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Termodinâmica

e
Física Molecular
Ensino à distância

Universidade Pedagógica
Rua Comandante Augusto Cardoso nº 135
Direitos de autor
Este módulo não pode ser reproduzido para fins comerciais. Caso haja necessidade de
reprodução deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus Autores

Universidade Pedagógica
Departamento de Física
Av. de Moçambique, Maputo Nr.62
Caixa Posta 4040
Moçambique
Agradecimentos

À COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilização do Template usado na produção


dos Módulos.

Ao Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) pela orientação e apoio prestados.

Ao Magnífico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado em todo
o processo.
Ficha Técnica

Autor: Gil Gabriel Mavanga

Desenho Instrucional: Suzete Lourenço Buque

Revisão Linguistica: Ernesto Junior

Maquetização: Anilda Ibrahimo Khan

Edição: Anilda Ibrahimo Khan


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica i

Índice
Visão geral 1
Bem-vindo ao Módulo de Física Molecular e Termodinâmica. ....................................... 1
Objectivos do curso .......................................................................................................... 2
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 2
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 3
Ícones de actividade.......................................................................................................... 4
Acerca dos ícones .......................................................................................... 4
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 5
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................. 6
Avaliação .......................................................................................................................... 7

Unidade 1 9
Resumo Histórico e Introdução a conceitos básicos......................................................... 9
Introdução................................................................................................................ 9

Lição nº1 11
Desenvolvimento histórico e objecto de estudo da Termódinâmica .............................. 11
Introdução.............................................................................................................. 11

Lição nº 2 23
Conceitos Básicos da Termodinâmica e Grandezas físicas ............................................ 23
Introdução.............................................................................................................. 23

Lição nº 3 30
Temperatura e sua medição ............................................................................................ 30
Introdução.............................................................................................................. 30
Feedback ......................................................................................................................... 31
Feedback ......................................................................................................................... 39

Lição nº 4 41
Efeitos térmicos sobre corpos sólidos, líquidos e gases. ................................................ 41
Introdução.............................................................................................................. 41
Sumário........................................................................................................................... 54
Exercícios........................................................................................................................ 57
Feedback ......................................................................................................................... 58

Unidade 2 59
Gases Perfeitos................................................................................................................ 59
Introdução.............................................................................................................. 59
ii Índice

Lição nº 5 61
Modelo gás ideal. Lei de Gay-Lussac e Boile-Mariotte ................................................. 61
Introdução.............................................................................................................. 61
Modelo gás ideal ou gás perfeito ................................................................. 62
Feedback ......................................................................................................................... 66

Lição nº6 66
Gases perfeitos (continução). Equação de estado do gás ideal....................................... 66
Introdução.............................................................................................................. 66
Feedback ......................................................................................................................... 70

Lição nº 7 71
Isoprocessos .................................................................................................................... 71
Introdução.............................................................................................................. 71
Sumário........................................................................................................................... 75
Exercícios........................................................................................................................ 76
Feedback ......................................................................................................................... 77

Unidade 3 78
o
Calorimetria e 1 Princípio Termodinâmico................................................................... 78
Introdução.............................................................................................................. 78

Lição nº 8 81
Quantidade de calor e Calor específico .......................................................................... 81
Introdução.............................................................................................................. 81
Feedback ......................................................................................................................... 87

Lição nº 9 88
Capacidade calorífica ou Capacidade térmica de um corpo. .......................................... 88
Introdução.............................................................................................................. 88
Feedback ......................................................................................................................... 92

Lição nº 10 93
1º Princípio Termodinâmico. Trabalho e Calor como formas de troca de energia......... 93
Introdução.............................................................................................................. 93
Feedback ......................................................................................................................... 99

Lição nº 11 100
Trabalho nos Isoprocessos ............................................................................................ 100
Introdução............................................................................................................ 100
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica iii

Feedback ....................................................................................................................... 103

Lição nº12 104


o
Formulação do 1 Princípio Termodinâmico................................................................ 104
Introdução............................................................................................................ 104
Feedback ....................................................................................................................... 107

Lição nº 13 108
Calor específico (cv) a volume e (cp) a pressão constantes. Equação de Mayer.......... 108
Introdução............................................................................................................ 108
Feedback ....................................................................................................................... 111

Lição nº14 112


Expansão Adiabática e Noção de Entalpia ................................................................... 112
Introdução............................................................................................................ 112

Lição nº 15 119
Formas de Transmição de Calor ................................................................................... 119
Introdução............................................................................................................ 119
Sumário......................................................................................................................... 124
Exercícios...................................................................................................................... 127
Feedback ....................................................................................................................... 128

Unidade 4 129
Teoria Cinético-molecular ............................................................................................ 129
Introdução............................................................................................................ 129

Lição nº 16 131
Definição microscópica do modelo gás ideal ............................................................... 131
Introdução............................................................................................................ 131

Lição nº17 137


Energia cinética das moléculas ..................................................................................... 137
Feedback ....................................................................................................................... 141
Exercícios...................................................................................................................... 142
Feedback ....................................................................................................................... 142

Lição nº 18 143
Relação entre a temparatura e a teoria cinético molecular ........................................... 143
Introdução............................................................................................................ 143
iv Índice

Exercícios...................................................................................................................... 145
Feedback ....................................................................................................................... 145

Lição nº 19 146
Distribuição de Maxwell das velocidades moleculares ................................................ 146
Introdução............................................................................................................ 146

Lição nº20 150


Energia interna de um gás............................................................................................. 150
Introdução............................................................................................................ 150
Sumário......................................................................................................................... 152

Unidade 5 155
Segunda Lei da Termodinâmica ................................................................................... 155
Introdução............................................................................................................ 155

Lição nº21 157


Máquinas térmicas ........................................................................................................ 157
Introdução............................................................................................................ 157
Exercícios...................................................................................................................... 163
Feedback ....................................................................................................................... 163

Lição nº 22 164
Máquina e ciclo de Carnot ............................................................................................ 164
Introdução............................................................................................................ 164
Exercícios...................................................................................................................... 170
Feedback ....................................................................................................................... 170

Lição nº 23 171
Processos reversíveis e irreversíveis. 2ª Lei da Termodinâmica .................................. 171
Introdução............................................................................................................ 171

Lição nº24 176


Entropia e a sua lei de crescimento............................................................................... 176
Introdução............................................................................................................ 176
Exercícios...................................................................................................................... 184
Feedback ....................................................................................................................... 185

Lição nº 25 186
Entropia e Desordem. 3º Princípio da Termodinâmica ................................................ 186
Introdução............................................................................................................ 186
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica v

Sumário......................................................................................................................... 190

Unidade 6 193
Gases Reais e Mudanças de fase................................................................................... 193
Introdução............................................................................................................ 193

Lição nº 26 195
Gases reais e suas características .................................................................................. 195
Introdução............................................................................................................ 195
Feedback ....................................................................................................................... 198

Lição nº 27 201
Liquefacção dos gases. Efeito de Joule - Thomson ...................................................... 201
Introdução............................................................................................................ 201

Lição nº 28 206
Mudanças de Fase. Diagrama de Fase .......................................................................... 206
Introdução............................................................................................................ 206
Sumário......................................................................................................................... 208
Exercícios...................................................................................................................... 209
Feedback ....................................................................................................................... 209
Bibliografia ................................................................................................................... 210
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 1

Visão geral

Bem-vindo ao Módulo de Física


Molecular e Termodinâmica.
Caro estudante, o módulo de Termodinâmica e Física Molecular foi
desenvolvido no âmbito do programa de Ensino à Distância do Centro de
Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Pedagógica. O
presente módulo constitui parte integrante do currículo do curso de
Bacharelato e Licenciatura em Ensino de Física, para professores do 1º e
2º Ciclo do Ensino Secundário.

O módulo de Termodinâmica e Física Molecular apresenta uma visão


geral da abordagem micro- e macroscópica dos fenómenos e grandezas
térmicos. O módulo é composto por um total de 6 Unidades e 28 Lições,

O módulo tem como objectivo oferecer aos estudantes do curso de Física


à Distância, professores de Física, subsídios sobre aspectos das
metodologias de ensino da disciplina assim como discutir alguns temas
da actualidade.

Na unidade um, é feita uma introdução histórica da evolução da


Termodinâmica como ciência e discutidos alguns conceitos básicos e
fenómenos térmicos. Na unidade dois, são abordadas as leis que regulam
o comportamento macroscópico dos gases ideais. A unidade três debruça-
se sobre a Calorimetria e sobre o 1º Princípio Termodinâmico. Na
unidade quadro, é feita a abordagem da teoria cinético molecular que
descreve o comportamento dos gases ideias do ponto de vista
microscópico. A unidade quatro discute o 2º Princípio Termodinâmico
associando-o aos conceitos de Entropia e Desordem. Na sexta e última
unidade do módulo, abordam-se as caracteríticas dos gases reais, em que
se dá ênfase a respectiva equação de estado. Ainda nesta unidade são
abordados os processos de mudanças de fase das substâncias.
2

Para além do conteúdo teórico, o módulo oferece ao culminar de cada


unidade temática um número razoável de tarefas com ajuda das quais o
formando pode exercitar as matérias em causa.

Esperamos que tenha o maior prazer em estudar Física a partir deste


módulo e que se dedique o suficiente ao longo do mesmo.

Objectivos do curso
Quando terminar o estudo deste módulo você será capaz de:

ƒ Interpretar os conceitos Física molecular e Termodinâmica como


ciências;

ƒ Diferenciar e explicar os métodos de estudo da Física Molecular e da


Termódiâmica;
Objectivos
ƒ Reconhecer a diferença entre os conceitos fundamentais de calor e
temperatura do ponto de vista físico;

ƒ Compreender a utilizaçâo de modelos no estudo e explicação de


fenómenos termodinâmicos do ponto de vista microscópico ;

ƒ Compreender e operar com as leis gerais da termodinâmica na


resolução de problemas concretos;

ƒ Dominar as experiências escolares básicas e realizá-las usando


materiais locais e de fácil acesso.

Quem deveria estudar este


módulo
Este Módulo foi concebido para professores em exercício e para recém
graduados da 12ª Classe que estejam frequentando, em regime de ensino
à distância, o curso de formação de professores de Física para aquisição
do nível de Bacharelato em Ensino de Física.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 3

Como está estruturado este


módulo
O presente módulo de Termodinâmica e Física Molecular encontra-se
estruturado da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

ƒ Um índice completo.

ƒ Este módulo apresenta seis Unidades. Uma visão geral detalhada do


curso/módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa
conhecer para completar o estudo. Recomendamos vivamente que leia
esta secção com atenção antes de começar o seu estudo.

Conteúdo do módulo

O módulo está estruturado em unidades e estas em lições. Cada unidade


inclui uma breve introdução, objectivos da unidade, conteúdo da
unidade incluindo actividades de aprendizagem, um sumário da unidade
e uma ou mais actividades para auto-avaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista


de recursos adicionais para explorar, nomeadamente livros, artigos e sites
na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação

Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada


lição e de unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.
4

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários


sobre a estrutura e o conteúdo do curso/ módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso/ módulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones

Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada


um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste módulo.

Comprometimento/ Resistência, “Qualidade do “Aprender através


perseverança perseverança trabalho” da experiência”
(excelência/
autenticidade)

Avaliação /
Actividade Auto-avaliação Teste Exemplo /
Estudo de caso

Paz/harmonia Unidade/relações Vigilância / “Eu mudo ou


humanas preocupação transformo a minha
vida”
Debate Actividade de
grupo Tome Nota! Objectivos
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 5

[Ajuda-me] deixa- “Pronto a enfrentar “Nó da sabedoria” Apoio /


me ajudar-te” as vicissitudes da encorajamento
vida”

(fortitude /
preparação) Terminologia
Leitura Dica
Reflexão

Habilidades de estudo
Caro estudante!

Para frequentar com sucesso este módulo recomendamo-lo a programar


sessões de estudo diárias que podem variar entre 1 hora e 30 minutos a 2
horas.

Não o aconselhamos a estudar mais do que duas horas porque o


entusiasmo em querer completar o estudo pode frustrar-lhe. Realize com
calma as tarefas propostas.

É mais frutífero que estude continuamente durante curto tempo do que


estudos semanais de longa duração.

Procure um lugar tranquilo, na sua casa, numa sala de uma escola perto
da sua casa, ou outro lugar que disponha de espaço e iluminação
apropriados.

Todas as actividades propostas ao longo do manual incluindo as de auto


avaliação deverão ser resolvidas no caderno de exercícios.

Por fim, tente resolver todos os exemplos outra vez de forma a assimilar
devidamente as lições. Passe para os exercícios quando tiver a certeza de
que entendeu o conteúdo e os procedimentos para a sua resolução.
6

Realize individualmente ou com colegas que vivam junto de si as


experiências sugeridas neste módulo. Todas as experiências são simples e
exigem apenas matérias que você pode juntar dentro da sua própria casa.

Programe devidamente o seu tempo para que o estudo seja uma


experiência gratificante e excitante.

Desejamos-lhe muito sucesso!

Precisa de apoio?
Dúvidas e problemas são comuns ao longo de qualquer estudo. Em caso
de dúvida numa matéria tente consultar a bibliografia sugerida no fim de
cada lição e disponíveis no centro de recurso mais próximos. Se tiver
dúvidas na resolução de algum exercício, procure estudar os exemplos
semelhantes apresentados no módulo. Se a dúvida persistir, consulte a
orientação que aperece no fim dos exercícios. Se a dúvida persistir, veja a
resolução do exercício.

Sempre que julgar pertinente, pode consultar o tutor que está à sua
disposição no centro de recursos mais próximo.

Não se esqueça de consultar também colegas da escola que tenham feito a


cadeira de Física Molecular e Termodinámica, vizinhos e até estudantes
de universidades que vivam na sua zona e tenham ou estejam a fazer
cadeiras relacionadas com Física.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
Ao longo deste módulo, irá encontrar várias actividades que acompanham
o seu estudo. Tente sempre solucioná-las. Consulte a resolução para
confrontar o seu método e a solução apresentada. Você deve promover o
hábito de pesquisa e a capacidade de selecção de fontes de informação,
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 7

tanto na internet como em livros. Consulte manuais disponíveis e


referenciados no fim do módulo e para obter mais informações acerca do
conteúdo que esteja a estudar. Se usar livros de outros autores ou parte
deles na elaboração de algum trabalho deverá citá-los e indicar estes
livros na bibliografia. Não se esqueça que usar um conteúdo, livro ou
parte do livro em algum trabalho, sem referenciá-lo é plágio e pode ser
penalizado por isso. As citações e referências são uma forma de
reconhecimento e respeito pelo pensamento de outros. Estamos cientes de
que o estimado estudante não gostaria de ver uma ideia sua ser usada sem
que fosse referenciado, não é?

Na medida do possível, procure alargar competências relacionadas com o


conhecimento científico, as quais exigem um desenvolvimento de
competências, como auto-controle da sua aprendizagem.

As tarefas colocadas nas actividades de avaliação e de auto-avaliação


deverão ser realizadas num caderno à parte ou em folha de formato A4.

Você deve produzir documentos sobre as tarefas realizadas em suporte


diverso, pois a qualquer momento o seu tutor poderá solicitá-los

Avaliação
O Módulo de Física Molecular e Termodinámica terá dois testes e um
exame final que deverá ser feito no Centro de Recursos mais próximo, ou
em local a ser indicado pela administração do curso. O calendário das
avaliações será também apresentado oportunamente.

A avaliação visa não só informar-nos sobre o seu desempenho nas lições,


mas também estimular-lhe a rever alguns aspectos e a seguir em frente.

A matéria a ser avaliada no 1º teste será da Unidade 1 a 3 e o 2º teste da


unidade 4 a 6.
8

Durante o estudo deste módulo o estudante será avaliado com base na


realização de actividades e tarefas de auto-avaliação previstas em cada
Unidade, dois testes escritos, e um exame.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 9

Unidade 1

Resumo Histórico e Introdução a


conceitos básicos.

Introdução
Caro estudante, esta Unidade destina-se a fazer uma introdução ao estudo
da Termodinâmica, começando por lhe apresentar um resumo histórico
do desenvovimento desta área do saber como uma ciência. Você poderá
ler assim sobre os cientistas que contribuiram para esse desenvolvimento.
Mais adiante, o módulo apresenta-lhe definições de vários conceitos
básicos cuja aprendizagem é um importante requisito para a compreensão
dos assuntos a serem abordados neste módulo. A unidade é constituída
por 4 lições nas quais são abordados de forma resumida os seguintes
assuntos: História da Termódinâmica, conceitos básicos: sistema
termodinâmico, grandezas termodinâmicas, temperatura e calor,
equilíbrio térmico, a lei zero da Termodinâmica, medição da temperatura,
tipos de termómetros e escalas termométricas, efeitos térmicos sobre
corpos sólidos, líquidos e gases( dilatação e mudanças de fase).

São recomendadas no módulo experiências escolares simples a serem


realizadas com material de baixo custo.

Você poderá necessitar de aproximadamente 10 horas para o estudo da


unidade incluindo a resolução dos problemas e realização das
experiências.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ƒ Destacar a diferença entre os conceitos de temperatura e calor;

ƒ Medir a temperatura de um corpo ou de uma substância com ajuda de


Objectivos um termómetro analógico;

ƒ Exprimir a temperatura de um corpo nas 3 escalas termométricas


10

Kelvin, Celcius e Farenheit;

ƒ Explicar, fisicamente, o fenómeno de dilatação dos corpos com o


aumento de temperatura;

ƒ Aplicar as equações de dilatação linear, superficial e volumetrica para


determiner a dilatação ou contracção de um corpo devido a recepção
ou cedência de calor;

ƒ Fazer experiências simples para mostrar a dilatação superficial e


volumétrica dos materiais.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 11

Lição nº1

Desenvolvimento histórico e
objecto de estudo da
Termódinâmica

Introdução
Caro estudante, nesta primeira lição, você vai poder resumidamente
inteirar-se sobre os feitos históricos que contribuíram grandemente para o
desenvolvimento da Termodinâmica como ciência física. Para além da
descrição dos factos desde a 1ª Lei até a 3ª Lei da Termodinâmica a,
presente lição| faz referência aos vários cientistas, que com as suas
descobertas experimentais e teóricas foram uma referência para o
desenvolvimento desta ciência.

Você poderá precisar cerca de 4 horas de estudo desta 1ª Lição. Isso não
significa que deve estudar continuamente durante as 4 Horas. Poderá
fazer um intervalo sempre que se sentir fatigado.

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Explicar as causas principais que contribuiram para o


desenvolvimento da Termodinâmica;

Objectivos ƒ Reconhecer o factores principais que constituiem a história da


Termodinâmica;

ƒ Identificar os principais cientistas que contribuíram para o


desenvolvimento da Termodinâmica como ciência.
12

Termos novos de destaque nesta lição:

Energia interna, calórico, máquina a vapor, equivalente mecânico do


calor, entropia, processos reversíveis e irreversíveis
Terminologia

Evolução Histórica da Termodinâmica

A Termodinâmica nasceu no século XIX, como resultado das


preocupações relativas ao aperfeiçoamento das primeiras máquinas a
vapor, dos laços entre os fenómenos mecânicos e os térmicos assim como
da evolução da calorimetria. Ela é a área das ciências físicas que
estabelece uma estreita ligação entre a ciência e a sociedade e cujos
primeiros passos do seu desenvolvimento tiveram como factores
impulcionadores os problemas da sociedade e não propriamente os
problemas físicos.

A história da Termodinâmica se baseia nas descobertas das suas três leis.

A história da 1ª Lei da Termodinâmica.

A 1ª lei da Termodinâmica, uma das maiores descobertas da Física do


século XIX, traduz a conservação da energia.

Ela estabelece que “Num sistema isolado a energia interna permanece


constante.”

Definição: A energia interna é a energia que existe no interior do


sistema e é igual à soma da energia cinética e potencial das moléculas que
compõem o sistema.

Contribuíram decisivamente para o aparecimento da primeira Lei da


Termodinâmica os seguintes cientistas:

Nicolas Léonard Sadi Carnot (1791-1832), físico


francês, considerado o pai da Termodinâmica.

Carnot apresentou em 1824 um trabalho (Reflexões


sobre a potência motriz do fogo e sobre as máquinas
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 13

preparadas para desenvolver essa potência) que depois de ter sido


inicialmente ignorado, constitui actualmente uma das obras-primas da
História das Ciências.

Nessa sua obra Carnot escreveu a seguinte frase: “Ninguém ignora que o
calor pode ser a causa do movimento. Que ele possui até uma grande
potência motriz: as máquinas a vapor, hoje tão espalhadas, são uma prova
eloquente para quem tiver olhos para ver.”

É em torno do desempenho das máquinas a vapor que Carnot estabelece


uma das mais importantes sistematizações da Termodinâmica,
delimitando a transformação de energia térmica (calor) em energia
mecânica (trabalho). Ele acreditava na criação de energia mecânica por
simples transporte de calórico. Por exemplo, a máquina a vapor realizava
trabalho quando o calor passava da fonte quente (caldeira) para a fonte
fria (condensador).

Antoine Laurent Lavoisier (1743-1794), químico


francês que em 1789 introduz na tabela de substâncias
simples (elementos químicos) o calórico e a luz é o
dono da teoria do calórico. Lavoisier considerava o
calor como um fluído elástico, indestrutível e
imponderável, e dava-lhe o nome de calórico. Um corpo mais quente
tinha mais calórico do que um mais frio e os
fenómenos térmicos explicavam-se por trocas de
calórico entre os corpos. Esta teoria denominada teoria
do calórico foi sendo posta em causa desde a sua
apresentação.

Benjamin Thompson (1753-1814), conde de Rumford, cientista


americano, é quem contribui para que se abandonasse, nos finais do
século XVIII, a falsa concepção de que o calor era algo material. Os
trabalhos de Rumford levaram à substituição da teoria do calórico pelo
conceito de calor como energia em movimento.

Thompson observou que ao brocar os metais para fabricar peças de


artilharia, que estes aqueciam consideravelmente. O aquecimento era
assim produzido pela broca, o que significava que o calor poderia ser
produzido pelo trabalho, o que desmentia eficazmente a teoria do
calórico.
14

Nos seus estudos Carnot também admitiu como correcta a teoria do


calórico, o que significava para ele, que no processo que ocorre na
máquina a vapor devia haver “conservação de calor”.

Ele descreveu uma máquina térmica na qual comparou a queda do


calórico com a queda de água de um tanque de água. Ao considerar o
facto de que essa água podia voltar ao tanque por intermédio de uma
bomba, concluiu que a sua máquina poderia trabalhar de modo reversível,
isto é, ora deixando o calórico cair da fonte quente para a fonte fria, ora
elevando-o da fria para a quente.

A figura 1 mostra o esquema de uma máquina térmica em que o


calórico cai da fonte quente para a fonte fria.

Carnot veio a morrer em 1832 vítima de cólera. Após a sua morte


descobriu-se uma série de notas, nas quais descreveu novas experiências
com a sua máquina, em que se veio a verificar que ele tinha posto de lado
a Teoria do Calórico e sugeriu que o que havia era conservação de
energia e não de calor.

“Podemos estabelecer como tese geral


que a potência motriz existe em
quantidade invariável na Natureza,
que ela nunca é, propriamente
falando, nem produzida nem
destruída. Na verdade ela muda de
forma, isto é, ela produz umas vezes
Fig.1: Funcionamento de uma
um tipo de movimento outras vezes um máquina térmica.
tipo diferente, mas nunca é destruída.
Este princípio deduz-se por si só, digamos assim, da teoria mecânica.”

Eis esboçada a 1ª Lei da Termodinâmica ao apresentar a conservação da


energia e a possibilidade de transformações recíprocas das diferentes
formas de energia.

Esta conclusão já tinha sido estabelecida anteriormente graças aos


trabalhos de Mayer, Joule e Helmholtz, mas só 40 anos após a morte de
Carnot é que se publicou a obra em que se tornou evidente que ele já
tinha chegado à 1ª Lei da Termodinâmica antes de todos os outros. Por
isso mesmo que actualmente é considerado o pai da Termodinâmica.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 15

Julius Robert Mayer (1814-1878), físico e médico


alemão, interessou-se também com a relação existente
entre o calor e o trabalho.

Julius Robert Mayer foi quem, em 1842, estabeleceu


pela primeira vez de maneira clara a 1ª Lei da
Termodinâmica, de acordo com a qual calor e trabalho são mutuamente
interconversíveis.

“Quando um sistema material apenas troca trabalho mecânico e calor


com o exterior, e volta de seguida ao seu estado inicial: se o sistema
recebeu trabalho, cedeu calor; se o sistema recebeu calor, forneceu
trabalho; há uma razão constante entre o trabalho (W) e a quantidade de

calor (q) trocadas: W = constante = J, em que J é designado por


q
equivalente mecânico do calor.”

Mayer concluiu que a relação existente entre o calor e o trabalho também


existia entre várias formas de energia: a química, a eléctrica, etc.

Ele obteve para J um valor em torno de 3,56 J cal -1. Se ele tivesse usado
os dados experimentais actuais teria chegado ao valor conhecido
actualmente 4,184 J cal -1.

O equivalente mecânico do calor é a quantidade de energia, sob a forma


de trabalho mecânico, equivalente a 1 caloria.

James Prescott Joule (1818-1889), físico inglês


convenceu em 1843, os cépticos de que o calor não era
uma substância, finalizando com a teoria do calórico e
conduzindo à Teoria Mecânica do Calor.

Segundo esta teoria o calor é a energia transferida


de um corpo para outro, devido à diferença de temperaturas entre
os corpos.

A partir de um grande número de experiências, Joule chegou à mesma


conclusão que Mayer, de que o mesmo efeito podia ser conseguido quer
fornecendo calor, quer fornecendo trabalho.

Com todo o seu trabalho Joule verificou que o equivalente mecânico do


calor é 4,154 J. Ao comparar o valor do equivalente mecânico do calor
16

conhecido actualmente e o obtido por Joule, verifica-se que o erro


experimental de Joule é de aproximadamente 1%. Em sua homenagem a
unidade do sistema internacional (SI) de energia, sob todas as formas, é o
Joule, embora se utilize ainda, por tradição, a caloria.

Joule concluiu que a energia potencial podia


transformar-se em energia cinética e a
energia cinética podia transformar-se em
calor. Mas, de uma maneira geral era
impossível que a energia se gerasse do nada.
O calor e a energia mecânica podem portanto
ser consideradas como manifestações
diferentes da mesma quantidade física: a Fig 2 Esquema do
dispositivo experimental
energia. utilizado por Joule.

Experiência de Joule

Por meio de experiências bem planeadas, idealizando e construindo


calorímetros apropriados, Joule pôde determinar a quantidade de calor
que se gerava por agitação, fornecendo uma quantidade conhecida de
trabalho.

Num recipiente bem isolado colocou uma certa quantidade de água a 14,5
ºC. Um conjunto de pás no interior desse recipiente, ligadas a um sistema
de pesos, permitia realizar trabalho sobre a água. A água aquecia à
medida que as pás iam rodando e, portanto, o trabalho mecânico era
equivalente ao calor. Medindo o trabalho fornecido à água e a
temperatura final, calculou o equivalente mecânico do calor.

Hermann Ludwig Ferdinand von Helmholtz


(1821-1894), fisiologista e físico alemão, publicou
em 1847, um artigo baseado nos trabalhos de Carnot
e Joule. Nesse artigo expôs as bases científicas e
filosóficas da 1ª Lei da Termodinâmica,
fundamentando-a em bases matemáticas, onde
estabeleceu claramente a conversão da energia como um princípio de
validade universal aplicável a todos os fenómenos.

Helmholtz partiu da experiência que mostrava que é impossível gerar


calor a partir do nada e deduziu que entre o calor e o trabalho existia uma
relação invariável.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 17

Ao tentar generalizar o conceito Newtoniano de movimento, de um


grande número de corpos submetidos a atracções mútuas, mostrou que a
energia interna permanecia constante.

A energia interna pode aumentar através da realização de trabalho (W)


sobre o sistema, ou por meio da passagem de calor (Q) do exterior para o
sistema. Assim, a variação da energia interna (ΔU) é dada pela seguinte
equação, que traduz a 1ª Lei da Termodinâmica:

ΔU = W + Q

Um dos possíveis enunciados desta lei é:

“A variação da energia interna de um sistema é igual à energia


transferida através da fronteira, tanto pela realização de trabalho
como pela ocorrência de um fluxo de calor.”

Num sistema isolado, Q = 0 e W = 0, a variação da energia interna é zero,


ΔU=0 e a energia interna permanece constante.

Rudolf Julius Emanuel Clausius (1822-1888),


físico alemão, apresentou ideias que tiveram
influência na formulação da 1ª Lei da Termodinâmica
e também na 2ª Lei da Termodinâmica.

Clausius apresentou o critério segundo o qual quer o


trabalho quer o calor fornecidos pelo exterior ao sistema são positivos.
Pelo contrário, quer o trabalho quer o calor fornecidos pelo sistema ao
exterior são negativos.

Germain Henri Hess (1802-1850), um químico russo/suíço aplicou em


1840, a 1ª Lei da Termodinâmica às reacções
químicas.

Este químico formulou a lei de Hess que permite


prever o calor libertado ou absorvido numa reacção
cujas entalpias são conhecidas.

A lei de Hess diz que “Quando, numa reacção química, os reagentes são
18

convertidos em produtos da reacção a variação de entalpia é a mesma,


quer a reacção se dê num só passo ou numa série de passos.”

A variação de entalpia (ΔH ) de um sistema é igual ao calor libertado ou


absorvido a pressão constante. Dependendo do sinal de ΔH, a reacção
pode ser endotérmica (ΔH>0) havendo absorção de energia sob a forma
de calor ou exotérmica (ΔH < 0) havendo libertação de energia sob a
forma de calor.

Depois de ter visto a história da 1ª lei passa-se a seguir para a 2ª lei da


Termodinámica.

A história da 2ª Lei da Termodinâmica


Apesar de ser denominada “2ª Lei da Termodinâmica”, esta foi a primeira
a ser formulada.

A 2ª Lei da Termodinâmica expressa a relação entre a entropia e a


espontaneidade de uma transformação.

A lei diz que “a entropia do Universo aumenta numa transformação


espontânea e mantém-se constante numa situação de equilíbrio.”

A entropia do Universo

Como o Universo é constituído pelo sistema e pelo exterior, a variação da


entropia no Universo (ΔSuniv ) para qualquer processo é a soma das
variações de entropia no sistema (ΔSsist ) e do exterior (ΔSext ).

Δ S univ = Δ S sist + Δ S ext

Vários pesquisadores pretenderam esclarecer o que determinava a


direcção única dos processos espontâneos.

Marcelin-Pierre Berthelot (1827-1907), químico


francês, sugeriu que a variação de energia medida
pelo calor libertado numa reacção fosse o critério de
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 19

espontaneidade da reacção química. Em apoio a esta hipótese Berthelot


apresentou uma série de reacções em que havia libertação de calor
(reacções exotérmicas), mas que eram espontâneas.

Contudo, a hipótese de que só as reacções exotérmicas seriam


espontâneas, teve de ser posta de lado, pois a experiência mostrou haver
uma série de reacções espontâneas em que se dá a absorção de calor
(reacções endotérmicas), como por exemplo, a dissolução do nitrato de
amónio em água.

Assim, tornou-se necessário procurar outra grandeza termodinâmica para


ajudar a prever a direcção das reacções químicas.

Rudolf Clausius foi quem, a partir das ideias de Carnot, clarificou muitos
dos conceitos da 2ª Lei da Termodinâmica dando-lhe a forma actual.

“É impossível que uma máquina frigorífica que trabalhe ciclicamente


transfira energia como calor, de um corpo frio para outro quente, sem
que um agente externo realize trabalho.”

Ao considerar que existia uma equivalência entre calor e trabalho e que


era impossível realizar um processo cíclico em que se transfira calor de
um corpo mais frio para um corpo mais quente, Clausius descrevia,
respectivamente, a primeira e a segunda Lei da Termodinâmica.

Em 1854, Clausius introduziu o conceito do valor de equivalência de uma


transformação térmica e que era medido pela relação entre a quantidade
de calor (q) e a temperatura (T) na qual ocorria a transformação. Por
intermédio desse conceito físico, fez a distinção entre processos
reversíveis e irreversíveis. Assim, assumiu arbitrariamente que a
transformação de calor de um corpo quente para um frio tinha um valor
de equivalência positivo.

Em 1865, publicou um trabalho no qual propôs o termo entropia (do


grego entropé significa mudança, volta), representado por S, em lugar do
termo valor de equivalência, que havia usado em 1854.

Em 1865, publicou um trabalho no qual propôs o termo entropia (do


grego entropé significa mudança, volta), representado por S , em lugar do
termo valor de equivalência, que havia usado em 1854.
20

A capacidade de dedução de Clausius, baseada em análises matemáticas


relativamente simples, permitiu-lhe chegar a uma equação que relaciona a
entropia com a transferência de calor, para um processo reversível
⎛ dS = dQrev ⎞
⎜ e para um processo irreversível ⎛⎜ dS > dQrev ⎞⎟ . Estas
⎝ T ⎟⎠ ⎝ T ⎠
expressões são um desenvolvimento das ideias de Carnot e permitem
concluir que:

Esta é uma das formas de exprimir a actual 2ª Lei da Termodinâmica que


resultou, principalmente, dos esforços de dois cientistas: Carnot e
Clausius.

“Em qualquer transformação que se produza num sistema isolado, a


entropia do sistema aumenta ou permanece constante. Não há
portanto qualquer sistema térmico perfeito no qual todo o calor é
transformado em trabalho. Existe sempre uma determinada perda
de energia”.

Entende-se por processos irreversíveis os processos que ocorrem


espontaneamente num dado sentido e que não podem ser revertidos por
uma mudança infinitesimal,como, por exemplo, o arrefecimento
espontâneo num sistema isolado.

William Thomson (Lord Kelvin) (1824-1907),


físico e matemático escocês, deduziu a 2ª Lei da
Termodinâmica, apresentando-a com um enunciado
distinto daquele de Clausius.

“Nenhum processo é possível em que o único resultado seja a


absorção de calor de um recipiente e a sua completa conversão em
trabalho.”

Pelos seus notáveis contributos na Ciência, Thomson foi agraciado pelo


Rei com o título de Lord em 1892, passando a partir de então a ser mais
conhecido por Lord Kelvin.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 21

Em sua memória foi estabelecida uma unidade e escala termométrica


denominada graus e escala Kelvin.

Apesar da origem termodinâmica da entropia, introduzida por Clausius


em 1865, actualmente utiliza-se muito a interpretação estatística.

James Clerk Maxwell (1831-1879), físico e


matemático escocês, foi quem em 1860 deu os
primeiros passos na direcção da interpretação
estatística da Termodinâmica, através do estudo da
distribuição das velocidades das moléculas de um gás.

Em 1867, Maxwell escreveu uma carta na qual apresentou o carácter


probabilístico da 2ª Lei da Termodinâmica, através do seguinte exemplo:

“Um recipiente que possui uma parede no meio com uma janela que
poderá ser manipulada por um porteiro (denominado Demónio de
Maxwell por William Thomson), contém um gás a uma determinada
temperatura. Através dessa janela, o
porteiro deixaria passar partículas que
tivessem velocidade alta e impediria a
passagem das partículas que tivessem
velocidade baixa, já que, segundo a
sua distribuição de velocidades, num
gás em equilíbrio, as partículas
distribuem-se com as mais variadas
velocidades.”
Fig. 3:O Demónio de
Maxwell
Assim, depois de um certo tempo, um
lado do recipiente estaria mais quente que o outro, mostrando, assim, que
o fluxo de calor poderia ocorrer em dois sentidos, e não em apenas um,
conforme indicava a 2ª Lei da Termodinâmica.

O Demónio de Maxwell possibilitaria o fluxo de calor em dois


sentidos, e não em apenas um.

Ludwig Edward Boltzmann (1844-1906), físico


austríaco, introduziu, em 1872, a interpretação
estatística da entropia. A entropia do sistema (S) é
relacionada com a constante de Boltzmann (k) e com o
22

número de diferentes meios de distribuição de átomos e moléculas da


amostra e que podem dar origem à mesma energia (W ).

S = K × ln W

A terceira Lei da Termodinâmica

Os cientistas seguintes contribuíram para a


formulação da terceira Lei da Termodinâmica:

Walther Hermann Nerst (1864-1941), físico-


químico polaco e Max Karl Ernst Ludwig Planck
(1858-1947), físico alemão enunciaram, em 1912, a
3ª Lei da Termodinâmica.

A 3ª Lei da Termodinâmica pode ser enunciada da


seguinte forma:

“A entropia de todos os cristais perfeitos é igual no zero absoluto


de temperatura.”

Responda as questões abaixo como forma de testar os seus


conhecimentos sobre o conteúdo abordado nesta lição.

1. Quais foram as principais realizações que conduziram à descoberta das


três leis da Termodinâmica?

2. Sistematize, em forma de uma grelha, os nomes dos cientistas, os seus


Actividade períodos de vida e as suas principais contribuições para o
desenvolvimento da Termodinâmica!
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 23

Lição nº 2

Conceitos Básicos da
Termodinâmica e Grandezas
físicas

Introdução
Caro estudante, nesta segunda lição, você vai rever e aprofundar
conceitos e terminologias básicos que lhe ajudarão a entender os
conteúdos subsequentes da Termodinâmica. Você poderá consultar outra
literatura para aprofundar alguns aspectos.

Para esta lição você poderá precisar cerca de 2 horas de estudo.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Caracterizar um sistema termodinâmico, um estado termodinâmico e o


equilíbrio térmico;

Objectivos ƒ Diferenciar entre temperatura, energia interna e calor;

ƒ Interpretar a lei zero da Termodinâmica;


24

Sistema termodinâmico, estado termodinâmica, equilíbrio térmico ou


termodinâmico, temperatura, calor, lei zero da Termodinâmica, sistema
aberto e fechado, sistemas macroscópicos e microscópicos, massa
Terminologia atómica e molecular, massa específica, mole e massa molar, peso
específico, volume específico e volume molar.

• Objecto de estudo da Termodinâmica

A Termodinâmica estuda os processos que ocorrem em porções de


matéria sólida, líquida ou gasosa, os quais implicam trocas de energia
entre estas porções e o ambiente.

Definição: Entende-se por porção de matéria um sistema composto


por um grande número de particulas que podem ser átomos ou
moléculas.

Portanto, está-se em presença de um sistema termodinâmico sempre que


tivermos um objecto ou um conjunto de objectos que podem entrar em
intercâmbio térmico como outros objectos da vizinhança ou com o
ambiente. Por exemplo, uma pedra, um pedaço de gelo, um volume de ar,
um gás num recipiente; uma quantidade de água, etc.

Qualquer porção de matéria capaz de sofrer trocas de calor com outros


corpos ou com ambiente pode ser considerado sistema termodinâmico.

Os sistemas termodâmicos podem ser classificados em macroscópicos e


microscópicos. São macroscópicos aqueles cujas dimensões são muito
grandes em relação às de um átomo ou de uma simples molécula
(dimensão de uma molécula 10-8cm). Por sua vez, denominam-se
sistemas microscópicos aqueles cujos elementos apresentam dimensões
comparáveis à de um átomo ou de uma molécula.

Um sistema termodâmico pode ser considerado fechado (isolado) ou


aberto. É fechado sempre que o seu intercâmbio energético com a
vizinhança for menosprezível. Nesta situação as características
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 25

termodinâmicas do sistema permacem invariáveis. É considerado aberto


quando entre ele e a vizinhança há trocas recíprocas de energia. Por
exemplo, uma chávena de chá quente abandonada sobre a mesa acaba
esfriando depois de algum tempo. Diz-se que durante esse tempo ouve
trocas de energia, por exemplo, entre o chá e o ambiente.

As qualidades de um sistema termodinâmica macroscópico são


caracterizadas por grandezas termodinâmicas macroscópicas também
denominadas parâmetros termodinâmicos. São, por exemplo, o volume,
a densidade, a temperatura, a pressão, etc. Os parâmetros
termodinâmicos são grandezas directamente mensuráveis ou calculáveis a
partir de outras grandezas directamente medidas.

Os parâmetros termodinâmicos caracterizam um determinado estado do


sistema termodinâmico a que se dá o nome de estado termodinâmico.

Por outras palavras, entende-se por estado termodinâmico de um


sistema uma situação específica em que os parâmetros termodinâmicos
permanecem invariáveis e podem ser caracterizados quantitativamente
por um conjunto de propriedades mensuráveis que definem a condição
térmica do sistema.

Note que, no exemplo da chávena de chá sobre a mesa, após algum


tempo cessa o resfriamento. Do mesmo modo, uma bebida saída
fresquinha da geleira aquece quando abandonada sobre a mesa, mas
após algum tempo essa transformação cessa. Quando isto acontece
diz-se que o chá ou a bebida entram em equilíbrio térmico com a
vizinhança.

Chama-se equilíbrio térmico a situação ou estado em que no


sistema termodinâmico ou na vizinhaça já não ocorrem mudanças
térmicas.
26

• Mas porque ocorre esta mudança?

No primeiro caso, o chá que estava mais quente que o ambiente


esfriou e no segundo caso a bebida da geleira que estava mais fria
que o ambiente aqueceu.

Pode-se concluir que a diferença de temperaturas entre o chá e o


ambiente ou entre a bebida e o ambiente, é a razão das mudanças
térmicas. Durante as mudanças ocorre variação das temperaturas
dos corpos envolvidos devido à troca de energia entre eles.
Quando a diferença de temperaturas desaparece, igualam-se as
temperaturas do chá e do ambiente e, por consequência, cessam as
mudanças.

• De que tipo de energia se trata?

Chama-se a esta energia de energia interna.

Caro estudante, imagine que você segura uma pedra de gelo na


mão. Ela irá com certeza derreter depois de um certo tempo. Qual
dos dois corpos estava com uma temperatura maior, a sua mão ou
o gelo? Sem dúvida você dirá que sua mão estava mais "quente".
Na verdade a temperatura da sua mão era maior que a temperatura
do gelo e ela, a mão, perdeu um pouco de energia térmica que
tinha para o gelo.

• O que é temperatura?

A temperatura é uma propriedade dos corpos que mede quão


um corpo está quente ou frio.

• E o que é energia interna?


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 27

Todos os corpos possuem energia interna. Esta energia está de


certa maneira "armazenada" nos corpos, e é, entre outras coisas,
resultante do movimento ou da vibração dos átomos e moléculas
que formam o corpo.

Quanto maior for a vibração, maior será a energia interna contida


no material, e maior será sua temperatura.

Quando se encostam dois corpos com temperaturas diferentes, ou


seja, com níveis de vibração diferentes, a tendência é que parte da
energia do corpo de maior temperatura passe para o corpo de
menor temperatura.

Ao trânsito dessa energia do corpo de maior temperatura para o de


menor temperatura dá-se o nome de calor.

Por outras palavras, o calor é uma forma de energia em trânsito devido à


diferença de temperaturas.

Note que na linguagem quotidiana é frequente ouvirmos dizer que


está calor quando o ambiente está quente. Mas na linguagem física
diríamos correctamente que a temperatura está alta.

Importante: “Sempre que encostarmos dois corpos, ou sistemas, que


estejam com temperaturas diferentes, haverá troca de calor entre eles. O
calor sempre passará do corpo de maior temperatura para o corpo de
menor temperatura, até que ambos atinjam a mesma temperatura.”

• Definições de algumas grandezas

Conheça mais algumas grandezas úteis no estudo da Termodinâmica.

Massa atômica: É a massa de um átomo expressa em relação a 1/12 da


massa do átomo de carbono 12.
28

Massa específica/ densidade: É a massa de um corpo por unidade de


volume ρ = m/V (kg/m3).

Massa molecular: É a soma das massas atômicas de todos os átomos da


molécula.

Massa molar: É a massa por mol de uma substância, simbolizado por μ,


m
μ= (kg/kmol) ou (g/mol), onde n é o número de moles.
n

Mol: É a quantidade em gramas de uma substância igual à sua massa


molecular. O número de moléculas em 1 mol de qualquer substância é
constante e é chamado de constante de Avogadro Na (aproximadamente
Na= 6,022 1023).

Peso específico: É o peso de um corpo por unidade de volume. Se o


corpo tem P N e V m3, então o peso específico γ = P/V (N/m3). Relação
com massa específica γ = ρ g , onde g≈ 9,81 m/s2 (aceleração da
gravidade).

Volume específico: É o volume de 1 kg de massa de um corpo. Se o


corpo tem m kg e V m3, então o volume específico v = V/m (m3/kg).

Volume molar: É o Volume ocupado por 1 kmol de uma substância em


V
determinada temperatura e pressão. Assim, v μ = (m3/kmol) ou
μ
(dm3/mol).
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 29

Depois do estudo que você acaba de fazer tente responder às


seguintes perguntas

Actividade 1. Como percebemos que está quente ou frio?

2. O que pode ser considerado como sendo fonte de calor?

3. Qual é para si a diferença entre calor e temperatura?

4. Quando o calor vai de um corpo para outro, o que acontece com


os átomos?

Dicas:

Para responder a primeira pergunta pense nas condições para que haja
transferência de calor entre o nosso corpo e o ambiente.
Apoio
1. Note que nem sempre a fonte de calor tem que ser uma fogueira.

2. Você encontra a resposta no meio do texto.

3. Responda com base no conceito de energia interna


30

Lição nº 3

Temperatura e sua medição

Introdução
Como continuação do tema anterior, esta lição destina-se ao estudo dos
métodos de medição da temperatura e escalas termométricas. Você
deverá se familiarizar com pelo menos 3 escalas termométricas
diferentes, conhecer a relação entre elas, assim como fazer a converções
de uma escala para outra.

Você poderá precisar de 3 horas de estudo para esta lição, incluindo a


realização das actividades aqui sugeridas.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Interpretar o significado da formulação da lei Zero da Termodinâmica;

ƒ Diferenciar termómetros com base na substância termométrica e na


Objectivos aplicação;

ƒ Descrever o funcionamento de um termómetro;

ƒ Explicar a base do funcionamento do termómetro;

ƒ Efectuar a conversão da temperatura entre as três escalas


termométricas, Celcius, Farenheit e Kelvin;

ƒ Medir a temperatura de um corpo usando um termómetro analógico.


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 31

Lei zero da Termodinâmica, termómetro, substâncias termométricas,


grandeza termométrica, escala termométrica, Celcius, Farenheit, Kelvin;
pontos físicos.
Terminologia

• Como você acha que se mede a temperatura de um corpo?

Você, sem dúvida, já presenciou situações em que uma mãe aflita pelo
facto de seu filho estar doente, lhe coloca a mão na testa para verificar se
este está ou não quente (com febre). Em alguns casos ela chega a concluir
que o filho “tem ou não tem temperaturatura”. E no caso afirmativo ela
corre preocupada com o seu filho para a unidade sanitária mais próxima.

• O que você acha deste procedimento? Chega a mãe a colher uma


informação exacta sobre a situação febril do seu filho? Se achar
que não, como ela devia proceder?

• Pode-se dizer que a criança tem ou não tem temperatura? O que


seria de uma criança sem temperatura? Justifique!

Realize a seguinte experiência que lhe ajudará a tirar conclusões


mais correctas.

Experiência 1
Actividade

ƒ Prepare três tinas com água, uma mais quente, outra morna e outra
fria.Mergulhe a mão esquerda na águra fria e a direita na água
quente. Mantenha as suas mãos alguns minutos nas tinas. Depois
mergulhe as duas mãos em simultâneo na tina de água morna. O que
você sente? A que conclusão é que chega? Descreva os resultados da
sua experiência.

Feedback
Provavelmente, você irá concluir da sua experiência que o sentido do
tacto não constitui o método mais adequado para a medição da
32

temperatura. A sensação de quente ou frio pode levar a conclusões


diferentes dependendo da situação inicial do nosso corpo.

• Medição da temperatura

A medição da temperatura
baseia-se num princípio
denominado “Lei Zero da
Termodiâmica”

A lei Zero da Termodinâmica


diz-nos que sempre que um
corpo A estiver em equilíbrio Fig. 4: Exemplificando a lei zero da
Termodinâmica sobre equilíbrio dos
térmico com o corpo B e estiver corpos
em equilíbrio com um outro C,
então A e C estarão em equiíbrio térmico entre si.

Quando se pretende medir a temperatura de um paciente febril, coloca-se


o invólcro de vidro do termómetro em contacto com o corpo deste. O
invólcro de vidro aquece e, por consequência, aquece também a
Exemplo substância termométrica (o mercúrio) nele contido e que se dilata. A
dilatação do mercúrio cessa quando o vidro e o álcool tiverem atingido
entre si o equilíbrio térmico, isto é, quando já tiverem a mesma
temperatura. Assim, a temperatura indicada pela coluna de mercúrio é a
temperatura do paciente.

• O que são termómetros? Serão todos eles iguais?

Termométros são instrumentos com ajuda dos quais se mede a


temperatura ou as variações de temperatura.

Na técnica existem diferentes tipos de termómetros. Vários factores


contribuiem para a sua diferenciação, como por exemplo, o formato do
termómetro, a substância temométrica, a grandeza termométrica, a escala
termométrica e a finalidade.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 33

Os termómetros comuns são os usados para a medição da temperatura


corporal entre os 35º C e 40º C. Estes termómetros utilizam como
substância termométrica o mercúrio.

Fig. 5: Exemplo de um termómetro de mercúrio para


medição da temperatura corporal.

O termômetro de mercúrio consiste basicamente num tubo capilar (fino


como cabelo) de vidro, fechado a vácuo, e um bulbo (espécie de bolha
arredondada) numa das extremidades contendo mercúrio.

O mercúrio, como todos os materiais, dilata-se quando aumenta a


temperatura. Por ser extremamente sensível, ele aumenta de
volume à menor variação de temperatura, mesmo próxima à do
corpo humano. O volume do mercúrio aquecido se expande no tubo
capilar do termômetro. E essa expansão é medida pela variação do
comprimento, numa escala graduada que pode ter uma precisão de
0,05oC. É dessa forma, pela expansão do líquido, que observamos a
variação da temperatura.

Para a medição da temperatura ambiente, que varia numa escala maior


dos 0º C a 50º C utiliza-se normalmente o álcool.

Para além de termómetros que utilizam líquidos como substâncias


termométricas existem os termómetros metálicos, cuja medição
de temperatura se baseia no fenômeno da dilatação ou na
termoeletricidade. Os do primeiro tipo podem ser construídos de
forma semelhante aos termômetros a líquido: uma barra, rectilínea
ou não, ao dilatar-se, move um ponteiro registrador. Os mais
usados e precisos termômetros desse tipo exploram a diferença de
34

dilatação entre materiais como latão, ferro, cobre, etc. Para isso,
constroem-se lâminas bimetálicas de forma espiral que se curvam
conforme aumenta ou diminue a temperatura. Nesse movimento, a
lâmina arrasta, em sua extremidade, um ponteiro que percorre uma
escala graduada e regista a variação de temperatura.

Existem também os termómetros digitais. São instrumentos


amplamente utilizados em empresas, destinados a medir
temperatura em processos e produtos diversos, que não necessitam
de uma medição constante, apenas esporádica.

Aplicações de termômetros digitais: medição de temperatura em


fundições, em alimentos em restaurantes ou indústrias alimentares, em
processos químicos, em estruturas, em fornos, em produtos diversos, etc.
Exemplo

Os termômetros digitais em geral podem ter aplicação industrial ou


não, para monitoração constante e precisa das temperaturas de
determinados equipamentos que sejam sensíveis a alterações de seu
funcionamento, em função de sua temperatura e/ou ambientes que
necessitam de cuidados com a temperatura como, por exemplo, na
conservação de alimentos a baixas temperaturas em supermercados,
como também em laboratórios biológicos para cultivo de bactérias
ou outras espécies.

Outro tipo de termómetro é o termômetro infravermelho


(também denominado de pirómetro óptico). É um dispositivo que
mede temperatura sem contacto com o corpo/meio do qual se
pretende conhecer a temperatura. Geralmente este termo é aplicado
a instrumentos que medem temperaturas superiores a 600 graus
celsius. Uma utilização típica é a medição da temperatura de metais
incandescentes em fundições.

Há também modelos de termómetros por contacto, que utilizam


pontas sensoras, geralmente intercambiáveis, com modelos
diferentes de sensores para cada aplicação.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 35

Procure discutir com os seus colegas mais próximos sobre o porquê da


utilização de diferentes tipos de substâncias termométricas, que dão
origem a difentes tipos de termómetros.
Debate
Depois da discussão registe a conclusão no seu caderno pois poderá ser
solicitado pelo seu tutor a apresentar durante as sessões de agrupamento
ou por outras vias de comunicação.

O que são escalas termométricas?

Você sabe que se quiser medir a largura de uma mesa, por exemplo, vai
ter que decidir qual das escalas vai usar. Talvez use o metro, talvez o
centímetro. Pois bem, quando você precisar de medir a temperatura
também terá que escolher uma escala.

As três escalas termométricas mais conhecidas e utilizadas são de Celsius


(ºC), Fahrenheit (ºF) e Kelvin (K).

Saiba um pouco da História do aparecimento das três escalas


termométricas mais comuns.

• Escala Kelvin

Você deve saber que temperatura é uma grandeza que mede o nível
de agitação das moléculas de um corpo. Quanto maior a agitação
maior a temperatura, e quanto menor a agitação, menor a
temperatura.

O que seria então lógico pensar a respeito da temperatura


quando as moléculas de um corpo qualquer não tivessem
agitação nenhuma?

Logicamente, a temperatura deveria ser igual a zero. Se não há


agitação então também não tem temperatura. Este estado de
ausência de agitação é conhecido como zero absoluto, o que não
pode ser experimentalmente alcançado, embora possa se chegar
muito próximo dele.
36

A temperatura expressa em Kevin (K) é também denominada


temperatura absoluta. É usualmente representada pela letra T
(maiúscula).

A escala Kelvin adopta como ponto de partida (0 K) o zero


absoluto, ou seja, o ponto onde ocorre esta ausência total de
vibração das moléculas, que corresponde aproximadamente a -
273°C.

Nesta escala o gelo se forma a 273K e a água ferve a 373K (ao


nível do mar).

Esta escala foi criada em 1847 por William Thomson, depois


conhecido como Lorde Kelvin e é muito usada no meio científico.
Ela é a escala do Sistema Internacional (SI).

• Escala Fahrenheit

A escala Fahrenheit foi criada pelo inventor do termômetro de


mercúrio, Daniel Gabriel Fahrenheit, lá pelos anos de 1714. Para
isso ele escolheu dois pontos de partida, chamados actualmente de
pontos fixos. Inicialmente ele colocou o seu termômetro, ainda
sem nenhuma escala, dentro de uma mistura de água, gelo e sal de
amônio. O mercúrio ficou estacionado em determinada posição, a
qual ele marcou e chamou de zero. Depois ele colocou este mesmo
termômetro para determinar um segundo ponto, a temperatura do
corpo humano. Quando o mercúrio novamente estacionou em
determinada posição ele a marcou e chamou de 100. Depois foi só
dividir o espaço entre o zero e o 100 em cem partes iguais. Estava
criada a escala Fahrenheit.

Depois disso, quando Fahrenheit colocou seu termômetro graduado


numa mistura de água e gelo, obteve o valor de 32ºF, e quando
colocou-o em água fervendo obteve o valor de 212ºF. Portanto, na
escala Fahrenheit a água transfoma-se em gelo a 32ºF e ferve a
212ºF.

Esta escala é mais usada nos países de língua inglesa, com


excepção da Inglaterra, que já adotou o Celsius.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 37

• Escala Celsius
A escala Celsius foi criada por Anders Celsius, um astrônomo
sueco, em 1742. Ele escolheu como pontos fixos, os pontos de
fusão do gelo (quando o gelo se torna água) e de ebulição da água
(quando a água ferve). Ele colocou um termômetro dentro de uma
mistura de água e gelo, em equilíbrio térmico, e na posição onde o
mercúrio estabilizou marcou o ponto zero. Depois colocou o
termômetro na água em ebulição e onde o mercúrio estabilizou
marcou o ponto 100. Estava criada a escala Celsius. Sua vantagem
era que ela poderia ser reproduzida em qualquer canto do planeta,
afinal, ao nível do mar, a água sempre se transforma em gelo e
ferve no mesmo ponto e, consequentemente, na mesma
temperatura.

A escala Celsius é a mais comum de todas as escalas termométricas


e nesta escala a temperatura é indicada por t (minúsculo) o que
significa normalmente grau Celsius (ºC).

A figura 3 mostra a relação existente entre as três escalas levando-


se em conta o ponto de ebulição da água e fusão do gelo. Note que
estes pontos mudam dependendo da escala adoptada. Os três
valores 0ºC, 32ºF ou 273K representam a temperatura de fusão do
gelo.

Seria mais ou menos mesmo se uma pessoa disesse que andou 2


metros e outra dizendo que andou 200 centímetros. Embora os
números sejam diferentes, a distância é a mesma nos dois casos.

Ponto de ebulição da água

Ponto de fusão do gelo

Fig. 6: Relação entre as três


escalas termométricas mais
comuns
38

Se alguém lhe disser que a temperatura na cidade de Tete é de


59ºF, como poderá saber realmente se lá está muito quente ou frio,
já que você está acostumado a usar a escala Celsius? Como fazer
para transformar uma escala noutra ?

Existe uma equação que pode ser usada para fazer estas
conversões. Com base nela você pode transformar ºF em ºC, K
em ºC e ºF em K, e vice-versa.

tC t f − 32 T − 273
= =
5 9 5
Ou seja
5
tC = (t F − 32) e T = tC + 273,15K
9
1. Convirta 59º F em oC!

t C t f − 32 (t f − 32).5
= ; tC = ;
5 9 9
Exemplo
(59 − 32) ⋅ 5 27 ⋅ 5 135
tc = = = = 15 0 C
9 9 9

2. Qual é a temperatura em Kelvin correspondente a 70º F?


Converter primeiro os 70º F para escala Celsius e depois o
resultado para a escala Kelvin:
5
i) t C = (t F − 32 o ) = 21,1o C e
9
ii) T = t C + 273) = 21,1 + 273 K = 294 K

Depois desses exemplos procure resolver as seguintes tarefas.


Convirta agora as seguintes temperaturas de:
1. 10°C para F;
2. 50°F para K;
Actividade 3. 283K para C;
4. Forneça as temperaturas de fusão do gelo e ebulição da
água, tanto em graus Célcius como em Kelvin.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 39

Feedback
Resultados
1. t f = 50º F
2. T = 283,15K
3. t C = 10º C
4. Veja a escala de conversão na página 26, (fig. 6)

Como você pode criar uma escala termométrica?

Para construir uma escala devemos primeiro escolher uma


grandeza termométrica, ou seja, qualquer grandeza que varie com
a temperatura. São exemplos de grandezas termométricas o
comprimento de uma coluna de mercúrio, o tamanho de uma barra
de ferro, a pressão exercida por um gás num recipiente de volume
constante, a resistência eléctrica de um fio, entre outras. A relação
entre a grandeza termométrica e a temperatura deve ser tal que cada
valor da grandeza corresponda a uma única temperatura. A medida
da temperatura de um corpo será feita indirectamente, pelo efeito
provocado na grandeza termométrica quando estiver em equilíbrio
térmico com o corpo.

Procedimentos:

1. Escolhemos a substância e a grandeza termométrica que varia


linearmente com a temperatura. Por exemplo, o álcool colorizado
(substância termométrica) colocado num reservatório (bulbo)
ligado a um tubo capilar de vidro; o comprimento atingido pela
coluna de álcool no tubo capilar é a (grandeza térmica). Essa
grandeza - comprimento da coluna de álcool - varia linearmente
com a temperatura.

2. Esse dispositivo é colocado em contato com dois estados térmicos


diferentes, denominados pontos físicos. Os mais utilizados são a
ebulição da água (100°C) e a fusão da água (0°C), ambos sob
pressão de 1 atm.
40

3. É feita a marcação da altura, no momento em que a água estava em


fusão, dando a esse ponto a altura h1 e um número, o T1. O
momento da ebulição da água é marcado por outro ponto na escala,
o h2 e por outro número, T2. O intervalo entre os dois pontos físicos
(h2-h1) é dividido por (T1-T2) e resulta em partes iguais e unitárias.
Cada unidade recebe o nome de grau da escala.

Tente fazer:

1. Arranje uma garrafa de soro vazia e encha-a de água. Corte o tubo


do conta-gotas de modo a ficar apenas com 20 cm. Aqueça a água
Actividade
em banho-maria num pequeno fogão. Espere alguns minutos e
observe a dilatação da água. Também pode usar uma pequena lata
vazia de leite em pó, de milo ou café com um orifício na parte
superior, através do qual deve introduzir um tubo de esferográfica
BIC. Feiche bem o orifício de modo que a água não se escape
através dele.

2. Com ajuda de um termómetro meça a temperatura do gelo contido


num copo de vidro, da água tirada da torneira, da água morna, da
água quente e da água em ebulição. Registe os valores medidos
numa tabela.

3. Determine experimentalmente a temperatura da mistura de duas


quantidades de água, uma fria e outra quente. Meça primeiro as
temperaturas iniciais das duas quantidades de água. Compare os
valores

Com a realização das actividades experimentais anteriores você poderá


perceber melhor o funcionamento de um termómetro que usa como
substãncia termométrica um líquido, assim como vai poder desenvolver
as suas habilidades de medição de temperatura.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 41

Lição nº 4

Efeitos térmicos sobre corpos


sólidos, líquidos e gases.

Introdução
Caro estudante nesta lição você vai estudar fenómenos térmicos que
resultam da variação (aumento ou diminuição) da temperatura de um
corpo. São, por exemplo, a dilatação térmica e as mudanças de fase.

Você poderá precisar de 6 horas de estudo para esta lição incluíndo a


resolução de tarefas e realização de experiências aqui recomendadas.

Você poderá distribuir as seis horas da forma como lhe convier.


Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Explicar as razões da dilatção dos materiais quando aquecidos ou da


sua contracção quando arrefecidos;

Objectivos ƒ Determinar a dilatação liner, superficial e volumétrica sofrida por um


corpo graças ao aumento da temperatura;

ƒ Determinar a dilação volumétrico dos líquidos que se deferencia dos


sólidos por estes não terem forma própria;

ƒ Explicar as mudanças de fase que podem ocorrer com materiais


quando a estes for cedido ou retirado calor.
42

Dilatação térmica, dilatação linear, superficial e volumétrica,


recalescência, coeficiente de dilatação linear, superficial e volumétrica,
dilatação real e aparente, coeficiente real de dilatação volumétrica,
Terminologia mudanças de fase, vaporização (evaporação, ebulição, calefação), fusão e
solidificação, condensação e sublimação, estados físicos sólido, líquido e
gasoso.

É sem dúvida do seu conhecimento que um corpo quando aquecido pode


aumentar as suas dimensões ou dimuir quando esfriado (p. ex. quando
altura de uma coluna de mercúrio aumenta quando se mede a temperatura
de uma pessoa febril), assim como uma dada substância pode passar de
um estado físico para o outro (p.ex. quando o gelo derrete, passando do
estado sólido para o líquido).

Para além das dimensões uma variação de temperatura pode também


alterar o valor de grandezas como a pressão de um gás, cor de um metal,
a resistência eléctrica de um condutor de electricidade, etc. Note que, na
construção de termómetros, todas estas grandezas são utilizadas como
grandezas termométricas.

A dilatação térmica permite, além da construção de termômetros, outras


inúmeras aplicações, entre as quais se pode citar a lâmina bimetálica
empregue em dispositivos de segurança contra incêndio e em chaves
automáticas (relé termostático) que desligam um circuito eléctrico
quando ocorre uma elevação indesejável da temperatura, assim como na
rebitagem de chapas metálicas.

Muitas vezes,
porém, a dilatação
térmica dos corpos
pode causar danos.
É o que ocorre,
por exemplo,
quando os trilhos
de uma linha férria
ficam deformados
após uma grande
Fig.7: Efeitos da dilatação sobre os trilhos de uma
linha férria.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 43

elevação de temperatura. Nesse caso, as juntas de dilatação (pequenos


espaços entre os trechos de um trilho) terão sido insuficientes.

Nas linhas mais modernas, assim como nos trilhos dos metrôs das
grandes cidades, já não se usam intervalos de litação, pois novas técnicas
de engenharia permitem impedir que os efeitos dessa dilatação se
manifestem. Uma delas é a fixação rígida dos trilhos no solo, utilizando-
se dormentes de concreto.

Na engenharia, esse fenômeno deve ser considerado na construção de


algumas edificações, como por exemplo, na construção de pontes e
viadutos. Essas construções costumam ser feitas em partes e, entre essas
partes, existe uma pequena folga para que, nos dias quentes, ocorra a
dilatação sem nenhuma resistência, pois do contrário, teríamos algum
comprometimento da estrutura.

Entende-se por dilatação térmica o fenómeno pelo qual o corpo sofre


uma variação nas suas dimensões, por influência do calor que lhe é
transmitido.

Todos os corpos na natureza estão sujeitos a este fenômeno, uns mais


outros menos.

OBS.:
Existem alguns materiais que em condições especiais fazem o contrário,
ou seja, quando esquentam contraem e quando esfriam dilatam. É o caso
da água quando está na pressão atmosférica e entre 0ºC e 4ºC. Para uma
dada massa de água, a 4ºC ela apresenta um volume mínimo. Lembrando
que a densidade é dada pela relação entre a massa e seu volume (d= m/v),
concluímos que a 4ºC a água apresenta densidade máxima. Mas estes
casos são excepções e, embora tenham também sua importância, não
serão estudados aqui neste capítulo.

Fig. 8: Esboço do comportamento anómalo da água aos 4 graus centígrados


44

Outros exemplos são: o de um fio de aço que apresenta a curiosa


anormalidade de dilatação, pois quando a temperatura atinge cerca de 700
o
C o fio experimenta uma contração para voltar a dilatar-se pouco depois.
O fenómeno, reversível, denomina-se recalescência e o da borracha e da
argila que se contraem quando a temperatura se eleva.

De um modo geral, os sólidos se dilatam menos do que os líquidos e estes


menos do que os gases. Por exemplo, uma barra de ferro com um metro
de comprimento a 0 oC dilata-se apenas 1,2mm se a temperatura aumenta
para 100 oC.

Já pensou por que é que os materiais variam as suas dimensões com a


variação da temperatura?

É sobejamente por você bem conhecido que os objectos que nos cercam,
assim como nós mesmos, somos formados por pequenas partículas
conhecidas como moléculas ou átomos. Quando aquecemos algum
objecto ou alguma substância estamos aumentando a agitação de suas
moléculas, e isso faz com que elas se afastem umas das outras,
aumentando logicamente o espaço entre elas. Para uma molécula é mais
fácil, quando esta está vibrando com mais intensidade, afastar-se das suas
vizinhas do que aproximar-se delas. Isso acontece por causa da maneira
como as forças moleculares agem no interior da matéria. Então,"... se o
espaço entre elas aumenta, o volume final do corpo acaba aumentando
também"

Quando esfriamos uma substância ocorre exactamente o inverso.


Diminuímos a agitação interna das mesmas o que faz com que o espaço
entre as moléculas diminua, ocasionando uma diminuição do volume do
corpo. Então,"... se o espaço entre as moléculas diminui, o volume final
do corpo acaba diminuindo também"

Existem três tipos de dilatação, a linear, a superficial e a volumétrica. Os


três tipos de dilação podem ocorrer nos corpos sólidos, porém, como os
líquidos e os gases não possuem forma própria, mas sim a do recipiente
onde se encontram contidos, neles falamos apenas da dilatação
volumétrica.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 45

• Dilatação linear, superficial e volumétricas dos sólidos

Os sólidos que melhor se dilatam são os metais, principalmente o


alumínio e o cobre. Temos um bom exemplo disso num vidro de conserva
com a tampa metálica muito ajustada. Para abri-lo, basta mergulhar a
tampa na água quente; como o metal se dilata mais que o vidro, a tampa
logo fica frouxa.

O aquecimento leva os sólidos a se dilatarem em todas as direcções; no


entanto, às vezes, a dilatação predomina, ou é mais notória, numa só
direcção – a dilatação diz-se linear. Quando duas direcções são
predominantes, temos a dilatação superficial e, quando ela ocorre de
igual modo em todas as direcções, considera-se a dilatação volumétrica.

• Dilatação linear

A dilatação linear, ocorre em corpos em que a medida do comprimento é


a mais importante, como por exemplo, em cabos e vigas metálicas. Por
esse motivo, corpos com esse formato, quando estão sujeitos a variações
de temperatura sofrerão principalmente variações no seu comprimento.

Tais variações dependem directamente de três factores:

• Do comprimento inicial do objecto (L0);


• Do material com que ele é feito (α);
• Da variação de temperatura sofrida por ele (ΔT).

Dos três factores citados, pode-se chegar a uma relação matemática que
mostra como determinar a variação de comprimento sofrida devido a
variações de temperatura.

Consideremos uma barra de ferro de trilho de uma linha férrea. Suponha


que ela tem um comprimento inicial L0 , à temperatura inicial t0 (figura
abaixo). Aumentando a temperatura da barra para t, o seu comprimento
passa a L.

ΔL = L - L0 é a variação de comprimento da barra, isto é, a dilatação


linear da barra, na variação de temperatura Δt = t- t0.
Fig. 9: Barra de ferro de comprimento inicial Lo dilata e aumenta um
comprimento ΔL.
46

As experiências mostram que:

• ΔL é directamente proporcional ao comprimento inicial L0.


• ΔL é directamente proporcional à variação de temperatura Δt.
• ΔL depende do material que constitui a barra α.

A partir dessas constatações podemos escrever:

Δ L = L0 ⋅ α ⋅ Δ t

Onde α é uma constante de proporcionalidade, característica do material


que constitui a barra, denominada coeficiente de dilatação linear.

Note que se ΔL = L - L0,

então L − L0 = L0 ⋅ α ⋅ Δt ;

L = L0 + L0 ⋅ α ⋅ Δt ou L = L0 (1 + α ⋅ Δt )

O valor do coeficiente de dilatação linear pode ser calculado


experimentalmente para cada tipo de material bastando para isso
conhecer por medição L0, ΔL e Δt. Assim:

ΔL
α =
L0 ⋅ Δ t

Unidades

Observe que ΔL e L0 têm unidade de comprimento, que simplifica. Assim


resta apenas a unidade de Δt, isto é, da temperatura no denomenador.
Portanto a unidade do coeficiente de dilatação linear é o inverso da
unidade de temperatura.

Conheça valores de coeficientes de dilatação linear de algumas


substâncias:

Substância Coeficiente de
dilatação linear
10-5/oC
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 47

Aço 1,1
Alumínio 2,4
Bronze 1,8
Chumbo 2,9
Concreto 0,7-1,2
Cobre 1,7
Ferro 1,2
Latão 2,0
Ouro 1,4
Prata 1,9
Vidro comum 0,9
Vidro pirex 0,3

Tab. 1: Tabela de valores de coeficientes de dilatação de algumas substâncias.

Seja dado um fio de cobre com 6 metros de comprimento a uma


temperatura de 10ºC. Determinar seu comprimento quando aquecido a
50ºC.
Exemplo
Resolução:

L = L0 (1 + α ⋅ Δt ) ; L = L0 [1 + α (t − t 0 )];

[ (
L = 6m 1 + 17 ⋅10 −6 0C −1 50 0 C − 10 0 C ; )]
[ ]
L = 6m 1 + 17 ⋅ 10 −6 0 C −1 ⋅ 40 0 C ;

[ ]
L = 6m 1 + 17 ⋅ 10 −6 0 C −1 ⋅ 40 0 C ;

L = 6m[1 + 680 ⋅10 ] = 6m[1 + 0,000680];


−6

L = 6m ⋅1,000680 = 6,004080 m ≅ 6,004m

• Dilatação superficial e
volumétrica

A Dilatação Superficial refere-se ao


aumento das dimensões da área do
sólido dilatado, isto é, sua largura e
seu comprimento.

Fig. 10: A moeda deixa de passar entre os


pregos depois de aquecida.
48

Uma experiência bem simples pode comprovar a dilatação superficial dos


sólidos, como mostra a figura ao lado.

Pregue sobre uma pequena tábua de madeira dois pregos distanciados de


modo a que uma moeda de 5 meticais possa passar justamente entre eles.
Segurando a moeda com uma pinça, aqueça-a com ajuda de uma vela,
durante alguns minutos. Sem deixá-la esfriar tente de novo fazê-la passar
entre os pregos.

Descreva o que você observa. Tente explicar as causas da sua observação.

Verifica-se, também experimentalmente, que o acréscimo na área de uma


superfície que apresenta variações de temperatura é diretamente
proporcional à sua área inicial So e à correspondente variação de
temperatura Δt.

Fig. 11: Na dilatação superficial aumentam as duas dimensões linearess

A constante de proporcionalidade é o coeficiente de dilatação superficial


β tal que teremos:

ΔS = S0 ⋅ β ⋅ Δt

Note que β = 2α

Por sua vez a dilatação volumétrica refere-se ao aumento do volume do


sólido, isto é, do seu comprimento, da sua altura e largura.

O dispositivo usado para comprovar a dilatação volumétrica de um corpo


é chamado de anel de Gravezande (figura 12).

Fig. 12: A esfera aquecida já não passa pelo


anel por ter aumentado seu volume.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 49

Fig. 13: Na dilatação volumétrica aumentam as


duas dimensões lineares

O corpo sofre variação nas suas três dimensões: comprimento, largura e


espessura de modo que:

ΔV = V - V0, e Δt = t - t0,

Assim V − V0 = V0 ⋅ γ ⋅ Δt ; ΔV = V0 ⋅ γ ⋅ Δt

Por sua vez V = V0 (1 + γ ⋅ Δt ) , onde γ é o coeficiente de dilatação


volumétrica e é aproximadamente igual ao triplo do coeficiente de
dilatação linear a , isto é: γ = 3α .

Um recipiente de vidro tem uma capacidade de 600cm3 a 15ºC. Sabendo-


se que a vidro α= 27 . 10 -6 oC -1 determine a capacidade desse recipiente
a 25ºC.
Exemplo
Resolução:

V = V0 ⋅ (1 + γ ⋅ Δt ) .Considerando γ = 3α então:

V = V0 ⋅ (1 + 3α ⋅ Δt )

[ (
V = 600cm 3 ⋅ 1 + 3 ⋅ 27.10 −6 0C −1⋅ 250 C − 150 C )]
[
V = 600cm 3 ⋅ 81.10 −6 0C −1⋅10 0 C ; ] V = 600,486cm 3 ⋅

R: A capacidade do recipiente a 25ºC é de 600,486 cm³.


50

Dilatação volumétrica nos líquidos e gases

Como os líquidos não apresentam forma própria, para estes só tem


significado o estudo de sua dilatação volumétrica. Você bem sabe que a
forma dos líquidos como a dos gases é sempre a do recipiente onde eles
se encontram contidos. Por isso, ao estudar a dilatação dos líquidos tem
de se levar em conta a dilatação do recipiente.

De maneira geral, os líquidos dilatam-se sempre mais do que os sólidos


ao serem igualmente aquecidos.

No aquecimento de um líquido contido num recipiente, o líquido irá, ao


dilatar-se juntamente com o recipiente, ocupar parte da dilatação sofrida
pelo recipiente, além de mostrar uma dilatação própria, chamada
dilatação aparente.

A dilatação aparente é aquela diretamente observada e a dilatação real


é aquela que o líquido sofre realmente.

Consideremos um recipiente totalmente cheio de um líquido à


temperatura inicial to.

Aumentando a temperatura do conjunto (recipiente + líquido) até uma


temperatura t, nota-se um extravasamento do líquido, pois este se dilata
mais que o recipiente.

A dilatação aparente do líquido é igual ao volume que foi extravasado.

Fig. 14: Líquido aquecido dilata


até extravasar-se no recipiente
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 51

A dilatação real do líquido é dada pela soma da dilatação aparente do


líquido e da dilatação volumétrica sofrida pelo recipiente.

ΔVreal = ΔVap + ΔVrecip

donde ΔVap = V0γ ap ⋅ Δt … é a dilatação aparente do líquido

Assim como também é válido escrever

ΔVreal = V0γ real ⋅ Δt … Dilatação real do líquido

O coeficiente de dilatação real do líquido é igual à soma do coeficiente de


sua dilatação aparente com o coeficiente de dilatação do frasco que o
contém.

γ real = γ ap + γ recip … Coeficiente real de dilatação volumétrica do


líquido

A dilatação dos gases, que é


mais acentuada que a dos
líquidos, pode ser
comprovada por uma
experiência bem simples.

Num balão de vidro, com ar


em seu interior, introduz-se
um canudo dentro do qual há
Fig. 15: Os gases dilatam facilmente, bastando para
uma gota de óleo (figura isso o calor transmitido pelas nossa mãos.
abaixo).

Segurando o balão de vidro como indicado na figura, o calor fornecido


pelas mãos é suficiente para aumentar o volume de ar e deslocar a gota de
óleo.

Conheça alguns valores de coeficiente de dilatação volumétrica de


líquidos e gases
52

Coeficiente de
Substância
dilatação volumétrica
10-5/oC
Alcool 100
Gases 3,66
Gasolina 11
Mercúrio 18,2

Tab. 2: Valores de coeficientes de dilatação


volumétricas de algumas substâncias líquidas.

Mudanças de estado

• Características das fases da matéria de uma substância:

É do seu conhecimento que toda a matéria, dependendo das condições de


temperatura e pressão, pode se apresentar em três estados: sólido, líquido
e gasoso.

No texto que se segue você pode rever as características físicas das


substâncias nos estados:

Sólido: Apresenta forma própria e volume bem definido, apresentam


grande resistência à deformação e penetração. Nessa fase o grau de
agitação das moléculas é baixo por isso o volume definido, e as
moléculas tendem a ficar unidas.

Líquido: Com o volume definido, mas a substância apresenta a forma do


recipiente. Escoa com facilidade e não tem grande resistência a
penetração. O grau de agitação das moléculas é mediano, isto é, não é tão
agitado como no estado gasoso e nem tão baixo como no estado sólido, e
também as moléculas não ficam nem unidas como no estado sólido e nem
tão separadas como no estado gasoso.

Gasoso: Não possui forma nem volume definido, e assim a sua forma
depende do recipiente em que se encontra. O grau de agitação das
moléculas nesse estado é grande e assim elas tendem a se separar.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 53

• Calor e mudança de fase

Por vezes, para além da dilatação, quando uma substância recebe ou cede
calor e a sua temperatura aumenta ou diminui, pode sofrer uma mudança
de estado. É o que acontece, por exemplo, quando uma pedra de gelo
(sólido) é abandonada sobre a mesa, depois de algum tempo ele se
apresenta em forma de água (líquido), ou quando uma gota de álcool é
exposta ao ambiente e depois de algum tempo se evapora.

Importa contudo salientar que durante o processo de mudança de fase, a


temperatura da substância permanece constante, servindo o calor
fornecido ou retirado para distruir ou consolidar as ligações entre as suas
moléculas. Por isso o calor de mudança de estado é denominado calor
latente. Mais detalhes sobre calor de mudança de estado serão abordados
na unidade seguinte.

A figura 16 ilustra os diferentes processos de mudança de fase que


ocorrem nas substâncias, como já é do seu conhecimento.

Fig. 16: Esquema representativo das mudanças de estado que


podem ocorrer com as substâncias.

• Vamos rever o significado de cada um destes conceitos:

Fusão é mudança de fase, do estado sólido para o líquido.

Vaporização é a mudança de fase, do estado líquido para o gasoso.


Existem três tipos de vaporização: a evaporação: as moléculas da
superfície do líquido tornam-se gás a qualquer temperatura, depende da
54

área de contato a ebulição: o líquido está na temperatura de ebulição e


fica borbulhando, recebendo calor e tornando-se gás e a calefação: o
líquido recebe uma grande quantidade de calor em período curto e se
torna gás rapidamente, por exemplo quando gotas de água caiem sobre
uma chapa bem quente, notamos que elas vaporizam rapidamente
emitindo um ruído característico.

Condensação é a mudança de estado gasoso para líquido (inverso da


Vaporização).

Solidificação é a mudança de estado líquido para o estado sólido (inverso


da Fusão).

Sublimação é a mudança de estado directa do estado sólido para o


gasoso e Re-sublimação que é a mudança directa do estado gasoso para
o sólido (inverso da Sublimação).

Tente fazer:

Faça um esboço do gráfico que representa a variação da temperatura de


uma substância em função do calor absorvido pela mesma. Coloque no
Actividade
eixo vertical a temperatura e no horizontal a quantidade de calor
absorvido.

Dica:

Indique para cada trexo do diagrama as fases de “sólido”, “sólido em


Apoio fusão”, “líquido”, “líquido em ebulição” e “vapor”.

Sumário
Assunto Definições e Equações importantes

Temperatura Propriedade que determina / mede quão um


corpo está quente ou frio.

Energia interna Energia que está de certa maneira


"armazenada" nos corpos, resultante do
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 55

movimento ou da vibração dos seus


átomos e moléculas.

Calor É uma forma de energia em trânsito


devido à diferença de temperaturas.

Massa atômica
É a massa de um átomo expressa em
relação a 1/12 da massa do átomo de
carbono 12.

Massa específica/
ρ = m/V (kg/m3).
densidade

Massa molecular
É a soma das massas atômicas de todos os
átomos da molécula.

Massa molar m
μ= (kg/kmol) ou (g/mol),
n

Peso específico γ = P/V (N/m3)

Volume específico
v = V/m (m3/kg).

Volume molar V
vμ = (m3/kmol) ou (dm3/mol)
μ

A lei Zero da Sempre que um corpo A estiver em


Termodinâmica equilíbrio térmico com o corpo B e B
estiver em equilíbrio com um outro C,
então A e C estarão em equiíbrio térmico
entre si.

Escalas termométricas 5
tC = (t F − 32)
Celcius, Kelvin e Farenheit 9

T = tC + 273,15K ... temperatura


absoluta

Dilatação linear ΔL = L0 ⋅ α ⋅ Δt
56

Coeficiente de dilatação ΔL
α=
linear L0 ⋅ Δt

Dilatação supericial ΔS = S 0 ⋅ β ⋅ Δt

Dilatação volumátrica ΔV = V0 ⋅ γ ⋅ Δt

Relação entre os β = 2α
coeficientes de dilatação
linear, superficial e γ = 3α
volumétrico

Coeficiente de dilatação γ real = γ ap + γ recip


real e aparente
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 57

Exercícios
Tente responder:

1. Como pode ser explicada a dilatação dos corpos ao serem

Auto-avaliação
aquecidos?

2. Que factores influenciam na dilatação que um corpo irá sofrer ao


ser aquecido?

3. Pode-se afirmar que uma barra metálica, ao ser aquecida, sofre


apenas dilatação linear? Justifique.

4. Explique por que a dilatação aparente de um líquido, ao ser


aquecido juntamente com o recipiente onde está contido, não
fornece a dilatação verdadeira do líquido.

5. Como se explica o comportamento anómalo da água ao ser


aquecida de 0 oC a 10 oC?

Tente resolver:

1. Um fio metálico tem 100m de comprimento e coeficiente de dilatação


linear igual a 1,7x10-5 ºC-1. A variação de comprimento desse fio, quando
a temperatura varia 10ºC, é de

(A) 17mm (B) 1,7m (C) 17m (D)17x10-3 mm

(E) 17x10-6 mm

2. Uma telha de alumínio tem dimensões lineares de 20 cm x 500 cm e


seu coeficiente de dilatação linear é igual a 2,2x10-5 ºC-1 . A telha, ao ser
exposta ao sol durante o dia, experimenta uma variação de temperatura de
20 ºC . A dilatação superficial máxima da chapa, em cm2 , durante esse
dia, será

(A) 1,1 (B) 2,2 (C) 4,4 (D) 6,6 (E) 8,8
58

3.Uma parede de concreto cujo coeficiente de dilatação linear é de 1,0 .


10-5 ºC-1, tem pela manhã, a 20º C, uma superfície inicial de 50 m². No
meio da tarde, essa parede, exposta ao sol, atinge uma temperatura de 50
ºC. Devido à dilatação térmica, o valor do acréscimo de sua superfície, no
Auto-avaliação meio da tarde, em cm², será

A) 15 B) 30 C) 60 D) 50 E) 300

4.Um sólido homogêneo apresenta a 5º C um volume igual a 4,00 dm³.


Aquecido até 505º C, seu volume aumenta 0,06 dm³. Qual o coeficiente
de dilatação linear aproximado do material desse sólido?
A) 3 x 10-5 ºC-1 B) 2 x 10-5 ºC-1 C) 1,5 x 10-5 ºC-1
D) 1 x 10-5 ºC-1 E) 0,5 x 10-5 ºC-1

5.A distância entre dois postes de uma rede de eletricidade formada por
fios de alumínio é de 30 m. Sendo o coeficiente de dilatação linear do
alumínio de 25 . 10-6 ºC-1, a variação no comprimento desses fios, entre
um dia frio de 0 ºC e um dia quente de 36 ºC, é de
A) 10 mm B) 15 mm C) 17 mm
D) 23 mm E) 27 mm

6.Um trilho de aço de 20 m de comprimento sofre um acréscimo de


temperatura de 20 ºC. Sendo 12 . 10-6 ºC-1 o coeficiente de dilatação
linear do aço, o trilho sofrerá um acréscimo de comprimento, em m, de
A) 48 . 10-4 B) 24 . 10-4 C) 20 . 10-4
D) 12 . 10-4 E) 6 . 10-4

7.Uma placa retangular mede 10 cm x 20 cm quando está a 0 ºC. O


material da placa tem coeficiente de dilatação linear de 10-6 ºC-1. Quando
a temperatura é de 20 ºC, a área da placa varia
A) 8 . 10-3 cm² B)4 . 10-3 cm² C)4 . 10-6 cm²
D)8 . 10-6 cm² E) 2 . 10-3 cm²

8.Uma telha de alumínio tem dimensões lineares de 20 cm x 500 cm e seu


coeficiente de dilatação linear é igual a 2,2 . 10-5 ºC-1. A telha, ao ser
exposta ao sol durante o dia, experimenta uma variação de temperatura de
20 ºC. A dilatação superficial máxima da chapa, em cm², durante esse dia,
será

A) 1,1 B) 2,2 C) 4,4 D) 6,6 E) 8,8

Feedback
Procure confirmar sempre com cáclculos as respostas consideradas certas.

1.(A) 17mm; 2.(E) 8,8; 3.(E) 300; 4. (D) 1 x 10-5 ºC-1;


5. (E) 27 mm; 6.(A) 48 . 10-4; 7. (A) 8 . 10-3 cm²;
8. (E) 8,8
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 59

Unidade 2

Gases Perfeitos

Introdução
Caro estudante depois da Unidade 1, introdutória ao estudo da
Termodinâmica, você vai estudar o comportamento dos gases quando
submetidos a temperaturas altas e pressões não muito baixas. Na unidade
2, constituída por 3 lições você vai discutir as leis que regulam o
comportamento macroscópico dos gases, denominados gases ideais,
nomeadamente as leis de Gay-Lussac e Boyle-Mariotte. Constituem
conteúdos fulcrais desta Unidade a equação de estudo de estado do gás
ideal e os isoprocessos.

Você poderá necessitar de aproximadamente 8 horas para o estudo da


Unidade incluindo a resolução dos problemas e realização das
experiências recomendadas.

Tempo de estudo .

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ƒ Caracterizar macroscopicamente o modelo gás ideal;

ƒ Aplicar as leis de Gay-Lussac e Boyle Mariotte na resolução de


Objectivos problemas;

ƒ Explicar as experiências de que resultou a formulação das leis de


Gay-Lussac e Boyle Mariotte.

ƒ Descrever as características do gás ideal do ponto de vista


macroscópico;

ƒ Interpretar a equação do estado do gás ideal;


60

ƒ Resolver problemas aplicando a equação do estado do gás ideal.

ƒ Diferenciar os três tipos de isoprocessos através das suas


características;

ƒ Resolver problemas aplicando as equações das leis de Boyle, Charles


e Lussac

ƒ Representar graficamente em P(V), P(T) e V(T) as respectivas


funções.

Modelo gás ideal, gás perfeito, lei de Gay-Lussac, lei de Boyle-Mariotte,


Pressão, volume, temperatura, modelo gás ideal, cosntante univerasl dos
gases, número de moles, massa molar, Processo isobárico, processo
Terminologia isocórico, processo isotérmico.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 61

Lição nº 5

Modelo gás ideal. Lei de Gay-


Lussac e Boile-Mariotte

Introdução
Caro estudante a 5ª Lição destina-se ao estudo de transformações
termodinâmicas que podem ocorrer num gás, como passo inicial para
explicação do comportamento dos gases quando submetidos à variação da
pressão e temperatura.

Você vai precisar 2 horas de estudo para esta lição incluíndo a resolução
de tarefas e realização de experiências aqui recomendadas.

.
Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Caracterizar macroscopicamente o modelo gás ideal;

ƒ De aplicar as leis de Gay-Lussac e Boyle Mariotte na resolução de


problemas;
Objectivos
ƒ Explicar as experiências de que resultou a formulação das leis de
Gay-Lussac e Boyle Mariotte.

Modelo gás ideal, gás perfeito, lei de Gay-Lussac, lei de Boyle-Mariotte.

Terminologia
62

Modelo gás ideal ou gás perfeito

Para facilitar o estudo da termodinâmica dos gases, consideramos


inicialmente as transformações em um gás perfeito. Comecemos por
clarificar o sentido deste conceito.

O gás perfeito ou modelo gás ideal é assim designado por se tratar de


um gás imaginário, hipotético, que não existe na realidade; um modelo
físico-matemático de umas das teorias mais bem construídas pela mente
humana (a Teoria Cinética dos Gases), cujas moléculas não têm volume
nem forças de repulsão ou atracção.

Gases reais como o Hidrogênio e o Hélio apresentam comportamento


bem próximo do gás ideal.

A experiência mostra que outros gases (ou misturas como o ar), para
densidades muito baixas, pressões menores que 300 MPa e temperaturas
usuais, oferecem também uma razoável aproximação e
independentemente da sua composição química apresentam uma certa
relação para com as variáveis termodinâmicas Temperatura, Volume e
Pressão.

Isto sugere a criação do conceito modelo gás ideal, um gás que teria o
mesmo comportamento sob quaisquer condições.

Equações básicas para o gás ideal

• Lei de Gay-Lussac

Seja dada uma massa m de um tal gás. Em estado de equilíbrio nós


podemos medir a sua pressão p, a sua temperatura t e o seu volume V.

Se a massa de gás for aquecida, mantida a pressão constante, o seu


volume será directamente proporcional à temperatura do gás.

Isto significa que se à uma dada temperatura t0, o volume do gás for V0,
alterando-se a temperatura à pressão constante, para t, o volume toma um
novo valor Vt que será dado pela expressão:

Vt = V0 (1 + γt )
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 63

onde γ é o coeficiente térmico de dilatação isobárica (pressão constante),


cujo valor para o gás ideal é (1/273,15) 1/ºC.

A relação entre t (ºC) e T (K) é t = T - 273,15. Substituindo este e o valor

de γ na equação anterior, resulta em Vt = V0γT , onde T é a temperatura


absoluta (K). Podemos então dizer que, no zero absoluto, o volume de um
gás ideal é nulo.

Se consideramos valores de dois pontos 1 e 2, V1 = V0γT1 e V2 = V0γT2 ,


fazendo a divisão entre 1 e 2 resuta:

V1 V
= 2 = const
T1 T2

Esta equação toma o nome de lei de Gay – Lussac (1778 - 1850).

Procedimento experimental:

O aquecimento do gás provoca o aumento da pressão do gás que empurra


o êmbolo/ rolha, aumentando o volume do gás.

Fig. 17: Variação do volume do gás a pressão constante com o aumento de


• Lei de Boyle-Mariotte
temperatura.

Se para uma dada massa de um gás ideal a temperatura for mantida


constante, a pressão do gás será inversamente proporcional ao volume do
gás. Isto significa que se comprimirmos um gás, mantendo contante a sua
temperatura, a pressão aumenta, assim como diminui se o gás se expande.
64

Por outras palavras, mantendo-se a temperatura constante, o volume que


o gás ocupa varia com a variação da pressão, de tal modo que o produto
da pressão pelo volume permaneça constante.

Isto é p1V1 = p 2V2 = const - Esta equação toma o nome Lei de Boyle
– Mariotte (1627-1691)

Procedimento experimental:

Pressionando lentamente o gás para não variar a temperatura, estes dois


resultados experimentais podem ser resumidos numa única relação:

pV
= const (para uma dada massa degás fixa)
T

Fig. 18: Variação do volume a temperatura constante com o aumento da


pressão.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 65

1) O cilindro da figura ao lado está fechado com êmbolo que pode


deslizar sem atrito e está preenchido por uma certa quantidade de um gás
que pode ser considerado como ideal. À temperatura de 30º C, a altura h
na qual o êmbolo se encontra em equilíbrio é de 20 cm. Se, enquanto as
Exemplo
demais características do sistema forem mantidas invariáveis, a
temperatura subir para 60º C, o valor de h variará em aproximadamente:

a) 5%; b) 10%; c) 20%; d) 50%; e) 100%

Resolução:

O volume do cilindro é dado pela expressão V = A ⋅ h onde A é a área da


h1 h2
base do cilindro. Como esta não se altera pode se deduzir que = .
T1 T2
Se a temperatura aumenta o dobro então a altura h também dobrar o que
significa que o seu valor variará aproximadamente em 100%.

2) Um gás é mantido a pressão constante. Se a sua temperatura passa de


50º C para 100º C, qual é o factor de variação do volume?

Resolução:

V1 V2 V1 V2
De acordo com o enunciado T2 = 2T1 . Então = ; = ;
T1 T2 T1 2T1

V2
= 2 ou V2 = 2V1 . O factor de variação do volume é 2.
V1

Tente fazer:

Uma certa massa de gás tem o volume de 3 L a 30o C e pressão igual


Actividade a 1 atm. Se o gás for aquecido a 60o C e o seu volume for reduzido
para a metade, qual é a nova pressão?
66

Feedback
T2
p2 = 2 = 60atm
T1

Lição nº6

Gases perfeitos (continução).


Equação de estado do gás ideal

Introdução
Caro estudante a sexta lição dá continuidade ao estudo do comportamento
dos gases reais. Aqui você vai deduzir a partir das leis estudadas na aula
anterior a equação que caracteriza o estado dos gases ideais.

Você poderá necessitar de aproximadamente 2 horas para o estudo esta


lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Descrever as características do gás ideal do ponto de vista


macroscópico;

ƒ Interpretar a equação do estado do gás ideal;


Objectivos
ƒ Resolver problemas aplicando a equação do estado do gás ideal.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 67

Pressão, volume, temperatura, modelo gás ideal, cosntante universal dos


gases, número de moles, massa molar.

Terminologia

Dedução da equação de estado do gás ideal

Já vimos que o aumento da energia térmica, ou da temperatura, produz


dilatação, ou seja, aumento do volume. No caso dos gases, grandes
variações de volume podem ser conseguidas também com o aumento ou
diminuição da pressão, o que já não ocorre assim nos líquidos e sólidos.
Nesta lição vamos as propriedades dos gases e suas transformações em
termos de temperatura, volume e pressão. Estas três grandezas físicas
caracterizam o estado de um gás.

Você já presenciou que, quando se enche uma bola, o ar atmosférico é


comprimido dentro da bola e exerce uma resistência cada vez maior à
tentativa de introdução de mais ar. Esta resistência está relacionada com a
pressão do ar. Pressão é a força aplicada em unidade de área. Neste caso
concreto do gás ela resulta das colisões das moléculas do gás nas paredes
do recipiente onde se encontram. A Unidade de pressão é dada em
Newtons por metro quadrado que pode ser representado pelas unidades
Pascal (Pa), Atmosferas (atm), etc.

Segundo Dimitrie Mendleev (dono da tabela periódica), tomemos em


consideração como mais uma generalização, que o volume ocupado por
um gás à uma pressão e temperatura dadas é proporcional a sua massa e
que é todo o espaço disponível.

Isto significa que numa metade de volume teremos metade da massa.

pV
Assim sendo, a constante ∝ m.
T

Como a massa caracteriza propriedades inerciais, no lugar desta vamos


introduzir uma grandeza denominada ”quantidade de substancia” cuja
unidade é o mole (cada mole contem igual nº de partículas que
corresponde ao nº de Avogadro NA = 6.1023 moléculas/mol).
68

Reescrevendo a relação anterior tomando em conta o nº de moles (n)


teremos

pV pV
∝n ou = nR
T T

onde R é uma constante de proporcionalidade, com o mesmo valor para


todos gases, por isso “constante universal dos gases” R= 8,31 J/mol.
Passando T para o segundo membro obtém-se

pV = nRT ,

que é a equação de estado do gás ideal.

Definição macroscópica do gás perfeito

Todo o gás que obedece à esta relação sob quaisquer condições é


denominado modelo gás ideal.

Já vimos na lição anterior que o termo “modelo” significa que não se


trata de um gás ideal no verdadeiro sentido da palavra, pois é apenas uma
abstracção que facilita o estudo do comportamento dos gases reais,
quando as suas densidades são suficientemente baixas, ou seja, à
temperaturas elevadas e pressões baixas.

A equação de estado do gás ideal pode também ser escrita na forma

mT
pV = R ,
μ

m
tomando em conta que n = , donde μ é a massa molar.
μ
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 69

Num cilindro, estão contidos 100 litros de oxigénio à uma temperatura de


20 ºC e pressão de 15 atm. Com ajuda de um pistão o gás é pressionado
de forma que o volume reduziu para 80 litros subindo à uma temperatura
Exemplo de 25 ºC.

Considerando que o oxigénio se comporta como um gás ideal à estas


condições, qual é agora a pressão do gás?

Resolução:

p 0V0 pV pVT 15atm.100l.298 K


= ; p= 0 0 ; p=
T0 T T0V 293K .80l

p = 19atm

variação do volume é 2.

Resolva o exercício que se segue como forma de testar os seus


conhecimentos.

1. Uma dada massa de um gás perfeito está a uma temperatura de 300K,


ocupando um volume V e exercendo uma pressão p. Se o gás for
aquecido passa a ocupar um volume 2V e exerce uma pressão1,5p.
Qual será a sua temperatura?
Auto-avaliação

2. 4,0 moles de oxigenio estão num balão de gás. Há um vazamento e


escapam 8,0 ×1012 moléculas de oxigenio. Considerando que o
número de Avogadro é 6,02×1023, qual será a ordem de grandeza do
numero de moléculas que restam no balão?

3. Um balão de vidro indilatável contém 10g de oxigenio a 77ºC. Este


balão poderá suportar, no máximo, uma pressão interna 3 vezes
superior à que está submetida. Se a temperatura do gás for reduzida a
27ºC, que quantidade máxima de oxigenio poderá ser introduzida
ainda nesse balão a essa temperatura?
70

Feedback
1: 900K 2: 1024 3: 25g
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 71

Lição nº 7

Isoprocessos

Introdução
Nesta lição, dedicar-nos-emos ao estudo das transformações
termodinâmicas que podem ocorrer com os gases ideais, nomeadamente
os processos isobárico, isotérmico e isovolumétrico. Você vai poder
relacionar estas transformações com as leis de Boyle-Maiotte, Gay-
Lussac e Charles estudadas nas aulas anteriores.

Você poderá necessitar de aproximadamente 2 horas para o estudo esta


lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Diferenciar os três tipos de isoprocessos através das suas


características;

Objectivos ƒ Resolver problemas aplicando as equações das leis de Boyle, Charles


e Lussac

ƒ Representar graficamente em P(V), P(T) e V(T) as respectivas


funções.

Processo isobárico, processo isocórico, processo isotérmico

Terminologia
72

O que são isoprocessos?

Isoprocessos são processos termodinâmicos que ocorrem sem variação


da massa do gás e mais um dos seus parâmetros termodinâmicos
(Temperatura, Volume ou Pressão).

A) Processo Isobárico (Pressão constante).

Chama-se processo isobárico aquela transformação que ocorre à pressão


constante. Os parâmetros variáveis são o
Volume(V) e Temperatura(T).

Quando se eleva a temperatura de um gás,


a velocidade média das suas moléculas
aumenta e, consequentemente, aumenta a
intensidade das colisões com as paredes
do recipiente, ocasionando o aumento da
pressão interna. Para se manter a pressão
constante, se a temperatura aumentar, devemos aumentar também o
volume do recipiente.

V1 V 2
= ...... Lei de Gay – Lussac
T1 T2

V
= Cons tan te
T

Num diagrama cartesiano, a dependência entre o Volume e a


Temperatura na transformação isobárica é reprasentada por uma recta que
parte da origem.

Conclusão: Para massas e pressões constantes os volumes


ocupados pelo gás são directamente proporcionais às respectivas
temperaturas absolutas.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 73

1.Qual é o volume em litros ocupado por uma mole de gás na temperatura


de 0o C e sob a pressão de 1 atm?

Exemplo Resolução: O volume pode ser calculado a partir da equação dos gases:
nRT
V =
pV = nRT onde p .

1mole ⋅ 0,0821l ⋅ atm.mol −1 ⋅ K −1 ⋅ 273 K


V = = 22,4l
Assim 1atm

Note que 0o C=273K e que R vem em l.atm.mol/K porque p vem atm.

2. Uma certa massa de gás tem o volume de 3 L a 30o C e pressão igual a


1 atm. Se o gás for aquecido a 60o C e o seu volume for reduzido para a
metade, qual é a nova pressão?

Resolução: Como a quantidade do gás é fixa, a pressão pode ser


p 0V0 pV
=
calculada com ajuda da equação
T 0 T que fornece os valores
iniciais e finais do volume e temperatura.Note que as temperaturas são
Exemplo
absolutas: To=273+30= 303 K e T= 273+60= 333 K.

p 0V0T 1atm ⋅ 3l ⋅ 333K


Então p = ; p= = 1,47atm
T0V 303K ⋅ 1,5l

3. Uma amostra de 100 gramas de CO2 ocupa o volume de 55 L na


pressão de 1 atm. a) Qual é a temperatura da amostra? b) Se o volume
aumentar para 80 L, mantendo-se constante a temperatura, qual será a
nova a pressão?

Resolução: Conhecido o número de moles de CO2 as duas questões


resolvem-se com ajuda da equação dos gases.

Cálculo do número de moles de CO2. Sabendo que μ = 44g/mol, então


m 100 g
n= = = 2,27mol .
μ 44 gmol −1

pV 1atm ⋅ 55l
a) pV = nRT ; T = = = 295 K
nR 2,27 mol ⋅ 0,0821l / atm ⋅ k

b) Como pV = Const , calcular a nova pressão a partir de


p 0V0
p= = 0,688 atm
V
74

B) Processo Isocórico (Volume constante).

Chama-se processo isocórico (isovolumétrico) aquela transformação que


ocorre à volume constante. Os parâmetros variáveis são a Pressão(p) e
Temperatura(T).

p1 p 2
= - Esta equação é denominada Lei
T1 T2
de Charles (1746-1823)

p
= Cons tan te
T

Num diagrama cartesiano, a dependência entre


o Volume e a Temperatura na transformação isobárica é reprasentada por
uma recta que parte da ordenada.

Conclusão: Para massas e volumes constantes, as pressões são


directamente proporcionais às respectivas temperaturas absolutas do
gás.

C) Processo Isotérmico (Temperatura constante).

Chama-se processo isotérmico aquela transformação que ocorre à


temperatura constante. Os parâmetros variáveis são Volume (V) e
Pressão (p).

Consideremos uma seringa de injeção sem a respectiva agulha à


temperatura ambiente, com um certo volume V de ar e a presão p. Se o
volume for triplicado a pressão reduzirá também três vezes.

p1 V2
= ou p1V1 = p2V2 ...... Lei de Boyl e Mariotte.
p2 V1

p ⋅ V = Cons tan te

Num diagrama cartesiano, a dependência


entre o Volume e a Temperatura na
transformação isobárica é reprasentada por

Conclusão: Para massas e temperaturas


constantes, as pressões dos gases são
inversamente proporcionais aos seus
respectivos volumes.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 75

uma recta que parte da ordenada. Com o aumento da temperatura, o


produto PV torna-se mais alto e a isoterma afasta-se dos eixos.

Sumário
Assunto Observações e Equações importantes

Lei de Gay – Lussac V1 V2


= = const
T1 T2

Lei de Boyle – Mariotte p1V1 = p 2V2 = const

Equação de estado do gás ideal pV = nRT


Em condições de densidades baixas,
todos os gases obedecem a lei dos gases
ideais

Constante universal dos gases R= kNA= 8,314 J/molK

Constante de Boltzmann k=1,381 x 10-23J/K

Número de Avogadro NA=6 x 1023

Equação de estado de massa p 0V0 pV


fixa do gás =
T0 T

Processo isobárico P = constante

Processo isocórico V = constante

Processo isotérmico T = Constante


76

Exercícios
Tente resolver:

1. Uma bolha de ar de 20 cm3 de volume está no fundo de um lago,


cuja profundidade é de 40 m e onde a temperatura é de 4o C. A
bolha sobe até a superfície, que está a uma temperatura de 20o C.
Auto-avaliação
Admita que a temperatura da bolha seja a mesma que a da água
que o circunda e encontre o seu volume pouco antes de atingir a
superfície.

2. Calcule a) o número de moles e b) o número de moléculas N em


1 cm3 de certo gás a 0o C e a 1 atm.

3. A massa molecular do hidrogénio é 1,008 g/mol. Qual é a massa


de um átomo de hidrogénio?

4. Uma garrafa de aço contém dióxido de carbono a 0o C e pressão


de 12 atm. Achar a pressão do gás nela hermeticamente fechada,
se a temperatura for elevada até 60o C.

5. O oxigénio em estado gasoso está contido num volume de 1,13


cm3 a 42o C sob a pressão de 106 kPa. Determine o número de
moles de oxigénio no sistema;

6. Com uma certa quantidade de gás ideal


realiza-se um processo cíclico 1-2-3, cuja
dependência do volume com a
temperatura está representada no gráfico
da figura ao lado. Represente o mesmo
processo no gráfico P(V) e P(T).

7. O estado inicial de uma certa


quantidade de gás ideal, é
caracterizado pelo ponto A
no gráfico, P(V). A
temperatura no ponto A é de
300K

i. Identifique as
transformações AB, BC
e CA
ii. Qual é a temperatura do gás nos pontos B e C?
iii. Calcule o trabalho realizado em cada transformação.
iv. Traduza o mesmo processo para um gráfico P(T). Indique
claramente os pontos A, B e C e o sentido das
transformações.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 77

Feedback
Resultados:

1. V2= 500cm3

2. a) n= 4,4 10-5 moles; b) N= 2,65 1019 moléculas

3. m (H2O)= 0,17 10-23 g

4. P2= 14,6 atm

5. a) n= 1,9 10-3 mol

7. ii) Tc= 100K; iii) WBC= -16.102J; WAB= 2,739 KJ

.
78

Unidade 3

Calorimetria e 1o Princípio
Termodinâmico

Introdução
Na unidade 3 vais discutir uma das importantes leis da Termodinâmica e
da Natureza. Esta unidade é constituída por 8 lições que se distribuem
pelos seguintes temas: Quantidade de calor, calor especifico, capacitância
calorífica de um corpo; calor de fusão e de vaporização, primeiro
Princípio Termodinâmico e sua aplicação nos isoprocessos, intercâmbio
térmico, trabalho e calor como formas de troca de energia, transmissão do
calor, formulação do 1º Princípio Termodinâmico, aplicações, cálculo do
Trabalho nos isoprocessos.

Você poderá precisar de aproximadamente de um total de 30 horas para


estudar esta Unidade.

Tempo de estudo

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ƒ Deferenciar os conceitos de calor e de temperatura;

ƒ Explicar o significado do conceito calor específico;


Objectivos
ƒ Determinar a grandeza “quantidade de calor (Q)”;

ƒ Deduzir a equação de Richmman;

ƒ Diferenciar entre capacitância calorífica e calor específico;

ƒ Explicar o que é a capacitância calorífica ou capacidade térmica de um


corpo;

ƒ Determinar analiticamente e experimentalmente a capacidade térmica


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 79

de um corpo;

ƒ Explicar o significado do calor latente de fusão e de vaporização;

ƒ Determinar analiticamente o calor latente

ƒ Diferenciar entre calor e temperatura;

ƒ Reconhecer o calor como uma forma de energia em trânsito;

ƒ Caracterizar o trabalho realizado pelo gás na Termodinâmica;

ƒ Calcular o trabalho efectuado por uma massa de gás ou sobre ela

ƒ Calcular o trabalho do gás numa expansão isobárica;

ƒ Calcular o trabalho do gás num processo isocórico;

ƒ Deduzir a expressão para o cálculo do trabalho do gás numa expansão


isotérmica;

ƒ Calcular o trabalho a partir do gráfico P(V);

ƒ Formular e interpretar o Primeiro Princípio Termodinâmico;

ƒ Deduzir a expressão do 1o Princípio Termodinâmico para os


isoprocessos;

ƒ Calcular o trabalho, a quantidade de calor e a variação da energia


interna de um sistema através da expressão do 1o Princípio
Termodinâmico;

ƒ Determinar o calor específico a volume e pressão constantes;

ƒ Interpretar o significado da relação entre os coeficientes caloríficos à


volume e a a pressão constante;

ƒ Interpretar a equação de Mayer;

ƒ Aplicar os conhecimentos adquiridos nesta lição na resolução de


problemas diveros;

ƒ Caracterizar uma transformação adiabática e de dar exemplos práticos


em que esta transformação ocorre;

ƒ Explicar o sentido físico e calcular a grandeza “entalpia”;

ƒ Representar graficamente o processo adiabático em p(V).

ƒ Calcular o trabalho realizado pelo gás numa transformação adiabática;

ƒ Explicar o processo de transmissão de calor por condução e dar


80

exemplos;

ƒ Explicar o processo de transmissão de calor por convecção e dar


exemplos;

ƒ Explicar o processo de transmissão de calor por radiação e dar


exemplos;

ƒ Realizar experiências simples que demonstrem as diferentes formas de


transmissão de calor.

Calor, temperatura, calor específico, calor cedido, calor recebido,


capacidade calorífica, capacidade térmica, calor de fusão, calor de
vaporização, calor latente de fusão e de vaporização, sistema, vizinhança,
Terminologia sistema aberto, sistema fechado, sistema isolado, trabalho, energia, calor,
energia em trânsito, grandeza de processo, grandeza de estado, processo
isobárico, processo isotérmico e processo isocórico, área sob o gráfico,
Primeiro princípio termodinâmico, perpétum mobile, variação da energia
interna, transformação isobárica, isocórica e isotérmica, calor específico a
volume constante, calor específico a pressão constante, capacidade
calorífica a volume constante, capacidade calorífica a pressão constante,
equação de Mayer, Expansão adiabática, constante adiabática, equações
de Poisson, sistema isolado, entalpia, Transmissão de calor, condução,
convecção, radiação.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 81

Lição nº 8

Quantidade de calor e Calor


específico

Introdução
Caro estudante, nesta lição vamos discutir transformações energéticas que
ocorrem quando dois ou mais corpos com diferenças de temperetura estão
em contacto entre si e aprofundar os conceitos de calor específico e
capacidade calorífica. Vamos de igual modo aprender e exercitar o
cálculo da quantidade de calor.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar


esta lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Deferenciar os conceitos de calor e de temperatura;

ƒ Explicar o significado do conceito calor específico;


Objectivos ƒ Determinar a grandeza “quantidade de calor (Q)”;

ƒ Deduzir a equação de Richmman;

Calor, temperature, calor específico, calor específico, calor cedido, calor


recebido.

Terminologia

Já vimos que quando dois sistemas à temperaturas diferentes são


colocados em contacto, depois de algum tempo adquirem a mesma
82

temperatura. A temperatura final de ambos sistemas situa-se entre as duas


temperaturas iniciais.

Durante este processo há transferência de calor.

Calor é “aquilo” que é transferido entre um sistema e a sua vizinhança,


como resultado da diferença de temperaturas. Esse “aquilo” é energia.
Por outras palavras, podemos dizer que calor é uma forma de energia em
trânsito.

Nenhum corpo possui calor, ou mais calor que outro.

Você já reparou sem dúvida que algumas substâncias aquecem mais


rapidamente que outras.

Por exemplo, é muito mais fácil aquecer um litro de ar do que um litro de


água, assim como já deve ter percebido que é muito mais fácil aquecer
um pedaço de metal do que um de madeira, ambos com a mesma massa.

Com isso podemos tirar a seguinte conclusão: os materiais esfriam e


aquecem de maneira diferente uns dos outros, uns mais lentamente e
outros mais rapidamente.

A grandeza física que serve para medir e para comparar esta propriedade
dos materiais é denominada calor específico.

O calor específico de uma substância é definido como sendo a


quantidade de calor necessária para fazer 1 grama de
determinada substância elevar em 1 grau Celsius a sua
temperatura.

Unidades do calor específico: J/kg.K ou cal/g.ºC

No fundo, o calor específico dá-nos uma idéia da capacidade da


substância em receber ou perder calor. Quanto maior for seu calor
específico, mais lentamente ocorrerão as trocas de calor. Por outro lado,
quanto menor o calor específico de uma substância, mais facilmente ela
perderá ou receberá calor. Vamos tomar como exemplo a água e o ferro.

cágua = 1 cal/g°C cferro = 0,11 cal/g°C


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 83

Podemos notar que o calor específico da água é quase 10 vezes maior que
o calor específico do ferro. Isso significa que se tivermos a mesma
quantidade de ferro e de água, à mesma temperatura, eu precisaria de uma
quantidade de calor 10 vezes maior para a água para causar uma mesma
mudança de temperatura causada no ferro por outra quantidade de calor.

Conheça alguns valores de calor específico de diferentes substâncias


medidos à pressão constante de 1 atmosfera.

calor específico calor específico


substância o
substância
(cal/g C) (cal/goC)
água 1,0 latão 0,092
álcool 0,6 madeira 0,42
alumínio 0,22 mercúrio 0,033
ar 0,24 nitrogênio 0,25
carbono 0,12 ouro 0,032
chumbo 0,031 oxigênio 0,22
cobre 0,091 prata 0,056
ferro 0,11 rochas 0,21
gelo 0,5 vidro 0,16
hélio 1,25 zinco 0,093
hidrogênio 3,4 diamante 0,113
cloro 0,113

Tab. 3: Valores de calor específico de algumas substâncias sólidas, líquidas,


e gasosas.

Cálculo da quantidade de calor

Basicamente podemos dizer que existem duas equações muito usadas na


calorimetria. Uma é usada para determinar a quantidade de calor recebida
ou perdida por corpos quando estes mudam sua temperatura, e outra
usada para determinar a quantidade de calor perdida ou recebida por
corpos quando estes estão mudando de estado físico. Éimportante notar
que quando um corpo muda de estado físico sua temperatura permanece
constante.
84

Agora vamos apenas analisar o caso em que não ocorre mudança de


estado. Vamos calcular a quantidade de calor perdida ou recebida por um
corpo quando este muda sua temperatura.

A grandeza física usada para exprimir o calor é denominada Quantidade


de calor (Q).

A quantidade de calor infenitesimal dQ necessária para que a temperatura


de uma massa m de uma dada substância passe de t para t+dt é:

dQ = mcdt ,
onde c é o calor específico à temperatura t.

Para uma variação de temperatura finita de t1 até t2, teremos

t2
Q = ∫ mcdt ; Q = mcΔt
t1

onde

Q ... quantidade de calor perdida ou recebida pelo corpo (em calorias)


m ... massa do corpo (em gramas)
c ... calor específico da substância (em cal/g°C)
Δt ... variação da temperatura (tf - ti) (em graus Celsius)

Quantidade de calor (Q) é a quantidade de energia necessária


fornecer ou retirar de um corpo de massa (m), para que a sua
temperatura varie em (Δt).

Conclusão: A energia necessária é proporcional a variação da


temperatura e à massa do corpo.

A partir da expressão para a quantidade de calor pode-se concluir que o


Q
calor específico da substância é: c=
mΔt
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 85

Consideremos duas massas m1 e m2 à temperaturas t1 e t2. Depois de


misturar as duas massas ganharam uma temperatura de equilíbrio tf.

Resolução:
Exemplo

Segundo o Princípio de Conservação de Energia o estado energético


inicial é igual ao afinal.

Isto é: m1c1t1 + m 2 c 2 t 2 = ( m1c1 + m 2 c 2 )t f

Resolvendo em ordem à temperatura final teremos:


m1c1t1 + m2 c 2 t 2
tf =
m1c1 + m2 c 2

A temperatura final é a temperatura da mistura.

Seja: m1 = m2 e c1 = c 2

mc(t1 + t 2 ) t1 + t 2
tf = ; tf = Esta expressão toma o nome de
2mc 2

Equação de Richmann.

Transformemos a expressão m1c1t1 + m2 c 2 t 2 = ( m1c1 + m 2 c 2 )t f ,


passando os termos semelhantes para o mesmo membro,

m1c1t1 + m 2 c 2 t 2 = m1c1t f + m 2 c 2 t f ;

m1c1t1 − m1c1t f = m2c2t f − m2c2t2 ;

m1c1 (t1 − t f ) = m2 c 2 (t f − t 2 ) ;

m1c1 (t1 − t f ) + m2 c 2 (t f − t 2 ) = 0

Q1 + (− Q2 ) = 0; Q1 = Q2 ; ; ∑Q i =0

Seja Q1 a quantidade de calor cedida e Q2 a quantidade de calor


recebida. Então

Qced = Qrec
86

Conclusão: A soma das duas quantidades de calor é igual a zero


ou o calor cedido é igual ao calor recebido.

1. 75 gramas de um bloco de cobre foram retirados de um forno e


introduzidos imediatamente num copo de vidro de 300 gramas, contendo
200 gramas de água. A temperatura da água subiu de 12 ºC para 27 ºC.
Exemplo Qual era a temperatura do forno?

Resolução: Qced (cobre) = Qrec (vidro) + Qrec (agua)

mCu cCu Δt = mv cv Δt + ma c a Δt

mCu cCu Δt = (mv cv + ma c a )Δt

Sendo Δt = t f − t i então:

mCu cCu (t Cu − t f ) = (mv cv + ma c a )(t f − t va ) ;

(mv cv + ma c a )(t f − t va ) + mCu cCu t f


t Cu = ;
mCu cCu

(300 g ⋅ 0,16cal / g o C + 200 g ⋅ 1cal / g o C )(27 o C − 12 o C ) + 75 g ⋅ 0,091cal / g o C ⋅ 27 o


t Cu =
75 g ⋅ 0,091cal / g o C

(300 g ⋅ 0,16cal / g o C + 200 g ⋅ 1cal / g o C )15 o C + 75 g ⋅ 0,091cal / g o C ⋅ 27 o C


t Cu =
75 g ⋅ 0,091cal / g o C

Resposta: A temperatura do cobre é t Cu = 530º C

2. Qual a quantidade de calor que devemos retirar de 500 gramas de água,


cujo calor específico é 1 cal/g·°C, para que sua temperatura passe de 80
°C para 15 °C?

Resolução: A quantidade de calor é calculada por Q = mcΔt . Portanto:

(
Q = 500 g ⋅ 1cal / g ⋅ o C 15 o C − 80 o C ; )
Q = 500 g ⋅ 1cal / g ⋅ C (− 65 C ) ;
o o
Q = −32500 cal

Obs.: O sinal negativo significa que o corpo cedeu energia na forma de


calor.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 87

Tente Resolver:

1. Que quantidade de calor é necessária para elevar de 200C para 700C a


temperatura de 30kg de água?
Actividade
2. Uma chaleira de cobre pesando 300g foi aquecida de 200C para
1000C. Qual foi a quantidade de calor necessária?

3. Uma chaleira de cobre pesando 600g contém 1400g de água a 200C.


Quantas calorias são necessárias para aquecer a panela com a água a
1000C?

4. Sua mãe aquece 1200g de água numa panela de alumínio que pesa
800g. Qual é a quantidade de calor necessária para aquecê-los de
180C para 900C?

Feedback

1. Q= 1,5. 106cal
2. Q= 2,22 Kcal?
3. Q=116,430 Kcal
4. Q= 98,784 Kcal
88

Lição nº 9

Capacidade calorífica ou
Capacidade térmica de um corpo.

Introdução
Caro estudante, na presente lição você vai aprender o significado, assim
como a determinar as grandezas capacidade térmica e calor específico.
Você poderá também realizar pequenas experiências para determinar
experimentalmente o calor específico de uma substãncia.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Diferenciar entre capacidade calorífica e calor específico;

ƒ Explicar o que é a capacidade calorífica ou capacidade térmica de um


corpo;
Objectivos
ƒ Determinar analiticamente e experimentalmente a capacidade térmica
de um corpo;

ƒ Explicar o significado do calor latente de fusão e de vaporização;

ƒ Determinar analiticamente o calor latente

Capacidade calorífica, capacidade térmica, calor específico, calor de


fusão, calor de vaporização, calor latente de fusão e de vaporização.

Terminologia
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 89

Capacidade calorífica ou capacidade térmica de um corpo

Consideremos um sólido qualquer que recebe uma quantidade de calor Q,


que provoca uma variação na sua temperatura Δt. Fornecendo a ele uma
quantidade de calor 2Q, sua temperatura varia 2Δt. Assim, observamos
experimentalmente que a quantidade de calor trocada por ele é
diretamente proporcional à sua variação de temperatura. Então,
definimos:

A capacidade calorífica ou capacidade térmica é o


quociente entre a quantidade de calor ΔQ fornecida e o
correspondente acréscimo de temperatura.

ΔQ
C= ... Capacidade térmica
Δt

ΔQ C
Sendo c = então conclui-se que: C = mc ou seja c =
mΔt m

Conclusão: O calor específico é a capacidade térmica de


uma substância por unidade de massa.

Unidades:

A unidade de medida usual para capacidade térmica de um corpo é a


1cal
caloria por grau Celsius [C ] = e, no Sistema Internacional, o joule
ºC
1J
por kelvin [C ] = .
K
90

Um corpo de massa 250 g recebe 5 000 calorias de uma fonte e sua


temperatura aumenta de 10 °C para 92,5 °C. Determine:

a) o calor específico da substância;


Exemplo
b) a capacidade térmica do corpo.

Resolução

1. O calor específico pode ser calculado pela equação fundamental da


Q
calorimetria: c = ;
m Δt

5000 cal 5000 cal


c= = = 0,24cal / g o C
(
250 g ⋅ 92,5 C − 10 C
o o
)
250 g ⋅ 82,5 o C

b) A capacidade térmica pode ser calculada por C = m · c.


Então: C = m · c = 250g · 0,24cal/g oC; C = 60 cal/°C

Calor de fusão e calor de vaporização

Como já foi referenciado na unidade anterior, quando se fornece calor à


uma amostra de gelo à 0 ºC, a temperatura do gelo não se altera. Porém o
gelo se funde. O mesmo acontece nas outras mudanças de estado.

O calor cedido é usado para se vencerem as forças intermoleculares de


atracção mutua.

Qualquer mudança de fase de uma substância pura ocorre à temperatura


constante (para uma dada pressão).

A energia térmica necessária para fundir uma certa massa de uma


substância sem alteração da temperatura é proporcional à massa da
substância.

Matemáticamente: Qf = Lf ⋅ m

onde Lf é uma constante denominada calor latente de fusão da


substância à uma dada pressão, e m a massa da substância.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 91

Quando a mudança de fase é de líquido à vapor, temos Qv = Lv ⋅ m ,


onde Lv é calor latente de vaporização.

Substância Lf Lv À uma
pressão
Água 333.5 KJ/Kg 2.26 MJ/Kg p = 1 atm

Tab. 3. Calor de fusão e de vaporização à pressão de 1 atm.

1. Uma quantidade de 200 gramas de água líquida a 100 °C, à


pressão de 1 atmosfera, transformou-se em vapor de água durante a
ebulição. Calcule a quantidade de calor recebida pela água, sendo o
Exemplo
calor latente de vaporização da água 540 cal/g.

Resolução: A quantidade de calor trocada, durante uma mudança


de estado, é calculada por Qv = Lv ⋅ m , portanto:

Q v = 540 cal / g ⋅ 200 g = 108000 cal

2. Qual é a quantidade de calor que devemos retirar de 150 g de


água líquida a 0 °C para que ela se transforme, à pressão normal,
em 150 g de gelo a 0 °C? Dado calor latente de solidificação -80
cal/g.

Resolução: A quantidade de calor trocada, durante a mudança de


estado, é calculada por Qf = Lf ⋅m , portanto:

Q f = −80 cal / g ⋅ 150 g = − 12000 cal

Obs: o sinal negativo significa que, durante a mudança de estado, o


corpo cedeu energia na forma de calor.
92

Tente Resolver:

2. O alumínio tem calor específico igual a 0,20 cal/g.ºC e a água líquida


1,0 cal/g.ºC. Um corpo de alumínio de massa 10g e temperatura de 80
Actividade
º C é colocado em 10 g de água a temperatura de 20 ºC. Considerando
que só há trocas de calor entre o alumínio e a água, determine a
temperatura final de equilíbrio.

3. Um corpo de massa 200g a 50 º C e feito de um material


desconhecido é mergulhado em 50g de água líquida a 90 ºC. O
equilíbrio térmico se estabelece a 60 ºC. Sendo 1 cal/g.ºC o calor
específico da água e admitindo só haver trocas de calor entre o corpo
e a água, determine o calor específico do material desconhecido.

4. Misturam-se m1= 40g de óleo na temperatura 50 ºC com m2= 60g de


óleo na temperatura 10 ºC. Qual a temperatura de equilíbrio no caso
de somente haver troca entre as duas massas de óleo ? c oleo = 0,8
cal/g.ºC

5. Num calorímetro de capacidade térmica 2 cal/ ºC a 5 ºC são


colocados 100g de água a 30º C. Qual a temperatura de equilíbrio
térmico ?

6. Um pequeno cilindro de alumínio de 50g é colocado em uma estufa.


Num certo instante tira-se o cilindro da estufa e, rapidamente, joga-se
dentro de uma garrafa térmica que contém 33g de água. Observa-se
que a temperatura dentro da garrafa eleva-se de 19º C para 20º C.
Sendo 1 cal/ º C a capacidade térmica da garrafa, determine a
temperatura do cilindro no momento em que foi retirado da estufa.
(Dado cAl =0,22 cal/g.º C )

Feedback
1. Tf= 30ºC
2. c= 0,75 cal/gºC.
3. Teq.= 26ºC
4. Teq.= 29,5ºC
5. Tal= 23,1ºC
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 93

Lição nº 10

1º Princípio Termodinâmico.
Trabalho e Calor como formas de
troca de energia

Introdução
Caro estudante, esta é uma lição introdutória ao estudo do 1º Princípio
Termodinâmico em que se estabelece a ligação entre os conceitos
trabalho, calor e energia. Com base nos conhecimentos que você já possui
sobre o trabalho na Mecânica, vai deduzir a expressão para o cálculo do
trabalho na Termodinâmica.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Caro esudante ao terminarr esta lição, você será capaz de:

ƒ Diferenciar entre calor e temperatura;

ƒ Reconhecer o calor como uma forma de energia em trânsito;


Objectivos ƒ Caracterizar o trabalho realizado pelo gás na Termodinâmica;

ƒ Calcular o trabalho efectuado por uma massa de gás ou sobre ela.

Sistema, vizinhança, sistema aberto, sistema fechado, sistema isolado,


trabalho, energia, calor, energia em trânsito, grandeza de processo,
grandeza de estado.
Terminologia
94

Para melhor caracterizarmos as mudanças e trocas de energia, vamos


antes de mais definir os seguintes conceitos:

• sistema: é o objecto do estudo (meio de reação, uma quantidade


de um corpo puro, um ser vivo, etc.)

• seu meio externo: é o resto do universo (que poderá ser limitado


ao meio ambiente próximo)

• fronteira entre o sistema e o meio externo: suas propriedades


irão determinar quais trocas podem existir entre o sistema e o
meio externo:

• sistema fechado: a fronteira não permite troca de matéria

• sistema aberto: trocas de matéria são possíveis entre sistema e


meio externo. Pode ser, por exemplo, um ser vivo (sistema) que
se alimenta no seu meio externo.

• sistema isolado: nenhuma troca de matéria ou energia entre


sistema e meio externa.

Caro estudante, para uma melhor inserção nos propósitos da 9ª lição


vamos, inicialmente, recordar algumas ideias simplificadas sobre os
conceitos de trabalho e energia, já adqueridas da Mecânica.

Na Mecânica, o trabalho foi caracterizado como o produto da força


aplicada pelo deslocamento sofrido na sua direção. Por exemplo, deslocar
um objecto num campo de gravidade necessita energia. Precisa-se
fornecer trabalho para levantar um vaso.

Exemplo: Se você levantou um vaso de peso igual a 10 N por uma altura


de 2 metros, terá executado um trabalho de 10 N x 2 m= 20 J.

Por sua vez a Energia foi definida como a capacidade de produzir


trabalho.

Vamos imaginar como se de moeda de troca para o trabalho se tratasse.


No exemplo anterior, para produzir os 20 J de trabalho, o seu organismo
gastou 20 J de energia. Naturalmente, que a energia acumulada no seu
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 95

organismo é muito maior. Mas, desse valor acumulado, 20 J foram


usados/transformados no mencionado trabalho. Assim, podemos dizer
que a execução de um certo trabalho sempre implica uma variação da
energia.

Portanto, um sistema que possui uma energia elevada pode executar uma
grande quantidade de trabalho sobre a sua vizinhança.

Mas a energia pode também permitir produzir calor.

Veja o seguinte exemplo:

• Uma lâmpada aquece um dado corpo que esteja nas suas


proximidades;

Exemplo • Uma bebida à temperatura ambiente, depois de deixada numa


geleira, esfria dando calor ao seu ambiente. A energia da bebida
então diminuiu;
• Esfregando uma mão sobre a outra ambas as mão aquecem;
• Um gás que move um êmbolo de um seringa esfria.

A partir destes exemplos pode-se concluir que existem dois caminhos


através dos quais se pode provocar a variação da energia interna de um
sistema, nomeadamente:

• Realizando um trabalho sobre o sistema ou este sobre a


vizinhança,
• Transferindo calor de um sistema para outro com
temperaturas diferentes ou com a vizinhança.

Por outro lado, a experiência mostra que efectuando-se trabalho sobre o


sistema é possível fazer elevar a sua temperatura.

Este resultado foi demonstrado por James Joule, na sua famosa


experiência, transformando a energia potencial em trabalho efectuado
sobre uma quantidade de água, através do qual foi possível elevar a
temperatura da água em 1 grau centígrado. O movimento dos pesos
96

transmite uma rotação do misturador o qual transfere energia mecânica


para as moléculas em forma de energia cinética. Esta energia transmitida
é transformada em energia térmica.

No S.I de unidades significava que 4,184 J de trabalho eram necessários


para elevar em 1 ºC a temperatura de 1 grama de água.

Portanto, 1 Cal de energia térmica = 4,184 J de energia mecânica. Esta


igualdade é conhecida como “o equivalente mecânico do calor”.

Nós vimos que o calor é a energia que verte dos objectos quentes para os
objectos frios (ou entre um sistema e a sua vizinhança) devido a uma
diferença de temperatura. O sentido em que se dá a transferência de
energia é sempre do sistema que está a temperatura mais alta para o
sistema que está a menos temperatura.

Na linguagem corrente é costume dizer “está calor” ou “estou com calor”


o que pode levar-nos a pensar erradamente, em calor como qualquer coisa
que os corpos possuem.

Analogamente, o trabalho mecânico não é algo que um sistema contém


em quantidade definida. Tanto o trabalho como o calor implicam sempre
uma transferência de energia.

Calor é energia em trânsito no decurso de uma transformação

O calor fornecido a um sistema é considerado positivo enquanto que o


calor que o sistema fornece a outro sistema ou vizinhança é considerado
negativo.

Conclusão: As grandezas Q e W não são características do estado de


um dado sistema, mas sim dos processos termodinâmicos pelos quais
o sistema passa de um estado de equilíbrio para outro quando
interage com a vizinhança.

Trabalho mecânico na Termodinâmica.

Você estudou na Mecânica que o trabalho é a energia transferida entre


sistemas ou entre o sistema e a vizinhança quando uma força aplicada
sobre o sistema provoca um deslocamento.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 97

v
Matematicamente o trabalho infinitesimal de uma força F que provoca
v
um deslocamento também infinitesimal dS obtém-se pelo produto
v v
escalar dos dois vectores é dW = F ⋅ dS .

Na Termodinâmica o trabalho é determinado com base na variação do


volume e corresponde a variação da energia interna do sistema.

Consideremos a seguinte experiência:

Se considerarmos uma pequena

variação dS como deslocamento do


êmbolo de área A, podemos escrever
para o trabalho infinitesimal:

dW = F ⋅ dS = p ⋅ A ⋅ dS = p ⋅ dV
.
Fig. 19: O gás exerce sobre
O trabalho total do gás será: o émbulo uma dada pressão
deslocando uma distância ds
V2
W = ∫ p.dV
V1

Sendo dV a variação do volume


experimentada pelo gás.

Analogamente, à quantidade de calor, o


trabalho de expansão, realizado pelo gás
é considerado positivo enquanto o
trabalho numa compreensão, realizado
sobre o gás é negativo.

Fig 20: Representação gráfica do trabalho


p.dV

Na transformação quase-estática experimentada por um gás contido


dentro de êmbolo como ilustra a figura ao lado, pode representar-se
graficamente num diagrama p(V). Neste diagrama a “área infinitesimal
dA é igual ao produto pdV. Por isso a área debaixo da curva que
98

representa a transformação no diagrama p(V) é igual ao valor absoluto do


trabalho realizado.

V2
W = ∫ p.dV = Área
V1

Mas quando o sistema passa do ponto 1 para o ponto 2 podem


seguir vários percursos.

Existem vários processos pelos quais um sistema pode ser levado


de um estado inicial para um outro final. Na figura acima o sistema
pode ser levado

a) de i até A sob pressão


constante e depois até f a
volume constante.

b) O sistema é levado de i
até B a volume constante e
depois até f a pressão
constante.
Fig. 21: O processo pode ser
c) O sistema é levado levado do estado inicial ao estado
final através de diferentes
directamente de i até f a caminhos.
temperatura constante.

Como as áreas sob os gráficos são diferentes podemos concluir que


os trabalhos realizados em cada um dos caminhos também são
diferentes.

Aa > Ac > Ab o que significa que Wa > Wc > Wb

Conclusão: Na termodinâmica o trabalho realizado por um


sistema depende não só dos estados inicial e final do sistema,
mas também dos estados intermédios, isto é, do caminho
seguido pelo sistema durante os processos ocorridos.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 99

Grandezas como trabalho e calor que dependem do percurso em


que a transformação ocorre são denominadas grandezas de
processo. As grandezas como volume, pressão, temperatura,
entalpia, que não dependem do percurso, mas sim exclusivamente
dos estados inicial e final da transformação são denominadas
grandezas de estado.

Calcule o trabalho por mole realizado por um gás ideal que se expande
isotermicamente à Temperatura T constante, do volume V1 até V2.

Resolução:
Exemplo
RT
T= constante; p =
V
V2 V2 V
RT 2
1 V2
W= ∫ pdV =
V1
∫V V dV = RT ∫V V dV = RT ln V1
1 1

Tente Resolver:

O volume de 5 moles de um gás perfeiro é elevado isotermicamente de 1


a 20 litros a 0ºC. Determine:
Actividade
a) quantos Joules de trabalho foram realizados.

b) o calor fornecido

Feedback
Resultado

W= 3,14.104 J

Q= 3,4.104 J
100

Lição nº 11

Trabalho nos Isoprocessos

Introdução
Nesta lição você vai aplicar os conhecimentos adquiridos na lição
anterior sobre trabalho e snergia na Termodinâmica, no cálculo do
trabalho nos diferentes casos de transformação quase-estática. Você
encontra no conjunto de exercícios de aplicação várias tarefas que lhe
permitem treinar o cálculo do trabalho.

Você precisa para esta lição cerca de 2 horas de estudo, incluíndo a


resolução de problemas.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Calcular o trabalho do gás numa expansão isobárica;

ƒ Calcular o trabalho do gás num processo isocórico;


Objectivos
ƒ Deduzir a expressão para o cálculo do trabalho do gás numa expansão
isotérmica;

ƒ Calcular o trabalho a partir do gráfico P(V);

Processo isobárico, processo isotérmico e processo isocórico, área sob o


gráfico,

Terminologia
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 101

1) Processo isobárico (Pressão constante)

Tratando-se de uma transformação que


ocorre a pressão constante então p pode
sair fora do integral

V2
W = ∫ p ⋅ dV ,
V1

V2
W = p ∫ dV = p ⋅ ΔV
V1

W = pΔV ... Trabalho do gás na expansão isobárica

Conclusão: O trabalho realizado é numericamente igual à área sob o


gráfico (A= p.ΔV=W).

Três litros de um gás ideal, sob pressão de duas atmosferas são aquecidos
de modo que se expandem a pressão constante até atingir o volume de 5
litros. Qual é o trabalho realizado pelo gás?
Exemplo
Resolução: Tratando-se de uma transformação isobárica (p= const.), o
trabalho realizado é calculado pela expressão W = p ⋅ ΔV .

Conversão das unidades: 1litro= 10-3m3 e 1atm= 101,3 x 103 N/m2

Então W = p ⋅ ΔV = 2 ⋅ 101,3 × 10 3 N / m 2 (5 × 10 −3 m 3 − 3 × 10 −3 m 3 ) ,
W = 405,2 J

2) Processo isotérmico (Temperatura constante)

Nesta transformação tanto p como V são


variáveis.

Por isso, temos que substituir p pela sua


expressão a partir da equação de estado
do gás ideal, que é pV = nRT na
expressão do trabalho.
102

Vf
W = ∫ pdV ... onde p nao é constante.
V i

Vf nRT Vf 1
W =∫ ⋅ dV ; W = nRT ∫ ⋅ dV ;
Vi V Vi V

Vf
W = nRT (ln V f − ln Vi ) = nRT ⋅ ln(V f − Vi ) = nRT ln
Vi
Vf
W = nRT ln ... Trabalho de um gás numa expansão
Vi
isotérmica.

Calcule o trabalho realizado por uma mole de gás ideal que se


expande isotermicamente a temperatura de 290 K de um volume de
0,2 m3 a 1m3. R= 8,31,31 j/mol.K
Exemplo
Vf
Resolução: O trabalho é dado pela expressão W = nRT ln ;
Vi

0,2m 3
W = 1mol ⋅ 8,31J / mol ⋅ K ⋅ 290 K ⋅ ln ;
1m 3
W = 2409,9 J ⋅ ln 0,2

Processo isocórico (V = const.)

Se o volume é constante, então ΔV= 0, o que significa que o gás


não realiza trabalho, ou seja, o trabalho é nulo.

Conclusões:

Quando ΔV> 0 resulta que W> 0. A massa de gás realiza trabalho.


Há dilatação do gás.

Quando ΔV< 0 resulta que W< 0. As forças externas realizam


trabalho sobre o gás. Há compressão do gás.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 103

Tente Resolver:

1. Um gás ideal é comprimido isotermicamente, realizando o agente


compressor um trabalho de 36 J. Qual é a quantidade de calor em calorias
Actividade que sai do gás durante o processo de compressão?

2. Calcule o trabalho realizado numa compressão isotérmica de 30 litros


de um gás ideal a 1,0 atm, para um volume de 3,0 litros.

3. Uma amostra de gás se expande de 1,0 a 4,0 m3, enquanto a sua pessão
diminui de 40 para 10 Pa. Quanto trabalho é realizado pelo gás, de acordo
com cada um dos três processos mostrados no gráfico p-V a baixo?

Feedback
1. Q= 8,6 cal.

2. W= -7,0 kJ

3. WA= -120 J; WB= 75 J; WC= -30 J


104

Lição nº12

Formulação do 1o Princípio
Termodinâmico

Introdução
Caro estudante, o tema desta lição constitui uma das temáticas mais
importantes no estudo da Termodinâmica. Falar do 1º Princípio
Termodinâmico é falar da lei de conservação da energia, num sentido
mais amplo. Você vai poder se familiarizar com algumas formulações
históricas do 1º Princípio.

A duração do estudo desta lição é de aproximadamente 1 hora, incluindo


a reslução de problemas aqui apresentados.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Formular e interpretar o Primeiro Princípio Termodinâmico;

ƒ Deduzir a expressão do 1o Princípio Termodinâmico para os


Objectivos isoprocessos;

ƒ Calcular o trabalho, a quantidade de calor e a variação da energia


interna de um sistema através da expressão do 1o Princípio
Termodinâmico.

Primeiro princípio termodinâmico, perpétum mobile, variação da energia


interna, transformação isobárica, isocórica e isotérmica.

Terminologia
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 105

O 1º Princípio termodinâmico está relacionado com o Princípio de


Conservação da Energia Total, e foi formulado pela primeira vez por
Robert Mayer (1814 -1878) nos seguintes termos:

A energia não pode ser criada nem destruída, ela pode


apenas passar de uma forma para a outra.

Em outras palavras, o 1º Princípio termodinâmico é formulado do


seguinte modo:

A construção de uma máquina que realize trabalho


periodicamente (perpétum mobile/ máquina perpétua de 1ª
espécie) sem que para tal lhe seja fornecido energia de uma
fonte externa é impossível.

Outras formulações do 1º Princípio termodinâmico:

• “Em todo processo natural, a energia do universo se conserva.”

• “É impossível construir uma máquina que gere energia do nada.”

Considerando que a energia de um sistema termodinâmico é descrita


através da grandeza de estado “energia interna (U)”, pode se concluir do
1º Princípio Termodinâmico que a variação da energia interna ΔU de um
sistema só pode ter lugar se ao sistema for fornecido ou retirado calor (Q)
ou se o sistema realizar trabalho (W ), ou ser realizado trabalho sobre o
sistema.

A expressão matemática do 1º Princípio Termodinâmico na sua forma


diferencial é:

dU = dQ − dW
106

Donde
• dU é a variação infinitesimal da energia interna;
• dQ é quantidade infinitesimal/ elementar de calor e
• dW é trabalho infinitesimal/ elementar do gás.

Na forma geral teremos ΔU = Q − W

Exprimindo as duas expressões em função da quantidade de calor


teremos:

dQ = dU + dW na forma diferencial e

Q = ΔU + W na forma geral.

Conclusão: A quantidade de calor fornecida ao sistema serve em


parte para aumentar a sua energia interna e em parte para realizar
trabalho.

Aplicações em Isoprocessos

1) Processo isobárico (p= const.)

dQ ≠ 0 e dW ≠ 0
dU = dQ − dW ⇒ dQ = dU + dW = dU + pdV

Conclusão: Numa transformação isobárica, a quantidade de calor


transmitida ao sistema, consome-se em parte na realização de trabalho
e na variação da energia interna.

2) Processo isocórico (V= const.)

dV = 0 ⇒ dW = 0
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 107

dU = dQ − dW ; dU = dQ

Conclusão: Numa transformação isocórica a quantidade de calor


transmitida ao sistema é integralmente consumida no aumento da sua
energia interna.

3) Processo isotérmico (T= const.)

dU = 0 ; dW ≠ 0
dU = dQ − dW = 0 ; dQ = dW

Conclusão: Numa transformação isotérmica a quantidade de calor


recebida pelo sistema é integralmente consumida na realização de
trabalho.

Tente Resolver:

1. Ao aquecer 3,0 litros de um gás ideal inicialmente a 27ºC, ele


expande-se à pressão constante de 2,0 atm. Qual o trabalho
Actividade
realizado pelo gás quando a sua temperatura se altera 27ºC para
227ºC?

2. Determine a variação da energia interna de um sistema em cada


uma das seguintes situações: a) o sistema absorve 500 cal e ao
mesmo tempo realiza um trabalho de 400 J; b) o sistema absorve
300 cal e ao mesmo tempo é realizado sobre ele um trabalho de 420
J: c) retiram-se 1220 cal do gás a volume constante. Apresentra as
respostas em quilojoules.

Feedback
1. W= 4.102 J

2. a) ΔU =1,69 kJ; b) ΔU= 1,68 kJ e c) ΔU= -5,02 kJ


108

Lição nº 13

Calor específico (cv) a volume e


(cp) a pressão constantes.
Equação de Mayer.

Introdução
Depois de termos definido o conceito “calor específico” nas lições
anteriores, vamos nesta lição falar de calor específico a volume e
pressão constante. Para esta lição você poderá precisar de uma hora
de estudo.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Determinar o calor específico a volume e pressão constantes;

ƒ Interpretar o significado da relação entre os coeficientes caloríficos à


Objectivos volume e a pressão constante;

ƒ Interpretar a equação de Mayer;

ƒ Aplicar os conhecimentos adquiridos nesta lição na resolução de


problemas diveros.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 109

Calor específico a volume constante, calor específico a pressão constante,


capacidade calorífica a volume constante, capacidade calorífica a pressão
constante, equação de Mayer.
Terminologia

Recordemos que dQ = mcdT ... quantidade infinitesimal de


dQ
calor, donde c = é o calor específico. E como já dissemos
mdT
que quando o gás é aquecido, à volume constante nao há realização
de trabalho (dW = 0 ), todo o calor fornecido ao sistema contribui
para a variação da sua energia interna.

Seja (dQ)V = dU o calor à volume constante.

1 ⎡ dQ ⎤ 1 ⎡ dU ⎤
Então cV = = ⎢
m ⎣ dT ⎦ V m ⎣ dT ⎥⎦ V
⎢ ⎥ … calor especifico à

volume constante.

CV
Considerando que cV = …onde CV é a capacidade calorífica à
m
V = const, teremos para a

⎡ dU ⎤
capacidade calorífica CV = ⎢ ⎥ .
⎣ dT ⎦ V

Por outro lado, vimos que quando o gás é aquecido à pressão


constante, o gás expande-se, efectuando ele próprio um certo
trabalho, de modo que, apenas uma parte do calor fornecido é

Conclusão: Para o aumento da energia interna de um sistema,


de um lado e realização de trabalho de outro lado (à p= const.),
é necessario fornecer maior quantidade de calor do que é
fornecido (à v= const.), apenas para o aumento da energia
interna. c p > cV
110

empregue para o aumento da energia interna e, por consequência, o


aumento da sua temperatura.

Seja (dQ ) p = dU + (dW ) p calor à pressão constante.

1 ⎡ dQ ⎤ 1 ⎡ dU ⎛ dW ⎞ ⎤
Então c p = = ⎢ +⎜ ⎟ ⎥ .
m ⎢⎣ dT ⎥⎦ p m ⎢⎣ dT ⎝ dT ⎠ p ⎥⎦

dU
Como CV = , substituindo na expressão anterior, teremos
dT
1⎡ ⎛ dW ⎞ ⎤
c p = ⎢CV + ⎜ ⎟ ⎥ .
m ⎢⎣ ⎝ dT ⎠ p ⎥⎦

Cp ⎛ dW ⎞
Por sua vez cp = , então C p = CV + ⎜ ⎟ capacidade
m ⎝ dT ⎠ p
calorífica à p = const.

O trabalho realizado à pressão constante é (dW ) p = pdV .

Diferenciemos ambos os membros da equação de estado do gás


R
ideal pV = mR *T , onde R* = , obtemos
μ
pdV + Vdp = mR * dT .

Se para o processo isobárico (p = const.), Vdp = 0, então,


(dW ) p = pdV = mR dT . *


Assim, C p = ⎢CV +
mR * dT ⎤
dT ⎦
(
⎥ ; C p = CV + mR
*
)

Conclusão: A diferença entre as capacidades caloríficas Cp (p =


const.) e CV (V = const.) de um gás ideal é igual a mR * .

Dividindo ambos os membros por m, teremos

c p = cV + R * ou c p − cV = R * ... Equação de Mayer.


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 111

Note que aqui R* não é a constante universal dos gases.

Tente Resolver:

1. Aumenta-se a temperatura de 5,00 kg de N2 de 10,0o C para


130,0o C. Se isto for feito a pressão constante, determine a) o
Actividade
aumento de energia interna ΔU e b) o trabalho W realizado pelo
gás sobre o exterior. Para o N2 gasoso, cv= 0,177 cal/g.oC e cp=
0,28 cal/g oC.

2. Para o azoto gasoso cv= 740 J/kg.K. Determine a sua capacidade


térmica mássica a pressão constante. A massa molecular do azoto
gasoso é 28,0 kg/kmol.

Feedback
Reultados:

1. a) ΔU= 443 kJ; b) W= 180 kJ

2. cp= 1,04 kL/kg.K


112

Lição nº14

Expansão Adiabática e Noção de


Entalpia

Introdução

Caro estudante, nesta lição você vai se debruçar com mais uma
transformação quase-estática em que todos os parâmetros (p,V e T)
variam em simultâneo. Você vai deparar nesta lição com dedução de
fórmulas como, por exemplo, da relação entre os calores específicos a
volume e a pressão constantes, das equações de Poisson e da constante
adiabática. Isso poderá exigir por si uma atenção particular no estudo
desses assuntos.

Um outro conceito termodinâmico que você irá discutir nesta lição á a


entalpia.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição

incluíndo a resolução de algumas tarefas.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Caracterizar uma transformação adiabática;

ƒ dar exemplos práticos em que essa transformação ocorre;


Objectivos ƒ Explicar o sentido físico e calcular a grandeza “entalpia”;

ƒ Representar graficamente o processo adiabático em p(V).

ƒ Calcular o trabalho realizado pelo gás numa transformação adiabática.


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 113

Expansão adiabática, constante adiabática, equações de Poisson, sistema


isolado, entalpia

Terminologia

Um processo em que não há trocas térmicas entre o sistema e o seu


exterior é denominado processo adiabático.

Numa expansão adiabática de um gás ideal, o gás se expande lentamente


contra um êmbolo móvel, efectuando trabalho sobre ele.

Como o gás está isolado da sua vizinhança de modo que não haja troca de
calor com esta, o trabalho realizado é igual a diminuição da energia
interna do gás e a temperatura do sistema diminui.

Na transformação adiabática os três


parâmetros termodinâmicos (p, V e
T), variam em simultâneo, de modo
que, a equação do estado do gás
ideal pV = nRT já não é
suficiente para determinar a curva
pV. Para isso é preciso conjugar à Fig. 22: Expansão adiabáticas
entre duas temperaturas T1 e T2.
equação do estado do gás ideal a 1ª
lei da Termodinâmica: dQ = dU + pdV

Assim dQ = dU + pdV = 0 , pois não há trocas de calor com a


vizinhança.

Isto é, dU + pdV = 0 .
114

1 ⎡ dU ⎤
Considerando que cV = , dU pode ser substituído pela
m ⎢⎣ dT ⎥⎦ V

expressão dU = mcV dT então:

mcV dT + pdV = 0 . Por sua vez CV = mcV .

Então CV dT + pdV = 0 ou CV dT = − pdV .

Diferenciando a equação de estado do gás pV = nRT , obtemos


pdV + Vdp = nRdT .

Agora multipliquemos ambos os membros por CV.

Assim: CV pdV + CV Vdp = CV nRdT . Substituindo no segundo

membro CV dT por − pdV , ficamos com

CV pdV + CV Vdp = −nRpdV .

Vamos passar o segundo membro para o primeiro e igualar a


expressão à zero:

(CV + nR ) pdV + CV Vdp = 0 .

Da equação de Mayer podemos concluir que CV + nR = C p .

Então: C p pdV + CV Vdp = 0 .

C p dV dp
Dividindo cada termo por CV ⋅ pV obtemos + = 0 ou
CV V p
dV dp Cp
γ + = 0 , onde γ = ... é constante adiabática para os
V p CV
gases num intervalo de temperaturas elevadas.

dV dp
Integrando a expressão: ∫ γ + = 0,
V p
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 115

obtém-se como resultado γ ln V + ln p = const ou seja


γ γ
ln pV = const , o que equivale simplesmente a pV = const .

Podemos eliminar p na expressão pV γ = const através da equação


nRT
de estado do gás ideal p = e tomando em conta que nR é uma
V
constante. Assim teremos TV −1+γ = const ou TV γ −1 = const .

pV γ = const e TV γ −1 = const chamam-se equações de


Poisson.

Conclusão: Esta expressão dá-nos a relação entre a pressão e o


γ γ
volume na transformação adiabática p1V1 = p 2V2

Cálculo do Trabalho numa expansão adiabática:

const −γ
Sendo pV = const , então p =
γ
γ ou p = const.V
V
V2 V2
pdV , W = const .∫ V dV ;
−γ
Assim W = ∫
V1 V 1

V −γ +1 V2 V21−γ − V11−γ p V − p1V1


W = const . = const . = 2 2
− γ +1 V1
1− γ 1− γ

Mas como numa expansão a pressão final é menor que a inicial, o


resultado será negativo.

Como é o gás que realiza trabalho, vamos inverter a ordem dos


p V − p 2V2
termos, então teremos W > 0. Assim W = 1 1 . E como
γ −1
pV = nRT ; ( p1V1 = nRT1 e p2V2 = nRT2 )

nR(T1 − T2 )
Então W= ... Trabalho numa expansão
γ −1
adiabática.
116

Uma certa quantidade de ar expande-se adiabaticamente de uma


pressão inicial de 2 atm e volume de 2 litros, na temperatura
ambiente 20 ºC até o dobro do volume. Quais são os valores finais
Exemplo
a) da pressão e b) da temperatura? Para o ar, γ = 1,4 .

Sejam p1V1 ... pressão e volume iniciais e p2V2 ... pressão e


volume finais.

p1 = 1atm
V1 = 2l
Dados:
T1 = 293K
γ = 1,4

Resolução:
γ
γ γ ⎛V ⎞
a) p1V1 = p 2V2 ; p 2 = p1 ⎜⎜ 1 ⎟⎟ ;
⎝ V2 ⎠
1, 4 1.4
⎛ 2l ⎞ ⎛1⎞
p 2 = 2atm.⎜ ⎟ = 2atm.⎜ ⎟ ; p 2 = 0.758atm
⎝ 4l ⎠ ⎝2⎠
γ −1 1.4 −1
⎛ ⎞ ⎛1⎞
b) T1V1
γ −1
= T2V2γ −1 ; T2 = T1 ⎜⎜ V1 ⎟⎟ = 293K ⎜ ⎟ ;
⎝ V2 ⎠ ⎝2⎠
0.4
⎛1⎞
T2 = 293K ⎜ ⎟ = 222 K = −51º C
⎝2⎠

Noção de Entalpia

Entalpia é uma função de estado (grandeza de estado) cuja variação é


igual a quantidade de calor obtida pelo sistema no processo isobárico.

Sabemos que no processo isobárico dW = pdV onde p = const .

Esta equação não se altera se escrevermos dW = d ( pV ) ... pois


p = const .

Substituindo na equação do 1º Princípio Termodinâmico na forma


difencial dU = dQ − dW ,

temos dU = dQ − d ( pV ) ou dQ = dU + d ( pV ) .
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 117

Pondo d em evidência tem-se dQ = d (U + pV ) , donde dQ = dH .

A grandeza dH = d (U + pdV ) ou na forma geral,

H = U + pV chama-se entalpia.

Significado físico da entalpia: sendo a soma da energia interna


com o produto pV, podemos interpretar este último como o trabalho
realizado para "criar espaço" para a massa gasosa ocupar o volume
V sob pressão p. Ou seja, pode ser vista como a "energia total" da
massa de gás no ambiente.

Na forma geral a igualdade dQ = dH tem a forma:


Q = ΔH = H 2 − H 1

Isto significa que, num processo sob pressão constante, o calor


trocado é igual à variação da entalpia.

dH = d (U + pdV ) ;

dH = d (U + pdV ) = dU + d ( pV ) = dU + pdV + Vdp .

Substituindo dU = dQ − dW (primeira lei) na expressão anterior

resulta dH = dQ − dW + pdV + Vdp e considerando a


igualdade já vista dW = pdV , temos a simplificação

dH = dQ + Vdp .
118

1. 5 mol de néon gasoso a 2 atm e a 27ºC são comprimidas


adiabaticamente para um

terço do volume inicial. Determine a pressão final e o trabalho


Auto-avaliação
realizado sobre o gás.

2. Um gás ideal expande-se adiabaticamente até um volume triplo do


seu volume original. Ao fazê-lo, o gás realiza um trabalho de 720J.
a) Quanto calor sai do gás?
b) Qual é a variação da energia interna do gás?
c) A temperatura aumenta ou diminui?

3. A pressao de 1 mol de hélio à CNTP diminui adiabaticamente até 0,4


atm. calcule o volume final, a temperatura e o trabalho realizado.

Resultados:
1.
2.
a) Não sai calor nenhum do gás, já que a definição de processo
adiabático é sem trocas de calor.

b) ΔU = −720 J
ΔU = ncv ΔT
c) A temperatura diminui pois

3. V f = 38,8dm 3 ; T f = 189,4 K ;W = 20,0 J


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 119

Lição nº 15

Formas de Transmição de Calor

Introdução
Caro estudante, esta lição destina-se a revisão de conceitos que lhe são já
familiares. Trata-se das três formas de transmissão de calor,
nomeadamente a condução, a convecção e a radiação. Você terá
oportunudade de realizar experiências simples que permitem demosntrar
estas formas de propagação do calor.

Você deverá despender 2 horas no estudo desta lição incluindo a


realização das actividades experimentais aqui sugeridas

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Explicar o processo de transmissão de calor por condução e dar


exemplos;

ƒ Explicar o processo de transmissão de calor por convecção e dar


Objectivos exemplos;

ƒ Explicar o processo de transmissão de calor por radiação e dar


exemplos;

ƒ Realizar experiências simples que demonstrem as diferentes formas de


transmissão de calor.

Transmissão de calor, condução, convecção, radiação

Terminologia
120

Você já viu que para ocorrer a troca de calor (energia) entre dois corpos é
necessário que exista uma diferença de temperatura entre eles. Corpos
com a mesma temperatura não trocam calor(energia) entre si.

Vamos resumidamente rever o que acontece:

• Todos os corpos possuem energia interna.

• Se existir uma diferença de temperatura entre dois corpos parte


desta energia interna irá passar de um para o outro (esta energia
passando de um corpo para o outro chama-se calor).

• Um corpo irá perder energia para o outro até que ambos fiquem
na mesma temperatura (equilíbrio térmico).

• Sempre o corpo de maior temperatura perde energia para o de


menor temperatura.

• Quando a temperatura de equilíbrio é atingida, o fluxo de calor


pára.

ƒ Mas como é que o calor, ou a energia, passa de um corpo


para o outro ?

A transmissão do calor de um corpo para outro pode se verificar através


de três processos diferentes: condução, convecção e irradiação.

Transmissão por condução

A transmissão por condução é o processo de "distribuição" ou troca de


calor que acontece entre os sólidos.

Quando uma molécula começa a vibrar com mais intensidade, ela pode
"passar" parte desta vibração para as moléculas que estão à sua volta.
Digamos que ela transfere parte da sua energia diretamente para as
moléculas vizinhas. Logicamente, fica mais fácil este fenômeno
acontecer quando as moléculas estão próximas umas das outras (como no
caso dos sólidos). Veja que aqui uma molécula conduziu a energia para
a outra sem que nenhuma delas mudasse de lugar dentro do corpo. Na
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 121

transmissão por condução não há transporte de matéria, mas apenas de


energia em forma de calor.

Quando se coloca uma colherinha numa chávena com chá quente,


sentimos que a parte da colherinha não emersa no líquido, depois de
algum tempo também está quente.
Exemplo

Tente Fazer:

Faça um furo próximo à borda superior de uma lata de coca-cola de

Actividade tal forma que o um pedaço de ferro ou arame grosso passe pelo furo
(Veja a figura ao lado). Pingue algumas gotas de vela sobre o fio,
com espaçamentos aproximadamente iguais e espere alguns
segundos para que a parafina (vela) endureça sobre a superfície do
fio. Acenda a vela e aqueça a extremidade do arame. Descreva o
que você observa depois de alguns instantes. Tente explicar o
fenómeno.

Da experiência que você acaba de realizar você poderá formular a


seguinte conclusão:

Os materiais sólidos que melhor conduzem o calor por condução


são os corpos metálicos.
122

Transmissão por Convecção

A transmissão por convecção é o processo de "distribuição" ou


troca de calor que ocorre entre os líquidos ou gases.

Neste caso, o calor é transportado de um lugar para o outro através


do movimento de quantidades de matéria. A movimentação das
diferentes partes do fluido ocorre pela diferença de densidade que
surge em virtude do seu aquecimento ou resfriamento.

A água que está na parte de baixo de uma panela no fogo, por


exemplo, não transfere sua energia para as moléculas que estão na
parte de cima da panela por condução. Mesmo por que neste caso
as moléculas nem estão tão juntas assim, o que dificulta a
condução. O que acontece é que partes do líquido se movimentam
dentro do recipiente (a parte mais quente sobe e a mais fria desce)
fazendo com que a energia dentro da panela seja distribuída. Este
fenómeno é muito comum também nos gases.

• Nos radiadores de automóveis, a água aquecida pelo motor,


sendo menos densa sobe, e a água mais fria da parte
superior desce.
Exemplo
• Quando um ambiente é resfriado, esse resfriamento é feito
pela parte superior, porque o fluido frio torna-se mais denso
e tende a descer. Por isso, em geral o aparelho de ar-
condicionado é colocado na parte superior e os aquecedores
na parte inferior.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 123

Tente Fazer:

Com ajuda de uma palhinha de coca-cola coloque

Actividade um pouco de leite fresco no fundo de um compo


de vidro com água. Depois aqueça com uma vela a
água e o leite no copo. Aguarde alguns instantes,
enquanto o fundo do copo se aquece e descreva o
que você observa. No lugar do leite também pode
usar graus de permandanato de potássio quando disponível.

Transmissão por Radiação

A transmissão por radiação efetua-se através das ondas


eletromagnéticas denominadas ondas caloríficas ou calor radiante,
predominando os raios infravermelhos. Neste caso, não há
necessidade de meios materiais para que a energia passe de uma
região para a outra, como é o caso da condução e da convecção.
Ela pode ocorrer no vácuo.

Nós já vimos que ondas transportam energia, e o calor é uma forma


de energia.

• A energia do Sol que chega até nós é transportada por ondas


electromagnéticas;

Exemplo • Quando nos encontramos próximos de uma fogueira ou de


lâmpada incandescente recebemos por parte destas o calor
que elas irradiam sem, no entanto, ser necessário estar-se
em contacto com as mesmas.
124

Sumário
Assunto Observações e Equações importantes

Calor É uma forma de energia em trânsito,


que é transferido de um sistema para
outro ou para o ambiente, como
resultado da diferença de temperaturas.

Calor específico É a quantidade de calor necessária para


fazer 1 grama de determinada
substância elevar em 1 grau Celsius a
Q
sua temperatura. c =
mΔ t

Quantidade de Calor Quantidade de calor (Q) é a quantidade


de energia necessária fornecer ou retirar
de um corpo de massa (m), para que a
sua temperatura varie em (Δt).

Q = mcΔt

A soma das duas quantidades de calor é


igual a zero ou o calor cedido é igual ao
calor recebido.

Qced = Qrec

Capacidade calorífica É o quociente entre a quantidade de


calor ΔQ fornecida e o correspondente
acréscimo de temperatura.

ΔQ
C= ; C = mc
Δt

Calor de fusão É a energia térmica necessária para


fundir uma certa massa de uma
substância sem alteração da
temperatura.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 125

Qf = Lf ⋅ m

Calor de vaporização É a quantidade de calor necessária para


vaporizar uma certa massa de uma
substância sem alteração da
temperatura.

Qv = Lv ⋅ m

Trabalho de um gás V2
W = ∫ p.dV
V1

No processo isobárico: W = p ⋅ ΔV ;

No processo isotérmico:

Vf
W = nRT ln ;
Vi

No processo adiabáico:

p1V1 − p 2V2 ou W = nR(T1 − T2 )


W =
γ −1 γ −1

1º Princípio Termodinâmico A quantidade de calor fornecida ao


sistema é igual à soma em parte para
aumentar a sua energia interna e em
parte para realizar trabalho.

Q = ΔU + W . Na forma diferencial:

dQ = dU + dW

Capacidade calorífica a ⎡ dQ ⎤ ⎡ dU ⎤
volume constante CV = ⎢ ⎥ ou CV = ⎢ ⎥
⎣ dT ⎦ V ⎣ dT ⎦ V

Capacidade calorífica a ⎡ dQ ⎤ ⎡ dU ⎤
pressão constante C p = ⎢ ⎥ ou C p = ⎢ ⎥
⎣ dT ⎦ p ⎣ dT ⎦ p

Relação entre Cv e Cp (
C p = CV + mR * )
Equação de Mayer
c p − cV = R *
126

Processo adiabático Um processo em que não há trocas


térmicas entre o sistema e o seu
exterior.
Q=0

Equações de Poisson pV γ = const e TV γ −1 = const

Cp
onde γ = é a constante adiabática.
CV

Entalpia Entalpia é uma função de estado cuja


variação é igual a quantidade de calor
obtida pelo sistema no processo
isobárico.

H = U + pV ou dH = dQ + Vdp

Condução É o processo de "distribuição" ou


transmissão de calor que acontece entre
os sólidos graças a agitação das
moléculas.

Convecção É o processo de "distribuição" ou troca


de calor que ocorre entre os líquidos ou
gases através do transporte de matéria.

C:\WINDOWS\hinhem.scr A transmissão por radiação efectua-se


através das ondas eletromagnéticas
denominadas ondas caloríficas ou calor
radiante, predominando os raios
infravermelhos sem necessidade de
matéria.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 127

Exercícios

1. Um calorímetro contém 70g de água a 10º C. Derramam-se nele


50g de água a 50º C e, após algum tempo, a temperatura de
equilíbrio é 20º C. Determine a capacidade térmica do
Auto-avaliação calorímetro.

2. O calor específico do gelo é 0,5 cal/g.º C, o calor latente de fusão


do gelo é 80 cal/g e o calor específico da água líquida é 1 cal/g.º
C. Calcule a quantidade de calor necessária para transformar 200
g de gelo a -30º C em água líquida a 50º C.

3. Temos 25g de gelo a - 32º C. determine a quantidade de calor que


o sistema deve receber para que, no final, se tenha água líquida a
28º C. Dados: calor específico do gelo = 0,5 cal/g.º C, calor
latente de fusão do gelo = 80 cal/g; calor específico da água
1cal/g.º C)

4. Em água em ebulição a 100º C é colocado um fragmento


metálico de 500g de massa a 200º C. Vaporizam-se 20g de água e
a temperatura de equilíbrio é 100º C. sendo o calor latente de
vaporização da água 540 cal/g, determine o calor específico do
metal.

5. Coloca-se numa cuba contendo água em ebulição sob pressão


normal uma esfera de alumínio de massa m a temperatura de 150º
C. A esfera termina em equilíbrio térmico com a água a 100º C e
verifica-se a formação de 10g de vapor d'água. sabendo-se que o
calor específico do alumínio é 0,2 cal/g.º C e que o calor latente
de vaporização da água é 537 cal/g, qual a massa da esfera ?
128

Feedback
1. C= 80 cal/ºC

2. Q= -29 kcal

3. Q= 3,1 kcal

4. c= 0,216 cal/gºC. Trata-se de alumínio.

5. m= 537 g.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 129

Unidade 4

Teoria Cinético-molecular

Introdução
Caro estudante, nas duas unidades anteriores nós analizamos fenómenos,
grandezas e leis que regulam o comportamento de um gás, tomando-o
como um sistema macroscópico. Definimos o modeo gás ideal partindo
de resultados experimentais, ou seja medindo directamente as grandezas
paramétricas pressão, temperatura e volume. Nesta unidade, vamos falar
e definir o modelo gás ideal do ponto de vista microscópico e relacionar a
temperatura e pressão com o comportamento do elevado número de
partículas (moléculas ou átomos) que constituem uma amostra de gás.

Você deverá despender 20 horas no estudo desta lição incluindo a


realização das actividades experimentais aqui sugeridas

Tempo de estudo

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

ƒ Resumir os espaços históricos que levaram a descoberta da teoria


cinético molecular;

ƒ Caracterizar do ponto vista mocroscópico o modelo gás ideal;


Objectivos
ƒ Explicar o que são forças de interacção intermolecular.

ƒ Determinar a enrgia cinética média das moléculas;

ƒ Deduzir a expressão para a pressão do ponto de vista da teroria


cinético molucar;

ƒ Deduzir a expressão para a temperatura do ponto de vista da teroria


cinético molucar;

ƒ Demosntrar a relação existente entre a temperatura e a teoria cinético


molecular;
130

ƒ Determinar a temperatura de um gás ideal conhecida a energia cinética


média das moléculas

ƒ Interpretar o gráfico de Maxwell sobre a distribuição das velocidades


das moléculas;

ƒ Determinar as velocidades média, quadrática média e mais provável


das moléculas

ƒ Definir e determinar a energia interna como função da temperatura;

ƒ Interpretar o sentido de graus de liberdade.

Modelo gás ideal, forças internas, forças de interacção intermolecular,


movimento livre e desordenado, volume próprio, energia cinética das
moléculas, energia cinética média, velocidade média qudrática, valor
Terminologia médio do quadrado das velocidades, teoria cinética molecular, pressão
número de Avogadro NA, constante de Boltzman K, temperatura, número
de moléculas N, velocidade mais provável, energia interna, graus de
liberdade, número de graus de liberdade.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 131

Lição nº 16

Definição microscópica do
modelo gás ideal

Introdução
Caro estudante, nesta lição você vai conhecer os principais fazedores da
teoria cinético molecular assim como vamos definir o modelo gás ideal
do ponto de vista microscópico, ou seja, partindo das caraterísticas
internas das partículas (átomos ou moléculas) que constituem um sistema
gasoso.

Você poderá necessitar de 2 horas para o estudo desta lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Resumir os espaços históricos que levaram a descoberta da teoria


cinético molecular;

ƒ Caracterizar do ponto vista mocroscópico o modelo gás ideal;


Objectivos
ƒ Explicar o que são forças de interacção intermolecular.

Modelo gás ideal, forças internas, forças de interacção intermolecular,


movimento livre e desordenado, volume próprio.

Terminologia
132

Introdução sobre a evolução histórica da Teoria Cinética dos Gases

Em meados do século XVII, Robert Boyle fez várias pesquisas sobre o


comportamento elástico do ar, culminando com a publicação do seu livro
intitulado "New Experiments Physico-Mechanicall, Touching the Spring
of the Air, and its Effects", em 1660.

Boyle propôs uma explicação teórica para a elasticidade do ar


comparando-o a "uma pilha de pequenos corpos, caindo uns sobre os
outros", estes corpos eram pensados como sendo molas, ou novelos de lã
empilhados uns sobre os outros, porém sem movimento independente.

Usando um barómetro de mercúrio, Boyle demonstrou que estamos


imersos num mar de ar, que nos comprime com uma pressão igual à de
uma coluna de água de 10 metros de altura. Ou seja, a pressão
atmosférica.

Este fato deu origem ao conceito de pressão que antes não era usado, e
Boyle ilustrou de forma qualitativa a existência da relação entre a pressão
e o volume de ar (o termo gás não era usado na época) contido num
recipiente como sendo inversamente proporcional.

Outra contribuição de Boyle para o estudo dos gases, que passaram a ser
chamados de fluidos elásticos, foi a constatação de que a viscosidade de
um gás não depende de sua densidade, ao contrário do que acontece com
os líquidos. Tal constatação foi esquecida por muito tempo, até que
Clausius conseguiu obter uma explicação teórica para ela.

Robert Boyle (1627-1691), físico e químico irlandês,


foi o sétimo e último filho do conde de Cork, um nobre
britânico que possuiu consideráveis propriedades na
Irlanda. Com o aparato construído por Robert Boyle,
na época seu ajudante, Boyle conseguiu estudar as
características do ar e estabelecer o que hoje conhecemos como a lei de
Boyle. Grande admirador dos trabalhos de Galileu, Boyle foi um dos
primeiros a contestar a existência do éter e afirmar que todas as
matérias são constituídas de elementos simples: os átomos.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 133

Uma teoria para explicar a repulsão das partículas é proposta por


Newton

Apesar de ter encontrado a relação entre pressão e volume, Boyle não


conseguiu descobrir de que forma é a força que existe entre os átomos.

Contudo, logo após Boyle ter publicado suas pesquisas, Isaac Newton
usou a relação entre pressão e volume para obter uma hipótese sobre as
forças interatómicas.

Para Newton, havia uma força repulsiva com intensidade inversamente


proporcional à distância que separa os átomos. Ao supor que o ar era
composto por partículas que se comportavam como molas, o termo fluido
elástico foi usado até que o conceito de moléculas em movimentos
desordenados tomasse lugar.

Isaac Newton (1643-1727), físico e matemático


inglês, fundou as bases da mecânica clássica e criou
o cálculo diferencial e integral. Newton foi o
primeiro cientista a receber o título de Sir
(cavalheiro) da rainha da Inglaterra.

A teoria cinética inicia-se com os trabalhos de Bernoulli

Contrário à hipótese de que os átomos são como molas ligadas entre si,
Daniel Bernoulli propôs uma teoria para explicar a pressão que um gás
exerce no interior do recipiente. Esta teoria baseia-se na comparação dos
átomos com esferas rígidas (bolas de bilhar) que se chocam
continuamente por estarem em movimento, sendo que a sucessão de
choques contra as paredes de um recipiente é que produz a pressão.

A suposição de Bernoulli era que calor é nada mais que movimento de


átomos não foi aceita pelos cientistas de sua época, pois estes
acreditavam na existência do éter e discordavam da ideia de que os
átomos pudessem voar livremente pelo espaço.
134

Devido ao fato das ideias de Newton sobre a interacção entre átomos


serem aceitas até por volta do século XIX, a teoria cinética proposta por
Bernoulli foi quase esquecida. Somente quando a física alcançou um
estágio de desenvolvimento em que os conceitos
antigos foram derrubados é que a teoria cinética dos
gases ressurgiu.

Daniel Bernoulli (1700-1782), físico e matemático


holandês. Pertenceu a uma família de matemáticos
famosos, e seu trabalho mais conhecido foi na área da hidrodinâmica.

A teoria cinética dos gases renasce com Clausius

A queda da teoria do calórico e sua substituição pela teoria dinâmica do


calor deu espaço ao ressurgimento da teoria cinética dos gases. Rudolf
Clausius foi um dos contribuintes para esta teoria.

Rudolf Clausius (ver lição no 1 sobre a História da Termodinâmica)


publicou seu primeiro artigo sobre a teoria cinética em 1857, onde o
conceito de átomos comportando-se como esferas rígidas foi usado para
então obter a pressão e a temperatura do gás em função da velocidade das
moléculas.

Num segundo artigo, Clausius introduziu o conceito de “caminho livre


médio” com a finalidade de dar um tratamento matemático ao fenómeno
da condução de calor nos gases. Este conceito também foi usado para
derrubar as objecções que eram feitas contra a teoria cinética.

Segundo a teoria cinética, as moléculas num gás estão em constante


movimento desordenado e com velocidades muito grandes. Porém, esta
afirmação fora contestada pelos opositores da teoria cinética ao dizerem
que se as moléculas percorriam grandes distâncias e em linha recta, o que
então pressupunha que dois gases em contacto se misturariam
rapidamente, ao contrário do que ocorre nas experiências.

Clausius refutou estas ideias demonstrando que, por causa dos constantes
choques entre elas, as moléculas não percorriam grandes distâncias, mas
sim pequenos trechos entre os choques ao que ele denominou de
caminho livre médio.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 135

Maxwell descreve a distribuição das velocidades das moléculas de um


gás e funda as bases da mecânica estatística

Assim como Clausius, muitos cientistas acreditavam que as moléculas,


depois de sucessivos choques, adquiriam uma velocidade comum entre
elas. Porém James Clerk Maxwell discordava desta afirmação e propôs
uma hipótese na qual as numerosas colisões entre as moléculas no gás, ao
invés de igualar as velocidades de todas as moléculas, produziriam uma
distribuição estatística de velocidades na qual todas as velocidades
poderiam ocorrer, com uma probabilidade conhecida.

As pesquisas de Maxwell sobre a teoria cinética, além de ajudarem a


estabelecer as bases para a Mecânica Estatística Moderna, concluíram
que a viscosidade de um gás é independente de sua
densidade, convertendo muitos cientistas que ainda
não haviam aceito a teoria cinética dos gases.

James Clerk Maxwell (1831-1879), físico escocês,


ficou mais conhecido por seus trabalhos no
Electromagnetismo, sendo as suas leis válidas até os
dias de hoje.

Definição microscópica do modelo “gás ideal”

A definição microscópica do modelo gás ideal fundamenta-se nas


seguintes suposições:

1. Todas moléculas do gás são idênticas e em número bastante


elevado e podem ser consideradas pontos materiais;

2. As moléculas possuem apenas uma energia cinética e estão


dotadas de movimento desordenado livre por todo o volume, mas
que obedecem às leis de Newton;

3. As moléculas não possuem volume próprio, ou seja o volume


total destas é uma fracção desprezível do volume ocupado pelo
gás, pois as distâncias entre as moléculas são relativamente
grandes;
136

4. Entre as moléculas não actuam forças de interacção exceptuando


durante as colisões (forças de carácter repulsiva);

5. As colisões entre as moléculas e entre estas e as paredes do


recipiente são puramente elásticas e de duração desprezível.

O modelo é aplicável para o estudo dos gases a temperaturas não muito


baixas e a pressões não muito altas.

Forças de interacção intermolecular e suas características

• As forças intermoleculares são de natureza electromagnética;

• As moléculas, apesar de serem geralmente neutras, possuem cargas


eléctricas (electrões em volta e protões no núcleo) que se podem
mover;

• A aproximação entre duas moléculas origina uma perturbação nas


cargas e estão ligeiramente desviadas das suas posições usuais de tal
forma que a distância média entre as cargas de sinal diferente seja
mais pequena que a das cargas de mesmos sinal.

Forças de atracção r ≈ ro ,

onde ro ...diámetro atómico

Isto acontece apenas quando as moléculas estão muito próximas umas das
outras de modo que estas forças actuem apenas sob pequenas distâncias.
ro = 3,5 ⋅ 10 −10 m

• Uma aproximação demasiada origina forças de repulsão devido à


sobreposição das cargas. r = 2,5 ⋅ 10 −10 m
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 137

Lição nº17

Energia cinética das moléculas


Caro estudante, os valores médios de grandezas microscópicas como é o
caso da velocidade das moléculas e sua energia cinética permitem
experimir as grandezas paramétricas como a temperatura e a pressão do
ponto de vista microscópico. Nesta lição você vai aprender a deduzir a
equação geral da teoria cinético molecular para a pressão.

Você deverá despender 2 horas no estudo desta lição incluindo a


realização das actividades experimentais aqui sugeridas

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Determinar a enrgia cinética média das moléculas;

ƒ Deduzir a expressão para a pressão do ponto de vista da teroria


cinético molucar;
Objectivos

Energia cinética das moléculas, energia cinética media, velocidade média


qudrática, valor médio do quadrado das velocidades, teoria cinética
molecular, pressão.
Terminologia

Seja m a massa de uma molécula e v a sua velocidade.

1 2
A energia cinética de translação da molécula será: E c = mv
2

Como cada molécula de um gás tem a sua velocidade é melhor considerar


a energia cinética média de translação.
138

Ec1 + Ec2 + ... + E cn


Ec = , onde N é o numero de moléculas do gás.
N
1 ⎛ m1v12 m2 v 22 mn v n2 ⎞
Substituindo E c, Ec = ⎜ + + ... + ⎟ ou
N ⎜⎝ 2 2 2 ⎟

m v12 + v 22 + ... + v n2
Ec = ⋅ , já que todas as moléculas do gás são iguais
2 N
( m1 = m2 = mn ), o que sugere o cálculo da Energia cinética média das
partículas do gás.

m 2
Assim: Ec = ⋅ v mq é energia cinética média,
2

N
1
onde
2
v mq =
N
∑v
i =1
2
i é designada velocidade média quadrática

Relação entre Pressão e a Teoria cinético molecular

Consideremos um recipiente cúbico


de paredes perfeitamente elásticas.
Seja l o comprimento das arestas do
cubo e A1 , A2 as faces normais ao
eixo ox.

Imaginemos que a velocidade da


v
molécula é v . As suas projecções
(
serão v = v x , v y e v z )
Fig. 23: Uma molécula de um gás
Consideremos que a molécula se ideal movendo dentro de um dado
move apenas na direcção horizontal
v
(OX). Então as componentes v y e v z de v são nulas.

Quando a molécula colidir com A1 a componente v x mudará de sinal e

nada se vai alterar em relação a v y e v z .

A variação do impulso (momento linear) será

Δp = p fx − pix = −mv x − mv x = −2mv x


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 139

Segundo o Princípio de Conservação do momento linear


v
∑p i = const = 0 , resulta que o impulso transmitido à parede A1 será

+ mv x .

l
Seja τ= o tempo necessário para a molécula atravessar o cubo de
vx
A1 até A2 .

Ao atingir A2 a molécula volta de novo para A1 . Supondo que não haja


nenhuma colisão com qualquer molécula em todo seu percurso,
2l
2τ = será o tempo total de ida e volta.
vx

2l
Seja 2τ = t então escrevemos t = . Após o tempo t a molécula volta
vx
a colidir com A1 .

1 vx
O número de colisões por unidade de tempo será f = =
t 2l

O produto do número de colisões por unidade de tempo pelo impulso


transmitido a A1 nesse intervalo de tempo, corresponde à taxa de
transferência de impulso.

vx v x2
⋅ 2mv x =
2l 2l

Por definição a taxa de transferência de impulso é igual a força,

mv x2
Δp
= F , portanto =F.
Δt l

Para obtermos a força total que corresponde à taxa de transferência de


impulso à A1 por todas as moléculas do gás temos que somar para todas
as moléculas.
140

n
m∑ v x2i
Ft = i =1

F F
Por definição a pressão P = =
A l2
n
m∑ v x2i
Ft
Substituindo a força total teremos p = = i =1
ou
l2 l 3

p=
m 2
l 3
(v x1 + v x22 + v x23 + ... + v x2n )
Seja N o número total de partículas no recipiente e n o número total de
partículas por unidade de volume.

N N N
Então n = = 3 donde l 3 =
V l n

Substituindo na expressão para p teremos

(v 2
x1 + v x22 + v x23 + ... + v x2n ) ∑v 2
xi
p = m⋅n ou p = m⋅n i =1
ou
N N

ainda p = m ⋅ n ⋅ v x2i onde v x2i é o valor médio do quadrado da

velocidade das moléculas ao longo de ox.

N N
Sendo n = 3
, m ⋅ 3 = ρ ...densidade pois m ⋅ N ...é a massa total.
l l

Então: p = ρ ⋅ v x2 i

Sabemos que para qualquer molécula v = v x + v y + v z o movimento


2 2 2 2

das moléculas é caótico, e não há qualquer direcção x, y ou z privilegiada


neste movimento. Por isso consideremos que os valores médios de v x2 ,

1 2
v y2 e vz2 são os mesmos e são exactamente: v x = v y = v z =
2 2 2
v
3
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 141

1
Então, para qualquer direcção p= ρ ⋅ v 2 ... Equação geral da
3
teoria cinético – molecular dos gases que exprime a pressão através da
velocidade das moléculas.

Conclusão: a pressão do gás ideal é proporcional ao produto da


densidade das moléculas pelo quadrado médio das suas velocidades.

O valor médio do quadrado das velocidades ( v 2 ) é igual ao quadrado


2
da velocidade média quadrática ( v mq ).

3p
v 2 = v mq , donde v mq = v =
2 2
...velocidade média
ρ
quadrática.

Tente Resolver:

3RT
Demonstre que v mq = e determine a v mq das moléculas de
μ
Actividade
oxigénio gasoso, à uma temperatura T = 300k e massa molar
32 ⋅ 10 −3 kg / mol .

Feedback
v mq = 483,56m / s
142

Exercícios

1. Calcule a velocidade quadrática média de uma molécula de


hidrogénio a 0 0 C e a pressão de 1 atm, supondo que H 2 seja um gás
ideal. Nestas condições a densidade do H 2 é p = 8,99.10 −2 Kg / m 3 .
Auto-avaliação 2. Calcule a velocidade quadrática média das moléculas de hidrogénio a
20 0 C e a pressão de 70cm de mercúrio. A massa de um mol de
H 2 ’e 2,016g/mol.
3. Determine a velocidade quadrática média de uma molécula de azoto
(M=28 kg/kmol) no ar a 0ºC

Feedback
1. v = 1838m / s

2. v mq = 1904m / s

3. v mq = 0,49km / s
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 143

Lição nº 18

Relação entre a temparatura e a


teoria cinético molecular

Introdução
Como você já terá percebido das lições anteriores, os parâmetros
termodinâmicos podem ser definidos do ponto de vista microscópico a
partir do movimento cinético das partículas do sistema. A presente lição
tem como objectovo a demosntração da ligação existente entre a
temperatura de um gás ideal e a teoria cinética molecular dos gases.

Você precisará de despender pelo menos 1 hora no estudo desta lição.

Tempo de estudo

Ao terminar esta lição, você será capaz de:

ƒ Demonstrar a relação existente entre a temperatura e a teoria cinético


molecular;

ƒ Determinar a temperatura de um gás ideal conhecida a energia cinética


Objectivos média das moléculas

Energia cinética média, número de Avogadro, Constante de Boltzman,


temperatura.

Terminologia
144

Vamos partir da equação que gera da teoria cinético molecular do gás


1
ideal p = ρ ⋅ v2
3

Multipliquemos a equação por V (Volume).

1 1
p ⋅V = ρV ⋅ v 2 ou p ⋅ V = m ⋅ v 2 , pois m = ρ ⋅ V
3 3

Mas m pode também ser escrito na forma m = n ⋅ μ onde n ...é o número


de moles e μ ...a massa molar.

1
Então p ⋅ V = nμ ⋅ v 2 ou multiplicando e dividindo o 2º membro por
3
2 obtemos

2⎛1 2⎞ 1 1
p ⋅V = ⎜ nμ ⋅ v ⎟ ; nμ ⋅ v 2 = m ⋅ v 2 = E c que é
3⎝2 ⎠ 2 2
Energia cinética média.

Tomando em conta a equação do estado do gás ideal na forma


2⎛1 2⎞
p ⋅ V = nRT podemos escrever: nRT = ⎜ nμ ⋅ v ⎟ ;
3⎝2 ⎠
3 1
nRT = nμ ⋅ v 2 .
2 2

3 1
Simplificando o número de moles resulta RT = μ ⋅ v 2 .
2 2

Conclusão: A energia cinética total de translação por mole de


molécula de um gás ideal é proporcional à temperatura.

Vamos dividir ambos os membros da equação anterior por N A ...número


de Avogadro (número de moléculas contidas numa mole).

3 R 1 μ R
T= ⋅ v2 Daqui obtém se = k ...constante
2 NA 2 NA NA

μ
de Boltzman k = 1,38 ⋅ 10 −23 J / k e = mi ...massa de uma mole
NA
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 145

3 1 1 mi 2
Então kT = mi ⋅ v 2 onde T= ⋅ v ... Temperatura,
2 2 3 k
definição microscópica.

3
Daqui pode-se ainda concluir que kT = E c ... Energia cinética
2
média de translação das moléculas nas 3 direcções x, y e z.

1
Para uma única direcção tem-se kT = Ec .
2

2 Ec
Exprimindo em ordem a T teremos T= ...Temperatura
3 k

Conclusão: A energia cinética média do movimento de translação


das moléculas não depende da natureza do gás, é apenas função da
sua temperatura.

Exercícios

1. Qual é a velocidade quadrática média de um gás à 20º C,


cuja massa é de 20g?

Auto-avaliação 2. Qual é a energia cinética média por molécula de um gás que se


encontra à uma temperatura ambiente de 22º C?

3. Qual é a energia cinética média de um gás à 40º C que se move


numa única direcção?

Feedback
1. Feedback: 6,06×10-20 m/s.

2. Feedback: 6,105×10-21 J

3. Feedback: 2,09×10-21 J
146

Lição nº 19

Distribuição de Maxwell das


velocidades moleculares

Introdução
Caro estudante, nesta lição deverá aprender que a distribuição das
velocidades moleculares é uma função que depende apenas da
temperatura.

Você precisará de despender pelo menos 2 horas no estudo desta lição.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição, você será capaz de:

ƒ Interpretar o gráfico de Maxwell sobre a distribuição das velocidades


das moléculas;

ƒ Determinar as velocidades média, quadrática média e mais provável


Objectivos das moléculas

Número de moléculas por unidade de energia, número total de moléculas,


velocidade mais provável,

Terminologia

Caro estudante recorde-se que para obtermos a equação geral da teoria


cinético molecular consideramos que todas as moléculas têm mesma
velocidade e esta permanece sempre constante.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 147

Mas é claro que as moléculas de um gás modificam as suas energias


cinéticas devido às constantes colisões entre si e com as paredes do
recipiente. Isto significa que as velocidades variam constantemente.

As moléculas movem-se em todas as direcções e com diferentes


velocidades.

Portanto, num gás são possíveis todas as energias cinéticas e velocidades.

Seja dado um volume de um gás onde se encontra um número N muito


elevado de moléculas.

Em vez de falarmos “quantas moléculas têm uma determinada energia


cinética/ velocidades” (o que é difícil devido ao grande número de
moléculas no gás) é mais racional, do ponto de vista prático, determinar o
número de moléculas ( dN ) cujas energias se encontram compreendidas
entre E + dE ou as suas velocidades entre v + dv .

O número dN é dado pela expressão: dN = N ( E ) dE ou dN = N (V ) dV

onde N (V ) é definido pela lei de distribuição das energias moleculares de

Maxwell.

dN 2π ⋅ N 1 −E
= E 2 ⋅ e kT ...número de moléculas por
dE (π ⋅ kT ) 2
3

unidade de energia.

onde T é a temperatura absoluta, k a constante de Boltzman e N o número


total de moléculas na amostra.

1 2
Exprimindo em função da velocidade, considerando que E = mv e
2
dE dN dN dE dN
que = mv teremos = ⋅ = mv
dV dV dE dv dE

1 2
Substituindo a expressão E = mv na da lei de distribuição de energias
2
148

3
dN ⎛ m ⎞ 2 2 − mv 2 2 kT
= 4πN ⎜ ⎟ v ⋅e ou
dv ⎝ 2 ⋅ π ⋅ kT ⎠

3
⎛ m ⎞ 2 2 − mv 2 2 kT
N (v ) = 4πN ⎜ ⎟ v ⋅e
⎝ 2 ⋅ π ⋅ kT ⎠

Aqui a distribuição das velocidades, depende não só da temperatura T


mas também da massa molar (m).

Conclusão: A lei da distribuição de velocidades é diferente para


cada gás.

Por sua vez N = ∫ N ( ) ⋅ dv ... número total de moléculas na amostra.


0
v

Fig.24: Gráfico da distribuição de velocidades


moleculares de Maxwell

Num dado intervalo de velocidades Δv o número de moléculas cresce até

Conclusão: À medida que a temperatura aumenta a distribuição das


velocidades desloca-se para valores mais elevados ou seja para a
direita. A área por baixo do gráfico entre as linhas verticais dá o
número de moléculas entre as velocidades correspondentes.

um valor máximo, que corresponde à velocidade mais provável ( v p )

que é a velocidade tida pelo maior número de moléculas.

Depois decresce assimetricamente até zero.


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 149

A curva de distribuição e as velocidades não são simétrica em relação à

vp .
Porque a velocidade mais pequena tem que ser igual a zero, a média da

velocidade ( v ) será um pouco maior que vp .


A velocidade média quadrática ( v mq ) sendo a raiz quadrada da média do

quadrado das velocidades será ainda maior. v p < v < v mq


Dez moléculas de um gás têm as seguintes velocidades 0; 1,0; 2,0; 3,0;
3,0; 3,0; 4,0; 4,0; 5,0 e 6,0. Determine e compare as seguintes
velocidades:

Exemplo a) a média das velocidades v;

b) a v mq ;
c) a vp .
Resolução:
i =10

∑v i
a) v = i =1
= 3,1m / s
10

3KT 125
b) v mq = = (v 2 ) med . = = 3,54m / s
m 10

c) v p = 3m / s

Comparando: v p < v < v mq


150

Lição nº20

Energia interna de um gás

Introdução
Caro estudante, nesta lição vai aprender a determinar a energia interna de
um gás ideal como uma função da temperatura, assim a relacionar a
energia cinética das moléculas com os respectivos graus de liberdade.

Você precisará de despender pelo menos 1:30 horas no estudo desta lição
incluindo a resolução de exercícios aqui sugeridos.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição, você será capaz de:

ƒ Definir e determinar a energia interna como função da temperatura;

ƒ Interpretar o sentido de graus de liberdade.


Objectivos

Energia interna, graus de liberdade, número de graus de liberdade

Terminologia

Já nas aulas introdutórias nós fizemos referência ao conceito energia


interna. Qualquer sistema termodinâmico possui uma energia que
denominada de energia interna e que é a soma de todas as espécies de
energias cinéticas do conjunto de partículas. Sabemos que a energia
cinética está ligada com o movimento das partículas.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 151

Para um estudo facilitado da energia interna continuemos a considerar


que as moléculas de um gás ideal são monoatómicas e se assemelham a
pequenas esferas elásticas e duras entre as quais não existem forças de
interacção. Assim a energia interna de um gás ideal será inteiramente
energia cinética.

3 1 3
Deduzimos que Ec = kT ; mv 2 = kT
2 2 2

Mas como v = v x + v y + v z e não havendo direcção privilegiada para


2 2 2 2

o movimento das moléculas então:

1 1 1 1
mv x2 = mv y2 = mv z2 = kT
2 2 2 2
Se então a energia interna U corresponde inteiramente a E c , obtém-se
3 3 R
U = Eo = kT . Sendo k = R ; então U = T ; mas
2 NA 2 NA
N N
NA = , n=
n NA

3
ou ainda U = nRT neste caso N = 1
2

Conclusão: A energia interna é uma função da temperatura.

U = f (T )

3
A expressão U= nRT para a energia interna satisfaz apenas
2
moléculas monoatómicas pois, a E c destas é simplesmente energia de
translação.

5
Para gases com moléculas biatómicas U = nRT
2
152

Se as ligações não forem rígidas as moléculas ainda podem vibrar em


torno das suas posições de equilíbrio. Assim passam a ter como energia
7
interna U= nRT
2

Noção de “Graus de liberdade”/ número de graus de liberdade

Ao número de coordenadas independentes que determinam a posição de


um sistema qualquer denomina-se número de graus de liberdade.

A posição de um ponto material determina-se univalentemente por 3


coordenadas, x, y e z, por isso ele possui 3 graus de liberdade.

Uma molécula biatómica para além da translação nos 3 eixos, ainda pode
realizar 3 rotações em torno destes. Pelo facto de num dos eixos a E cR ser

tão pequena que pode ser menosprezada, uma molécula biatómica possui
apenas 5 graus de liberdade.

Moléculas triatómicas ou poliatómicas possuem 6 graus de liberdade.

Sumário
Assunto Observações e Equações importantes

Modelo gás ideal Todas moléculas do gás são idênticas e


em número bastante elevado; possuem
apenas uma energia cinética e estão
dotadas de movimento desordenado
livre por todo o volume; não possuem
volume próprio, pois as distâncias entre
as moléculas são relativamente grandes;
entre as moléculas não actuam forças
de interacção exceptuando durante as
colisões e estas (forças de carácter
repulsiva); são puramente elásticas e de
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 153

duração desprezível.
São as forças intermoleculares e de
Forças internas
natureza electromagnética que actuam
quando as moléculas estão muito
próximas umas das outras.

Velocidade média quadrática É igual ao valor médio do quadrado


2
( v mq ) das velocidades ( v 2 )

3p
v mq = v 2 =
ρ

É a velocidade tida pelo maior número


Velocidade mais provável
de moléculas num dado intervalo de
velocidades Δv .

Equação geral da teoria Exprime a pressão através da


cinética molecular dos gases velocidade das moléculas. p = 1 ρ ⋅ v 2
3

A pressão do gás ideal é proporcional


ao produto da densidade das moléculas
pelo quadrado médio das suas
velocidades.

Temperatura e teoria cinético A temperatura de um gás ideal é


molecular directamente proporcional ao valor
médio da energia cinética das
2 Ec
moléclas T =
3 k

Constante de Bolzmann R
= k ... k = 1,38 ⋅ 10 −23 J / k
NA

Energia interna É a energia que existe no interior do


sistema graças as energias cinética e
potencial das suas moléculas.

Energia interna de uma molécula


154

monoatómica: U = 3 2 ⋅ nRT

Energia interna de uma molécula


biatómica: U = 5 2 ⋅ nRT

Energia interna de uma molécula


com vibrações: U = 7 2 ⋅ nRT

Número de graus de liberdade. É o número de coordenadas


independentes que determinam a
posição de um sistema qualquer.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 155

Unidade 5

Segunda Lei da Termodinâmica

Introdução
Caro estudante esta unidade destina-se especialmente ao estudo da 2ª lei
da Termodinâmica. Como já referimos numa das unidades anteriores, esta
lei foi a primeira a ser descoberta, pois ela está directamente ligada com o
fenómeno que impulcionou o desenvolvimento da Termodinâmica como
ciência, a criação de uma máquina térmica com uma eficiência tal, que
transfome todo o calor absorvido de fonte quente em trabalho mecânico.
Por isso, antes dos enunciados da 2ª lei termodinâmica o caro estudante
deverá discutir as características e o funcionamento das máquinas
témicas, tendo como referência a máquina cíclica de Carnot. Mais adiante
estabelece-se a relação entre a 2ª lei termodinâmica e a Entropia e esta
por sua vez com o conceito de desordem. Ainda nesta unidade você vai
poder perceber o sentido do enunciado da 3ª lei da Termodinâmica.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao completer esta unidade, você será capaz de:

ƒ Caracterizar e explicar o funcionamento de uma máquina térmica e de


un refrigerador;

Objectivos ƒ Deteriminar o rendimento de uma máquina térmica e o coeficiente de


eficiência de um refrigerador;

ƒ Caracterizar o ciclo de Carnot e explicar o funcionamento da máquina


156

de Carnot;

ƒ Calucular o calo absorvido e rejeitado, o trabalho total realizado, o


rendimento e o coeficiente de eficiência no ciclo de Carnot e no ciclo
inverso respectivamente;

ƒ Caracterizar com base em exemplos concretos os processos


reversíveis e irreversíveis;

ƒ Formular a 2ª lei da Termidinâmica segundo os enunciados


equivalentes de Claus, Kelvin e Carnot;

ƒ Explicar os conceitos de entropia e variação de entropia de um


sistema;

ƒ Calcular a entropia numa transformação reversível;

ƒ Formular a lei de crescimento da entropia;

ƒ Estabeler a ligação entre a entropia, a desordem de um sistema e a 3ª


lei da Termodinâmica

máquinas témicas, calor, calor absorvido, calor rejeitado, fonte/


reservatório quente, fonte/reservatório fria, trabalho, energia, ciclo, ciclo
de carnot, rendimento, coeficiente de eficiência, isoterma, adiabata,
Terminologia processo reversível, processo irreversível, 2ª lei da Termodinâmica,
enunciados de Claus e Kelvin, entropia de um sistema, e variação da
entropia, lei de crescimento da entropia, entropia do universo, desordem,
3ª lei da Termodinâmica ou Princípio de Nernst, Temperatura absoluta e
o zero absoluto, Constante de Boltzman.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 157

Lição nº21

Máquinas térmicas

Introdução
Nesta lição vamos aprender o que é uma máquina térmica e como uma
máquina térmica funciona. A partir do calor absorvido e do calor
rejeitado pela máquina vamos calcular o rendimento e o coeficiente de
eficiência.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao terminarr esta lição, você será capaz de:

ƒ Caracterizar e explicar o funcionamento de uma máquina térmica e de


un refrigerador;

ƒ Deteriminar o rendimento de uma máquina térmica e o coeficiente de


Objectivos eficiência de um refrigerador;

máquinas témicas, calor, calor absorvido, calor rejeitado, fonte/


reservatório quente, fonte/reservatório fria, trabalho, energia

Terminologia
158

Como fora referido


no capítulo
introdutório deste
módulo, o
desenvolvimento da
termodinâmica do
ponto vista prático
teve a sua base na
tentativa de encontrar
resposta para a
questão do
rendimento das
máquinas térmicas. Fig. 25: Exemplos de máquinas térmicas

As seguintes imagens mostram máquinas que funcionam na base do


princípio das máquinas térmicas.

O que são máquinas térmicas?

Máquinas térmicas são dispositivos que operando ciclicamente,


produzem trabalho extraindo calor de uma fonte quente jogando-a para a
uma fonte fria num processo e contínuo.

As máquinas térmicas utilizam energia na forma de calor (gás ou vapor


em expansão térmica) para provocar a realização de um trabalho
mecânico.

Uma máquina térmica pode ser descrita basicamente como constituída


por um o cilindro com pistão móvel, um dos principais componentes, o
gás preso dentro do cilindro sob pressão, que quando aquecido, se
expande, deslocando o pistão e realizando consequentemente um certo
trabalho.

Apesar de existirem diferentes tipos de máquinas térmicas, elas


apresentam características comuns como:

• recebem calor de uma fonte quente (reactor nuclear, colector de


energia solar, forno a combustível, etc.);
• conservam apenas parte deste calor em forma de trabalho;
• rejeitam o calor que não foi usado para um reservatório chamado
fonte fria;
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 159

• funcionam por ciclos.

A seguinte figura mostra como uma máquina térmica funciona.

Fonte Quente Fonte Fria

Fig. 26: No funcionamento de uma máquina térmica, parte do calor absorvido da


fonte quente é usada para realizar trabalho e outra parte rejeitada para a fonte fria.

O calor fornecido à máquina provém da fonte quente (reservatório


quente) e o calor rejeitado é
recebido pelo reservatório frio.
Parte desse calor recebido é
usado na realização de trabalho
mecânico. Os reservatórios
quentes e frio são considerados
sistemas ideais com capacidades
caloríficas muito grandes, que
podem ceder ou receber energia Fig. 27: Representação em pV do ciclo
em funciona a máquina térmica.
térmica sem que sofram
variações apreciáveis nas suas
temperaturas.

Isso significa que o estado inicial e final do reservatório quente


coincidem (são iguais) ou seja ΔU = 0 .

A figura representa um esboço do ciclo na relação (pV), onde as linhas


vermelhas indicam isotérmas e as verdes as adiabatas.

Rendimento de uma máquina térmica

As primeiras máquinas térmicas construídas eram bastante ineficientes,


pois apenas uma pequena fracção de calor retirado de qualquer fonte era
convertido em trabalho útil. Apesar das contribuições de vários cientistas
na termodinâmica, jamais foi possível projectar uma máquina térmica que
160

pudesse converter todo o calor que pudesse retirar de uma fonte quente
em trabalho útil ou projectar um refrigerador que simplesmente
transmitisse calor de um corpo frio para um corpo quente, sem exigir
trabalho externo. Essas seriam máquinas térmicas e refrigeradores ideais.

As máquinas térmicas e outros dispositivos que funcionam por ciclos


utilizam normalmente um fluído para receber e ceder calor ao qual se dá
o nome de fluído de trabalho.

A partir da 1ª lei da Termodinâmica Q = ΔU + W conclui-se que

Q = W , pois a variação da energia interna ( ΔU = 0 ) é nula.

O trabalho líquido do sistema é simplesmente a diferença entre o calor


retirado da fonte quente e o calor transferido para fonte fria.

Wt = Q1 − Q2

onde Q1 e Q2 são respectivamente o calor cedido pela fonte quente e o


calor recebido pela fonte fria.
O rendimento das máquinas térmicas pode ser, de uma maneira geral, a
razão entre o trabalho total ou líquido realizado e o calor necessário para
que ela funcione:
Wt
n= .
Q1

Mas pela equação anterior podemos escrever n=


(Q1 − Q2 )
Q1

Q2
e por fim: n = 1− …rendimento de uma máquina térmica.
Q1

Que conlusão você pode formular com base neste resultado?

O rendimento é a eficiência com que uma máquina térmica funciona. Em


geral o rendimento das máquinas é baixo:

• motores de automóveis da ordem de 20%;


• motores a diesel da ordem de 30%;
• grandes turbinas a gás da ordem de 40%.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 161

Uma máquina térmica terá maior eficiência se transformar mais calor em


trabalho, transferindo, portanto, menos calor para a fonte fria.

Este resultado constitui o enunciado de Kelvin – Planck para o 2º


Princípio Termodinâmico.

“É impossível que uma máquina térmica, operando em ciclo, que tenha


como único efeito a extracção de calor de um reservatório e a execução
de quantidade equivalente de trabalho.”

Exemplo 1: Uma máquina térmica absorve 200 J de calor de um


reservatório quente, efectua um trabalho e rejeita 160 J de calor para um
reservatório frio. Calcule o rendimento da máquina.
Resolução:
Exemplo O rendimento da máquina é razão entre o trabalho realizado e o calor
recebido da fonte quente.
Wt Q1 − Q2 200 J − 160 J
n= = = = 0,20 = 20%
Q1 Q1 200 J
Resposta: O rendimento é de 20%.

Como funciona uma geleira ou frigorífico?

Ao contrário do que acontece com máquina térmica, em que a partir do


calor retirado da fonte quente se realiza um dado trabalho, as máquinas
frigoríficas realizam o ciclo no sentido contrário, pois elas retiram calor
da fonte fria (seu interior) transferindo-o para a fonte quente (seu
exterior).

Fig. 28: No funcionamento de uma geleira o calor é


retirado com ajuda de trabalho externo, de uma fonte fria
para uma fonte quente.
162

Da figura podemos ler que a máquina frigorífica recebe trabalho para


extrair calor do reservatório frio e transferi-lo para um reservatório
quente.

A medida de desempenho de um refrigerador chama-se “coeficiente de


eficiência” (COE) e é igual à razão entre o calor removido do reservatório
Q2
frio Q2 e o trabalho W recebido. COE = … Coeficiente de
Wt
eficiência.

Q2 Q
ou COE = = 1− 2
Q2 − Q1 Q1

Este resultado constitui o enunciado de Claus para o 2º Princípio


Termodinâmico.

É impossível que um refrigerador, operando em ciclo, tenha como


único efeito o da transferência de energia térmica de um corpo frio
para um outro quente.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 163

Exercícios

1. Um motor de Carnot cujo reservatório à baixa temperatura está a 7º


C, apresenta um rendimento de 30%. Qual será a variação da
temperatura, em Kelvin, da fonte quente afim de aumentar o seu
rendimento para 50%?
Auto-avaliação Feedback: 160K

2. Um motor térmico recebe 1200 cal de uma fonte quente mantida a


227ºC e transfere parte dessa energia para o meio ambiente a 24ºC.
Qual é o trabalho máximo em cal que se pode esperar desse motor?
Feedback: 552 cal

3. Um ciclo de Carnot trabalha entre duas fontes térmica: uma quente à


temperatura de 227ºC e uma fria à temperatura de -73ºC. Qual será o
rendimento desta máquina em percentagem.
Feedback: 60%

Feedback
1. Feedback: 160K

2. Feedback: 552 cal

3. Feedback: 60%
164

Lição nº 22

Máquina e ciclo de Carnot

Introdução
Nesta lição você vai estudar a máquina térmica e a máquina frigorífica
ideal de Sadi Carnot que operando em ciclo atingiria o máximo
rendimento possível. Você vair calcular o rendimento de uma máquina
térmica e o coeficiente de eficiênciade da máquina frigorífica, os calores
recebido e cedido e os trabalhos realizados em cada processo.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao completar esta lição, você será capaz de:

ƒ Caracterizar o ciclo de Carnot e explicar o funcionamento da máquina


de Carnot;

ƒ Calucular o calor absorvido e rejeitado, o trabalho total realizado, o


Objectivos rendimento e o coeficiente de eficiência no ciclo de Carnot e no ciclo
inverso respectivamente.

calor, calor absorvido, calor rejeitado, fonte/ reservatório quente,


fonte/reservatório fria, trabalho, energia, ciclo, ciclo de carnot,
rendimento, coeficiente de eficiência, isoterma, adiabata.

Terminologia

De acordo com o 2º Princípio Termodinâmico, é impossível que qualquer


máquina térmica, operando entre dois reservatórios, tenha um rendimento
de 100%.

Qual é então o rendimento máximo de uma máquina térmica?


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 165

Esta pergunta foi respondida em 1824 por Sadi


Carnot (Francês).

Carnot mostrou que a máquina reversível é a


máquina mais eficiente que pode operar entre dois
reservatórios.

Assim ficou formulado um teorema, conhecido


como “Teorema de Carnot”:
Fig. 29: Físico
Francês Nicola
Léonard Sadi
Carnot (1791-1832

Nenhuma máquina térmica, operando entre dois reservatórios


térmicos, pode ser mais eficiente do que uma máquina reversível que
opera entre os mesmos 2 reservatórios.

A máquina reversível é uma máquina ideal, pois ela opera com o maior
rendimento possível.

À máquina reversível dá-se o nome de “máquina de Carnot” e o ciclo


que ela descreve é o ciclo de Carnot.

Condições de reversibilidade:
• No processo, não há trabalho de forças de atrito, de forças
viscosas ou de outras forças dissipativas que produzem calor;
• A condução térmica só ocorre isotermicamente;
• O processo deve ser quase estático, de modo que o sistema está
sempre num estado de equilíbrio, ou muito próximo deste;
Qualquer processo que viole uma das condições acima mencionadas é
irreversível.

A máquina de Carnot tem um funcionamento apenas teórico, pois ainda


não se conseguiu criar uma máquina com as suas características.
Funcionando entre duas transformações isotérmicas e duas adiabáticas
alternadamente, o ciclo de Carnot é caracterizado por 4 etapas:

Fig. 30: Ciclo de Carnot entre duas adiabáticas e duas


isotermas num gráfico pV.
166

1ª Etapa (A - B): O gás está no estado inicial de equilíbrio representado


pelos parâmetros p1 , V1 e T1 . O sistema recebe calor do reservatório
quente, e deixamos que ele se expanda lentamente para p 2 , V2 e T1 . A
expansão é isotérmica e o gás realiza o trabalho sobre o êmbolo.

2ª Etapa (B - C): Sem fornecimento de calor, deixamos que se expanda


mais, reduzindo a pressão exercida pelo pistão, para p3 , V3 e T2 . A
expansão é adiabática e o gás realiza trabalho e a sua temperatura cai para
T2 .

3ª Etapa (C - D): O sistema é agora colocado em contacto com o


reservatório frio à temperatura T2 e o gás é comprimido lentamente para
p 4 , V4 e T2 . Durante o processo uma quantidade de calor Q2 (absorvido
pela fonte fria) é transferida do gás para o reservatório frio. A compressão
é isotérmica à temperatura T2 e é realizado um trabalho sobre o gás ao se
pressionar o êmbolo.

4ª Etapa (D - A): Sem que haja trocas de calor, o gás é comprimido


lentamente até ao estado inicial p1 , V1 e T1 . A compressão é adiabática.
O trabalho é efectuado sobre o gás e a temperatura sobe até T1 .

O trabalho líquido realizado pelo sistema durante o ciclo é dado pela área
fechada por ABCD e é igual a W = Q1 − Q2 donde Q1 é o calor
absorvido do reservatório quente e Q2 o calor cedido pelo gás ao
reservatório frio.

O rendimento do ciclo de Carnot será dado por


W Q1 − Q2 Q
η= = = 1− 2
Q1 Q1 Q1

A quantidade de calor Q1 é retirado da fonte quente e absorvida pelo gás


durante a expansão isotérmica do gás de A para B.

Como ΔU = 0 , numa expansão isotérmica do gás ideal, Q1 é igual ao


trabalho efectuado pelo gás ideal.

2 2 2
nRT1 dV
Q1 = W = ∫ pdV = ∫ dV = nRT1 ∫ =
1 1
V 1
V

V2
Q1 = nRT1 ln … calor absorvido.
V1

Do mesmo modo o calor rejeitado Q2 , absorvido pela fonte fria é igual


ao trabalho efectuado sobre o gás na compressão isotérmica T2 de C para
D.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 167

V3
Q2 = nRT2 ln … calor rejeitado
V4

A razão entre o calor rejeitado e o calor absorvido é então


V3
Q2 T2 ln
V4
=
Q1 V2
T1 ln
V1

Através da expressão TV γ −1 = const da expansão adiabática podemos


encontrar a relação entre os volumes.

Do estado A ao estado B temos T1V2γ −1 = T2V3γ −1

Do estado 4 ao estado 1 temos T1V1γ −1 = T2V4γ −1

Dividindo membro a membro as duas equações obtemos


γ −1 γ −1
⎛ V2 ⎞ ⎛V ⎞ V2 V3
⎜⎜ ⎟⎟ = ⎜⎜ 3 ⎟⎟ logo = .
⎝ V1 ⎠ ⎝ V4 ⎠ V1 V4

V2 V
Assim ln = ln 3 .
V1 V4

Q2 T2
Simplificando os factores logarítmicos ficamos com =
Q1 T1

T2
E o rendimento de Carnot η c será dado por: η c = 1 −
T1

Conclusão: O rendimento de Carnot depende exclusivamente das


temperaturas T1 e T2 dos dois reservatórios de calor. O rendimento de
Carnot fixa o limite superior dos rendimentos das máquinas térmicas.

O ciclo inverso ao ciclo de Carnot caracteriza o comportamento de um


refrigerador.

Um refrigerador bombeia energia térmica de um reservatório frio para um


reservatório quente.

Seja W o trabalho necessário para remover a quantidade de calor Q2 do


reservatório frio, e descarregar a quantidade de calor Q1 no reservatório
quente.
168

Q1 = W + Q2

Q2
O coeficiente de eficiência COE =
W

Q2
Rescrevendo W = Q1 − Q2 , obtém-se COE =
Q1 − Q2

Dividindo o numerador e o denominador por Q1 obtém-se


Q2
Q1
COE = ...coeficiente de eficiência para o ciclo inverso.
Q
1− 2
Q1

O coeficiente de eficiência máximo é conseguido com uma bomba de


calor de Carnot.

Q2 T2
Com base na relação =
Q1 T1

T2
T1 T2 T
Conclui-se: COE = = = 2 ,
T
1− 2 T1 − T2 ΔT
T1

onde ΔT é a diferença de temperaturas entre os reservatórios quente e


frio.

Exemplo 2: Uma máquina a vapor opera entre um reservatório quente a


100º C e outro frio a 0º C. Qual é o rendimento máximo da máquina

Resolução: Rendimento máximo é o rendimento de Carnot. a)


Exemplos T2 273K
ηc = 1 − = 1− = 0,268 = 26,8%
T1 373K
Resposta: O rendimento máximo é de 26,8%.

Exemplo 3: Calcular do trabalho total no ciclo de Carnot.

Resolução: O trabalho total realizado durante o ciclo é


W = W12 + W23 + W34 + W41

V2
Para os processos isotérmicos é valido: W12 = nRT1 ln e
V1

V4
W34 = nRT2 ln
V3
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 169

V2 V3 V
Considerando que = então W34 = − nRT2 ln 2
V1 V4 V1

Exemplos
nR(T1 − T2 )
Para os processos adiabáticos é válido: W23 = e
γ −1
nR(T2 − T1 )
W41 =
γ −1

Somando as 4 equações vê-se claramente que W23 e W41 desaparecem


ficando apenas W12 e W34 .

V2 V
Assim W = nRT1 ln − nRT2 ln 2 ou
V1 V1

V2
W = nR(T1 − T2 ) ln ...Trabalho total do gás realizado durante o ciclo
V1
de Carnot.

Exemplo 4: Um refrigerador tem o coeficiente de eficiência de 5,5. Que


trabalho é necessário para este refrigerador congelar 1 litro de água,
inicialmente a 10º C, em cubos de gelo a 0º C.

Resolução:

O coeficiente de eficiência calcula-se pela razão entre Q1 e W. Então,


Q2
resolvendo em ordem a W, teremos: W= , onde Q2 é a soma dos
COE
calores necessários para resfriar a água e para congelar.
Assim
Q2 Qaqu + Qcong mcΔT + mLcong 41,8kJ + 333,5kJ
W= = = = =
COE COE 5,5 5,5

Resposta: O trabalho necessário é de 68.2 kJ.


170

Exercícios

1. Entre dois reservatórios de calor de uma máquina de Carnot


(η=30%) existe uma diferença de temperatura ΔT= 140 K.
Calcule as temperaturas T1 (mais alta e T2 (mais baixa) dos
reservatórios.
Auto-avaliação
2. Uma máquina térmica funciona segundo o ciclo de Carnot. Em
cada ciclo ela fornece ao ambiente um trabalho igual a 1000 J. As
temperaturas das fontes quente e fria são 127º C e 27º C. Qual a
quantidade de calor fornecido pela fonte? Qual a quantidade de
calor recebido pela fonte fria?
3. Uma máquina frigorífica ideal que funciona segundo o ciclo
inverso de Carnot, realiza a cada ciclo um trabalho igual a 3,7.
104 J. A máquina durante o funcionamento toma calor dum corpo
cuja temperatura é de -10º C e cede ao outro corpo que tem uma
temperatura de 17º C. Determinar:
a) o rendimento do ciclo,
b) o calor que se toma do corpo frio a cada ciclo,
c) o calor cedido ao corpo quente,
4. Numa máquina térmica que funciona segundo o ciclo de Carnot,
a fonte quente tem a temperatura t2= 200º C. calcule a
temperatura da fonte fria, se ao receber da fonte quente a
quantidade de calor Q2= 1 J, a máquina realiza o trabalho W=
0,4J.

Feedback
1. T1= 466,7 K e T2= 326,7 K

2. Qq= 4000 J e Qf= 3000 J

3. a) η= 2,7; b) Qq= 1,37.104 J; c) Qf= -2,33.104 J

4. Tf= 120ºC
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 171

Lição nº 23

Processos reversíveis e
irreversíveis. 2ª Lei da
Termodinâmica

Introdução
A segunda lei da Termodinãmica apresenta várias formulações que
constituiem objecto de estudo nesta lição. Você deverá saber interpretá-
las e relacioná-las as características das máquinas térmicas. Para melhor
entender a essência de processos reverssíveis e irreverssíveis
recomendam-se leituras adiccionais de outras literaturas. Para concluir
esta lição você precisará de 1 h e 30 minutos de estudo.

Você poderá precisar de aproximadamente 2 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição, você será capaz de:

ƒ Caracterizar com base em exemplos concretos os processos


reversíveis e irreversíveis;

ƒ Formular a 2ª lei da Termidinâmica segundo os enunciados


Objectivos equivalentes de Claus, Kelvin e Carnot;

Processo reversível, processo irreversível, 2ª lei da Termodinâmica,


enunciados de Claus, Kelvin eCarnot,

Terminologia
172

Transformações termodinâmicas são processos que produzem alterações


em variáveis que definem o estado termodinâmico de um corpo ou
sistema. A reversibilidade ou não de uma transformação é uma
propriedade importante, que tem relação com a 2ª Lei da Termodinâmica.

Vejamos alguns exemplos de fenómenos que se classificam como


processos reversíveis:

1) O escoamento de um gás ideal num tubo com um


estrangulamento.Veja a figura a seguir.

Fig. 31: As características do


escoamento nos estados 1 e 3 são
as mesmas, de modo que se pode
cocnlui que o gás retorna por si
só ao estado inicial.

Naturalmente, é suposto que não há atrito nem trocas de calor através da


parede do tubo. Devido à redução de secção, o estado termodinâmico (ex:
pressão, velocidade) do gás em 2 é diferente do estado em 1. Passado o
estrangulamento, como no ponto 3 da figura, o estado termodinâmico é o
mesmo de 1, caracterizando a reversibilidade do processo.

2) Quando um processo de transformação ocorre muito lentamente,


podemos admitir que, em cada instante, o sistema se encontra muito
próximo do equilíbrio.

A transformação procede por passos infinitesimais, de modo que, em


cada instante, o sistema sofre apenas uma ligeira perturbação do seu
estado.Como exemplo de transformações irreversíveis, podem se
descrever os seguintes fenómenos:
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 173

1)Metade da caixa está ocupada por um gás e


na outra metade temos o vácuo. Se retirarmos a
separação, o gás se espalha e ocupa todo o
volume da caixa.

2) A troca de calor entre dois corpos com


temperaturas diferentes TA>TB.

Em (b) da figura ao lado os corpos são


colocados em contacto mútuo dentro de um
sistema isolado. Fig.33: O gás se expande
livremente para a segunda
Depois de algum tempo, a troca de calor metade da caixa.
termina e os corpos atingem uma temperatura
comum de equilíbrio TE (TA> TE> TB), conforme indicado em (c) da
figura.

Entretanto, conforme (d) da


figura, se os corpos são
afastados e fisicamente
dispostos na mesma situação
inicial (a), as suas temperaturas
não retornam espontaneamente
aos valores anteriores.

3) Copos que se quebram ao


cair no chão,

4) Pilhas de lanterna que se


descarregam,
Fig. 34: Exemplo de processo
5) Gelo que se derrete dentro irreversível
do jarra, etc.

O que todos esses processos têm em comum é que podem ocorrer em um


sentido mas não ocorrem, espontaneamente, no sentido oposto. Em
termos mais técnicos, eles são chamados de processos irreversíveis, pois
não revertem espontaneamente.

Processos práticos como estes não são ideais e, portanto, sempre têm
algum grau de irreversibilidade. Em geral, a irreversibilidade é atribuída
a:
• forças de atrito (sólidos e fluidos);
• transferências de calor com diferença finita de temperatura;
174

• expansão ou compressão rápida de um fluido;


• expansão livre de um fluido;- mistura espontânea de gases
diferentes etc..

Formulação da 2ª Lei ou 2º Princípio da Termodinâmica

Na lição anterior vimos que o ciclo de Carnot descreve uma situação em


que um motor reversível absorve uma quantidade de calor Q1 de um
reservatório a temperatura T1 e elimina uma quantidade de calor Q2 para
Q1 Q2
um reservatório a temperatura T2, o que implica que = . Nesta
T1 T2
relação T é a temperatura absoluta, medida em Kelvin e um reservatório
de calor é um sistema, como um lago, que é tão grande que a sua
temperatura não muda quando o calor envolvido no processo considerado
passa para dentro ou para fora do reservatório. O resultado de Carnot vale
para qualquer motor reversível. Qualquer motor real elimina mais
energia Q2 para um reservatório a T2 que um motor reversível.
Suponha que tenhamos um reservatório de água quente. Podemos tomar
uma quantidade de calor Q1 desse reservatório e convertê-lo em
trabalho? Somente se tivermos um lugar à temperatura mais baixa T2
onde possamos eliminar alguma parte do calor. Um motor não pode
realizar trabalho simplesmente removendo calor de um reservatório a
uma temperatura fixa.
Esta é uma maneira de se exprimir a segunda lei da Termodinâmica:
“Para converter calor em trabalho,
precisamos pelo menos de dois lugares com
temperaturas diferentes. Se tomarmos Q1 à
temperatura T1 devemos eliminar Q2 à
temperatura T2.”
A segunda lei da Termodinâmica tem sido
exprimida de muitas maneiras diferentes.
Sucintamente, se pode exprimir assim:
“É impossível construir um dispositivo que
opere, segundo um ciclo, e que não produza
outros efeitos, além da transferência de
calor de um corpo quente para um corpo
frio.”

Em outras palavras: Fig. 35: Parte do calor


absorvido é usada para
“É impossível a construção de um realização de trabalho e a
dispositivo que, por si só, isto é, sem outra é rejeitada para o
intervenção do meio exterior, consiga ambiente
transferir calor de um corpo para outro de
temperatura mais elevada.”

Enunciado de Clausius.
Deste enunciado, pode-se estabelecer a impossibilidade de "refrigerador
ideal". Assim, todo aparato refrigerador, para retirar calor de um
ambiente, produzirá mais calor externamente.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 175

“É impossível construir um dispositivo que opere num ciclo


termodinâmico e que não produza outros efeitos além do levantamento
de um peso e troca de calor com um único reservatório térmico.”

Em outras palavras:
“É impossível a construção de um dispositivo que, por si só, isto é, sem
intervenção do meio exterior, consiga transformar integralmente em
trabalho o calor absorvido de uma fonte a uma dada temperatura
uniforme.”

“É impossível haver transferência espontânea de calor de um objecto


frio para outro mais quente.”
Exemplificando, pode-se imaginar um automóvel movendo-se a 50 km/h.
Ele é subitamente travado. Toda a sua energia cinética será
eventualmente transformada em energia interna das pastilhas de travagem
(e outras fontes de atrito) que se aquecerão. Finalmente, uma certa
quantidade de calor será transferida para o meio ambiente. Entretanto, se
eu ceder esta mesma quantidade de calor ao automóvel (ou ao sistema de
travagem), ele nunca vai poder sair do lugar.

Enunciado de Kelvin-Planck.
Deste enunciado, tem-se como consequência a impossibilidade do "motor
ideal". Toda a máquina produzirá energia a ser utilizada com desperdício
de parte desta em calor a ser perdido.
“Para transformar calor em energia cinética, utiliza-se uma máquina
térmica, porém esta não é 100% eficiente na conversão.”
Alguns autores chamam tal
enunciado como "postulado"
de Kelvin e assim o
descrevem: Nenhum processo é
possível, onde o único
resultado é a absorção de
calor de um reservatório e sua
conversão completa em
trabalho.
Destas definições pode-se
associar também o enunciado
de Carnot: Para que uma
máquina térmica realize Fig 36: Máquina térmica ideal, em
trabalho são necessárias duas todo o calor absorvido é em 100%
fontes térmicas de diferentes transformado em trabalho mecânico
temperaturas.
176

Lição nº24

Entropia e a sua lei de


crescimento

Introdução

Caro estudante, nesta lição você deverá entender o sentido físico do

conceito entropia como mais uma grandeza que caracteriza um sistema

termodinâmico.

Você poderá precisar de aproximadamente 3 horas para estudar esta lição.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição, você será capaz de:

ƒ Explicar os conceitos de entropia e variação de entropia de um


sistema;

ƒ Calcular a entropia numa transformação reversível;


Objectivos
ƒ Formular a lei de crescimento da entropia;

entropia de um sistema, e variação da entropia, lei de crescimento da


entropia, entropia do universo

Terminologia

Até então servimo-nos das grandezas: Energia interna, Trabalho, Calor e


Temperatura para descrever processos em sistemas de muitas partículas,
que ocorrem com trocas de energia com outros sistemas.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 177

Vamos introduzir uma nova grandeza denominada entropia que é uma


variável de estado termodinâmico útil para a descrição de processos
térmicos.

A segunda lei da Termodinâmica por exemplo pode ser vista de forma


mais técnica através do conceito de entropia.

Suponhamos que um sistema, à temperatura T, absorve uma pequena


quantidade de calor dQ, durante uma transformação reversível
infinitesimal. Então a entropia do sistema é definida como a grandeza
cuja variação é calculada pela relação:

dQ
dS = ... Variação da entropia, onde: dS é a variação infinitesimal
T
da entropia de um corpo,
dQ é a quantidade infinitesimal de calor trocado com o corpo num
processo reversível e
T a temperatura absoluta do corpo.

• A variação dS é >0 se o processo é irreversível e o sistema


absorve calor dQ>0.
• A variação dS é <0 se o sistema ceder calor dQ<0.
• A variação dS é = 0 se o processo reversível for adiabático
(dQ=0).

Como já nos referimos anteriormente, a entropia está relacionada com o


2º Princípio Termodinâmico.

Consideremos o Ciclo de Carnot em que é válido escrever


Q2 T Q T Q Q
= − 2 , ou 1 = − 1 ou ainda 1 + 2 = 0 , onde T1 e
Q1 T1 Q2 T2 T1 T2
T2 são as temperaturas dos reservatórios quente e frio respectivamente

Se tivermos n reservatórios, teremos também n temperaturas Ti


(i=1,2,3,...,n)

Qi
Então será válido escrever: ∑T =0
i
178

Para diferenças infinitesimais de temperaturas entre as isotermas

Conclusão: Para um processo cíclico reversível, à temperatura T e


quantidade de calor infinitesimal dQ a variação da Entropia é igual a
zero.

dQ
podemos escrever: ∫ T =0
dQ
ΔS = ∫ dS = ∫ = 0 ... Variação da entropia num processo reversível.
T

Para um processo não cíclico, isto é, em que um sistema passa de um


estado para outro, por meio de uma transformação reversível, a variação
da entropia do sistema é:

2
dQ
ΔS = S 2 − S 1 = ∫
1
T

Unidades da Entropia: [S]= 1J.K-1

A entropia é uma grandeza que caracteriza o estado do sistema, como a


energia interna, a temperatura, etc, e é independente do processo como o
sistema atinge esse estado.

Por isso diz-se que a entropia é uma grandeza de estado.

Exemplo: Processo reversível

A variação de entropia ΔS é a
mesma tanto se o sistema execute
o processo reversível (a) ou (b),
porque em ambos os casos os
estados inicial e final coincidem.

Numa transformação adiabática


reversível dQ= 0, dS= 0 ou seja,
Fig. 37: Numa transformação
S= constante. reversível a variação de entropia
depende apenas dos estados inicial
e final.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 179

Conclusão: As transformações adiabáticas reversíveis ocorrem sem


variações de entropia e são por isso chamadas “isentrópicas”.

dQ
Da equação dS = , pode-se escrever dQ = T ⋅ dS , ou
T

2
Q = ∫ T ⋅ dS , onde Q é o
1

calor absorvido para passar do


estado 1 para o estado 2
através de uma transformação
reversível e o integral
depende da transformação do
sistema.

Representemos uma
transformação reversível
Fig. 38: Relação entre a temperatura
através de uma linha num e a variação da entropia de um
sistema numa transformação
diagrama em que as reversível
ordenadas correspondem à
Temperatura T e as abcissas à entropia S.

TdS será a área de uma faixa de largura dS, pelo que Q é igual à área sob
a curva que vai de S1 até S2.

Num ciclo, o calor líquido absorvido pelo sistema corresponde à área


interior do ciclo nas coordenadas (T, S).

Este calor é também igual ao trabalho realizado pelo sistema durante o


ciclo, uma vez que ΔU = 0 para qualquer ciclo.

2
Q = ∫ T ⋅ dS = Aint
1

(Aint ... área interior)


180

Entropia do Gás Ideal

Imaginemos um processo quase estático, reversível, arbitrário, em que o


sistema, um gás ideal, absorve uma certa quantidade de calor dQ.

Pela 1ª Lei da Termodinâmica: dQ = dU + dW = dU + pdV .

Para o caso do gás ideal pode-se escrever:

nRT
dU = CV dT e p=
V

dV
Então: dQ = CV dT + nRT .
V

dQ dT dV
Vamos dividir os dois membros por T: = CV + nR ou
T T V
dQ dT dV
dS = = CV + nR .
T T V

Vamos admitir, para simplificar, que CV= constante


T V
dQ 2
dT 2
dV
Então ΔS = ∫ T V T∫ T
=C + nR∫V V
1 2

T2 V
ou ΔS = CV ⋅ ln + nR ⋅ ln 2 ... Variação da entropia de gás ideal
T1 V1
numa transformação em que o sistema passa do estado inicial V1 e T1 para
o estado final V2 e T2.
→ ΔS na expansão isotérmica de um gás ideal

Numa expansão isotérmica T2 = T1

dQ V
Então: ΔS = ∫ T
=nR ⋅ ln 2
V1

Como V2 > V1 , a variação de entropia é ΔS > 0 .


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 181

Neste processo, uma quantidade de calor +Q sai de uma fonte térmica e


entra no gás. Esta quantidade de calor é igual ao trabalho feito pelo gás.

2 V2 dV V
Q = W = ∫ pdV = nRT ∫ = nRT ⋅ ln 2
1 V1 V V1

→ ΔS na expansão livre de um gás ideal

Na expansão livre não há realização de trabalho por parte do gás, pois o


outro recipiente está vazio e não há trocas de calor com o ambiente.

Fig.40: Quando se abre a válvula o gás se expande


livremente sem realização de trabalho.

Nestas condições a energia interna do gás não varia: U i = U f , assim


como Ti = T f .

Se o processo fosse reversível, como dQ é igual a zero, então dS seria


também igual a zero.

Porém, este processo não é reversível. É nenhum momento o sistema


voltará ao estado inicial.

V2
ΔS gás = nR ⋅ ln , o que coincide com ΔS numa expansão isotérmica.
V1

Como neste processo, as vizinhanças do gás não sofrem alterações,


podemos dizer que ΔS do gás, é igual a ΔS do universo.

V2
ΔSU = nR ⋅ ln Uma vez que V2 > V1 .
V1

ΔSU (no universo), neste processo irreversível, é positiva.

Conclusão: Num processo irreversível, a entropia do universo


aumenta.
182

Se o volume final na expansão livre fosse menor que o inicial, a entropia


do universo sofreria uma diminuição. Mas esta situação não acontece,

Conclusão: Em qualquer processo, a entropia do universo nunca


diminui.
portanto:

Calcular a entropia na expansão livre de 0,75 mol de um gás ideal de


V1= 1,5 L até V2= 3 L.

Resolução: A variação de entropia neste processo irreversível é


equivalente à variação de entropia num processo isotérmico de V1 até V2.
Exemplos No processo isotérmico, calcula-se primeiro Q= W e depois ΔS= Q/T.
Q W V
ΔS gás = = = nR ⋅ ln 2 = (0,75mol )(8,31J / mol.K ) ln 2 = 4,32 J /
T T V1

Resposta: A variação de entropia é de 4,32 J/K.

→ ΔS num processo isobárico

Quando uma substância é aquecida de T1 até T2, a pressão constante, o


calor absorvido dQ está relacionado com a variação de temperatura dT
por dQ = C p dT

Integrando de T1 até T2, calculamos a variação da entropia da substância:

2 T2 dT T
ΔS = C p ∫ pdV = nRT ∫ = C p ⋅ ln 2
1 T1 T T1

Esta equação se aplica a um resfriamento, em que T2< T1. Neste caso


ln(T2/ T1) é negativo o que resulta numa variação negativa de entropia.

Lei de Crescimento da Entropia

A lei de conservação de energia (1ª Lei da Termodinâmica) não é


suficiente para determinar os processos irreversíveis que podem ocorrer
no universo.

A maior parte dos processos são irreversíveis e ocorrem apenas num só


sentido e não no sentido oposto.

Exemplos:
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 183

1) O calor passa da temperatura mais elevada para a temperatura


mais baixa.
2) O gás vai de uma pressão mais elevada para uma pressão mais
baixa.
Quando todos os sistemas que participam num processo são tomados em
conta, de forma a constituírem um sistema isolado maior, teremos Qi
como calor absorvido ou cedido pela componente i à temperatura Ti.

Qi
A grandeza ∑T só será zero se o processo puder ser considerado
i
totalmente reversível.

Qi
Quando o processo ou parte deste é irreversível ∑Ti
é sempre maior
i
que zero.

Qi
Assim ∑Ti
> 0 ou ΔS = ∑ ΔS i ≥ 0 , onde ΔSi é a variação de
i
i
entropia de cada componente do processo.

Conclusão: Para processos num sistema isolado, cujos subsistemas


ou componentes trocam calor, a entropia total do sistema permanece
constante se os processos são reversíveis, e aumenta se os processos
são irreversíveis.

Esta afirmação constitui o 2º Princípio da Termodinâmica e determina


juntamente com o 1º Princípio (Lei de Conservação de Energia) os
processos que podem ocorrer num sistema isolado e, por extensão, no
universo.

Isto quer dizer que: “os


processos ocorrem
Fig. 41: Ciclo de Carnot num gráfico que apenas quando a
relaciona temperatura e entropia (T(S)). energia se
conserva e no
sentido em que a
entropia do sistema global aumenta ou permanece constante.”
184

O ciclo de Carnot num diagrama T(S) toma a seguinte forma:

Q1 Q2
ΔS ciclo = + = 0,
T1 T2

Q1 Q2
ΔS AB = e ΔS CD =
T1 T2

O trabalho W realizado pelo sistema durante o ciclo é:

W = Q = Arectângulo = (T1 − T2 ) ⋅ ( S 2 − S1 )

Por outro lado Q1 = T1 ⋅ ( S 2 − S1 )

W (T1 − T2 ) ⋅ ( S 2 − S1 )
Dividindo: = , teremos
Q1 T1 ⋅ ( S 2 − S1 )

W (T1 − T2 )
= = η ... Rendimento de uma máquina térmica.
Q1 T1

Exercícios
1. Determine o aumento da entropia S de 1 mole de gás ideal
monoatómico no processo reversível do do aquecimento
isobárico do gás desde 0 0 C até 273 0 C.
Auto-avaliação 2. Determine a variação ΔS da entropia na expansão isotérmica de
oxigénio de massa m = 10 g desde volume V1 = 25 litros até
V2 = 100 litros.
3. Determine a variação ΔS da entropia quando 6g de hidrogénio
que ocupa um volume de 20 litros à pressão de
1,5.10 5 Pa passam a ocupar o volume de 60 litros à pressão de
1.10 5 Pa.
4. 6,6g de oxigénio expandem-se por via isobárica até duplicar o
seu volume. Determine a variação da entropia nesta expansão.
5. 10g de oxigénio é aquecido desde t1 = 20 0 C até
t 2 = 150 C. determinar a variação da entropia se o aquecimento
0

é : a) isocórico; b) isobárico.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 185

Feedback
1.ΔS= 8,64 J/K

2. ΔS= 3,6 J/K

3. ΔS= 27,39 J/K

4. ΔS= 4,16 J/K

5. a) ΔS= 13,01 J/K e b) ΔS= 18,3 J/K


186

Lição nº 25

Entropia e Desordem. 3º Princípio


da Termodinâmica

Introdução
A lição número 25 destina-se ao estudo da relação entre a grandeza
entropia e o conceito de desordem como forma de sua manifestação. Para
facilitar a compreensão o fenómeno de desordem é analisado nesta lição
através de exemplos ilustrativos.

Você poderá precisar de aproximadamente 1:30 horas para estudar esta


lição.

Tempo de estudo

Ao completar esta lição, você será capaz de:

ƒ Estabeler a ligação entre a entropia, a desordem de um sistema e a 3ª


lei da Termodinâmica

Objectivos

Entropia, desordem, 3ª lei da Termodinâmica, Princípio de Nernst,


Temperatura absoluta e o zero absoluto, Constante de Boltzman.

Terminologia

A entropia está associada à desordem. Dizer que a entropia tende a


aumentar, equivale a dizer que a desordem do sistema tende a aumentar.

Exemplo:

1. Expansão livre: Consideremos uma expansão livre num


recipiente evacuado em que as moléculas de um gás que estavam
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 187

contidas na metade deste se espalham por todo ele. É lógico que


neste processo a desordem aumentou pois afirmar agora que “as
moléculas estão na caixa” é menos preciso que dizer que as
moléculas estão na metade A ou B da caixa. Dizemos assim que a
desordem ou a entropia aumentam.

2. Dois corpos A e B à temperaturas diferentes TA e TB alcançam


uma temperatura de equilíbrio TM quando colocados em contacto.
De novo o sistema tornou-se mais desordenado pois reduziu-se a
nossa capacidade de classificar as moléculas de A e B.
Passaremos a dizer que todas as moléculas do sistema composto
por A e B tem a temperatura T o que tem menos peso que dizer
“Todas as moléculas de A tem a temperatura TA e todas as
moléculas de B tem a temperatura TB”.

3. Mais um exemplo de um processo irreversível que é


completamente composto de eventos reversíveis. Considere duas
câmaras 1 e 2, separadas por uma parede. São atiradas 25 bolas
na câmara 1, cada uma com 5J de energia cinética. As bolas irão
colidir com as paredes da câmara, e entre elas. Se as paredes da
câmara forem perfeitamente duras, ou seja se as colisões forem
elásticas, então a energia cinética média das bolas na câmara 1
continuará a ser 5J, mesmo que algumas bolas ganhem e outras
percam energia nas colisões. Suponha que são atiradas outras 25
bolas na câmara 2, cada uma com 15 J de energia cinética. A
energia cinética média dessas bolas continuará a ser 15 J.
Enquanto as câmaras 1 e 2 estiverem separadas, as bolas serão
"quentes" na câmara 2, e "frias" na câmara 1. Se fizermos um
buraco na parede divisória para que as bolas possam passar de
um lado para outro, e esperarmos um tempo longo o suficiente, a
energia cinética média das bolas em cada lado será
aproximadamente 10 J. Existirão bolas quentes com energias
acima de 10 J, e bolas frias com energia abaixo de 10 J, em cada
lado da parede divisória, mas a média será 10 J.
A probabilidade de que as bolas quentes se agrupem numa das
câmaras e as frias noutra é praticamente nula, apesar de que não
impossível.

Existe um grande número de possibilidades de distribuição da


energia entre as bolas e todas elas igualmente possíveis. Por
exemplo é tão possível que cada bola tenha 10 J de energia
cinética, quanto um das bolas tenha 500 J e todas as outras
tenham 0 J.

Porém, existem muito mais formas de se distribuir a energia no


primeiro caso, e de modo que a energia cinética média seja
aproximadamente igual em ambas as câmaras, do que quando a
energia cinética é três vezes maior numa do que noutra.

Conclui-se com base neste exemplo que muito mais


possibilidades existem de se ter um sistema com uma distribuição
desordenada do que ter um sistema bem ordenado. A desordem é
mais provável do que ordem.
188

Fig.42: a) Identificação das moléculas nas câmaras 1 e 2


separadamente mais precisa do que em b) onde as moléculas
se misturam através da abertura na parede de separação.

Conclusão: A entropia como grandeza de estado fornece o grau de


desordem de um sistema.

Esta conclusão constitui o sentido físico do conceito entropia.

A quantidade de desordem corresponde ao número de vezes que um


sistema pode ser reordenado de modo que o ambiente externo veja o
sistema da mesma maneira. Foi observado que o logaritmo da quantidade
de número de reordenamentos é proporcional à entropia. Podemos definir
a entropia como o logaritmo da desordem vezes uma constante de
proporcionalidade. Quando mudamos a entropia de uma substância por
um valor ΔS = ΔQ T , mudamos a desordem da substância. A
entropia sempre aumenta, porque uma grande quantidade de desordem é,
por definição, mais provável do que se o sistema for ordenado.
Podemos assim verificar se a entropia de um sistema aumentou ou
diminui medindo as a transferência de calor para, ou de uma substância
ou decidindo se a desordem aumentou ou diminuiu.
Segundo a teoria cinético-molecular, a relação entre a entropia e a
desordem é definida quantitativamente pela equação de Boltzmann, que
interliga a entropia (S) e o parâmetro de desordem W .

Ludwig Boltzmann provou que a entropia termodinâmica S de um


sistema estava relacionada ao número W que representa a probabilidade
a probabilidade (termodinâmica) de um sistema permanecer no estado em
que se encontra relativamente à todos os outros estados possíveis de se
encontrar neles.

Então a expressão para a entropia é

S = k log W ,
onde a constante de proporcionalidade k é denominada constante de
Boltzmann.

A entropia aumenta quando calor passa de um objecto mais quente para


um objecto mais frio. Por exemplo quando o gelo derrete, a água é
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 189

aquecida, a água entra em ebulição, a água evapora, etc. Assim como


quando um gás passa de um recipiente sob alta pressão para outro de
pressão mais baixa, quando usamos um aerossol, ou tiramos ar de um
pneu.
Por outro lado a entropia diminui quando a água congela. Apesar de que a
2ª lei da Termodinâmica nos diz que a entropia total do universo sempre
aumenta, a entropia pode diminuir em algum lugar, desde que ela
aumente em algum outro lugar pelo menos da mesma quantidade. A
entropia de um sistema diminui somente quando ele interage com outro
sistema cuja entropia aumenta no processo.
Isto significa, portanto, que os processos naturais em sistemas fechados
tendem para uma entropia maior.

Dizer que a entropia total de um sistema fechado sempre aumenta é


uma outra maneira de expressar a 2ª lei da Termodinâmica.
"Todo sistema físico sempre evolui, espontaneamente, para situações
de máxima entropia."
ou
"Todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de
máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima."

3º Princípio Termodinâmico

O 3º Princípio da Termodinâmica também chamado teorema de Nernst


foi formulado entre 1906 – 1912 por Walter Nernst.

O 3º Princípio da Termodinâmica diz-nos a entropia de um sistema a uma


temperatura do zero absoluto é uma constante.

À temperatura do 0 (zero) absoluto, a entropia de todos os sistemas que


se encontram em equilíbrio, possui o valor zero independentemente do
valor das outras grandezas de estado ou da fase do estado.

Chama-se fase do estado de uma determinada substância à região em que


a substância se apresenta uniforme do ponto de vista das suas
propriedades físicas e químicas.

O 3º Princípio Termodinâmico diz-nos que é impossível, com


qualquer série de operações, reduzir a temperatura absoluta de um
sistema, até os 0 graus Kelvin.

Por outras palavras, o zero absoluto é impossível.

Propõe que na temperatura de ZERO ABSOLUTO, 0o Kelvin, que


equivale a cerca de -273,15o Centígrados no sistema Celsius, o estado de
agitação molecular, a Entropia, tende a Zero, o que significa que a ordem
molecular é máxima e energia é mínima.
190

Importa porém referir que essa temperatura não se verifica na natureza e


jamais se conseguiu atingi-la mesmo em laboratório.

Sumário
Resumo da Unidade

Assunto Definições e Equações importantes

Rendimento de uma Uma máquina que absorve Qq unidades de


máquina térmica calor de um reservatório quente e efectua W
unidades de trabalho e descarrega Qf unidades
de calor de um reservatório frio, tem como
rendimento

W Q
n= = 1− 2
Q1 Q1

Coeficiente de Q2
COE =
Eficiência de um Wt
refrigerador

A máquina de Carnot é uma máquina


Máquina de Carnot.
reversível ideal que opera em ciclo entre dois
reservatórios de calor.

Ciclo de Carnot e seu


1. Expansão isotérmica quase-estática
rendimento
com absorção de calor na temperatura
T1.
2. Expansão adibática quase-estática.
3. Expansão isotérmica quase-estática
com rejeição de calor na temperatura
T2.
4. Expansão adibática quase-estática
com retorno ao estado inicial.
Q2 T2
ηc = 1 − = 1−
Q1 T1
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 191

Processos reversíveis e São processos reversíveis aqueles que ocorrem


irreversíveis nas seguintes condições:

1. Ausência de trabalho de atrito, de


forças viscosas ou de outras forças
dissipativas que produzem calor.
2. As trocas de calor só se fazem
isotermicamente.
3. O processo é quase-estático, de modo
que o sistema evolui sempre em
estado de equilíbrio (ou em estado
infinitesimalmente próximo do estado
de equilíbrio.

Processos irreversíveis podem ocorrer em um


sentido mas não ocorrem, espontaneamente,
no sentido oposto.

A 2ª Lei da Kelvin: “É impossível construir um


Termodimâmica e os dispositivo que opere, segundo um ciclo, e que
seus enunciados não produza outros efeitos, além da
equivalentes. transferência de calor de um corpo quente
para um corpo frio.”

Clausius: “É impossível a construção de um


dispositivo que, por si só, isto é, sem
intervenção do meio exterior, consiga
transformar integralmente em trabalho o
calor absorvido de uma fonte a uma dada
temperatura uniforme.”

“É impossível haver transferência espontânea


de calor de um objecto frio para outro mais
quente.”

Enunciado da Entropia: “Em qualquer


processo, a entropia do universo (sistema
mais a a vizinhança) tende sempre a
aumentar”.
192

Entropia A Entropia é medida da desordem de um


sistema. A diferença de entropia entre dosi
estados vizinhos é calculada pela expressão

dQ
dS =
T

A variação de entropia do sistema pode ser


positiva o negativa.

3º Princípio O 3º Princípio Termodinâmico diz-nos que é


Termodinâmico impossível, com qualquer série de operações,
reduzir a temperatura absoluta de um sistema,
até os 0 graus Kelvin.

Por outras palavras, o zero absoluto é


impossível.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 193

Unidade 6

Gases Reais e Mudanças de fase

Introdução
As características dos gases ideais que estudamos nas unidades anteriores
correspondem ao comportamentos da maioria dos gases existentes na
natureza quando submetidos a altas temperaturas e baixas pressões. O
estudo das características dos gases reais nas condições normais de
temperatura e pressão constitui o objectivo desta última unidade do
presente módulo. Nesta unidade você vai especialmente conhecer a
equação de estado dos gases reais, assim como debruçar-se sobre os
processos de mudanças de fase.

Esta unidade comporta apenas 3 lições. O seu estudo deverá durar cerca
de 10 horas.

Tempo de estudo

Ao completer esta unidade, você será capaz de:

ƒ Descrever as características do modelo gás real e difefrenciá-lo do


modelo gás ideal;

ƒ Escrever e interpretar a equação de estado do gás real ou equação de


Objectivos Van der Waals;

ƒ Representar e explicar o gráfico p(V) para o modelo do gás real;

ƒ Explicar o significado dos pontos crítico e triplo;

ƒ Aplicar a equação de estado do modelo do gás real na resolução de


problemas;

ƒ Explicar o funcionamento do dispositivo de Joule – Thomson para a


liquefação dos gases;

ƒ Interpetar o sentido da grandeza entalpia e determinar a entalpia de um


sistema;

ƒ Descrever e explicar o funcionamentodo dispositivo de Carl von


194

Linden para a liquefacção dos gases;

ƒ Explicar os processos de mudanças de estado de uma substância a


partir do diagrama p(T) de fases.

gás real ou modelo do gás de Van der Waals, equação de estado do gases
reais, constantes de Van der Waals, isotermas, ponto crítico, ponto tríplo,
pressão crítica, temperatura crítica, volume crítico, liquefacção dos gases,
efeito Joule-Thomson, coeficiente de Joule-Thomson, Carl von Linden,
temperatura de inversão, entalpia, variação da entalpia, estado sólido,
Terminologia
estado líquido e estado gasoso, mudanças de fase, curva de
evaporação,curva de sublimação, curva de solidificação,.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 195

Lição nº 26

Gases reais e suas características

Introdução
Sabemos que a temperaturas elevadas e a baixas pressões podemos tomar
qualquer gás como um gás ideal. O gás ideal é apenas um modelo do gás
real nessas condições. Nesta lição pretende analisar o comportamento dos
gases nas condições normais de pressão e temperatura.

Esta lição tem a duração de 2 horas.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição sobre as características do gases reais, você será


capaz de:

ƒ Descrever as características do modelo gás real e diferenciá-lo do


modelo gás ideal;

ƒ Esvrever e interpretar a equação de estado do gás real ou equação de


Objectivos Van der Waals;

ƒ Representar e explicar o gráfico p(V) para o modelo do gás real;

gás real ou modelo do gás de Van der Waals, equação de estado do gases
reais, constantes de Van der Waals, isotermas, ponto crítico, ponto tríplo,
pressão crítica, temperatura crítica, volume crítico,

Terminologia

Contrariamente ao modelo gás ideal, o gás real apresenta as seguintes


características:
196

1) As partículas já não são consideradas como pontos materiais mas


sim como pequenas esferas de diâmetro d;
2) As partículas possuem volume próprio;
3) Entre as moléculas do gás actuam forças de interacção;
4) A energia interna U do gás não depende só da temperatura, mas
do volume do gás.
A maior parte dos gases em condições de alta temperatura e baixa pressão
se comportam como um gás ideal.

O limite desse comportamento surge quando a temperatura é


suficientemente baixa ou a pressão suficientemente alta.

Todos os gases à uma dada pressão e volume podem se liquefazer quando


a temperatura baixa até um determinado valor. Este fenómeno já não é
reflectido (não é válido) na equação de estado do gás ideal e isso pode se
verificar na própria equação. Se para p≠ 0 a temperatura baixar até T=
0K, então segue-se V= 0, o que na realidade não é possível, pois todos os
Exemplo
gases são constituídos por moléculas ou átomos e ocupam um certo
volume.

Equação de estado do gás real – Equação de Van der Waals

A equação de estado que se ajusta às características do gás real, isto é,


que descreve o comportamento dos gases reais à qualquer temperaturas e
pressão foi desenvolvida por Johannes Diderick Van der Waals (1837 -
1923).

Ele reconheceu que devido às características essenciais dos gases reais


(especialmente a existência de forças intermoleculares e o volume próprio
das moléculas), a equação do estado do gás ideal devia ser corrigida,
introduzindo duas constantes a>0 e b>0 cujos valores dependem da
substância.

Estas constantes ficaram também conhecidas como constantes de Van der


Waals e são determinadas experimentalmente para cada gás.

A equação de estado para o gás real tomou assim a seguinte forma:

⎛ ⎞
⎜p+ a ⎟ ⋅ (V − b ) = RT ,
⎜ Vμ
2 ⎟ μ
⎝ ⎠

⎛ an 2 ⎞
onde Vμ é o volume molar, ou ⎜⎜ p + ⎟ ⋅ (V − nb ) = nRT ,
⎝ V 2 ⎟⎠

onde n é o número de moles.


Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 197

O termo (V − nb ) significa que ao volume ocupado pelo gás é subtraído


o volume próprio das moléculas, sendo b uma constante proporcional ao
volume das moléculas.

A equação de estado para o gás real, equação de Van der Waals descreve
o comportamento de muitos gases reais sobre um grande intervalo de
temperatura, de maneira mais exacta que a equação de estado dos gases
ideais.

Unidades de b: [b]
(cm ) 3 2

mol

⎛ an 2 ⎞
O termo ⎜⎜ p + 2 ⎟⎟ surge por se ter em consideração as forças
⎝ V ⎠
intermoleculares de atracção que reduzem a pressão do gás sobre as
paredes do recipiente.

Estas forças variam com o quadrado do número de partículas por unidade


de volume ou com o inverso do quadrado do volume por mole.

Unidade de a: [a]= 1
(cm ) 3 2
⋅ atm
mol 2

As moléculas no interior do gás sofrem


interacção em todas as direcções e sentidos de
modo que a resultante dessas forças se anula.
Porém nas paredes as moléculas são puxadas
para dentro pois as forças de interacção se
fazem sentir apenas de um lado. Isto contribui
para o aumento da pressão no interior do gás,
reduzindo-se nas paredes do recipiente.

Então, da equação de estado do gás ideal:


pV = nRT , vamos substituir V por V − nb . Fig. 43: No interior do
gás as forças
intermoleculares
Obtemos então p (V − nb ) = nRT , ou exercem-se em todas
as direcções.
nRT
p= .
(V − nb )
an 2
À esta pressão vamos subtrair .
V2

nRT an 2 an 2 nRT
p= − 2 ; p+ = ou
(V − nb ) V V 2
(V − nb )
⎛ an 2 ⎞
⎜⎜ p + 2 ⎟⎟ ⋅ (V − nb ) = nRT ... equação de estado do gás real.
⎝ V ⎠
198

Conclusão: A equação de estado do gás ideal é um caso particular em


que a=0 e b=0.

Calcular a) o volume de 1 mol de vapor de água, a 100ºC 1 1 atm de


pressão, admitindo que seja um gás ideal, b) a temperatura que o vapor
terá, ocupando o volume calculado na alínea anteior a 1 atm, admitindo
que obedeça à equação de van der Waals, com a= 0,55 Pam6 e b= 30 cm2.
Exemplos

Feedback
a) V= 3,09.10-2 m3

b) T= 373,6 K

A representação gráfica das isotermas de Van der Waals em P(V) resulta


nos seguintes gráficos:

Fig.44: Isotermas de um gás real. Quanto mais


se vai subinda o gás ganhando características de
um gás iseal.

O gráfico da figura …. mostra que com a diminuição da temperatura as


isotermas se diferenciam cada vez mais das do gás ideal.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 199

Para todas as temperaturas Ti<Tcr as isotermas apresentam um máximo e


um mínimo, o que quer dizer que existe uma região na qual a redução do
volume do gás origina uma queda de pressão, o que estaria representando
uma contradição clara com a experiência. Pois, a experiência mostra que
a redução do volume à temperatura constante origina sempre um aumento
da pressão.

Na realidade o que acontece é o que está representado no gráfico da


figura …..

No ponto P1 o gás começa a liquefazer-se. Até a liquefacção total do gás


a isoterma do gás real é

paralela ao eixo dos volumes. O ponto P2 representa o fim da liquefacção


de todo o gás.

Continuando a reduzir o volume, acontece que, a partir de P2, surge um


crescimento rápido da pressão, sabido que é, que os líquidos não se
deixam comprimir.

Os pontos P1 e P2 de todas as isotermas Ti<Tcr ficam situados dentro da


linha tracejada que delimita a área na qual a condensação é possível.

A área por baixo da linha tracejada representa o trabalho de liquefacção


do gás.

Para Ti>Tcr as isotermas de Van der Waals aproximam-se cada vez mais
às isotermas do gás ideal. Por isso todo o gás real à temperaturas
superiores à sua temperatura crítica, pode ser descrito por aproximação
através da equação de estado do gás ideal.

Fig. 45: Gráfico p(V) de um gás real.


200

Conclusão: Para cada gás existe uma temperatura crítica Tcr acima da
qual mesmo que as pressões sejam tão elevadas, a liquefacção
(condensação) do gás é impossível.

A isoterma da temperatura crítica (gráfico B) é caracterizada pelo facto

de que os pontos P1 e P2 do segmento P1 P2 coincidem num mesmo


ponto onde a tangente à curva é paralela ao eixo dos volumes.

À este ponto dá-se o nome de “Ponto Crítico”.

Ao ponto crítico pertencem: o valor da pressão crítica Pcr, e do volume


crítico Vcr.

Os valores críticos de cada gás real podem ser determinados com ajuda
das constantes a e b do gás.

8a a 1
Tcr = ; p cr = ; Vcr = 3nb ; ρ cr =
27 Rb 27b 2 3b
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 201

Lição nº 27

Liquefacção dos gases. Efeito de


Joule - Thomson

Introdução
Esta lição aborda o processo de liquefacção dos gases com base na
experiência de Joule-Thomposon e do dispositivo de Carl von Linden.

Você poderá precisar de 2 horas para o estudo desta lição.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição, você será capaz de:

ƒ Explicar o funcionamento do dispositivo de Joule – Thomson para a


liquefação dos gases;

ƒ Interpetar o sentido da grandeza entalpia e determinar a entalpia de um


Objectivos sistema;

ƒ Descrever e explicar o funcionamentodo dispositivo de Carl von


Linden para a liquefacção dos gases;

liquefacção dos gases, efeito Joule-Thomson, coeficiente de Joule-


Thomson, entalpia, variação da entalpia, temperatura de inversão, Carl
von Linden.

Terminologia

A liquefacção dos gases foi inicialmente pesquisada por Joule na sua


experiência conhecida como experiência de Joule.

A experiência consistia no seguinte:


202

No recipiente A foi
introduzido ar seco,
enquanto que no recipiente
B foi criado um vácuo. Os
dois recipientes foram
introduzidos num banho.

Abrindo a válvula V o ar se
expandia livremente de A
para B e se esperava até
que se estabelecesse um
equilíbrio entre os dois.

Com ajuda de um
termómetro media-se a
temperatura da água antes e Fig.46: Experiência de Joule-Thomson para
depois da expansão do gás. a liquefacção dos gases

Nesta experiência Joule não pôde registar a variação da temperatura na


água de modo que concluiu que “Expandindo livremente um gás sem que
haja realização de trabalho, não ocorre variação de temperatura”.

Não há variação da energia interna do gás, pois nenhum trabalho foi


realizado, nem pelo gás nem sobre ele, assim como não houve troca de
calor com a água no recipiente exterior.

Portanto dU = 0 , assim como dT = 0 .

Joule concluiu assim que a energia interna deve depender somente da


temperatura e não do volume.

A experiência de Joule foi melhorada mais tarde em colaboração com


William Thomson.

Enquanto que na experiência de Joule fora usada uma válvula para deixar
o ar passar para o recipiente B, nas novas experiências fora usada uma
parede porosa a separar os dois recipientes, com o objectivo de reduzir o
fluxo do ar do recipiente A com alta pressão para o C de baixa pressão.

Deste modo, quando o gás emerge em C já alcançou o equilíbrio e a sua


temperatura pode ser directamente medida.

O sistema inteiro está termicamente isolado de modo que o processo é


adiabático e Q= 0 no processo adiabático de expansão há uma queda de
temperatura.

Suponhamos que a pressão inicial em A seja p1, a pressão final em C seja


p2 e os volumes dos gases à essas pressões sejam V1 e V2.

O trabalho feito sobre o gás, forçando-o através da parede porosa é então


p1V1 e o trabalho feito pelo gás na expansão para o outro lado é p2V2.
Logo o trabalho resultante feito sobre o gás é

W = p1V1 − p 2V2 .
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 203

Do primeiro princípio termodinâmico, encontramos que


ΔU = U 2 − U 1 = Q + W

Sendo Q = 0 , então U 2 − U 1 = W = p1V1 − p 2V2 ou

U 2 + p 2V2 = U 1 + p1V1

Assim as somas U + pV representam uma função de estado chamada


Entalpia (H).

Assim H 2 = H 1 ... o efeito Joule-Thomson ocorre à entalpia constante.

Donde H = U + pV ... entalpia

A Entalpia é uma função de estado cuja variação é igual à quantidade de


calor obtida pelo sistema no processo isobárico.

Sabemos que o trabalho termodinâmico infinitesimal é dado por


dW = pdV .

No processo isobárico, onde p=const , podemos escrever dW = d ( pV ) .

Substituindo dW na equação do primeiro princípio termodinâmico


( dU = dQ − dW ) teremos dU = dQ − d ( pV ) ou seja
dQ = d (U + pV )
1424 3
dQ = dU + d ( pV ) onde H ; dQ = dH .

Consideremos um coeficiente µ chamado coeficiente de Joule-


Thomson, definido como a razão entre a variação de temperatura e a
variação da pressão à entalpia constante.

⎛ ∂T ⎞
μ = ⎜⎜ ⎟⎟
⎝ ∂p ⎠ H

Esta quantidade µ é medida directamente da variação de temperatura ∆T


do gás, quando sofre uma queda de pressão ∆p através da parede porosa.

O coeficiente µ pode ser positivo ou negativo conforme as características


do gás.

Quando µ>0 significa que o gás arrefece na expansão.

Quando µ<0 significa que o gás aquece na expansão.

A maioria dos gases à temperatura ambiente fica resfriada durante a


expansão de Joule-Thomson.
204

Se o Hidrogénio for expandido à uma temperatura inicial de superior a


193K ele aquece. Mas se for primeiro resfriado abaixo de 193K e depois
expandido então é possível resfriá-lo pelo efeito Joule-Thomson.

A temperatura de 193K (=-80.15ºC) para o hidrogénio corresponde a µ=0


Exemplos
e é chamada temperatura de inversão de Joule-Thomson para o
hidrogénio.

Para o Hélio, por exemplo, Tinv = 38 K = −235,15º C .

A temperatura de inversão é uma temperatura que estabelece o limite


quanto ao comportamento do gás na expansão de Joule-Thomson.

Para o ar, o oxigénio (O2), o nitrogénio (N2) e o dióxido de carbono


(CO2), a temperatura de inversão é superior à temperatura ambiente.

Conclusão: Na expansão de Joule-Thomson um gás real aquece


quando a sua temperatura se situa acima da temperatura de inversão e
arrefece se a sua temperatura se situa abaixo da temperatura de
inversão.

A figura … mostra um dispositivo melhorado para a liquefacção dos


gases, baseado no efeito de Joule-Thomson, construído por Carl von
Linde (1842 - 1934) em 1895.

Funcionamento do dispositivo:

• O compressor C
comprime o ar ao
longo do primeiro
tubo até cerca de
50~200atm.
• Ao atingir o
estrangulamento D o
ar se expande
passando para o
balão.
• O ar já esfriado em
cerca de 20-40ºC
volta a ser aspirado
pelo compressor
através do canal 2.
• No seu caminho
para o compressor
este ar arrefecido
Fig.47: Liquidificador de Carl von
por sua vez arrefece Linde
o ar comprimido no
canal 1.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 205

• O ar no canal 2 volta a ser comprimido e enviado pelo canal 1


para o estrangulamento, onde ao se expandir volta a resfriar, e
assim sucessivamente.
A repetição deste processo permite que se atinja a temperatura de
liquefacção do ar (Tar≈83K para a pressão p=760Torricelli).
206

Lição nº 28

Mudanças de Fase. Diagrama de


Fase

Introdução
A lição 28 é a última deste módulo. Nela você vai rever e aprofundar o
que sem duvida já sabe das classes anteriores sobre os estados físicos da
matéria. É do seu conhecimento que as substâncias podem se apresentar
em três estados diferentes dependendo da temperatura e pressão a que se
encontrem submetidas.

Esta lição tem a duração de 1 hora.

Tempo de estudo

Ao completer esta lição, você será capaz de:

ƒ Explicar os processos de mudanças de estado de uma substância a


partir do diagrama p(T) de fases.

ƒ Representar o diagrama p(T) para a água;


Objectivos

Ponto tríplo, fase de estado, estado sólido, estado líquido e estado gasoso,
mudanças de fase, curva de evaporação,curva de sublimação, curva de
solidificação,.

Terminologia
Falar de fase de estado é mesmo que falar de estado físico da matéria.

Um volume de ar, duplo de Whisky ou um cubo de gelo, constituem cada


um, uma dada fase de substância.

Sob determinadas condições uma substância pode sofrer uma mudança de


fase.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 207

Consideremos uma massa de água contida num frasco hermeticamente


fechado. A curva OC é a curva da pressão do vapor de água em relação à
temperatura.

Fig.48: Diagrama P(T) de fases da água

Aquecendo o frasco com água, produz-se neste vapor de água cuja


densidade vai aumentando com o aquecimento, diminuindo em
simultâneo a densidade da água.

No ponto C as duas densidades se igualam. À este ponto dá-se o nome de


ponto crítico. No ponto crítico e acima deste deixa de haver distinção
entre líquido e gás. À temperaturas mais altas que a temperatura do ponto
crítico o gás não se liquefaz mais seja qual for a pressão.

Esfriando o frasco fechado, o vapor se condensa no líquido, passando


pelos pontos da curva OC até se atingir o ponto O.

O ponto O é chamado ponto triplo. O ponto triplo, é o ponto onde


coexistem em equilíbrio os estados sólido, líquido e gasoso de uma
substância.

Toda a substância tem um único ponto triplo numa certa temperatura e


pressão.

À temperaturas e pressões abaixo do ponto triplo, o líquido já não pode


coexistir em equilíbrio com os outros 2 estados. A curva AO é a curva da
pressão em relação a temperatura do sólido em equilíbrio com o vapor.

A passagem directa do estado sólido para vapor chama-se sublimação.

A curva OB é a curva de fusão, que separa a região da fase sólida da


região do líquido. Para o caso da água, a curva de fusão mostra-se
208

inclinada para esquerda, o que significa que a sua temperatura de fusão


diminui com o aumento da pressão.

Porém, para a maioria das substâncias a temperatura de fusão cresce com


aumento da pressão e a curva OB ganha uma inclinação para a direita. A
curva de fusão não tem um limite.

À pressões menores que a pressão do ponto triplo, a água só se pode


encontrar nos estados sólido ou gasoso. Nesta condição o gelo não pode
ser liquefeito por aumento de temperatura.

Sumário
Assunto Definições e Equações importantes

Modelo do gás real ou


gás de Van der Waals • As partículas já não são consideradas
como pontos materiais mas sim como
pequenas esferas de diâmetro d;
• As partículas possuem volume próprio;
• Entre as moléculas do gás actuam
forças de interacção;
• A energia interna U do gás não depende
só da temperatura, mas do volume do
gás.
A equação de estado de Van der Waals descreve
Euação de Estado de
o comportamento dos gases reais sobre o
Van der Waals
intervalo amplo de temperaturas e de pressões,
levando em conta o espaço ocupado pelas
moléculas do gás e também as interacções
intermoleculares.

⎛ an 2 ⎞
⎜⎜ p + 2 ⎟⎟ ⋅ (V − nb ) = nRT
⎝ V ⎠

Ponto tríplo Ponto tríplo é o ponto único, definido por certa


temperatura e certa pressão, em que fases
gasosa, líquida e sólida de uma substância
coexistem em equilíbrio.
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 209

Exercícios

1. Calcule o trabalho feito por um gás de Van Der Waals:


( p + an 2 / V 2 )(V − nb) = nRT , durante uma expansão isotérmica de
Auto-avaliação V1 a V2 .

2. A partir da equação de estado de um mole de um gás de van Der


Waals, deduzir a fórmula analítica para a entropia do gás
(C v = cons tan te).

3. Um contentor de volume V = 2m 3 contém o gás real oxigéniode


massa a m = 4 Kg a uma temperatura t = 29 0 C . Qual será a sua
pressão? Como variará a sua pressão, se por aquecimento a sua
temperatura duplicar a volume constante. Considere a = 0,031 / mol e
b = 1,3512 atm / mol 2 . dê as unidades de pressão em atm.
4. Através de aquecimento um gás real varia a sua temperatura,
aumentando de t1 até t 2. Neste processo, a pressão interna de influência
mútua das moléculas faz variar o volume do gás de V1 até V2 . Calcule
a variação da energia interna do gás.

Feedback
⎛ V2 − nb ⎞ ⎛V ⎞
1. W = nRT ln⎜⎜ ⎟⎟ − an 2 ln⎜⎜ 2 ⎟⎟
⎝ V1 − nb ⎠ ⎝ V1 ⎠

⎛P ⎞
2. ΔS = C v ln an 2 ln⎜⎜ ⎟⎟
⎝ P0 ⎠

3.p≅ 0,2.10-2 atm

3 ⎡P ⎛1 1 ⎞ 2 ⎛ 1 1 ⎞⎤
4. ΔU = ⎢ (V2 − V1 ) + an⎜⎜ − ⎟⎟ + an b⎜⎜ 2 − 2 ⎟⎟⎥
2 R ⎢⎣ n ⎝ V1 V2 ⎠ ⎝ V2 V1 ⎠⎥⎦
210

Bibliografia

− TIPLER, P. A; Física Mecânica, Oscilações e Ondas


Termodinâmica – Volume 1 4ª Edição, LTC Editora; Rio de Janeiro
RJ 2000
Leitura
− BUECHE, F. e HECHT, E; Física Nona Edição, McGraw-Hill;
Lisboa 2001

− CENGEL, Y. e BOLES, M. Termodinâmica, Quinta Edição,


McGraw-HillS. Paulo 2007

− HALLIDAY, R. e RESNICK, R.; Physics Parts 1 and 2, Third


Edition, John Wiley & Sons, New York 1960
Termodinâmica e Física Molecular: 2a Lei da Termodinâmica 211

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