica será ε(x,y,z,t).
Uma função de onda é matematicamente caracterizada pelas
derivadas segundas com relação as coordenadas dimensionais e da
coordenada temporal.
𝜕²𝑓 1 𝜕²𝑓
= Equação de onda unidimensional em x
𝜕𝑥² 𝑣² 𝜕𝑡²
𝑓(𝑥 ± 𝑣𝑡)
Fendas de Young
Equações das ondas harmônicas das fendas:
F1 = A.sen (kr1 – wt)
F2 = A.sen (kr2 – wt)

40
Definições:
• Número de onda k = 2π/λ;
• frequência angular da onda w = 2 π. v;
• velocidade da onda harmônica (senoidal): v = w/k
Somando F1 e F2 em um determinado ponto onde elas interagem,
podemos usar identidade trigonométrica para resolvê-la.
𝛼−𝛽 𝛼−𝛽
𝑠𝑒𝑛 𝛼 + 𝑠𝑒𝑛 𝛽 = 2 cos ( 2
) 𝑠𝑒𝑛 (2
)

𝑘(𝑟1 − 𝑟2 ) 𝑘(𝑟1 + 𝑟2 )
𝐹1 + 𝐹2 = 2𝐴 𝑐𝑜𝑠 𝑠𝑒𝑛 ( − 𝑤𝑡)
2 2

A amplitude da onda num dado eixo x será dada por:


𝜋𝑑𝑥
𝐴 (𝑥) = 2𝐴. cos ( 𝜆𝐿 )
Para entender as operações
E consequentemente, a matemáticas realizadas aqui, procure
pela matemática de interferência das
intensidade luminosa é
ondas do experimento de Young.
proporcional ao campo elétrico ao
quadrado: Esse não será o nosso objeto de
estudo.
𝜋𝑑𝑥
𝐼(𝑥) ∝ (𝐴(𝑥))² = 𝑐𝑜𝑠 2 ( )
𝜆𝐿
A interferência das ondas gera máximos e mínimos de intensidade no
eixo x e vão existir pontos cuja intensidade é máxima cuja probabilidades de
fótons atingirem aquela faixa no anteparo é máxima (superposição
construtiva), e cuja faixa é mínima (superposição destrutiva).

Superposição construtiva

Superposição destrutiva

Esquema do experimento de Young da fenda dupla.

Young fez experimentos seccionando o anteparo em várias áreas de


altura y e largura x conhecidas, as franjas, e contabilizou quantos fótons
chegaram em cada uma dessas seções de forma corpuscular. A partir daí ele,
contabilizou quantos fotos chegaram em cada uma das franjas.
Caráter corpuscular dos fótons ⟷ caráter ondulatório da luz

41
Probabilidade de o fóton atingir a franja δ com largura x = energia total
que chega em determinada área por unidade de tempo / energia de um
fóton
𝐼(𝑥)𝐴𝑥𝑦 𝑦
𝑁δ = = 𝐼(𝑥)𝑑𝑥
ℎ𝜐 ℎ𝜐

• Densidade de probabilidade (P)


A densidade é definida por uma quantidade dada de alguma
propriedade por um certo volume. Portanto uma densidade de massa de um
objeto, é a massa de tal objeto por seu volume. A densidade de carga de um
fio carregado é a sua carga total pelo volume/comprimento que o fio ocupa.
E assim por diante.
A densidade da propriedade pode ser uniforme ou não-uniforme ao
longo do volume estudado. Uma função matemática da posição x de uma
propriedade por um comprimento dx é, portanto, uma densidade de
probabilidade.
A densidade de probabilidade da chegada de fótons de uma dupla
fenda em δ será, portanto:
𝑦 1
𝑃δ (𝑥) = 𝐼(𝑥)𝑑𝑥 [𝑃δ ] = [ ]
ℎ𝜐𝑁δ 𝑚

Exemplo: Suponha que 6.105 fótons foram lançados em um experimento


da fenda de Young e em um determinado x do anteparo, foram
contabilizados 6.10³ fótons. Se a largura dessa área seja de dx = 1,0 mm. Qual
a densidade de probabilidade de o fóton atingir o comprimento dx?
Resolução: A frequência relativa com que o fóton atinge dx é a
seguinte
𝑁𝑥 6.10³
𝑁= = = 10−2
𝑁𝑇 6.105
Portanto, sua densidade de probabilidade será
𝑁 10−2
𝑃= = = 10−2 𝑚𝑚−1
𝑑𝑥 1 𝑚𝑚

Logo, 1% de fótons por milímetro.

Vamos então retomar nossa busca pela comprovação das ideias de De


Broglie. Já sabemos que a luz se comporta como onda e partícula e
podemos escrever uma equação de onda que dite a densidade de
probabilidade de fótons percorrerem um determinado caminho.

Primeira parte, check a radiação pode se comportar como


partícula.

42
Segunda parte, será que a matéria pode se comportar como onda? Se
sim, nós conseguiríamos escrever uma função de densidade de probabilidade
para ela também?
Como vimos na relação de De Broglie, somente uma partícula com
uma massa muito pequena seria capaz de produzir um comprimento de onda
possível de ser medido (da ordem de ~10-15 m, pelo menos). O que eles tinham
de menor na época, era o elétron.
Exercício: Qual o comprimento de onda que um elétron com energia
cinética igual a 10 eV (em baixo estado de energia) emite? Você imagina que
esse tipo de onda era fácil ou difícil de medir naquela época (anos 10)?
Lembre-se que nessa questão, a energia do elétron é dada em eV (1eV =
1.602×10-19 J).
1 𝑝²
𝐸𝑐𝑖𝑛 = 2
𝑚𝑣 2 = 2𝑚

𝑝 = √2𝑚𝐸𝑐𝑖𝑛
ℎ ℎ 6,626069.10−34
Relação de De Broglie: 𝜆= = = =
𝑝 √2.𝑚.𝐸𝑐𝑖𝑛 √2.9,109.10−31 .(10.1,602.10−19 )
6,626069.10−34
1,708369.10−24

𝜆 = 38,76.10−9 𝑚
38 nm é da ordem do comprimento de ondas dos raios-X.

• Experimento de Davison e Germer e G.P. Thomson


Comprovação da natureza ondulatória do elétron -> ondas de matéria
Os americanos C.J. Davison e L.H. Germer (1927) utilizaram o mesmo
princípio de Young, mas ao invés de lançar luz em fendas no experimento de
difração, eles lançaram elétrons. Uma adaptação deve que ser feita, vale-se
ressaltar. Os comprimentos das fendas de Young eram logicamente da ordem
de nanômetros para a radiação. Para os elétrons, esses comprimentos
precisavam ser menores.
Os físicos usaram então cristais de NiF2 cuja distância entre átomos de Ni
eram de 250 pm (10-12 m). Eles bombardearam então os cristais e observaram
que os padrões de difração do elétron se repetiam, com interferências
construtivas e destrutivas (lugares onde haveriam elétrons, e lugares onde não
haveriam). Nesse caso, as fendas foram os espaços entre dois átomos de Ni
adjacentes. Estava provado então que o elétron se comportava como onda
sofrendo o efeito da difração.

43
Figura acima (Morgon, 2008, Química Nova, Vol. 21, No7). Figuras abaixo, Google
Imagens.

G.P. Thomson, filho de J.J. Thomson (aquele do pudim de passas),


observou o mesmo efeito de um padrão de difração do elétron ao
bombardear uma fina folha de ouro com um único elétron, mas com
resultados mais precisos que Germer e Davison. Veja só que loucura esse
mundo, Thomson pai ganhou o Nobel em 1906 pela descoberta do elétron
como partícula. Thomson filho, em 1943 ganhou o Nobel pela descoberta da
natureza ondulatória do elétron. Eu não queria ser Thomson neto, imagine a
pressão.
Para entender melhor o que acontecia nos experimentos, veja o vídeo
ilustrativo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=Xmq_FJd1oUQ
Estava provado então, que em determinadas situações, o elétron, uma
partícula de matéria, poderia se comportar como onda ao difratar quando
atravessando fendas. Finalmente, De Broglie pôde dormir em paz.

E = hν λ = h/p

Comportamento Comportamento
corpuscular da luz ondulatório da
por Planck matéria de Broglie

44
Parêntesis: De Broglie até chegou a propor um modelo atômico que
incorporava o comportamento dual do elétron no átomo:

Lembre-se que o Bohr simplesmente postulou que o momento angular


do elétron m.v.r era quantizado em valores de h/2pi multiplicados por n para
explicar o comportamento do átomo de hidrogênio de acordo com a
equação de Balmer e Rydberg. De Broglie aproveitou essa ideia e postulou
que o elétron deveria exercer o comportamento ondulatório na órbita prevista
por Bohr e por isso a energia para orbitar aquela trajetória seria quantizada.
Temos que 2𝜋𝑟 = 𝑛𝜆
Isolando λ na relação de De Broglie e substituindo-a na equação acima
temos que:
ℎ ℎ
2𝜋𝑟 = 𝑛 => 𝑟𝑝 = 𝑛 = 𝑛ℏ
𝑝 2𝜋
Essa equação te lembra alguma coisa? É exatamente o postulado de
Bohr do momento angular do elétron r.p = r.m.v = nℏ.

Dessa forma, tudo se encaixa. A órbita estacionária de Bohr ocorre


porque nela, o elétron tem uma energia cinética específica relacionada a
uma velocidade única v que permite com que ele vibre naquela órbita como
uma onda de forma a completar ciclos completos ao percorrer o perímetro
da órbita.
Lembre-se que Bohr postulou o momento angular do elétron L = nh/2pi
• Essa energia pode ser modificada (já que nh/2pi é constante)
pela absorção e emissão de fótons hv específicos relacionados a
órbita seguinte, e assim ocorrem as transições eletrônicas. A

45
energia do fóton absorvido e emitido está relacionada
diretamente a essa energia cinética do elétron.

O princípio da incerteza de Heisenberg e o princípio da


complementaridade de Bohr
Na Física Clássica, uma partícula descreve uma trajetória cujas
propriedades (posição, momentum, velocidade, forças atuantes, etc.) podem
ser conhecidas em cada ponto dessa trajetória. No caso de ondas, não
podemos precisar sua trajetória e suas propriedades. Se a partícula está a se
comportar como onda, como eu vou conseguir descrever sua trajetória? Seria
impossível descrevê-la com precisão, já que ondas não tem posição definida.
Um instante ela tá aqui, outro ela estará lá.
Não faz sentido dizer que uma onda está na posição x e em um dado
estante t+dt ela estará na posição x+dx.
• Portanto, se a partícula se comporta como uma onda e
conseguimos estimar sua posição, não saberemos com precisão
qual a sua quantidade de movimento. Mas se sabemos com
precisão a quantidade de movimento, não conseguiremos
estimar com precisão sua posição.
• Imagine que para descobrir a posição do elétron, podemos usar
a luz. Ao incidir um feixe de luz sobre um elétron e revelarmos sua
posição com uma incerteza da ordem de Δx ± nm, fazemos com
que o elétron interaja com o fóton e mude consideravelmente
seu momentum Δp ≈ h/λ.
Para ilustrar a complementaridade da posição do momento,
Heisenberg estabeleceu que se a posição de uma partícula que se comporta
como onda é conhecida dentro de uma incerteza Δx, seu momento linear só
pode ser estabelecido dentro de uma incerteza Δp tal que:
1 ℎ
𝛥𝑝. 𝛥𝑥 ≥ ℏ= ℏ = 1,054. 10−34 𝐽/𝑠
2 2(2𝜋)

Tão maior seja a incerteza da quantidade de movimento p, menor será


a incerteza sobre sua posição, e vice-versa. Para conhecermos a trajetória de
uma partícula que se comporta como onda, precisamos conhecer seu
momento e sua posição inicial. Por isso, não conseguimos precisamente
conhecer a trajetória dos elétrons com o modelo de Bohr, que usou a física
clássica pra descrevê-la (Fcoulombica = Fcentrípeta).
Exemplo: Vamos determinar a menor incerteza na velocidade de um
elétron em um átomo quando a posição é medida com um Δx = 5 pm. (mé =
9.10-31 kg).
Resolução: queremos descobrir a incerteza na velocidade tal que
ℏ ℏ
𝛥𝑝 = 𝑚é 𝛥𝑣. = , 𝑙𝑜𝑔𝑜 𝛥𝑣 =
2𝛥𝑥 2 𝛥𝑥.𝑚é

Substituindo temos que:

46
1,054.10−34
𝛥𝑣 = ≅ 107 𝑚/𝑠
2 .(5.10−12 )(9.10−31 )

Repare que essa incerteza na velocidade do elétron é enorme. Maior


até do que o valor absoluto que se espera de velocidade para o elétron. Isso
acontece porque estamos falando de uma partícula com massa muito
pequena.

Refaça o experimento usando uma massa da ordem de 10-3 kg, o


grama. Obteremos um Δv = 10-21 m/s, uma incerteza muito, muito pequena.
Portanto, o princípio da incerteza só é válido no universo microscópico e o
modelo de Rutherford-Bohr de elétrons com trajetórias bem definidas ao redor
do núcleo não fazia sentido algum.
Em 1927, Bohr propôs o princípio da complementaridade. Os efeitos
Compton e fotoelétricos não deixavam dúvidas que a radiação EM se
comportava como partículas. Os fenômenos ópticos de difração,
interferência, refração, entre outros, corroboravam o comportamento
ondulatório da luz.
Bohr propôs então algo filosófico. A natureza é o que ela é,
independente nossas definições humanas e postulados da física. A luz é o que
ela é, e as definições que nós criamos de ondulatória e física de partículas se
complementam, e não se excluem. E ambas explicam a luz. E ambas explicam
a matéria.
Nota: o observador pode ver a luz como onda, ou como partícula, nunca os
dois ao mesmo tempo. Se montarmos um experimento para avaliar o efeito
fotoelétrico, vamos vê-la como partícula (dentro da limitação da nossa
linguagem de descrever os fenômenos da natureza). Se montarmos o
experimento da fenda dupla, veremos a luz como onda.

A função de onda do elétron: a Equação de Schrödinger


No experimento de Young, vimos como é a cara de uma equação de
onda harmônica/estacionária (que é válida tanto para ondas mecânicas
quando eletromagnéticas).

𝒚 = 𝑨. 𝒄𝒐𝒔 (𝒌𝒙 − 𝝎𝒕)


• A = amplitude
• k = 2π/λ (número de onda)
• ω = 2πν (frequência angular

Para entender mais como é


possível equacionar uma onda harmônica, assista o vídeo Ondulatória –
Função de Onda do canal Física Muito Fácil
(https://www.youtube.com/watch?v=JpUAmdw9R-Q).

Já que o elétron poderia se comportar como uma onda dentro do


átomo, não podemos descrever sua trajetória, e para saber sua posição

47
precisamos descrevê-lo como uma função de onda. Isso foi a raiz do
desenvolvimento de infinitas novas tecnologias que você, caro leitor, não
consegue nem imaginar. Semicondutores, microscópios de tunelamento,
televisores, WiFi e 5G pra conversar durante a aula, entre outras.
Inicialmente, precisamos desenvolver novas funções de onda, porque
na física uma equação de uma onda harmônica não poderia descrever o
elétron no átomo. Uma onda harmônica tem um a densidade de
probabilidade uniforme no espaço, já o elétron não, ele oscila como uma
onda, mas também está localizado em regiões do espaço localizadas com
densidade de probabilidade não uniforme. Traduzindo, existem regiões com
maior probabilidade e regiões como menor probabilidade de encontrar o
elétron no átomo.
O primeiro a conseguir a proeza de escrever uma função de onda
satisfatória para o elétron foi o austríaco Erwin Schrödinger, representada pela
letra grega psi Ψ:

Energia cinética do é Energia potencial do é

Ao mesmo tempo, Heisenberg propôs uma descrição matricial para o


comportamento do elétron. Ambos modelos descrevem o mesmo
comportamento e o equacionamento de Heisenberg é menos utilizado no
ensino da mecânica quântica simplesmente por ser menos intuitivo que o
modelo de Schrödinger.
Características da função de onda de Schrödinger:

• Contínua
• Unívoca (cada domínio só tem uma imagem)
• Quadraticamente integrável
• Primeira derivada integrável

A esquerda, funções que


não podem ser
equações de onda do
elétron. A direita, uma
típica função de onda Ψ.

Interpretação de Born: Max Born traz a


ideia de que o que vai me trazer informações
sobre o elétron, não é a função de onda, pois
ela não tem significado físico para partículas. O

48
que me dá informações é o quadrado da função de onda. O quadrado da
função de onda (Ψ²) é uma densidade de probabilidades e por isso o modelo
quântico do átomo é probabilístico, e não determinístico (como o de Bohr).

É como se eu dividisse a probabilidade por um volume dV (dx.dy.dz) e a


densidade de probabilidades Ψ² fosse um valor (sempre positivo) que indica
qual a probabilidade de encontrar um elétron naquele volume.

Lembre-se que a densidade de probabilidade será o módulo da


função de onda ao quadrado:
“região” de maior
densidade de A grande questão da função de onda é a
probabilidade. própria limitação da mecânica quântica: o
princípio da incerteza diz que não conseguimos
saber ao posição e o momentum do elétron
com precisão simultaneamente.
Dessa forma, não é possível fazer uma
previsão determinística com a função de onda
(dizer qual a posição em um instante t, a.k.a
Nó: região onde descrever a trajetória do elétron). O que
a densidade de podemos fazer é uma previsão probabilística
probabilidade com Ψ².
será nula
Os nós são regiões no átomo
onde o elétron não pode habitar.
Isso tem várias consequências
práticas, que vamos ver adiante.

Nunca vamos falar da probabilidade de encontrar um elétron em um


ponto, mas sim em uma região. Portanto, a densidade de probabilidade
poderá ser máxima, em torno, dos pontos máximos, e mínima em torno do nó
(região nodal). A probabilidade de encontrar um elétron em um ponto x
qualquer é sempre zero.

Para que você veja como é “a cara” de uma função de onda do


elétron, o seguinte exemplo para o orbital 2p:

Vamos falar de orbitais mais à frente.


Note que os operadores estão em coordenadas esféricas.

A Equação fundamental da mecânica quântica pode ser vista abaixo:

ℋ𝜓𝑖 = 𝐸𝑖 𝜓𝑖

49
A energia Ei diz respeito a energia total (soma das energias potenciais e
cinética) em um dado estado i quando o operador Hamiltoniano 𝓗 é
aplicado na função Ψ respectiva a i. O hamiltoniano quando é definido, torna
o problema puramente matemático. Quando o hamiltoniano opera sobre
uma função adequada Ψi, o resultado será o produto da função pelo
resultado numérico de Ei, chamado de auto-valor.

Na Equação de Schrödinger independente do tempo (regime


estacionário), o operador Hamiltoniano é uma sequência de operações de
multiplicação e diferenciação. Facilmente é possível chegar na Equação de
Schrödinger assumindo que ℋ = 𝐸𝑐𝑖𝑛 + 𝐸𝑝𝑜𝑡 :

𝑚𝑣𝑥 ² (𝑚𝑣𝑥 )² 𝑝𝑥 ²
𝐸𝑐𝑖𝑛,𝑥 = = =
2 2𝑚 2𝑚
𝑖ℎ 𝑑
𝑝𝑥 = 𝑚𝑣𝑥 = −
2𝜋 𝑑𝑥
Elevando o operador diferencial ao quadrado e aplicando sobre ψ:

ℎ² 𝑑²𝜓
𝐸𝑐𝑖𝑛 𝜓 = −
8𝜋²𝑚 𝑑𝑥²
Se uma partícula está livre, assumimos que Epot é nula, e escrevemos
que o hamiltoniano é igual a energia cinética.
ℎ² 𝑑²𝜓
ℋ𝜓 = 𝐸𝜓 = −
8𝜋²𝑚 𝑑𝑥²
Caso a partícula tenha energia potencial no átomo (da atração
eletrostática ou da posição, etc.), temos a equação geral da Schrödinger
para um problema unidimensional:

ℎ2 𝑑 2 𝜓 ℏ𝟐 𝒅𝟐 𝝍
𝐸𝜓 = − + 𝑉𝜓 == − + 𝑽𝝍
8𝜋 2 𝑚 𝑑𝑥 2 𝟐𝒎 𝒅𝒙𝟐
É comum representar a energia potencial por V.

Para problema tridimensional teremos então, uma equação semelhante


a que foi apresentada para você inicialmente.

ℏ2 𝑑2 𝜓 𝑑2 𝜓 𝑑2 𝜓
𝐸𝜓 = − ( )( )( ) + 𝑉𝜓
2𝑚 𝑑𝑥 2 𝑑𝑦 2 𝑑𝑧 2

Nessa equação, temos os termos d²ψ representa a velocidade de


variação de Ψ em função da respetiva coordenada espacial. Daí, Schrödinger
apresenta uma interpretação probabilística do resultado: apesar de não
podermos dizer exatamente qual sua trajetória (sua posição e momento linear
com precisão simultaneamente, de acordo com o princípio da incerteza),
podemos estabelecer que ψ*ψ é proporcional à probabilidade de encontrar a
partícula em um dado ponto no espaço (dita densidade de probabilidade).

Para resolver essa equação precisamos estabelecer uma condição de


normalização, que não vamos aprofundar nesse curso.

50
A resolução dessa equação só é possível para o átomo de hidrogênio
quando assumindo valores de E específicos. Dessa forma, no modelo do átomo
de Schrödinger a energia já é quantizada matematicamente de forma
automática, diferentemente do modelo de Bohr, que impõe essa condição na
formulação do modelo para descrever o espectro de emissão do átomo de
Hidrogênio.

Casos muito simples com um elétron podem facilmente serem resolvidos


com soluções exatas, porém átomos com muitos elétrons precisam ser
resolvidos de forma numérica e aproximada, o que requer muito esforço
computacional.
na prática, simulações numéricas são usadas de forma complementar a
medidas experimentais, ora o resultado calculado podendo ser mais preciso,
ora o resultado medido podendo ser mais exato, a depender da propriedade
que se está medindo.

A partícula na caixa rígida


Vamos aplicar a Equação de Schrödinger para o caso mais simples
possível: uma partícula com trajetória unidimensional presa entre duas paredes
rígidas e impenetráveis de largura L muito pequena. Pense na vibração de
uma corda de violão que está presa entre as duas extremidades. Seu
movimento é limitado a frequências de ondas específicas tais que:

Observe que a depender da


energia com que a corda é
tocada, o comprimento de
onda varia, porém é
quantizado em múltiplos de
λ/2.

Exemplo de ondas harmônicas em extremidades fixas.

Temos que a condição de quantização da onda harmônica


confinada em paredes fixas é:
𝜆 2𝐿
𝐿=𝑛 ∴𝜆=
2 𝑛
Agora imagine nossa partícula oscilando na caixa com
comprimento de onda λ. Se tomarmos a Equação de Schrödinger
no formato unidimensional e fizermos V=0 para 0 ≤ x ≤ L, temos:

51
ℏ2 𝑑2 𝜓 𝒅𝟐 𝝍 𝟐𝒎𝑬
− 2
= 𝐸𝜓 ∴ 𝟐
=− 𝝍
2𝑚 𝑑𝑥 𝒅𝒙 ℏ²

Sabemos que ψ representa uma equação de onda, então vamos tomar o


exemplo mais fácil de uma função de onda, a função seno:
𝝍 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 𝒃𝒙
𝒅𝝍
= 𝒃. 𝑨. 𝒄𝒐𝒔 𝒃𝒙
𝒅𝒙
𝒅²𝝍
= −𝒃𝟐 . 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 𝒃𝒙 = −𝒃²𝝍
𝒅𝒙²
Comparando com a forma da Equação de Schrödinger para o
problema proposto, temos que:

2
𝟐𝒎𝑬 𝟐𝒎𝑬 𝟏/𝟐
𝑏 = ∴ 𝝍 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 ( 𝟐 ) 𝒙
ℏ² ℏ
Observe que a energia da partícula E pode ter qualquer valor se a
partícula tem trajetória livre. Porém, se restringirmos o movimento da partícula
(a confinamos na caixa), ela terá um movimento periódico/de energia
quantizada. Impondo a condição das paredes, podemos traçar suas
condições de contorno, sabendo que a função é nula dentro das paredes
impenetráveis (energia da partícula =0).

𝝍 (𝟎) = 𝟎 (automaticamente)

𝝍 (𝑳) = 𝟎 (quando E assume certos valores)

Podemos usar a relação sen (nπ) = 0 quando n = 1,2,3,...

2𝑚𝐸 1/2
( 2 ) 𝐿 = 𝑛𝜋

Se reorganizarmos a equação em função de E, temos que:
Esse é o valor imposto para
1/2
a energia da partícula na
2𝑚𝐸 𝑛𝜋 𝒏²𝒉² caixa, pois n =1,2,3, ... e
( ) = ∴ 𝑬= 𝒉²
ℎ 𝐿 𝟖𝒎𝑳² é constante.
(2𝜋) ² 𝟖𝒎𝑳²

Esse resultado é chamado de auto-valor da


energia da partícula na caixa. A partir dele, podemos
encontrar a autofunção da energia.

52
𝟏
𝒏²𝒉² 𝟐𝒎𝑬𝒏 𝟐 𝑛𝜋
𝑬𝒏 = 𝝍 (𝒙) = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 (
ℏ𝟐
) 𝒙 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏
𝐿
𝒙
𝟖𝒎𝑳²

Podemos chegar a essa mesma conclusão, partindo da relação de De


Broglie e da quantização de uma onda entre paredes fixas mostradas no
exemplo da corda de violão:
ℎ 𝜆 2𝐿
𝜆= 𝐿=𝑛 ∴𝜆=
𝑚.𝑣 2 𝑛

Isolamos v (velocidade da partícula) e substituímos λ:


ℎ ℎ𝑛
𝑣= = e substituímos v na equação da energia
𝑚𝜆 𝑚2𝐿
cinética:

𝑚𝑣² 𝑚 ℎ𝑛 2
𝐸= = (𝑚2𝐿)
2 2
Pela relação de De Broglie,
chegamos exatamente no
mesmo autovalor para a energia
ℎ² da partícula na caixa.
𝐸𝑛 = 𝑛²
8𝑚𝐿²

Temos a função de onda tal que, num caso muito simples, pode
ser deduzida diretamente da relação de De Broglie.
𝑛𝜋 2𝜋
𝜓 (𝑥) = 𝐴. 𝑠𝑒𝑛 𝑥 = 𝑨. 𝒔𝒆𝒏 𝒙
𝐿 𝜆

Temos então agora, os valores de


energia de uma partícula quântica
oscilando como uma onda confinada
numa caixa de espessura muito pequena L
e sabemos que ele é proporcional a 𝐸 ∝
𝑛².

Podemos imaginar que a partícula é


um elétron confinado em uma órbita do
átomo de Bohr. Convém aqui dar um
nome a n, já que agora não faz mais
sentido pensarmos nas órbitas circulares de
Bohr.

n será chamado o número quântico


principal.

Observe que para n=1, E>0.

53
A função de onda só é possível ser deduzida pela equação de De
Broglie para os casos mais simples como a partícula na caixa unidimensional.
𝑛𝜋
𝜓𝑛 (𝑥) = 𝐴. 𝑠𝑒𝑛 𝑥
𝐿

Podemos encontrar o valor da constante A sabendo que 𝜓𝑛2 (𝑥)𝑑𝑥 é a


probabilidade de se encontrar a partícula no estado n em x ± dx. Sabemos
que a integral de todas essas probabilidades entre 0 < x < L deve ser 1
(condição de normalização para a resolução dos limites da caixa integral de 0
a L), então encontramos um valor para A que satisfaz essa condição.
𝐿
2
∫ 𝜓𝑛 𝑑𝑥 = 1
0
𝐿 𝐿
𝑛𝜋 𝑛𝜋
∫ 𝐴2 𝑠𝑒𝑛2 ( 𝑥) 𝑑𝑥 = 1 ∴ 𝐴2 ∫ 𝑠𝑒𝑛2 ( 𝑥) 𝑑𝑥 = 1
0 𝐿 0 𝐿

𝐿 𝟐 𝟏/𝟐
𝐴2 =1 ∴ 𝑨=( )
2 𝑳

Temos então que:


1/2
2 𝑛𝜋
𝜓 (𝑥) = ( ) 𝒔𝒆𝒏 𝒙
𝐿 𝐿

O valor de n irá indicar um modo vibracional energético para a


partícula. Podemos antecipar que o elétron não está confinado em uma caixa
unidimensional no átomo, portanto, precisaríamos resolver a função de onda
situações mais complexas.

A partícula na caixa bidimensional

Observe como se apresentariam as ondas com as combinações


lineares de dois números quânticos diferentes (a partícula na caixa
bidimensional):

54
• Para Ψ(x,y):

Animações: Prof Dr. Daniel Russel, Pennsylvania State University.

Observe agora as funções de onda respectivas, de outra forma. Note a


direção das oscilações e note os planos onde z=0 (os nós).

55
nx = 1, ny = 1 nx = 1, ny = 2

nx= 2 , ny = 1 nx = 2, ny = 2

nx = 4, ny = 4 Observe agora a figura abaixo. Os


números quânticos são maiores (n =
4, nas duas dimensões). Veja como
os valores possíveis para Ψ são
“pulverizados”. Isso significa que há
mais nós ou nodos. Você consegue
encontrar uma relação entre o
número de nós e o valor dos
números quânticos, observando
todas essas figuras?

56
A partícula na caixa tridimensional

Aqui, os estados estacionários dependem de três números quânticos e


também podemos fazer as combinações lineares de três números quânticos
(nx, ny e nz):

Nesse formato, ainda é possível


enxergar que existe uma relação
entre a quantidade de nós o
número quântico principal.

Com essa demonstração, vemos que a energias dos níveis eletrônicos


no modelo de Schrödinger são naturalmente quantizadas, relacionadas aos
seus autovalores, diferentemente do modelo de Bohr, que impôs a
quantização como um elemento matemático.

O outro ponto importante é o caráter probabilístico do modelo de


Schrödinger. Lembre que Ψ não tem significado físico, mas seu quadrado
representa a densidade de probabilidade do elétron. Essa densidade terá a
forma de uma nuvem eletrônica para delimitar uma dada região no espaço
dV. Vamos estudar a seguir como os químicos e físicos costumam representar
essas “formas” das nuvens eletrônicas.

Aplicação da partícula na caixa: polienos conjugados


Substâncias químicas orgânicas com ligações π conjugadas
frequentemente tem espectros de absorbância característicos na região do
visível, por isso apresentaram cores que conseguimos enxergar. Muitas outras
substâncias tem essa
absorção na região
do UV também.

Isso ocorre
devido as transições
eletrônicas que
ocorrem entre a
interação dos orbitais
p conjugados de
carbono nesse
sistema, formando

57
um híbrido de ressonância. Nos aprofundaremos sobre ressonância na próxima
unidade quando falarmos de orbitais moleculares e ligações covalentes.

Se tomarmos polienos conjugados acíclicos, podemos aproximar o


movimento dos elétrons π como sendo o de uma partícula em uma caixa
unidimensional. A energia potencial ao longo da cadeia é constante e cresce
abruptamente nas extremidades, portanto, tendo energias quantizadas. Nós
tratamos esse sistema como o modelo do elétron livre para calcular as
diferenças entre os níveis de energia e relacionar com o comprimento de
onda que aquela transição eletrônica absorve.

Vejamos o caso do polieno acíclico mais simples:

Observe a fórmula molecular do butadieno e


seu diagrama de níveis energéticos à direita.

Imagine uma transição eletrônica do nível n=2 para n=3. Ela ocorrerá
do nível ocupado mais alto para o nível desocupado mais baixo (indicado
pela seta vermelha). Podemos utilizar o autovalor da energia para a partícula
na caixa (que deduzimos anteriormente) para encontrar uma solução
aproximada para essa transição de energia:

n²h²
En =
8mL²
Se fizermos que o número de energia ocupados é igual N/2 em que N é
o número de carbonos envolvidos (três átomos de carbono compartilham um
elétron dois a dois), o valor de N/2 é igual ao número quântico principal do
nível ocupado mais alto (n = N/2). Uma transição do nível 2 para o três seria
portanto N/2 para (N/2) +1. A diferença de energia entre os níveis para a
transição será dada por:
𝑁 2 𝑁 2
[( )+1] ℎ2 ( ) ℎ2
2 2
∆𝐸 = −
8𝑚𝐿2 8𝑚𝐿2

𝑁 2 𝑁 2 ℎ2
∆𝐸 = [( + 1) − ( ) ]
2 2 8𝑚𝐿2

𝒉𝟐
∆𝑬 = (𝑵 + 𝟏)
𝟖𝒎𝑳𝟐
Essa diferença de energia da transição ΔE pode ser relacionada ao
comprimento de onda com a equação de Planck.
𝑐 ℎ𝑐 𝟖𝒎𝑳²𝒄
∆𝐸 = ℎ𝑓 = ℎ ∴ 𝜆= =
𝜆 ∆𝐸 𝒉(𝑵 + 𝟏)

58
Para o butadieno, temos N=4. O valor de L (a largura da caixa) será o
comprimento da molécula. Ligações duplas (uma σ e uma π) tem o
comprimento de 1,35 Å enquanto que ligações simples tem o comprimento de
1,54 Å. O raio do átomo de carbono é aproximadamente 0,77 Å (Å = 10−10 m).
O comprimento L da molécula será, portanto,

𝐿 = (2𝑥1,35Å) + 1,54Å + (2𝑥0,77Å) = 5,78Å

Podemos estimar o comprimento de onda associado a energia da


transição n2 → n3 como:

8𝑥(9,1095.10−31 𝑘𝑔)(5,78.10−10 𝑚)2 (3,00.10−8 𝑚. 𝑠 −1


𝜆=
(6,626.10−34 𝐽. 𝑠)(4 + 1)

Radiação
−7 UV
𝜆 = 2,20.10 𝑚 = 220 𝑛𝑚

Para pensar: O que acontece com esse comprimento de onda caso


tomemos polienos conjugados acíclicos maiores?

Imagine que se a quantidade de carbonos aumenta, N portanto


aumentará, bem como o L da “caixa”. Se temos que:

𝐿²
𝜆∝
(𝑁 + 1)

Podemos imaginar que λ irá aumentar para moléculas maiores. Isso


significa que a energia associada a transição eletrônica n2 → n3 será cada vez
menor. Observe os gráficos de energia associados a outros polienos acíclicos.

ΔE2→3

59
Observe outros exemplos de polienos conjugados encontrados
comumente na natureza:

Google Imagens

Resolvendo a equação de Schrödinger: os orbitais atômicos


Resolução da equação de Schrödinger:

1º transformar as coordenadas em esféricas


(um raio r para representar a distância até o núcleo,
uma latitute θ e uma longitude ϕ).

2º Separar a parte radial (R(r)) e a parte angular (Y(θ,ϕ) da função de


onda.

Para evitar que as funções se apresentem com três funções seno (sen³
(x, y, z)), utilizamos coordenadas esféricas pois θ e ϕ são limitados (de 0 a π e
de 0 a 2π, respectivamente).

Parte radial: Parte angular (esférico


extensão de um harmônico): formato
orbital, seu nível do orbital
de energia

Veja abaixo o formato da função de densidade de probabilidade ψ²


dos orbitais 1 a 3s. Você já sabe que orbitais s são esféricos. Note os nós das
funções.

60
a0 (modelo de Bohr)

Quando n aumenta, a
região de maior densidade
se distancia do núcleo

Vamos correlacionar esses resultados com Ψ:

𝒁𝒓
𝒁 𝟑/𝟐 −𝒂 1 1/2
𝜓100 = 𝟐 ( ) 𝒆 𝟎[ ]
𝒂𝟎 4𝜋

𝒁𝒓
𝟏 𝒁 𝟑/𝟐 𝒁𝒓 − 1 1/2
𝜓200 = 𝟐 ( ) ( ) (𝟐 − ) 𝒆 𝟐𝒂𝟎 [ ]
𝟐√𝟐 𝒂𝟎 𝒂𝟎 4𝜋

2𝑍𝑟
1 𝑍 3/2 20𝑍𝑟 2𝑍𝑟 2 − 1 1/2
𝜓300 = 2 ( )( ) (6 − +( ) ) 𝑒 6𝑎0 [ ]
9√3 𝑎0 3𝑎0 3𝑎𝑜 4𝜋

Questionamento: O que a parte angular das equações acima (que não


está em vermelho) me diz sobre os orbitais s?

Para continuar a partir daqui, precisamos fazer algumas definições para


que você se inteire do que estamos falando.

O que vem a ser um orbital atômico?

“São regiões de maior probabilidade encontrar o elétron no átomo”, te


disse sua professora de química há alguns anos atrás. Na verdade, um orbital é
algo muito mais poderoso e complexo. Ele é uma função de onda espacial
monoeletrônica cuja energia pode ser descrita a partir de soluções permitidas
pela Equação de Schrödinger.

Essas formas nada mais são do


que a interpretação gráfica de
Ψ.
Imagine que os elétrons podem
ser encontrados em nuvens
eletrônicas com esse formato

61
cuja densidade de probabilidade é dada por Ψ².

Lembre-se que essas formas da função são superfícies limite. Nos


ajudam a entender quais as regiões mais densas da nuvem de probabilidade,
porém elétrons podem ainda ser encontrados foram delas.

E o que significa o Ψ100, Ψ200 e Ψ300 na figura das funções de onda do


nível 1s, 2s e 3s apresentadas acima?

Quando falamos de átomos com muitos elétrons, precisamos identificar


cada elétron de forma que possamos distinguí-los dos demais, como dar uma
identidade a cada um. Fazemos isso com os números quânticos.

Na matemática, os números quânticos são constantes que aparecem


nas equações de funções de onda de Schrödinger para delimitá-las, como
restrições para a solução.

O primeiro número quântico dito n, é o número quântico principal, que


já vimos anteriormente, representando o nível de energia do elétron. Quanto
maior for n, mais distante o a nuvem de probabilidade eletrônica estará do
núcleo, o que implica que ele esteja mais fracamente preso ao átomo. Isso nos
faz pensar em orbitais cada vez maiores quando n aumenta.

𝑚𝑒 4 𝑍 2
𝐸𝑛 = −
8𝜀02 𝑛2 ℎ2

Para pensar: Você acha que na resolução da função de onda, o


número quântico n estará presente na parte radial ou angular?

O l ou número quântico azimutal ou de momentum angular varia entre


0(s), 1(p), 2(d) e 3(f) e agregam quatro tipos de orbitais de formas diferentes.
Ele representa matematicamente uma restrição no momento angular do
elétron. Esse resultado matemático gera uma “forma” (que você verá se
passar mais 3 páginas a frente) característica de cada l.
O ml ou número quântico magnético distingue os orbitais individuais de
um determinado tipo variando com a fórmula 2l +1 e determina a orientação
do orbital no espaço, para que direção a nuvem de probabilidade está
apontada. Seus valores variam de -l e +l. Matematicamente, o número
quântico magnético restringe a direção espacial do momento angular do
elétron, pra onde o vetor está apontando. Esse número quântico ml indica,
portanto, a orientação das formas definidas por l.
Os números quânticos l e ml estão presentes na parte radial ou angular
da função de onda?

62
Vale uma pausa aqui para ressaltarmos que a maior densidade de
probabilidade para um elétron no átomo de H é exatamente o raio de
Bohr e que sua energia é ~13,6 eV, correspondendo aos valores que Bohr
estimou.

Mas você lembra que no átomo de Bohr, o momento angular do elétron


do H era diferente de zero? No modelo quântico, o l para o orbital 1s é
igual a zero, corroborando as medidas experimentais
(e “resolvendo” então um dos problemas do modelo de Bohr).

Cada orbital individual pode agregar somente dois elétrons (isso é muito
importante para o fundamento das ligações químicas). Dessa forma, dois
elétrons poderiam ter os mesmos números quânticos. Em 1920, Otto Stern e
Walter Gerlach incidiram um feixe de átomos de prata no vácuo sobre um
campo magnético não -uniforme, e observaram que uma parte dos átomos se
direcionava para o norte, e outra para o sul (Figura abaixo). Como eles sabiam
que o átomo de Ag tinha apenas um elétron “desemparelhado”, ou seja,
sozinho em um orbital atômico (Kr36, 4d10, 5s1), eles aproximaram o
comportamento do átomo com 47 elétrons como sendo um átomo de apenas
1 elétron desemparelhado que seria defletido em uma dada direção pelo
campo magnético.
Experimento de Stern-Gerlach.
Google Imagens.

Para explicar os
resultados de Stern e
Gerlach, os físicos Samuel
Gouldsmit e George
Uhlenbeck propuseram que
o elétron girava em torno de
seu eixo dentro do átomo
em 1925. Esse sentido de
rotação poderia ser horário,
ou anti-horário, e em um orbital, apenas um elétron em cada sentido poderia
ser acomodado. Dessa forma, elétrons desemparelhados teriam a
propriedade de interagir com um campo magnético. Essa característica do
elétron foi chamada de spin e assim foi criado o quarto número quântico: o
número magnético de spin, que pode assumir os valores +1/2 (↑) ou -1/2 (↓).

Sentidos de rotação do elétron sobre seu próprio eixo.


Ilustração.

Daí complementamos a ideia que de que só


podemos ter dois elétrons ocupando um único orbital
com o Princípio da exclusão de Pauli: dois elétrons só
podem ocupar um mesmo orbital se tiverem números
de spin contrários. Quando um orbital possui dois
elétrons de spins contrários, dizemos que esses elétrons estão emparelhados

63
(↑↓). Quando um orbital tem somente um elétron, dizemos que ele está
desemparelhado (↑_).

Agora você consegue entender porque nos referimos a 1s, 2s e 3s como Ψ100,
Ψ200 e Ψ300?

Não esqueça que esses números não são somente a “identificação do


elétron”. Eles surgem da matemática do universo quântico (que não será
demonstrada nesse curso) ao restringir as propriedades de energia e do vetor
momento angular do elétron no átomo.

O números quânticos são postulados no modelo de Bohr, mas no modelo de


Schrödinger ele aparecem naturalmente como resultado das operações
matemáticas.

• Se “abrirmos” a parte radial dos orbitais de Schrödinger, vamos ver os


resultados possíveis para n.
• Se “abrirmos” a parte angular (os esféricos harmônicos) vamos nos deparar
com duas outras grandezas com resultados possíveis relativas a l e ml.

Observe os respectivos formatos dos orbitais do tipo s, p, d e f para o átomo de


hidrogênio.

Note as seguintes descrições das funções de onda dos elétrons obtidas


a partir da resolução da equação de Schrödinger para o átomo de hidrogênio,
de acordo com seus números quânticos:

64
Identificação N elétrons
n l ml mspin Função de onda
do orbital máximo
1 1 𝒁 𝟑/𝟐 −𝒁𝒓 𝟏 𝟏/𝟐
1 0 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
1s 2 𝝍𝟏𝟎𝟎 = 𝟐 ( ) 𝒆 𝒂𝟎 [ ]
𝒂𝟎 𝟒𝝅
1 1 𝟏 𝒁 𝟑/𝟐 𝒁𝒓 − 𝒁𝒓 𝟏 𝟏/𝟐
2 0 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
2s 2 𝝍𝟐𝟎𝟎 = 𝟐 ( ) ( ) (𝟐 − ) 𝒆 𝟐𝒂𝟎 [ ]
𝟐√𝟐 𝒂𝟎 𝒂𝟎 𝟒𝝅
𝝍𝟐𝟎𝟎
𝟏 𝒁 𝟑/𝟐
1 1 = 𝟐( ) ( ) (𝟐
2 1 +1 +
2
𝑜𝑢 −
2
2px 𝟐√𝟐 𝒂𝟎
𝒁𝒓 −𝟐𝒂 𝒁𝒓 𝟑 𝟏/𝟐
6 − ) 𝒆 𝟎 [ ] 𝒔𝒆𝒏𝜽𝒄𝒐𝒔𝜽
𝒂𝟎 𝟒𝝅
1 1
2 1 0 + 𝑜𝑢 −
2 2
2py
1 1
2 1 -1 + 𝑜𝑢 −
2 2
2pz
𝟏 𝒁 𝟑/𝟐 𝟐𝟎𝒁𝒓
𝝍𝟑𝟎𝟎 = 𝟐 ( ) ( ) (𝟔 −
1 1 𝟗√𝟑 𝒂𝟎 𝟑𝒂𝟎
3 0 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
3s 2 𝟐𝒁𝒓 𝟐 −𝟐𝒁𝒓 𝟏 𝟏/𝟐
+( ) ) 𝒆 𝟔𝒂𝟎 [ ]
𝟑𝒂𝒐 𝟒𝝅
1 1
3 1 +1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3px
1 1
3 1 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
3py 6
1 1
3 1 -1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3pz
1 1
3 2 +2 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dz²
1 1
3 2 +1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dx²-y²
1 1
3 2 0 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dxy 10
1 1
3 2 -1 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dxz
1 1
3 2 -2 +
2
𝑜𝑢 −
2
3dyz

Obviamente a tabela se estende de forma prática para o nível 4, 5, 6 e 7.

Nos anexos, você encontrará uma Tabela do Mahan e Myers (4º edição
traduzida) que trás as funções de onda para todos os orbitais escritas de uma
forma resumida.

Orbitais p e degenerescência
Vamos examinar os orbitais do tipo p:

Observe que, similarmente aos orbitais s, os orbitais p apresentam


regiões referentes aos nós. No caso dos orbitais p, seus formatos são lobulares,
apresentando dois lóbulos cada orbital e um plano inteiro que os separa
chamado de plano nodal.

65
Olhe para a função de onda na tabela dada. Na função de onda dos
orbitais s, olhe para a parte angular. Não há dependência em teta ou fi, isso
explica porque o orbital s é esférico. Ele depende somente de “r” nas
coordenadas esféricas. Já o orbital 2px, como exemplo, depende de sen θ.cos
ϕ, que é igual a zero quando θ=0º e 180° ou quando ϕ= 90°. A revolução do
plano cartesiano que representa essas funções gera a figura tridimensional
correspondente ao orbital 2px que você pode ver acima. Analogamente, o
mesmo ocorre para os orbitais 2py e 2pz.

Os orbitais s não têm, portanto, nenhuma região nodal do tipo angular.


Os orbitais p tem um plano nodal do tipo angular. Os orbitais d têm dois planos
nodais cada. Já os orbitais f tem três planos nodais. O orbital g, que não tem
significado físico para nós, deverá apresentar 4 regiões nodais do tipo angular.
Essa é a forma de diferenciar os tipos de orbitais a partir de seu número
quântico de momentum angular (s=0; p=1; d=2; f=3... ). É possível estabelecer
uma relação entre o número de nós e , mas esse não será objeto do nosso
estudo.

Entre os orbitais 2p para um átomo hidrogenóide, não há nenhuma


diferença entre a energia dos orbitais 2px,
2py e 2pz. Vamos representar isso no
diagrama a seguir.

Dizemos então, que os orbitais 2px,


2py e 2pz são degenerados. Caso o elétron
no nível 1s ou 2s absorva um fóton
respectivo a energia necessária para ser
promovido ao nível 2p, ele poderá
preencher qualquer um dos orbitais p com
a mesma probabilidade, sem preferências
energéticas.

Você consegue perceber de


acordo com a figura ao lado, porque nós
Atkins e Jones, 2005.
preenchemos o orbital 4s antes do orbital
3d quando fazemos a distribuição
eletrônica que aprendemos no ensino médio?

Os níveis de energia dos orbitais atômicos para o hidrogênio


O átomo de hidrogênio é o sistema atômico mais simples que podemos
estudar, e ele foi um teste para a mecânica quântica. As equações de
Schrödinger podiam ser aplicadas com apreciável precisão para o átomo de
hidrogênio. E precisamos entender este átomo para entendermos átomos mais
complexos, suas propriedades e a tabela periódica. Os números quânticos
que o descrevem não n=1, l=0, ml=0. O elétron do H no estado fundamental
pode apresentar dois estados possíveis (depende do seu spin):
Como ambos os estados
tem a mesma energia,
dizemos que o H no
estudado fundamental é
duplamente degenerado.
66
n l ml ms
1 0 (s) 0 +1/2
1 0 (s) 0 -1/2

No nível n=2 (primeiro estado excitado para H), temos oito orbitais
degenerados:

n l ml ms
Naturalmente, em
2 0 (s) 0 +1/2 estados excitados mais
2 0 (s) 0 -1/2 elevados (n=3, n=4,
n=5...) haverão mais
2 1 (p) +1 +1/2
combinações possíveis.
2 1 (p) +1 -1/2
n = 3 (18)
2 1 (p) 0 +1/2
2 1 (p) 0 -1/2 n = 4 (32)
2 1 (p) -1 +1/2
2 1 (p) -1 -1/2

Vimos que as funções de onda podem depender da distância r (nos


orbitais s) e tanto de r quanto de θ e fi (orbitais p, d e f) e que existem pontos
ou planos ou regiões nodais, a depender do orbital.

Os nós radiais, como o nome já diz, são regiões com um raio r cuja
probabilidade de encontrar o elétron é zero. Nos orbitais s do hidrogênio,
podemos observar esses nós a partir de n=2. Os nós radiais de um orbital são
iguais a n - l -1.

Os nós angulares ocorrem ao redor do átomo em uma certa distância


do núcleo, como vimos nos orbitais p. O número total de nós angulares é igual
a l. Podemos então inferir que o número total de nós é igual:

𝑛ó𝑠 = 𝑛 − 1

Com as funções de onda, podemos


ainda estimar um raio médio para a posição
do elétron:

𝑎0 𝑛² 1 𝑙(𝑙 + 1)
𝑟̅ = {1 + [1 − ]}
𝑍 2 𝑛2

Note que a densidade de


probabilidade radial depende de n e l, e
que 𝑟̅ será menor para um orbital 2p do que
para um orbital 2s a grandes distâncias. Isso
ocorre nas curvas de distribuição da

67
probabilidade radial do elétron para o átomo de hidrogênio, como podemos
claramente observar ao lado.

Então revisando:

A energia dos orbitais multieletrônicos: o princípio da exclusão e o


princípio de aufbau
Um grande desafio que vem sendo vencido pelos cientistas é aplicar a
mecânica quântica para átomos com muitos elétrons. Em átomos maiores, os
elétrons sofrem maior atração pelo núcleo que possui mais cargas positivas,
bem como os elétrons se repelem entre si devido as cargas iguais. Medidas
espectroscópicas mostram que os orbitais 2p não são degenerados com
relação ao orbital 2s em átomos multieletrônicos, ou seja: os orbitais 2s tem
menos energia que os orbitais 2px, 2py e 2pz. Por que isso acontece?

Imagine que um elétron é atraído pelo núcleo para se manter no átomo


com uma energia Ex. Se inserirmos mais elétrons, eles vão atuar repelindo o
elétron em questão, diminuindo a força de atração pelo núcleo, portanto,
aumentando Ex. Dizemos que ocorre um efeito da blindagem da carga
nuclear, a presença de outros elétrons “esconde” um determinado elétron do
núcleo, blindando-o da carga total de atração, e podemos então falar de
uma carga nuclear efetiva. (Vamos aprender a calcular a carga nuclear
efetiva de um elétron, mas para refletir: você acha que Zefetiva é menor ou
maior que o valor de Zreal?)

Zefetiva < Zreal

Um pouco mais a frente, vamos aprender a calcular Zef.

Agora relembre as superfícies limites dos orbitais s, p e d. Você consegue


entender agora porque os orbitais p em átomos multieletrônicos tem maior
energia que os orbitais s?

Se você pensou na posição do núcleo, você certamente entendeu. Os


orbitais s permitem que o elétron (de acordo com Ψ²) atravesse o núcleo,
estando mais fortemente ligado a ele. Os orbitais p delimitam um plano nodal
que cruza o núcleo, enquanto que os orbitais delimitam dois planos nodais

68
(perpendiculares entre si). É natural imaginar os elétrons do orbitais p não
conseguem penetrar o núcleo como os elétrons dos orbitais s. Assim também
os orbitais d permitem menos ainda que os elétrons cruzem o núcleo. Portanto,
a energia dos orbitais para
manter o elétron crescerá na
ordem s < p < d.
Diagrama típico de energia dos
orbitais do hidrogênio (a) e de
átomos polieletrônicos (b)
mostrando as diferenças de
energias entre os níveis.

Sabemos que o átomo


em sua melhor conformação
energética tem todos os
elétrons nos estados mínimos
de energia. Imagine que não podemos colocar todos os elétrons no orbital 1s.
Haveria muitas cargas negativas concentradas nesse único orbital se repelindo
e seria necessária muita energia para mantê-las juntas, certo? Os números
atômicos que aparecem da resolução da equação de Schrödinger
descrevem o nível de energia dos elétrons, certo? Em um átomo com muitos
elétrons, medidas experimentais mostraram que somente dois elétrons podem
ter valores de n, l e ml iguais. O terceiro elétron do Li, por exemplo, não pode
adotar n=1, l = 0, ml=0, e aparece como n=2, l=0, ml=0. Em 1925, Wolfgang
Pauli postulou o princípio da exclusão de Pauli:

Somente dois elétrons podem ocupar um orbital e quando dois elétrons


ocupam um orbital, seus spins devem estar emparelhados (ms deve ser
diferente).

O princípio da exclusão diz que dois elétrons não podem ter o mesmo
conjunto de números quânticos. Isso tudo ocorre devido a repulsão elétron-
eletrón e o efeito de blindagem nuclear. Agora podemos falar das
configurações eletrônicas de um átomo.

No estado fundamental, todos os elétrons vão tentar ocupar os lugares


de menor energia. Mas precisamos respeitar o princípio da exclusão. Vamos
iniciar um procedimento de posicionar os elétrons nos orbitais atômicos.
Lembre que representamos os elétrons com setas, uma seta para cima ↑ (ms =
+1/2) e uma pra baixo ↓ (ms = -1/2). Para fazermos isso, vamos utilizar um outro
princípio bem conhecido entre os químicos, o princípio de aufbau (ou princípio
da construção, apesar do nome alemão ter ficado).

• Inicialmente, preenchemos os níveis de menor energia com


elétrons desemparelhados até que os orbitais estejam
preenchidos com no máximos dois elétrons cada.
• Regra de Hund: Ao encontrarmos orbitais degenerados (de
mesma energia), vamos preenchê-los primeiramente cada um

69
com elétrons de spins paralelos, e então começamos a
preenche-los com elétrons desemparelhados.

A regra de Hund é válida porque, de acordo com a mecânica quântica, um


arranjo de elétrons com spin paralelos em orbitais degenerados tem uma
energia ligeiramente menor que um orbital degenerado completo (com dois
elétrons desemparelhados).

Diagrama de níveis de energia para átomos do segundo período no estado fundamental


preenchidos de acordo com o princípio da exclusão e a regra de Hund. Fonte: UFJF, química.

Observe que pelos diagramas,


Note que o orbital 3d para átomos
fica fácil de visualizar que os átomos
polieletrônicos é mostrado com uma
tem um limite máximo de elétrons em
energia mais elevada que o orbital 4s. De
fato, quando Z>18, o orbital 4s é menos cada nível de energia, que como já
energético que o orbital 3d. Vamos falar falamos anteriormente, depende dos
disso logo a frente. tipos de orbitais presentes naquele
nível. Veja abaixo a essas quantidades.

Olhe novamente para os


diagramas acima e reflita: em cada
situação, qual(is) eletrón(s) seria(m) mais
fácil(ceis) de arrancar de cada átomo
com o efeito fotoelétrico, por exemplo?
Relembre o conceito de camada de
valência e camadas core.

70
Agora observe que é através dessas propriedades eletrônicas do estado
fundamental que estudamos os elementos (e os organizamos na tabela
periódica):

Tabela periódica organizada por blocos. Infoescola, acesso em 06/02/2023.

Outra forma de fazer a distribuição eletrônica (que é muito interessante


para átomos com Z muito grande pela praticidade) é o diagrama de Pauling,
que você deve ter visto no ensino médio.
Na verdade, esse
diagrama não foi
inventado por
Pauling, mas isso não
vem ao caso.

Diagrama de Pauling e distribuição eletrônica na Tabela periódica. Fonte: Google


Imagens e UFJF, química.

Observe que o diagrama de Pauling demonstra a mudança que


acontece no “ritmo” do preenchimento eletrônico da tabela periódica
(observe no período 4, as fileiras de átomos 3d). Preenchemos inicialmente o
orbital 4s e em seguida começamos a preencher o orbital 3d, como vimos
anteriormente. Ele é uma boa ferramenta para o ensino da distribuição
eletrônica, porém o diagrama de Pauling não “funciona” em todos os casos.
Os casos famosos são o do Cromo e do Cobre. Vamos olhar átomos com

71
maiores números atômicos agora e vamos introduzir uma outra forma de
representar a distribuição eletrônica colocando a quantidade de elétrons nos
últimos níveis de energia (essa forma é mais prática para átomos com Z
elevado).
Isso ocorre
porque a diferença de
energia entre o orbital
4s e 3d do Cr é muito
baixa e leva a uma
simetria muito boa, que
justifica um estado de
menor energia (que a
gente sabe que é o que
a natureza gosta né).
Em cátions de metais de
transição como Cr3+, Ti3+,
Mn2+ e Cu2+, o orbital 3d
possui uma energia
menor que o nível 4s por
essas razões de simetria.

Distribuição eletrônica de alguns metais com Z>18 e a discordância do Cr e do Cu


com o diagrama de Pauling (de acordo com medidas experimentais). Fonte: UFJF,
química.

É como se os elétrons da camada de valência preferissem se espalhar


nos orbitais d que preencher um orbital s. O Mo que é da família do Cr
obedece a essa regra, bem como o Ag e Au da família do Cu também
obedecem a essa regra. Porém, o tungstênio W da família do Cr tem a
configuração [Xe] 6s² 4f14 5d4, obedecendo o diagrama de Pauling. Mistérios
da Tabela que precisamos resolver.

Blindagem e carga nuclear efetiva em átomos polieletrônicos


Já vimos que ao tratarmos de átomos polieletrônicos, as previsões não
são tão simples como podem ser aproximadas para os átomos hidrogenóides.
Sabemos também que na Física, sempre estudamos as interações entre dois
objetos ou partículas. E sabemos também (porque já discutimos isso
anteriormente) que um elétron mais
Essa representação do externo em um átomo sofre um
elétron em órbita efeito de blindagem da carga
circular como uma nuclear por parte de outros elétrons
partícula no modelo de
que se encontram mais próximos
Bohr é apenas para fins
didáticos. Não do núcleo.
esqueça da evidência
do comportamento Zefetiva < Z
ondulatório do elétron.
Imagine que o elétron verde

72
sofre o efeito de repulsão com os elétrons vermelhos mais próximos do núcleo.
Em átomos com muitos elétrons, um dado elétron vai sofrer um efeito da
blindagem de todos os elétrons que se se encontram em níveis mais internos.
Dessa forma, podemos pensar como a Zefetiva diminui ao longo da tabela
periódica.

Zef = Z – S S = parâmetro de blindagem

No mesmo período (linha


horizontal), o valor de S não muda
significativamente, porém o valor de Z
aumenta. Portanto Zef aumenta num
mesmo período, da esquerda para a
direita. Em uma mesma família (linha
vertical), naturalmente Z aumenta, mas
também S aumenta, pois há mais níveis
de energia n, e, portanto, mais
camadas de elétrons internas. Como
ambos os parâmetros aumentam, não
dá pra saber qualitativamente dentro
de uma mesma família, qual a direção
do aumento de Zef. Uma análise
quantitativa pode ser feita para
calcular o valor de S pelas regras de Slater.

Primeiro, vamos organizar todos os elétrons separando os orbitais em


uma ordem sequencial de acordo com os níveis (diferente do diagrama de
energias) e vamos juntar os orbitais s e p em um grupo, e os orbitais d em outro
e os orbitais f em outro grupo de acordo com os seus níveis.

1s 2s 2p 3s 3p 3d 4s 4p 4d 4f .....

Segundo, vamos considerar qual a influência de cada elétron anterior


no elétron considerado (normalmente o mais externo).

Elétrons do Nível de energia Contribuição para


orbital: blindagem
Mesmo nível 0,35
sep Nível anterior (n-1) 0,85
Outros níveis anteriores (n-2; n-3;...) 1,00
Mesmo nível 0,35
def
Qualquer outro nível (n-1; n-2;n-3;...) 1,00

Podemos perceber que Slater fez uma simplificação de que o efeito de


um orbital s e p é o mesmo, portanto, esses resultados são aproximados (porém
são boas aproximações para o valor de S).

Agora, vamos resolver um exemplo:

Qual a blindagem para o elétron de valência do potássio (ZK = 19)?

73
K – 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 4s¹

Organizando de acordo com os grupos:

1s 2s 2p 3s3p 4s

𝑆 = 𝑁é(𝑛=1) . 1,00 + 𝑁é(𝑛=2) . 1,00 + 𝑁é(𝑛=3) . 0,85 + 𝑁é(𝑛=4) . 0,35

Note que:
𝑁é(𝑛=1) = 2 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
𝑆 = 2.1,00 + 8.1,00 + 8.0,85 + 0.0,35
𝑁é(𝑛=2) = 8 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
𝑆 = 16,1
𝑁é(𝑛=3) = 8 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠
𝑍𝑒𝑓 = 19 − 16,1 = 2,9
𝑁é(𝑛=4) = 0 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠

Nem um outro elétron no Isso significa que o elétron da camada


nível 4s para exercer efeito de de valência do potássio experimenta
blindagem sobre o qual um efeito de atração de apenas
estamos analisando. aproximadamente 3 cargas positivas
(5% de Z do potássio).

Um exemplo mais complicado para você exercitar:

Qual a blindagem para um dos elétrons de valência do estrôncio (ZSr =


38)?

Sr38 – 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 4s² 3d10 4p6 5s2

Resposta: S = 35,15

Zef = 2,85 (7,5% da carga nuclear)

Qual a blindagem para um dos elétrons de valência do estrôncio II


(Sr2+)?

Sr38 – 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 4s² 3d10 4p6

Resposta: S = 27,7

Zef = 10,3 (27,1% da carga nuclear)

Note o que ocorre quando retiramos elétrons de um átomo no estado


fundamental transformando-o em um íon (Sr para Sr2+). O efeito de blindagem
nos elétrons de valência é diminuído, e maior carga nuclear atua sobre esses
elétrons.
Isso explica porque o raio iônico de um elemento é sempre menor do que o
seu raio atômico.

Essa aproximação de Slater é válida quantitativamente, mas lembre-se


que no modelo de Schrödinger, os orbitais s, p, d e f tem formatos diferentes
(com diferentes quantidades de regiões nodais). Um orbital s por ser esférico,

74
blinda os elétrons melhor que um orbital p (que possui uma região nodal), e o
orbital p por sua vez, blinda os elétrons melhor que um orbital d (que possui
duas regiões nodais). Existem outros modelos de estimativa de Zef: mais
complicados e que não são apropriados a esse curso).

A configuração eletrônica e a Tabela Periódica


Chegou a hora de estudar nossa queridinha tabela. Já sabemos até
aqui que ela é organizada em famílias (linhas horizontais) que agrupa
elementos com camadas de valência semelhantes e propriedades
semelhantes de reatividade e em períodos (linhas verticais) que definem os
níveis de energia preenchidos e por consequência, uma medida da
eletrosfera. Sabemos também que ela é organizada em ordem crescente de
número atômico e agora você saberá que ela tem 118 elementos sendo
apenas 92 deles naturais e os demais artificiais (cuja ocorrência natural nunca
foi registrada).

Tabela periódica dos elementos com classificação típica. Fonte: Toda Matéria. (Você
encontrará uma tabela similar nos anexos da apostila em tamanho maior)

Uma das propriedades periódicas já foi introduzida, o parâmetro de


Blindagem Nuclear (S) que vimos anteriormente. Vimos como ele varia em
função do período da tabela. Vamos olhar agora como outras propriedades
periódicas estão arranjadas na tabela.

• Carga Nuclear Efetiva (Zef) e Blindagem (S)

75
Redução da carga nuclear devido à diferença de forças de atração
do núcleo sobre elétrons mais externos do átomo. Ocorre devido a repulsão
eletrônica entre um dado elétron e outros elétrons em níveis de energia
menores (mais próximos ao núcleo). Esse fenômeno é descrito na física pela Lei
de Gauss do eletromagnetismo.

Efeito da blindagem nuclear na variação da carga nuclear efetiva Z* ao longo da tabela


periódica. Fonte: USP, Instituto de Química.

• Raio atômico

O raio atômico é uma definição teórica, já que de acordo com o


modelo de Schrödinger não temos esferas rígidas que contém a carga
eletrônica, mas sim, nuvens eletrônicas de densidade de probabilidade. O raio
atômico é definido como a metade da distância entre dois núcleos de átomos
iguais vizinhos formando ligações metálicas (no caso dos metais) e ligações
covalentes (no caso dos não-metais). Vamos falar mais detalhadamente sobre
essas ligações no futuro.

Para uma mesma família, vamos observar o raio atômico crescer de


cima para baixo, obviamente, pois à medida que descemos, teremos átomos
com mais camadas eletrônicas (mais níveis de energia ocupados por elétrons).

76
Já se considerarmos os elementos de um mesmo período, o raio
atômico é menor no lado direito da tabela devido ao efeito de atração das
cargas. Em um mesmo período, a quantidade de níveis de energia é a
mesma, porém como há mais elétrons no último nível a medida que vamos da
esquerda para a direita, o efeito de blindagem é mais diluído entre os elétrons
da última camada fazendo com que o raio do último nível de energia seja
cada vez menor.

• Raio iônico

Similar ao raio atômico, o raio iônico é a distância entre a eletrosfera de


um átomo ionizado em um sólido cristalino (formado por uma ligação iônica).
Ao perder elétrons, um átomo se torna um cátion e é fácil pensar na
diminuição do seu raio uma vez que elétrons são tirados do nível mais externo
fazendo com que ele deixe de existir. Analogamente, um átomo ao ganhar
elétrons para completar um orbital é chamado de ânion, e podemos esperar
que seu raio iônico cresça, pois há mais elétrons ocupando agora orbitais
cada vez mais externos. Veja o exemplo do MgO (óxido de magnésio).

Representação do raio iônico. Exemplo da configuração eletrônica do raio iônico do Mg e O.


Google Imagens.

Podemos observar que o raio iônico do magnésio diminui ao perder dois


elétrons enquanto que o raio do oxigênio aumenta comparado ao oxigênio
no estado fundamental (lembre-se que essa representação do modelo de
Bohr é apenas para fins didáticos, para entender o efeito do aumento do raio
iônico do O2-, lembre-se que os dois elétrons entram no nível 2 em orbitais 2p).
Veja mais exemplos.

Considerando
uma mesma família da
tabela, o raio iônico
aumentará de cima
para baixo de forma
óbvia e acompanhando
a tendência do raio
atômico. E
considerando um
mesmo período ele
também aumentará da
direita para a esquerda.
Comparação entre raio iônico de vários elementos e seus
Porém, podemos
átomos neutros. Fonte: Manual da Química.
destacar aqui que há

77
uma descontinuidade entre os ametais e os metais, pois os metais tem
tendência a formar cátions, e, portanto, seu raio iônico será menor que o raio
atômico, enquanto que os ametais tem a tendência de formar ânions, e seu
raio iônico será maior que o raio atômico.

Representação da tendência do raio iônico na tabela periódica. Fonte: o Autor. Raios


iônicos em picometros dos elementos dos grupos principais. Fonte: Atkins e Jones, 2005.

*Espécies isoeletrônicas: átomos ou íons com o mesmo número de


elétrons, por exemplo: Na+, Mg2+ e F-. Tem a mesma configuração eletrônica,
porém seus raios iônicos são diferentes devido ao efeito da carga nuclear (Z é
diferente).

• Energia de ionização

No diagrama de energias de Bohr para o Hidrogênio, vimos que para o


nível infinito n=∞ temos que E = 0. Portanto podemos
imaginar que a energia necessária para arrancar o
elétron de um átomo de hidrogênio é igual a
energia do nível 1. E é exatamente essa a definição
da energia de ionização. Podemos estendê-la a
átomos com muitos elétrons e então pensar que ela
é a menor energia necessária para retirar um
elétron do átomo (levá-lo a n=∞). Se estamos
falando da menor energia, para um átomo
polieletrônico obviamente estamos falando do
elétron mais externo (no nível n mais elevado). Por
convenção, vamos fazer essa medida em átomos na fase gasosa. Portanto a
Energia de Ionização (Ei) é a energia necessária para remover um elétron de
um átomo na fase gasosa.

Em uma mesma família


da tabela periódica, temos
camadas de valência similares,
o que significa dizer que
estamos tratando do mesmo
elétron a ser removido. A Ei
aumenta de baixo para cima
devido ao efeito da

Tendência de crescimento da primeira


energia de ionização. O autor.
78
proximidade do elétron de valência com o núcleo (o raio atômico). Em
átomos muito grandes, o efeito da blindagem eletrônica se pronuncia cada
vez pois os elétrons estão muito longe do núcleo. Isso acaba fazendo com que
seja mais fácil remover um elétron de valência e, portanto, a Ei é menor na
parte de baixo da tabela. Em um mesmo período, temos o mesmo nível
preenchido para camada de valência e a Ei irá aumentar da esquerda para a
direita pois à medida que caminhamos no período, mais elétrons são inseridos
em um mesmo nível de energia, fazendo com que o raio atômico diminua
enfraquecendo o efeito da blindagem eletrônica. Assim, se torna mais difícil
retirar um elétron da valência, o que significa que a energia de ionização
aumenta. Você deve ter percebido que a tendência de crescimento de ei é
inversa a tendência de crescimento do raio atômico.

Você deve estar se perguntando se a energia varia à medida que


vamos retirando os elétrons do átomo, e claramente a resposta é sim. Essa
energia que acabamos de observar é comumente chamada de primeira Ei, a
energia pra remover o primeiro elétron do estado fundamental. À medida que
removemos elétrons do material, aumentamos o efeito de atração entre a
carga nuclear e o elétron, “prendendo” melhor os elétrons restantes da
valência, ficando mais difícil retirá-los. Isso significa, portanto, que as energias
de ionização seguintes a primeira será crescente: Ei,1 < Ei,2 < Ei,3... etc. O que
será válido para qualquer átomo.

,
Observe que no mundo
macroscópico a unidade eV não
é muito prática, e costumamos
representar essas energias em
unidades de Joule por mol de
substância = 6.1023 átomos.

79
Diagrama das primeiras energias de ionização na Tabela Periódica. Fonte: Infoescola.

Energias de ionização sucessivas para alguns elementos em kJ/mol


Elemento Ei1 Ei2 Ei3 Ei4 Ei5 Ei6 Ei7
Na 496 4560 - - - - -
Mg 738 1450 7730 - - - -
Al 578 1820 2750 11600 - - -
Si 786 1580 3230 4360 16100 - -
P 1012 1900 2910 4960 6270 22200 -
S 1000 2250 3360 4560 7010 8500 27100
Cl 1251 2300 3820 5160 6540 9460 11000
Ar 1521 2670 3930 5770 7240 8870 12000
Os valores em vermelho indicam a ionização de elétrons em níveis mais internos (n-1).

Lembre-se da regra do octeto. Os átomos da série principal adquirem


conformações mais estáveis e de energia mais baixa ao completarem um
orbital completamente preenchido. Por isso a energia de ionização de metais
alcalinos (ns1) é baixa, sendo os elementos mais ionizáveis da tabela,
enquanto que os menos ionizáveis obviamente são os gases nobres, cujo
octeto já é completo no estado fundamental. Devido ao efeito da blindagem
nuclear e do raio atômico, os elétrons dos metais alcalinos e alcalinos terrosos
são facilmente retirados com energias ordinárias.

Aqui cabe um parêntesis: nos metais de transição, os primeiros elétrons


ionizáveis são os elétrons 4s (ao invés dos elétrons 3d). Isso acontece porque
ao se remover um elétron, o efeito da carga nuclear mais elevada faz com
que os orbitais 3d tenham menor energia que o orbital 4s.

• Afinidade eletrônica

Análoga a energia de ionização, a Afinidade Eletrônica (Eae) é a


energia que um átomo libera ao receber um elétron na fase gasosa. Ao
ocorrer uma ligação química espontânea, espera-se que uma quantidade de
energia seja liberada de alguma forma pelo sistema, pois se o processo é
espontâneo, é a natureza procurando um estado de menor energia. Quanto
maior essa quantidade de energia liberada, maior a afinidade eletrônica.
Certamente, alguns processos não tão espontâneos vão precisar absorver
energia (ao invés de liberar) para que aquela ligação aconteça, então
poderemos ter valores de Eae negativos.
𝑬𝒂𝒆 (𝑿) = 𝑬(𝑿) − 𝑬(𝑿− )

A afinidade eletrônica será dada pela diferença entre a energia do


estado fundamental e a energia do ânion daquele elemento. Essa
propriedade não é tão periódica assim, mas conseguimos notar uma
tendência de liberação de energia maior no canto direito superior da tabela.

80
É possível também falarmos da
segunda e terceira afinidade eletrônica dos átomos, assim como a energia de
ionização, seguindo o mesmo princípio. Nos elementos das famílias 5A, 6A e 7A
é possível adicionar um elétron com uma liberação de energia positiva da
ordem de kJ/mol. Adicionar um segundo ou terceiro elétron normalmente vai
envolver uma absorção de energia. O que significa que a afinidade eletrônica
irá ser negativa para X2- e também para X3-. No caso da família 7A, os
halogênios, adicionar um segundo elétron requer preencher um novo nível de
energia, mais distante do núcleo. Isso envolve uma energia muito alta e por
isso não vemos ânions de halogênios X2-.

Propriedades periódicas da Tabela. Fonte: Instituto de Química, USP.

Veja algumas propriedades dos elementos.

81
Propriedades características dos metais e não-metais. Google Imagens.

O efeito do par inerte


Os metais de transição são elementos da tabela que se diferem apenas
pela quantidade de elétrons nos orbitais d, o que faz com que suas
propriedades sejam muito parecidas. As segundas energias de ionização dos
metais de transição são normalmente baixas, fazendo com que eles possam
existir em diferentes estados de oxidação. Isso ocorre porque os elétrons d tem
energias muito similares.

Nos elementos mais pesados do bloco p, verifica-se uma tendência de


formar íons com uma valência duas vezes mais baixa que a carga formal. Isso
acontece porque o par de elétrons s de um nível elevado (n<4) não sofre
tanto efeito da carga nuclear devido a blindagem eletrônica, e por isso seu
elétron não é tão fortemente ligado ao núcleo, tendo uma energia de
ionização abaixada.
Esse efeito é chamado de efeito do par inerte, e acontece com o índio, que
forma In3+ e In1+, e com o estanho, por exemplo, que forma os íons Sn2+ e Sn4+.
Esse efeito ocorre nos elementos do bloco p.

No bloco d, devido a grande quantidade de elétrons com energias


muito similares, os elementos formam facilmente íons com diferentes estados
eletrônicos (nox variável). Isso ocorre majoritariamente do lado esquerdo. À
medida que Z aumenta, os elétrons do nível d passam a ter energia menor que
os elétrons do nível s seguinte e por isso os metais de transição do lado direito
da tabela tem o nox +2.

Você pode observar que as diferentes propriedades dos orbitais s, p, d e


f e os efeitos da carga nuclear basicamente se desdobram e várias energias
de orbitais diversas tornando cada elemento único em suas propriedades
físicas e químicas.

O gato de Schrödinger

82
A Física quântica é esquisita. Assim também achavam Erwin
Schrödinger, Niels Bohr e Albert Einstein, então quem somos nós pra achar que
tudo que vimos nessa lição é algo normal.

Você com certeza ficou confuso quando falamos sobre o experimento


da fenda dupla de Young, que constatou a natureza ondulatória do elétron,
mas ao adicionar um observador ao experimento, observou um resultado que
condizia com o comportamento corpuscular do elétron. Pois bem, vamos à
questão central da física quântica, proposta por Schrödinger. E o nome dessa
questão é a superposição dos estados quânticos.

A física não obedece a probabilidade sempre. Se jogarmos uma


moeda a chance de dar cara e coroa é 50%. Mas após o lançamento,
quando olhamos a moeda, ela certamente será 100% cara ou 100% coroa. Se
jogarmos muitas moedas, observaremos uma distribuição de probabilidades
próxima de 50% cara e 50% coroa, e quanto maior for o número de moedas
lançadas, mais “certeira” será a distribuição.

Erwin Schrödinger nos propôs um experimento para pensarmos sobre


essa superposição dos estados quânticos. Sabemos que um isótipo de Hg
pode se transmutar em ouro. Se jogarmos um átomo de Hg desse isótopo em
uma caixa, podemos dizer que a probabilidade desse átomo ser Hg ou Au é
de 50%, cada. Somente quando olharmos para a caixa, saberemos o que
aconteceu e então teremos ou 100% Hg ou 100% Au. Em um evento único, ao
lançarmos o átomo na caixa ele pode ser Hg e Au, e após olharmos a caixa,
ele será Hg ou Au. Ela não obedece às probabilidades. Como é possível o
átomo ser 100% Hg e 100% Au ao mesmo (antes de ser observado).

Se jogarmos infinitos átomos de Hg na caixa (não sendo mais um evento


único), já sabemos que quando olharmos, os átomos serão 50% Hg e 50% Au.
Portanto, a novidade da física quântica é ao analisarmos um evento único.
Um único átomo de Hg ao ser jogado na caixa será Hg e Au ao mesmo tempo
até que você olhe dentro da caixa. Enquanto não for olhado, haverá uma
superposição dos estados, onde as duas coisas existem. Foi isso que
aconteceu com o elétron único ao passar pela fenda de Young: ele se
comportou como onda e partícula ao mesmo tempo, mas ao adicionarmos
um observador, vimos seu comportamento de partícula apenas.

E onde é que entra o gato?


Schrödinger levou o evento único atômico
para o mundo macroscópico. Ele nos
convidou a pensar em uma caixa, com um
gato dentro e uma garrafa de veneno
fechada. Um átomo de ouro era capaz de
abrir a garrafa, mas o de mercúrio não. Uma
vez a garrafa aberta, o gato tomaria o
veneno, e morreria. Então, quando jogarmos um único átomo de Hg, não
sabemos se o gato estaria vivo ou morto, para a física quântica na verdade,
ele está vivo e morto (os estados se superpõem). Somente após olharmos a
caixa poderemos dizer que o frajolinha está 100% vivo, ou 100% morto. A ideia

83
é que no mundo macroscópico, não faz sentido pensarmos em duas
realidades excludentes, antagônicas. Ou é Hg ou é Au. Ou tá vivo ou tá morto.

A melhor explicação que temos hoje


é a interpretação de Copenhague: uma
partícula quântica se comporta como onda
e existe em vários estados de energia,
portanto é impossível determinar sua
posição, mas no momento em que eu tentar
medir essa partícula (posição ou
velocidade), ele se comportará como
partícula.

84
Lista de exercícios: Unidade I
Fatores de
Constantes
conversão/Unidades
Raio de Bohr a0 = 0,52918 Å 1 eV 1,602. 10-19 J
Permissividade no vácuo ε=8,85419x10-12 C/N.m²
h (cte. Planck) 6,626070⋅10−34 J⋅s
4,135667.10-15 eV.s
h.c 1240 eV/mm

Modelos Atômicos: Quais os achados e as principais conclusões que os


experimentos de Rutherford e Milikan deram para o entendimento da estrutura
do átomo moderno?

Lei de Planck: Qual o valor de um quantum de uma radiação de λ =


500 nm? e λ=700 nm? Qual o valor do quantum de um tipo de radiação
gama?

Efeito fotoelétrico: Qual a frequência mínima da uma radiação


eletromagnética necessária para arrancar um elétron do alumínio? E do
sódio? No espectro eletromagnético, qual tipo de radiação seria
correspondente a cada uma delas? ( Φ(Al) = 4,28 eV; Φ(Na) = 2,75 eV)

Níveis de energia de Bohr: Calcule a energia de transição do n=2 para


o n=3 para o átomo de hidrogênio. Calcule a energia de transição do n=3
para o n=1. Associe essas energias de transição com os espectros de emissão
e absorção, essas transições estão na série de Lyman, de Balmer ou de
Paschen?

Relação de De Broglie: Qual o comprimento de onda de bola de gude


de m=5,0 g movendo-se a 1m/s? Qual o comprimento de onda de um próton
viajando na velocidade da luz? Qual o comprimento de onda de um elétron
viajando a 1/1000 a velocidade da luz? Quais as energias dos fótons liberados
em cada caso? Compare-as e tire suas conclusões relacionadas as energias
dos processos químicos (da ordem de eV).

Qual a principal diferença entre uma órbita de Bohr e um orbital? De


que forma o princípio de incerteza de Heisenberg está envolvido nessa
questão?

Todas as linhas de emissão de Lyman para o átomo de hidrogênio são


aquelas para as quais nf = 1. Determine a região do espectro eletromagnético
na qual as linhas da série de Lyman são observadas.

85
Faça um esboço da forma e orientação dos seguintes tipos de orbitais:
s, p e d. E justifique a quantidade de regiões nodais que cada uma deve
apresentar com relação a sua função de onda Ψ.

Partícula na caixa: Um elétron é colocado em uma caixa


unidimensional de comprimento 0,10 nm (aproximadamente do tamanho de
um átomo). (a) Calcule a diferença de energia entre os estados do elétron
com n=2 e n=1. (b) Repita o cálculo para uma molécula de N2 em um
recipiente cujo comprimento é 10 cm. Qual a diferença entre o que ocorre no
exemplo a? (c) Para o caso (a), qual a probabilidade de encontrar um elétron
entre x=0 e x=L/2 no estado n=1? Dados mN2= 4,65x10-26 kg.

86
Unidade II: Ligações Químicas
Se você sobreviveu a unidade anterior, já é muita coisa. Falamos
extensamente do átomo e sua estrutura eletrônica bem como falamos dos
elementos, os tipos de átomos diferentes e como eles são organizados na
tabela periódica. A realidade é que os átomos não caminham sozinhos. A
nossa realidade da existência da vida e do desenvolvimento de tecnologias
se dá ao fato de que átomos diferentes podem se combinar
(espontaneamente ou não) para formar uma variedade inexplicável de
compostos com diversas propriedades.
Já começamos a falar sobre ligações químicas ao falarmos das
propriedades periódicas dos elementos e você já certamente entendeu que
elas ocorrem no universo da eletrosfera do átomo. E não, elas não são
simplesmente um traço que usamos pra ligar um átomo ao outro como nas
representações de Lewis. Na verdade, as ligações químicas só puderam ser
entendidas com clareza a partir do desenvolvimento da mecânica quântica,
no século passado.
Pois bem, sabemos que a energia do átomo pode ser expressa em
função do momento angular orbital e do spin total dos elétrons. Nas ligações
químicas, podemos ignorar os momentos angulares dos elétrons de camadas
interiores e concentrar nossos esforços no momento
de spin dos elétrons da camada de valência (pois
são eles que vão participar das ligações químicas).
Nessa unidade vamos estudar os três tipos
principais de ligações entre átomos: iônica,
covalente e metálica. Além disso, estudaremos
também ligações entre moléculas de caráter mais
“fraco”, as ligações intermoleculares. Vamos aplicar
as tendências observadas na tabela periódica para
predizer qual o tipo e quantas ligações um átomo
pode fazer. Vamos aprender a corrigir os modelos de
ligação iônica e covalente no cerne do que
distingue esses dois processos. Primeiramente, vamos
entender por que uma ligação química acontece.

Por que os átomos se ligam?


As ligações ocorrem de forma espontânea quando a junção dos
reagentes leva à formação de um produto que tem um estado de energia
mais baixo. Para a ligação acontecer os átomos precisam se aproximar e
quem rege essa aproximação é a energia interna dos átomos e as forças de
atração coulômbica. A primeira está relacionada a fatores como
temperatura, pressão, velocidade dos átomos, presença de catalisadores,
etc. Já a segunda, está relacionada a configuração eletrônica dos átomos tal
qual aprendemos na primeira unidade e principalmente, com os elétrons da
camada de valência. Observe o que acontece energeticamente em uma
ligação química:
(1) Os átomos livres estão afastados e a energia potencial elétrica entre
eles tende a zero.

87
Fonte: Blog do Rafael Mori.

(2) À medida que os átomos começam a se aproximar, caso forças de


atração prevaleçam sobre as forças de repulsão, observamos um
abaixamento da energia potencial
(3) Os átomos atingem um estado cujo balanço entre a força de
atração e repulsão é máximo e portanto, a energia do sistema é
mínima. Os átomos tenderão a permanecer “ligados” a essa
distância.
(4) Ao tentarmos aproximar mais os átomos, observaremos o efeito das
forças de repulsão prevalecer sobre as forças de atração e a partir
daí a energia potencial do sistema será maior.
Quão maior for o fundo do poço de energia potencial (distância D), mais
energia a ligação libera e mais estável será o sistema.
Fonte: Blog do Rafael Mori.

Ligações polares
A eletronegativade
(uma nova propriedade
periódica que vamos introduzir
aqui) é a afinidade de um
átomo com os elétrons em
uma ligação. Um átomo com
eletronegatividade muito alta
(canto superior direito da
tabela) é capaz de retirar um
elétron de um átomo cuja
eletronegatividade é baixa,
como em um cabo de guerra.
A propriedade análoga a
eletronegatividade é a
eletropositividade.

88
Tendência de aumento da eletronegatividade na tabela periódica. Fonte: O mundo
da química.

Em uma molécula, a diferença de eletronegatividade entre os átomos


envolvidos resultará numa concentração de cargas negativas próxima do
elemento mais eletronegativo (regiões representadas em azul na figura
abaixo). A medida dessa concentração de cargas é chamada de momento
dipolo dado em Debyes (D).

Esquema de densidade eletronegativa do CO2 e de H2O. O sentido das setas indica a


direção de deslocamento da densidade negativa de cargas. Fonte: O mundo da
química.

Devido a questões estéricas, uma conformação de simetria pode levar


o momento dipolo resultante da molécula ser nulo. Observe o caso do CO2,
onde os átomos de oxigênio “drenam” a carga eletrônica do átomo central
de carbono em direções opostas, levando a um momento dipolo nulo. Já no
caso da água, temos uma molécula não-linear, com geometria angular
(devido a dois pares de elétrons livres no átomo de oxigênio. Os pares de
elétrons livres apresentam uma alta densidade de
carga negativa e por repulsão eletrostática, “dobra” Chamamos de elétrons livres
a molécula de água na geometria angular, fazendo aqueles pares de elétrons
com que os orbitais contendo elétrons livres e os que estão na camada de
orbitais ligados estejam a máxima distância possível. valência, mas não participam
Como as moléculas são lateralmente simétricas, o das ligações.
momento dipolo resultante da molécula aponta para
cima, como representada pela seta em azul mais
claro.
A eletronegatividade influenciará o modelo de polaridade de uma
molécula. Quando a diferença de eletronegatividade entre dois átomos que
se ligam for próxima de 3, é válido aplicarmos o modelo iônico de ligação. Se
essa diferença de eletronegativade estiver entre 1-2, podemos considerar a
ligação como covalente polar, onde os elétrons são compartilhados, mas não
de forma equitativa. Quando essa diferença é próxima de zero, temos então
uma ligação covalente apolar, como as espécies diatómicas dos elementos.
Você pode brincar de montar moléculas com diferentes
eletronegatividades e observar o que acontece em:
https://phet.colorado.edu/sims/html/molecule-polarity/latest/molecule-
polarity_en.html

A ligação iônica
Na ligação iônica ocorre uma transferência definitiva de elétrons de um
átomo (que se torna um cátion) para outro (que se torna um ânion). Devido a
interação coulômbica entre o cátion e o ânion (que são positivamente e

89
negativamente carregados, respectivamente) os átomos ficaram próximos uns
dos outros em um arranjo tal cuja carga total do arranjo é nula e as cargas
pontuais são simetricamente distribuídas de forma a minimizar os efeitos de
atração e repulsão.

Esquema da formação da ligação iônica entre átomos gasosos de Na e Cl,


representação da estrutura de Lewis do composto e a formação de uma rede de íons
Na+ e Cl- por atração eletrostática. Fonte:

Uma propriedade importante nas ligações iônicas é a diferença de


eletronegativade. A ligação iônica ocorre somente a partir de uma certa
diferença de eletronegativade entre os átomos participantes da ligação. Você
já pode concluir então que as ligações iônicas ocorrem entre metais e
ametais.
Os compostos iônicos são
em sua grande maioria sólidos,
chamados também de sólidos
iônicos, e apresentam
geralmente alto ponto de fusão.
Isso acontece porque na
conformação sólida os átomos
ionizados estão mais próximos
entre si, e é requerida uma
energia muito elevada para
separá-los (devido a atração
Exemplos de sólidos iônicos e seus arranjos eletrostática das cargas
cristalinos. Fonte: Mundo educação.
opostas). Essas ligações de
natureza elétrica dão origem
aos retículos cristalinos, uma unidade geométrica bem definida que se repete
no arranjo molecular iônico para formar o sólido macroscópico.
Casa sólido iônico se arranja de forma a encontrar uma distância entre
núcleos que favoreça a energia do sistema (energia mais baixa). Veja o caso
do NaCl. Podemos descrever a energia potencial do sistema iônico utilizando
a lei de Coulomb (numa versão simplificada para ligações químicas):
𝑘𝐽 (𝑍1 𝑒)(𝑍2 𝑒) 𝟏𝟐𝟖𝟗, 𝟒 𝒁𝟏 𝒁𝟐
𝑈 ( )= =
𝑚𝑜𝑙 4𝜋𝜖0 𝑅 𝑹(Å)

90
Sabemos que a energia liberada da reação de Na e Cl será a
diferença entre a energia de ionização (para retirar um elétron) de sódio pela
energia da afinidade eletrônica (a energia liberada ao receber um elétron) de
cloro.
+
𝑁𝑎(𝑔) + 𝐶𝑙(𝑔) → 𝑁𝑎(𝑔) + 𝐶𝑙𝑔−

Δ𝐸0 = 𝐸𝑖 (𝑁𝑎) − 𝐸𝑎𝑒 (𝐶𝑙) = 146,8 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙


Se fizermos que U = 146,8 kJ/mol, então temos que R = 9,46 Å.
Essa reação precisa absorver energia para acontecer. Em linhas gerais,
não tem razão para que ela aconteça. Porém a agregação dos íons da forma
gasosa para a forma sólida libera uma grande quantidade de energia.
+
𝑁𝑎(𝑔) + 𝐶𝑙𝑔− → 𝑁𝑎𝐶𝑙𝑠 𝛥𝐸 = − 787 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙

Agora você entende porque essa reação acontece? Ao final do


processo, muita energia é liberada (147 -787 = - 640 kJ/mol).

Observe que a ligação iônica


requer uma alta energia para
que a ligação seja desfeita.
Em outras palavras, ela é
muito estável.

No estado gasoso, os átomos podem ocorrer livremente a distâncias


muitos maiores. Ao considerarmos que os átomos de Na e Cl fazem uma
ligação covalente entre si, podemos observar que a distância de separação
entre os átomos não promoveria um abaixamento significativo da energia se
comparado uma ligação covalente (cuja atração eletrostática rege o
processo). Portanto, conseguimos utilizar o modelo de ligação iônica para
descrever as características da ligação do NaCl.

Sólidos iônicos e a energia de rede


Tipos de sólidos
Você já viu que os átomos de sódio e cloro
Estrutura: cristalinos ou amorfos
se empacotam em um formato cúbico (CFC).
Cada átomo sofre atração dos outros átomos Forças de coesão: Moleculares
vizinhos de carga oposta e força de repulsão dos Reticulares
átomos vizinhos de mesma carga. A energia Metálicos
potencial de um átomo numa estrutura cristalina Iônicos
será a soma das contribuições de atração e

91
repulsão sobre ele. Obviamente, os átomos mais próximos de um dado átomo
na estrutura vão ter uma contribuição maior, e à medida que consideramos
átomos mais distantes na estrutura, essa contribuição diminui.
Existe uma ciência que se dedica a estudar essas formas cristalinas,
chamada cristalografia. Vamos ver algumas formas de retículos cristalinos
encontradas na natureza:

Células unitárias de compostos iônicos. Fonte: Blog do Rafael Mori.


Os átomos não estão em proporções reais.

O primeiro conceito importante é o número de coordenação. Ele diz


quantos átomos circundam cada átomo da estrutura cristalina, em outras
palavras, a quantidade de átomos vizinhos. Na estrutura CFC (Cúbica de Face
Centrada) do NaCl, cada átomo de Na está circundado por 6 átomos de Cl
portanto seu número de coordenação é 6. Na estrutura CCC do CsCl, cada
átomo de Cs é circundado por 8 átomos de Cl e, portanto, seu número de
coordenação é 8. Embora Na e Cs sejam da mesma família e tenham
propriedades semelhantes, seus raios iônicos diferem grandemente devido à
quantidade de camadas preenchidas com elétrons. Como o átomo de Césio
tem o raio iônico muito maior, é plausível esperar que mais átomos de Cl
consigam se arranjar ao redor de um átomo de Cs.
Existe um modelo muito simples para predizermos o número de
coordenação que ocorre em um sólido iônico chamado modelo iônico de
raios fixos. Ele é de fato, muito simples, e falha em predizer a estrutura de
cristais mais complexos pois não leva em consideração os efeitos de
polarização ou covalência. Inicialmente o modelo admite que o menor

92
potencial coulômbico será admitido com o maior número de cargas opostas
possíveis ao redor de um íon. O tamanho do íon será fundamental pois íons
menores permitem que os íons de cargas opostas fiquem mais próximos,
aumentando a repulsão entre eles. Íons maiores vão manter os íons de carga
oposta mais afastados entre si. Esse efeito é chamado de efeito da dupla
repulsão.
Para situações mais simples do tipo A1X1 (como
haletos de metais alcalinos), podemos simplesmente
↑ r+ ↑ coordenação
dividir o raio do cátion pelo raio do ânion:
Somente cátions muito
Modelo de sólidos iônicos do tipo A1X1
grandes como metais terra-
Número de
r+/r- Sistema cristalino raras podem ter nº de
coordenação
<0,155 2 Linear coordenação entre 8 e 12.
0,155 - 0,225 3 Trigonal
0,225 – 0,414 4 Tetraédrico
0,414 – 0,732 6 Octaédrico
0,732 – 1,0 8 Dodecaédrico
Hexagonal
>1,0 12
compacta

Em Química Inorgânica você estudará com mais detalhes a estrutura


de sólidos cristalinos:

Sistemas cristalinos e as 14 redes de Bravais. Fonte:


Laboratório de Física Moderna, IFGW (Unicamp).

Veja que a diferença entre os padrões


cristalinos são o comprimento das arestas e os
ângulos entre elas. Leia mais sobre o assunto
em: http://cristal.iqsc.usp.br/files/Cap-5-
C%C3%A9lula-Unitaria-e-Reticulos-de-Bravais.pdf

93
Estruturas do tipo AmXn e AmXnYp são mais complexas e não vão seguir a
regra da razão entre o raio do cátion e o raio do ânion. Veja alguns exemplos.
Número de Número de
Estrutura
Sólido iônico coordenação coordenação
cristalina
dos cátions do ânion
Fluoritas (CaF2, UO2, ThO2) 8 4 CS
Perovskitas (BaTiO3, SrZrO3, SrSnO3) 12 e 6 6 CFC
Espinélios (MgAl2O4, FeAl2O4) 4e6 4 CFC

Alguns íons também podem ocorrer com diferentes números de


coordenação pois podem se apresentar com diferentes cargas. Em geral, à
medida que a carga aumentar, seu raio iônico diminuirá e o número de
coordenação aumentará. Observe a diferença entre magnetita (FeO.Fe2O3),
hematita (∝Fe2O3) e goetita (FeO(OH)). A magnetita é um óxido de ferro
misto existindo cátions Fe2+ e Fe3+ arranjados em um sistema isométrico. A
hematita possui apenas Fe3+ em um arranjo hexagonal enquanto que a
goetita por sua vez forma um sistema ortorrômbico.

hematita
(Fe2O3)

Goetita
(FeO(OH))

Observe que o Fe na goetita


magnetita tem número de coordenação 6 (3 O
(Fe3O4) e 3OH), similarmente ao número de
coordenação na hematita, onde
podem ser vistos os octaedros cada
um com 3 octaedros vizinhos e um
quarto no plano adjacente. Já a
magnetita apresenta Fe trivalente
ocupando posições octaédricas
(NºC. = 6) bem como Fe divalente
ocupando tetraedros com nº de
coordenação 4.

Estrutura cristalina de minérios de Fe nos sistemas ortorrômbico (goetita),


hexagonal (hematita) e cúbico (magnetita). Fonte: Henriques, Andreia Bicalho (2012).

O segundo conceito que vamos abordar é a energia de rede. Em um


sólido iônico, se considerarmos um íon qualquer vamos ter uma força

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resultante de atração pelas cargas opostas e uma força resultante de
repulsão pelas cargas iguais atuando sobre ele. A energia de rede é o que
mantém os íons unidos. Quanto maior for a energia de rede, mais difícil
separar os íons da ligação.
Vamos escrever a lei de Coulomb para essas forças:
𝑄1 𝑄2 𝑄1 𝑄2
𝐸12 = − (𝐴𝑡𝑟𝑎çã𝑜) 𝐸12 = (𝑅𝑒𝑝𝑢𝑙𝑠ã𝑜)
4𝜋𝜀0 𝑑12 4𝜋𝜀0 𝑑12

Onde Q representa as cargas dos íons (Zn.é) e d12 é a distância entre os


núcleos do íon 1 e do íon 2. Lembre-se que nos sólidos iônicos, o raio do cátion
e o raio do ânion são diferentes (d12 = r+ + r-)
Se considerarmos o problema
unidimensional, podemos escrever que a
energia total é igual a
𝑄1 𝑄2 1 1 1 1
𝐸𝑇 = − (1 − + − + − ⋯ )
4𝜋𝜀0 𝑑12 2 3 4 5

E multiplicamos o valor por 2 para inserir a energia de rede do outro ln 2


lado do íon considerado para o caso unidimensional. Podemos ainda estender
o valor multiplicando pelo número de Avogadro, considerando um arranjo
tridimensional (considerando os átomos ao redor). Como d é sempre o r+ + r-,
não haverá diferença se estendemos o sistema já que os cátions e ânions se
alternam no sólido iônico. Teremos então o valor da energia de rede por mol
de sólido iônico:
𝑸𝟏 𝑸𝟐 𝑵𝑨 (𝒁𝟏 𝒁𝟐 )𝒆𝑵𝑨
𝑬𝑻 = −𝟐. 𝒍𝒏𝟐 = −𝑨
𝟒𝝅𝜺𝟎 𝒅𝟏𝟐 𝟒𝝅𝜺𝟎 𝒅𝟏𝟐
A é um valor positivo chamado de constante de Madelung, e varia
para cada tipo de ligação. No NaCl o valor é de 1,748, já no CsCl o valor é de
1,763. Observe que a energia é negativa e quão mais negativa, maior será a
energia de rede do sólido, implicando em suas propriedades físicas. Observe
que a energia de rede varia diretamente proporcional com o número
atômico e inversamente proporcional com a distância entre os núcleos dos
átomos. A constante de Madelung é fortemente influenciada pela carga dos
íons. Compare a energia de rede de alguns sólidos iônicos:
Energia de rede de sólidos iônicos (kJ/mol)
Cátion/Ânion F- Cl- Br- I- O²-
Li+ 1036 853 807 757 2925
Na+ 923 787 747 704 2695
K+ 821 715 682 649 2360
Be2+ 3505 3020 2914 2800 4443
Mg2+ 2957 2524 2440 2327 3791
Ca2+ 2630 2258 2176 2074 3401
Al3+ 5215 5492 5361 5218 15916

Observe que ao aumentarmos o raio iônico dos cátions e ânions de


mesma família, a energia de rede diminui, conforme prevemos anteriormente.
Isso ocorre pois os centros dos átomos estão mais separados, experimentando

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uma menor força de atração resultante. Isso é equivalente dizer que a força
da ligação iônica diminui. Observe também que ao aumentarmos as cargas
tanto dos ânions (de -1 para -2) quanto dos cátions (de +1 para +2 e +3) temos
um aumento da constante de Madelung que aumenta proporcionalmente a
energia de rede. Lembre-se que por convenção representamos eles valores
de forma negativa: energia liberada ao desfazer a ligação iônica.
Vamos pensar na influência da energia de rede nas propriedades dos
sólidos iônicos. Qual sólido iônico terá maior resistência à choques mecânicos,
maior solubilidade e maior ponto de fusão: MgO, NaCl ou Al2O3? Ordene em
ordem crescente por propriedade e pesquise na internet os PFs e solubilidade
em água dos compostos.
E como podemos medir a energia de rede? Não podemos, na
verdade. O que podemos fazer é utilizar a Lei de Hess para avaliar os
processos que ocorrem com as espécies químicas (de acordo com suas
energias conhecidas) e aplicar o diagrama de Born-Haber. A energia
associada a um processo pode ser igualada a soma das energias envolvidas
nas etapas. Observe os processos correspondentes a formação de NaCl.

Etapa ΔH (kJ/mol)

Reação de Na(s) com ½ Cl2(g) ΔH0 = -411

Vaporização de sódio ΔH1 = 107


Na(s) → Na(g)
*Atomização do Cl2 ΔH2 = 121
½ Cl2(g) → Cl(g)
1º E. Ionização do Na (g) ΔH3 = 502
Na(g) → Na+(g) + 1é
1º Afinidade eletrônica do Cl ΔH4 = -786
Cl(g) + é → Cl-(g)
Abaixamento da energia ∆𝐻0
reticular do sólido iônico = ∑ 𝛥𝐻1−5
Ciclo de Born-Haber para o NaCl. Fonte: Vestibular UNESP, 2022.
*Note que a energia de atomização do Cl2 é a metade por mol, pois
estequiometricamente aqui estamos falando de meio mol de Cl2.

Observe que os processos exotérmicos que representam uma liberação


de energia são indicados com uma seta para baixo. Aqueles que consomem
energia para ocorrer são identificados com uma seta para cima e ΔH>0.
Lembre-se que uma energia negativa por convenção é energia deixando o
sistema estudado (nesse caso os átomos de cloro e sódio). Fazendo os
cálculos temos que a energia de rede do NaCl é igual a ΔH5 = -467 kJ/mol
(como dissemos, um processo bem espontâneo a condições normais de
temperatura e pressão).
Vamos então avaliar o caso da formação do CaCl2, que é bem
parecida. Inicialmente, sabemos que a entalpia de formação do CaCl2 a
partir do Ca(s) e Cl2(g) é igual a ΔH0 = -795 kJ/mol.

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A vaporização de Ca(s) para Ca(g) requer ΔH1 = 178 kJ/mol. A primeira
energia de ionização do Ca corresponde a ΔH2 = Ei(1) = 590 kJ/mol e a
segunda energia de ionização é ΔH3 =1145 kJ/mol. Note que aqui utilizamos a
primeira e a segunda energia de ionização do cálcio, pois como discutimos
anteriormente, a segunda Ei sempre será maior que a primeira. Em seguida
temos a quebra da ligação entre o Cl2 (atomização) para formação de Cl A
atomização de ½ Cl2 como vimos antes é igual a ΔH4 =121 kJ/mol. Por fim,
sabemos que a afinidade
eletrônica do Cl(g) + 1 é→
Cl-(g) é igual a ΔH5 = 2x(-
349) kJ/mol. Observe que
aqui multiplicamos o valor
por 2 pois dois átomos de
Cl recebem cada um, um
elétron. Por fim, achamos
que a energia de rede ΔH6
relacionada a entalpia da
reação de formação do
CaCl2 a partir dos íons no
estado gasoso é igual a:

∆𝐻1−6 = −795 = 178 + 590 + 1145 + 121 + 2𝑥(−349) + 𝛥𝐻6


∆𝐻0 = ∑

𝜟𝑯𝟔 = − 𝟐𝟏𝟑𝟏 𝒌𝑱/𝒎𝒐𝒍


Observe que esse valor é 4x maior que o de NaCl. Usando os
conhecimentos da primeira unidade e o que vimos até agora você deve estar
apto a prever isso. E além, explicar as propriedades de solubilidade, ponto de
fusão e ebulição comparativamente entre ambos.

Propriedades dos sólidos iônicos: solubilidade, PF e PE


Outra característica dos sólidos iônicos é a interação com solventes
polares. A água por exemplo, tem diferenças de dipolo elétrico bem
acentuadas, como comentamos anteriormente, e a força de suas cargas é
suficientemente energética para separar as ligações iônicas de um sólido
cristalino e solvatá-lo (circundá-lo de moléculas do solvente). Esse processo é
chamado dissociação iônica. Dizemos que o sólido foi dissolvido ou
dissociado.
Esquema de dissociação de NaCl em água.
Fonte: Infoescola.

As moléculas de água dissolvem


a maioria dos compostos iônicos, mas
nem todos. Alguns possuem uma
energia de ligação (energia de rede)
tão alta ou uma rede cristalina tão bem
arranjada (R muito pequeno) que a
água não consegue quebrar a atração
eletrostática (ou consegue apenas
numa extensão muito pequena para
poucos átomos) e dizemos então que o

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sólido é insolúvel. Exemplos são o CaCO3 e o AgCl, praticamente insolúveis.
Você já estudou o equilíbrio de solubilidade em Química Geral 1 e sabe que
mesmo sólidos solúveis, há um limite de sólido
que é possível dissolver, quando o equilíbrio de
solubilidade atinge o ponto de saturação.
Microscopicamente falando, todas as
moléculas de água possíveis já estão
ocupadas solvatando os íons dissociados, e
não é possível dissociar mais íons.
Podemos aplicar o diagrama de Born-
Haber a dissolução de um sal iônico e vamos
verificar que a energia das cargas parciais do
solvente precisa ser equivalente a energia de
separação dos íons ao estado gasoso (a entalpia de rede).
• Os sólidos iônicos são normalmente duros e quebradiços. Ao quebrarem
por ação de uma força mecânica, eles tendem a conservar sua
estrutura cristalina apenas diminuindo de tamanho, mas não de forma;

• Outra propriedade desses sólidos é a condução de corrente elétrica.


Como eles formam cargas que chamamos de cargas formais (a carga
positiva do cátion e a negativa do ânion), elétrons podem ser
conduzidos através delas. Portanto, soluções de sólidos iônicos
(eletrólitos) e sólidos iônicos na forma líquida, podem conduzir
eletricidade. O sólido iônico a forma sólida não é condutor devido a
estrutura fixa dos íons.

• Têm altas temperaturas de fusão e de ebulição devido à forte atração


entre os íons. Por isso, podem ser usados como material refratário;

• Oferecem muita resistência à dilatação. O aumento de volume supõe


um enfraquecimento das forças de atração iônica;
Tenha em mente que a energia de rede dos sólidos iônicos influenciará
fortemente suas propriedades de solubilidade. Quanto maior a energia de
rede, mais difícil será para um solvente solvatar os íons do sólido iônico. Revise
as propriedades que influenciam a energia de rede e como elas a
influenciam.

O efeito da polarização: corrigindo o modelo de ligação iônica


Os modelos de ligação iônica e covalente representam extremos da
ligação química e na prática o que temos são ligações que se aproximam
mais de um dos modelos. O modelo iônico é muito eficiente para descrever
ligações entre metais e não metais (com elevada diferença de
eletronegatividade). Mas essas ligações não são 100% iônicas devido ao
efeito da polarização.
Quando um átomo de Na+ se aproxima do átomo de Cl- ele tende a
deslocar a nuvem eletrônica do Cl em sua direção, distorcendo-a. Essa
distorção tem um caráter covalente (como veremos a seguir) de elétrons
sendo compartilhados. No caso do NaCl dizemos que essa ligação é cerca de
75% iônica, ou tem 75% de caráter iônico. Quanto maior for a distorção que o

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cátion provocar na nuvem eletrônica do ânion, mais polarizável esse íon será e
crescerá o caráter covalente do sólido iônico.

Regras de Fajans para a fuga do caráter iônico:


• Ânions muito grandes e com cargas mais altas tendem a ser
facilmente polarizáveis pois não conseguem “segurar” muito
bem a nuvem eletrônica de seus elétrons de valência.
• Cátions pequenos e com carga mais alta tem alto poder de
polarização pois exercem maior atração eletrostática e estão
mais próximos das nuvens eletrônicas dos ânions.
• O efeito de polarização aumenta à medida que a configuração
eletrônica se torna distinta da de gás nobre.
• Para um mesmo ânion, os compostos com maior caráter iônico
serão os de menor razão entre a carga do cátion e o raio iônico.
Veja como variam o caráter de ligações em alguns materiais e alguns
exemplos de caráter iônico de algumas cerâmicas:

Uma estimativa simples do caráter iônico de um composto pode ser


dada pela diferença de eletronegatividades entre os materiais em um
composto simples.
𝟐
%𝒄𝒂𝒓á𝒕𝒆𝒓_𝒊ô𝒏𝒊𝒄𝒐 = (𝟏 − 𝒆[−(𝟎,𝟐𝟓)(𝝌𝑨 −𝝌𝑩 ) ] ) . 𝟏𝟎𝟎

Onde 𝜒𝐴 e 𝜒𝐴 representam as eletronegatividades do cátion e do ânion,


respectivamente.
O percentual de caráter covalente será, portanto, 1 - %caráter iônico.

A ligação covalente
A grande maioria das ligações presentes nos compostos químicos é
covalente. O entendimento da ligação covalente se deu cerca de 10 anos
antes da criação formal da mecânica quântica. Nessa época, o modelo de
Bohr não era capaz de explicar esse tipo de ligação em sua completude. De
fato, elétrons são compartilhados como se as órbitas ou níveis de energia de
valência se sobreposse, mas há muitas regras que regem esse
compartilhamento.
Ligações iônicas ocorrem com elementos cuja energia de ionização é
baixa o suficiente para formar cátions e com elementos cuja energia de

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afinidade eletrônica é alta, compensando energeticamente a troca de
elétrons para a natureza. Diferentemente da ligação iônica, quando as
diferenças de eletronegatividade não são suficientes para que haja uma
transferência definitiva de um elétron do cátion para outro átomo. Quando a
diferença de eletronegatividade entre as espécies não é tão alta, dois átomos
podem superpor suas funções de onda atômicas resultando no
compartilhamento de elétrons e em uma função de onda molecular, que
corresponde aos dois átomos.
Esses elétrons são chamados elétrons ligantes e eles devem ter energia
suficiente para anular a repulsão eletroestática entre os dois núcleos.
Precisamos entender um pouco mais sobre as funções de onda atômicas e
sobre o efeito do spin eletrônico. Lewis propôs antes mesmo do entendimento
da mecânica quântica e das funções de onda que, em uma ligação
covalente, nenhum dos átomos não-metálicos “perde totalmente” o elétron
(pois a energia de ionização dos não-metais é bastante alta para a natureza).
Dentre as principais ligações covalentes destacam-se os não metais
como espécies diatômicas (H2, N2, O2, F2, Cl2, Br2, I2) e espécies poliatômicas
(P4, S8, C (diamante, grafite, fulereno, etc), Si). Moléculas são substâncias que
possuem em sua maioria (ou totalidade) ligações covalentes e permite a
formação de uma infinidade de compostos pela combinação do pequeno
grupo de não-metais da Tabela Periódica. Como esses elementos são ricos em
elétrons em sua camada de valência e obedecem a regra do octeto,
tipicamente eles farão 1, 2, 3 ou 4 ligações e poderão ter, respectivamente, 3,
2, 1 ou nenhum par de elétrons livres (aqueles na camada de valência que
não participam de ligações).
Dois elementos podem compartilhar mais de um par de elétrons
fazendo ligações múltiplas, sendo uma ligação dupla (ao compartilhar dois
pares de elétrons) ou uma ligação tripla (ao compartilhar três pares). Ligações
triplas apresentam um comprimento menor que o das ligações duplas e esses
por sua vez, menor que das ligações simples, pois mais orbitais atômicos estão
se sobrepondo aumentando a aproximação entre os átomos. Por sua vez, a
energia para quebrar uma ligação da ligação tripla é menor que a da
ligação dupla e essas, menores que da ligação simples.
Na ligação covalente, falamos da carga formal de um átomo como
sendo a carga que ele teria se a ligação fosse perfeitamente covalente
(cada par de elétrons é compartilhado igualmente por um par de átomos).
Devido a uma diferença de eletronegatividade, haverá o aparecimento de
uma carga parcial que discutimos no início dessa unidade quando falamos
de polarização. Na ligação covalente, os átomos procuram um arranjo cuja
carga formal é a menor possível pois essa conformação tem a menor energia.
Isso explica as estruturas O=C=O e N=N=O.

100
Para calcular a carga formal de um elemento usamos a fórmula:
𝑆
𝐶𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 = 𝑉 − (𝐿 + 2)

Onde V é o número de valência do átomo, L a quantidade de elétrons livres


(não ligados) em pares e S a quantidade total de elétrons compartilhados.
A carga formal de um composto
covalente será a soma das cargas formais dos
átomos que o compõe. No caso de um ânion
ou um cátion com ligações covalentes, a soma
das cargas formais dos átomos será igual a
carga formal ânion. Veja o caso do íon
carbonato: [CO3]2-. Por não ser um composto
eletricamente neutro, a soma das cargas
formais do átomo de carbono e dos três átomos
de O terá que ser -2.
Algumas ligações covalentes são feitas com um único átomo
doando um par de elétrons: a ligação covalente coordenada (outrora
chamada ligação covalente dativa). O trifluoreto de boro BF3 é estável
mesmo o boro tendo apenas 3 elétrons na camada de valência. Em
contato com F-, o boro forma o BF4- (tetrafluorborato), completando seu
octeto com um par de elétrons livres que veio totalmente do íon fluoreto. O
mesmo ocorre com a amônia (NH3) se ligando ao BF3. O par de elétrons
livres do nitrogênio é doado ao Boro para formar H3NBF3. Esse
comportamento é comum com os haletos de elementos leve da família 3, B
e Al. O Al2Cl6 é estável até 200°C, com dois átomos de Cl fazendo ligações
covalentes coordenadas antes de darem origem ao AlCl3.

As camadas de valência expandidas e contraídas


Elementos do período 3 em diante possuem orbitais d vazios ou
semipreenchidos de baixa energia (próxima a energia da camada de
valência, como vimos anteriormente) que podem participar de ligações,
aumentando a quantidade de elétrons envolvidos. Chamamos esse efeito
do octeto expandido, sendo possível acomodar 10, 12 ou até 14 elétrons na
camada de valência de um átomo central. Isso dependerá da energia dos
orbitais vazios do nível d e do tamanho do átomo. Átomos suficientemente
grandes podem acomodar muitas ligações ao seu redor. Muito
frequentemente acontecem com o fósforo e o enxofre. Certamente não
ocorre com N e O. Veja os exemplos abaixo com o ácido sulfúrico e
fosfórico:

101
Compostos de enxofre e fósforo que são exceções à regra do octeto.
Fonte: Manual da química.
O tamanho dos ligantes também é importante. Com
o Fluor (o menor dos halogênios, o enxofre consegue
acomodar até 6 ligações covalentes formando o
hexafluoreto de enxofre e expandido sua valência para 12
elétrons.
Alguns elementos do segundo e terceiro período da
tabela periódica sofrem o efeito oposto, chamado de contração do
octeto. Já vimos o exemplo do boro acima ao falarmos de ligações
covalentes coordenadas, e o Be e os haletos de Al são outros exemplos
comuns. Observe que no dicloreto de berílio o Be é estabilizado com uma
camada de valência com 4 elétrons enquanto que no cloreto de alumínio
a valência do Al tem apenas 6 elétrons.

Exemplos de contração do octeto. Fonte: Manual da química.

Radicais químicos e reatividade


Radicais são moléculas com pelo menos um átomo contendo um
elétron em número ímpar, um elétron com spin não-emparelhado. Essas
espécies são altamente reativas e podem ser produzidas a partir da quebra
homolítica de uma ligação covalente, quando os par de elétrons
compartilhados é separado. Essa quebra pode ser alcançada ao ser
promovida a vibração intensa das ligações excitadas por radiação
eletromagnética ou calor.

Os radicais tem um papel importante nas nossas vidas. Radicais de


oxigênio (Hidroxilas ∙OH) são gerados pela clivagem homolítica do peróxido
de hidrogênio quando expostos a radiação UV ou metais com transição de
energia semelhante ao do Fe3+ para o Fe2+. Esses radicais são amplamente

102
empregados na oxidação de matéria orgânica poluente da água. Em
contrapartida, radicais de oxigênio também podem ser formados pela
degradação de alimentos no nosso corpo, e esses radicais tem potencial
de destruição dos nossos componentes celulares. Antioxidantes são
substâncias que reagem rapidamente com os radicais livres evitando danos
e envelhecimento precoce. Vitaminas A, C e E são bons antioxidantes que
nutricionistas e dermatologistas estão sempre dispostos a recomendar.

Ressonância
Como vimos anteriormente, podemos aplicar a equação da
partícula na caixa para um sistema de ligações conjugadas pois os elétrons
compartilhados nessas ligações podem fluir entre elas. Na verdade,
evidências experimentais mostraram que elétrons envolvidos em sistemas
deslocalizados sofrem o efeito de ressonância, fazendo com que as
ligações que participam desse sistema tenham um caráter híbrido, um
caráter que transita entre as características de uma ligação simples e uma
ligação dupla.

O fenômeno de ressonância espalha a densidade eletrônica das


ligações duplas ao longo do sistema, abaixando sua energia. Em outras
palavras, tornando-o mais estável/menos reativo. A evidência principal é
de que em uma estrutura de ressonância, o comprimento das ligações
medidos experimental-mente não é igual ao comprimento de ligações
simples e duplas, mas sim um comprimento intermediário entre elas. O
exemplo clássico é o benzeno, cujas ligações demonstraram ter 139 pm de
comprimento. Uma ligação simples C-C apresenta 154 nm enquanto que
uma ligação dupla C=C apresenta 134 pm.

Em Química Orgânica
você aprenderá sobre
fatores que influenciam
na estabilidade de uma
estrutura de
ressonância.

103
A ressonância atua abaixando a energia correspondente a molécula,
tornando o sistema mais favorável a natureza. As estruturas de ressonância
influenciam na estabilidade de diversas espécies orgânicas com cargas formais
ou parciais e em propriedades de acidez e basicidade. No entanto, existem um
número limitado de estruturas de ressonância para cada composto, e algumas
regras precisam ser seguidas para se desenhar estruturas de ressonância. As
principais dela são:
1. Somente elétrons podem ser movidos.
2. Somente os elétrons pi e pares de elétrons livres podem ser movidos.
3. O número total de elétrons não deve mudar.
4. O número de elétrons emparelhados e desemparelhados não deve
mudar.
5. Elétrons pi podem ser movidos em direção a uma carga positiva ou
ligação pi;
6. Um par de elétrons livres podem ser movido em direção a uma
ligação pi;
7. Um único elétron não ligante (radicais) pode ser movido em direção a
uma ligação pi.
Lembre-se: Elétrons sempre se movem em
direção a um carbono com hibridização
sp², mas nunca sp³. Por isso, as estruturas
de ressonância só ocorrem com sistemas
de ligações duplas conjugadas.

O efeito da eletronegatividade e a
força das ligações
Já falamos anteriormente que a natureza não delimita uma fronteira
muito clara entre a ligação iônica e a ligação covalente. Isso acontece
porque todas as ligações são híbridos de ressonância entre estruturas
puramente covalentes e puramente iônicas.

No caso de uma ligação entre átomos iguais, não haverá diferenças


de afinidade eletrônica e, portanto, não haverá diferença de
eletronegatividade. Como vimos, essa ligação é chamada de ligação
covalente apolar e ela terá um momento de dipolo elétrico nulo, como no
caso da ligação no Cl2. Nesse caso, cada estrutura de ressonância tem a
mesma contribuição energética para o híbrido de ressonância.
Caso os átomos sejam diferentes, haverá uma diferença de
eletronegatividade que causa uma das estruturas de ressonância ter uma
menor energia e um momento de dipolo elétrico diferente de zero. A

104
ligação terá cargas parciais δ que podem ser influenciadas pela atuação
de um campo magnético e maior serão as cargas parciais quanto maior for
a diferença de eletronegatividade entre os átomos da ligação. Em outras
palavras, a diferença de eletronegatividade será a força motriz do cabo de
guerra entre os elétrons da ligação compartilhada.
Como foi dito anteriormente, uma diferença de eletronegatividade
de 2,0 ou mais tem um maior caráter iônico que covalente. O contrário
também é válido. Ligações entre átomos com diferença de
eletronegatividade menor que 2,0 apresentarão um maior caráter
covalente, embora o caráter iônico também estará lá, porque uma das
estruturas que contribuem para o híbrido de ressonância será a estrutura
iônica. Assim como é possível estimar para a ligação covalente, também é
possível estimar o %caráter iônico da ligação covalente. Mas esses modelos
não serão foco desse curso.
Outras duas propriedades associadas as ligações covalentes são a
força de ligação e o comprimento da ligação. De modo geral, elas são
inversamente proporcionais, umas as outras. A força de uma ligação é
medida pela energia de dissociação (ED), a energia para separar dois
átomos ligados. Veja alguns
exemplos: Observe que a ligação covalente mais
ED forte conhecida (C≡O) é da ordem de
Ligação
(kJ/mol) ligações iônicas típicas.
C≡O 1062
C-H
~400 Você é capaz de explicar porque
(hidrocarbonetos)
as forças de ligação estão nessa
I-I (I2) 139 ordem e prever a ordem de
comprimento dessas ligações.

Observe uma tabela mais completa com valores “típicos” médios


para ligações covalentes (não são precisos e dependem da estrutura
completa).

105
Ligação ED (kJ/mol) Quais fatores você reconhece que influenciam a
C-H 412 força de uma ligação?
C-C 348 Veja que a ordem da ligação influencia.
C=C 612 Ligações triplas são mais fortes que duplas e
C=C* 518 duplas mais fortes que simples (não
C≡C 837 proporcionalmente, devido aos efeitos de
C-O 360 repulsão entre os pares de elétrons
C=0 743 compartilhados).
C-N 305
C-F 484 ↑ ordem de ligação ↑ ED (kJ/mol)
C-Cl 338 Veja que o tamanho dos átomos também
C-Br 279 influencia, como já vimos anteriormente.
C-I 238
N-H 388 ↑ raio covalente ↓ ED (kJ/mol)
N-N 163
*Observe que na ligação C=C do benzeno, tem
N=N 409
um valor intermediário entre a ligação C-C e C=C
N-O 210 em cadeias alifáticas, devido ao híbrido de
N=O 630 ressonância (como falamos anteriormente).
N-F 195
N-Cl 381 Pares de elétrons livres também contribuem para
O-H 463 a repulsão entre os átomos, enfraquecendo a
O-O 157 ligação como pode ser comparado entre as
O=O 493,6 energias de dissociação de N-H e N-N:
*benzeno
↑ elétrons livres ↓ ED (kJ/mol)

Você já sabe que o comprimento da


ligação é inversamente proporcional a ED.
Ele pode ser medido experimentalmente a
partir de técnicas de espectroscopia ou
difração de raios. Vamos então definir
formalmente o conceito de raio covalente:
a contribuição de distância de ligação de
um átomo em uma ligação covalente. A
distância/o comprimento da ligação será,
portanto, a soma dos raios covalentes dos
dois átomos, e como você já viu, é
influenciada fortemente pela ordem de
ligação e pelo período do átomo (leve ou
pesado). O raio covalente cresce de baixo para cima e da direita para a
esquerda na tabela periódica (assim como os raios iônico e atômico)
devido ao efeito de blindagem nuclear efetiva.
*falaremos de raio covalente apenas para os elementos do bloco p.

O modelo VSEPR e a Geometria Molecular


Ligações covalentes dão origens a dois tipos de compostos. Os sólidos
covalentes e os compostos moleculares. Sólidos covalente possuem retículos

106
cristalinos bem definidos assim com os sólidos iônicos que vimos anteriormente.
Exemplos de sólidos covalentes são o diamante e a sílica.

Estruturas de sólidos covalentes. Cn (carbono diamante), Cn (carbono grafite),


SiO2 (óxido de silício) e Polipropileno. Fonte: Google Imagens.

Compostos moleculares são unidos por ligação covalente, mas não


possuem um arranjo tridimensional, mas sim uma estrutura limitada como vimos
para a H2O, HCl, H2SO4. As moléculas serão unidas por forças mais fracas que
uma ligação química, que chamamos de interações intermoleculares, e
veremos ao final dessa unidade quais são elas. O átomo central geralmente é
aquele que possui a menor energia de ionização. Esse arranjo frequentemente
conduz a um arranjo de menor energia pois o átomo central compartilha mais
elétrons certamente.

Um modelo simples e funcional para descrever a geometria de um


composto molecular chama-se VSEPR, do inglês Valence-shell electron-pair
repulsion model. Ele estabelece que as ligações e elétrons não ligantes da
camada de valência se distanciam uma das outras o máximo possível (com o
maior ângulo) mantendo a densidade eletrônica das ligações o mais
afastadas possível entre si, bem como os núcleos dos átomos ligados.

107
Estruturas de Lewis demonstram facilmente o princípio. Veja algumas
estruturas possíveis. Ligações múltiplas não podem ser tomadas em
consideração no modelo VSEPR.

Arranjos eletrônicos de compostos moleculares de acordo com o modelo


VSEPR. Fonte: Descomplica.

Os ângulos entre as ligações podem variar um pouco de composto


para composto com a mesma geometria. Dentre os fatores que vão influenciar
nessa variação estão o tamanho dos átomos e as diferenças de
eletronegatividade, bem como a presença de pares de elétrons livres. Em
geral, a força de repulsão diminui na seguinte ordem:

2 pares de elétrons livres entre si > 1 par de elétrons livres e 1 par ligante > 2
pares de elétrons ligantes

Logo, pares de elétrons livres tem “maior poder” de


distanciar as ligações. Por isso o ângulo entre os pares
ligantes do hidrogênio da água é menor que 109,5°
observado na geometria tetraédrica (efeito dos dois pares
de elétrons livres do O). Esse modelo de ligação não é
capaz de prever essas pequenas distorções em função dos
pares de elétrons não ligantes.

Note que o modelo de geometria molecular VSEPR também não é


capaz de demonstrar a ordem das ligações nem os pares de elétrons não
ligantes. Você deve ser capaz de prever a geometria das moléculas a partir
da quantidade de elétrons ligantes e pares de elétrons não ligantes. Vamos
aprofundar mais outros conceitos para explicar melhor o formato das
moléculas.

Mapa de potencial eletrostático de diferentes moléculas. As cores vermelhas


indicam grande densidade eletronegativa e as cores azuis indicam regiões
pobres em elétrons. Fonte: Química estrutural blogspot.

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A Teoria de Ligação de Valência (TLV)
O modelo VSEPR descreve muito bem a geometria das moléculas
qualitativamente, mas somente um modelo mecânico-quântico poderia ser
capaz de descrever quantitativamente os ângulos entre as ligações e as forças
de repulsão entre as nuvens eletrônicas. Veremos inicialmente o modelo da
teoria de ligação de valência, de Linus Pauling (The nature of Chemical Bond,
1960). Para continuarmos a partir daqui você precisa lembrar que os elétrons
não estão fixos na eletrosfera do átomo nem sua posição pode ser
determinada com precisão. Claro que Lewis ainda não sabia disso quando
previu o modelo VSEPR.
Pois bem, na teoria de ligação de valência, dois orbitais atômicos (que
vimos serem descritos pensa função de densidade de probabilidade Ψ²) se
superpõem para formar um orbital molecular que contém os dois elétrons
ligantes emparelhados ↑↓ localizados entre os dois núcleos. Podemos pensar
que quanto mais volume dois orbitais conseguem se sobrepor, mais forte será a
ligação (já falamos dos aspectos quantitativos da força de ligação). Vamos
olhar para a ligação covalente mais simples, o H2. Temos dois orbitais 1s com
um elétron que se fundem/sobrepõem, formando o orbital molecular e uma
ligação que chamamos de ligação σ.

É lógico utilizarmos o diagrama de potencial coulômbico entre as duas


moléculas em uma ligação covalente, assim como usamos para a ligação
iônica para prevermos os raios do cátion e do ânion. A conformação mais
estável, será a de menor energia quando os orbitais se sobrepõem a uma tal
distância que as forças de atração são
maximizadas e as de repulsão minimizadas (o
comprimento da ligação covalente). Orbitais s
também podem formar ligações com orbitais
p. É o caso dos haletos de hidrogênio.
Teremos um orbital p semipreenchido se
sobrepondo a um orbital 1s do hidrogênio,
como mostra a figura abaixo formando os
compostos HF, HCl, HBr e HI.
Exemplo de sobreposição de orbitais para
formação da ligação σ. Fonte: Brasil Escola.

109
Observe que ao longo de um eixo z, os orbitais da ligação sigma se
sobrepõem perpendicularmente. A ligação s-p tem uma forma levemente
diferente da ligação s-s, embora seja igual se olharmos ao longo do eixo
internuclear da ligação (z). E as ligações múltiplas que
ocorrem com os orbitais p? Após formar uma ligação σ
com o orbital pz, não é possível estericamente sobrepor
outro orbital p na mesma direção da ligação (pois como
vimos, os orbitais p tem os lóbulos orientados em eixos
diferentes).
Então pra onde vão as densidades de
probabilidade das ligações dupla e tripla? De acordo
com a TLV, um novo tipo de ligação precisa ser formado.
As ligações múltiplas são formadas pela sobreposição
lateral dos orbitais px e py e é chamada ligação π.

Esquema da formação de uma ligação π (à esquerdo) e ao lado direito o exemplo


da molécula de eteno demonstrando as ligações σ e π (à direita).
Fonte: USP e Portal Conhecimento Científico.

Note que a ligação σ não gera planos nodais, enquanto que o produto
da ligação π são duas regiões de densidade de probabilidade contendo um
plano nodal sobre o eixo internuclear. Podemos imaginar o porquê as ligações
π são mais fracas agora. Por razões estéricas, podemos observar que a
superposição dos orbitais não é tão eficiente quanto na mesma ligação σ.
Também por questões estéricas você pode notar que não é possível formar
duas ligações σ entre o mesmo par de átomos.
Toda ligação covalente simples é σ; uma ligação dupla é composta por
uma ligação σ e uma ligação π; uma ligação tripla é composta por uma
ligação σ e duas ligações π. Observe a molécula do etino (as duas ligações pi
representadas pelas densidades de probabilidade lilás e azul e as ligações
sigma C-C e C-H pelas densidades de probabilidade amarelas).

À medida que a ordem de ligação


cresce, mais nuvens eletrônicas estão
se sobrepondo, aproximando os
átomos da ligação. Por isso a ligação
tripla é mais curta que a dupla, que é
mais curta que a ligação simples.

Etino: Ligações químicas.

110
De acordo com a TLV, admite-se que para a ligação ocorrer, existe uma
posição adequada que os orbitais precisam se sobrepor, caso contrário não
haverá a formação da ligação. Isso explica porque você estudou em QG 1
que um dos fatores que afeta a cinética da reação química é a posição do
choque das moléculas.

Lembre-se que a força de ligação depende da superposição de orbitais.


Quanto maior a superposição, menor será o maior será a força da ligação.

Hibridização dos orbitais atômicos


A TLV utiliza a mecânica quântica para explicar a ligação covalente e
explica ainda a geometria das moléculas, em consonância com o modelo
VSEPR, além de introduzir o princípio que faz com que os pares de elétrons não-
ligantes tenham maior influência nos ângulos de ligação. Porém algumas
lacunas ainda restam. De acordo com a TLV os orbitais com elétrons
desemparelhados podem se superpor para formar ligações compartilhando
elétrons em uma região entre os dois núcleos. Então como é possível o carbono
fazer quatro ligações se ele tem somente dois orbitais p com elétrons
desemparelhados no estado fundamental? Observe o que acontece:

Diagrama de caixas demonstrando a hibridização sp³ do carbono e exemplo da


estrutura do metano.

111
Na realidade a energia para promover um elétron do nível 2s para o
nível 2p é bem pequena (inclusive abaixada ainda mais por razões de simetria).
E ao fazer ligações químicas, os átomos liberam energia. Para a natureza, o
gasto energético de elevar um elétron do nível 2s para o nível 2p do carbono é
mais do que compensado quando se formam 4 ligações sigma C-H, como no
caso do metano. Daí surge uma outra questão: porque as quatro ligações do
metano são exatamente iguais (comprimento, força e ângulo)? Se temos um
elétron no orbital s e 3 elétrons em orbitais p, uma das ligações σ deveria
apresentar uma diferença das outras, ainda que pequena, pois vimos que o
orbital s tem uma energia diferente do orbital p. Aqui, precisaremos introduzir o
conceito de hibridização.
Os orbitais são ondas de densidade Aqui já vamos começar a falar dos
eletrônica centradas no núcleo. Ao se orbitais moleculares da teoria TOM.
ligarem, orbitais atômicos irão produzir De forma simples, imagine que
arranjos com pontos de interseção entre si, quando dois orbitais atômicos se
chamados de orbitais híbridos. No metano, sobrepõem para formar uma
1 orbital atômico s e 3 orbitais atômicos p ligação, são formados dois orbitais
interagem entre si produzindo 4 novos moleculares resultantes: um de
orbitais moleculares com propriedades energia mais baixa e outro de
intermediárias entre o orbital s e o orbital p. energia mais atla.
É como se cada novo orbital molecular
agora fosse 25% s e 75% p, e dizemos que
nesse caso, o carbono central tem a hibridização sp3. Cada um dos 4 orbitais
moleculares sp³ forma então uma ligação com um orbital s do átomo de H em
geometria tetraédrica.
Para o carbono com ligações múltiplas, teremos diferentes hibridizações.
Tome de exemplo o eteno e o etino. No eteno, um orbital s é “misturado” com
2 orbitais p, gerando 3 orbitais sp² (e naturalmente o quarto orbital será um
orbital p puro que fará uma ligação múltipla, a dupla ligação do eteno). No
etino, apenas um orbital s é hibridizado com um orbital p, gerando 2 orbitais
moleculares sp (e outros dois orbitais atômicos p puros que participarão da
ligação dupla e tripla cada um). A hibridização dos orbitais gera sempre
ligações σ, nunca ligações π. Esse fenômeno não é restrito ao carbono. Veja
como ocorre a hibridização do boro:

Veja que a hibridização sp² leva a uma geometria trigonal placar do


átomo central de B e C, enquanto que a geometria sp a um arranjo linear.
Orbitais d também participam de ligações e podem ser hibridizados em átomos
específicos (reveja o conceito do octeto expandido). Podemos de antemão já

112
realizar uma associação entre a hibridação e a geometria molecular do átomo
central:

Vamos praticar com algumas moléculas. Qual a hibridação do Be


(Z=4) no BeCl2?

Qual a hibridização do átomo de P (Z=15) no PF5? Dica: orbitais d do


P estarão envolvidos.

113
A hibridização do B será sp e P será sp³d.
O carbono é um composto atípico e sua característica tetravalente
permite que ele forme uma infinidade de compostos de cadeias curtas até
cadeias bem longas. Nem outros elementos da família 14 apresentam essa
versatilidade. Você consegue imaginar o porquê?
Uma grande quantidade de compostos de carbono contém ligações
duplas e triplas, e uma grande quantidade de compostos tem ligações duplas
em sistemas conjugados. A interação entre os orbitais p puros em ligações
múltiplas é dificultada em átomos do 3º período em diante (com poucas
exceções), devido ao tamanho desses átomos. Por isso os elementos mais
pesados não são capazes de formas duplas e triplas ligações. Uma
característica importante das ligações múltiplas é que elas restringem a
rotação dos átomos na ligação (pois um grau de rotação elevado
necessariamente teria que quebrar a ligação pi).

Rotação livre na molécula de etano e restrita na molécula de eteno.

Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM)


Vamos agora introduzir a TOM. Você já sabe que a TOM é baseada na
mecânica quântica e que ela difere da LTV porque as regiões de densidade
de probabilidade não somente se sobrepõem, mas elas interagem entre si
formando novos orbitais moleculares. Vimos também que N orbitais atômicos
produzirão N orbitais moleculares. Outra diferença é que na TLV as ligações
estão localizadas entre os dois núcleos enquanto que na TOM as ligações
podem ser deslocalizadas e conectar mais que dois núcleos. A TOM é
atualmente a teoria mais desenvolvida da ligação covalente pois explica o
paramagnetismo de algumas substâncias que não tem elétrons
desemparelhados (de acordo com a VSEPR e LTV), como O2, explica porque
algumas moléculas são coloridas devido ao seu sistema de deslocalização de
elétrons e explica a razão por trás de compostos
deficientes em elétrons como o diborano B2H6.
Diborano (B2H6). Note os átomos de H fazendo uma ponte
entre os átomos de B.

114
Os orbitais moleculares se formam a partir da superposição dos orbitais
atômicos da camada de valência dos átomos. Vamos olhar para o H2 para
entendermos melhor. Observe a formação de uma região de densidade
eletrônica (em c) relativa à interferência construtiva das funções de onda de
cada orbital 1s.

De acordo com a TOM, quando dois orbitais atômicos se superporem, 2


novos orbitais são gerados referentes (1) a interferência construtiva das funções
de onda (maximizando a nuvem de densidade de probabilidade dos elétrons)
e (2) a interferência destrutiva entre as amplitudes das funções de densidade
de probabilidade do elétron. O (1) chamamos de orbital ligante. O (2)
chamamos de orbital anti-ligante.

𝜓 = 𝜓𝐴1𝑠 − 𝜓𝐵1𝑠
𝜓 = 𝜓𝐴1𝑠 + 𝜓𝐵1𝑠

Observe que o orbital ligante é um orbital molecular que não


apresenta nós e está associado a um abaixamento de energia se
comparado a qualquer um dos orbitais atômicos. Analogamente o orbital
antiligante apresenta uma superfície nodal e a combinação dos orbitais
atômicas leva formação de um orbital
molecular de energia mais alta. O orbital ligante
do H2 será descrito como σ1s e o orbital
antiligante σ1s*. Como temos apenas dois
elétrons envolvidos, esse elétron preencherá o
orbital σ1s. De acordo com a TOM, a
configuração eletrônica de H2 é (σ1s)².
No caso do He2, uma molécula
hipotética, teríamos a formação dos mesmos

115
orbitais moleculares σ1s e σ1s*, mas ambos estarão preenchidos já que
temos 4 elétrons envolvidos. Isso resultaria numa configuração eletrônica tal
que: He2 (σ1s)² (σ1s*)².
O conceito de ordem de ligação também vale para a TOM, e ele
deve ser equivalente ao definido pela TLV. De acordo com a TOM:

(𝒆𝒍é𝒕𝒓𝒐𝒏𝒔 𝒍𝒊𝒈𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔−𝒆𝒍é𝒕𝒓𝒐𝒏𝒔 𝒂𝒏𝒕𝒊𝒍𝒊𝒈𝒂𝒏𝒕𝒆𝒔)


𝑶𝒓𝒅𝒆𝒎𝒍𝒊𝒈𝒂çã𝒐 = 𝟐

Observe que para o H2, 2 elétrons ocupam orbitais ligantes e 0


elétrons ocupam orbitais antiligantes. Portanto a ordem de ligação é 1,
equivalente a TLV para uma ligação simples. Para o H2, teremos 2 elétrons
ligantes e 2 não ligantes, fazendo com que a ordem de ligação seja 0. Por
isso a molécula He2 não existe.
E por isso também falamos anteriormente que podem haver ordens e
ligação fracionárias. Você consegue estimar a ordem de ligação do H2+?
Vamos ver o que ocorre para o Li2 e o Be2. O Li2 tem um total de 6
elétrons e o Be2 tem um total de 8 elétrons. Combinando os OAs em OMs,
temos em ambos os casos 2 orbitais 1s e 2 orbitais 2s gerando 4 OMs (dois
ligantes e dois antiligantes).

Aqui você deve ser capaz de dizer porque a


molécula de Be2 não existe.
Note que de acordo com a
Vamos agora passar para orbitais mais TOM, todos os orbitais
complexos. Em átomos maiores, as ligações atômicos de um átomo se
poderão ocorrer entre orbitais s-p e p-p e nesses sobrepõe para formar
casos, orbitais moleculares também serão orbitais moleculares,
formados ao se formar uma ligação. diferente da TLV, que só
Veja abaixo o esquema de formação de envolve os orbitais da
orbitais moleculares p-p: camada de valência.

Lembre-se que vimos que os OAs do tipo p podem se sobrepor de duas


formas:

Frontalmente para formar ligações σ

Lateralmente para formar ligações π

116
Formação de orbitais moleculares a partir de orbitais atômicos 2p (à esquerda) e
diagrama de caixas típico com os respectivos níveis de energia (à direita).

Observe que os OMs π2p e π2p* são duplamente degenerados entre si.
Observe também a forma dos orbitais e note que, quanto menos regiões
nodais, menor será a energia do orbital associada (que está em conformidade
com a TLV). Já vimos o que acontece entre Be2 e Li2. Vamos olhar agora o que
ocorre nas outras moléculas diatômicas homonucleares do segundo período
que envolvem a formação de OMs do tipo p.

Esquema de diagrama de caixas moléculas diatômicas homonucleares do 2º período.

117
Isso acontece porque quando o número
atômico diminui, a probabilidade do OA 2s
interagir com a do OA 2p aumenta,
consequentemente a energia de OM σ2s
diminui e OM σ2p aumenta. Para B2, C2 e N2 a
interação 2s-2p é grande o suficiente para que
OM π2p tenha menor energia que OM σ2p.
Agora vamos ver esses diagramas
aplicados ao B2, C2, N2, O2, F2 e Ne2 (os dois
últimos estão em branco de presente para
você):

Como exercício, escreva a configuração eletrônica de acordo com a


TOM para todos eles e calcule as ordens de ligação. A do B2 será dada como
exemplo.
Boro molecular (B2)
LUMO: Lowest Unnocupied Molecular Orbital
Configuração eletrônica:
HOMO: Highest Occupied Molecular Orbital

Ordem de ligação: (4-2)/2 = 1


Confira as respostas na página 117.
Moléculas heteronucleares e poliatômicas
Vimos inicialmente a aplicação do modelo TOM para o H2 e em seguida
para moléculas diatômicas homonucleares (moléculas apolares). Se falarmos
de ligações mais complexas entre moléculas diferentes, certamente é de se
esperar que o trabalho matemático na estimativa de energia dos orbitais
moleculares seja mais complexo. Na verdade, ele é muito mais complexo e, em

118
geral, envolve integrais numéricas resolvidas apenas por computadores de alta
performance. Um dos métodos mais utilizados é o método da Combinação
Linear de Orbitais Atômicos (CLOA-OM ou LCAO-MO, da sigla em inglês)
combinado ao método do campo auto-consistente de Hartree-Fock. Não
vamos entrar em detalhe na tipologia desses cálculos, porém é necessário que
você saiba que esse é um ramo da química que ainda está em
desenvolvimento, e existem muitas oportunidades de pesquisa nessa área.
Apesar de levar em consideração no cálculo da energia dos OMs as energias
potenciais de atração com os núcleos, de repulsão com os outros elétrons e as
energias cinéticas dos elétrons, o modelo de Hartree-Fock apresenta valores
não tão satisfatórios para moléculas reais.
Para uma molécula diatômica heteronuclear podemos esperar que a
equação resultante da interferência construtiva dos OAs leve em consideração
a contribuição da diferença de eletronegativade entre os átomos A e B.
𝜓 = 𝑐𝐴 𝜓𝐴1𝑠 + 𝑐𝐵 𝜓𝐵1𝑠
Na molécula de HF, por exemplo, sabemos que F é bem mais
eletronegativo que H e que se espera que a energia do OM seja mais próxima
da energia de um OA F 2p, já que os elétrons serão mais fortemente atraídos
pelo F. A energia do OA H 1s é igual a -0,500 u.a. (como vimos na unidade
anterior) e a energia do AO F 2p pode ser estimada pelo método de Hartree-
Fock em -0,730 u.a.
(observe que estamos
desconsiderando o
efeito dos OAs F 1s e F
2s). Veja que ocorre
um grande
abaixamento de
energia para o
elétron do H, o que
indica quão
favorável é essa
ligação. É comum
que ocorra o
abaixamento de
orbitais σ ligantes em comparação a orbitais não-ligantes (nesse caso 2px e
2py).
Orbitais moleculares não-ligantes são aqueles
que não participam da ligação.

*OM não-ligante ≠ OM antiligante

A energia da ligação (ED) de H-F deverá ser diferença entre a energia


total em H + F e da energia total em H-F.
𝐸𝐷 (𝐻 − 𝐹) = 𝐸𝑇 (𝐻) + 𝐸𝑇 (𝐹) − 𝐸𝑇 (𝐻 − 𝐹)
Utilizando o método de Hartree-Fock encontramos que ET(H) + ET(F) = -
99,909 u.a. e ET(H-F) = -100,70 u.a. Portanto a energia de dissociação do H-F
seria de acordo com os cálculos teóricos igual a 0,161 u.a. (ou 423 kJ/mol). Mas
experimentalmente verificamos que o valor da ED para a ligação H-F é de 566
kJ/mol. Nesse caso, o grande desvio se dá no cálculo de 𝐸𝑇 (𝐹). Quando
utilizamos um modelo de Hartree-Fock estendido (mais sofisticado

119
matematicamente) chegamos ao fim do cálculo a um valor de 538 kJ/mol.
Naturalmente esse modelo requer maior esforço computacional.
E para moléculas maiores (poliatômicas)?
Aqui é o ponto em que a TOM se difere na prática da TLV. Em moléculas
com mais que dois átomos, observamos que o OM formado se espalha por
todos os átomos da molécula, auxiliando toda sua estrutura a permanecer
ligada. Dizemos que aqui os elétrons ligantes estão deslocalizados (diferente da
TLV em que eles estavam localizados entre os núcleos da ligação na área de
superposição dos orbitais).
Vamos ver o caso da água. Temos 8 elétrons disponíveis e seis OAs (O2s,
O2pz, O2px, O2py, H1s e H1s). Observe a forma dos OMs. Você consegue
visualizar a diferença entre OM ligantes e antiligantes?

Como exercício, identifique para o H2O os orbitais HOMO e LUMO e


escreva a configuração eletrônica da água. Nessa página você encontra mais
informações sobre a estrutura da água como os valores de energia calculados
dos orbitais: https://water.lsbu.ac.uk/water/h2o_orbitals.html. As moléculas de
CH4 e NH3 você encontra em detalhes no capítulo 10 do Mahan e Myers.
Vamos voltar brevemente para as moléculas diatômicas homonucleares
do 2º período. Observe as tendências e o abaixamento de energia que ocorre
com 2σ em relação ao 1π* para o O2 e F2 devido as interações s-p.

120
Uma nota importante: tanto o modelo de Lewis, quanto a TLV e a TOM
obedecem ao princípio da exclusão de Pauli e a regra de Hund na distribuição
eletrônica.

Um Orbital Hibrido de
acordo com a TLV é uma
interpenetração, isso é, mistura de
funções matemáticas, que
originam novos orbitais, de modo
favorável à formação de uma
geometria adequada para a
ligação química.
Um OM é uma função
matemática que descreve
tendências a um comportamento
Vamos olhar o diagrama do benzeno. No de uma nuvem eletrônica em uma
benzeno, todos os carbonos tem hibridização sp². molécula. A construção deste
A TLV não consegue explicar porque as ligações modelo matemático é feita a
C-C no benzeno são intermediárias entre a partir da combinação das funções
ligação dupla e a simples (em força e de onda de orbitais atômicos.
comprimento). De acordo com a TOM, todos os
orbitais C2s, C2p e H1s contribuem para a
estabilidade da molécula porque todos os elétrons ligantes podem habitar
espaços em toda a extensão da molécula (ou seja, são deslocalizados). Todos
os orbitais C2s, C2px, C2py e H1s estão formam OM σ que contribuem para a

121
deslocalização dos elétrons ao longo da molécula. Os 6 OAs C2pz se
combinaram para formar os 6 OMs mostrados abaixo.

Totalmente anti-ligante
(seis regiões nodais)

Totalmente ligante
(zero regiões nodais)

Observe que como nenhum


orbital anti-ligante é
preenchido com elétrons,
podemos esperar que o
benzeno seja muito estável.
De fato, situações
energeticamente favoráveis
de reações químicas são
poucas.
Existe uma forma de saber se um composto possui aromaticidade. Ela é
baseada na mecânica quântica dos orbitais em ligações conjugadas, mas de
forma bem simples, ela é chamada Regra de Hückel e ela determina que as
estruturas precisam ter 4n +2 elétrons π (n = 1,2,3,...) em sua distribuição. O
menor anel com caráter aromático será o benzeno em que n=1. Sistemas com
4n elétrons π são chamados anti-aromáticos.

Segundo a regra de Hückel,


sistemas aromáticos cíclicos
precisam ser totalmente
conjugados e ter um sistema
π totalmente planar. Além
disso, não devem haver
elétrons desemparelhados
nos OMs π.

HPAs (Hidrocarbonetos Policíclios Aromáticos) que obedecem a regra de Hückel.

Leitura adicional sobre aromaticidade:


• http://professor.ufop.br/sites/default/files/taniamelo/files/aromatici
dade.pdf (Professoras Drªs Alceni Werle e Tania Melo, UFOP)
Sistemas de ligações π conjugadas como nos compostos aromáticos,
favorecem a estabilização de muitos átomos por uma quantidade de elétrons
menor (já que eles estão localizados e podem “fluir” ao longo da molécula).
Isso ocorre com o diborano (B2H6) que falamos no início da TOM. Nessa
molécula, 6 pares de elétrons mantêm oito átomos juntos. Essa estabilização

122
eletrônica está presente em todos as moléculas deficiente em elétrons que são
estáveis.
Outra influência dessas estruturas conjugadas é nas cores de diversas
substâncias naturais e sintéticas. Muitos corantes, frutas e verduras tem cores
características pois tem extensos sistemas conjugados que fazem com que a
energia entre o orbital HOMO seja somente um pouco mais baixa que a
energia do orbital LUMO. Vimos isso acontecer nos polienos conjugados, que
você aplicou para um sistema de caixa onde o elétron oscila na primeira
unidade. Você viu também que a partir de certas extensões do sistema,
podemos associar o comprimento de onda de excitar o elétron do HOMO para
o LUMO pode ser de baixa energia, na região do visível. Isso faz com que esses
compostos sejam coloridos para nós.

Β- caroteno
(450 nm: laranja)

Licopeno
(470 nm: vermelho)

Explicação das cores-luz em compostos coloridos de acordo com a TOM. Google


Imagens.

O comportamento magnético dos compostos covalentes


Existem basicamente dois tipos de comportamento magnético:
• Paramagnetismo: propriedade de um material que interage
fortemente com um campo magnético devido a presença de
elétrons desemparelhados na molécula.
• Diamagnetismo: propriedade de um material que é fracamente
afetado por um campo magnético pois todos os elétrons estão
emparelhados na
molécula.
A partir da TOM nós
conseguimos explicar o porquê o O2
quando em atmosfera inerte pode
interagir fortemente com um imã.
Observe que ordens de ligação
fracionárias estão associadas a
elétrons desemparelhados. Nesses
casos, o composto será sempre
paramagnético.

123
Nos elementos mais leves (do lado esquerdo), os OMs σ2s e σ2s* estão mais
próximos do OM σ2p, causando sua desestabilização (por repulsão
eletrostática). Diferentemente, os OAs 2s do O e do F tem energias muito
baixas e os OMs σ2s e σ2s* pouco afetam o OM σ2p, levando a “sequência
normal” de energia esperada para os orbitais, como visto anteriormente.
Lembre-se: como falamos anteriormente, a ordem
ligação também pode ser utilizada como um Para finalizar seus estudos
parâmetro de estabilidade/força da ligação. sobre a ligação covalente
você pode fazer um resumo
das principais características
e limitações do modelo
A ligação metálica VSEPR de Lewis, TLV de
Pauling e TOM.
Você deve imaginar que a ligação metálica
difere da ligação iônica e da ligação covalente por
ocorrer apenas entre os metais, certo? Metais puros também vão ter a
característica de diferença de eletronegatividade zero, certo? Ligações
metálicas formam retículos cristalinos similares aos sólidos iônicos e aos sólidos
covalentes, os sólidos metálicos ou simplesmente metais. Os sólidos metálicos
são agregados de cátions coesos por elétrons livres que podem fluir ao longo
do material (por isso metais conduzem eletricidade e calor melhor).
Dentre as principais características dos metais, podemos destacar:
• Maleabilidade;
• Ductibilidade;
• Boa condução de calor e eletricidade;
• Baixos valores de energia de ionização;
• Reagem com ácidos formando H2.
Para explicar a ligação metálica, inicialmente vamos utilizar a Teoria do
Mar de Elétrons. De acordo com essa teoria, cátions de átomos metálicos fluem
em um mar de elétrons de valência que podem se movimentar quase que
“livremente” com energia equivalente a da própria temperatura ambiente. Os
núcleos estariam empilhados com elétrons passeando as suas voltas. Esse
modelo explica as propriedades de ductibilidade e maleabilidade dos
matérias, e ainda é capaz de explicar porque os metais do Grupo 1 são tão
moles e podem ser cortados com uma faca, enquanto que os metais do Grupo

124
2 já são mais duros e seguindo essa lógica, os metais do grupo B são muito mais
duros e só conseguiram ser cortados com ferramentas específicas. Esse fato
estaria relacionado a carga dos cátions. Quanto maior fosse a carga,
poderíamos esperar maiores forças de coesão para manter o mar de elétrons
fluindo. Porém, essa teoria não é capaz de explicar a variação do Ponto de
Fusão e da energia da ligação ao longo da tabela periódica.

Sódio metálico sendo cortado (à direita). Os metais do Grupo 1 são conhecidos como
metais “moles”. Google Imagens.

E como podemos explicar a ligação metálica a partir da TOM? Bom, se


aplicarmos os conceitos da TOM para a ligação metálica, inicialmente
precisaremos restringir a quantidade de átomos em uma molécula. Mas
sabemos que em um metal, todos os átomos interagem entre si, combinando
todos os seus OAs. Se muitos OAs são combinados, muitos OMs serão gerados,
certo? Se temos um número grande de OMs formados, podemos esperar que a
energia entre eles seja pequena. De fato, numa ligação metálica, tantos OMs
são formados que a diferença de energia entre eles pode ser enxergada como
algo contínuo, não como patamares de energia, mas como uma banda
contínua de energia onde os elétrons podem ocupar todos os orbitais. Podemos
fazer uma analogia de que um metal é uma molécula gigante formada infinitos
átomos de metal. Essa visão da disposição dos orbitais moleculares para metais
é chamada de teoria de bandas. Vamos falar desse assunto no próximo tópico.

Esquema da combinação de OMs na ligação metálica e formaça da banda de


ligação. Google Imagens.

125
A teoria de bandas: Condutores e semicondutores
Alguns materiais tem a capacidade de condução eletrônica, como
vimos que é o caso dos compostos iônicas na forma líquida ou dissociada.
Sólidos precisam permitir o fluxo de elétrons entre os átomos para conduzir
corrente elétrica. Isso ocorre comumente nos metais. Os metais são
classificados como condutores metálicos, cuja condutividade elétrica aumenta
com a diminuição da temperatura. Semicondutores são substâncias que
permitem a condução elétrica com o aumento da temperatura. E um isolante
é aquela substância que não conduz eletricidade de forma quantitativamente
apreciável.
Na prática, a condutividade elétrica pode ser explicada pela TOM.
Quando N orbitais atômicos interagem para formar N orbitais moleculares, ao
invés de formar poucos OMs com energias espaçadas (que é o que ocorre em
pequenas moléculas), os metais apresentam uma rede extensa de OMs com
níveis de energia tão próximos que formam uma banda quase contínua. Dessa
forma, nos condutores os elétrons podem ocupar OMs antiligantes facilmente.
Na ciência da condução esses OMs antiligantes são chamados de banda de
condutividade. Os OMs ligantes são chamados de banda de valência. Observe
a magnitude das diferenças de energia entre os materiais. Essa diferença de
energia é chamada de band-gap.

Podemos aqui fazer um


paralelo com a ligação
covalente: A banda de
valência seria uma região
ligante, onde os elétrons
vão preferir ocupar, e a
banda de condução uma
região anti-ligante, porém
cuja energia é muito baixa
para condutores e alta
para isolantes.

Com baixos valores de band-gap, os elétrons podem fluir no material


sólido sendo excitados para a banda de condução. Essa excitação pode ser
feita de diversas formas, incluindo o calor, ou radiação eletromagnética.
Semicondutores são muito interessantes para as indústrias energética,
eletrônica e automobilísticas, pois podem atuar como potentes catalisadores
de reação e conversores de energia. Os
semicondutores precisam de “um incentivo
O aumento da temperatura
energético” para que os elétrons possam fluir
para a banda de condução da magnitude de diminui a condutividade elétrica
ΔE. Na ciência da condução elétrica em sólidos dos metais porque aumenta a
chamamos o ΔE de energia Eg (energia do vibração entre os átomos,
band-gap). prejudicando a movimentação
dos elétrons, que colidem com
Vamos observar alguns valores típicos de
E para materiais com grandes aplicações. mais frequência.
g

126
Observe que a
condutividade de sólidos
metálicos é da ordem
de 107, o que resulta em
valores de Eg muito
próximos de zero. Eg
para semicondutores
vão variar tipicamente
até 4,0 eV.
Semicondutores só
conduzem eletricidade
se houverem condições
de excitar os elétrons
para a banda de
condução.

Dizemos de semicondutores intrínsecos aqueles metais que podem atuar


como semicondutores na forma pura. Ge e Si, por exemplo, não podem ser
aplicados industrialmente de forma pura em muitas situações.
A modificação química de um semicondutor é chamada de dopagem,
que pode ser a inserção de impurezas químicas na estrutura do material
(normalmente quantidades mínimas). Se essas impurezas forem ricas em
elétrons (como elementos do grupo 15) teremos um excedente de elétrons na
banda de condução e dizemos que esse é um semicondutor extrínseco do tipo
n. Se as impurezas forem pobres em elétrons (elementos do grupo 13), será
criado um “hole/lacuna” de elétrons na banda de valência e esse
semicondutor é do tipo p.

Normalmente a dopagem é feita com átomos de dimensões


semelhantes e a escolha do dopante e da extensão da dopagem controla
o nível de condutividade que se deseja alcançar. Veja o que acontece
com semicondutores do tipo p e n. Ao adicionarmos mais elétrons a
estrutura, esse elétron adicional precisará ocupar a banda de condução
(respeitando o princípio da exclusão de Pauli). Ao adicionarmos defeitos
pobres em elétrons na estrutura de um semicondutor, uma lacuna é criada

127
na banda de valência. Essa lacuna se comporta com uma carga positiva
na BV, e elétrons podem facilmente serem promovidos para essa região.

Nível de Fermi = primeiro nível de energia totalmente inabitado de elétrons a


0K. Condutores metálicos não conduzem eletricidade a 0K.
A energia Eg (energia do band-gap) do semicondutor pode ser
modificada a partir do interesse pela dopagem. Dispositivos eletrônicos utilizam
uma junção p-n (um semicondutor do tipo p ligado a um semicondutor do tipo
n) capaz de ser excitada pela radiação solar. A radiação promove a
excitação de elétrons para a banda de condução eliminando as lacunas na
região da junção.

Forças intermoleculares
Vamos revisar os tipos de sólidos que vimos nessa unidade e suas
propriedades.
Como falamos anteriormente, sólidos iônicos apresentam grande
energia de rede devido a presença de cargas formais, enquanto que sólidos
covalentes (ou sólidos reticulares) e sólidos moleculares apresentam menor
energia de rede com a formação de cargas parciais. Sólidos metálicos são
ligações isotrópicas explicadas também pela combinação de orbitais
moleculares. Vamos agora falar de compostos moleculares que não se

128
apresentam na forma sólida. Não estando nesse estado, ainda sim haverão
forças de coesão e repulsão entre as partículas no estado líquido e gasoso.
Tipos de sólidos de acordo com a ligação
Características e
Tipo Exemplos
propriedades
Duro, rígido, quebradiço,
elevado PE e PF e boa NaCl, KNO3,
Iônico
condução elétrica em CuSO4.4H2O.
solução aquosa
Duro, rígido, quebrado,
Reticular elevadíssimos PE e PF, B, C, P, BN, SiO2.
insolúveis em água.

Quebradiços (na força S8, P4, H2O (gelo),


Molecular
sólida pura), baixos PE e PF. glicose.

Maleável, dúctil, lustroso,


Metálico condutor térmico e elétrico Li, Fe, Co, Au.
na fase sólida.

Diferente das ligações interatômicas (iônica, covalente e metálica), as


forças intermoleculares tem uma magnitude de energia muito menor. Mas
devido a presença das cargas parciais, moléculas são capazes além de serem
polarizadas, de polarizar moléculas vizinhas. Temos três principais tipos de forças
intermoleculares:
Ligações de hidrogênio: atração eletrostática entre o hidrogênio com
elevados valores de δ+ e um átomo de alta eletronegatividade.
Forças dipolo-dipolo: atração eletrostática entre cargas parciais opostas
(δ+ e δ -) e fixas.
Forças de dispersão de London (ou dipolo induzido-dipolo induzido):
atração eletrostática entre cargas parciais opostas temporárias.

Observe as diferenças
entre energias envolvidas.

129
Propriedades dos sólidos reticulares/covalentes:

Alotropia: Espécies alótropas são moléculas diferentes, mudando o tipo de


ligação existente entre os átomos e sua geometria. Ex. diamante e grafite.

Polimorfismo

Moléculas iguais empacotadas, arranjadas, de forma diferente (com redes


cristalinas distintas). Ex. enxofre ortorrômbico e monoclínico. TiO2 rutilo e
anatase.

Fases cristalinas do TiO2. Fonte: Vitoreti et al., 2007.

Leitura adicional: Aplicação de Dióxido de Titânio em Células Solares. DOI:


10.21577/1984-6835.20170086

Conteúdo:

• Funcionamento de semicondutores;
• Síntese e propriedades do TiO2;
• Aplicação de TiO2 em células solares.

130
Complexos de Metais de Transição: o bloco d da tabela
Demos até o momento, grande importância as ligações químicas e aos
compostos formados de metais alcalinos dos grupos 1 e 2 (bloco s) e os diversos
elementos do bloco p. Vamos olhar um pouco agora para o bloco d e seus
compostos. Os aspectos que serão vistos nessa disciplina são introdutórios e
serão aprofundados em Química inorgânica.
Os metais do bloco d e f formam cátions
Ácido de Lewis: espécie capaz de
facilmente. Na verdade, eles podem atuar facilmente
receber pares de elétrons.
como ácidos de Lewis, e receber pares de elétrons
Base de Lewis: espécie capaz de
livres por ligações covalentes coordenadas. Os metais
doar pares de elétrons.
de transição são caracterizados pela presença de
orbitais atômicos do tipo d e f semipreenchidos. Na
prática, o efeito desses orbitais atômicos (5 orbitais degenerados tipo d ou
orbitais degenerados tipo f) de energia muito próxima ao orbital s do nível
seguinte (reveja o tópico distribuição eletrônica de átomos multieletrônicos)
permitem aos elementos de transição acomodar muitos elétrons
Inicialmente, não se entendia muito bem o comportamento de
solubilidade e ionização de metais de transição, e por isso eles foram
chamados de “complexos” de metais de transição. Esses estudos foram
iniciados com os famosos sais de Werner. Werner notou que cátions de Cobalto
no cloreto de cobalto poderiam ser estabilizados por ligações coordenadas
com 6 moléculas de amônia.

Ao removermos moléculas de amônia, a solução do sal ia de laranja até


a cor rosa. E ao removermos mais amônia do composto, novamente sua cor
variava. Outra questão intrigante foi a condutividade das amostras. Ao se
remover amônia (que era uma molécula neutra), percebeu-se que a
condutividade da solução diminuía, o que só seria explicado se os íons em
solução diminuíssem também. E a questão mais intrigantes de todas: os cloretos
livres. Ao se medir os cloretos, verificou-se uma diminuição de cloretos livres na
amostra ao diminuir a proporção de NH3. Esses resultados não condiziam com a
interação dipolo-dipolo que se pensava estar acontecendo entre a amônia e
o metal, mas uma ligação covalente coordenada entre o ligante e o metal d.
O íon complexo (entre colchetes na fórmula moderna) é constituído de
um (ou mais) centro(s) metálico(s) e ligantes bases de Lewis que fazem ligação
com os metais. Essas propriedades estranhas eram explicadas pelo fato de que
os complexos de Co se comportavam como um íon gigante de Co e seis
ligantes, unidos por ligação covalente. Note que a fórmula com 4 moléculas de

131
Isômeros: espécies químicas
amônia apresenta duas cores possíveis. Essa com propriedades
variação seria explicada pela presença de diferentes, mas mesma
isômeros. Observe que a forma violeta exibe uma fórmula molecular.
isometria cis (vizinhos) entre os cloretos e a forma
verde, uma isometria trans (distantes) entre os átomos de Cl. Vamos falar de
isomeria em mais detalhes futuramente. Vamos agora aprender os conceitos
fundamentais na ciência dos compostos de coordenação/complexos.
• Valência primária: estado de oxidação do metal;
• Ligantes: bases de Lewis capazes de fazer ligações coordenadas;
• Valência secundária: número de coordenação do íon metálico;
• Íon complexo/esfera de coordenação: centro metálico + ligantes.

Um íon complexo se
comporta com um único
íon grande.

VP (Co) = 3
VS (Co) = 6

Cloreto de hexaamino-cobalto (III).

• Número Atômico Efetivo (NAE): funciona apenas para alguns complexos.


A quantidade de ligantes de cada centro metálico ocorre de modo a
que o metal adquira um octeto completo. O Co3+ tem 24 é e faz seis
ligações com o NH3 ganhando 12 elétrons e adquirindo a conformação
do 36Kr.
• Regra de 18 elétrons: a soma dos elétrons na camada de valência do
metal + elétrons compartilhados pelos ligantes = 18 elétrons (s²p6d10 ->
camada de valência fechada).

Fatores que afetam o número de coordenação do centro metálico:

1. tamanho do ligante: [FeF6]3- é estável, mas [FeCl6]3- não. Apenas [FeCl4]- é


formado.
2. A carga do ligante: quanto maior for a quantidade de carga transferida
por ligante para o centro metálico, menor será o número de

132
coordenação. [Ni(NH3)6]2+ é estável bem como [Ni(CN)4]2- também com
apenas quatro ligantes.
3. Tamanho do centro metálico: Complexos tricoordenados podem ser
pirâmides trigonais ou trigonal plano. Complexos tetracoordenados são
tetraédricos ou quadráticos planos enquanto que complexos
hexacoordenados são octaédricos.

Complexos de metais de
transição com NC = 3 nas
geometrias (a) pirâmide trigonal
e (b) trigonal plana.

Compostos de coordenação
com NC = 4 nas geometrias
quadrado planar [Pt(NH3)4]2+ e
tetragonal [ZnCl4]2-.

Note que os
compostos de Zn e
Sn são ânions
complexos.

Classificação dos ligantes


De acordo com a carga: Neutros, âniônicos ou cátiônicos (casos mais
raros);
De acordo com o número de ligações: monodentados, bidentados e
polidentados.

Ligantes neutro, aniônico e catiônico de metais de transição, respectivamente.

Cis-platina: aplicação
nos coquetéis
fitoterápicos para
tratamento do câncer.
Trans-platina não tem
atividade biológica.

Pentacarbonil ferro (ligante monodentado neutro). Diaminodicloro


platina (II) (ligantes monodentados neutro e aniônico).

133
Quanto maior for o
número de ligações que
o ligante faz, mais
favorável é a ligação
(força da ligação
aumenta).

Oxalato de cálcio (II) (ligante bidentado aniônico). Citrato de Ferro (III) (ligante
tridentado aniônico, derivado do ácido cítrico. Etilenodiaminotetraacétrico de metal
(ligante neutro e aniônico polidentado).

Efeito quelante: Formação de estruturas anelares envolvendo o átomo


central. Ligantes polidentados podem formar até 6 ligações com um cátion
metálico. Chamamos essa reação de reação de complexação (formação de
um íon complexo). Essa reação é tão favorável que pode ser utilizada para
quantificar metais de transição, retirando-os do meio (ação sequestrante ou
quelante) numa técnica analítica chamada titulação complexométrica.

Esse efeito também é fundamental à manutenção da nossa vida, nas


chamadas metaloproteínas. É graças a ele que o oxigênio é carregado ao
longo do nosso corpo pelas células vermelhas.

Macrociclo tetrapirrólico comum das porfirinas (esquerda). Wikipedia. Grupo


Heme da porfirina presente nas hemácias (centro), clorofila A presente em
folhas (à direita). Google Imagens.

134
As hemácias possuem um grupo porfirina que é capaz de complexar o
Fe(II), que por sua vez se liga ao oxigênio molecular e o transporta ao longo dos
vasos sanguíneos. Similarmente, a respiração celular dos vegetais ocorre
catalisada pela atividade do Mg(II) na clorofila A, que também possui um
grupamento de porfirina.
O que os metais de transição tem a ver com... permanecer vivo?
Algumas das enzimas críticas de nossas células são metaloproteínas.
Essas metaloproteínas tem sido intensamente estudadas pelos bioquímicos
porque elas controlam a vida e nos protegem das doenças. Elas também são
utilizadas para traçar o caminho das etapas da evolução. Os metais do bloco
d formam componentes de membranas, músculos, peles e ossos, catalisam
reações ácido-base e redox, controlam o fluxo de energia e do oxigênio, e
executam a fixação do nitrogênio.
Encontre mais informação e exemplos no Capítulo 16 do Atkins e Jones
no quadro 16.1.

A constante do equilíbrio de formação de íons complexos (reação de


complexação, será similar as constantes de equilíbrio de uma reação ácido-
base ou constante de equilíbrio de solubilidade:
[𝑴 𝑳 ]
mM + nL ↔ MmLn 𝒌𝒇 = [𝑴]𝒎 𝒏
𝒎 [𝑳]𝒏

Reações com ligantes multidentados ocorrem em etapa única e são muito


favoráveis.
𝒌𝒇 (𝒍𝒊𝒈𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒎𝒐𝒏𝒐𝒅𝒆𝒏𝒕𝒂𝒅𝒐) < 𝒌𝒇 (𝒍𝒊𝒈𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒃𝒊𝒅𝒆𝒏𝒕𝒂𝒅𝒐) < 𝒌𝒇 (𝒍𝒊𝒈𝒂𝒏𝒕𝒆 𝒑𝒐𝒍𝒊𝒅𝒆𝒏𝒕𝒂𝒅𝒐

Nomenclatura de compostos de coordenação


Observe que representamos as fórmulas dos complexos de uma forma
particular. Dentro de colchetes, vamos colocar o símbolo do metal e o(s)
símbolo(s) dos ligantes, em seguida, os ânions do composto. Caso haja
diferentes ligantes, podemos organizá-los em ordem alfabética e quando eles
forem de diferentes naturezas, podemos organizá-los na seguinte ordem:
aniônicos, neutros e catiônicos.
[Co(NH3)6)]3+ Cl3- os íons Cl- são chamados contra-íons.
[FeCl(OH2)5]+
Na2 [Ni(CN)4]2- os íons complexos podem ser cátions ou ânions
[Hg(CH3)] Os complexos também podem ser neutros.

Exercício proposto: você consegue dizer a Como falamos, ligantes


valência primária e secundária dos metais nos catiônicos são raros.
compostos acima?

135
Para dar nome a esses complexos:
1. Regra geral: (Nome do ânion -eto/-ato/-ito) de (Nome do cátion);
2. Centro metálico como o cátion: Colocar o nome dos ligantes com os
prefixos de quantidade (di, tri, tetra, penta, hexa, etc.) + colocar o
nome do centro metálico com seu estado de oxidação em algarismo
romano.

Ligante Nome Ligante Nome


C2O42- (oxalato) oxalato HS- (hidrogenossulfeto) mercapto
SO42- (sulfato) sulfato NO2- (óxido nitroso) nitro
CO32- (carbonato) carbonato H2O (água) aquo
O2- (óxido) oxo NH3 (amina) amino
S2- (sulfeto) tio CO (Monóxido de carbono) Carbonil(o)
F- (fluoreto) fluoro NO (monóxido de nitrogênio) Nitrosil(o)
Cl- (cloreto) cloro O2 (oxigênio) dioxigênio
Br- (brometo) bromo N2 (nitrogênio) dinitrogênio
OH- (hidróxido) hidroxo H2 (hidrogênio) hidro
CN- (cianeto) ciano

[Zn(NH3)4]2+ = íon tetraminozinco II


[Co(NH3)3(NO2)3] = triaminotrinitrocobalto III
[Ag(NH3)2]+ = íon diaminoprata I
[Ni(NH3)4]Cl2 -> Cloreto de Tetraaminoníquel (II)
[Fe(H2O)4(CO)2]Cl2 : Cloreto de tetraaquadicarbonilferro (II)

3. Centro metálico como o ânion: Colocar o nome dos ligantes com os


prefixos de quantidade + colocar o nome do centro metálico com a
terminação “ato” e seu estado de oxidação.

[PtCl6]2- = íon hexacloroplatinato (IV)


Na2[Ni(CN)4] = tetracianoniquelato (II) de sódio
Na3[Fe(CN)6] = hexacianoferrato (III) de sódio

4. Ligantes muito grandes: alguns ligantes importantes tem


siglas/acrônimos importes como Ox (oxalato) e EDTA.

136
[Ni(en)2]Cl2 : Cloreto de bisetilenodiaminoníquel (II)
[Fe(Bipy)3]Cl2 : Cloreto de tris-bipiridinaferro (II)
Exercício - Escreva as fórmulas e os nomes dos seguintes complexos de
coordenação:

Isomeria de compostos de coordenação


Como mostramos anteriormente em alguns exemplos, a posição dos
ligantes na esfera de coordenação pode gerar isômeros: espécies químicas de
mesma fórmula molecular, mas com orientações de ligantes diferentes.
Frequentemente esses isômeros exibem propriedades diferentes, como falamos
do caso da cis-platina e da trans-platina. Em compostos de coordenação
temos essencialmente dois tipos de isômeros:

137
Isomeria de
ionização

Isomeria de
hidratação
Estrutural
Isomeria de
coordenação
Isomeria de
compostos de Isomeria de ligação
coordenação

Diasteroisômeros
Geométrica
Enantiômeros

Na isomeria estrutural, teremos sempre a substituição de um ligante por


outro ligante, já a isomeria geométrica é caracterizada pela mesma
conectividade molecular (os mesmos ligantes), porém em posições diferentes.
Estruturas quadrado planar, tetraédricas ou octaédricas podem apresentar
isômeros geométricos. Vamos aos detalhes de cada uma delas.
A isomeria estrutural de ionização consiste na troca de ânions entre a
esfera de coordenação e o meio externo. Similarmente, na isomeria estrutural
de hidratação, ligantes de água são substituídos por ânions.

Isômeros de ionização à esquerda (substituição de ligante de Cl- por Br-) e isômeros de


hidratação à direita (substituição de H2O por Cl-)

Os isômeros apresentam diferentes propriedades, como já enfatizamos.


Veja por exemplo, como varia a cor dos cloretos de aquacromo a depender
da substituição de ligantes H2O por Cl-:

Os isômeros estruturais de coordenação envolvem dois íons complexos,


tanto o ânion quanto o cátion. Entre as duas esferas de coordenação, pode

138
haver a troca do centro metálico de uma para a outra. Essa isomeria ocorre
entre dois centros metálicos de raios iônicos e cargas semelhantes.

Isômeros de coordenação: hexacianocromato de hexaminocobalto III e


hexacianocobaltato de hexaaminocromo III.

Na isomeria estrutural de ligação, ligantes bidentados ou polidentados


podem mudar o átomo do ligante no qual está ligado. Veja o caso dos
isômeros abaixo, cujo ligante é o óxido nitroso. Tanto o átomo de oxigênio
quanto o átomo de nitrogênio têm pares de elétrons livres e podem atuar
como ligantes.

Isômeros de ligação nitropentamincobalto III e nitritopentaminocobalto III.

Na isomeria geométrica, os ligantes não mudam de posição. Teremos os


diásterosômeros e os enantiômeros. Dentre os diásteroisômeros, que
frequentemente ocorrem também na química orgânica, teremos os tipos cis-
trans e fac-mer. A isomeria cis-trans, pode existir em compostos que são
quadrados planares e octaédricos.

Os diásteroisômeros do tipo fac-mer ocorrem em geometrias tetraédricas


quando há 3 ligantes de um tipo e 3 de outro tipo. Na geometria fac, os três
ligantes formam um face do octaedro. Na geometria mer, os dois tipos de
ligantes estão alinhados no meridiano do centro metálico, formando um T.

Isômero fac (à esquerda) e mer


(à direita) do triamino-
triclorocobalto.

Os enântiômeros também possuem as mesmas ligações em posições


distintas. O que os diferem dos diasteroisômeros é que os compostos
enântiômeros são a imagem especular um do outro. Dessa forma, é impossível
superpô-los.

139
Enântiômeros octaédricos.

Observe que ao girarmos a figura


superior esquerda, teremos a figura
superior direita. E ao rotacionarmos a
figura inferior esquerda, teremos a
figura inferior direita.

TLV para Complexos de Metais de Transição


Vamos agora entender como a ligação
covalente coordenada entre ligantes e metais de Você já consegue imaginar
transição acontece. A primeira forma de examinar porque metais de transição
essa ligação será pela TLV de Lewis, que podem acomodar tantos elétrons
aplicamos para as ligações covalentes das ligações coordenadas?
anteriormente. Caso não esteja lembrado, revise
os conceitos de geometria molecular e
hibridização.
Vamos examinar o Co3+ e o Fe2+. Ambos têm geometrias octaédricas
(hibridização sp³d²) e caráter paramagnético, pois ambos são espécies
isoeletrônicas (tem a mesma quantidade de elétrons). Pela TLV, podemos
esperar que a configuração eletrônica seja igual a:
Devemos lembrar que os pares de
elétrons dos ligantes fazem ligações
coordenadas (dativas). Dessa
forma, a ligação precisa ocupar
um orbital vazio. A hibridização do
complexo será equivalente aos
orbitais ocupados pelos elétrons
dos ligantes somente. Portanto, a
hibrizidação do Fe2+ e Co3+ nesses
casos é sp³d². Seu caráter é
paramagnético pois há elétrons
desemparelhados nos orbitais 3d.
Dessa forma, tanto os complexos de cobalto quando o [FeF6]4- são
octaédricos e paramagnéticos. Devíamos esperar que o [Fe(CN)6)]4- também
fosse octaédrico e paramagnético. Mas porque ele é diamagnético?
Obviamente a resposta está no ligante, que é a única diferença para o
hexafluoroferrato. O que acontece é que o ligante ciano “força” os elétrons
desemparalhados que vimos ocupar os orbitais 3d, a se emparelharem, e os
elétrons dos ligantes podem então ocupar orbitais d de menor energia. Esses
ligantes em geral, formam espécies diamagnéticas, veja o porquê:

140
Em geral haletos (F-, Cl-, Br-, etc.) não
Note que apenas o conseguem forçar o emparelhamento de
comportamento magnético é elétrons do metal de coordenação. Os ligantes
diferente. A geometria e cianeto (CN-) e monóxido de carbono (CO) são
hibridização são as mesmas. conhecidos por promoverem esse efeito. Com
base nisso, prediga a hibridização, a geometria
molecular e o caráter magnético dos complexos de Ni2+ abaixo:
Ni2+ tem 26 elétrons.
[NiCl4]2- [Ni(CN)4]2-

Hibridização: Hibridização:

Geometria: Geometria:

Caráter magnético: Caráter magnético:

Embora a TLV explique bastante vários aspectos das ligações


coordenadas entre metais de transição, não há uma explicação para o
porquê alguns ligantes forçam o emparelhamento de elétrons, e outros não. A
TLV também não traz nenhuma explicação para o fato de compostos com
isomeria estrutural mudam de cor ao mudarmos os ligantes (como vimos em
alguns exemplos anteriores). Vamos solucionar alguns desses mistérios ao
falarmos da Teoria do Campo Cristalino (TCC) e da Teoria do Campo Ligante
(TCL).
Abaixo você encontra a relação da hibridização de alguns complexos
com o número de coordenação e a geometria do centro metálico:

141
NC* Geometria do centro metálico Hibridização Exemplo
2 Linear sp [Ag(NH3)2]+

3 Trigonal planar sp² [HgI3]-

4 Tetraédrica sp³ [FeBr4]2-

Quadrado
4 sp²d [Ni(CN)4]2-
planar

Trigonal
5 sp³d [CuCl5]3-
bipiramidal

Piramidal de
5 sp³d [Ni(CN)5]3-
base quadrada

6 Octaédrica sp³d² [Co(NH3)6]3+

Trigonal
6 sd5 ou sp³d² [ZrMe6]2-
prismática

Pentagonal
7 sp³d³ [V(CN)7]4-
bipiramidal

Trigonal
7 prismática sp³d³ [NbF7]2-
monocapada
8 Cúbica sp³d³f [PaF8]3-

8 Dodecaédrica sp³d4 [Mo(CN)8]4-

Quadrada
8 sp³d4 [TaF8]3-
antiprismática

Trigonal
9 prismática sp²d5 [ReH9]2-
tricapada
*Número de Coordenação

142
Teoria do Campo Cristalino (TCC) e a Série Espectroquímica
Para entendermos a TCC, precisamos relembrar os orbitais atômicos d
que desempenham o papel fundamental na formação dos compostos de
coordenação.

Observe que os orbitais dyz, dxz e dyx estão alinhados entre os planos
cartesianos, enquanto que os orbitais dx²-y² e o dz² estão alinhados sobre eixos
cartesianos. O dx²-y² tem os lóbulos sobre os eixos x e y, enquanto que o orbital
dz² está sobre o eixo z. Em átomos ou em íons isolados, os cinco orbitais d são
degenerados, isto é, apresentam a mesma energia. De acordo com a TLV, os
ligantes se aproximam do metal e sobrepõe seus orbitais com dois elétrons livres
sobre um orbital vazio, formando uma ligação covalente coordenada, como
vimos anteriormente. Via de regra, os orbitais dos ligantes só preencherão
orbitais vazios do metal, mas para explicar o comportamento magnético de
alguns materiais, admitimos que alguns ligantes são capazes de forçar o
emparelharemanto dos elétrons desemparelhados no metal, os ligantes fortes
(como vimos anteriormente).
Vamos agora falar de uma nova teoria de ligação dos compostos de
coordenação e ele diferente da TLV em muitos aspectos. Na Teoria do Campo
Cristalino (TCC), vamos admitir que a interação entre o metal e os ligantes é
puramente eletrostática (desprezados o caráter covalente das ligações). Isso
significa dizer que os elétrons ligantes se aproximam dos metais por atração
eletrostática e exercem apenas uma perturbação dos orbitais d, sem sobrepô-
los, como propõe a TLV. Ao se aproximarem, os elétrons promovem uma
diferenciação de energia dos orbitais d, ou como chamamos em química
inorgânica, a quebra da
degenerescência dos orbitais d, A TCC foi lançada por Hans Bethe em
fazendo com que as energias dos 1929 e modificada por Van Vleck em
orbitais sejam diferentes e formando 1935, mas só na década de 50 começou
um campo cristalino entre os metais e a ser utilizada pelos química para
os ligantes. Veja um exemplo: interpretar os espectros dos complexos
de metais de transição.

143
Observe os orbitais do d do Ti3+. Quando ligantes se aproximam por
atração eletrostática (nesse caso, moléculas de água), é formado um campo
repulsivo de simetria esférica, elevando igualmente a energia dos orbitais d.
Chamamos esse estado de baricentro de energia. A depender da orientação
espacial dos ligantes ao redor do átomo central, as cargas dos ligantes
promoverão o desdobramento das energias dos orbitais d, quebrando a
degenerescência e gerando novos orbitais de energias diferentes.
Se os ligantes formassem um campo
cristalino perfeitamente esférico em torno da
espécie central, as energias de todos os orbitais
aumentariam igualmente. Porém, como os
ligantes ocupam apenas algumas posições
específicas em torno do átomo central, os
orbitais que ficarem mais próximos dos ligantes
são mais afetados do que os que ficam mais
afastados. Olhe para a figura ao lado e
entenda o porquê os orbitais dx²-y² e o dz² tem
energias mais altas que os orbitais dyz, dxz e dyx.
Os dois orbitais dx²-y² e o dz² são orientados ao
longo de eixos cartesianos que coincidem com
a posição de ligantes em compostos
octaédricos (o caso do [Ti(OH2)6]3+). No
momento em que as ligações são formadas, a
energia desses orbitais serão mais altas devido à
alta repulsão entre os ligantes e os orbitais dx²-y²
Orbitais eg Orbitais t2g e o dz². Obviamente, os elétrons preferirão
ocupar orbitais de menor energia (dyz, dxz e dyx).

144
Uma vez que o complexo é formado, a energia de atração iônica entre
as cargas, leva a formação de grupos de orbitais degenerados com energia
mais baixa que os orbitais atômicos do metal isolado, justificando a formação
dos complexos (lembre-se que a natureza sempre procura o estado de menor
energia). Após a efetivação da ligação, o parâmetro de desdobramento de
energia sobre o campo cristalino é chamado de 10Dq (ou simplesmente Δ0
para compostos octaédricos e tetraédricos) e seu valor pode ser medido
experimentalmente por medidas espectroscópicas.
Você já deve ter concluído que para estudar o efeito dos
desdobramentos de energia dos orbitais complexos, precisamos admitir uma
geometria específica. Vamos observar o que acontece em um campo
cristalino octaédrico e um campo cristalino tetraédrico.

Em um complexo de geometria octaédrica, os ligantes interagem mais


fortemente com os orbitais dx²-y² e o dz² que têm maior densidade sobre os eixos
coordenados, e menos intensamente com os orbitais dxy, dxz, e dyz que ficam
entre estes eixos. Isso provoca a separação dos orbitais d em dois grupos, que
são simbolizados por t2g e eg. Os orbitais eg são duplamente degenerados (ou
seja, são um conjunto de dois orbitais de mesma energia) e os orbitais t2g são
triplamente degenerados (três orbitais de mesma energia). Analogamente,
observe que em campo tetraédrico a energia dos orbitais eg é menor que a
energia dos orbitais t2g. Obviamente isso ocorre devido à geometria do campo
cristalino formado pelos ligantes ao redor do centro metálico. Observe a figura
abaixo:

145
Em um composto tetraédrico, opostamente à geometria octaédrica,
observe que os ligantes interagem mais fortemente com os orbitais dyz, dxy, dyz
(entre os eixos cartesianos) e mais distantes dos orbitais dz² e dx²-y², justificando a
“troca” da posição dos orbitais no diagrama de energia em relação ao
composto octaédrico.
A diminuição de energia dos orbitais d, do campo esférico até gerar os
orbitais t2g, é igual ao aumento de energia de d, do campo esférico até formar
os orbitais eg. Nos complexos octaédricos, cada elétron em orbital t2g tem
energia 4Dq menor do que a energia que teria se o campo fosse
perfeitamente esférico. E cada elétron em
orbital eg tem energia 6Dq maior do que Campo cristalino octaédrico:
teria em campo esférico. O valor de 10 Dq
depende da força de interação metal- • E(dxz, dxy, dyz) < E(dz² e dx²-y²)
ligante e esta, por sua vez, depende da • Energia de dxz, dxy, dyz = 0,4Δ
natureza das espécies coordenadas. E assim, • Energia de dz² e dx²-y² = 0,6Δ
nós conseguimos explicar o que a TLV não
conseguiu: porque existiriam ligantes fortes e Campo cristalino tetraédrico:
fracos. Os fatores que afetarão os valores de • E(dz², dx²-y²) < E(dxz, dxy, dyz)
10Dq são: • Energia de dxz, dxy, dyz = 0,6Δ
• Natureza do ligante (força) • Energia de dz² e dx²-y² = 0,4Δ
• Carga (VP) do metal
• Geometria molecular (NC)
Vamos falar primeiro da natureza do ligante. Continuaremos
examinando compostos octaédricos, mas você pode estender esse
conhecimento para outras geometrias. Observe a série espectroquímica de
ligantes para compostos octaédricos:
Série espectroquímica para compostos octaédricos

Ligantes de campo forte x ligantes de campo médio x ligantes de campo


fraco

146
Você deve lembrar que falamos que o CN- era um ligante capaz de
“forçar” os elétrons d desemparelhados de um metal, a se emparelharem para
formar uma ligação, certo? Falamos disso na aplicação da TLV, mas não era
muito claro o porquê. Essa era uma das limitações que a TCC resolve.

Ligantes de campo forte vão resultar em valores de 10Dq ou Δ


elevados, separando mais acentuadamente as energias dos orbitais (veja o
exemplo abaixo). Dizemos que esses ligantes fortes do lado direito da série
espectroquímica, formam complexos com baixa multiplicidade de spin.
Analogamente, ligantes de campo fraco vão gerar valores baixos de Δ e
complexos com alta multiplicidade de spin.

Efeito dos ligantes fracos e


fortes na ocupação de
orbitais de um complexo
octaédrico. O primeiro
dizemos que tem um spin
alto e o segundo, um spin
baixo (SCHRIVER E ATKINS,
2008).

A multiplicidade de spin (M) dos complexos pode ser calculada de


forma bem simples.
𝑀 = 2𝑆 + 1, 𝑆 = 𝑠𝑜𝑚𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑠𝑝𝑖𝑛𝑠 𝑑𝑜𝑠 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠 𝑒𝑚 𝑜𝑟𝑏𝑖𝑡𝑎𝑖𝑠 𝑑

Lembre-se que, por convenção, o primeiro elétron de cada orbital ↑ tem


spin +1/2 e o segundo ↓ tem spin -1/2. Vamos examinar um exemplo:

Observe que no hexafluoromanganato


(II) temos um ligante fraco (F-) e,
portanto, uma menor separação dos
orbitais d (campo baixo). Já no
hexacianomanganato (II) temos um
ligante forte, sendo a separação de
energia Δ entre os orbitais maior.

O efeito que isso terá é que se a


separação Δ é muito alta (em
compostos de campo alto) os elétrons
preferem “enfrentar” os efeitos de
repulsão elétron-elétron no orbital, e
preenchem preferencialmente os
níveis de energia mais baixos não
obedecendo a regra de Hund. Você
Baixo Spin pode observar isso acontecer no

147
hexacianomanganato (II).

E qual o impacto desse efeito na multiplicidade? Ligantes de campo


alto, terão sempre mais elétrons emparelhados, fazendo com que sua
multiplicidade seja baixa. Por sua vez, ligantes de campo baixo, como o
hexafluoromanganato (II) terão mais elétrons desemparelhados e portanto,
maiores multiplicidades de spin.
1
𝑀[𝑀𝑛𝐹6 ]4− = 2. (6𝑥 (+ )) + 1 = 7
2

1 1
𝑀[𝑀𝑛(𝐶𝑁)6 ]4− = 2. (3𝑥 (+ ) + 2𝑥 (− )) + 1 = 2
2 2

Revisando, dizemos que ligantes fortes da série espectroquímica são


capazes causar perturbações muito grandes aos orbitais d, fazendo com que
elétrons prefiram ficar em estados de menor energia mesmo havendo repulsão
elétron-elétron e não obedecendo a regra de Hund. No padrão de
desdobramento de energia de orbitais d complexos:

Baixa
Alto campo
Forte multiplicidad
(> Δ)
e de spin
Ligante
Alta
Baixo campo
Fraco multiplicidad
(< Δ)
e de spin

Temos então explicado porque os ligantes fortes “forçam” os elétrons a


se emparelharem. Mas professor, e as cores dos complexos? Porque elas
variam de acordo com os ligantes? Elementar, meu caro estudante. As cores-
luz que enxergamos como vimos na primeira unidade, estão no espectro
eletromagnético visível (400-700 nm). E vimos também que a energia de
absorção de luz de uma substância depende das suas transições eletrônicas.
Se a transição eletrônica do
campo cristalino Δ muda de
acordo com o ligante, temos aí
porque a cor do complexo
também muda.

Essa energia Δ frequentemente é


na região visível (400-700 nm). A
energia de excitação Δ dos
elétrons coordenados
corresponde a cor luz do
complexo.

Lembre-se que podemos


relacionar a energia

148
correspondente a uma transição eletrônica pela Equação de Planck:
ℎ𝑐
𝐸 = ℎ𝑓 = 𝜆

Podemos observar a partir de uma técnica chamada


Espectrofotometria de UV/Visível e um círculo de cores de Newton, qual a
relação entre a cor e a energia da transição eletrônica do complexo de metal
de transição. A espectrofotometria de UV-visível avalia a quantidade de luz
absorvida por uma amostra em determinados comprimentos de onda.

Disco de cores de Newton à esquerda. (Google Imagens). Espectro de UV-Visível de


sais de Ni. (http://www.abq.org.br/simpequi/2015/trabalhos/90/6887-20635.html)

Vamos olhar o exemplo dos complexos de Níquel. Podemos ver várias


curvas espectrofotométricas de diferentes sais de Ni. Picos, indicam em que
comprimento de onda a absorção de luz é máxima, o que corresponde ao
comprimento de onda referente a uma transição energética do complexo. E
como vimos, complexos coloridos deverão ter pelo menos 1 desses picos entre
400-700 nm. Observe os picos do tetraaquoníquel (II) em 619,5 e 732,0 nm. Esses
picos estão entre o laranja e o vermelho (Orange/rouge) no círculo de cores
de Newton. Dessa forma, é esperado que o complexo apresenta a coloração
verde (oposta no círculo, já que é a “cor” que ele não absorve).

Você consegue prever as cores dos outros complexos de Ni pelos seus


espectros de UV-visível?

Espectrofotometria de UV/Visível
Complexos de Ni2+ com diferentes
• Mede a intensidade de absorção da
ligantes.
radiação do visível e do ultravioleta
Amostras que apresentam duas de uma amostra.
transições eletrônicas na região do • A cor observada pelo nosso olho de
um material é a oposta a cor que é
visível (dois picos entre 400 e 700 nm)
absorvida.

149
vão apresentar uma cor complementar. Enxergamos a
mistura das cores, a depender da absorção relativa entre
eles (quão mais forte é um pico em relação ao outro).

Se existem picos de absorção relativamente intensos


na região do vermelho para uma amostra, enxergaremos
compostos de coloração ciano, a cor onde o vermelho é
ausente. Se um composto absorve com
intensidade próxima na região do verde, azul O professor Antônio explica
e vermelho, relativos às três células bem a relação entre as
cromóforas que o olho humano consegue transições de energia dos
perceber, veremos um composto preto. complexos e os espectros de
absorção de luz, resultando na
A cor enxergada por nós é a cor cor no vídeo:
complementar da(s) cor(es) que uma https://www.youtube.com/wat
amostra absorve. ch?v=jgkCWSL0-yg

Como falamos, além da natureza do ligante, o número de oxidação


(valência primária) do centro metálico e a geometria do complexo afetam a
cor, pois também influenciam nas transições eletrônicas do composto. Agora
vamos falar da carga VP do metal. Observe os valores abaixo:

Observe o efeito do ligante que já falamos nos dados à esquerda.


Podemos concluir que o F- é um ligante de campo fraco, H2O de campo
médio e CN de campo forte. Podemos corroborar olhando para a série
espectroquímica. Olhando para o lado direito, vemos dois compostos com os
mesmos ligantes e mesmo NC, portanto, ambos octaédricos. Mas nos dois
casos, o Cr assume valências primárias diferentes. Quando sua valência é +3, o
valor do desdobramento da energia dos orbitais é 213,8 kJ/mol e quando sua
carga é diminuída a +2, essa energia é de 168,8 kJ/mol. Isso acontece por
causa do efeito do raio iônico. O raio do Cr3+ é menor que o raio do Cr2+,
como vimos anteriormente, o que faz com que haja menos espaço entre os
orbitais d, enfraquecendo o campo cristalino gerado pelos ligantes.

Podemos agora resumir as duas propriedades que já vimos influenciar


em 10Dq:

↑ força do ligante ↓ M (multiplicidade do spin) ↑ maior o campo Δ (10Dq)

↑ VP (metal) ↓ raio do centro metálico ↑ maior o campo Δ (10Dq)

↑ maior o campo Δ (10Dq) ↑ energia de ligação (kJ/mol) ↑ λtransição (nm)

150
Por último, vamos avaliar o efeito da geometria molecular no
desdobramento de energia. Vimos em detalhes dois tipos de desdobramento
de energia dos orbitais d, para um complexo octaédrico e para um complexo
tetraédrico. De forma bem simples, quantos mais ligantes, maior será a
diferença de energia Δ (10Dq) do desdobramento. Sendo assim, complexos
octaédricos tem o valor de Δ mais elevados se comparados aos seus
correspondentes tetraédricos. Isso acontece devido ao efeito da repulsão
entre os ligantes e os orbitais d, que é maior quando a quantidade de ligantes
é maior.

↑ número de coordenação do átomo central ↑ energia Δ (10Dq)

A magnitude de Δ do composto de metal M tetraédrico em relação ao


octaédrico é igual a:
4
𝛥𝑡𝑒𝑡𝑟𝑎é𝑑𝑟𝑖𝑐𝑜 = 𝛥 para os mesmos ligantes
9 𝑜𝑐𝑡𝑎é𝑑𝑟𝑖𝑐𝑜

Propriedades magnéticas dos complexos


Observe como ficam as configurações eletrônicas dos complexos
octaédricos de acordo com os ligantes para um composto octaédrico:

Note como ficam as propriedades magnéticas. Para complexos


octaédricos, as configurações d¹, d², d³, d8, d9 e d10 independem do tipo de
ligante. Vemos diferenças nos compostos d4, d5, d6 e d7, explicando os
diferentes comportamentos magnéticos desses materiais a depender dos tipos
de ligantes (que a a TLV não explicava). Bazinga!

Você pode estender esse conhecimento para os compostos


octaédricos.

Lembre-se que ligantes de campo forte atuam diminuindo a


multiplicidade de spin dos complexos, diminuindo o paramagnetismo dos
materiais.

O instrumento utilizado para verificar o comportamento magnético dos


materiais é chamado Balança de Gouy (um esquema é mostrado na Figura
abaixo). Amostras conectadas a uma balança são submetidas a um campo

151
magnético H, e a extensão da variação na massa observada pode ser
correlacionada proporcionalmente com a susceptibilidade magnética. A
susceptibilidade magnética (o comportamento paramagnético) é
proporcional ao número de elétrons desemparelhados.

Uma propriedade quantitativa da propriedade magnética dos


complexos é chamada de momento magnético. Ele será proporcional a
quantidade de elétrons desemparelhados, como você já pode imaginar. Ele
pode ser dado por:
𝟏
𝝁 = [𝒏(𝒏 + 𝟐)]𝟐 𝑴𝑩

Onde MB representa o Magneton-Bohr, uma unidade atômica


representativa da magnitude do momento dipolo de um elétron orbitando um
átomo de Bohr.

Exemplo: • Aqui você deve ser capaz de


prever qual dos dois
• [Fe(CN)6]3- μ = 1,7 MB compostos teria a o maior
• [FeF6]3- μ = 6,0 MB momento magnético
somente pela fórmula
química.

• Quanto maior a
força do ligante, menos
elétrons desempare-
lhados.
• Quanto mais
elétrons desemparelha-
dos, maior o momento
magnético.

152
Energia de Estabilização do Campo Cristalino(EECC) e efeito Jahn
Teller
A magnitude do desdobramento do campo cristalino, 10 Dq ou Δ, deve
ser função da natureza do ligante, já que dois ligantes diferentes vão gerar
campos eletrostáticos diferentes sobre os orbitais d. Em consequência, os
ligantes podem classificar-se em termos da força relativa dos correspondentes
campos que geram. Isto será visto posteriormente como a série
espectroquímica. Determinações dos valores de 10 Dq podem ser feitas
usando-se a espectroscopia de absorção na região do ultravioleta e visível,
uma vez que as diferenças de energia entre orbitais t2g e Eg, geralmente
correspondem a energias dos fótons nesta faixa do espectro eletromagnético.

Vimos que em um campo octaédrico 10Dq, a energia de


desdobramento do baricentro de energia até os orbitais t2g de menor energia
é equivalente a 4Dq, e dos orbitais eg é igual a 6Dq. Podemos calcular a
energia de estabilização do campo cristalino octaédrico a partir da equação:

𝑬𝑬𝑪𝑪 = (𝟎, 𝟒. é𝒕𝟐𝒈 − 𝟎, 𝟔. é𝒆𝒈 )𝜟

Onde ét2g é a quantidade de elétrons nos orbitais t2g (dyz, dxz, dyx) e éeg é
a quantidade de elétrons nos orbitais eg.

Vamos olhar cada caso. Podemos antecipar que metais com


configuração d1, d2, d3, d8, d9 e d10 terão apenas um valor para EECL,
enquanto que EECL para compostos de configurações d4, d5, d6 e d7
dependeram da configuração de alto spin ou baixo spin:

EECL (d1) = (0,4.1 – 0,6.0)Δ = 0,4 Δ = 4 Dq

EECL (d2) = (0,4.2 – 0,6.0)Δ = 0,8 Δ = 8 Dq

EECL (d3) = (0,4.3 – 0,6.0)Δ = 1,2 Δ = 12 Dq

EECL (d4 – alto spin) = (0,4.3 – 0,6.1)Δ = 0,6 Δ = 6 Dq

EECL (d4 – baixo spin) = (0,4.4 – 0,6.0) Δ = 1,6 Δ = 16 Dq

EECL (d5 – alto spin) = (0,4.3 – 0,6.2)Δ = 0,0 Δ = 0 Dq

EECL (d5 – baixo spin) = (0,4.5 – 0,6.0) Δ = 2,0 Δ = 20 Dq

...

Você consegue fazer os cálculos de EECC para as demais


configurações?

A diferença entre EECC do Observe o valor de 0Dq para a


complexo de baixo spin pode ser configuração d5 de alto spin. Isso
calculada: não significa que o complexo não
é formado, significa apenas que
𝛥𝐸𝐸𝐶𝐶 = 𝐸𝐸𝐶𝐶𝑏𝑎𝑖𝑥𝑜−𝑠𝑝𝑖𝑛 − 𝐸𝐸𝐶𝐶𝑎𝑙𝑡𝑜−𝑠𝑝𝑖𝑛 após a sua formação, ele não tem
nenhuma energia extra que
estabiliza o complexo.
Observe para os metais d4, d5, d6

153
e d7 – complexos de baixo spin teriam maior estabilização da energia Dq,
porém temos que considerar a repulsão coulômbica que ocorre entre os
elétrons emparelhados.

Então como são formados os campos de alto spin ou baixo spin? VocÊ
lembra que a natureza sempre escolhe a conformação mais favorável, certo?
Então fica fácil entender, que se a energia de estabilização for alta o
suficiente para superar a repulsão coulômbica dos elétrons emparelhados, o
campo será de baixo spin. Porém se a energia
de estabilização for menor que a repulsão Somente ligantes fortes
coulômbica, o emparelhamento dos elétrons é conseguem distorcer o campo
energeticamente desfavorável e será criado de forma tão efetiva a fim de
um campo de alto spin. gerar um campo de baixo spin,
como vimos anteriormente.
O efeito Jahn-Teller é uma distorção
causada pela presença de diferentes níveis de
preenchimento eletrônico nos orbitais degenerados, ocasionando a quebra
da degenerescência (o que impacta a geometria do composto). Traduzindo,
se houverem orbitais degenerados com quantidades diferentes de elétrons,
ocorrerá efeito Jahn Teller:

Configurações eletrônicas possíveis para os metais de transição e ocorrência do efeito


Jahn Teller. O autor.

O efeito Jahn Teller confere mais estabilização à algumas configurações


eletrônicas, aumentando EECC. Ele diz que configurações simétricas com
orbitais degenerados vão levar a formação de sistemas menos simétricos,
porém com energia mais baixa. Observe que não ocorre efeito Jahn Teller nas
configurações d3, d5 de alto spin, d6 de baixo spin, d8 e d10, pois os orbitais t2g e
eg tem as mesmas energias entre si (não há diferenças no preenchimento
eletrônico).

Em sistemas octaédricos, quando a distorção Jahn Teller ocorre


somente em orbitais t2g dizemos que ela é fraca (caso das configurações d1,
d2, d4(baixospin) d5(baixospin), d6(altospin), d7(altospin)). Ela é mais
pronunciada quando a diferença de preenchimento de elétrons ocorre nos
orbitais eg, que estão mais próximos dos eixos que participam das ligações.

154
Essas distorções causam uma mudança na geometria do complexo seja com
um aumento ou diminuição do comprimento de ligação. Já vimos que alterar
a geometria do complexo é, portanto, alterar o desdobramento de energias
dos orbitais d. Lembre-se que sistemas com geometrias diferentes, essas
características mudam.

Vamos observar um exemplo octaédrico com configuração d9, onde o


efeito Jahn Teller é forte pois acontece nos orbitais eg. Veja o caso do Ni(H2O)6
e do Cu(H2O)6:

Observe que na configuração d9, temos 3 elétrons nos orbitais eg. Se


dois elétrons estão no orbital dx²-y² e um no dz², a repulsão coulômbica entre
os dois ligantes do composto octaédrico no eixo z é menor, o que faz com que
os ligantes possam “se aproximar” mais do metal. Isso causa uma distorção
diminuindo o comprimento das ligações no eixo z, achatando o octaedro
como pode ser visto na figura abaixo (as ligações ao longo do eixo z são
encurtadas). Mas caso os dois elétrons estejam no orbital dz² e um elétron no
orbital dx²-y², então haverá bastante repulsão coulômbica entre os ligantes do
eixo z, fazendo com que eles não possam se aproximar tanto do centro
metálico e “alongando” o octaedro (as ligações ao longo do eixo z são
alongadas).

Figura: sem efeito Jahn Teller, com efeito no orbital dx²-y² com

155
Observe as consequências nos desdobramentos de energia. O orbital
com elétron desemparelhado terá sempre uma energia mais elevada que o
orbital preenchido completamente. Observe também que a energia dos
orbitais t2g também mudam, porém com menores desdobramentos de
energia. Caso a estabilização seja maior no orbital dz² com o alongamento
das ligações no eixo z, o orbitais dzy e dzx terão suas energias abaixadas por
causa da estabilização em todo o eixo z. Caso a estabilização seja maior no
orbital dx²-y² com o encurtamento da ligação no eixo z, então a energia de dyx
será abaixada.

Observe que os diagramas de energia ganham mais desdobramentos e


ficam mais complexos com os efeitos da distorção. Essas geometrias já não
são consideradas octaédricas. Olhe o caso quadrado planar:

156
Ao estabilizarmos os
orbitais dz² com dois elétrons
emparelhados, o efeito de
repulsão coulômbica faz com
que a energia do dz² abaixe e do
dx²-y² aumente (1). Isso faz com
que a ligação seja mais
alongada, devido a repulsão
coulômbica no eixo z do ligante
e do orbital dz² (devido a
distorção Jahn Teller).

Quando removemos o
ligante no eixo z (no quadrado
planar), a energia do orbital dz²
cai ainda mais, junto com a
energia dos orbitais dzx e dzy,
devido a ausência de repulsão
coulômbica no eixo z (2). Em
contrapartida, a energia dos
orbitais dx²-y² e dxy aumentam,
porque os ligantes nos eixos x e y
se aproximam mais devido a
ausência de ligantes no eixo z.

Lembre que em compostos


Vamos observar o caso da distorção de
octaédricos os orbitais t2g
Jahn-Teller para os compostos tetraédricos. Como
estão abaixo dos orbitais eg.
vimos, a energia de desdobramento é bem menor
EM compostos tetraédricos,
(Δtetraédricos = 4/9Δoctaédrico) nos compostos
os orbitais t2g estão acima
tetraédricos. Como consequência, será difícil a
dos orbitais eg em energia.
energia dos desdobramentos superar a energia de
repulsão coulômbica entre os elétrons
emparelhados. Dessa forma, os compostos tetraédricos em geral são de alto
spin, preferindo manter os elétrons desemparelhados para evitar a repulsão
coulômbica. Veja as configurações que sofrem o efeito e compare com as
configurações da coordenação octaédrica, apresentada anteriormente.

Um ligante forte para compostos octaédricos pode não ser forte para
compostos tetraédricos (pois a barreira de energia para forçar elétrons
a se emparelharem é muito maior que Dq no segundo caso, fazendo
com que os elétrons prefiram formar configurações de alto spin em
compostos tetraédricos).

157
Para revisar o assunto de química de coordenação e TCC, assista essa
aula do canal Universidade da Química:

https://www.youtube.com/watch?v=RNY1vLrHtaU

Teoria do Campo Ligante


A TCC é uma teoria de ligação dos complexos de metais bem
elaborada, mas que ainda apresenta algumas falhas. Se o fenômeno dos
complexos ocorre somente nos orbitais d, porque existem complexos com
metais alcalinos e alcalinos terrosos? Você lembra que o centro coordenado
da clorofila é um átomo de Mg2+?

Uma teoria mais moderna sobre a ligação no complexos que será


aprofundada futuramente no seu curso de Química Inorgânica é a Teoria do
Campo Ligante (TCL), que está fundamentada em conceitos da TOM e
aspectos da TCC. ...

Material a ser preparado para o próximo semestre.

158
Lista de exercícios: Unidade II
Professores Welenilton Júnior, Walter Mendes e Eduardo Falcão

1) Esboce o diagrama de Born-Haber para o LiF e indique quais etapas são


endotérmicas (ΔH>0) e quais são exotérmicas(ΔH<0).
2) Explique porque as espécies isoeletrônicas O2-, F-, Na+ e Mg2+ tem raios
iônicos tão diferentes e compare-os com o raio do Ne. Justifique sua
resposta com os valores experimentais dos raios iônicos.
3) Utilizando os dados de raio iônico nos Anexos dessa apostila, prediga a
estrutura cristalina do KI, do KCl e do KBr. Qual a diferença entre elas?
4) Dentre os compostos iônicos NaBr, NaI e MgBr2, ordene em ordem
crescente de caráter covalente.

5) Considere as configurações eletrônicas do N2 e do O2 e determine para


cada molécula a ordem de ligação. Entre as duas moléculas, qual deve
ter a ligação mais curta? Alguma delas paramagnética?

6) Dados os momentos de dipolo e comprimento de ligação do NO e CO, o


que pode ser inferido sobre o caráter iônico e covalente nessa ligação?
Use a teoria de orbitais moleculares para determinar as ordens de
ligação e justifique a menor distância internuclear do CO. Verifique se
seria possível separar estas moléculas utilizando suas propriedades
magnéticas.

7) Responda, em termos de configurações eletrônicas, qual molécula é


mais estável com relação à dissociação e quais são paramagnéticas:
CN, CN+, CN- (C: Z=6; N: Z=7); NO, NO+, NO- (O: Z=8; N: Z=7).

8) Considere o hidrocarboneto da figura. Para


cada átomo de carbono, determine: a) a
hibridização, b) o ângulo formado com átomos
vizinhos aos quais forma ligação química, c) a
forma espacial, d) a ligação é mais forte
(explique a sua resposta).

9) Arranje os seguintes compostos iônicos em


ordem crescente de sua energia de rede: NaF,
CsI, MgO e justifique. Em seguida, calcule a
energia de rede do MgO (r+ = 0,72 Å, r- = 1,4 Å, M = 1,748) e compare
com o valor experimental H = 3.795 kJ/mol. Comente os resultados.
Você esperaria que o ponto de fusão do MgBr2 seria maior ou menor do
que o ponto de fusão do MgO? Justifique.

10) Sugira explicações para os seguintes fatos.

159
(a) Valores altos de energia de ionização estão associados aos gases
nobres.
(b) O raio do Al é menor que o raio do Mg.

11) Indique as hibridações dos átomos representados em destaque nas


seguintes espécies: a) PCl5, b) PCl3, c) SeF3+, d) NCl3. Explique porque o
fósforo forma dois cloretos, PCl3 e PCl5, enquanto o nitrogênio somente
um, NCl3.
12) Em cada par adiante, indique o átomo com maior afinidade eletrônica,
justificando sua escolha.
a) Cu/Zn
b) K/Ca
c)S/Cl
d) As/Ge.
13) Arranje os ânions (N3-, P3-, I-, At-) em ordem decrescente de suas
polarizabilidades, e os cátions (K+, Mg2+, Al3+, Cs+) em ordem decrescente
de suas capacidades polarizantes.
14) Identifique a geometria, o tipo de hibridização dos orbitais do átomo
central e a polaridade nas seguintes espécies moleculares: H2O, NH3, CH4,
ClF5 e SF6.
15) Indique se a afirmação é verdadeira (V) ou falsa (F).

(a) A massa atômica de um elemento dado na tabela periódica é a


média ponderada das massas de seus isótopos encontrados na Terra.
(b) O íon I- é mais polarizável do que F-.
(c) O tamanho de um átomo é aproximadamente o tamanho de seu
núcleo.
(d) O orbital 3d permite ao elétron a maior probabilidade de ser
encontrado mais próximo ao núcleo do que o orbital 3p.
(e) Em um átomo de carbono no estado fundamental, a constante de
blindagem de um elétron em um orbital 2s é igual ao constante de
blindagem de um elétron em um orbital 2p.
(f) A carga nuclear efetiva é independente do número de elétrons
presentes em um átomo.
(g) Flúor possui maior eletronegatividade do que césio.

16) Dados os raios iônicos (em Å) do Na+ (0.95), K+ (1,33), Cs+ (1,69), Cl- (1,81) e
I- (2,16), responda:
(a) A estrutura cristalina do KI deve ser igual à do NaCl ou à do CsCl?
Justifique sua resposta.
(b) Entre o KI e o sal com mesma estrutura (NaCl ou CsCl), qual deve ter
ponto de fusão mais alto? Por quê?
(c) Esboce o ciclo de Haber-Born para a formação do KI sólido a partir do
potássio metálico e do I2.

17) O fluoreto de cálcio, CaF2, cristaliza na estrutura da fluorita, cuja


constante de Madelung é 2,519.

160
a) Esboce o ciclo de Haber-Born para o CaF2 a partir do cálcio metálico e
do F2. Determine o ΔHformação.

b) A entalpia de hidratação de um par de íons é equivalente ao calor


liberado em uma reação do tipo Na+(g) + Cl-(g) → Na+(aq) + Cl-(aq).
Esboce o ciclo de Haber-Born para a hidratação do CaF2 sabendo que
as entalpias de hidratação individuais são -1578 e -363 kJ mol-1. A
dissolução do CaF2(s) deveria ser endotérmica ou exotérmica?

c) Compare os valores calculados em (a) e (b) com os valores das


entalpias de formação (~-570 kJ mol-1) e de hidratação (~-920 kJ mol-1)
do NaF. Explique as diferenças.

Dados: ΔHsub(Ca) = 179,3 kJ mol-1; ED0(F2) = 139 kJ mol-1; Ei1(Ca) = 589,8 kJ mol-1;
I2 = 1145,5 kJ mol-1; EAE(F) = -327,9 kJ mol-1.

18) Dadas as funções de onda da parte angular e radial para o átomo


hidrogenóide:
32
 3 
12
1 Z 
 ( , ) =   cos R(r ) =    e − 2

 4  e, 2 6  a0 

2 Zr  h2
= a0 = 0 2
onde
na0 e  me .

(a) Estime o valor de Ψ(r,q,f) para  = 0, 90 e 180 em função de Z, r e a0.
(b) Verifique a existência de nós radiais e planos nodais. Explique o que
significam esses termos.
(c) Baseado nas suas respostas anteriores determine que orbital esta
função descreve.

19) Um dos três elétrons mais externos de um elemento tem os seguintes


números quânticos: (4, 2, -1, +1/2).
(a) Dê a distribuição eletrônica e o número atômico do elemento, e
números quânticos posssíveis para os outros dois elétrons mais externos.
(b) Quantos planos nodais e nós radiais tem o orbital ao qual o elétron
pertence? A que OA pertence essse elétron?
(c) Considere um elétron com os mesmos números quânticos do elemento
acima, mas com Z = 50. Qual dos dois elétrons deve estar, em média,
mais próximo de seu núcleo? Justifique.

20) Considere os elementos Li (Z = 3), Be (Z = 4), B (Z = 5), O (Z = 8), Si (Z = 14),


Kr (Z = 36), Sr (Z=38) e Ba (Z=56).
(a) Dê a distribuição eletrônica destes elementos e explique suas posições
na Tabela Periódica.
(b) Coloque-os em ordem crescente de raio atômico. Defina raio atômico
e explique de que fator(es) essa propriedade depende.

161
(c) Coloque-os em ordem crescente de 1ª energia de ionização. Defina
energia de ionização e explique de que fator(es) essa propriedade
depende.
(d) Explique o ordenamento dos itens (b) e (c) em termos da distribuição
eletrônica, da carga nuclear e da blindagem.

21) Considere os metais de transição V (Z = 23), Cr (Z = 24), Mn (Z = 25), Ni (Z =


28), Cu (Z = 29) e Zn (Z = 30).

(a) Dê suas distribuições eletrônicas e explique eventuais discrepâncias.

(b) Atribua números quânticos para os elétrons 4s e 3d do vanádio.

(c) Explique o que cada número quântico (n, l, ml e ms) determinam no


orbital atômico (para o caso de um OA de átomo monoeletrônico).

(d) O que acontece com as energias dos OAs quando mais elétrons são
considerados?

22) Considere o composto KBr.


(a) Assumindo o modelo de esferas rígidas, calcule a energia de
estabilização do par iônico e a energia de rede do sólido.
(b) Esboce o ciclo de Haber-Born para a formação do KBr.
(c) Compare o KBr com o NaCl, KCl e KI em termos de força de ligação e
pontos de fusão. (Assuma que todos têm a mesma estrutura.)
Justifique.
(d) Calcule a razão entre os raios do cátion e do ânion para cada
composto da letra (c) e determine se a suposição de que todos têm a
mesma estrutura é razoável.
(e) Comente sobre as contribuições de covalência em compostos iônicos
e ordene os quatro compostos da letra (c) em termos de caráter
covalente crescente.

23) Considere o cloreto de cobre (I) e os dados a seguir (em kJ mol−1):


Sublimação do Cu(s): +338; Ionização do Cu(g): +746; Dissociação do Cl2(g):
+244; Afinidade eletrônica do Cl(g): −349; Formação do CuCl(s) a partir
de seus elementos: −117.
(a) Esboce a equação química global e monte o ciclo de Haber-Born
para a formação do CuCl a partir de seus elementos.
(b) Compare a energia de rede calculada com a estimada a partir do
ciclo. Comente sobre possíveis motivos para a diferença, caso haja.
(c) Sabendo que a entalpia de hidratação (ΔHh°) é a energia liberada
quando um mol de íons sofre hidratação, e considerando que os
valores de ΔHh° (em kJ mol−1) para o Cu+ e para o Cl− são,
respectivamente, −593 e −378, determine se a dissolução do CuCl(s)
deve ser endotérmica ou exotérmica.

24) Esboce o diagrama de orbitais moleculares da molécula de CN e dos


íons CN+ e CN−. Para cada espécie, dê a ordem de ligação e diga se é

162
diamagnético ou paramagnético. Comente sobre as estabilidades e
distâncias internucleares.

25) A molécula de óxido nítrico, NO, perde facilmente um elétron para


formar o íon NO+.
(a) Utilize a Teoria de Orbitais Moleculares para explicar essa observação.
(b) Compare a estabilidade e caráter magnético do NO com o NO+.

26) Usando o modelo de hibridização, considere a formação das seguintes


moléculas: CH4, CO2, PCl3, C2H2Cl2 e PCl5.
(a) Qual a hibridização do átomo central?
(b) Qual a forma geométrica de cada uma dessas moléculas? Esboce
suas estruturas.
(c) Quais moléculas são polares e quais são apolares?
(d) Indique as ligações s e p nestas moléculas.

27) As moléculas de SiF4 e XeF4 apresentam diferentes geometrias. Utilizando


o modelo de hibridização de orbitais, explique por que uma é plana e a
outra tetraédrica.

28) O germânio é um semicondutor intrínseco. Considere que em uma


amostra de Ge, os elementos In, P, Sb e Ga podem estar presentes como
impurezas (dopantes).

(a) Quais destas impurezas tornam o Ge um semicondutor extrínseco (i)


do tipo n e (ii) do tipo p? Justifique sucintamente.
(b) Esboce os diagramas de bandas para os semicondutores obtidos no
item (a) e para o Ge não dopad0o.
(c) Represente em um mesmo gráfico o comportamento da
condutividade em função da temperatura (i) para um semicondutor
intrínseco e (ii) para um condutor metálico.

29) Para cada uma das fórmulas abaixo: (i) escreva o nome do complexo; (ii)
dê o número de oxidação e configuração eletrônica do íon metálico; (iii)
proponha pelo menxos uma geometria possível para o íon complexo
(não precisa considerar o sal) ou para o complexo neutro.

(a) [Co(NH3)5Br](NO3)2

(b) [Cr(en)2Cl2]PF6 (en=etilenodiamina; PF6−=hexafluorofosfato)

(c) [TiCl3(OH2)3]

(d) K3[Fe(CN)6]

(e) Na[Au(bipy)(CN)2] ( bipy = bipiridina ou bipiridil)

(f) [Cr(H2O)4Cl2]Cl∙2H2O (“∙2H2O”: se refere à água de hidratação)

30) Dados os nomes dos compostos abaixo: (i) escreva a fórmula química do
complexo; (ii) dê o número de oxidação e configuração eletrônica do

163
íon metálico; (iii) proponha pelo menos uma geometria possível para o
complexo.
(a) cloreto de tetraaminoplatina(II)
(b) diaquabis(oxalato)cromato(III) de potássio
(c) perclorato de pentaaminoclorocromo(III) (perclorato: ClO4−)
(d) tetrafluoroborato de tetraacetonitrilocobre(I) (acetonitrila: :N−C≡CH3)
(e) etilenodiaminobis(oxalato)cobaltato(III) de sódio

31) A sílica-gel é comumente utilizada para absorver umidade. Em algumas


aplicações, o cloreto de cobalto (II) é incorporado ao material tornando-
o colorido. A absorção de água leva ao complexo hexa-hidratado de
Co(II), [Co(H2O)6]2+, causando mudança de cor e indicando que a sílica-
gel deve ser regenerada ou substituída. Dependendo das condições
experimentais, tanto o íon [CoCl4]2− como o íon [Co(H2O)6]2+ podem ser
observados.
a) Esboce os diagramas de energia possíveis e compare as
propriedades magnéticas desses complexos.
b) Sabendo que os complexos do item (a) possuem números de
elétrons desemparelhados diferentes, e que o número de elétrons
desemparelhados no íon [CoCl4]2− é 3, determine a geometria do
complexo [CoCl4]2−. Justifique sua resposta.
c) Analisando os complexos [Co(H2O)6]2+ e [CoCl4]2−, qual deverá
absorver luz com maior comprimento de onda? Justifique sua
resposta.
d) Assuma que uma espécie intermediária entre os dois complexos é o
íon tetraaquadicloro-cobalto(II). Quantos isômeros são possíveis para
este complexo? Esboce suas estruturas.

32) (a) Explique como cada um dos OA d se orienta em relação aos eixos
coordenados. Faça desenhos mostrando os orbitais.
(b) Em um átomo ou íon isolado, os OA d têm todos a mesma energia,
isto é, são degenerados. Faça um desenho mostrando o que acontece
com as energias dos OA d quando 6 cargas pontuais são dispostas em
torno de um íon, numa configuração octaédrica.
(c) Explique o que deve acontecer com as energias quando duas cargas
(trans uma em relação à outra) são removidas. Para facilitar o raciocínio,
remova as cargas colocadas ao longo do eixo z.

33) A separação entre os OA quando os ligantes são posicionados em torno


do íon metálico depende da chamada força do ligante. Ligantes de
campo forte (como o NH3 ou o NO2−) causam separações relativamente
grandes entre os orbitais, enquanto ligantes de campo fraco (como F− ou
Cl−) causam pequenas separações.
a) Dê a distribuição de seis elétrons em uma simetria octaédrica
considerando os dois casos (6 ligantes idênticos, campo forte (i) e
campo fraco (ii)).
b) O momento magnético μ (em unidades de magneton de Bohr, MB) de
um complexo pode ser estimado pela fórmula μ = [n(n+2)]1/2, em que n

164
é o número de elétrons desemparelhados. Determine μ para os dois
casos da letra (a).
c) Em qual dos casos da letra (a) se espera que ocorra absorção de luz de
menor comprimento de onda?

34) Soluções dos íons complexos [Co(NH3)6]2+, [Co(H2O)6]2+ e [CoCl4]2ˉ são


coloridas. Um absorve na região do amarelo, outro absorve na região do
azul e o terceiro absorve na região do verde. Assuma que a água neste
complexo atua como ligante fraco. (Co, Z = 27)
a) Identifique cada uma das soluções dos íons complexos e diga qual seria
a cor das respectivas soluções.
b) Qual o momento magnético (em M.B.) de cada complexo?

35) Complexos de níquel (II) podem apresentar diversas geometrias, sendo as


mais comuns a octaédrica e a quadrada (ou quadrado-planar).
Considere complexos de Ni(II) nas seguintes situações: (i) octaédrico,
spin-baixo, (ii) octaédrico, spin-alto, (iii) tetraédrico e (iv) quadrado.
Designe o ligante como “L”.
a) Desenhe o diagrama de energias para cada um desses complexos.
Inclua os elétrons d.
b) Calcule o momento magnético para esses complexos.
c) Calcule, em termos da separação energética Δ, a energia de
estabilização do campo cristalino (E.E.C.C.).

165
Unidade III: Química Nuclear
Agora você já aprendeu como ocorrem uma boa parte dos processos
de transformação da natureza e reconhece que eles ocorrem
majoritariamente na eletrosfera do átomo com as transferências eletrônicas:
as ligações químicas. De fato, por conter níveis de energia ordinários da nossa
atmosfera, os elétrons dos átomos passam por diversos processos facilmente
formando ligações. Mas algumas transformações podem ocorrer no núcleo.
Você deve esperar que essas transformações envolvem trocas de energia
muito maiores, já que a coesão que mantém os prótons e neutrôns unidos no
núcleo é alta. Essas reações chamamos de reações nucleares.
Relembre como os cientistas representam o átomo:

• O conceito de isótopos: Ex: 16 17 18


8𝑂 ; 8𝑂 ; 8𝑂

A massa atômica é descrita em unidades de massa atômica


• 1 u.m.a = 1,660540.10-27 kg (1/12 da massa de um átomo de 6𝐶 )
12

E a massa molar de um elemento é dada pela média ponderada de


seus isótopos onde o peso é a porcentagem de ocorrência do isótopo em
uma amostra típica.
Pense no núcleo contendo partículas positivamente carregadas e
neutras como você já viu anteriormente. Vamos relembrar também que o
núcleo é composto por prótons e nêutrons cuja dimensão é da ordem de 10-15
m (dimensão fermi), cerca de 100000 menor que o tamanho do átomo (raios
típicos dados angstrom). Podemos esperar que as interações físicas que
ocorrem na eletrosfera e que regem o comportamento das reações químicas,
não se aplique a esse minúsculo espaço com elevadíssima densidade de
carga positiva. A Eletrodinâmica Quântica é o ramo da
física que estuda as propriedades do núcleo do átomo.
É esperado que as partículas positivas, os prótons,
sejam repelidas umas das outras com grande intensidade
devido a sua enorme massa (comparada a do elétron) e
sua proximidade (pequeno raio) -> repulsão próton-próton.
Assim, teriam os nêutrons a função de estabilizar esse
núcleo. Mais adiante vamos explicar melhor
isso. Mas você deve ter percebido que à
medida que o número atômico Z cresce, o
número de nêutrons cresce quase que
proporcionalmente (porque mais nêutrons
são necessários para manter os prótons em
uma conformação estável).

166
Caso esse núcleo não seja estável, as partículas vão se separar por
repulsão eletrostática. Esse processo se chama decaimento nuclear e ocorre
frequentemente em núcleos muito pesados (muito prótons e neutrôns), onde
fica mais difícil a estabilização por conta de a distância entre as partículas
serem maiores. Uma nova ciência foi criada em torno dessas emissões de
partículas/energia do núcleo e é chamada radiatividade (batizada por Marie
Curie em homenagem ao decaimento do rádio). Dizemos que um átomo de
núcleo instável é um átomo radioativo e um decaimento sempre leva a
liberação de energia pois leva a formação de um ou dois átomos de menor
energia.
Encontre no link abaixo uma animação interativa que permite avaliar a
ocorrência dos isótopos
Monte um núcleo atômico:
https://phet.colorado.edu/es/simulations/build-a-molecule
E outra animação interativa que permite “montar” átomos com
diferentes números atômicos e de massa e observar a estabilidade do núcleo
Monte um átomo: https://phet.colorado.edu/sims/html/build-an-
atom/latest/build-an-atom_es.html

Histórico da Química Nuclear


Vamos estudar um pouco de história. É claro que os estudos sobre a
química nuclear só puderam ser iniciados após a descoberta do núcleo do
átomo. Costumamos iniciar nossa história no final do século IX com a
descoberta dos raios X, e é claro que perpassaremos sobre os temas
Eletromagnetismo, Física Quântica e Modelos atômicos para contar essa
história.

Wilhelm Röntgen (acima), Henri Becquerel (abaixo) e o casal Marie e Pierre Curie em
seus experimentos. Google Imagens.

167
1985 Wilhelm Röntgen descobriu os raios X e tirou a primeira radiografia

Henry Becquerel descobriu que os sais de U emitiam radiação de


1896
forma espontânea
O casal Marie e Pierre Curie descobriu a carga da partícula
1898
identificou três núcleos radioativos (Th, Po e Ra)

1899 Rutherford descobriu as partículas α e β e o tempo de meia-vida

1911 Rutherford formulou o 1º modelo atômico nuclear

1920 Rutherford teorizou o nêutron

1932 Chadwick identificou o nêutron e a existência dos isótopos

1934 Criação do primeiro isótopo radioativo de um átomo não radioativo

1935 Fermi inventou o primeiro reator nuclear (Chicago Pile One)

1938 Descoberta da fissão nuclear

1938 Fermi e Szilard identificaram a reação em cadeia nuclear

1º modelo para estimar a energia liberada no processo de


1939
fissão nuclear do urânio (~106 eV)
Início dos
Primeira arma nuclear criada (Projeto Manhattan, EUA)
anos 1940
Discurso Atoms for Peace para o lançamento do programa civil de
1953
cooperação atômica
1954 Primeira usina nuclear para produção energética (URSS)

1978 Utilização da radiação na higienização dos alimentos

1979 Acidente com o reator Three Mile Island


Energia nuclear era responsável por 15% de toda energia
1980
produzida no mundo
Acidente em Chernobyl (Ucrânia) com mais de 4000 vítimas de
1986
câncer
Acidente com Césio-137 de aparelhos odontológicos abandonados
1987
(GO, Brasil)
Acidente na usinha nuclear de Fukushima (Japão) devido a um
2011
tsunami
Lançamento do primeiro satélite alimentado por um gerador de
2013
energia nuclear (Voyager I)

168
Partículas Nucleares
A Radioatividade é a ciência que
estuda as reações nucleares. Essas reações Dizer que os processos radioativos
acontecem exclusivamente no núcleo
são essencialmente espontâneas e
significa que um elemento radioativo será
ocorrem naturalmente exclusivamente no
radioativo em qualquer forma, óxido,
núcleo dos átomos. Existem seis tipos de puro, sulfato, etc. pois a transformação
decaimentos radioativos conhecidos e nuclear independe das transformações
vamos falar sobre as propriedades de ocorridas na eletrosfera do átomo.
cada um deles e como escrevemos Fluoreto de Urânio, Urânio metálico ou o
reações nucleares. minério uranita, são todos radioativos.

Você se lembra de Ernest


Rutherford? Falamos anteriormente que ele brincava de bombardear finas
folhas de ouro com partículas ∝ e foi assim que ele descobriu que o átomo
era cheio de espaços vazios, que o núcleo deveria ser muito pequeno e
denso (já que poucas partículas ∝ se chocavam com o anteparo e
retornavam na direção de onde tinham sido emitidas). Pois bem, Rutherford
foi além e brincou um pouco mais com esse experimento. Ele decidiu avaliar
a carga e a velocidade dessas partículas, colocando um campo magnético
sobre as partículas emitidas. Foi assim que ele descobriu 3 tipos de
decaimentos radioativos.

Experimento de Rutherford: descoberta da partícula alfa com campo


eletromagnético sobre as emissões radioativas. Prêmio
Nobel 1908, pai da Física Nuclear.
Observe que a partícula alfa era desviada para
o sentido negativo do campo magnético, o que devia
indicar sua carga positiva, além que de seu ângulo de
deflexão era pequeno, o que devia indicar que sua
massa era considerável. Dessa forma, Rutherford
concluiu que as partículas alfas eram constituídas por
um núcleo de He (2 prótons e 2 nêutrons).
A partícula beta emitida é uma partícula com
massa muito menor (fortemente desviada pelo campo
magnético) e deveria ser negativamente carregada.
A princípio isso não faz sentido, mas você deve
imaginar que um nêutron poderia se “quebrar” em
uma carga negativa equivalente ao elétron que sai
do núcleo, uma carga positiva que permanece no
núcleo e um neutrino, uma subpartícula de carga

169
nula. Para que isso seja plausível, temos que deixar de imaginar o nêutron
como uma partícula sem carga para enxergá-lo como uma partícula nula
contendo uma unidade de carga positiva e uma negativa, equivalente a
carga fundamental. Dessa forma, ao emitir uma partícula beta, um nêutron se
transforma em neutrino, um próton e um elétron (esse último deixa o núcleo
do átomo), por isso representamos o número atômico como -1, mas a massa
atômica não é alterada (zero).
A emissão gama por sua vez, não sofria nenhum desvio (portanto
nenhuma carga) e tinha velocidade equivalente à da luz. Ficou claro que a
emissão gama só poderia ser constituída de radiação eletromagnética. Os
raios γ tem comprimento de onda na região de λ<0,0001 nm que (lembre-se
que radiação pode se comportar como partícula) é emitido quando um
átomo sai de um alto estado de excitação para o estado fundamental.
Normalmente a emissão de radiação gama está associada a emissão de
partículas alfa. Ao decair em número atômico, o átomo pode liberar uma
“energia extra” para manter um núcleo menor, coeso. Como exemplo similar,
podemos falar da emissão de radiação na região do visível ocorre em testes
de chama com metais do grupo 1 e 2 e na queima de fogos de artifício. No
caso da radiação gama, nosso olho não consegue enxergá-la.

A EquinoxGraphics dispõe de uma animação diferenciando os


decaimentos radioativos: https://www.youtube.com/watch?v=s9QIgY5_8ok
Duas propriedades importantes sobre as partículas radioativas são a
velocidade e o poder de penetração dessas partículas. É possível pensar que
o tamanho dessas partículas varia enormemente na escala quântica.

A partícula alfa tem massa elevada da ordem de ~4.10-27 kg enquanto


que a partícula beta não tem massa, porém tem carga, por isso o poder de
penetração e a velocidade de emissão da partícula alfa é menor. No caso
da partícula gama, que não tem nem carga, nem massa, seu poder de

170
penetração e velocidade serão muito superiores, capaz de atravessar meios
muito densos (como paredes de chumbo).
Escrevemos então as reações nucleares:
16 12
8𝑂 → 6𝐶 + 42∝ 235
92𝑈 → 234 4
90𝑇ℎ + 2∝
16
8𝑂 → 16
8𝑂 + 00𝛾
16 16 0 14 16 0
8𝑂 → 9𝐹 + −1𝛽 6𝐶 → 7𝐹 + −1𝛽

Observe que em uma reação nuclear, diferente da reação química, as


espécies químicas podem mudar à medida que a composição do núcleo
muda. Se o número atômico é alterado, sabemos que o elemento muda.
Todavia, igualmente a reação química as espécies precisam estar
balanceadas em números de partículas. No caso da emissão de partículas
gama, você pode concluir o porquê que o elemento não muda. Esse
processo de mudança do núcleo do átomo é chamado de Transmutação
Nuclear. É esse processo que permite criar novos elementos.
Em 2017, completamos a tabela periódica até o sétimo período (até o
elemento 118). Completamos porque os elementos com Z>94 não são
naturais. Os elementos com Z maior são muito instáveis e costumam ter um
tempo de meia vida elevado, decaindo muito rápido em menores. Você
sabe como um elemento é criado? Não é tão fácil, mas consiste em “juntar”
átomos naturais menores. Se você estiver curioso:
https://www.youtube.com/watch?v=NMQkq7EiFVs
Perceba também o porquê que radiação X e γ
podem fazer mal ao nosso organismo pois são
consideradas ionizantes, carregando fótons tão
energéticos capazes de conter energias suficientes
para ionizar qualquer átomo, levando a processos
celulares indesejados e podem causar mutações,
levando a doenças cancerígenas e degenerativas.
Comumente, a visão do senso comum é limitada a esse
risco, fazendo com que a radioatividade e os processos
nucleares tenham uma conotação negativa.

Tipos de reações nucleares


Vimos que as reações nucleares também podem ser chamadas de
transmutação nuclear, porque envolvem a mudança do elemento química.
A primeira transmutação promovida sinteticamente foi feita por
Rutherford com seus experimentos com partículas alfa. Ele observou que ao
bombardear nitrogênio, as propriedades do gás eram alteradas, o que
indicava uma transmutação.
14
7𝑁 + 42𝛼 → 11𝑝 + 178𝑂
O primeiro processo que vamos abordar é a fissão nuclear, que como
o nome já diz, envolve a quebra de nuclídeos de átomos grandes em átomos
menores, consequentemente liberando bastante energia. Essa reação pode
ocorrer espontaneamente em um núcleo instável ou a partir da colisão de
partículas com um nuclídeo.

171
Um exemplo famoso de fissão nuclear fissão do U-235, utilizada na
geração de energia. O isótopo mais estável do urânio é o A=238, e apenas o
U-235 é radioativo, portanto, para produção de energia é necessário fazer o
“enriquecimento” do Urânio (até 20% da amostra), ou seja, aumentar a
proporção de U-235. Então podemos bombardear o U-235 com um nêutron, e
teremos o seguinte decaimento:
𝟐𝟑𝟓 𝟏 𝟏𝟒𝟎 𝟗𝟑
𝟗𝟐𝑼 + 𝟎𝒏 → 𝟓𝟔𝑩𝒂 + 𝟑𝟔𝑲𝒓 + 𝟑 𝟏𝟎𝒏 + 𝒆𝒏𝒆𝒓𝒈𝒊𝒂
Tanto o Ba quanto o Kr ainda têm atividade radioativa, e note que são
produzidos 3n dessa reação. Essa reação é muito interessante do ponto de
vista energético. E isso nos leva ao conceito de reação em cadeia:
Exemplo de fissão nuclear em
cadeia do U-235 que ocorre em
usinas nucleares.

Você deve ter se


perguntado como eu posso
controlar ou parar uma
reação em cadeia. Algumas
espécies químicas tem o
poder de capturar nêutrons e,
portanto, terminar reações em
cadeia, como o grafite ou
isótopos de Cádmio. Isso
acontece nos grandes
reatores de fissão nuclear de
235U nas usinas e o “controle” da magnitude dessas reações é fundamental
na segurança do processo.
O segundo tipo de reação nuclear é a fusão
nuclear, quando dois núcleos ou nuclídeos se
encontram formando um núcleo maior e com
valores de energia liberados tipicamente maiores
que nas reações de fissão nuclear (até 100x mais
energéticas). O melhor exemplo que temos está no
espaço. É assim que as grandes estrelas das
galáxias produzem energia e é assim que ocorrem
os processos na estrela maior do nosso sistema
planetário, o sol, cujos núcleos de isótopos de
hidrogênio 2H (deuterium) e 3H (tritium) se fundem gerando um átomo de He,
um nêutron e a energia que mantém nossa vida e nosso bronzeado em dia.
A tecnologia nos permite hoje promover reações de fusão em reatores,
são os chamados reatores de fusão a frio. Eles funcionam como mini estrelas
que não precisam ser aquecidas até 10000 K para gerar energia. O princípio
desses reatores é aplicar um campo magnético muito alto para fazer com
que os núcleos colidam e sejam fundidos.
Outras reações nucleares que são interessantes serem mencionadas, é
a utilização da radiação X que interage com os ossos formando as
radiografias, a utilização de radiação ionizante na esterilização de alimentos
a partir da degradação dos componentes celulares de microorganismos, etc.

172
Aplicações das reações nucleares

Medicina e Imagem:

Medicina e Tratamentos:

Produção de energia:

Desinfecção: alimentos, água, etc.

Produção de armas nucleares:

Estabilidade nuclear e o Cinturão de estabilidade


Você já se perguntou porque um núcleo é estável? Muitos cientistas se
perguntaram isso por muito tempo e muitas respostas surgiram daí. O que
sabemos que um núcleo sofre ação de forças gravitacionais e forças
elétricas. Ou o que sabíamos. Vamos desprezar as forças gravitacionais e
olhar somente para as forças elétricas, que nos interessam nesse momento.
• Partículas positivamente carregadas de massa relativamente
elevada para uma partícula (para a força elétrica é elevada,
mas na ordem de 10-27 kg a ação da força gravitacional é
mínima) confinadas em um espaço muito pequeno (10-15 m) →
forte repulsão entre as cargas positivas: força elétrica.
• Se o núcleo é estável e coeso, alguma outra força deveria
superar a força elétrica, certo?
De acordo com a eletrodinâmica e a cromodinâmica quânticas, a
teoria mais aceita hoje para a estabilidade nuclear é a de que os prótons e
nêutrons (núcleons) são formados por partículas ainda menores, os quarks. Os
quarks interagem entre si sendo unidos em três por uma partícula chamada
gluon e formando os prótons e núcleos. A interação entre um quark do
nêutron com um quark de um próton vizinho cria um novo gluon, uma
interação de curto alcance, mas muito forte. Essa força é chamada de força
nuclear forte, e é ela que é responsável por manter a estabilidade do núcleo
atômico. A interação formada entre os quarks de partículas diferentes tem
energia muito mais elevada que a força elétrica, embora ela seja de curto
alcance.
Os físicos classificam as três
partículas fundamentais em
quarks, léptons e bósons.
Os quarks se combinam
especificamente para
formar partículas mais
pesadas, como o próton e o
nêutron. Os léptions são
partículas leves como o
elétron e o pósitron. Os
bósons são partículas sem
Fonte: Abc da Radiologia (à esquerda). massa que propagam as
Universidade da Química (à direita). forças do universo, como o
glúon.

173
OBS: Não imagine que o nêutron se põe no meio de próton impedindo
a repulsão eletrostática. Ele simplesmente interage com os prótons com uma
força muito mais elevada, superando a repulsão próton-próton.

Essa teoria explica o que ocorre nos tipos de decaimento. Vamos olhar
com mais detalhes para todos eles em breve. Mas veja o decaimento beta,
por exemplo. Quando dizemos que o nêutron “se quebra e vira” um próton, o
que queremos dizer é que a conexão dos quarks é desfeita no modelo de
nêutron e refeita no modelo de próton, gerando um anti-neutrino e emitindo
um elétron. Por isso dizemos o nêutron é uma partícula nula. Para que ele vire
um próton de carga positiva, ele precisa “liberar” uma carga negativa. Se
você bem lembra, a massa do nêutron é um pouco maior que a do próton
(mn = 1,674928.10-27 kg; mp = 1,672621.10-27 kg). É lógico pensar que um nêutron
equivale a um próton, um elétron e um neutrino (o neutrino e o anti-neutrino
são partículas de massa muito pequena, menor que a do elétron e cargas
desconhecidas até o momento). Já na emissão β+, a conexão de quarks que
forma um próton é desfeita para formar um nêutron, e a carga positiva
“excedente” é emitida na forma de pósitron (uma partícula de massa
pequena).
A estabilidade do átomo depende, como vimos, da força elétrica que
mantém os elétrons ao redor do núcleo, e estabilidade de um núcleo,
portanto, depende da Força Nuclear Forte que ocorre da interação entre os
quarks dos prótons e os núcleos e supera a força elétrica que provoca a
repulsão próton-próton. Dessa forma, a presença de nêutrons é necessária
para a estabilidade do núcleo, exceto pelo núcleo de hidrogênio (que só tem
um próton e não experimenta esse efeito de repulsão). Então se adicionarmos
nêutrons infinitamente no núcleo, ele será mais estável? É claro que a resposta
é não e você vai entender o porquê.
Inicialmente vamos converter as massas dessas partículas em unidades
atômicas u.m.a para facilitar nosso trabalho.

Vamos tomar o exemplo do isótopo 8𝑂 .


16
Podemos esperar que a massa
total seja igual:

174
𝑚𝑂−16 = 𝟖𝒎𝒑 + 𝟖𝒎𝒏 + 𝟖 𝒎𝒆 = 16,131912 𝑢. 𝑚. 𝑎.

Mas na experimentação, observamos que a massa de O-16 é igual a


15,994915 u.m.a. Uma diferença de -0,136997 u.m.a. (mais leve do que se
esperava). A resposta desse problema chamado Defeito de Massa foi dada
por Einstein:
𝑬 = 𝒎𝒄²
Einstein estabelece uma relação entre matéria e energia, uma forma
de fazer a equivalência entre uma partícula e uma quantidade de energia.
Dados os princípios da física quântica de dualidade onda-partícula, isso não
parece agora tão absurdo, certo.
Vamos então estimar qual é a energia equivalente a essa massa de
oxigênio que nos parece faltar.
-0,136997 u.m.a. = -2,27489.10-28 kg 1 eV = 1,60218.10-19 J
𝜟𝑬 = 𝜟𝒎. 𝒄²
Δ𝐸 = (−2,27489.10−28 𝑘𝑔)(2,997925.108 𝑚. 𝑠 −1 )2 = −2,044570.10−11 kg. m². s − ²
= [J]
Observe a unidade. Você já sabe que não faz sentido tratarmos de
trocas de energia no mundo atômico na ordem
de Joule. Então:
O fato é que o postulado de
−2,044570.10−11 𝑒𝑉
Δ𝐸 = = −1,276120 .108 𝑒𝑉 Einstein prevê que no universo
1,602177.10−19 subatômico, massa pode ser
= −127,6120 𝑀𝑒𝑉
convertida em energia e energia
O que você acha do valor dessa diferença em massa. Algo impossível para
de massa representada em energia? Parece nós de imaginar com o que
razoável? tínhamos aprendido até agora.

Pois bem, essa é exatamente a energia


necessária para formar o O-16. Isso significa que aquela variação de massa
que não esperávamos experimentalmente é exatamente equivalente a
energia que o átomo libera quando é formado.
𝟖 𝟏𝟎𝒏 + 𝟖 𝟏𝟏𝒑 + 𝟖 −𝟏𝟎𝒆 → 𝟏𝟔
𝟖𝑶 + 𝑬

Se calcularmos a energia da
reação de formação do O-16 a Isso significa que no universo subatômico, a
partir da variação de massa, Lei da Conservação de Massa e a Lei da
teremos que: Conservação de Energia não são
independentes entre si.
Δ𝑚 = 𝑚𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠 − 𝑚𝑟𝑒𝑎𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠

Δ𝑚 = 𝑚𝑂−16 − (8. 𝑚𝑛 + 8. 𝑚𝑝 + 8. 𝑚𝑒 )

Δ𝑚 = −0,136997 𝑢. 𝑚. 𝑎.
(−0,136997 u. m. a. ) ∗ (1,660540.10−27 𝑘𝑔) ∗ (2,997925.108 𝑚. 𝑠 −1 )2 𝑒𝑉
ΔE =
1,602177.10−19 𝐽
𝚫𝑬 = − 𝟏, 𝟐𝟕𝟔 . 𝟏𝟎𝟖 𝒆𝑽 = − 𝟏𝟐𝟕, 𝟔 𝑴𝒆𝑽

175
• Observe que a energia de formação de um átomo é muito maior que
a energia típica de uma transformação na eletrosfera (reações químicas) e
isso está condizente portanto com o que discutimos ao longo dessa unidade.
Nos processos nucleares, as liberações de energia são da ordem de milhões
de vezes maior.
Núcleons são as partículas
Aprendemos agora como calcular a Energia da Ligação presentes no núcleo.
Nuclear (ELN). É muito comum ainda dividirmos esse valor pela
quantidade de núcleons do átomo. No caso do O-16, 8 nêutrons e 8 prótons.
Δ𝐸 −127,6 𝑀𝑒𝑉
𝐸𝐿𝑁𝑂−16 = = = −𝟕, 𝟗𝟖 𝑴𝒆𝑽/𝒏𝒖𝒄𝒍𝒆𝒐𝒏
𝐴 16

ELN será diferente para cada núcleo. E assim nós explicamos à


pergunta que foi feita no início dessa seção:
“Então se adicionarmos nêutrons infinitamente no núcleo, Exercício proposto:
ele será mais estável?” Não. Calcule a ELN do 4He e
12C e verifique que as
Ao aumentarmos o valor de nêutrons para um respostas são -7,07 e -7,68
mesmo átomo, diminuímos a razão ΔE/A levando a MeV/nucleon.
menores valores de ELN. Daí nós podemos concluir que
existem, não somente uma, mas algumas quantidades de nêutrons “ideiais”
para cada núcleo, onde ELN será maximizado (em módulo).

ENL (Energia de Ligação Nuclear por núcleon) em função do número de massa


(apenas do isótopo mais estável). Adaptado do professor Valdir Guimarães.

176
Observe que um dos núcleos mais estáveis da Tabela periódica é o
56Fe.Elementos menores tem estabilidade crescente e tendem a sofrer fusão
nuclear para se tornarem núcleos maiores enquanto que elementos maiores
que o 56Fe tendem a sofrer fissão nuclear para se tornarem menores. Se um
núcleo a direita da região de maior estabilidade sofrer fissão ele produzirá
dois núcleos com ENL mais elevada. Da mesma forma se dois núcleos da
região a esquerda se fundirem, eles produzirão um núcleo com maior ENL.
Qualquer núcleo maior que o 208Pb é naturalmente instável.
Agora veja o cinturão de estabilidade dos isótopos:
Relação N/Z na estabilidade de
isótopos e cinturão de
estabilidade.

Observe que há uma


teórica que representa a
razão N/Z =1 (mesma
quantidade de prótons e
nêutrons). Os pontos pretos
representam isótopos estáveis
e a área sombreada
representam os isótopos que
podem existir, embora
instáveis (núcleos radioativos).
• Quanto mais
prótons, mais nêutrons são
necessários para manter o
núcleo estável.
• Quando Z<20, a
razão N/Z é em torno de 1.
• Núcleos com
muitos prótons (Z>20)
precisam de uma razão N/Z >
1 para serem estáveis.

Ainda vamos utilizar bastante essa equação de Einstein, então vamos


facilitar nossas vidas pra não nos enrolarmos com unidade (mas é importante
que você entenda de onde vem cada termo). Vamos trabalhar mais
facilmente com u.m.a. e energias dadas em 106 eV (MeV). Então teremos
que:
𝑐 = 2,997925.108 𝑚. 𝑠 −1 = 931,5 𝑀𝑒𝑉. (𝑢. 𝑚. 𝑎. )−1
𝚫𝑬 (𝑴𝒆𝑽) = 𝚫𝒎(𝒖. 𝒎. 𝒂. ) ∗ 𝟗𝟑𝟏, 𝟓 𝑴𝒆𝑽. (𝒖. 𝒎. 𝒂. )−𝟏
E a energia de um isótopo pode ser calculada pelo defeito de massa
das partículas envolvidas na sua formação:
Δ𝑚 = 𝑚𝑖𝑠ó𝑡𝑜𝑝𝑜 − (𝑥. 𝑚𝑝 + 𝑦. 𝑚𝑛 + 𝑥. 𝑚é )

177
misótopo é a massa experimental que você encontra nas tabelas
periódicas.
Números mágicos do núcleo:
Correção em modelos de previsão da estabilidade dos núcleos (Não
veremos esses modelos nessa disciplina). Modelos que consistem em tratar o
núcleo similarmente a eletrosfera, com camadas de energia onde as
partículas poderiam habitar, e não somente um aglomerado de partículas
coesas indefinidamente.

Similaridade entre o padrão de energia dos elétrons nas camadas da


eletrosfera e dos núcleons no núcleo do átomo.

Em geral, núcleos com números pares de


prótons e nêutrons são mais estáveis. Existem
apenas 8 estáveis com número ímpar de prótons e
nêutrons. Os números mágicos são números pares
de prótons e nêutrons que conferem maior
estabilidade nuclear: 2, 8, 20, 28, 50, e 82 e 126. Daí
podemos entender porque o He é tão estável (2
prótons e 2 nêutrons). Esses números mágicos
correspondem às configurações do núcleon com
um nível fechado e preenchido.

178
Agora que você entende como um núcleo é estável, vamos retomar
nossos estudos sobre os decaimentos nucleares. Falamos das emissões α, β e γ
e algumas de suas propriedades, agora vamos entender como elas ocorrem
e vamos aprender outros processos de decaimentos conhecidos.
𝐴 𝐴−4
Decaimento alfa ( 𝟒𝟐𝜶): 𝑍𝑋 → 𝑍−2𝑌 + 42𝛼
Liberação de um núcleo de He que ocorre naturalmente com
elementos A>200. Ele ocorre em átomos muito grandes para tornar os núcleos
mais leves e próximos da estabilidade nuclear.

1 0
Decaimento beta ( −𝟏𝟎𝜷): 0𝑛 → 11𝑝 + −1𝑒 + 𝑣−
Em um decaimento beta um nêutron se transforma em um próton, o
que altera o elemento e Z, mas não altera a massa do núcleo
significativamente, pois o núcleo emite um életron e um neutrino (de massa
menor que o é). Esse elétron não existia no átomo. Ele é formado da
transformação do nêutron. Esse decaimento ocorre quando há um excesso
de nêutrons com relação ao número de Z (quando a razão N/Z está muito
alta) tornando o núcleo instável.

Um exemplo: 14
6𝐶 → 14
7𝑁 + 0
−1𝛽
Conservação do número de núcleons.
Conservação de cargas.

179
Decaimento gama (γ):
Um átomo em um estado excitado de energia (promovido por alguma
transição eletrônica de alto nível), volta ao seu estado energético inicial
emitindo uma radiação muito energética, a radiação gama.

Um exemplo: 60
27𝐶𝑜 ∗→ 60
27𝐶𝑜 + 00𝛾 Conservação do número de núcleons.
Observe que não há Conservação de cargas.
transmutação no decaimento gama.
Além desses decaimentos, outros processos podem ocorrer:
Fissão espontânea (n):
quando um núcleo grande instável se transforma em dois núcleos
menores redistribuindo as massas atômicas e os elétrons. Nesse processo, o
núcleo emite uma certa quantidade de nêutrons (n), pois vimos no cinturão
de estabilidade que a razão N/Z da estabilidade cai, quando Z diminui.

1 0
Captura eletrônica K (raios X): 1𝑝 + −1𝑒 → 10𝑛 + 𝑟𝑎𝑖𝑜𝑠 𝑋/𝛾
Um núcleo instável pode capturar um élétron da camada k ou pode
ser bombardeado com um elétron e faz o processo análogo ao que ocorre
na radiação beta. Um próton “absorve” esse elétron e gera uma partícula de
carga nula, um novo nêutron. Como resultado, o núcleo emite radiação na
faixa de 0,1 nm (raios X) até 0,001nm (raios γ). Se sua memória é boa, vai
lembrar que vimos na Unidade I o efeito Compton, e como Moseley estudou
as massas atômicas com os raios X ao lançar elétrons em átomos.

Um exemplo: 41
20𝐶𝑎 + 0
−1𝑒 → 41
19𝐾
Conservação do número de núcleons.
Conservação de cargas.

1 0
Decaimento Pósitron (β+): 1𝑝 → 10𝑛 + +1𝑒 + 𝜈
Um próton também pode se transformar em um nêutron sem precisar
“absorver” um elétron. Para isso, o próton precisaria “perder” sua carga

180
positiva. Nesse processo, o próton emite um pósitron, uma partícula de
mesma massa do elétron, porém com carga positiva, formando um nêutron e
um neutrino. O pósitron é antimatéria do elétron. Nesse caso, A também não
varia, porém o valor de Z diminui, transmutando o átomo. O decaimento
pósitron β+ é análogo ao decaimento β e vai ocorrer em núcleos cuja relação
N/Z está baixa, o alto número de prótons está causando instabilidade.

Um exemplo: 43
22𝑇𝑖 → 43
21𝑆𝑐 + 0
+1𝛽
Conservação do número de núcleons.
Conservação de cargas.
Como você pode observar,
tanto o decaimento pósitron quanto a captura de elétron K ocorrem com a
transformação de um próton em nêutron. O que define qual dos processos
vai ocorrer é a ordem de energia do processo. Se a energia é da ordem
inferior até duas vezes a massa do elétron, o átomo precisará absorver um
elétron da camada K do átomo para realizar a emissão. A lacuna criada na
camada K emitirá radiação na ordem dos Raios X. Se a energia relacionada
a instabilidade do núcleo é igual ou superior a 2x massa do elétron, o átomo
emite um pósitron na transformação.
• Se Δm < 2.mé (ocorre captura do elétron K)
• Se Δm ≥ 2.mé (ocorre emissão pósitron)
Compare as propriedades dos decaimentos com valores numéricos
aproximados:
Emissão Massa Velocidade
Tipo Penetração Carga Exemplo
radioativa (u.a.)* relativa**
4
2𝛼 partícula Baixa 4,0015 +2 ~ 0,1 c
0
−1𝛽 partícula Moderado 0,0005 -1 > 0,9 c
0
0 𝛾 fóton Elevado 0 0 c
1
0𝑛 partícula Elevado 1,0087 0 <0,1 c
raios-X fóton Elevado 0 0 c
+1
0
𝛽 partícula Moderado 0,0005 +1 > 0,9 c
1
+1𝑝 partícula Moderado 1,0073 0 ~ 0,1 c
* u.a. = 10-27 kg (unidade atômica) ** c = 2,99.108 m/s

Observe que quanto maior a massa ou a carga da partícula, menor


será seu poder de penetração e sua velocidade.

Séries de Decaimento Nuclear


Alguns elementos pesados tem rotas de decaimento específicas que
envolvem várias etapas, características da instabilidade dos seus núcleos e
seus produtos. Veja agora o conhecido exemplo do U-238.

181
Caracteristicamente o pesado
núcleo U-238 decai para o Th emitindo
uma partícula alfa. O Th-234 por sua
vez tem uma elevada quantidade de
nêutrons para sua estabilidade.
Consequentemente, duas
transmutações envolvendo emissão a
transformação de núcleos em prótons
vão ocorrer, levando a formação de
U-234. E a série de decaimento
continua até que se chegue no Pb-
206, um isótopo de núcleo estável.
Exercício: Quais são os valores
do número atômico e da massa
quando o 238 92𝑈 emite seis partículas
alfa e quatro partículas beta?
Exercício: Qual a energia (em
MeV) na transmutação do primeiro decaimento nuclear da série do U-238?
Dados:

Lembre-se que o átomo He tem dois elétrons a mais que a partícula alfa e
que nenhum elétron do U-238 é emitido na emissão de partículas alfa.

Unidades de radiação
Os efeitos das reações nucleares podem ser quantificados em
unidades de contagem de partículas por unidade de tempo (geralmente
segundo), mas é fundamental também estabelecer unidades de energia
equivalente a radiação liberada frequentemente nesses processos. A
radiação sofre efeito de espalhamento e absorção ao ser liberada de um
núcleo e viajar por uma trajetória a depender do meio em que se propaga.
Para quantificar numericamente os efeitos da radiação, algumas unidades
foram criadas:
Grandeza Símbolo Unidade SI
Taxa de decaimento ou 1 Ci (Currie) 3,7 .1010 decaimentos. s-
transmutação 1

(Atividade) 1 Bq (Becquerel) 1 decaimento. s-1 X


1 R (Röntgen) 1 esu / 0,001293 g de
Dose de exposição
ar**
1 rad 100 erg. g-1
Dose de absorção*
1 Gy (gray) 1 J.kg-1 X
1(rem) equivalente- 100 erg. g-1
Dose equivalente homem R
1 Sv (Sievert) J. kg-1 X
*Rad e Gy são utilizados para doses físicas; rem e Sv são utilizados para doses
biológicas (equivalente a um efeito
**Esu é uma medida de carga elétrica liberada, no caso do Röntgen representa a
carga elétrica dispersa por radiação (X ou γ) pela massa de ar.

182
Cinética de reações nucleares
Como você aprendeu em Química Geral I, a Cinética é o ramo da
química que se dedica a estudar a dependência temporal da concentração
dos reagentes em uma reação química. Em alguns aspectos, a cinética das
reações nucleares se assemelha, a começar pela lei da velocidade.
Similarmente a velocidade de reação v, a grandeza Atividade (A) é utilizada
para descrever a velocidade de desintegração do núcleo. A “concentração
de reagentes” em reações químicas será substituída pela concentração de
núcleos radioativos (N), e podemos escrever que:
𝑑𝑁 Note a taxa negativa relativa
𝐴= − ao ‘decaimento’ nuclear.
𝑑𝑡
Podemos esperar que as reações nucleares se aproximem de cinéticas
de primeira ordem se pensarmos que a taxa de decaimento só depende de
um dos reagentes, o núcleo (até porque a maioria das reações nucleares só
envolve um reagente, a não ser que ela seja promovida pelo
bombardeamento de partículas).
𝑑𝑁
𝐴 = − 𝑑𝑡 = 𝑘𝑁 k = constante de decaimento nuclear
1
𝑁
𝑑𝑁 = −𝑘𝑑𝑡

Resolvendo a equação diferencial tomando um decaimento de N0 até N para


um intervalo de tempo dt:
𝑁 𝑡
1
∫ 𝑑𝑁 = ∫ −𝑘𝑑𝑡
𝑁0 𝑁 0

𝑙𝑛𝑁 − ln 𝑁0 = −𝑘 (𝑡 − 0)
𝑁
ln = −𝑘𝑡
𝑁0

𝑵 = 𝑵𝟎 𝒆−𝒌𝒕

(Você deve reconhecer a semelhança dessa equação como modelo cinética


de primeira ordem)

No SI, a unidade de decaimento é o Bq = decaimentos/segundo.

Analogamente temos que:

𝐴 = 𝐴0 𝑒 −𝑘𝑡

Você pode concluir que o decaimento nuclear é exponencial. E daqui


tiramos uma nova definição, cunhada por Rutherford, o pai da Química
nuclear:
𝑁0
𝑡1 → 𝑁 =
2 2

O tempo de meia-vida é o tempo em que


metade de mostra radioativa leva para sofrer

183
desintegração nuclear, ou seja, sua concentração cai pela metade.
𝑁0 /2
ln = −𝑘𝑡1
𝑁0 2

1
− 𝑙𝑛 2
𝑡1 =
2 𝑘
ln 2
𝑡1 =
2 𝑘

Se dispormos do tempo de meia vida


de um elemento, podemos encontrar a sua Lembre-se que no modelo de
constante cinética de decaimento, que primeira ordem, a unidade
independe da concentração de núcleos. respectiva a k é o s-1.

0,693
𝑘 =
𝑡1
2

Vamos fazer um exercício:

O trítio (H-3) decai por emissão β para o He-3 com t1/2 = 12,2 anos. Uma
amostra de um composto contendo trítio possui uma atividade inicial de 0,833
Bq. Calcule o número N0 de núcleos de trítio na amostra inicial, a constante de
decaimento e a atividade após 2,5 anos.

Dica: 12,2 anos = 4.453 dias = 384.739.200s


0,693
𝑘 = ; 𝐴 = 𝑘𝑁; 𝐴 = 𝐴𝑜 𝑒 −𝑘𝑡
𝑡1
2

Carbono-14 e datação
Você já viu que o tempo de meia-vida da
amostra independe da concentração de núcleos.
Uma amostra de concentração N0 levará 1 tempo
de meia-vida até chegar N0/2. Passado mais um
tempo de meia-vida a partir de N0/2 ela chegará à
concentração de N0/4. Após um terceiro tempo de
meia vida, a concentração será de N0/8. Esse
resultado é justificado pelo perfil exponencial do
decaimento. Então se eu conheço o tempo de meia
vida de uma substância, e conheço a concentração atual dela, eu posso
facilmente estimar quantas meias-vidas já se passaram para aquela amostra. E
é assim que o ser humano arrumou um jeito de encontrar a idade de coisas
muito antigas. Veja abaixo o tempo de meia vida de alguns isótopos:

184
Observe que o carbono-14, um
isótopo instável do carbono, tem um
t1/2 da ordem de milhares de anos
(5730 anos). O carbono-15 por
exemplo, é muito mais radioativo e
tem um decaimento muito mais
acelerado, da ordem de segundos. E
porque o carbono-14 é tão
interessante na datação de fósseis?
Precisamos entender como o C-14 é
comumente formado.

Quando falamos de fusão


nuclear, demos o exemplo do sol,
onde ocorre a reação de fusão do
deutério e do trítio formando o He e liberando um nêutron. Esse nêutron, que
tem carga nula, consegue chegar até a atmosfera terrestre sem grandes
desvios, e ao colidir com átomos de Nitrogênio, forma o C-14. Esse isótopo é
naturalmente absorvido pelas plantas durante a respiração vegetal, e é
absorvido pelos animais ao se alimentarem dos vegetais ao longo da cadeia
alimentar. Isso significa que todos nós temos isótopos de C-14 em nosso corpo,
mas não podemos absorvê-lo nem o produzir. Portanto, quando morremos,
paramos de absorver C-14, que começa a decair em N-14 e uma partícula β.
Medindo a concentração de C-14 atual e comparando com a concentração
típica em uma amostra viva, podemos determinar a idade de um fóssil.

• Naturalmente não é possível datar fósseis mais antigos que muitos


milhares de anos pois a concentração de C-14 nem seria possível
de ser medida.
• Para datação de rochas (que não contém C-14) é utilizado o
Rubídio-87, que tem uma ocorrência natural de 28% e decai para
Estrôncio-87 com t1/2 = 4,7.109 anos.

185
186
Lista de exercícios: Unidade III
1. Indique quantas partículas ∝ e β são emitidas no decaimento nuclear do Urânio
para o Chumbo:
235 207 4 0
92𝑈 → 82𝑃𝑏 + 𝑛 2𝛼 + 𝑦 −1𝛽

2. Identifique o tipo de decaimento na reação nuclear a seguir e calcule a energia


cinética máxima do decaimento:

231 231
3. Na transformação de 92𝑈 em 91𝑈𝑃𝑎 , responda:

a. Qual o mecanismo de decaimento envolvido?


b. Quanta energia em MeV está associada a este processo?
c. A energia é consumida ou produzida nesse processo? Justifique.

4. Identifique na reação se o decaimento é do tipo β+ ou captura eletrônica (dica:


calcule o valor de Δm e compare com 2mé). Em seguida (conhecendo o tipo de
decaimento), calcule a energia cinética máxima da reação.

5. Considere os seguintes processos nucleares:


64 64
(i) 29𝐶𝑢 decaindo para 30𝑍𝑛, com liberação de 0,58 MeV
64 64
(ii) 29𝐶𝑢 decaindo para 28𝑁𝑖 , com liberação de 0,65 MeV
(a) Escreva as reações completas para cada decaimento. Cite quais tipos de
partículas estão envolvidas nestas reações nucleares.
(b) Para a reação (ii), calcule a massa do nuclídeo formado.

6. Núcleos pesados podem abaixar sua energia total, fissionando após uma
pequena perturbação externa. Por exemplo, um canal de fissão possível
para o é o seguinte: . Nesta reação, a
perturbação é , um nêutron térmico, lento. Calcular a energia total
liberada na fissão acima. De onde vem esta energia?

7. Nas desintegrações de , em média, 2,5 nêutrons são produzidos.


Estes nêutrons adicionais podem criar uma reação em cadeia e produz-
se energia. Num reator, o combustível pode ser urânio enriquecido
em com nêutrons freados pelo ``moderador'' (por exemplo, água

187
pesada ). O número de nêutrons é controlado para não ter explosão
com barras de um material absorvedor de nêutrons como o cádmio. O
conjunto combustível+moderador+barras de controle forma o caroço do
reator e é resfriado por um líquido, o qual produz vapor que ativa as
turbinas (veja figura abaixo).

Calcular a energia produzida por 1g de . Por comparação, um


grama de carvão produz .

8. O férmio-257 é o isótopo do Fm de tempo de meia-vida mais longo, cerca de


100 dias. Seu modo de decaimento principal é por emissão , produzindo um
nuclídeo X. Três decaimentos subsequentes produzem o mesmo elemento X,
desta vez com número de massa oito unidades menor que o 257Fm.
(a) Escreva a reação de decaimento do 257Fm, e identifique o primeiro isótopo X
(inclua Z e A para X).
(b) Proponha duas sequências de reações para produzir o segundo isótopo X.

9. Enquanto átomos de urânio são facilmente incorporados à estrutura do zircão


(ZrSiO4), um mineral comum na crosta terrestre, o chumbo é fortemente
rejeitado. Assim, átomos de Pb presentes no mineral devem ser originários do
235 207
decaimento do U. Se o decaimento do U ao
92 82 Pb tem uma meia-vida de 704
milhões de anos, responda:
235
(a) Qual a idade de uma amostra de ZrSiO4 em que 1,10% do seu peso é U e
92
207
0,08% é 82 Pb ?
235
(b) Qual a atividade (em Bq) de 1 g desta amostra devida ao U?
92
235 207
(c) Quantos decaimentos α e β ocorrem para que o U seja convertido em
92 82 Pb ?

10. Uma amostra de carbono de massa 1,00 g que foi extraída da madeira de uma
tumba, em Israel, produziu 2,1 desintegrações por minuto do carbono-14. Estime
o tempo decorrido desde a morte do indivíduo considerando que a atividade de
1,00 g de uma amostra recente produziu 15,3 desintegrações por minuto do 14C.

188
11
11. O isótopo 6 C tem uma meia-vida de cerca de 20 minutos, decaindo por emissão
de pósitron (99,8%, liberação de 0,96 MeV) ou por captura eletrônica (~0,2%,
liberação de 1,98 MeV).

(a) Escreva a equação balanceada e calcule a energia de ligação por núcleon dos
núcleos envolvidos.
(b) Determine a diferença de massas e variação de energia total do processo de
emissão de pósitron. Se esta energia não for igual a 0,96 MeV, como ela deve se
manifestar no processo?
(c) Assumindo que esses 0,96 MeV são liberados na forma de um fóton de raio-γ,
aproximadamente quantos fótons foram liberados após 40 minutos de
11
decaimento de uma amostra inicialmente contendo 11 g de 6 C ?
(d) O que acontecerá quando um pósitron colidir com um elétron?

189
Material Suplementar
Canais de aulas no youtube
Química Geral II / Prof João Bosco Paraíso (DQF/UFPE)

• Playlist Estrutura Eletrônica do Átomo:


https://www.youtube.com/watch?v=67fOR4PpGVw&list=PLcjKlLzu4t4A1zeaifLZHzQak
SDtCiE-4
• Playlist Ligações Químicas:
https://www.youtube.com/watch?v=yNHQi5RNJKg&list=PLcjKlLzu4t4DNuW5pSJxOznJ
Ly5d9Emcc
• Playlist Química Nuclear: https://www.youtube.com/watch?v=pwP-
DI1qfQ0&list=PLcjKlLzu4t4D5enI1A3SG7kjsqexDZsIz

Química Inorgânica LQ/ Professor J Júnior Romeiro

https://www.youtube.com/playlist?list=PLAb2UhgwEUwPaz1NElo8LxIKm-1FEM2Ew

Universidade Federal Fluminense/ Professor Jorge Sá Martins

https://www.youtube.com/@FisicaModernaUFF

Universidade da Química/ prof

https://www.youtube.com/@UniversidadedaQuimica/featured

Animações/Simulações interativas de diversos temas | University of Colorado Boulder

https://phet.colorado.edu/pt_BR/simulations/filter?subjects=chemistry&type=html,prototype

Materiais online
https://blogdorafaelmori.wordpress.com/category/estrutura-da-
materia-2022/
Sólidos Cristalinos:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1641845/mod_resource/content
/1/Aula%203%20Liga%C3%A7%C3%A3o%20qu%C3%ADmica%20e%20Estrutura%
20cristalina%20de%20%C3%B3xidos.pdf
http://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/EME774/Aula%2003_CM.pdf

Animações interativas
pHET (Colorado State University)
Polaridade das moléculas:
https://phet.colorado.edu/sims/html/molecule-polarity/latest/molecule-
polarity_en.html

190
Referências
Referências Bibliográficas

1- Atkins P. e Jones L. Princípios de Química.


2- Mahan e Myers. Química Geral.

Literatura recomendada:
Morgon, N.H. (2008) O comportamento do elétron: uma análise do efeito
Compton e da relação de De Broglie. Química Nov, Vol. 31, No. 7, p. 1869-
1874.
O mundo da química >> Introdução a Química
https://www.omundodaquimica.com.br/academica/intro_atomol

Blog do Rafael Mori >> A estrutura da matéria


https://blogdorafaelmori.wordpress.com/category/estrutura-da-materia-
2022/

Propriedades Periódicas USP


http://www.iq.usp.br/hvlinner/QFL0606-AULA05e.pdf

Ressonância, Prof Gustavo Pozza Silveira (Acesso em 02/03/23)


http://www.iq.ufrgs.br/biolab/images/courses/Aula-6---Setas-curvas-e-
ressonncia.pdf

Química de compostos de coordenação (aulas 5 e 6) (Acesso em 15/04/23)


https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/14261707062016Quimica_
de_Coordenacao_Aula_5.pdf
https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/14262407062016Quimica_
de_Coordenacao_Aula_6.pdf

Leitura adicional: Surge um quarto tipo de ligação química

191
Anexos
Tabela Periódica dos Elementos

192
Funções de onda do átomo de hidrogênio
Mahan e Myers, capítulo 10.

193
Propriedades periódicas
• Raios iônicos (A)

Li+ Be2+ N3- O2- F-


0,60 0,31 1,71 1,40 1,36
Na+ Mg2+ Al3+ P3- S2- Cl-
0,95 0,65 0,50 2,12 1,84 1,81
K+ Ca2+ Sc3+ Zn2+ Ga3+ As3- Se2- Br-
1,33 ,99 0,81 0,74 0,62 2,22 1,98 1,95
Rb+ Sr2+ Y3+ Cd2+ In3+ Sb3- Te2- I-
1,48 1,13 0,93 0,97 0,81 2,45 2,21 2,16
Cs+ Ba2+ La3+ Hg2+ Tl3+
1,69 1,35 1,15 1,10 0,95

194
Geometria molecular (VSEPR)

195
196
Tipos de decaimentos nucleares e representações
Fonte: chemwiki.ucdavis.edu

197

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