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Química Geral

Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia

Universidade Pedagógica
Departamento de Química
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deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus Autores.

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Agradecimentos
À COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilização do Template usado na
produção dos Módulos.

Ao Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) pela orientação e apoio prestados.

Ao Magnífico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado


em todo o processo.
Ficha Técnica
Autor: Filomeno Inroga e Malaquias Tsambe

Desenho instrucional: Nilsa Pondja Cherinda

Revisão Linguística: Alice Sengo

Maquetização : Aurélio Armando Pires Ribeiro

Ilustração: Valdinácio Florêncio Paulo


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia i

Índice
Visão geral 1
Bem-vindo ao Módulo de Química Geral......................................................................... 1
Objectivos do Módulo ...................................................................................................... 1
Quem deve estudar este Módulo ....................................................................................... 2
Como está estruturado este Módulo.................................................................................. 2
Ícones de actividade .......................................................................................................... 3
Acerca dos ícones .......................................................................................... 3
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5
Auto-avaliação .................................................................................................................. 5
Avaliação .......................................................................................................................... 5
Tempo de estudo e outras actividades .............................................................................. 5

Unidade 1 7
Teoria Atómica e Estrutura da Matéria............................................................................. 7
Introdução ................................................................................................................ 7

Lição no 1 8
História da teoria atómica ................................................................................................. 8
Introdução ................................................................................................................ 8
Teoria atómica clássica .................................................................................. 8
Teoria atómica moderna ................................................................................ 9
A constituição do átomo .............................................................................. 12

A=P+Z 14
Números Quânticos...................................................................................... 15
Regras de Hund (ou princípio de máxima multiplicidade) .......................... 16
Princípio de exclusão de Pauli ..................................................................... 16
Regra de energia mínima ............................................................................. 16
Auto-avaliação ................................................................................................................ 18

Lição no 2 19
Sistema periódico dos elementos .................................................................................... 19
Introdução .............................................................................................................. 19
História da tabela periódica ......................................................................... 19
Auto-avaliação ................................................................................................................ 26

Lição no 3 27
Propriedades do Sistema Periódico dos Elementos ........................................................ 27
Introdução .............................................................................................................. 27
Variação das propriedades periódicas.......................................................... 28
ii Índice

Auto-avaliação ................................................................................................................ 32

Lição no 4 33
Ligação química. Ligação Iónica. Ligação Metálica. ..................................................... 33
Introdução .............................................................................................................. 33
O que é uma Ligação química? .................................................................... 34
Parâmetros que caracterizam a ligação química (distância, ângulo, energia
de ligação) .................................................................................................... 34
Tipos de ligação química ............................................................................. 34
Ligação iónica .............................................................................................. 36
Ligação metálica .......................................................................................... 38
Auto-avaliação ................................................................................................................ 40

Lição no 5 41
Ligação covalente. Teorias Sobre Ligação Química. ..................................................... 41
Introdução .............................................................................................................. 41
Parâmetros que caracterizam a ligação química .......................................... 41
Electronegatividade dos átomos .................................................................. 42
Ligação Covalente ou Atómica.................................................................... 42
Polaridade das moléculas Covalentes .......................................................... 44
Teorias sobre ligação química ..................................................................... 46
a) Teoria de Ligação de valência (TEV) ...................................................... 46
b) Hibridização............................................................................................. 47
c) Teoria das Orbitais Moleculares (OM) .................................................... 47
Que propriedades apresentam as substâncias com ligação covalente? ........ 48
Auto-avaliação ................................................................................................................ 49
Resumo ........................................................................................................................... 50
Bibliografia ..................................................................................................................... 51
Respostas dos exercícios ................................................................................................. 51

Unidade 2 53
Termodinâmica (Termoquímica) .................................................................................... 53
Introdução .............................................................................................................. 53

Lição no 1 55
Conceito de Sistema........................................................................................................ 55
Introdução .............................................................................................................. 55
O que é um Sistema?.................................................................................... 55
O Estado de um sistema ............................................................................... 57
Equação de estado ........................................................................................ 57
Auto-avaliação ................................................................................................................ 58

Lição no 2 59
Energia, Trabalho e Calor ............................................................................................... 59
Introdução .............................................................................................................. 59
Quais as diferenças entre energia, trabalho e calor? .................................... 59
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Auto-avaliação ................................................................................................................ 65

Lição no 3 66
Termodinâmica. Introdução às Funções e Variáveis de Estado ..................................... 66
Introdução ....................................................................................................................... 66
Auto-avaliação ................................................................................................................ 69

Lição no 4 70
Funções e Variáveis de Estado. Entalpia, Entropia e Energia de Gibbs. Lei de Hess. ... 70
Introdução ....................................................................................................................... 70
Entalpia (H).................................................................................................. 70
Auto-avaliação ................................................................................................................ 79

Lição no 5 80
TIPOS DE RECÇÕES TERMOQUÍMICAS ................................................................. 80
Introdução ....................................................................................................................... 80
Auto-avaliação ................................................................................................................ 84
Resumo ........................................................................................................................... 85
Bibliografia ..................................................................................................................... 86
Respostas dos exercícios ................................................................................................. 86

Unidade 3 88
Cinética e Equilíbrio Químico ........................................................................................ 88
Introdução .............................................................................................................. 88

Lição no 1 89
Cinética Química. Conceito de Velocidade de uma Reacção Química .......................... 89
Introdução .............................................................................................................. 89
A cinética química ....................................................................................... 89
O Conceito de velocidade da reacção .......................................................... 90
Auto-avaliação ................................................................................................................ 97

Lição no 2 98
Factores Que Influenciam a Velocidade das Reacções Químicas .................................. 98
Auto-avaliação .............................................................................................................. 104

Lição no 3 105
Reacções Reversíveis. Equilíbrio Químico .................................................................. 105
Introdução ............................................................................................................ 105
Noções de equilíbrio químico. Sistema fechado e aberto. .................................. 106
Tipos de sistemas ....................................................................................... 106
Reacção irreversível – é o tipo de reacção química que ocorre num único
sentido. Os reagentes transformam-se totalmente em produtos................. 107
Deslocamento de equilíbrio químico e o princípio de Le Chatellier ......... 110
iv Índice

Auto-avaliação .............................................................................................................. 112


Resumo ......................................................................................................................... 113
Bibliografia ................................................................................................................... 114
Respostas dos exercícios ............................................................................................... 114

Unidade 4 115
Soluções ........................................................................................................................ 115
Introdução ............................................................................................................ 115

Lição no 1 116
Soluções. Classificação e Características ..................................................................... 116
Introdução ............................................................................................................ 116
Soluções ..................................................................................................... 116
Auto-avaliação .............................................................................................................. 121

Lição no 2 122
Solubilidade e Medidas de Concentração de Soluções ................................................. 122
Introdução ............................................................................................................ 122
Solubilidade ............................................................................................... 122
Auto-avaliação .............................................................................................................. 127

Lição no 3 128
Propriedades coligativas de soluções ............................................................................ 128
Introdução ............................................................................................................ 128
Propriedades coligativas de soluções ......................................................... 128
Auto-avaliação .............................................................................................................. 131
Resumo ......................................................................................................................... 132
Bibliografia ................................................................................................................... 133
Respostas dos exercícios ............................................................................................... 133

Unidade 5 134
Água. Reacções em Soluções ....................................................................................... 134
Introdução ............................................................................................................ 134

Lição no 1 136
Reacções de Precipitação e Produtos de Solubilidade ....................................... 136
Introdução ............................................................................................................ 136
Auto-avaliação .............................................................................................................. 143

Lição no 2 144
Teoria protolítica dos ácidos e bases. Hidrólise de iões e pH, pOH, pKW, pKa e pKb. 144
Introdução ............................................................................................................ 144
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia v

Auto-avaliação .............................................................................................................. 152

Lição no 3 153
Reacções de Oxidação-redução Bases da Electroquímica ............................................ 153
Introdução ............................................................................................................ 153
Reacções de oxidação-redução .................................................................. 154
Bases da electroquímica............................................................................. 154
Auto-avaliação .............................................................................................................. 159
Resumo ......................................................................................................................... 160
Bibliografia ................................................................................................................... 161
Respostas dos exercícios ............................................................................................... 161
Bibliografia Geral ......................................................................................................... 163
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 1

Visão geral

Bem-vindo ao Módulo de Química


Geral
Neste Módulo fará uma revisão geral dos princípios fundamentais da
Química do Ensino Secundário Geral e não só, como também estudará
alguns conteúdos com um tratamento diferente (irá aprofundar alguns
conteúdos tratados ao nível do ensino secundário), dando-se particular
ênfase ao tratamento de temas ligados às relações estruturais dos átomos
e moléculas nas diferentes classes de substâncias químicas e as suas
reacções.

Ainda neste Módulo, dará continuidade à aprendizagem dos conteúdos de


química iniciados no módulo de Química Básica. Ele é importante para
aprofundar os seus conhecimentos em relação as bases para o
entendimento de fenómenos químicos que ocorrem no seu quotidiano,
através da interpretação de processos químicos (reacções químicas), tanto
industriais como os comuns na sua comunidade.

Objectivos do Módulo
Os objectivos gerais do curso de Licenciatura em Ensino de Química são
a formação de quadros de nível superior com conhecimentos científicos
adequados e domínio das técnicas especiais de pensamento e trabalhos
nas áreas de Química e Ciências Pedagógicas.

Pretende-se com este Módulo, que seja capaz de:

- Interpretar as causas e leis que regem os processos químicos;

- Interpretar os diferentes fenómenos químicos;


Objectivos
- Compreender a interacção entre os fenómenos químicos e eléctricos;

- Caracterizar os fenómenos químicos que ocorrem na indústria e no seu


2 Visão geral

quotidiano;

- Compreender os conceitos básicos da disciplina de Química tratados no


ensino secundário geral.

Quem deve estudar este Módulo


Este Módulo foi concebido para todos aqueles que tenham concluído a
12a classe de Ensino Secundário Geral, grupo de ciências ou equivalente,
e tenham-se inscrito no curso de Química à Distância fornecido pela
Universidade Pedagógica.

Como está estruturado este


Módulo
Todos os módulos dos cursos à Distância produzidos pela Universidade
Pedagógica, encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada do módulo, resumindo os aspectos chave


que precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos
vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu
estudo.

Conteúdo módulo

O módulo está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma


introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um sumário da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 3

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista


de recursos adicionais para explorar. Estes recursos podem incluir livros,
artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação

Tarefas de avaliação para este Módulo encontram-se no final de cada


unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do Módulo.

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários


sobre a estrutura e o conteúdo do curso Módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este Módulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Neste Módulo encontrará ícones que identificam as actividades, dicas,
sumárias e actividades de auto-avaliação.

Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir. Cada


um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste Módulo.
4 Visão geral

Comprometimento/ Resistência, “Qualidade do “Aprender através


perseverança perseverança trabalho” da experiência”

(excelência/
autenticidade)

Actividade Auto-avaliação Avaliação / Exemplo /


Teste Estudo de caso

Confirmação / Horas / Vigilância / “Eu mudo ou


Correcção programação preocupação transformo a minha
vida”
Resultados Tempo Tome Nota!
Objectivos

“[Ajuda-me] deixa- “Pronto a enfrentar “Nó da sabedoria” Apoio /


me ajudar-te” as vicissitudes da encorajamento
vida”

(fortitude /
Leitura preparação) Terminologia Dica
Resumo

Habilidades de estudo
Este Módulo foi concebido tendo em consideração que você vai estudar
sozinho. É por isso que no fim de cada unidade/lição apresentamos
actividades que o auxiliarão a verificar tudo o que nela aprendeu.

Fazem parte deste conjunto de actividades, consulta e interpretação de


tabelas, desenho e interpretação de gráficos e diagramas, etc., pois eles
são preciosos para você conhecer o nível da sua aprendizagem.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 5

Precisa de apoio?
Se tiver dificuldades, tem o Centro de Recursos à sua espera, perto do
local da sua residência. Não hesite em recorrer a esse centro, pois ele foi
criado para si. Lá encontrará literatura e outros materiais de consulta.
Também poderá consultar ao seu tutor, usando vários meios que serão
definidos no início do curso.

Auto-avaliação
Ao longo de cada Unidade você terá que resolver uma série de exercícios,
que o ajudarão a consolidar a matéria dada.

Recomendamos que você resolva todos os exercícios indicados sem


correr para consultar a chave de correcção.

Avaliação
Nesta disciplina você vai realizar 2 testes: O primeiro teste terá lugar
depois de completar a unidade 3. O Segundo teste terá lugar depois de
completar a última unidade.

Cada teste tem a duração de 90 minutos e o exame tem a duração de 120


minutos. O calendário das avaliações será apresentado no início de cada
semestre.

Tempo de estudo e outras actividades


Este Módulo compreende um semestre.
Você deverá despender 80 horas de estudo para este Módulo.
Deve também estudar, em média, uma hora por dia consoante a sua
disponibilidade para completar as 5 horas semanais recomendadas pelo
Quanto tempo? plano de estudos.
Em cada lição, deve despender no mínimo 60 minutos (isto é, uma hora)
para estudar os conteúdos, resolver as questões e realizar as actividades
em grupo ou de reflexão.
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Unidade 1

Teoria Atómica e Estrutura da


Matéria

Introdução
Bem-vindo a esta unidade didáctica. Nela você complementará as noções
que teve no Módulo de Química Básica sobre a teoria atómica, a estrutura
electrónica dos átomos e a classificação Periódica dos elementos.

Ao lhe propormos esta unidade, pretendemos que você se envolva


academicamente e de maneira árdua e complexa em todas as actividades
indicadas ao longo das lições. Neste sentido, achamos que devíamos
proporcionar-lhe informações adicionais sobre a estrutura electrónica e
Tabela Periódica.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

• Interpretar a estrutura atómica segundo a teoria de Bohr e a


Mecânica Quântica;
• Representar geometricamente a ordem energética das orbitais
Objectivos atómicas;
• Explicar a variação das propriedades periódicas ao longo dos
grupos e períodos;
• Conhecer os fundamentos da teoria cinética molecular da matéria
e os estados de agregação das substâncias;
• Identificar as principais classes dos compostos inorgânicos.
8 Lição no 1

Lição no 1

História da teoria atómica

Introdução
Desde os tempos mais remotos os Homens tem se dedicado ao estudo de
fenómenos naturais e procurando explicar a sua essência e constituição da
matéria envolvida. Na antiguidade uma questão, que preocupou a
humanidade era se a matéria seria divisível ou não.

O conceito actual de elemento químico foi estabelecido a partir do


conhecimento da constituição e estrutura dos átomos. Aqui você vai
caracterizar os elementos químicos sob o ponto de vista atómico.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Descrever a História da teoria atómica;


• Representar os diferentes modelos atómicos;
• Interpretar o significado de cada número quântico;
Objectivos da lição
• Caracterizar os átomos tendo em conta os números quânticos;
• Determinar os números quânticos para cada electrão do átomo.

Teoria atómica clássica


Como você viu na Química Básica, (onde terá que rever os modelos
atómicos) a conceitualização do átomo como partícula básica da matéria
foi introduzida pelos pensadores da antiguidade, tais são os casos de
Demócrito, Lucrécio e outros, muitos anos antes de Cristo. De acordo
com estes pensadores, a matéria era formada de partículas pequenas
indivisíveis que foram chamadas de átomos (a = não; tomo = divisão).

No início do século antepassado (século XIX), para explicar


racionalmente as leis das combinações químicas (leis deduzidas através
de resultados experimentais), Dalton criou a sua famosa Teoria atómica,
na qual foi dado o conceito químico de átomo, como partícula maciça e
indivisível constituinte da matéria.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 9

A grande diferença entre o átomo de Dalton e o átomo dos filósofos da


antiguidade está no facto de o átomo de Dalton ter sido estabelecido com
base em resultados experimentais, enquanto que o átomo dos filósofos da
antiguidade foi estabelecido sem nenhuma base experimental, mas
unicamente em divagações filosóficas (metafísica).

Para a compreensão da teoria atómica você começará por entender os


diferentes modelos atómicos.

A sequência histórica é importante no entendimento da teoria atómica.

Veja a seguir a evolução no desenvolvimento dos diferentes modelos


atómicos:

O Átomo de Dalton

John Dalton (1766-1844), baseando-se no atomismo dos gregos,


desenvolveu e apresentou em 1808 as suas ideias sobre o átomo, ideias
essas que surgiram numa base experimental, as quais ficaram conhecidas
por “postulados de Dalton” que se podem resumir no seguinte:

• A matéria é constituída por pequeníssimas partículas indivisíveis em


todas as transformações químicas – os átomos.

• Todos os átomos de um dado elemento têm as mesmas propriedades


(tamanho, massa e forma) as quais diferem das propriedades de todos
os outros elementos.

• As reacções químicas resultam da formação de novas partículas, pela


combinação de átomos em proporções simples.

A seguir você fará a análise dos modelos teóricos do átomo depois do


século XIX.

Teoria atómica moderna


Note que até finais do século XIX, prevaleceu a ideia de que o átomo era
uma partícula maciça indivisível. Os estudos sobre descargas em gases
rarefeitos e os estudos sobre a radioactividade vieram provar que o átomo
10 Lição no 1

é um sistema formado de partículas ainda menores, separadas por espaços


vazios.

Para o desenvolvimento da teoria atómica moderna, contribuíram muitos


cientistas entre os quais se destacam Thomson, Rutherford, Bohr, Plank,
Einstein, Schödinger, entre outros.

Em 1897, Thomson propôs que o átomo seria uma esfera maciça


carregada positivamente com electrões distribuídos à superfície, como as
passas se espalham num bolo. Este modelo ficou conhecido como pudim
de passas. Foi assim que ficou proposto o primeiro modelo atómico. Este
modelo, porém, não prevaleceu por muito tempo porque não conseguia
explicar vários fenómenos que ocorriam em reacções químicas. Por isso,
com novas descobertas, principalmente na área da física, foi proposto um
novo modelo do átomo por Rutherford.

Rutherford (1871-1937), assistido por Geiger e Marsden, realizou uma


série de experiências com substâncias radioactivas, tendo chegado às
seguintes conclusões:

O átomo é constituído por uma região central - o núcleo -, carregado


positivamente e de dimensões muito pequenas e com a maior parte da
massa do átomo e uma região periférica mais extensa, contendo electrões
que se dispõem à volta do núcleo, descrevendo órbitas como os planetas à
volta do sol. Este modelo ficou conhecido como modelo nuclear ou
planetário de Rutherford.

Apesar deste modelo explicar melhor a estrutura do átomo,


comparativamente aos modelos anteriores, ele entra em contradição com
a mecânica clássica – teoria electromagnética de Maxwell, que diz: Toda
a carga eléctrica em movimento de rotação emite espontaneamente
radiação. Assim, os electrões deveriam emitir energia, diminuindo a
velocidade e o raio de suas trajectórias, acabando por ir colidir com o
núcleo, provocando, assim, a destruição do átomo. Contudo, os átomos
são estruturas estáveis.

Esta contradição levou ao desenvolvimento de novos modelos, como o


modelo de Bohr, e o modelo mecânico ondulatório.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 11

Niels Bohr (1885-1962) estudou o problema teórico que o modelo de


Rutherford apresentava e baseando-se na teoria quântica de radiação
desenvolvida por Plank em 1900 que diz que a energia não é emitida em
forma contínua, mas em blocos denominados quantum e nem todos os
quantum transportam a mesma energia. Assim, baseando-se nesta teoria,
Bohr melhorou a teoria atómica de Rutherford propondo o seguinte:

• Os electrões movem-se emórbitas circulares bem definidas em torno


do núcleo, correspondentes a determinados níveis de energia, tanto
mais elevados quanto mais afastados do núcleo.

• Os electrões pertencentes a um determinado nível constituem uma


camada electrónica.

• Cada órbita corresponde a um determinado valor de energia potencial


para o sistema núcleo/electrão.

• Durante o seu movimento à volta do núcleo, os electrões não emitem


nem absorvem energia, mantendo-se num estado estacionário.

• Ao estado menos energético possível dos estados que a distribuição


electrónica dos átomos pode assumir dá-se o nome de estado
fundamental.

Bohr caracterizou cada nível energético por um número natural n que


toma valores que vão de 1 a 7, aos quais atribuiu designações
correspondentes a certas letras do alfabeto. Assim, para n = 1 tem-se a
letra K, para n = 2 tem-se a letra L, para n =3 tem-se a letra M, para n=4
tem-se a letra N, para n = 5 tem-se a letra O, para n = 6 tem-se a letra P,
para n = 7. Isto significa que quanto maior for o valor de n maior será a
energia do electrão.

Para Bohr n significa pois, nível de energia ou camada electrónica.

Segundo Toner, o número máximo de electrões para cada nível ou


camada pode ser encontrado pela relação 2n2 onde n é o nível de energia.

Em 1916, Sommerfeld propôs órbitas elípticas para os electrões,


passando o átomo a contar com órbitas de diversos formatos.
12 Lição no 1

No modelo mecânico ondulatório, considera-se que o electrão tem


propriedade de onda e de partícula. Isto deve-se à grande velocidade do
movimento do electrão no átomo, não é possível determinar com
exactidão o lugar onde se encontra o electrão no átomo.

Por isso, matematicamente determinou-se uma zona com grande


probabilidade de se encontrar o electrão que tem o nome de orbital
atómica.

Por outro lado, este modelo define que:

• Cada átomo apresenta um determinado número de electrões que


diferem entre si em energia, pois ocupam posições diferentes em
relação ao núcleo;

• A energia de cada electrão fica perfeitamente definida através de 4


números quânticos (n, l, m, s);

• Não é possível existirem num átomo electrões que apresentem todos


os 4 números quânticos iguais.

A constituição do átomo
As partículas elementares do átomo

Depois de analisar as teorias acima, o que você conclui?

Pela análise das teorias expostas anteriormente, pode concluir que o


homem sabe já, desde o fim do século XIX, que o átomo é divisível.
Quando se utilizam métodos físicos, é possível dividir o átomo nas suas
partículas elementares (protões, neutrões e electrões).

As partículas elementares têm uma massa muito pequena (veja a tabela

abaixo), a massa absoluta do protão é quase igual à massa absoluta do


neutrão e corresponde mais ou menos à massa relativa 1. A massa
absoluta do electrão é tão pequena, cerca de 1836 vezes inferior que a
massa absoluta do protão ou do neutrão, sendo por isso muitas vezes
desprezada no cálculo da massa do átomo.

Os protões e os electrões têm carga eléctrica. O protão tem carga positiva


+1 e o electrão tem carga negativa -1. Estas cargas são chamadas cargas
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 13

elementares, pois são as cargas mais pequenas que são conhecidas até
hoje.

Por sua vez, o neutrão não possui carga, ele é neutro, é uma partícula
neutra.

Na tabela a seguir você pode observar as partículas elementares e suas


propriedades.

Partícula Sím Carga Valor Massa Massa


bolo eléctrica absoluto de relativa absoluta
relativa carga
Protão P +1 1,6.10-19 C 1,007597 1,6723.10-24g
Neutrão N 0 - 1,008987 1,6745.10-24g
Electrão e- -1 1,6.10-19 C 5,4877.10- 9,1082.10-28g
4

Todo o átomo é constituído por um núcleo e uma electrosfera. Enquanto


os protões e os neutrões se localizam no núcleo e constituem
praticamente a massa do átomo, os electrões encontram-se na zona à
volta do núcleo (a electrosfera). O número de electrões na electrosfera do
átomo neutro é igual ao número de protões que o mesmo átomo possui no
núcleo. É por essa razão que o átomo é uma partícula neutra.

Qual é a constituição do núcleo atómico?

Os protões e os neutrões formam o núcleo atómico, o qual tem carga


positiva e se situa no centro do átomo. Os protões e neutrões são também
designados nucleões. A soma do número de nucleões do núcleo de um
dado átomo corresponde ao número de massa de um átomo.
14 Lição no 1

O número de cargas elementares positivas do núcleo de um dado átomo é


o número de carga nuclear desse mesmo átomo e corresponde ao número
de protões do átomo referido. O número de carga nuclear ou número de
protões dum dado átomo corresponde ao número de ordem desse
mesmo átomo na tabela periódica. Este número corresponde ao número
de electrões da electrosfera no átomo neutro.

Número de ordem = Número de carga nuclear = Número de protões =


Número de electrões

Número de massa = A A=P+Z

Número de protões = P

Número de neutrões = Z

É com base nestes conceitos que se define o elemento como uma


substância composta de átomos com o mesmo número de ordem.

O raio do núcleo é 10000 vezes menor que o raio do átomo. O raio do


átomo do hidrogénio é de 10-9 nm, o seu núcleo tem um raio de 10-12 cm.
Já que a massa do electrão é extremamente pequena, a massa do átomo
encontra-se praticamente concentrada no núcleo do átomo.

Ligado à estrutura do átomo, está o Princípio de Heisemberg. O que diz


esse principio?

Este princípio está relacionado com a posição e a velocidade do electrão.


Nem a posição nem a velocidade de um electrão num átomo podem ser
definidas num determinado instante. É por isso que os cientistas falam em
orbital em vez de órbitas; de distância comum do núcleo em vez de
distância actual. É impossível saber exactamente onde um electrão se
localiza num determinado tempo.

Por isso, não é possível calcular a posição e a velocidade de um electrão


num mesmo instante.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 15

Orbital atómica

Devido à dificuldade de calcular a posição exacta de um electrão na


electrosfera, o cientista Schrodinger em 1926 calculou a região onde
haveria maior probabilidade de encontrar o electrão. Esta região do
espaço foi denominada de orbital.

Números Quânticos

No Módulo de Química básica, você tratou dos números quânticos.


Agora faça uma revisão (dos números quânticos).

Número quântico principal (n), indica o nível de energia ou camadas


electrónicas. O n varia de 1 a 7.

Número quântico secundário ou azimutal (ℓ), indica o subnível ou


subcamada onde se encontra o electrão. Estes são designados pelas letras:
s (sharp); p (principal) d (difiuse) f (fundamental).

Subnível: s, p, d, f
ℓ=n-1
Valor de ℓ: 0 1 2 3

Número quântico magnético (m), está relacionado com a orientação


espacial dos orbitais e indica o número dos mesmos em cada subnível
energético.
m: - ℓ.... o .... + ℓ
Ex: seja, n = 2; ℓ = 1; m = -1; 0; +1

Número quântico spin (s), indica o sentido de rotação do electrão, em


torno do seu eixo (spin), que pode tomar os valores: - 1/2 (↑) e +1/2 (↓)

Por convenção, também, utiliza-se spin -1/2 para o primeiro electrão do


orbital.
16 Lição no 1

Observe que:

Sub n° orbitais /
Valores de ℓ Valores de m
nível orientações

0 S 0 1

1 P -1, 0, +1 3

2 D -2,-1,0,+1,+2 5

-3,-2,-
3 F 7
1,0,+1,+2,+3

Os números quânticos podem ser determinados, utilizando as seguintes


fórmulas:
 Número de orbitais por nível de energia: n2
 Número máximo de electrões por nível de energia (até ao 4˚
nível): 2n2
 Número de orbitais por subnível de energia: 2 ℓ + 1
 Número máximo de electrões por subnível de energia: 2(2 ℓ +1)
Regras de Hund (ou princípio de máxima multiplicidade)
Nenhum orbital poderá receber o segundo electrão antes que todas as
orbitais do mesmo subnível estejam preenchidas com 1 electrão.

Princípio de exclusão de Pauli


Um orbital comporta no máximo dois electrões, com spins contrários.
Não existem dois electrões com os quatro números quânticos.

Regra de energia mínima


Os electrões vão se “encaixando” na electrosfera, partindo dos níveis e
subníveis de menor energia para os de maior energia (isto é, “de baixo
para cima”).
Os subníveis do mesmo nível possuem energias diferentes. Para a sua
determinação existem dois métodos:

 Processo analítico (regra de Klechkovsky e Slater). Ao aumentar


a carga nuclear do átomo, o preenchimento sucessivo dos orbitais
electrónicas ocorre a partir dos orbitais com o menor valor da
soma dos números quânticos principal e secundário (ℓ + n),
preenchendo-se seguidamente os orbitais para os quais o valor
desta soma seja maior.
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5s: n = 5; l = 0 (n+l) = 5
4p: n = 4 ; l = 1 (n+l) = 5
3d: n = 3; l = 2 (n+l) = 5
Exemplo Note que na primeira situação a ordenação será: 3d, 4p, 5s
6s: n = 6; l = 0 (n+l) = 6
4f: n = 4,; l = 3 (n+l) = 7

Neste caso a ordenação será: 6s, 4f

Se os valores da soma (ℓ + n) forem iguais, o preenchimento dos orbitais


ocorre de modo sucessivo, no sentido do aumento do valor de número
quântico principal n.

5s: n = 5; ℓ = 0 (ℓ + n) = 5

4p: n = 4; ℓ = 1 (ℓ + n) = 5 A sequência é 3d; 4p; 5s

3d: n = 3; ℓ = 2 (ℓ + n) = 5

 Processo gráfico (diagrama energético de Linus Pauling).


Determina uma sequência de subníveis pelo seu conteúdo
energético:

Assim, você pode notar que pela disposição dos subníveis no diagrama
energético de Linus Pauling a sequência de preenchimento dos subniveis
em função da energia será:

1s-2s-2p-3s-3p-4s-3d-4p-5s-4d-5p-6s-4f-5d-6p-7s-5f-6d
18 Lição no 1

Observe que para cada subnivel pode se fazer a seguinte legenda:

3p1 Indica a quantidade de electrões

Indica o número quântico secundário

Indica o número quântico Principal

Auto-avaliação
1. Quais foram as limitações do modelo atómico de Rutherfor?

2. O que entende por orbital atómico?

3. Com base na regra de Klechkovsky e Slater qual é o subnível que


se preenche depois de 5p?
Exercícios
4. Porque é que não se pode saber o local e a velocidade do
electrão?
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Lição no 2

Sistema periódico dos elementos

Introdução
Desde os tempos mais remotos, que o homem procurou organizar tudo
quanto havia ao seu redor, animais, plantas, substâncias, etc.

Neste sentido, o resumo histórico de qualquer fase torna-se fundamental


para se compreender como é que se chegou a um actual fenómeno. O
sistema periódico dos elementos, o qual resume as principais
propriedades dos elementos químicos até então descobertos, é uma
ilustração clara da necessidade de registo das diferentes fases de
desenvolvimento de um acontecimento. Este processo é que garante o
carácter lógico das ciências, bem como a sistematização dos
conhecimentos a elas inerentes.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Diferenciar as primeiras classificações dos elementos;


 Caracterizar a tabela periódica de Mendeleev;
 Identificar as propriedades químicas dos elementos na tabela
Objectivos da lição periódica;
 Interpretar a organização da tabela periódica actual (os grupos e
os períodos).

Para o entendimento dos conteúdos relacionados com a tabela periódica


comecemos por ver a história do surgimento da tabela periódica.

História da tabela periódica

À medida que a quantidade e a diversidade dos conhecimentos sobre os


elementos químicos foram aumentando, sentiu-se a necessidade de
sistematizar esses conhecimentos.
20 Lição no 2

As primeiras tentativas de ordenar os elementos tiveram como princípio


fundamental as propriedades químicas dos mesmos.

Döbereiner (1829) formulou a teoria das tríadas, na qual as séries dos


elementos como Li, Na e K / Ca, Sr, e Ba / S, Se, e Te / Cl, Br, e I,
cujas características físicas e cuja reactividade química se assemelham,
seriam ordenadas. Aqui, quando os elementos eram dispostos em ordem
crescente das suas massas atómicas, a massa do elemento intermediário
era aproximadamente igual à média aritmética das massas atómicas dos
outros elementos: os exemplos no quadro ilustram a classificação de
Döbereiner.

Elementos e suas Massas Média aritmética das Massas


atómicas atómicas dos elementos dos extremos
Cloro: Bromo: Iodo: (35,5 + 126,9)/2 = 81,2 corresponde
35,5 79,9 126,9 à massa atómica do Bromo
Lítio: Sódio: Potássio: (6,90 + 39,1)/2 = 23 corresponde à
6,90 23,0 39,1 massa atómica do Sódio

Chancourtois (1852) e Newlands (1864) formularam que “a


periodicidade ocorria sempre depois de 7 elementos ordenados em ordem
crescente das suas massas atómicas”.

Chancourtois imaginou a colocação dos elementos na ordem crescente


das suas massas atómicas, sobre uma espiral desenhada num cilindro, a
alturas proporcionais às massas atómicas, organizando uma classificação
que ficou conhecida como "parafuso telúrico". Nele o cientista
descobriu que os elementos com propriedades semelhantes apareciam uns
sobre os outros na mesma vertical.

Newlands estabeleceu a "Lei das Oitavas", segundo a qual as


propriedades dos elementos químicos se repetem de 8 em 8 casas, como
as notas de uma escala musical, quando eles são colocados na ordem
crescente das suas massas atómicas.
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O princípio de ordenação – a Lei de Moseley

A construção do SPE

Mendeleev (1869) e L. Meyer (1868) formularam independentemente um


esquema de ordem dos elementos que é a base da actual tabela periódica.

Enquanto Meyer construiu uma tabela para sistematizar as propriedades


físicas em dependência da massa atómica, Mendeleev formulou a lei da
periodicidade, relacionando as massas atómicas com as propriedades
químicas.

Desse modo, Mendeleev pôde, nessa altura, prognosticar a existência de


elementos ainda desconhecidos, deixando-lhes um espaço apropriado na
sua tabela. Os elementos assim propostos por ele foram o Eka-Al, Eka-B
e Eka-Si que mais tarde vieram a ser descobertos (Ga, Sc e Ge), tendo
recebido os nomes segundo o país de descoberta.

Apesar do sistema proposto por Mendeleev ser bom, ele continha ainda
certas lacunas. Por exemplo, se a ordenação fosse feita segundo a ordem
crescente das massas atómicas, então os elementos dos pares Co e Ti; Te
e I deveriam estar trocados. Porém, as suas propriedades químicas
colocam-nos no devido local onde se encontram na tabela periódica.

Também se verificariam inversões entre o Ar e o K, e entre o Th e o Pr.

Isto quer dizer que a massa atómica não pode ser um princípio de ordem
por excelência.

Para determinar a posição de um elemento qualquer na tabela periódica,


Rydberg (1897) introduziu um número que designou de número de ordem
Z do elemento na tabela periódica.

Moseley (1913) consegue, usando resultados das experiências com raios-


x, determinar o número de ordem Z. A determinação do número de
ordem Z foi possível através da emissão de raios-x depois da activação e
retirada de um electrão duma camada próxima do núcleo, por exemplo da
camada K ou L.

Ao se retirar um electrão dessa camada, fica um espaço vazio que pode


ser ocupado por um electrão de outros estados, de outras camadas. Como
22 Lição no 2

os estados electrónicos próximos do núcleo dos elementos mais pesados


se encontram de igual modo totalmente preenchidos, a radiação-x
característica dos elementos, é composta por séries simples semelhantes
e consecutivas, quando os electrões vão preenchendo, sequencialmente,
as camadas K, L ou M (série-K, série-L, série-M). A diferença está, como
é óbvio, no posicionamento do espectro dessas séries.

As frequências υ das séries consecutivas dos diferentes elementos


encontram-se relacionadas de um modo simples com o número atómico
Z:

v = a(Z - b)
Lei de Moseley

Onde a e b são constantes e para as diferentes séries toma outros valores


diferentes.

Moseley identificou o número de ordem Z como sendo o número de


partículas elementares positivas do núcle, ou seja, o número de carga
nuclear, uma constatação que mais tarde veio a ser confirmada por Bohr e
demonstrada por Chadwick.

Foi, assim, determinado o número de ordem como sendo o número


atómico, ou seja, o número de cargas nucleares positivas ou o número de
protões no núcleo. Usando-se este número como número de ordem já não
se verifica nenhuma inversão na tabela periódica.

Mesmo as inversões derivadas da proposta de Mendeleev encontram uma


explicação plausível, se tivermos em linha de conta que a massa atómica
relativa de certos elementos deriva da massa média dos isótopos naturais
desse mesmo elemento.

Como é que estão organizados os elementos no sistema


periódico?

Formas do SPE

Segundo as regras de ocupação dos níveis electrónicos de energia, obtém-


se uma distribuição dos elementos em:

• Elementos – s
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• Elementos – p
• Elementos - d
• Elementos – f.

Com base no esquema de energia para os sistemas multi-electrónicos é


possível construir várias formas do SPE.

• Elementos cuja configuração electrónica decorre no mesmo nível ou


número quântico principal, n = 1, 2, 3, 4, encontram-se no mesmo
período.

• A ocupação dos estados que são determinados pelos restantes


números quânticos conduz à formação dos grupos.

• Nos diferentes tipos de SPE os períodos e grupos estão ordenados de


modos diferentes:

SPE – Curto segundo Longuet e Higgins (1952): A sequência de


ocupação s, p e d é apresentada conjuntamente em 8 períodos com 8
elementos.

• Formalmente, ocupações p, e, d iguais ocorrem no mesmo grupo e


são designados grupo principal A e grupo secundário B.

• A ocupação dos elementos f é feita separadamente.

SPE – Longo (segundo Werner): a sequência da ocupação s, p, d, é


representada em períodos de 18 elementos. Assim, os elementos s, p,
d aparecem em agrupamentos bem definidos, correspondendo às suas
características físicas e químicas.

• Os elementos f são apresentados separadamente, ou podem ser


incorporados como elementos d e nesse caso os períodos são de 32
elementos.

Representação do SPE segundo Bohr: Põe em evidência a ordenação dos


elementos pela ocupação electrónica e conforme as suas propriedades
químicas.

No sistema periódico encontramos:

1. Elementos do tipo1: São gases nobres. Todos os subníveis s e p estão


completamente preenchidos.
24 Lição no 2

2. Elementos do tipo 2: São os elementos normais ou representativos ou


dos grupos principais. Excluindo o nível mais externo, os restantes
níveis estão completamente preenchidos (por exemplo todos os
ametais).

3. Elementos do tipo3: São os elementos de transição. Os níveis


externos não estão completamente preenchidos e as orbitais internas
– d - são preenchidas sequencialmente. Todos os elementos deste
grupo são metais e muito semelhantes entre si e encontram-se
organizados em 4 períodos consecutivos correspondentes às séries
3d, 4d, 5d e 6d.

4. Elementos do tipo 4: São os elementos de transição interna. Nestes


são preenchidos subníveis f de níveis internos, enquanto o número de
electrões s- e p- via de regra permanece constante. Para n = 6 tem-se
os lantanídeos e para n=7 tem-se os actinídeos que vão preenchendo
os subníveis 4f e 5f respectivamente, todos eles são metais.
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26 Lição no 2

Auto-avaliação
1. Representa a estrutura electrónica do Cloro e indica a posição da
Tabela Periódica?

2. Um átomo de elemento X apresenta o electrão mais energético no


Exercícios subnível 5s2. Indica o período e a família a que pertence na Tabela
Periódica.

3. O catião do átomo de certo elemento bivalente tem 18 electrões.

a) Representa a estrutura electrónica do seu átomo.

b) A que grupo ou família e a que período da Tabela periódica


pertence esse elemento?
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Lição no 3

Propriedades do Sistema
Periódico dos Elementos

Introdução
Nesta lição iremos destacar as propriedades dos elementos na tabela
periódica, tendo em conta que estas propriedades são funções periódicas
dos seus números atómicos. Portanto, o estudo será feito com o auxílio da
lei periódica e é possível organizar e sistematizar a química dos
elementos.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Identificar o comportamento dos elementos químicos na Tabela


Periódica;

• Interpretar as formas como os elementos químicos se relacionam


Objectivos da lição
nos grupos e períodos da Tabela periódica;

• Explicar a variação das propriedades periódicas ao longo dos


grupos e períodos;

• Caracterizar as anomalias verificadas na Tabela Periódica.

Como você viu na lição anterior, o sistema periódico é constituído por


grupo de elementos. Este agrupamento acontece porque eles têm algumas
propriedades comuns.

De seguida, veja, sequencialmente, as propriedades do sistema periódico.

Estabilidade electrónica à luz da teoria dos gases nobres

Os químicos verificaram que os gases nobres (He, Ne, Ar, K, Xe e Rn)


apresentam uma elevada estabilidade electrónica, isto é, os átomos desses
28 Lição no 3

elementos dificilmente combinam-se com outros átomos para formar


compostos químicos.

Os gases nobres possuem 8 electrões na última camada, com a excepção


do Hélio que só tem 2 electrões. Esta característica electrónica leva a
concluir que a estabilidade dos átomos destes elementos está relacionada
com o número de electrões da última camada. Assim, todos os átomos de
outros elementos para se tornarem estáveis tendem a perder ou ganhar
electrões de modo a adquirirem a configuração electrónica do gás nobre
mais próximo – quando isto acontece o átomo transforma-se num ião.

Variação das propriedades periódicas

De modo geral, muitas propriedades dos elementos químicos variam


periodicamente com o aumento de seus números atómicos, atingindo
valores máximos e mínimos em colunas e períodos de classificação
periódica, como por exemplo: raio atómico, volume atómico, etc. Esta
periodicidade decorre da estrutura electrónica dos elementos, conferindo
uma importância enorme a servir-nos na previsão das propriedades e no
comportamento dos elementos.

Carácter metálico. Um elemento será tanto mais metálico quanto maior


for a sua capacidade de perder electrões.

“Ao longo do grupo o aumento é de cima para baixo e ao longo do


período, da direita para a esquerda.”

Raio atómico. É a metade da distância internuclear mínima que dois


átomos desse elemento podem apresentar, sem estarem ligados
quimicamente.

“Ao longo do grupo o aumento é de cima para baixo e ao longo do


período é da direita para a esquerda”.

Raio iónico. É a metade da distância internuclear mínima que dois


átomos desse elemento podem apresentar estando ligados quimicamente.

“Ao longo do grupo o aumento é de cima para baixo e ao longo do


período é da esquerda para a direita”.
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Volume atómico. É o volume ocupado por 1 átomo grama (6,02 x 1023


átomos) do elemento no estado sólido. O volume atómico não é o volume
de um átomo, mas sim, o volume de um conjunto de átomos (estes
influenciam não só o volume individual de cada átomo como também o
espaçamento existente entre os átomos).

“Ao longo do grupo o aumento é de cima para baixo e ao longo do


período é do centro da TP para as extremidades”.

Densidade absoluta (ρ) ou massa específica. É o quociente entre a massa


(m) e o seu volume (v). Portanto:
ρ = m/v

Pela fórmula, quanto menor o volume, maior deverá ser a densidade.

“Ao longo do grupo o aumento é de cima para baixo e ao longo do


período é das extremidades para o centro da TP”.

Consequentemente, os elementos mais densos encontram-se no centro e


na parte inferior da tabela. Por exemplo, destacam-se os elementos Ósmio
(ρ = 22,5 g/ml) e o Irídio (ρ = 22,4 g/ml).

Electronegatividade. É a tendência que o átomo possui para atrair


electrões.

“Ao longo do grupo o aumento é de baixo para cima e ao longo do


período é da esquerda para a direita”.

Electropositividade. É a tendência que o átomo possui para perder


electrões.

“Ao longo do grupo o aumento é de cima para baixo e ao longo do


período é da direita para a esquerda”.

Energia ou potencial de ionização. É a energia necessária para retirar um


electrão de um átomo isolado no estado gasoso, formando um ião.

Essa energia é, em geral, expressa em electrão-volt (eV) e corresponde a


23kcal/mol (ou 96,4kj/mol), sendo 1 mol de electrões = 6,02 x 1023
electrões.
30 Lição no 3

“Ao longo do grupo o aumento é de baixo para cima e ao longo do


período é da esquerda para a direita”.

Aspectos particulares da Tabela Periódica

Para você analisar cada um dos aspectos a seguir apresentados, tenha


consigo uma tabela periódica, para fazer a confrontação dos aspectos a
seguir apresentados.

Até hoje só se conhecem 109 elementos. E pelo número de átomos


conhecidos até hoje, conclui-se que só podem ocorrer 7 níveis ou
camadas electrónicas.

O número máximo de electrões por nível só pode ser atingido quando


todos os níveis antecedentes estiverem completamente cheios.

O quinto, o sexto e o sétimo níveis não podem ser completamente


ocupados.

O número de subníveis existententes em cada nível corresponde ao valor


do número quântico principal devido à condição quântica [l= 0, 1, 2, 3, n-
1]

Com base nestas conclusões pode-se entender melhor a lógica na


construção do Sistema Periódico dos elementos:

• Os elementos dos grupos principais preenchem sucessivamente


orbitais s e p do último nível.

• Os elementos secundários preenchem parcialmente as orbitais d


(elementos de transição externa) e f (elementos de transição interna)

• Ocorrem num período muito curto com somente 2 elementos


(primeiro período), dois outros períodos curtos cada um com 8
elementos (segundo e terceiro períodos). Todos os restantes períodos
(quarto, quinto, sexto e sétimo) são longos e comportam 18, 32, 32 e
2 elementos respectivamente.

• Os elementos que apresentam o mesmo número e tipo de electrões de


valência formam os grupos
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 31

• Ao longo dos grupos com o aumento do número atómico e aumento


de camadas, aumentam o raio atómico, o carácter metálico, a
densidade e o volume do átomo, diminuindo a energia de ionização e
a electronegatividade.

• Os elementos que possuem o mesmo número quântico principal


encontram-se no mesmo período.

• Ao longo dos períodos com o aumento do número atómico,


aumentam a massa, a electronegatividade e o carácter ametálico
enquanto o raio atómico e o volume atómico diminuem

• Depois de se atingir a estrutura do gás nobre em cada período, as


propriedades dos elementos átomos desse período voltam a se repetir
nos elementos do período seguinte.

• De acordo com o princípio de construção, do princípio de exclusão de


Pauli, da regra de Hund, Das regras de Klechtkovski e de Slater, é
possível perceber a razão pela qual os átomos com orbitais dos
subníveis totalamente ou parcialmente (até metade) preenchidas são
relativamente estáveis (correndo uma distribuição simétrica de cargas
à volta do núcleo). As energias de ionização relativamente elevadas
dos átomos desses elementos ilustram-no razoavelmente.

Como você pode imaginar, a tabela periódica tem algumas


anomalias, a saber:

As anomalias que ocorrem devem-se às inversões já referidas entre


subníveis de níveis elevados, devido à diferença energética quase que
insignificante.

As explicações das anomalias podem ser encontradas nas regras de


Klechkovsky e nas regras de Slater que evidenciam o efeito da carga
efectiva do núcleo e da blindagem electrónica sofrida pelos diferentes
tipos de electrões no átomo.

• Os átomos que têm o mesmo tipo de electrões encontram-se no


mesmo subgrupo. Ao longo dos subgrupos, com o aumento do
número atómico, aumenta o número de camadas ou níveis de energia,
32 Lição no 3

aumenta o raio e o volume do átomo e diminuem a energia de


ionização e a electronegatividade, devido ao afastamento da
electrosfera do núcleo. A organização em grupos e períodos obedece
a periodicidade com que decorre a construção electrónica dos átomos.

• Iões positivos são facilmente formados pelos átomos com menor


energia de ionização e menor electronegatividade. Iões negativos
serão formados mais facilmente por átomos de maior energia de
ionização e maior electronegatividade. A carga dos iões corresponde
ao número do grupo nos metais, e a diferença entre 8 e o número do
grupo nos ametais em concordância com a sua tendência em aceitar
electrões.

• O decorrer periódico das propriedades permite agrupar os elementos


em metais e ametais nos casos extremos e entre estes e os semi-
metais.

• Enquanto os metais formam predominantemente óxidos básicos com


o oxigénio e bases com a água, os ametais formam
predominantemente óxidos ácidos com o oxigénio e ácidos com a
água. Os semi-metais têm propriedades anfotéricas.

Escreva as equações das reacções que traduzem essa última anomalia


(para isso, use os seguintes elementos: Cálcio, Alumínio e Enxofre).

Auto-avaliação
1. Represente a estrutura electrónica do Enxofre e indique a posição da
Tabela Periódica?

Exercícios 2. Um átomo de elemento X apresenta o electrão mais energético no


subnível 4p5.

a) Indique o período e a família a que pertence na Tabela Periódica.

b) Indique os números atómicos dos elementos que antecedem e


sucedem o elemento X na mesma família da Tabela Periódica.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 33

Lição no 4

Ligação química. Ligação Iónica.


Ligação Metálica.

Introdução
Os átomos de quase todos os elementos têm a possibilidade de se unirem
entre si ou com átomos de outros elementos formando um sistema
poliatómico estável, uma molécula, um ião molecular, um cristal, etc.

As moléculas tem o sentido de se formar pela atracção electrostática de


átomos com cargas opostas, tendo em conta que os átomos possuem
pólos positivos e negativos, sendo que em alguns átomos predomina o
pólo positivo (átomos electropositivos) e, noutros, negativo (átomos
electronegativos).

Nesta lição você irá aprender como são formadas as substâncias iónicas e
as metálicas, e porque os átomos formam tais ligações.

Para compreensão do que ocorre em termos de estrutura dessas


substâncias faremos a identificação e caracterização dessas ligações
químicas, a análise da natureza dessas ligações químicas e
apresentaremos as propriedades das substâncias com estes tipos de
ligações.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Interpretar a estrutura atómica segundo a teoria de Bohr e a


Mecânica Quântica;
• Descrever os fundamentos da teoria cinética molecular da matéria
Objectivos da lição e os estados de agregação das substâncias;
• Conhecer os parâmetros que caracterizam as ligações iónicas e
metálicas;
• Identificar os principais tipos de ligação química;
• Prever a natureza dos diferentes tipos de ligações químicas;
• Caracterizar as estruturas cristalinas dos compostos químicos;
• Identificar e caracterizar as ligações iónicas e metálicas.
34 Lição no 4

O que é uma Ligação química?


Ligação química é a união entre dois ou mais átomos, ou seja, é a força
que mantém os átomos unidos.

Ligação química, a força que mantêm os átomos unidos, é genericamente


designada como o processo e estados que ocorrem nas electrosferas dos
átomos durante a formação de moléculas, iões e estruturas cristalinas.

A estrutura electrónica que constitui os átomos é que determina o tipo de


ligação química entre as partículas.

Parâmetros que caracterizam a ligação química (distância, ângulo,


energia de ligação)

Para a formação de uma ligação química há libertação de energia devido


à diminuição da energia potencial do sistema dos electrões e dos núcleos
que reagem; isto significa que a energia potencial da substância que se
forma é sempre inferior à energia potencial total das partículas iniciais
que a originam.

Tipos de ligação química

Fundamentalmente são considerados 3 tipos de ligações químicas:

 Ligações covalentes ou atómicas;

 Ligações iónicas;

 Ligações metálicas;

Num sentido mais amplo, também são incluídas as interacções mais


fracas que decorrem entre átomos e as moléculas (pontes de hidrogénio e
as forças de Van der Waals), que são também conhecidas na física como
forças de adesão.

Entre as fortes interacções atómicas e as fraquíssimas interacções de Van


der Waals estão as pontes de hidrogénio.

A ocorrência de um determinado tipo de ligação química entre partículas


tem a ver com a estrutura electrónica dos átomos que as formam.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 35

Os elementos do 2o período dos grupos 50 a 70 formam facilmente


moléculas diatómicas (N2, O2, F2, …) enquanto que os dos períodos
subsequentes têm uma maior tendência para a agregação. No 3 o período
Exemplos temos, por exemplo, formas tetraédricas de P4, formas cíclicas do S6, S8,
etc.

Os Cristais iónicos são formados preferencialmente por substâncias


contendo elementos metálicos e ametálicos combinados.

Os elementos dos grupos 1 e 2 são sólidos e formam cristais metálicos.

Os elementos do grupo 3 são sólidos. O Boro forma cristais covalentes e


os restantes elementos do seu grupo formam cristais metálicos.

Os elementos N2, O2, F2, do 20 período existem sob condições normais


como gases.

Os elementos do grupo 4 formam predominantemente cristais atómicos.

Os elementos mais pesados dos grupos 5 a 7 além de cristais moleculares


formam cristais atómicos.

Em todos os grupos o grau de agregação aumenta com o aumento do


carácter metálico.

Pode-se observar facilmente que o aumento da capacidade de formar


agregados maiores decorre em concordância com a diminuição do
número atómico nos períodos e com o aumento do número atómico nos
grupos. Isto é, as forças de coesão aumentam ao longo dos grupos e
diminuem ao longo dos períodos. De igual modo, podem ser observadas
variações características das propriedades dos compostos ao longo dos
períodos e grupos:

 Propriedades ácidas (nos não metais) aumentam ao longo dos


períodos e dos grupos;

 Propriedades básicas (nos metais) diminuem ao longo dos períodos e


aumentam ao longo dos grupos.

Estes diferentes tipos de ligações químicas não devem ser considerados


de um modo isolado, mas sim como diferentes manifestações dum
sistema unitário de ligação. Entre eles não existem fronteiras fixas, mas
existem estados transitórios.
36 Lição no 4

Ligação iónica

É o tipo de ligação química que ocorre entre um metal e um ametal. Neste


tipo de ligação o metal perde os electrões da sua última camada que são
captados pelo ametal. Os compostos assim formados chamam-se
compostos iónicos.

Na ligação iónica há formação de iões devido a transferência de electrões


de um átomo para o outro. Normalmente, nesta ligação, existe um
elemento que tende a ceder electrões (metal - catião), e outro que tende a
receber electrões (não metal – anião).

A ligação iónica ocorre somente se a variação da energia total da reacção


é favorável - quando os átomos ligados têm energia mais baixa que os
átomos livres. Quanto maior a variação da energia total, mais forte se
torna a ligação.

Observe que a ligação iónica é a única em que ocorre a transferência de


electrões.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 37

As camadas electrónicas do Sódio e do Cloro encontram-se dispostas do


seguinte modo:
Na11 - K² L8 M1 Cl17 - K² L8 M7
Exemplo O sódio possui 1 electrão na última camada. Basta perder este electrão
para que ele fique estável com 8 electrões na 2ª camada L.
Por sua vez, o cloro possui 7 electrões na sua última camada M. É bem
mais fácil ele receber 1 electrão e ficar estável do que perder 7 electrões
para ficar estável, sendo isto o que acontece.
O Sódio tende a doar 1 electrão e o Cloro tende a receber 1 electrão. Eles
aproximam-se e o Sódio doa seu electrão que está em “excesso” e o Cloro
o recebe.
Veja o esquema abaixo:

Podemos perceber, então, o seguinte: átomos (metais) que possuem 1, 2


ou 3 electrões em sua camada de valência tendem a perderem estes
electrões para os átomos (não-metais) que possuem 5, 6 ou 7 electrões em
sua camada de valência.
Depois, os iões de cargas opostas atraem-se formando um composto
iónico.

Isto pode ser escrito assim, em forma de equação:


Na – 1e- Na+
Cl + 1e- Cl-
Na+ + Cl- NaCl

Estrutura de Lewis – representação dos electrões da camada mais


externa.

NaCl

Mg2F
38 Lição no 4

Rede iónica é a disposição regular das partículas no estado sólido.

Estrutura das substâncias com ligação iónica

Compostos iónicos no estado sólido formam uma estrutura iónica


contínua num cristal iónico. A forma mais simples do cristal iónico
é um cúbico simples. Nessa forma todos os átomos estão
posicionados nas extremidades de um cubo.

Propriedades das substâncias que apresentam ligação iónica

- Os compostos formados por ligação iónica são sólidos a temperatura


ambiente, são duros, quebradiços, apresentam elevados pontos de fusão e
de ebulição e não conduzem a corrente eléctrica.

- Quando dissolvidos em água ou quando fundidos, tornam-se bons


condutores da corrente eléctrica porque os seus iões adquirem liberdade
de movimento.

Exemplo:

Essas propriedades podem ser vistas no Cloreto de sódio (Sal de


cozinha).

Ligação metálica

É o tipo de ligação química caracterizada por forças de atracção entre


catiões de metais e electrões livres.

As ligações metálicas diferentemente das iónicas e covalentes, não têm


representação electrónica e sua representação estrutural depende de um
conhecimento mais profundo dos retículos cristalinos. Os metais, em
geral, são representados por seus símbolos, sem indicação da quantidade
de átomos envolvidos, que é muito grande e indeterminada.

Propriedades das substâncias que apresentam ligação metálica

As substâncias metálicas são constituídas por átomos e catiões (possuindo


electrões de condução). Apresentam condutibilidade eléctrica nos estados
sólidos e líquidos. Tem ponto de fusão e ponto de ebulição relativamente
altos. No estado sólido apresentam rede metálica.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 39

• São bons condutores de electricidade e calor - daí o seu


emprego na produção de fios eléctricos, em panelas de cozimento
de alimentos, etc;

• Tem brilho típico (metálico) e cor cinzenta ou branco


metálico, com excepção para o Cobre (avermelhado) e Ouro
(amarelo), entre outras características;

• Maleáveis (maleabilidade) – podem ser transformados em


chapas, dobráveis e adquirir várias formas sem se quebrar;

• Dúcteis (Ductilidade) – podem ser transformados em fios;

• Tenazes (Tenacidade) – são resistentes à atracção (não se


quebram facilmente quando esticados);

• Elásticos (Elasticidade) – podem se deformar por acção de


forças externas e voltar à sua forma original quando a força
externa cessa (propriedade aproveitada para se fazer molas);

• Aderentes (Aderência) – são facilmente aderentes à


superfície de outros metais (propriedade aproveitada para a
soldadura de metais);

• Fusíveis (Fusibilidade) – são fundíveis (quando aquecidos


passam para o estado líquido), por isso podem ser misturados
para formar ligas.

Além disso, os metais apresentam certas


propriedades tais como a capacidade de
perder electrões com grande facilidade, o que
possibilita a ligação iónica e de formar ligas
metálicas, que possuem elevado ponto de
fusão e dureza. Metal: Lítio

Estrutura da rede metálica

Nos retículos cristalinos dos metais, cada átomo está circundado por um
conjunto de tantos outros átomos, isto é, apresentam elevado número de
coordenação. Como o conjunto é formado por átomos do mesmo
elemento, as atracções são iguais em todas as direcções.

Cristais cúbicos dos metais


40 Lição no 4

Uma lâmina, barra ou fio de cobre é constituído por inúmeros catiões de


cobre cercados por "numerosos" electrões, sendo o agregado representado
apenas por Cu, que é o símbolo do elemento.
Exemplo

Ligas Metálicas
São materiais com propriedades metálicas que contém dois ou mais
elementos, sendo que pelo menos um deles é metal. As ligas possuem
propriedades diferentes dos elementos que as originam. Algumas dessas
propriedades são a diminuição ou aumento do ponto de fusão, aumento
da dureza, aumento da resistência mecânica, entre outros.

Auto-avaliação
1. O que é uma liga metálica? Que propriedade dos metais permite a
formação de ligas?

Exercícios 2. No seu quotidiano é comum o uso de ligas metálicas. Indique cinco


ligas metálicas, comuns no seu dia-a-dia, e a sua respectiva constituição.

3. Qual é a forma de estrutura de Lewis para o CCl4 e HCN.

4. Que tipo de ligação há em cada um dos compostos seguintes?

i) K2O; ii) HI; iii) Na2Hg; iv) Au/Ag;


v)NH3; vi) NaCl; vii) N2;
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 41

Lição no 5

Ligação covalente. Teorias Sobre


Ligação Química.

Introdução
Nesta lição a questão principal é saber como é que as moléculas são
formadas.

Uma molécula será somente formada se esta for mais estável e tiver
menor energia do que os átomos individuais que a formam.

As estruturas das substâncias moleculares podem ser representadas


geometricamente através de estruturas. A partir destas podemos fazer a
identificação e a caracterização das ligações covalentes e estudar as
teorias que estão por detrás das ligações covalentes.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Representar geometricamente as estruturas das moléculas com


ligações covalentes;

• Identificar os diferentes tipos de ligação covalente;


Objectivos da lição
• Interpretar a formação das ligações covalentes tendo em conta a
electronegatividade dos átomos;

• Identificar a polaridade de uma molécula com carácter covalente;

• Caracterizar os diferentes tipos de ligação covalente;

• Interpretar as teorias sobre as ligações químicas.

Parâmetros que caracterizam a ligação química


Para a formação de uma ligação química, há libertação de energia devido
à diminuição da energia potencial do sistema dos electrões e dos núcleos
que reagem. Isto significa que a energia potencial da substância que se
42 Lição no 5

forma é sempre inferior à energia potencial total das partículas iniciais


que a originam.

Electronegatividade dos átomos

Para avaliar a capacidade de um dado átomo, atrair um par de electrões


comuns para si, usa-se a electronegatividade relativa. Quanto maior for a
electronegatividade dum átomo, tanto mais fortemente este atrai o par de
electrões comuns numa ligação covalente. Os valores da
electronegatividade de alguns elementos em relação à electronegatividade
do flúor que se considera igual a 4 estão tabelados.

H (2,1)

Li (0,98) Be (1,5) B (2,0) C (2,5) N (3,07) O (3,5) F (4,0)

Na (0,93) Mg (1,2) Al (1,6) Si (1,8) P (2,2) S (2,6) Cl (3,0)

K (0,91) Ca (1,04) Ga (1,8) Ge (1,8) As (2,1) Se (2,5) Br (2,8)

Rb (0,89) Sr (0,99) In (1,55) Sn (1,8) Sb (1,8) Te (2,1) I (2,6)

Observe a tabela a baixo:

A tabela mostra que a electronegatividade altera-se regularmente,


segundo a posição do elemento no sistema periódico. No início de cada
período, estão os elementos de menor electronegatividade (os metais
típicos) e no fim, imediatamente antes dos gases nobres, encontram-se os
mais electronegativos, isto é, os ametais típicos.

Nos grupos, a electronegatividade tende a decrescer com o aumento da


carga nuclear e do raio atómico.

Ligação Covalente ou Atómica

Assim como a teoria atómica, a ideia sobre as ligações químicas deve ser
apresentada sob o ponto de vista dum modelo, isto é, como representação
funcional de algumas características da realidade objectiva. Portanto, a
partir dos conhecimentos trazidos pelo desenvolvimento do modelo
atómico de Bohr (mecânica quântica) e modelo ondulatório do átomo que
tem como base a teoria da mecânica quântica, chega-se ao actual
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 43

conhecimento sobre ligação química covalente como forma de


representação cada vez mais clara e aproximada da realidade objectiva
dos cristais moleculares e atómicos.

Ligação covalente é a união entre Átomos, que é estabelecida por meio


de pares de electrões, de tal modo que cada par será formado por um
electrão de cada Átomo.

Como você estudou na Química Básica, este compartilhamento de


electrões leva à formação de três tipos de ligação covalente: Apolar, Polar
e Dativa.

O americano G. N. Lewis esclareceu em 1916 que a ligação entre átomos


nas moléculas se deve ao compartilhamento de um par de electrões
pertencentes a átomos intervenientes.

Segundo Lewis, a partilha de electrões tende a estabilizar as moléculas,


isto é, os átomos atingem a estrutura de um gás nobre (8 electrões na
última camada).

O Oxigénio necessita de dois electrões para ficar estável e o Hidrogénio


irá compartilhar seu electrão com o Oxigénio. Sendo assim, o Oxigénio
ainda necessita de um electrão para se estabilizar, então é preciso mais
Exemplo
um Hidrogénio e esse, compartilha o seu electrão com o Oxigénio
estabilizando-o. Sendo assim, é formada uma molécula, a H2O.

As moléculas podem ser representadas com base na estrutura de Lewis:

Exemplo1: H2 H● + * H H ●* H

● *
Exemplo2: O2 O● + * O O ● * O
● *

Como você viu na lição anterior, as substâncias metálicas têm as suas


propriedades, o mesmo acontece com substâncias covalentes. Veja a
seguir essas propriedades.
44 Lição no 5

Polaridade das moléculas Covalentes

Quando uma molécula diatómica é formada por átomos de um elemento,


como, por exemplo, nas moléculas de H2, N2, O2, Cl2, etc., cada nuvem
electrónica formada pelo par electrónico comum e que constituí uma
ligação covalente, distribui-se no espaço de um modo simétrico em
relação aos núcleos de ambos os átomos. Neste caso a ligação covalente é
chamada apolar ou homopolar. Os átomos idênticos da molécula
apresentam a mesma electronegatividade, e a partilha da nuvem
electrónica molecular é feita por igual.

Quando a molécula diatómica é formada por átomos de elementos


diferentes, a nuvem electrónica comum é partilhada de um modo
diferente pelos átomos. O átomo de maior electronegatividade atrai mais
para si a nuvem electrónica, ocorrendo deste modo uma distribuição
assimétrica da carga electrónica na molécula. Formam - se pólos (positivo
e negativo). A molécula diz-se polar ou heteropolar. Os excessos de
carga conduzem à formação de cargas parciais.

H (2,1)
Li Be (1,5) B (2,0) C (2,5) N (3,07) O (3,5) F (4,0)
(0,98)
Na Mg Al (1,6) Si (1,8) P (2,2) S (2,6) Cl (3,0)
(0,93) (1,2)
K Ca Ga (1,8) Ge (1,8) As (2,1) Se (2,5) Br (2,8)
(0,91) (1,04)
Rb Sr In (1,55) Sn (1,8) Sb (1,8) Te (2,1) I (2,6)
(0,89) (0,99)

A tabela acima ajuda-nos a avaliar o grau de atracção dos átomos quando


se ligam covalentemente.

Como é que varia a polaridade de um conjunto de moléculas diatómicas


constituídas por elementos do mesmo grupo?

As moléculas diatómicas como as do HF, HCl, HBr e HI são polares.


Nesta série, a polaridade decresce com a diminuição da
electronegatividade do Halogéneo.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 45

Nestas moléculas podem ser examinadas como sistemas de duas cargas


iguais e de sinais contrários, separadas entre si por uma certa distância.
São, por isso, dipolos eléctricos. Apesar da carga sumária dum dipolo ser
igual a zero, no espaço perto dele forma-se um campo eléctrico, cuja
tensão é proporcional ao momento dipolar da molécula (µ), que é o
produto do valor absoluto da carga do electrão (q) pela distância (l) entre
os centros das cargas positiva e negativa da molécula:

µ = q.l em C x m Sendo que: q = 1,60 x 10-19 C

O momento dipolar duma molécula é uma medida quantitativa da sua


polaridade. A sua orientação é no sentido do pólo positivo para o
negativo. E são normalmente medidos em debyes (D).

1D = 3,33 x 10-30 C x m

Uma molécula é tanto mais polar, quanto maior for a deslocação do par
de electrões comum na direcção de um dos átomos, isto é, quanto mais
altas forem as cargas efectivas dos átomos e quanto maior for o
comprimento do dipólo l. Por isso, numa série de moléculas de
construção semelhante o momento dipolar aumenta à medida que
aumenta a diferença de electronegatividade dos átomos que as formam
como pode ser visto na série dos halogenetos do hidrogénio:

HF HCl HBr HI
1,92 D 1,06 D 0,79 D 0,38 D

As moléculas poliatómicas também podem ser apolares se a distribuição


de cargas for simétrica, por exemplo o CO2, O CH4, etc. Se a distribuição
da carga for assimétrica, como em H2O, NH3, etc., o momento dipolar da
molécula será diferente de zero.

Os momentos dipolares encontram-se relacionados com as estruturas


espaciais das moléculas. Por exemplo, as moléculas do tipo AB2, de
momento dipolar nulo são lineares enquanto que as com momento dipolar
diferente de zero são angulares (exemplos CO2 e SO2 respectivamente);
ou então nas moléculas AB3 que têm a estrutura de triângulo equilátero
são apolares (BF3) enquanto que as que têm estrutura duma pirâmide
(NH3) são polares.
46 Lição no 5

Porque é que as moléculas se ligam covalentemente?

Teorias sobre ligação química

Para que uma teoria seja considerada teoria sobre ligação química deve
satisfazer a uma série de requisitos, que a seguir se mencionam:

 Explicar a razão por que alguns elementos formam facilmente


moléculas e outros não;

 Mostrar por que razão algumas substâncias são paramagnéticas


enquanto outras são diamagnéticas.

Assim, você pode concluir que moléculas paramagnéticas (têm electrões


desemparelhados) quando partilham electrões estabilizam, tornando-se
diamagnéticas; isto não acontece com o Oxigénio. Por outro lado, o Hélio
não é uma molécula diatómica, mas pode reagir com o ião He2+ e formar
a molécula do tipo He2+.

Estes factos não podem ser explicados pela teoria da ligação covalente de
Lewis.

Neste sentido, as teorias sobre estas são:

a) Teoria de Ligação de valência (TEV)

Também conhecida como Valence Bond ou Método das ligações de


Valência, foi desenvolvido por W. Heitler e F. London em 1927. Este
método sugere algumas condições necessárias para a formação da ligação
química:
 Condição energética. A energia potencial do sistema resultante deve
ser menor que a energia inicial das partículas;
 Condição de acoplamento de spin. Os spins dos electrões de ligação
devem ter sentidos (sinais) opostos para a energia do sistema ser mais
baixa e os átomos aproximarem-se até uma certa distância;
 A ligação química ocorre como resultado da sobreposição das nuvens
electrónicas que provoca aproximação dos núcleos; esta atracacção
supera a repulsão mútua dos electrões e forma-se uma molécula
estável;
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 47

 Uma ligação química covalente é tanto mais estável, quanto maior for
o grau de sobreposição das nuvens electrónicas que interactuam;
 Para a representação dos esquemas de valência podem ser usadas as
orbitais de valência que interagem ou então as estruturas de Lewis;
 O número de pares electrónicos comuns que ligam o átomo de um
elemento com os outros átomos é a covalência desse átomo.

A ligação “é apolar ou homopolar quando os átomos são idênticos, têm a


mesma electronegatividade e há partilha da nuvem electrónica.

A ligação é polar quando um átomo é mais electronegativo que o outro


atrai para si o par electrónico, provocando uma assimetria na distribuição
da carga eléctrica na molécula – formam-se pólos (cargas parciais).

δ+ µ δ- δ+ δ-
H Cl Ex: H Br

Exemplo

b) Hibridização

Para explicar e predizer melhor a geometria das moléculas, foi


introduzido por Linus Pauling o conceito de Hibridização.

Hibridização é o processo da mistura de duas orbitais atómicas num


átomo (em geral um átomo central) de modo a gerar um conjunto de
orbitais atómicas, chamadas orbitais híbridas.

A orientação da ligação química deve corresponder à máxima


sobreposição das nuvens electrónicas que interactuam. Assim, formam-se
orbitais híbridas de vários tipos: sp, sp2, sp3, sp3d, sp3d2.

c) Teoria das Orbitais Moleculares (OM)

Este método das orbitais moleculares (MO) descreve a ligação covalente


através de orbitais moleculares (como um conjunto de nuvens
electrónicas moleculares) que resultam de orbitais atómicas envolvidas na
ligação.

Numa molécula ocorrem orbitais moleculares em vez de orbitais


atómicas. As orbitais moleculares são regiões no espaço da molécula
onde há maior probabilidade de encontrar os electrões, é onde a
densidade electrónica é mais elevada.
48 Lição no 5

Cada orbital molecular corresponde a um determinado conjunto de


números quânticos moleculares. Na molécula mantêm-se o princípio de
Pauling (cada orbital molecular só pode conter dois electrões de spins
contrários); e a regra de Hund (a energia mínima da molécula
corresponde a uma distribuição dos electrões pelas orbitais
energeticamente equivalentes que corresponda a um valor absoluto
máximo de spin total da molécula).

Se na orbital molecular existirem electrões desemparelhados, a molécula


será paramagnética; caso todos os electrões se encontrem emparelhados,
a molécula será diamagnética.

Da interacção entre as orbitais atómicas para originar a molécula, forma-


se um igual número de orbitais moleculares. Porém umas com energia
mais baixa que as dos átomos, as orbitais ligantes; e outra de energia
mais elevada que as dos átomos, as orbitais antiligantes.

Que propriedades apresentam as substâncias com ligação


covalente?

Os compostos formados por ligação covalente são líquidos ou gases a


temperatura ambiente. Não conduzem a corrente eléctrica quando
líquidos ou em solução. Apresentam baixos pontos de fusão e de
ebulição. No estado sólido, formam molécula.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 49

Auto-avaliação
1. Para a descrição da ligação covalente e da estrutura das moléculas
podem usar-se a teoria dos gases nobres, teoria das ligações de
valência e a teoria das orbitais moleculares.
Exercícios
a) Descreva a molécula do oxigénio (faça a estrutura) à luz da teoria
dos gases nobres.

2. Considere a seguinte tabela de electronegatividades dos elementos:


H
2,1
Li Be B C N O F
0,98 1,5 2,0 2,5 3,07 3,5 4,0
Na Mg Al Si P S Cl
0,93 1,2 1,6 1,9 2,2 2,6 3,0
K Ca Ga Ge As Se Br
0,91 1,04 1,8 2,0 2,1 2,5 2,8
Rb Sr In Sn Sb Te I
0,89 0,99 1,5 1,7 1,8 2,1 2,6
No caso das ligações H-O e O-M, nos compostos do tipo E(OH)2, onde E
pode ser Be, Ca, Sr e Mg, determine:

a) Qual das ligações revela um carácter iónico mais acentuado?

b) Como se dissociam estas moléculas em solução aquosa?

3. Indique o tipo de ligação química nas moléculas de H2, Cl2, HCl.


50 Lição no 5

Resumo
Nesta unidade esperamos que você tenha aprendido mais sobre a
estrutura da matéria.

Esta unidade é constituída por cinco lições. A primeira lição, que


Resumo
apresenta de forma breve o historial da teoria atómica, destacando as
principais fases do desenvolvimento da estrutura atómica desde a teoria
atómica clássica de Dalton às teorias atómicas modernas. Destaca
também a estrutura do átomo e sua constituição, os números quânticos e
as regras e princípios a eles relacionados.

A segunda lição aborda o sistema periódico dos elementos, destacando o


processo histórico da evolução do ordenamento dos elementos químicos
no sistema periódico, tendo em conta os respectivos critérios de
classificação, para a partir disso podermos responder a questão: Como é
que os elementos químicos estão organizados no sistema periódico?

Na terceira lição são discustidas as propriedades do sistema periódica de


elementos, desta forma, destacando entre elas a estabilidade electrónica a
luz da teoria dos gases nobres, as variações dessas propriedades, os seus
aspectos particulares e as anomalias que as caracterizam.

Na quarta lição introduzimos as ligações químicas, como sendo


resultado da união de átomos de elementos entre si ou com outros
formando um sistema poliatómico estável, uma molécula, um ião
molecular, um cristal, etc. Nesta lição também abordamos os
diferentes tipos de ligações químicas, com particularidade às
ligações iónicas e metálicas, suas características, estruturas das redes
que cada uma forma e as propriedades de substâncias que apresentam
respectivamente ligações iónicas e metálicas.

Na quinta e última lição desta unidade, dá-se ênfase à ligação covalente


ou atómica, destacando a sua estrutura, a polaridade das moléculas
covalentes e as teorias que estão por detrás da ligação covalente (Teoria
de Ligação de Valência – TEV, Hibridização e a teoria das Orbitais
Moleculares – OM. Também são abordadas as propriedades apresentadas
pelas substâncias com ligação covalente.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 51

Bibliografia
BARROS, J. Manual de Química Geral. Maputo, Universidade
Pedagógica, 2004.
Carvalho, G.C. Química moderna 2o vol.. SP – Brasil. Livraria
Nobel, 1976.
Leitura
CHANG, Raymond. Química Geral – Conceitos essenciais. 4ª Edição.
São Paulo, Editora Mc Graw-Hill, 2007.
Glinka, N. Problemas e exercícios de Química Geral. Moscovo,
editora Mir, 1987.
Mahan, B.H. Química um curso universitário. 4a edição, SP – Brasil,
Editora Edgard Büchler Ltda. 1998.

Respostas dos exercícios


Lição 1

1. R: O modelo não explicava por que razão os electrões, girando à


volta do núcleo, não perdem a sua energia e entram em colisão com
o núcleo.

2. R: Orbital atómica é a região mais provável de encontrar o electrão.

Resultados 3. R: Segundo a regra de Klechkovsky e Slater, o subnível que se


preenche depois do subsnivel 5p é .

6s: n = 6; ℓ = 0 (ℓ + n) = 6
5p: n = 5; ℓ = 1 (ℓ + n) = 6
4d: n = 4; ℓ = 2 (ℓ + n) = 6
4. R: Não se pode saber o local e a velocidade do electrão porque,
segundo o princípio de Heisemberg, é impossível saber exactamente
onde um electrão se localiza num determinado tempo.

Lição 2

1. R: 17Cl: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5 Grupo: VII e Período: 3º

2. R: Elemento X localiza-se no: II grupo e 5º período

3. R: a) 20 A: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2

b) Grupo: II e Período: 4º
52 Lição no 5

Lição 3

1. R: 16Cl: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p4 Grupo: VI e Período: 3º

2. R: a) Elemento X localiza-se no: V grupo e 4º período.

b) Os números atómicos dos elementos que antecedem e sucedem


o elemento X na mesma família da Tabela Periódica são 17 e 53.

Lição 4

1. R: Ligação química é a união entre dois ou mais átomos, ou seja, é a


força que mantém os átomos unidos. Os metais apresentam retículos
cristalinos e elevado número de coordenação, para além de possuir
atracções semelhantes entre os átomos.

2. R: Aço - constituído por Ferro e Carbono.

Aço inox - constituído por Ferro, Carbono, Crómio e Níquel.


Ouro de jóias - constituído por Ouro, Prata e/ou Cobre.
Amálgama dental (utilizada em obturação) - constituído por
Mercúrio, Prata e Estanho.
Latão (utilizado em armas e torneiras) - constituído por Cobre e
Zinco. Entre tantas outras ligas existentes.

3. R: :Cl:
|
:

:Cl — C — Cl: H—C≡N:


:
:

|
:Cl:
:

4. R: i) Covalente polar; ii) Metálica; iii) liga metálica


iv) Covalente polar v) Iónica vi) Covalente apolar

Lição 5
1. R: a) |O=O|

2. R: a) A ligação que revela o carácter iónico mais acentuado é o do


Sr(OH)2.

b) Essas moléculas quando em solução aquosa dissociam-se


formando os iões do metal (E+) e iões hidroxilo (OH-):

E(OH)2 (aq) E+(aq) + OH-(aq)

4. R: As moléculas H2, Cl2 e HCl:

H2, Cl2 - ligações covalentes apolares e HCl – ligação covalente polar


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 53

Unidade 2

Termodinâmica (Termoquímica)

Introdução
Bem-vindo a esta unidade didáctica. Nela você terá as noções básicas
sobre a Termoquímica, relacionada a um sistema, estados e as funções de
estado, através do estudo da espontaneidade de um processo químico, da
entropia e da energia (entalpia) livre, influência da temperatura sobre a
entalpia, entropia e energia livre.

Ao propormos-lhe esta unidade, pretendemos que você se envolva


academicamente e de maneira árdua e complexa em todas as actividades
indicadas ao longo das lições. Neste sentido, achamos que devíamos
proporcionar-lhe algumas informações básicas sobre a Termodinâmica e
mais concretamente sobre a Termoquímica.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

• Interpretar os conceitos de sistema, estado, função de estado,


trabalho, calor e entalpia;
• Aplicar a Lei de Hess na interpretação e resolução de exercícios
Objectivos da unidade sobre a transferência de energias;
• Analisar a espontaneidade termodinâmica de um processo;
• Aplicar os conceitos de entropia e energia (entalpia) livre na
resolução de exercícios;
• Analisar a influência da temperatura sobre a variação de entalpia;
• Relacionar a variação da energia livre com a constante de
equilíbrio.

A Termoquímica relaciona-se com calor e movimento. Ela investiga as


transformações energéticas decorrentes nos sistemas químicos e permite-
nos caracterizar o equilíbrio químico Termodinâmico.

Qualquer químico industrial ou engenheiro faz primeiro os cálculos sobre


um determinado processo antes de poder tomar decisões sobre estes
54 Unidade 2

mesmos processos químicos industriais, sob o risco de ocorrer algo


indesejado.

Tais cálculos permitem-no tirar conclusões sobre a possibilidade ou


impossibilidade; sobre a rentabilidade e sobre a previsão de métodos
rentáveis na produção de um determinado material à base de reacções
químicas.

TERMOQUÍMICA é o ramo da Química que se dedica ao estudo da


relação entre o calor e a reacção química, isto é, o calor desenvolvido
(recebido ou cedido) durante uma transformação química.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 55

Lição no 1

Conceito de Sistema

Introdução
Certamente que você já ouviu falar de alguns mitos sobre o fogo. Quais
são os mitos que você conhece sobre o fogo?

Dentre os vários mitos, o mais fascinante é o de Prometeu. Segundo a


mitologia grega, ele teria roubado o fogo dos deuses e dado aos homens,
ensinando-os a usá-lo, tendo sido por isso punido por Zeus. Foi amarrado
a uma rocha e uma águia devorava-lhe o fígado. A cada ataque, este
regenerava-se. Foi libertado por Hércules após trinta anos (ou séculos?).

Assim, o calor tem preocupado o homem desde que o mesmo percebeu a


necessidade da sobrevivência. Sempre teve lugar de destaque nas idéias
dos alquimistas, baseadas no ponto de vista dos gregos - desde séculos
A.C. até ao século dezasseis - relativo aos quatro elementos componentes
da matéria: terra, ar, fogo e água.

A partir do século XVIII, com as ideias orientadas pelo conhecimento -


vindo da observação associada à experimentação - surgiu a
Termodinâmica, que passou a ser um campo definido da ciência.

Ao completar esta lição, você será capaz de:


 Definir o conceito de sistema;
 Caracterizar os vários tipos de sistemas;
 Identificar os factores que influenciam o estado de um sistema
Objectivos da lição químico;
 - Representar as equações de estado de um sistema.

O que é um Sistema?
Sistema químico pode ser definido como uma amostra qualquer de uma
ou mais substâncias químicas que se encontram delimitadas por fronteiras
56 Lição no 1

reais ou imaginárias (modelo) com relação ao meio, ou seja, com relação


às vizinhanças.

Um sistema químico em termoquímica é caracterizado pelos seguintes


factores:
 Substâncias no referido sistema;
 Conteúdo energético no sistema;
 Possibilidades de trocas de energia e matéria com as vizinhanças.

Quando se caracteriza um sistema tendo em conta a forma como as


substâncias se encontram distribuídas no mesmo podemos ter:
 Sistemas sólidos
 Sistemas líquidos
 Sistemas gasosos
 Sistemas mistos

Estes podem ser:


 Homogéneos
 Heterogéneos

Quando se caracteriza um sistema tendo em conta as possíveis trocas com


as vizinhanças podemos ter:
 Sistemas isolados: não permitem nem troca de energia nem de
substância;
 Sistemas fechados: somente permitem troca de energia;
 Sistemas abertos: permitem troca de energia e de substância com o
meio externo.
Observe os esquemas abaixo que traduzem os diferentes sistemas tendo
em conta as possíveis trocas com as vizinhanças.

ENERGIA ENERGIA ENERGIA

SISTEMA SISTEMA SISTEMA

ABERTO FECHADO FECHADO

SUBSTÂNCIAS SUBSTÂNCIAS SUBSTÂNCIAS

Há troca de energia e de Há troca de energia, mas não Não há troca, nem de energia,
substâncias com o meio há troca de substâncias com o nem de substâncias com o
meio meio
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 57

As transformações experimentadas por um sistema inicialmente a uma


certa temperatura podem ocorrer com:

• Elevação da temperatura - transformação endotérmica;

• Diminuição da temperatura - transformação exotérmica;

• Sem variação da temperatura - transformação atértmica. (Este é


um processo hipotético!)

Além de trocas de energia e de trabalho (aumento ou diminuição do


volume) há a considerar o facto da reacção poder ser:

• Provocada (forçada) – O meio exterior exerce trabalho ou fornece


energia (ou calor) ao sistema forçando a sua transformação;

• Espontânea – A reacção ocorre sem execução de trabalho sobre o


sistema, a não ser aquele que a atmosfera pode executar
espontaneamente sobre o sistema ao obrigá-lo eventualmente a
diminuir de volume.

O Estado de um sistema

O estado de um sistema é determinado pela sua composição e pelas


condições em que este sistema se encontra. Para especificar o estado de
um sistema é necessário especificar as funções do estado do sistema, que
são determinadas pelas variáveis do estado. As variáveis do estado podem
ser intensivas, como a pressão, a temperatura, a energia livre, a
entropia, o trabalho, a energia livre de Gibbs, a entalpia livre de
Helmholtz; ou extensivas, como a massa e o volume. A integração das
funções do estado do sistema resulta na equação do estado do sistema.

Equação de estado

A pressão, a temperatura, o volume e o número de partículas é tudo o


que precisamos para especificarmos completamente um sistema. A
relação entre essas variáveis pode ser expressa em termos de uma
equação conhecida como equação de estado. Para um gás ideal, a
equação de estado é:
58 Lição no 1

pV = nRT onde;

p – Pressão V – Volume,
n – Número de moléculas, T – Temperatura do gás.
R – Constante geral dos gases (R=8,314 J/mol.K ou 0,082 atm/mol.K).

1. Podes aprofundar os seus conhecimentos em relação aos sistemas se


fizeres uma revisão dos mesmos conteúdos da física.

Para isso, o professor tutor irá coordenar essa actividade. Você precisa de
Tome Nota! fazer um resumo de cerca de uma página, sobre “os sistemas,
classificação e propriedades”. A actividade deve ser realizada aos pares
(dois estudantes). Para tal, escolha um membro do seu grupo de estudo
para realizar a actividade.

Auto-avaliação
1. Defina um sistema químico.

a) Como é que se caracteriza um sistema químico?

Exercícios 2. Qual a quantidade de calor ganho ou recebido por 300g de Água cuja
temperatura se elevou de 20oC para 28oC?

3. Calcule o calor de combustão de uma substância A de massa molar


40g, se a combustão de 4g da mesma produz um aumento da temperatura
em 15oC a temperatura de um calorímetro cuja capacidade calorífica é de
KJ
5,44 .
g⋅o C
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 59

Lição no 2

Energia, Trabalho e Calor

Introdução
Como é que você define os conceitos de Energia, Calor e Trabalho?

A termodinâmica dedica-se ao estudo da energia, trabalho e calor. Por


isso, começaremos por analisar o conteúdo das leis da Termodinâmica
para podermos interpretar os fenómenos que regem as reacções químicas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Definir os conceitos de Energia, Trabalho e Calor;

• Interpretar os conceitos de Energia, Trabalho e Calor;

Objectivos da lição • Escrever as equações de estado para cada um dos conceitos;

• Caracterizar formas de trabalho de um sistema.

Quais as diferenças entre energia, trabalho e calor?

As reacções químicas são acompanhadas de libertação ou absorção de


energia.

Habitualmente, a energia é libertada ou absorvida sob a forma de calor


(Q).

A libertação ou absorção de energia durante as reacções químicas


permite-nos reconhecer que as substâncias possuem sempre, antes da
reacção, uma determinada energia na forma latente (reserva de energia).

A energia latente duma substância ou de um sistema químico é a sua


energia interna (U). Ela representa o somatório de todas as formas de
energia da substância ou do sistema (U = Epot + Ecin).
60 Lição no 2

Quando uma reacção química decorre provocando uma diminuição da


energia interna do sistema, a reacção é acompanhada de libertação de
energia e diz-se exotérmica. Contrariamente, ela será então endotérmica.

Muitas vezes, quando uma reacção química decorre em sistemas


contendo gases, além do calor Q (forma comum de energia trocada)
também ocorre uma transformação de energia sob a forma de trabalho de
volume (Wv). Para sistemas electroquímicos, tal transformação energética
toma o nome de trabalho eléctrico (Wel.).

Todavia, as transformações energéticas que podem ocorrer tendo como


base uma reacção química são diversas, dentre elas:

 Variação de energia sob a forma de calor - efeito térmico;


 Variação de energia sob a forma de luz - luminescência e
incandescência.
 Transformação de energia química em eléctrica – pilhas;
 Transformação de energia eléctrica em química – electrólise;
 Transformação de energia interna em mecânica - explosões.

Em resumo, podemos dizer que as reacções químicas são normalmente


acompanhadas por transformações das substâncias e por transformações
energéticas.

O conceito de energia

Energia é a capacidade de realizar trabalho.

Num sistema isolado, a soma de todas as energias é constante - Lei da


conservação de energia. “Não é possível ganhar energia do nada”. Só é
possível transformar uma forma de energia noutra.

As formas de energia mais comuns são:


 Energia mecânica
 Energia cinética
 Energia térmica
 Energia potencial
 Energia eléctrica
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 61

 Energia nuclear
 Energia química
 Energia luminosa
 Energia radiante.

As medidas equivalentes de energia são:


 1Joule = 6,24.1018 eV = 1Ws = 0,239 Cal = 1Nm = 0,01litro.atm

As medidas mais usuais são o


 Joule (J) e a Caloria (Cal) ou o Quilojoule (kJ) e a Quilocaloria
(Kcal).

O conceito de trabalho (w)

Trabalho

Este conceito relaciona-se com as transformações energéticas com


carácter mecânico.

O trabalho mecânico é normalmente definido como produto entre a força


(F) e o trajecto (deslocamento) (s):

Wm = Fds

O trabalho de volume é uma forma de trabalho mecânico e é definido


como produto entre a pressão (p) , a área (A) e o trajecto (s):

Wv = pAds Wv = pdv

Sendo Ads correspondente a dv obtém-se:

Por definição, o trabalho de volume pode ser de expansão (ocorre com


aumento de volume) ou de compressão (ocorre com diminuição de
volume):
Wv =-pdv (trabalho de expansão)

SISTEMA

Trabalho de Expansão
62 Lição no 2

Este conceito provém da física que diz que o trabalho para deslocar um
corpo na distância ds na direcção de uma força F que se opõe ao
deslocamento é negativo. É claro que na expansão o volume final do
sistema é maior que o inicial e a variação de volume é positiva. Porém, o
trabalho realizado pelo sistema leva sinal negativo.

Wv = pdv (trabalho de compressão)

SISTEMA

Trabalho de Compressão

Neste último caso, o trabalho é realizado pelas vizinhanças sobre o


sistema, sendo, por isso, positivo.

Em qualquer dos casos, o que determina o trabalho é a pressão externa.

Certamente que você já soprou um balão. Esses dois fenómenos podem


ser facilmente percebidos se você fizer uma analogia ao balão. Assim, o
enchimento do balão seria um trabalho de expansão e a pressão exercida
sobre um balão cheio e amarrado como trabalho de compressão.

Assim, você pode facilmente perceber que existem factores que


afectam o trabalho, tanto o de expansão como o de compressão.

A seguir veremos as condições para ocorrência dos diferentes tipos de


trabalho.

Expansão Contra uma Pressão Externa Constante (P = constante; V =


variável)

O exemplo químico deste trabalho é o da expansão de um gás que se


forma num tubo de ensaio aberto, durante uma reacção química.
Integrando a expressão de trabalho, tendo como limites Vinicial < Vfinal
teremos:
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 63

Vfin
W = -p ∫
Vini
dV = -p(Vf - VI) = -p∆V

De contrário Vinicial > Vfinal teremos:

Vfin
W = -p ∫ Vini
dV = -p(Vf - VI) = p∆V

O trabalho será de compressão.

Expansão Isotérmica Reversível

No caso da expansão isotérmica reversível, temos que o processo pode


sofrer variações infinitesimais de volume ou de pressão nos dois sentidos;
e que a expansão é isotérmica graças ao contacto térmico entre o sistema
e as suas vizinhanças (por exemplo um banho termostatizado).

A relação entre o volume e a pressão pode ser deduzida da equação geral


dos gases:
PV = nRT

Daí tem-se que:


P = nRT/V

Onde V é o volume do gás em cada etapa.


Sendo a temperatura T, o número de moles n e R grandezas constantes,
teremos:

Vfin
Wrev = -nRT ∫Vini
dV / V = -nRTln(Vf/VI)

Quando o volume final é maior que o inicial, como é o caso de uma


expansão, o trabalho será W < 0, i. e. o gás fez trabalho sobre as
vizinhanças e a sua energia interna diminuiu em consequência desse
trabalho.

Esta equação também mostra que para uma dada variação de volume o
trabalho executado é tanto maior quanto maior for a temperatura.

A maior pressão do gás confinado, nessas circunstâncias, exige maior


pressão externa para que se garanta a reversibilidade. Sendo assim, o
64 Lição no 2

trabalho que se obtém num contexto reversível é o trabalho máximo, pois


não se pode obter mais trabalho isotérmico, visto que se aumentarmos,
mesmo que infinitesimalmente a pressão externa em qualquer etapa do
processo, provocaremos a compressão, isto é, trabalho realizado sobre o
sistema.

Você pode notar essa relação no gráfico a seguir:

O conceito de calor (q)

De certeza que em algum momento você afirmou que “estou a sentir


calor”. O que será então Calor?

O calor (Q) é uma forma de energia que flúi espontaneamente de um


sistema mais quente para um sistema mais frio.
Uma transferência de calor no sentido inverso, requereria gasto de
energia.

Quando um sistema ganha calor Q, este é positivo e o processo é


endotérmico.
Q>0
Quando um sistema perde calor Q, este é negativo e o processo é
exotérmico.
Q<0
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 65

Auto-avaliação
1. Defina os conceitos de Energia, Trabalho e Calor.

2. Calcule a quantidade de calor, em Joules, libertado durante uma


reacção de num calorímetro formado por materiais de vidro
Exercícios
J
( CVidro = 0,84 ) cuja massa é de 204 g e que utiliza 150 g de Água
g⋅o C

J
( C Água = 4,185 ), se a temperatura aumenta em 25oC.
g ⋅o C

3. Qual é a quantidade de calor necessária a fornecer a 900 g de Água


para que a sua temperatura se eleve de 25oC para 100oC?
66 Lição no 3

Lição no 3

Termodinâmica. Introdução às
Funções e Variáveis de Estado

Introdução
O estado termodinâmico dos sistemas é definido por funções de estado.
As funções de estado mais comuns são: a energia, o trabalho e o calor.

Nesta lição você vai aprender como fazer a interpretação da primeira Lei
da Termodinâmica, relacionando-a com as Funções de estado, no sentido
de poder determinar quantitativamente cada uma dessas funções numa
reacção química.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Enunciar a primeira Lei da Termodinâmica;

 Interpretar a primeira Lei da Termodinâmica;

Objectivos da lição  Relacionar as funções de estado com a primeira lei da


Termodinâmica;

 Efectuar cálculos para determinar quantitativamente as funções


de estado numa reacção química.

Nesta lição, você vai dar continuidade ao estudo da termodinâmica,


tratando das funções de estado.

Como você viu anteriormente, o estudo termodinâmico dos sistemas é


definido pelas funções de estado.

As funções de estado mais comuns são:

A energia interna (U) - exprime o conteúdo energético total do sistema


(da substância); é a energia total das partículas que compõem essa
substância.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 67

A energia cinética é a energia do movimento de rotação, de vibração e de


translação das partículas, enquanto que a energia potencial é
condicionada pelas forças de atracção e repulsão entre as partículas. A
energia interna – U - depende do estado da substância.

Quando num processo qualquer o sistema passa do estado inicial (1) para
o estado final (2) e realiza trabalho W, absorvendo calor Q do meio
exterior, a sua energia interna reduzir-se-á em W e aumentará em Q.
Disso resulta a seguinte variação:

Como: U1 - W + Q = U2 e ∆U = U2 - U1

Teremos:
∆U = Q - W
(Primeira Lei da Termodinâmica)

Equivalência entre Trabalho (w) e Calor (q) - Primeira Lei da


Termodinâmica

Você viu que a energia interna U é a soma de todas as energias do


sistema; viu também que a variação da energia interna depende somente
do estado inicial e do final, mas não depende do caminho percorrido.

∆U = Ufinal - Uinicial

Sabendo que na passagem do sistema do estado inicial Uinicial ao estado


final Ufinal possam ocorrer variações energéticas, envolvendo trabalho W
e calor Q, poderemos exprimir ∆U como o somatório dessas variações:

∆U = Q + W

Esta expressão mostra-nos que:

Q = ∆U - W

A primeira Lei da termodinâmica diz:

• Num sistema isolado (Q = 0 e W = 0) a soma de todas as energias é


constante;

• Num sistema fechado, a variação de energia interna é a energia que


passa, como calor ou trabalho, através das suas fronteiras;
68 Lição no 3

• A variação de energia interna depende somente do estado inicial e do


estado final, mas não depende do caminho;

• Não existe nenhum motor perpétuo de primeira classe, isto é, uma


máquina capaz de produzir infinitamente trabalho sem consumir
combustível ou sem receber energia de uma outra fonte qualquer.

Esta lei resume a equivalência entre trabalho e calor. De acordo com ela,
a alteração da energia interna não depende do percurso seguido pelo
processo, mas determina-se apenas pelos estados inicial e final. Porém, a
quantidade de energia que se destina à realização de trabalho W e a que
será convertida em calor Q, depende do percurso que o processo seguir,
isto é, a relação entre trabalho e calor pode ser diferente. Nomeadamente,
se durante o processo não se realiza qualquer trabalho, incluindo o
trabalho de expansão contra o exterior, isto é, se o volume do sistema não
se altera, então ter-se-á:
∆U = Qv

onde Qv é o calor absorvido pelo sistema nas condições pelas quais o


volume se mantém constante.

Esta última expressão dá-nos a possibilidade de determinar a alteração da


energia interna de diferentes processos que ocorram a volume constante.

Se aquecermos uma substância mantendo o seu volume constante, a


alteração da energia interna determina-se pelo calor molar da substância
pela expressão:

∆U = Qv = nCv ∆T
Onde Cv é o calor molar da substância; n o número de moles das
substâncias; ∆T a diferença entre as temperaturas final e inicial.

Quando uma reacção química se dá sem alteração do volume do sistema,


a alteração da energia interna é igual ao efeito térmico dessa reacção com
sinal contrário.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 69

Variação de energia interna:

1. Um motor eléctrico produz 15 kJ de energia em cada segundo sob


forma de trabalho mecânico e perde 2kJ de calor para o ambiente. Assim,
Exemplo
a variação da energia interna do motor será:

∆U = -2kJ - 15kJ = -17kJ

2. Um atleta faz um trabalho de 300 kJ sobre uma bicicleta, esta liberta 10


kJ de calor. Assim, a variação da energia interna da Bicicleta será:

∆U = 300kJ - 10kJ = 290kJ

Auto-avaliação
1. “Calor de reacção de neutralização (exotérmica)”.

→ NaCl( aq ) + H 2 O( l ) é de 57 ,3 KJ mol , a 25 o C .
HCl( aq ) + NaOH ( aq ) 

Exercícios
a) O que significa esta afirmação?

2. Considere as seguintes equações:

1 1
a) 2
→ NO( g ) ; ∆ R H o = 90 KJ mol de NO
N 2 ( g ) + 2 O2 ( g ) 

→ 2CO( g ) ; ∆R H o = −222 KJ
b) 2C( s ) + O2 ( g ) 

c) 2C 4 H 10 ( s ) + 13
2
→ 4CO2 ( g ) ; ∆R H o = −2869 KJ mol
O2 ( g ) 

i) Em qual delas ocorre contracção (diminuição do volume) ou


expansão (aumento do volume)?
70 Lição no 4

Lição no 4
Funções e Variáveis de Estado. Entalpia,
Entropia e Energia de Gibbs. Lei de Hess.

Introdução
O estado de um sistema é determinado pela sua composição e pelas
condições em que este sistema se encontra.

Nesta lição você vai analisar a especificação do estado de um sistema


tendo em conta as funções do estado, que são determinadas pelas
variáveis do estado.

Consideram-se variáveis do estado intensivas a pressão, a temperatura, a


energia livre, a entropia, o trabalho, a energia livre de Gibbs, a entalpia
livre de Helmholtz; ou extensivas: a massa e o volume. A integração das
funções do estado do sistema resulta na equação do estado do sistema.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Definir os conceitos de Entalpia, Entropia e Energia de Gibbs;


 Escrever as equações matemáticas de cada uma das variáveis;
 Determinar o sentido das reacções em função das variáveis de
Objectivos da lição estado;
 Identificar a espontaneidade de um sistema tendo em conta as
variáveis de estado;
 Interpretar a Lei de Hess no decurso dos processos químicos.

Entalpia (H)
A entalpia - exprime o calor trocado à pressão constante e é determinada
pela relação: H = U + PV

A uma pressão constante e na condição de que durante o processo se


realiza apenas trabalho de expansão tem se para a variação da entalpia:

∆H = ∆U + P ∆V Ou ∆U = ∆H - P ∆V
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 71

Comparando a última equação com a da energia interna, verificamos que:


∆U = Q - W

Disso se deduz que: ∆H - P ∆V = Q - P ∆V

E finalmente teremos que: ∆H = Qp

Onde Qp é o calor absorvido pelo sistema a uma pressão constante. Esta


expressão dá-nos a possibilidade de determinar a alteração da entalpia em
diferentes processos à pressão constante pela relação:

∆H = Qp = nCp ∆T

Aqui Cp é o calor molar da substância à pressão constante.

Para as alterações do estado de agregação da substância e das


transformações alotrópicas, a variação da entalpia é igual ao calor da
transformação correspondente (ebulição, fusão, passagem duma forma
alotrópica a outra, etc.) em grandeza, mas de sinal contrário.

A entalpia, do mesmo modo que a energia interna, caracteriza o estado


energético da substância, mas inclui a energia consumida para superar a
pressão exterior, isto é, para o trabalho de expansão.

As grandezas termodinâmicas, Entropia (S) e Energia de Gibbs (G) e os


factores que condicionam a direcção de processamento das reacções
químicas.

É de senso comum que existe uma série de processos que ocorrem


espontaneamente e outros que não ocorrem espontaneamente.
72 Lição no 4

Processos espontâneos:
 Quando abrimos um frasco de perfume, este difunde-se livremente no
espaço.
Exemplo  Quando dois corpos (um quente e outro frio) entram em contacto, o
calor é transferido do mais quente para o mais frio.
 A reacção entre o zinco e o ácido clorídrico para formar cloreto de
zinco e hidrogénio é espontânea.
 A corrosão do ferro com a formação de ferrugem.

Processos não espontâneos:


 O perfume difundido não volta espontaneamente para o frasco.
 Um corpo frio não transfere calor para outro mais quente.
 A reacção entre o hidrogénio e o cloreto de zinco não ocorre
espontaneamente.
 A ferrugem não se transforma espontaneamente em ferro; se assim
fosse, a nossa cidade não pareceria uma cadeia enferrujada, nem
teríamos necessidade de pintar periodicamente as grades das casas.

As reacções químicas processam-se espontaneamente sob determinadas


condições numa determinada direcção. O último exemplo mostra-nos que
é possível termos uma reacção exotérmica e outra endotermica e ainda
nos mostra que é possível termos um estado de equilíbrio estável entre
ambas.

Estes factos permitem - nos questionar o seguinte:

1. Qual é a razão da existência de uma determinada orientação dos


processos químicos?

2. Quais são os factores que condicionam um ou outro estado de


equilíbrio entre processos?

3. Por que é que as moléculas que entram na composição do ar


atmosférico e se distribuem ao redor da terra com uma espessura de
quilómetros não caem sobre a superfície terrestre?

4. Por que é que um gás, mesmo rarefeito, se expande livremente por


todo o volume do recipiente em que se encontra e não se confina a
um pequeno espaço no mesmo?
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 73

Do estudo que você fez sobre a estrutura atómica e sobre as ligações


químicas (unidade 1) aprendeu que quando novas substâncias se formam
ocorre uma diminuição da energia interna do sistema químico em causa,
isto é, a reestruturação das ligações químicas da qual resultam novas
substâncias corresponde a uma diminuição da energia interna do sistema,
ou seja, a um efeito térmico positivo da reacção.
Com efeito, a experiência mostra que em condições normais, muitas
reacções que decorrem espontaneamente são preferencialmente
exotérmicas.

Todavia, também sabemos que muitos sais se dissolvem espontaneamente


em processos endotérmicos, como também sabemos que à medida que
elevamos a temperatura, aumenta o número de reacções endotérmicas que
passam a decorrer espontaneamente.
O fenómeno da expansão do gás é um exemplo da manifestação do
princípio de existência de uma tendência normal, natural e espontânea de
os processos se deslocarem espontaneamente no sentido da distribuição
caótica das partículas (teoria do caos). Este tipo de deslocamento
corresponde à passagem para o estado mais provável. Quer dizer, o
estado caótico é o mais provável, a sua formação decorre
espontaneamente.

Tendo em conta os factores já enumerados, a direcção do processamento


espontâneo das reacções químicas determina-se pela acção conjugada de
dois factores:

1. Pela tendência da transição para o estado cuja energia interna seja


mínima;

2. Pela tendência de atingir um estado cuja probabilidade seja máxima.

Nos sistemas água - sal o mínimo de energia interna, na maioria dos


casos, corresponde ao estado cristalino do sal. Porém, o estado mais
provável do sistema é o que corresponde à distribuição caótica do sal na
água líquida. Devido a acção conjugada desses dois factores estabelece-se
um equilíbrio que corresponde a uma determinada concentração da
solução saturada do sal.
74 Lição no 4

A tendência da transição para o estado de energia mais baixa manifesta-se


a todas as temperaturas. Entretanto a tendência para alcançar o estado de
maior probabilidade é tanto maior, quanto maior for a temperatura.

Probabilidade e desordem

Os sistemas têm tendência natural a transformar-se em estados mais


desordenados por causa da probabilidade de tais estados serem maiores
do que a de um estado mais ordenado.

A grandeza termodinâmica que quantifica o estado de maior


probabilidade (estado desordenado) tem o nome de entropia (S).

A entropia S - exprime o estado de ordem ou desordem do sistema. Ela


está ligada ao número (W - probabilidade termodinâmica) de estados
microscópicos de igual probabilidade dos sistemas macroscópicos pela
relação: S = k x lnW

Onde k é a constante de Boltzmann :


R
k=
6,02 x 1023
Os cristais perfeitos com uma estrutura ideal têm a menor entropia
possível a temperatura de zero graus absolutos. A entropia do cristal com
irregularidade, mesmo a zero absoluto é um pouco maior, uma vez que o
afastamento das suas propriedades das ideais pode ser diverso. A medida
que aumenta a temperatura, a entropia cresce, uma vez que a intensidade
do movimento das partículas cresce.

Num sistema isolado, a entropia aumenta com qualquer transformação


espontânea, porque o sistema tende a um estado de equilíbrio mais
provável e mais estável, ou seja,
∆S > 0.

Se o sistema não está isolado, então este e as suas vizinhanças poderão


ser considerados como um sistema maior único isolado. Neste caso, a
variação total da entropia será igual a soma das variações das entropias
do sistema e das suas vizinhanças. Isto é,

∆STotal = ∆Ssistema + ∆Svizinhanças > 0

A Entropia do universo aumenta constantemente.


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 75

Em processos reversíveis a variação da entropia está relacionada com o


calor trocado e com a temperatura segundo a equação:

∆S = Qreversível/ T

Disto se deduz que: T ∆S = Qreversível

Tendo em conta que o calor trocado se transfere do corpo mais quente ao


mais frio, pode-se concluir que:
∆Sfrio = Q1/ T1 ; ∆Squente = Q2/ T2

No estado de equilíbrio a variação da entropia é igual a zero. Sendo


assim, teremos: ∆STotal= 0.

A entropia é o critério para a espontaneidade dum processo.

A entalpia livre ou Energia de Gibbs (G)

A entalpia livre (G) - exprime o trabalho realizado a pressão constante.

Em termoquímica a energia de Gibbs (∆RG) duma dada reacção serve


para avaliar se esta pode ou não decorrer espontaneamente:

Sempre que tivermos a condição: ∆RG < 0, então a reacção pode decorrer
espontaneamente.

Quando ∆RG = 0, teremos o estado de equilíbrio.

Quando ∆RG > 0, então a reacção não poderá ocorrer espontaneamente


naquelas condições.

De outro modo, existe uma relação entre ∆RG, ∆RH ∆RS e a


temperatura T, que nos permite avaliar aproximadamente como
influenciar o decorrer duma reacção química que sob condições normais
não pode decorrer:
∆RG = ∆RH - T∆RS
76 Lição no 4

Para tal as condições termodinâmicas devem ser tais que permitam que
∆RG possa ser negativo. Assim podemos com base na tabela a seguir
verificar se a reacção pode ou não ocorrer:

Sinal da variação da Possibilidade (impossibilidade) de a reacção ser


Função espontânea
∆RH ∆RS ∆RG
- + - Sempre possível a qualquer temperatura
+ - + Impossível seja qual for a temperatura
+ Impossível
- - - Possível a temperaturas suficientemente baixas
+ Impossível
+ + - Possível a temperaturas suficientemente elevadas

Pelo Quadro pode-se ver como a entalpia livre depende da entalpia e da


entropia.

Pode se dizer que a entalpia e a entropia são dois critérios naturalmente


opostos, os quais depende em combinação podem determinar se um
processo pode ou não decorrer.

Naturalmente a entalpia tende a ser negativa já que compostos estáveis se


formam com libertação de energia.

Por seu turno compostos estáveis também se formam, se o processo de


sua formação estiver acompanhado por um aumento de entropia do
sistema, isto é entropia positiva do processo.

Via de regra são formados compostos estáveis quando a variação do


potencial de Gibbs toma valor negativo.

O que têm de comum as funções de estado?

O valor de qualquer função de estado depende das variáveis que a


determinam, por exemplo:
• U = f (v, T) - se variarmos o volume ou temperatura então, U irá
variar;

• H = f (p, T) - se variarmos pressão ou temperatura então, H irá variar;

• S = f (v, T) - se variarmos volume ou temperatura, então S irá variar.


A energia absoluta dum sistema não pode ser medida. Isto significa que
não é possível medir os valores absolutos de U, H, S, G, etc.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 77

Porém, as variações energéticas dos sistemas podem ser medidas. Desse


modo, para as funções de estado teremos:

∆U = Ufinal - Uinicial ∆H = Hfinal - Hinicial

∆S = Sfinal - Sinicial ∆G = Gfinal - Ginicial

A termodinâmica está interessada com o estado final e inicial, mas não


com os trajectos que levam a esses estados. Ela tem como sustentação
básica a Lei de Conservação de energia.

O que diz a Lei de Hess?

Ela expressa o Calor trocado no decorrer das reacções químicas.

As reacções químicas podem decorrer:

 Com libertação de calor - Reacções exotérmicas:

(Q< 0 ou seja, ∆H < 0)

 Com absorção de calor - Reacções endotérmicas:

(Q> 0 ou seja, ∆H > 0)

Segundo Hess o calor libertado ou consumido durante uma reacção


química pode ser calculado com base nos valores dos calores de formação
das substâncias reagentes e produtos.

Entende-se por calor de formação ou entalpia de formação duma dada


substância como o calor necessário para a formação de uma mole da
substância a partir dos elementos que a compõem no seu estado mais
estável:
H2(g) + 1/2O2(g) H2O(l) ; ∆H = - 285,8KJ/mol

As substâncias nos seus estados elementares mais estáveis têm valores de


∆H = 0:

∆H (H2(g)) = 0; ∆H (O2(g )) = 0;
∆H (Mg(s)) = 0; ∆H (Hg(l)) = 0;
∆H (Br2(l)) = 0
78 Lição no 4

Os valores das entalpias de formação padrão das substâncias encontram-


se tabelados.

Tabeladas também se podem encontrar as entalpias de combustão das


substâncias; as entalpias de hidratação das substâncias, etc.

Pela Lei de Hess é possível calcular qualquer entalpia de uma dada


reacção. a Lei de Hess é a Lei da actividade dos calores.

Ela diz-nos que: “se uma reacção química poder ser expressa pela soma
algébrica de vários processos (reacções) então a entalpia total da
reacção será a soma algébrica das entalpias dessas reacções parciais,
tendo sempre em conta que a entalpia de cada reacção individual é igual
à diferença entre o somatório das entalpias dos produtos pelo somatório
das entalpias dos reagentes”:

LEI de HESS
∆RH = Σ ∆FHProdutos - = Σ ∆FHReagentes

C(grafite) + 1/2 O2(g) CO(g); ∆FH1 = ?

CO(g) + 1/2 O2(g) CO2(g); ∆FH2 = -283,0kJ/mol


Exemplo
C(grafite) + O2(g) CO2(g); ∆FH3 = -393,5kJ/mol

∆FH1 = ∆FH3 - ∆FH2 = -393,5 - (-283) = 110,5kJ/mol

A mesma lei aplica-se para as outras grandezas do estado termodinâmico.


As mais importantes são a Entropia (∆RS) e a entalpia livre ou energia de
Gibbs (∆RG).
Os valores das entropias de formação e das entalpias livres de formação
padrão também se encontram tabelados. A partir deles é possível calcular
qualquer variação de entropia ou de energia livre duma dada reacção
usando a Lei de Hess: ∆RS = Σ ∆FSProdutos - = Σ ∆FSReagentes

∆RG = Σ ∆FGProdutos - = Σ ∆FGReagentes

1. Os Valores padronizados das Entalpias, Entropias e Energias de


Gibbs encontram se tabelados na Tabela de Matemática-Física-
Química ou nas últimas páginas do livro N.Glinka, Manual de
Dica Exercícios ou em alguns outros livros de Química.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 79

Auto-avaliação
1. Uma amostra de 0,100mols de Propano foi colocada numa bomba
calorimétrica com excesso de O2 e inflamada, segundo a equação:
C3H8(g) + 5 O2(g) 3 CO2(g) + 4 H2O(l). A temperatura inicial
Exercícios o
do calorímetro era de 25 C e sua capacidade calorífica era 97 kJ/o C. A
reacção aumentou a temperatura para 27,282 oC.
a) Quantos joules foram liberados pela queima do propano?
b) Qual a variação de energia interna, em kJ/mol, para o C3H8?

2. Quando 3,2g de etanol (C2H5OH) são queimados em uma bomba


calorimétrica, contendo 3,5kg de água, a temperatura sobe 5,52 oC. A
capacidade calorífica (ou constante calorimétrica) do calorímetro vale
2550 J/oC e o calor específico da água é 4,18 J/mol.K. Calcule o calor de
combustão do etanol, em kJ/mol.
80 Lição no 5

Lição no 5
TIPOS DE RECÇÕES TERMOQUÍMICAS

Introdução
Uma reacção química é uma transformação da matéria na qual ocorrem
mudanças qualitativas na composição química de uma ou mais
substâncias reagentes, resultando num ou mais produtos.

Nesta lição você irá estudar algumas reacções que ocorrem somente sob
determinadas circunstâncias, como por exemplo, as que ocorrem somente
com o fornecimento ou não de calor.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Interpretar as reacções que envolvem troca de energia;


• Representar graficamente as reacções exotérmicas e
endotérmicas;
Objectivos da lição • Interpretar os diagramas de energia das reacções termoquímicas;
• Escrever as equações das reacções que envolvem variação de
energia.

De certeza que no seu dia-a-dia você já realizou, intencionalmente ou


não, uma reacção química que ocorre com libertação ou absorção de
calor.

Note que uma reacção química pode ocorrer, absorvendo ou libertando


energia na forma de calor. Isto reflecte-se no valor da entalpia da reacção.
Assim, partindo da equação:

∆RH = ∑H Pr od − ∑H Re ag :

 Se uma reacção liberta calor (Reacção Exotérmica) a sua entalpia


será negativa ( ∆ R H < 0 ), pois, os produtos da reacção terão menor
energia que os reagentes ( ∆H Pr od < ∆H Re ag ).
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 81

 Se uma reacção absorve calor (Reacção Endotérmica) a sua entalpia


será positiva ( ∆ R H > 0 ), pois, os produtos da reacção terão maior
energia que os reagentes ( ∆H Pr od > ∆H Re ag ).

 Se uma reacção não absorve, nem liberta calor (Reacção Atérmica) a


sua entalpia será nula (igual a zero, ∆ R H = 0 ), pois, os produtos da
reacção terão a mesma energia que os reagentes ( ∆H Pr od = ∆H Re ag ).

A reacção atérmica é hipotética e não real. Na natureza as transformações


que ocorrem, sempre, envolvem alterações no conteúdo energético dos
sistemas, portanto, não ocorrem processos atérmicos. Assim, podemos
afirmar categoricamente que existem dois tipos de reacções
termoquímicas: exotérmicas e endotérmicas.

Depois de você ter estudado as condições para ocorrência de reacções


termodinâmicas, a seguir veja como é que as reacções termoquímicas
podem ser graficamente representadas.

Diagramas e gráficos de reacções termoquímicas

As reacções termoquímicas podem ser representadas por diagramas.


Diagrama termoquímico de uma reacção é uma representação, num
sistema cartesiano, que mostra os estados térmicos iniciais e finais da
reacção. Coloca-se em abcissa o tempo do decurso da reacção e na
ordenada os valores das entalpias (veja os diagramas apresentados a
baixo).

Os diagramas mostram apenas os estados térmicos inicial e final, mas,


não mostram o decorrer de todo o processo. Sabe-se que mesmo as
reacções que libertam calor não ocorrem assim espontaneamente como no
verdadeiro sentido da palavra. É necessário, primeiro, fornecer uma certa
quantidade de energia para a reacção começar a ocorrer.

Em sua casa, você usa com frequência carvão ou gás de cozinha para
cozinhar, assar, fritar, grelhar, etc. Isso só é acontece porque o carvão ou
o gás arde libertando grandes quantidades de energia que servem para
confeccionar os alimentos.

Porém, para que estas reacções comecem, é necessário fornecer-lhes uma


certa quantidade de calor (um palito de fósforo aceso, ou carvão em
brasa, ou uma faísca, etc.), só depois disso é que começa a reacção, com
82 Lição no 5

libertação de grandes quantidades de calor, maior que aquele que lhe


fornecido.

Ligado às reacções termodinâmicas, estão a energia de activação e o


complexo activado.

 Energia de Activação (EA) ou Entalpia de Activação (HA) é o calor


necessário para fornecer à uma massa reagente para que comece a
reacção. É a energia necessária para quebrar as ligações nos
reagentes e formar o complexo activado, com vista a formar os
produtos.

 Complexo activado (CA) é um estado intermediário entre os


reagentes e os produtos, um estado em que começam a quebrar-se as
ligações dos reagentes e a formar-se as ligações dos produtos.

Os gráficos termoquímicos ilustram o decorrer da reacção, pois, neles,


para além dos estados inicial e final, aparece o complexo activado (CA)
ou a entalpia de activação (HA) e a entalpia do complexo activado (HCA).

Como vimos as transformações termoquímicas podem ser:

1. Transformação exotérmica: liberta (fornece) calor para o meio


ambiente.
A + B   → C
Re acção
+ D + Calor
Hf ∆H
Hi

Sendo que: Hf < Hi ; ∆H = Hf - Hi ; logo: ∆H < 0

Diagrama de entalpia Gráfico de entalpia


Entalpia Entalpia
(H) (H)

Ca
A + B Hca
Hi Ha
A + B
∆H<0 Hi

C + D ∆H<0
Hf
Hf C + D
Caminho da reacção
Caminho da reacção
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 83

2. Transformação endotérmica: absorve (retira) calor do meio


ambiente.
Re acção
A + B + Calor  → C + D
Hi ∆H Hf
Sendo que: Hf > Hi ; ∆H = Hf - Hi ; ∆H > 0.

Diagrama de entalpia Gráfico de entalpia

Entalpia Entalpia
(H) (H)

Ca
C + D Hca
Hf Ha
C + D
Hf
∆H>0

A + B ∆H>0
Hi
Hi A + B
Caminho da reacção
Caminho da reacção

Nota: Se existissem transformações atérmicas, teríamos:


Re acção
A + B  → C + D
Hi Hf
Sendo que: Hf = Hi ; ∆H = Hf - Hi ; ∆H = 0.
Tome Nota!
Note que uma transformação atérmica é um caso hipotético e não real.
Portanto, na natureza só ocorrem transformações exotérmicas e
transformações endotérmicas!

Diagrama de entalpia Gráfico de entalpia


84 Lição no 5

Entalpia Entalpia
(H) (H)

A + B C + D Ca
Hi = Hf Hca
∆H=0
Ha
A + B C + D
Hi =
H ∆H=0
Caminho da reacção
Caminho da reacção

1. Os Valores padronizados das Entalpias, Entropias e Energias de Gibbs


encontram-se tabelados na Tabela de Matemática-Física-Química ou nas
últimas páginas do livro N.Glinka, Manual de Exercícios ou em alguns outros
Dica livros de Química.

Auto-avaliação
1. Sabendo que HL (N≡N) = 946,0 KJ.mol-1, HL (H−H) = 436,0
KJ.mol-1, HL (N−H) = 391,0 KJ.mol-1, calcular a entalpia da

Exercícios reacção N 2 ( g ) + 3H 2 ( g ) → 2 NH 3 ( g ) .

2. Sabendo que o calor de sublimação do Carbono (Grafite) é de


715,0 KJ.mol-1 e que as energias de ligação em O2 e CO2 são,
respectivamente 479 e 804,0 KJ.mol-1, calcular o calor libertado na
combustão de Carbono (Grafite), C ( graf ) + O2 ( g ) → CO2 ( g ) .
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 85

Resumo
Nesta unidade tratamos, num conjunto de cinco lições, de conteúdos
relacionados com a termodinâmica química (termoquímica, ramo da
química que se dedica ao estudo da relação entre o calor e a reacção
química,) onde esperamos que você tenha aprendido mais sobre esses
Resumo conteúdos.
Na primeira lição, introduz-se o conceito generalizado de sistema e,
particularmente, de sistema químico, suas diversas formas de
caracterização e as transformações experimentadas por um sistema a
diferentes temperaturas (transformações endotérmica, exotérmica e
atértmica). Também aborda as trocas de energia e de trabalho (aumento
ou diminuição do volume) a parir das quais podemos definir se a reacção
é ou não espontânea e o estado de um sistema.
A segunda lição, aborda com particularidade os conceitos de energia,
calor e trabalho, suas diferenças e as transformações energéticas que
podem ocorrer numa reacção. Nela trata-se com particularidade a Lei da
conservação de energia, transformações energéticas com carácter
mecânico e a energia que flúi espontaneamente dum sistema (processos
endotérmico e exotérmico).

Na terceira lição, deu-se continuidade ao estudo da termodinâmica. Nela


abordamos com profundidade as funções e variáveis de estado, a relação
entre estas variáveis e funções de estado, e a primeira lei da
termodinâmica.
Na quarta lição, voltamos a tratar das funções e variáveis de estado e suas
características comuns, neste caso, com particularidade a entalpia, a
entropia (estado de desordem) e a energia livre ou entalpia livre - como
condições para definir a espontaneidade das reacções químicas. Também
tratamos a lei de Hess como o factor que expressa o calor trocado no
decorrer das reacções químicas.
Na quinta e última lição desta unidade, tratamos dos tipos de reacções
termoquímicas, fazendo parte destas aquelas que podem ocorrer com
absorção ou libertação de energia; para além disso, discutem-se os
diagramas de reacções termoquímicas (ou simplesmente diagramas
termoquímicos) que são representações de reacções termoquímicas num
sistema cartesiano, mostrando os estados térmicos iniciais e finais da
reacção; ligado a estas, estão a energia de activação e o complexo
activado.
86 Lição no 5

Bibliografia
BARROS, J. Manual de Química Geral. Universidade Pedagógica.
Maputo, 2004.

CHANG, Raymond, Química Geral – Conceitos essenciais. 4ª Edição.


Leitura
São Paulo, Editora Mc Graw-Hill., 2007.

FELTRE, Ricardo. Físico – Química. Vol. 2. 3ª Edição. S. Paulo, Editora


Moderna, 1991.

GLINKA, N. Problemas e exercícios de Química Geral. Moscovo,


editora Mir, 1987.

GLINKA, N. Química Geral 1 e 2. Moscovo, Editora Mir. 1988.

MAHAN, B.H. Química um curso universitário. 4a edição, SP – Brasil,


Editora Edgard Büchler Ltda., 1998.

Respostas dos exercícios


Lição 1

1. R: É uma amostra qualquer de uma ou mais substâncias químicas

que se encontram delimitadas por fronteiras reais ou imaginárias

(modelo) com relação às vizinhanças.


Resultados

a) É caracterizado pelos seguintes factores: substâncias no referido

sistema; conteúdo energético no sistema e possibilidades de trocas

de energia e matéria com as vizinhanças.

2. R: Q = 2400 cal

3. R: Q = é 3264,0 KJ/mol.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 87

Lição 2

1. R; Energia é a capacidade de realizar trabalho. Trabalho é a forma de

energia relacionada com transformações com carácter mecânico. E o

calor é uma forma de energia que flúi espontaneamente de um sistema

mais quente para um sistema mais frio.

2. R: Q = 20730 J ou Q = 2,07.104 J

3. R: Q = 67500 cal.

Lição 3

1. R: Significa que esta reacção ocorre com libertação de energia em

forma de calor.

4. R: a) Não há variação de volume.

b) Ocorre expansão de volume.

c) Ocorre contracção de volume.

Lição 4

1. R: a) Q = 2,22.105 Joules b) ∆U = - 2.220 kJ/mol

2. R: Q = 1.897 kJ/mol

Lição 5

1. R: ∆RH = 193 KJ.mol-1

2. R: ∆RH = – 390 KJ.mol-1


88 Unidade 3

Unidade 3

Cinética e Equilíbrio Químico

Introdução
Bem-vindo a esta unidade didáctica. Nela você terá as noções básicas
sobre a cinética e equilíbrio químico, que têm como princípio básico
relacionar a velocidade das reacções químicas e a tendência destas se
formarem, tendo em conta vários factores e a partir disto prever as
aplicações da cinética e do equilíbrio químico.

Ao lhe propormos esta unidade, pretendemos que você se envolva


academicamente e de maneira árdua e complexa em todas as actividades
indicadas ao longo das lições. Neste sentido, achamos que devíamos
proporcionar-lhe algumas informações básicas sobre este capítulo.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Interpretar os conceitos de cinética química, reacções


elementares e velocidade da reacção;
 Escrever e interpretar as expressões da velocidade instantânea e
Objectivos da unidade da velocidade específica;
 Interpretar os conceitos de ordem de reacção, molecularidade,
constante de velocidade específica, energia de activação e
catalisador;
 Interpretar a relação da constante da velocidade com a energia de
activação e com a temperatura;
 Descrever os factores que afectam a velocidade de uma reacção;
 Definir os conceitos de reacções reversíveis, equilíbrio químico
e constante de equilíbrio;
 Relacionar a constante de equilíbrio com as variações de
temperatura e de energia livre;
 Prever, pelo princípio de Le Chatellier, como se afecta um
equilíbrio químico perante a mudança de factores
macroscópicos.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 89

Lição no 1

Cinética Química. Conceito de


Velocidade de uma Reacção Química

Introdução
Nesta lição você irá recapitular os conhecimentos sobre a cinética e as
fases que caracterizaram a evolução desta parte da Química como ciência,
bem como as leis e as respectivas expressões que caracterizam a
velocidade do decurso de um processo químico.

A teoria sobre a cinética das reacções químicas procura esclarecer o


decorrer qualitativo e quantitativo destas, avaliando as diferentes etapas
que levam a interacção das partículas reactivas até à formação dos
produtos. Ela tem como seu objecto, formular as equações que conduzem
ao cálculo da constante da velocidade ou velocidade específica.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

- Definir o conceito de cinética química;

- Definir os conceitos de velocidade média e velocidade da reacção;

- Interpretar a lei cinética das reacções químicas;


Objectivos da lição
- Caracterizar as diferentes etapas de interacção das partículas na
formação do produto da reacção química;

- Calcular a constante da velocidade e a velocidade específica de uma


reacção química.

A cinética química
Certamente você já viu em muitas situações o apodrecimento de comida.
Ela ocorre com muita rapidez quando a calor é intenso e quando não se
encontra no frio.

A cinética química possibilita fazer um estuda sobre a velocidade das


reacções químicas e avaliar os factores que as influenciam. Não só, mas
90 Lição no 1

também permite-nos estudar e determinar os caminhos ou etapas pelas


quais as reacções decorrem.

Resumidamente, com a teoria sobre a cinética das reacções químicas você


vai poder esclarecer o decorrer qualitativo e quantitativo das mesmas,
avaliando as diferentes etapas que levam a interacção das partículas
reactivas até à formação dos produtos. Assim, ela tem por objectivo
formular as equações que conduzem ao cálculo da constante da
velocidade ou velocidade específica.

Enquanto a termodinâmica analisa a variação dos estados dos sistemas e


as condições do estado de equilíbrio sob o ponto de vista energético, a
cinética incorpora o tempo no seu sistema de conceitos e, deste modo,
analisa as variações temporais dos sistemas e as velocidades com que
essas variações decorrem.

O ponto central é a determinação da etapa que determina a velocidade.


Sendo esta conhecida, então é possível influenciar o decorrer da reacção.

Reacção entre o Flúor e o Hidrogénio (activação é insignificante)


F2 + H2 2 HF
Reacção entre o Cloro e o Hidrogénio (necessita de activação)
Exemplo H2 + Cl2 hv
2HCl
Reacção entre o Iodo e o Hidrogénio (passa por estado transitório)
I2 + H 2 2 HI

O Conceito de velocidade da reacção

Nenhuma reacção química é instantânea, isto é, todas as reacções


demoram um determinado tempo, maior ou menor, a desenrolarem-se.

Note que quando você risca um palito de fósforo na sua caixa, ocorre
uma reacção química rápida e violenta enquanto que a oxidação das
grades de casa (Ferro) leva um certo tempo, sendo por isso mais lenta.

A velocidade de uma reacção química pode ser genericamente definida


como a variação da concentração dos reagentes ou produtos por
unidade de tempo:

VR = ∆C/∆t
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 91

A velocidade de uma reacção química pode ser obtida, na prática, pela


medição de parâmetros ligados à transformação das substâncias que
decorre por unidade de tempo:

Esses parâmetros podem ser fixados numa tabela; a tabela de dados


obtidos experimentalmente:

Tempo (s) 0,0 10 20 30 40 50 60 70 80


Concentração 0,6 0,4 0,3 0,2 0,15 0,07 0,06 0,05 0,04
(mol/l)

A partir desses dados pode se fazer um esboço gráfico que mostra a


variação da concentração das substâncias envolvidas na reacção num
determinado intervalo de tempo. Veja o esboço gráfico abaixo.

Pelo gráfico pode-se notar que a concentração é uma função do tempo e


que velocidade da reacção varia com o tempo. Por isso a expressão:

VR = ∆C/∆t

Somente reflecte uma velocidade média, isto é, a velocidade de uma


reacção é diferente em cada tempo do decurso da mesma.

A determinação da velocidade instantânea é feita na base de uma


expressão diferencial, pelo cálculo da tangente à curva no momento
referido:
92 Lição no 1

Traçando a tangente à curva num dado momento (instante t) teremos:


-dCA/dt ~ CA

O sinal (-) indica que a tangente decai.


A velocidade da reacção é coeficiente diferencial da concentração pelo
tempo.

Já que uma curva contém várias tangentes e cada tangente diz respeito a
uma determinada velocidade, o coeficiente diferencial total dá-nos uma
velocidade média.

Como a velocidade é específica para cada reacção, pode-se introduzir um


factor de proporcionalidade, K, que é a constante da velocidade ou a
velocidade específica. Disso resulta:

-dCA/dt = KCA

Convém referir que para valores de CA = 1M, tem-se que:

-dCA/dt = K

A diferente inclinação da tangente em reacções diferentes, mas sob as


mesmas condições indica-nos que as reacções com maior inclinação têm
maior valor de K, ou seja, têm maior velocidade.

Como se viu nas representações gráficas, a velocidade da reacção é


directamente proporcional à concentração e inversamente ao tempo. Isto
é, à medida que o tempo decorre, a concentração vai diminuindo e a
velocidade também.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 93

De seguida vamos examinar os gráficos das seguintes equações de


reacções químicas hipotéticas:

(1) A B
(2) X Y

Supondo que é possível seguir as reacções, isto é, determinar as


concentrações dos reagentes e produtos existentes no decorrer do tempo
teríamos:

[A] = A (t) [X] = X (t)


[B] = B (t) [ Y] = Y (t)
Uma simples análise dos gráficos mostra-nos que a reacção (A → B) é
mais rápida que a (X → Y), porque na reacção (1) o consumo dos
reagentes por unidade é claramente maior do que na reacção (2). O declive
das curvas C= f (t).

Para este caso, a velocidade média (Vm) será:

Vm = -∆[A]/∆t = + ∆[B]/∆t

Os sinais (-) e (+) indicam a diminuição e aumento respectivamente.


Assim, enquanto a concentração de A (reagentes) diminui, a
concentração de B (produtos), aumenta com o decorrer da reacção. Isto é,
a velocidade média pode definir-se, indiferentemente, a partir dos
reagentes ou dos produtos da reacção.

Os gráficos das reacções representadas anteriormente (1 e 2) apresentam


curvas, isto é, os seus declives não são constantes.

Assim, a velocidade instantânea será:

Vinst = -d[A]/dt = d[B]/dt


94 Lição no 1

Supondo que a reacção é representada pela equação:

2X Y
Neste caso temos: quando X varia duas vezes, Y varia somente uma, isto
é, o valor da variação de Y é metade do valor da variação de X.

∆[Y]=-∆[X]/2

Aplicando esta expressão à da velocidade instantânea teremos:

Vinst=(-1/2)d[X]/dt = d[Y]/dt

Isto mostra que a estequiometria de uma dada reacção é importante para


se definir a velocidade da mesma.

Então, para a reacção representada pela equação:

2M + N 3P

Teremos: Vinst = (-1/2)d[M]/dt = d[N]/dt = (+1/3)d[P]/dt

Assim, pode-se escrever a expressão para a lei da velocidade, para a


equação genérica da reacção:
aA + bB + ... cC + dD + ...

Vinst = (-1/a)d[A]/dt = (-1/b)d[B]/dt = …= (+1/c)d[C]/dt = (+1/d)d[D]/dt = …

e:
V = K[A]a[B]b…

Deste modo, os factores a, b, c, d, ... representam a ordem da reacção em


relação aos componentes A, B, C, D ... . No caso mais simples, eles são
idênticos aos coeficientes estequiométricos.

Tomemos, por exemplo, a equação da reacção: 2 A + B C+2D

A expressão diferencial da velocidade será:


Vi = (-1/2)d[A]/dt = -d[B]/dt = +d[C]/dt = (+1/2)d[D]/dt

Para esta equação, a expressão da lei da acção das massas será:


VR = K[A]2[B]
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 95

Igualando as duas expressões teremos:

(-1/2)d[A]/dt = K[A]2[B]

Em alguns casos, é mais complicado e a expressão da velocidade da


reacção pode conter somas, diferenças e quocientes de potências das
concentrações e das constantes das reacções parciais. Nestes casos, as
reacções passam por mecanismos complexos e são, por isso, chamadas
reacções complexas.
96 Lição no 1

Para a reacção: 2 N2O5 4 NO2 + O2


os resultados experimentais da reacção acima encontram-se registados na
tabela a seguir:
Tempo(s) [N2O5] em M [NO2] em M [O2] em M
Exemplo 0 0,500 0 0
300 0,431 0,138 0,034
600 0,370 0,260 0,065
900 0,319 0,362 0,090
1200 0,275 0,450 0,112
1500 0,237 0,526 0,131
1800 0,204 0,592 0,148

a) Determine a velocidade média (Vm) no intervalo de tempo, t1 =


600s e t2 = 900s.
Resolução:
 Calculam-se as variações do tempo e das [ ] (concentrações) entre t1 e t2:
∆t = t2 – t1 = 300s;
∆[N2O5] = 0,319 – 0,370 = -0,051M.
∆[NO2] = 0,362 – 0,260 = +0,102M.
∆[O2] = 0,090 – 0,065 = +0,025M.
 De seguida, escreve-se a expressão da velocidade média da reacção
nesse intervalo de tempo:
Vm = (-1/2)∆[N2O5]/∆t = (1/4)∆[NO2]/∆t = ∆[O2]/∆t

Resposta:
Vm = (-1/2)(-0,51/300) = (1/4) 0,102/300 = 0,025/300 = 8,3.10-5 mol.l-1.s-1

b) Determine a velocidade instantânea para t1 = 600s.


Resolução:
A velocidade instantânea pode calcular-se usando, por exemplo, a [NO2].
Para tal, usam-se os valores (∆C/∆t do triangulo) obtidos graficamente,
onde: tagβ = dC/dt
E esta é a tangente que passa pelo ponto {P(X=600; Y= 0,260)} da
respectiva curva.
Vinst = (¼)dC/dt = 0,25. tagβ = 0,25 x 0,44/1200 = 9,17x10-5 mol.l-1s-1.

c) Trace graficamente em papel milimétrico a variação das [ ] dos


reagentes e produtos no tempo (para fazer em casa).
Fig 1. Representação gráfica do cálculo da variação instantânea no tempo
t=600s durante a formação de NO2 a partir de N2O5.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 97

Auto-avaliação
1. O gás hidrogénio é usado como combustível em naves espaciais, e o
processo pode ser traduzido pela seguinte equação química:
2H2(g) + O2(g) 2H 2O(g)
Exercícios a) Escreva a expressão da velocidade média desta reacção em função
das variações de [H2], [O2], e [H2O] com tempo.
2. Como é que se altera a velocidade da reacção 2NO + O2 NO2.
a) Se reduzirmos o volume do recipiente em duas vezes?
b) Se aumentarmos o volume onde se realiza a reacção em duas vezes?
98 Lição no 2

Lição no 2

Factores Que Influenciam a


Velocidade das Reacções Químicas
Nesta lição você irá estudar os factores que influenciam a cinética das
reacções químicas, as condições para o favorecimento ou não de um
processo químico, bem como as leis e as respectivas expressões que
caracterizam a influência desses factores nas reacções químicas.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Identificar os diferentes factores que influenciam a velocidade


das reacções químicas;
 Interpretar a influência dos diferentes factores nas reacções
químicas;
Objectivos da lição
 Interpretar a regra de V’ant Hoff e a equação de Arrhenius;
 Caracterizar cada um dos factores que influenciam a cinética das
reacções químicas.

Olhando para as actividades diárias da comunidade, como por exemplo,


cozinhar, temperar, salgar, etc. quais as condições que você acha que
influenciam as reacções químicas? Porquê?

As reacções químicas são bastante influenciados por factores como a


concentração das substâncias envolvidas na reacção, pela temperatura,
por catalizadores, pelo estado de agregação das substâncias reagentes,
entre outros. O conhecimento prático sobre a influência de cada um dos
factores permite-nos descrever globalmente os processos químicos
através de equações cinéticas.

1. Influência da concentração

A lei da acção das massas (obtida por medições cinéticas), permite-nos


identificar qual (is) reagente (s) participam na lei da velocidade. Para tal
precisamos somente de manter constante a concentração de um dos
reagentes e variar a concentração do outro e, deste modo, medir a
velocidade do processo (veja-se no exemplo da tabela 1 - lei da acção das
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 99

massas). Ela mostra-nos que quanto maior for a concentração dos


reagentes que participam na lei da velocidade, tanto maior esta será.

A lei da acção das massas pode ser enunciada de seguinte modo: A uma
temperatura constante, a velocidade de uma reacção química é
directamente proporcional ao produto das concentrações dos reagentes
que participam na lei da velocidade.

Contudo, teremos que considerar os sistemas em que tais reacções


decorrem, pois, nas reacções heterogéneas a concentração das substâncias
que se encontram na fase sólida, via de regra, não se alteram durante a
reacção, não se inserindo na equação a lei da acção das massas.

CaCO3 (s) CaO (s) + CO2 (g) VR = K


CaCO3 (s) + 2HCl (l) Ca2+ + 2Cl- + H2O + CO2(g)
VR = K[HCl]2 = K[H+]2
Exemplo

2. Influência da Temperatura – Regra de V’ant Hoff e a equação de


Arrhenius.

A teoria cinética molecular permite-nos calcular o número de colisões


prováveis entre as partículas. O número de colisões efectivas mostra que
para a colisão ser efectiva, as partículas necessitam de ter uma certa
energia mínima – a energia de activação (Ea). Nesse sentido, as partículas
que possuem Ea são activas.

A experiência também nos mostra que o aumento da temperatura, via


de regra, acelera as reacções (pense como os alimentos entram mais
facilmente em putrefacção quando o calor é intenso) independentemente
destas serem exotérmicas ou endotérmicas.

É claro que é possível retardar reacções por arrefecimento como também


se podem acelerar por aquecimento. Como pode isto ser interpretado à
luz da teoria cinético molecular? Porque é que V ou K é uma função da
temperatura?

As partículas só podem reagir quando tiverem energia suficiente. A


maioria das partículas possuem energia média. Só poucas partículas
100 Lição no 2

possuem Ea. Com o aumento da temperatura, aumenta o número de


partículas activas, aumentando a concentração das mesmas. Como
resultado, um maior número de partículas atinge a Ea. Tornam-se, pois,
activas, podendo produzir choques efectivos.

Quanto maior for o número de choques efectivos, tanto maior será a


velocidade do processo. O gráfico mostra como se altera o número de
partículas activas com o aumento da temperatura:

Como se pode ver, a quantidade de partículas activas aumenta com o


aumento da temperatura (T2>T1). Todavia, Ea não se altera.

O que diz a Regra de V’ant Hoff?

Para explicar o efeito da temperatura na velocidade das reacções


químicas, V’ant Hoff elaborou uma regra empírica (com base na
experiência). Segundo V’ant Hoff, o aumento da temperatura em 10º
leva, via de regra, a uma duplicação, triplicação ou quadruplicação da
velocidade:

Vt + 10/ Vt = Kt + 10/ Kt = Y

Onde:

Y - é o coeficiente, Vt + 10 e Kt são as velocidades da temperatura t + 10


e da temperatura t respectivamente.

Kt + 10 e Kt - são as constantes das velocidades à temperatura t + 10 e à


temperatura t respectivamente.

Genericamente, alterando-se a temperatura num valor ∆t obtém-se:

Vt + ∆t/ Vt = Kt + ∆t/ Kt = Y∆t/10


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 101

Ou ainda, considerando Vt + ∆t = V’e Kt + ∆t = K’ teremos:

V’/Vt = K’/ Kt = Y∆t/10

Equação de Arrhenius

As primeiras experiências para esclarecer a dependência da velocidade


em relação à temperatura foram elaboradas por Arrhenius que,
empiricamente, notou que a constante da velocidade depende fortemente
da temperatura:

Usando medições cinéticas a temperaturas diferentes, Arrhenius formulou


a seguinte equação:

K = KMax x e-Ea/RT
Onde se:

K = constante de velocidade

KMax = factor de frequência

R = constante universal dos gases

Ea = Energia de activação

A equação exponencial de Arrhenius mostra que quanto maior for a


temperatura, tanto maior será K. Ela mostra também que quanto menor
for Ea maior será a constante da velocidade K a uma dada temperatura T.

Logaritmizando a equação exponencial de Arrhenius obtém-se:

lnK = lnKMax – Ea/RT


102 Lição no 2

Para sabermos em que medida a temperatura influencia a velocidade de


uma reacção, precisamos de medir K a temperaturas diferentes. Disso se
obtém K1 (a T1) e K2 (a T2). Achando a razão entre ambas teremos:

K2/K1 = KMax x e-Ea/RT2/KMax x e-Ea/RT1

Desta se pode deduzir que: K2/K1 = eEa(t2 – t1)/ RT1T2

Donde se conclui que: K2 = K1 x eEa(t2 – t1)/ RT1T2

3. Influencia dos catalizadores

A influência dos catalizadores na velocidade das reacções químicas pode


ser explicada à luz da teoria do estado de transição. Esta teoria prevê a
formação do complexo activado no qual as ligações químicas dos
reagentes estão enfraquecidas, e a partir do qual se podem formar novas
ligações químicas mais estáveis.

O complexo activado é um estado transitório instável. A sua


transformação em produtos é normalmente acompanhada de libertação de
energia.

Formam o complexo activado somente as partículas activas, isto é,


aquelas que possuem energia mínima para poder reagir. As partículas
activas chocam entre si, formando o complexo activado que por sua vez
se degenera em produtos:

AB* + C* (A------- B --------C)* A + BC


Partículas activas complexo activado produtos

A presença do catalizador positivo permite a formação de complexos


activados do catalizador, cuja energia de activação é mais baixa. Disto
resulta um acelerar da velocidade da reacção química:
AB* + C* + K (A-----B------ K-----C)* A + BC + K
Partículas activas complexo activado do catalizador Prod. + catal

As respectivas constantes das velocidades são dadas pela equação de


Arrhenius. Neste, em vez da variação da temperatura, temos uma
variação da Ea.
K1 = KMax x e-Ea1/RT
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 103

Para reacção sem catalizador temos:


K2 = KMax x e-Ea2/RT

Para a reacção com catalizador teremos:

Da relação entre ambas teremos finalmente: K2 = K1 x e∆Ea/RT

Onde ∆Ea/RT é o coeficiente de catálise Y. Este é o factor pelo qual a


velocidade aumenta devido à presença do catalizador positivo. A equação
de Arrhenius com aplicação do catalisador mostra ainda como a natureza
dos reagentes afectam a velocidade da reacção.

A acção dos catalisadores resulta da interacção intensiva entre o


catalizador e um ou vários reagentes, passando pelas seguintes fases:
 Difusão penetrante;
 Adsorção activa;
 Reacção química na camada de absorção;
 Deserção dos produtos da reacção;
 Libertação do catalizador.

A catálise pode ser homogénea ou heterogénea

A catálise é homogénea quando o catalizador e os reagentes se encontram


numa única fase. É heterogénea quando estes formam fases diferentes.

Quanto maior for a superfície de contacto entre o catalizador e os


reagentes, tanto maior será a velocidade da reacção. Por essa razão, as
substâncias devem estar finamente divididas e devem ser constantemente
misturadas para aumentar a superfície de contacto entre as fases.
104 Lição no 2

Auto-avaliação
1. Com base na teoria das colisões, assinale com “X” a afirmação
verdadeira:
a) ( ) A maior frequência das colisões resulta em menor velocidade da
Exercícios reacção.
b) ( ) Diminuindo-se o volume ocupado por uma mistura gasosa,
diminui-se a velocidade da reacção.
c) ( ) A velocidade da reacção é independente da frequência das
colisões.
d) ( ) A velocidade da reacção é directamente proporcional ao número
de colisões por segundo.
e) ( ) O aumento de concentração dos reagentes resulta em diminuição
da velocidade da reacção.

2. A velocidade de uma reacção química pode ser influenciada:


a) pela concentração dos reagentes.
b) pela natureza física dos reagentes.
c) pela presença de um catalisador.
d) por todas as alternativas anteriores.

3. As reacções que decorrem nos organismos vivos são normalmente


catalisadas e por isso são rápidas apesar de decorrerem a temperaturas
relativamente baixas. Uma dada reacção a 370C possui uma energia de
activação de 90 Kj/mol sem catalisador, enquanto que com catalisador ela é
de 30 Kj/mol.
a) Qual é o valor do coeficiente de catálise da reacção?
b) Em quantas vezes cresce a velocidade devido ao emprego do
catalisador?
c) Como irá variar a entalpia da reacção devido ao emprego do
catalisador?
d) Supondo que tal reacção catalisada decorre no corpo humano,
como irá variar a velocidade da reacção ao se aumentar a
temperatura para 450C?
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 105

Lição no 3

Reacções Reversíveis. Equilíbrio


Químico

Introdução
Nesta lição você irá analisar o comportamento das reacções químicas
num sistema. Teoricamente, toda a reacção química ocorre nos dois
sentidos, isto é, os reagentes transformando-se em produtos e os produtos
transformando-se de volta em reagentes. Contudo, certas reacções, como
a de combustão, virtualmente cem porcento dos reagentes são convertidos
em produtos, e não se observa ocorrer o contrário (ou pelo menos não em
escala mensurável). Contudo, também existem reacções nas quais logo
que uma certa quantidade de produto(s) é formada, este(s) torna(m) a dar
origem ao(s) reagente (s). O conceito de equilíbrio químico praticamente
restringe-se a este último tipo de reacções.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Caracterizar um sistema químico;

 Definir o conceito de estado de equilíbrio químico;

 Caracterizar os diferentes estados de equilíbrios químicos;


Objectivos da lição
 Identificar as reacções reversíveis e irreversíveis;

 Classificar os estados de equilíbrio químico;

 Representar graficamente uma reacção química em equilíbrio;

 Interpretar a influência dos factores que afectam o estado de


equilíbrio;

 Interpretar o princípio de Le Chatellier.


106 Lição no 3

Noções de equilíbrio químico. Sistema fechado e aberto.


O que é um equilíbrio químico?

Para respondermos a esta questão, temos que ter em conta um conjunto


de conceitos que estão ligados a ele, como são os casos de sistema
químico, sistemas abertos e fechados.

Sistema químico – é uma parte do universo, limitada por fronteiras onde


ocorrem reacções químicas.

Exemplos: Um reactor, um tubo de ensaio, um copo, uma garrafa, etc.

Como é que se caracteriza um sistema químico?

Um sistema químico é caracterizado tendo em conta:


- a natureza das substâncias;
- o conteúdo energético;
- a troca ou possibilidade de troca de massa e energia com o ambiente.

Tipos de sistemas

a) Sistema aberto - as fronteiras permitem a passagem de substâncias.

Exemplos: Queima do petróleo bruto; queima da lenha; ferver água; etc.

b) Sistema fechado - as fronteiras só possibilitam a troca de energia


com o ambiente; (não há troca de matéria com o ambiente).

Exemplos: Produção laboratorial do Hidrogénio; Carregamento ou


descarregamento de um acumulador/bateria;
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 107

O conceito de reversibilidade e de equilíbrio químico

O conceito de reversibilidade está ligado à ocorrência simultânea de duas


reacções (uma directa e outra inversa).

Reacção irreversível – é o tipo de reacção química que ocorre


num único sentido. Os reagentes transformam-se totalmente em
produtos.

A imagem acima, pode ser traduzida em equações de reacções químicas,


onde pode observar que a reacção tem um único sentido.

Exemplos: Na + O2 Na2O

CaCO3 CaO + CO2

A imagem faz uma ilustração


das reacções irreversíveis,
mostrando o desgaste de uma
parte da reacção.

Reacção reversível – é a reacção química que ocorre nos dois sentidos,


isto é, ao mesmo tempo, e no mesmo sistema, os reagentes transformam-
se em produtos e os produtos transformam-se em reagentes.

A reversibilidade de uma reacção é representada por duas setas com


sentidos opostos.

Traduzido pela seguinte equação de reacção:

Reacção directa

3H2 (g) + N2 (g) 2NH3 (g) Q= -10,8Kj reacção directa é exotérmica


Reacção inversa

A imagem faz uma ilustração das


reacções reversíveis, mostrando
a igualdade do consumo/desgaste
de cada uma das partes da
reacção.
108 Lição no 3

EQUILÍBRIO QUÍMICO

O conceito de equilíbrio químico refere-se à igualdade das velocidades


directa e inversa como consequência da variação constante das
concentrações dos reagentes e produtos da reacção. Por si só este
conceito tem carácter dinâmico. Desse modo podemos escrever:

V directa = V inversa
∆C Reagentes (equil) = 0; dC Reagentes (equil) = 0
∆C Produtos (equil) = 0; dC Produtos (equil) = 0

As concentrações que fazem parte do equilíbrio chamam-se


concentrações do equilíbrio.

Para qualquer reacção reversível podemos escrever genericamente:


K1
A+B C+D
K2

V1 = K1[A] x[B] e V2 = K2 [C] x [D]


No equilíbrio temos:
V1 = V2

Ou seja:
K1[A] x[B] = K2 [C] x [D]
A última expressão permite-nos relacionar a velocidade directa e a
inversa:
K1/K2 = [C]equil.[D]equil/ [A]equil. [B]equil = Kequilibrio.

A uma dada temperatura constante, a razão entre as concentrações dos


produtos e dos reagentes no equilíbrio é constante. Essa razão, é igual à
razão entre as constantes da velocidade directa e inversa que equivale a
dizer que ela é a constante de equilíbrio.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 109

Quando o produto das concentrações dos reagentes no equilíbrio é maior


que o produto das concentrações dos produtos no equilíbrio, a constante
de equilíbrio é menor que 1 e a reacção decorre mais no sentido inverso.
Kequil.<1

Quando o produto das concentrações dos produtos no equilíbrio é maior


que o produto das concentrações dos reagentes no equilíbrio, a constante
de equilíbrio é maior que 1 e a reacção decorre mais no sentido directo.

Kequil. >1

Quando o produto da concentração dos produtos no equilíbrio é igual ao


produto das concentrações dos reagentes no equilíbrio, a constante de
equilíbrio é igual a 1 e a reacção decorre de igual modo nos dois sentidos.
Kequil = 1

No caso das reacções heterogéneas, a constante de equilíbrio só incorpora


a relação entre as concentrações das substâncias da fase gasosa ou
líquida.
110 Lição no 3

Será que um sistema em equilíbrio sofre influência de factores externos?


Como é que se pode explicar essa influência?

Deslocamento de equilíbrio químico e o princípio de Le Chatellier

O equilíbrio químico é o estado de uma reacção química em que a


velocidade da reacção directa é igual à velocidade da reacção inversa e a
concentração das substâncias participantes não se altera no sistema.

Quando um factor externo actua sobre o sistema químico em equilíbrio,


perturbando-o, as velocidades das reacções directa e inversa deixam de
ser iguais:

• Se a perturbação favorecer a reacção directa, o equilíbrio


deslocar-se-á para a direita. Após um intervalo de tempo, a
reacção atinge um novo estado de equilíbrio onde os produtos da
reacção têm maior concentração do que no estado de equilíbrio
anterior;

• Se a perturbação favorecer a reacção inversa, o equilíbrio


deslocar-se-á para a esquerda. Após um intervalo de tempo, a
reacção atinge um novo estado de equilíbrio onde os reagentes da
reacção têm maior concentração do que no estado de equilíbrio
anterior.

Como consequência da reacção decorrer potencialmente num dos


sentidos possíveis, estabelece-se um novo equilíbrio. Este processo é
conhecido como deslocamento do equilíbrio.

O sentido do deslocamento do equilíbrio é regido pelo princípio de Le


Chatellier que diz: “Quando se exerce qualquer acção sobre um sistema
que se encontra em equilíbrio, o equilíbrio desloca-se no sentido de
eliminar tal acção”.

Quais os factores que afectam o estado de equilíbrio?

I. Influencia da concentração e da pressão

A influência da concentração e da pressão é dada pela expressão da lei da


acção das massas para o equilíbrio.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 111

Um aumento da concentração dos reagentes desloca o equilíbrio no


sentido directo. É claro, uma diminuição irá deslocar o equilíbrio no
sentido inverso.

Relativamente à pressão, deve-se salientar que esta só influencia nas


reacções que decorrem com aumento ou diminuição do volume (reacções
nas quais participam gases).

Um aumento da pressão irá favorecer a reacção que decorre com


diminuição de volume, enquanto que uma diminuição de pressão irá
favorecer a reacção que decorre com aumento de volume (aumento de
número de moles de partículas gasosas).

A relação entre pressão, volume e concentração pode ser encontrada com


base na lei geral dos gases ideais.

II. Influência da temperatura e dos catalizadores

Num sistema reactivo em equilíbrio, se a reacção directa for exotérmica,


a inversa será endotérmica.

A equação de Arrhenius e os gráficos energéticos permitem-nos


compreender como a temperatura e os catalizadores intervém no
equilíbrio.

No caso da temperatura, fica previsível que um aumento da temperatura


irá favorecer a reacção que é endotérmica, enquanto que uma diminuição
da temperatura favorecerá a reacção que é exotérmica.

No caso dos catalizadores, também se pode verificar facilmente que estes


não influenciam o equilíbrio. A sua função é somente acelerar as
velocidades de modo a que o equilíbrio se atinja mais rapidamente.
112 Lição no 3

Auto-avaliação
1. Quando é que um sistema químico atinge o estado de equilíbrio?

2. Seja o equilíbrio: H2(g) + I2(g) 2 HI(g). Adicionando-se certa


Exercícios
quantidade de H 2(g) ao sistema, temos:

a) ( ) aumento da concentração de HI(g).

b) ( ) diminuição da concentração de HI(g).

c) ( ) deslocamento do equilíbrio para esquerda.

d) ( ) aumento da concentração de I2(g).

3. No sistema A(g) + 2B(g) C(g), as concentrações de equilíbrio


são: [A] = 0,06mol/l; [b] = 0,12 mol/l; [C] = 0,216 mol/l. Determine as
concentrações iniciais das substâncias A e B.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 113

Resumo
Nesta unidade tratamos, em três lições, de conteúdos relacionados com a
cinética química e equilíbrio químico e esperamos que você tenha
aprendido bastante sobre o assunto.
Resumo
Na primeira lição, introduzimos a cinética química como a parte da
química que se dedica ao estudo da velocidade, dos factores que a
influenciam e etapas de uma reacção química. Introduzimos também o
conceito de velocidade da reacção (genericamente definida como a
variação da concentração dos reagentes ou produtos por unidade de
tempo) e constante de velocidade ou velocidade específica. Para além
disso, discutimos e determinamos a velocidade média, a constante de
velocidade, a ordem de reacção e a velocidade específica de uma reacção
química.

Na segunda lição, demos continuidade ao estudo da cinética química,


desta vez destacando os factores que influenciam a velocidade das
reacções químicas. Abordamos com profundidade os factores
concentração das substâncias envolvidas, temperatura, catalizadores,
estado de agregação das substâncias reagentes, pressão e volume.
Também foram abordados os diagramas representativos dessas
influências e as principais equações envolvidas.

Na terceira e última lição desta unidade, tratamos de reacções reversíveis


e equilíbrio químico. Nesta lição voltamos a rever os tipos de sistemas
químico, abordamos com profundidade o conceito de reversibilidade,
como factor que está ligado ao processo de ocorrência simultânea de duas
reacções químicas na qual uma é inversa da outra para, a partir destes,
desenvolver as noções de equilíbrio químico (o que é um equilíbrio
químico?), as características de um sistema em equilíbrio químico e suas
representações gráficas, bem como das constantes de equilíbrio. Também
demos destaque aos factores que influenciam o estado de equilíbrio
(concentração, pressão, temperatura e catalizador), o deslocamento do
equilíbrio explicado pelo princípio de Le Chatellier.
114 Lição no 3

Bibliografia
BARROS, J. Manual de Química Geral. Maputo, Universidade
Pedagógica. 2004.
CARVALHO, G.C. Química Moderna. 2o vol. SP – Brasil,
Distribuição da Livraria Nobel, 1976.
Leitura
GLINKA, N. Problemas e exercícios de Química Geral. Moscovo,
Editora Mir 1987.
GLINKA, N. Química Geral 1 e 2. Mir Moscovo, Editora. 1988.
MAHAN, B.H. Química- um Curso Universitário. 4a edição, SP – Brasil,
Editora Edgard Büchler Ltda., 1998.

Respostas dos exercícios


Lição 1

1. R: Vm = - ∆[H2]/ 2.∆t = - ∆[O2]/∆t = + ∆[[H2O]/ 2.∆t

2. R: a) Aumenta 8 vezes.

Resultados b) Diminui 8 vezes.

Lição 2

1. R: A alternativa correcta d).

2. R: A alternativa correcta d).

3. R: a) δ = 23,2 (δ – coeficiente de catálise).

b) K’=1,2.1010 K

c) Aumentando a temperatura para 45º C, a velocidade da reacção


irá diminuir porque a temperatura óptima para ocorrência de reacções no
corpo humano é de 37º C; pois na temperatura de 45º C os
biocatalisadores sofrem desnaturação, ou seja, perdem a função
catalítica.

Lição 3

1. R: O sistema encontra-se em equilíbrio quando a velocidade da


reacção directa (Vd) é igual à velocidade da reacção inversa (Vi).

2. R: A alternativa correcta é a).

3. R: [A] = 0,276M [B] = 0,552


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 115

Unidade 4

Soluções

Introdução

Bem-vindo a esta unidade didáctica. Nela você terá as noções básicas


sobre as soluções, suas propriedades, os diferentes tipos de soluções e
suas características básicas.

Nela são abordados os vários tipos de soluções, tendo em conta a sua


formação para, através disso, explorar as variações que se notam
quando uma substância se dissolve noutra. Também iremos descrever
as várias unidades de concentração usadas para quantificar as
soluções. Além disso, discutiremos alguns conceitos básicos
relacionados com a solubilidade e propriedades coligativas de
soluções.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Identificar os diferentes tipos de sistemas dispersos;

 Interpretar os conceitos de soluções, soluções saturadas, soluções


diluídas, soluções sobressaturadas e solubilidade;
Objectivos
 Interpretar o mecanismo do processo da dissolução e relacioná-lo
com as energias envolvidas;

 Caracterizar os factores que determinam e afectam a solubilidade;

 Expressar a concentração de uma solução de modos distintos;

 Interpretar as propriedades e leis das soluções ideais e reais;

 Caracterizar as propriedades coligativas das soluções.


116 Lição no 1

Lição no 1

Soluções. Classificação e
Características

Introdução
Nesta lição olharemos para as soluções como um fenómeno que ocorre
frequentemente em nossas actividades diárias,como por exemplo, quando
preparamos um chá ou um sumo de laranja, etc.

Nesta lição fará a caracterização das soluções e compreenderá os


conceitos de soluto e solvente. Para além disso, a lição proporciona
outros conteúdos relacionados com classificação e identificação de
soluções.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Descrever os vários tipos de soluções;

• Definir os diferentes tipos de unidades de concentração;

Objectivos da lição • Identificar os tipos de soluções e seu comportamento;

• Calcular o calor das soluções.

Soluções

Como você sabe, o seu dia-a-dia é caracterizado por um conjunto de


processos que culminam com a preparação de uma solução. Um
exemplo disso é a preparação de chá, sumo, etc.

Assim, na natureza são encontradas muito poucas substâncias puras,


enquanto as soluções são muito comuns.

A maioria das reacções químicas que você efectua no laboratório e as que


se realizam em indústrias, ou ainda, aquelas que ocorrem nos organismos
vivos, ocorrem em soluções, entre iões e moléculas dissolvidas em água
ou outro solvente. As soluções permitem interacções variadas e íntimas
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 117

entre diferentes tipos de moléculas, uma condição essencial para


ocorrência de reacções químicas rápidas. Com isso, as soluções são
extremamente importantes na química.

Então, o que são soluções?

Soluções são definidas como misturas homogéneas de moléculas, átomos


ou iões de duas ou mais substâncias. A composição das soluções é
frequentemente referenciada como conjugação de um soluto e um
solvente. O soluto é geralmente definido como a substância que se
dissolve e solvente é uma fase fluida que dissolve um soluto sólido,
líquido, ou gás, e que resulta numa solução.

Assim, para soluções gás-líquidas e sólido-líquidas o primeiro é soluto e


o segundo é o solvente.

Quando os dois componentes de uma solução são líquidos e estão


presentes em proporções diferentes, o componente principal é
considerado solvente e o componente secundário o soluto. Porém, para
soluções onde os dois componentes líquidos da solução estão presentes
em proporções iguais, uma delas é chamada soluto ou solvente para
justificar a existência de solução.

De certeza que você se apercebeu que existem vários tipos de soluções.


Quais os tipos de soluções e seu processamento?

Habitualmente, pensamos em soluções como uma mistura homogénea de


um soluto gasoso, líquido, ou sólido num solvente líquido (i.e., gás-
líquido, líquido-líquido ou sólido-líquido). Porém, soluções também
podem existir como gases, onde diferentes tipos de gases se misturam
homogeneamente (soluções de gás-gás); e sólidos, onde a mistura de
metais é fundida homogeneamente como a maioria dos minerais naturais
e muitas ligas (soluções sólido-sólido).

Pelas experiências do quotidiano, você sabe que alguns compostos como


o álcool se dissolve em água em qualquer proporção, enquanto outros
como óleo de cozinha não se dissolve.

Que factores limitam a solubilidades mútua das substâncias?


Experiências mostram que substâncias com semelhança nos tipos de
118 Lição no 1

forças inter-moleculares dissolvem- se uma noutra. Este facto é resumido


pela antiga regra -“semelhante dissolve semelhante”- que normalmente
dá bons resultados qualitativos na predição da solubilidade.

Soluções gasosas

A energia associada à mistura de dois gases é desprezível e todos os gases


são infinitamente solúveis noutro. O ar é um exemplo comum de uma
solução gasosa, consistindo por cerca de 18 gases em proporções
amplamente diferentes.

Há muitas soluções gasosas que são usadas por seres humanos para o
controlo das proporções dos componentes. Por exemplo, a proporção de
gás anestésico é finamente ajustada, tendo em conta as necessidades do
paciente e o período do procedimento cirúrgico. A relação entre os
componentes de uma mistura de gases industriais, como CO:H2 (mistura
de combustível de CO e H2), N2:H2 na produção de amoníaco, são
controlados para aperfeiçoar o rendimento do produto nas várias
condições de temperatura e pressão.

Soluções gás - líquidos

Nas distintas soluções gasosas, cada gás somente tem uma solubilidade
limitada num determinado líquido. Gases que são apolares, como N2, ou
semelhantes a este, como NO, têm baixos pontos de ebulição porque as
suas atracções inter- moleculares são fracas. Igualmente, eles não são
muito solúveis em água porque as forças soluto-solvente são fracas.

Em alguns casos, uma pequena quantidade de um gás apolar é que se


dissolve durante o processo. O exemplo ambiental mais importante é a
solubilidade de O2 na água. A 25oC e 1 atm, apenas 3.2 ml de O2 se
dissolve por 100 ml de água, sem a presença dessa quantidade a vida
aquática não existiria.

A maioria da solubilidade de gases acontece quando eles reagem


quimicamente com o solvente ou outro componente. Por exemplo, o
oxigénio parece muito mais solúvel em sangue que em água porque no
sangue o O2 está continuamente unindo às moléculas de hemoglobina.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 119

Solução Líquido - Líquido

Os líquidos diferentes dos gases não formam soluções em qualquer


proporção. Cada líquido tem uma solubilidade limitada no outro, e uma
vez excedido esse limite, a mistura separa-se em duas fases.

Considere a situação entre benzeno e tetracloreto de carbono; água e


tetracloreto de carbono. O benzeno (C6H6) dissolve-se em tetracloreto de
carbono (CCl4), mas não em água. Benzeno e tetracloreto de carbono são
compostos apolares com forças relativamente fracas. As forças de
atracção entre as moléculas de benzeno e entre as moléculas de
tetracloreto de carbono mostram quase a mesma magnitude que as forças
de atracção entre as moléculas de benzeno e tetracloreto de carbono.

Solução Sólido - Líquido

Sólidos iónicos são insolúveis na maioria dos solventes não-aquosos.


Porém, muitos deles são solúvel em água porque as fortes forças entre os
iões dos sais e as moléculas polares de água são muito semelhantes,
então, eles podem se quebrar nela.

Considere a dissolução de NaCl para visualizar claramente a dissolução


de sais. Inicialmente, os iões positivos (Na+) e negativos (Cl-) encontram-
se atraídos um ao outro. As moléculas de água são mantidas ligadas por
fortes pontes de hidrogénio. Se o cristal se dissolver, estas forças
quebram-se.

A dissolução do cristal é determinada pela força de atracção mais forte.


Se as forças iónicas internas do cristal forem mais fortes, o cristal não se
dissolve. Se as atracções dos iões pelas moléculas polares de água forem
mais fortes, o cristal dissolver-se-á. Esta é a situação do cloreto de sódio.

Uma vez libertados dos cristais, os iões são completamente rodeados por
moléculas de água.

Calor da solução

O calor da solução está relacionado com a possibilidade de formação de


soluções. A formação de uma solução é sempre acompanhada de
absorção externa ou libertação de energia. O calor da solução (∆H) é
definido como a quantidade de energia que é absorvida ou libertada
120 Lição no 1

quando uma solução é formada. Esta é a diferença entre a energia


possuída pela solução depois que ela é formada e a energia que os
componentes da solução tinham antes de formarem a mistura.

∆Hsolução = ∆Hsoluto + ∆Hsolvente

O primeiro passo na formação de uma solução é a separação das


partículas do soluto. Nesse sentido, as partículas do solvente separam-se
para criar espaço para as partículas do soluto. Essas etapas requerem
energia para quebrar as forças de atracções inter-moleculares - é por isso
endotérmica.

Não importa a natureza das atracções entre o soluto e o solvente, alguma


quantidade de energia é absorvida quando partículas do soluto ou do
solvente se separam nos anteriores dois passos. Assim, os processos nos
dois passos são endotérmicos (i.e., ∆Hsoluto e ∆Hsolvente > 0). Por
outro lado, quando as moléculas do soluto e do solvente se misturam e
se atraem uma a outra, a energia é libertada. Este processo é exotérmico
(∆Hsoluç < 0).

A dissolução global pode ser endotérmica ou exotérmica,


dependendo mais da energia usada para quebrar as ligações, ou mais
da energia libertada quando se formam novas ligações. Se é libertada
mais energia para a formação de ligações do que para quebrar as
ligações (∆Hsolução < ∆Hsoluto + ∆Hsolvente), o processo global é
exotérmico e ∆Hsolução é negativo. Se é usada mais energia para
formação do que para libertação (∆Hsoluto + ∆Hsolvente >
∆Hsolução), o processo global é endotérmico e ∆Hsolução é positivo.

Quanto mais positivo for o valor de ∆Hsolução, menos solúvel é o


soluto no solvente; e quanto mais negativo for seu valor, mais solúvel
é o soluto.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 121

Auto-avaliação
1. O calor de solução para AlCl3 é de –321 Kj.mol-1. Calcule o calor total
liberado na dissolução de 10.0 g de AlCl3 em 1.00 L de água.

Exercícios 2. Identifique, numa solução aquosa de cloreto de sódio, o soluto e o


solvente.

3. Classifique uma nuvem de poeira quanto ao tipo de solução, indicando


o soluto e solvente.
122 Lição no 2

Lição no 2

Solubilidade e Medidas de
Concentração de Soluções

Introdução
Cada soluto é caracterizado por se dissolver num determinado solvente e
cada um a uma proporção. Para prepar as soluções diárias, como o sumo
de laranja, temos que ter em conta as quantidades das substâncias que
formarão a solução.

Nesta lição, você irá analisar o processo de solubilidade para a partir dele
compreender outros conteúdos relacionados com a identificação das
diferentes medidas de concentração de soluções.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Definir o conceito de solubilidade;

 Descrever os diferentes tipos de solução quanto à solubilidade;

 Descrever o efeito da temperatura na solubilidade;


Objectivos da lição
 Realizar cálculos que envolvem os diferentes tipos de
concentrações de soluções;

 Identificar as diferentes unidades de concentração.

Solubilidade

Como você viu na lição anterior, a preparação de uma solução é feita


tendo em conta a solubilidade do soluto no solvente. Nesta lição daremos
continuidade ao tratamento das soluções.

Nas soluções gás-líquido ou sólido-líquido, há um certo limite máximo de


soluto que se pode dissolver num determinado volume do solvente a uma
determinada temperatura e pressão. A quantidade máxima do composto
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 123

que se pode dissolver num volume específico do soluto a uma


temperatura e pressão específica é conhecido como solubilidade.

Uma solução que dissolve uma quantidade máxima do soluto a uma


determinada temperatura é designada solução saturada. Porém, se a
solução contém menos quantidade de soluto é designada solução
insaturada. Também existem soluções que contém mais quantidade de
soluto do que a quantidade que se dissolveria para se obter uma solução
saturada. Assim, a solução contém mais soluto que se pode dissolver a
temperaturas mais baixas. Tais soluções são designadas soluções
supersaturadas. As soluções supersaturadas são instáveis. Uma vez
preparadas, a adição de uma pequena quantidade do soluto causará a
existência de excesso de soluto.

A solubilidade é frequentemente expressa em gramas de soluto por


litro ou por 100cm3 ou 100g de solvente a uma temperatura específica.
Outras unidades como mol/l também são usadas.

Os líquidos que são mutuamente miscíveis (por exemplo etanol e


água) misturam se em todas as proporções. O mesmo é válido para as
misturas gasosas ou para misturas sólidas. Estas soluções não podem
ser saturadas e o termo solubilidade não tem nenhum significado para
estas soluções. Vários factores afectam a solubilidade de um
composto, alterando o valor do produto de solubilidade, ou trocando o
equilíbrio que, até certo, ponto muda a solubilidade.

Efeito de temperatura em solubilidade

A temperatura tem um efeito principal na solubilidade da maioria das


substâncias. Você já deve ter notado, por exemplo, que o açúcar se
dissolve mais facilmente na água quente que na fria: a solubilidade do
açúcar é maior a temperaturas altas. Isso acontece geralmente na maioria
dos casos, mas não em todos. A solubilidade de uma substância sólida
aumenta com o aumento da temperatura. A base para este efeito é a
natureza do equilíbrio de solubilidade.

Como você viu no equilíbrio, quando um sistema em equilíbrio é


perturbado, ele ajusta-se no sentido de restabelecer o equilíbrio.
Considere uma solução saturada que tenha um valor positivo de calor da
124 Lição no 2

solução. Quando o calor é absorvido para formar a solução, pode-se


considerar o calor como se fosse um reagente:

Soluto + solvente + calor solução saturada

Se a temperatura do sistema é elevada (adicionar mais calor), o sistema


absorve algum calor adicionado, aumentando a velocidade do processo
directo. Se mais soluto se dissolve o equilíbrio é restabelecido com mais
iões na solução.

Geralmente, a solubilidade aumenta com o aumento da temperatura


se o processo for endotérmico.

Se um soluto tiver um valor negativo do calor da solução, o calor é


determinado por:

Soluto + solvente solução saturada + calor

Da mesma forma, quando a temperatura do sistema é elevada, o sistema


absorve algum calor de acordo com o respectivo aumento. Neste caso,
observa-se o aumento da velocidade do processo inverso. Algum soluto
cristaliza-se e o equilíbrio é restabelecido com a existência de menos iões
na solução. Geralmente, a solubilidade diminui com a temperatura se o
processo for exotérmico.

No caso de soluções gás-líquidas, as partículas gasosas separam-se


rapidamente como soluto puro. Então, para um gás, ∆Hsoluto ≈ 0.
Como o processo que envolve interacções entre moléculas gasosas e
moléculas de água é exotérmico (∆Hsolução<0), a soma destas duas
condições será negativa. Assim, o processo global da dissolução de um
gás em água é exotérmico.

Soluto (g) + Água (l) solução saturada(aq) + calor

As equações anteriores mostram que a solubilidade do gás na água


diminui com o aumento da temperatura

Efeito da pressão na solubilidade

Considerando que líquidos e sólidos são quase incompressíveis, a


pressão terá um efeito limitado na solubilidade destes. Em contraste, a
pressão tem um efeito principal na solubilidade do gás. Considere um
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 125

gás sobre uma solução aquosa saturada de gás. A uma determinada


pressão, o mesmo número de moléculas de gás que entra em contacto
com a solução por unidade de tempo, determina o estado de equilíbrio
da solução:

Gás + solvente solução saturada

A lei de Henry expressa a relação quantitativa entre a pressão do gás e a


solubilidade: a solubilidade de um gás (Sgas) é directamente
proporcional à pressão parcial do gás (Pgas) presente na solução:

Sgas = KH x Pgas

Onde KH é a constante da lei de Henry e é específico para cada


combinação gás-solvente a uma determinada temperatura. Com Sgas em
mol/L e Pgas em atm, as unidades de KH serão mol/L. atm.

Unidades de concentração

Existem várias razões que justificam a necessidade de você apreender as


unidades de concentração. Um estudo quantitativo de uma solução requer
o conhecimento da sua concentração, que é a quantidade de soluto
presente numa determinada quantidade de solvente. Os químicos usam
diferentes unidades de concentração, cada uma com a sua respectiva
vantagem e desvantagem.

Você deve conhecer as unidades de concentração para poder trabalhar na


prática com soluções. As unidades de concentração mais comuns ou
frequentemente usadas são: percentual em massa, fracção molar,
molaridade e molalidade.

Percentual em massa (%Wa)

Percentual em massa é definido como a razão entre a massa do soluto e a


massa da solução multiplicada por 100 por cento.

Nas aplicações químicas, o percentual em massa é definido como:

Percentual em massa (%m) = Msoluto x 100%


Msoluto + Msolvente

= Msoluto x 100%
Msolução
126 Lição no 2

O percentual em massa não tem unidades porque é a razão entre duas


quantidades semelhantes.

No comércio, na medicina e em outros campos de aplicação da Química,


a medida (%m) é frequentemente usada, e geralmente expressa a
concentração do peso-percentual, ou simplesmente “concentração
percentual”. Por exemplo, uma solução que contém 5 g de NaCl em 95 g
de H2O é uma solução de NaCl a 5%.

Fracção molar (%X)

Fracção molar é definida como número de moles de um componente


dividido pelo número total de moles dos componentes da solução.

A fracção molar de um componente de uma solução, considere


componente A, é escrito XA e é definido como:

XA = moles de A
Soma do nr. de mole de todos os componentes
A fracção molar não tem nenhuma unidade, pois ela é a razão entre duas
quantidades semelhantes.

Molaridade (M)

Molaridade é uma unidade de concentração que nos indica o número de


moles de soluto que se dissolve em 1.0L de solução. É definido como o
número de moles de soluto num litro de solução; quer dizer,

M = Número de moles de soluto


Volume de solução num L

A molaridade é lida como “moles de soluto por litro de solução” e sua


unidade é mol/L.

A concentração molar de uma solução na qual 49g de H2SO4 é dissolvido


em 500 mL de solução será:

M H2SO4 = 49g / 98 g.mol-1 H2SO4 = 1 M


Exemplo 500 mL / 1000 mL.L-1
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 127

Molalidade (m)

A molalidade de uma espécie em solução é o número de moles do soluto


por quilograma do solvente.
Molalidade (m) = moles do soluto
Massa de solvente (kg)

A concentração molal de uma solução na qual 49g de H2SO4 é


dissolvido em 750 g de água será:

Exemplo m H2SO4 = 49g / 98 g.mol-1 H2SO4 = 0.67 M


750g / 1000 g.kg -1

Auto-avaliação
1. A pressão parcial de etano na superfície de uma solução saturada que
contém 6.56 x 10-2 g de etano é de 100.1kPa. Qual será a sua pressão parcial
quando a solução saturada tiver 5.0 x 10-2 g de etano?
Exercícios
2. Uma solução é composta por três substâncias diferentes: 20 g de etanol,
29 g de água e 1 g de cloreto de sódio. Qual é o percentual em massa do
álcool?

3. Qual é a fracção molar de uma solução que é preparada através da adição


de 200.4 g de etanol puro (C2H5OH) em 143.9g de água?

4. Uma solução é composta por 10mol de água, 1.0 mol de hidróxido de


sódio e 2.0mol de açúcar. Qual será a fracção molar do hidróxido de
sódio?

5. Se 80 g de hidróxido de sódio está presente em 500 mL de solução, qual


será a molaridade de hidróxido de sódio nesta solução?
128 Lição no 3

Lição no 3

Propriedades coligativas de
soluções

Introdução
Nesta lição você aprenderá as propriedades coligativas das soluções,
tendo em conta as propriedades características das soluções.

Soluções de electrólitos – electrólitos fracos, o grau e a constante de


dissociação; electrólitos fortes e actividade dos iões; produto iónico da
água e o pH; propriedades coligativas das soluções.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

 Descrever as propriedades coligativas de soluções;


 Identificar as propriedades coligativas de soluções;
 Caracterizar as diferentes propriedades coligativas de soluções.
Objectivos da lição

Propriedades coligativas de soluções


Embora, você vá fazer um estudo aprofundado sobre as propriedades
coligativas de soluções no Módulo de Química Física, é fundamental
introduzir esta importante propriedade das soluções nesta fase.

Os solventes têm determinadas características. Ao dissolver um soluto,


nele resulta uma solução cujas propriedades já não são iguais às do
solvente puro.

Entre as mudanças que são originadas pela presença do soluto, há aquelas


que dependem da natureza do soluto. Por exemplo, se se dissolver sal da
cozinha em Água, esta adquire sabor salgado (porque o sal é salgado) e se
se dissolver açúcar, ela adquire sabor doce (porque o açúcar é doce). E se
se dissolver café, ela adquire cor acastanhada e sabor amargo (porque o
café é castanho e amargo); etc.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 129

As soluções têm propriedades diferentes das do soluto ou o solvente


usado para preparar a referida solução. Essas propriedades podem ser
divididas em dois grupos principais, as propriedades coligativas e as
propriedades não-coligativas. Propriedades coligativas das soluções
são propriedades que só dependem do número de partículas
dissolvidas na solução e não da sua identidade. Propriedades não-
coligativas dependem da identidade das espécies dissolvidas e do
solvente.

Mas há aquelas propriedades que não dependem da natureza do soluto


(como acontece com a cor, o sabor, etc), mas que dependem apenas da
quantidade do soluto.

Propriedades coligativas são aquelas propriedades das soluções que


não dependem da natureza do soluto, mas apenas da quantidade do
soluto, isto é, da quantidade de partículas dispersas.

As propriedades coligativas são:

• A pressão de vapor;
• O ponto de ebulição;
• O ponto de congelação;
• A pressão osmótica.

Quando um soluto não volátil é dissolvido em água, a pressão de vapor


da solução é sempre menor que a da água pura. Devido a esse
abaixamento da pressão de vapor, o ponto de ebulição da água irá
aumentar (elevação de ponto de ebulição) e seu ponto de congelamento
irá diminuir (depressão do ponto de congelamento).

A diminuição do ponto de congelamento, a elevação de ponto de


ebulição, o abaixamento da pressão de vapor e a pressão osmótica estão
todas relacionadas, porque a magnitude da mudança depende da
concentração de partículas de soluto. Também depende da natureza do
solvente. Estas propriedades não são tão dependentes da natureza, ou das
propriedades químicas do soluto que é dissolvido, mas simplesmente do
número de partículas de soluto presente. Porém, existem iões ou
moléculas que não fazem muita diferença excepto no número. A
130 Lição no 3

concentração é que faz a diferença e não a natureza. Claro que essa


concentração tem que ter em conta o soluto dissociado.

1. Pelo abaixamento da pressão de vapor (∆p)

∆p = p0 - p1 = p0n2/(n1+n2) =p0N2

Onde P0 = pressão de vapor o solvente puro; p1 = pressão dos vapores da


solução; N2=fracção molar do soluto = n2/(n1+n2)

2. Pela elevação do ponto de ebulição: ∆Teb. = E m

E = constante ebulioscópica do solvente, m = molalidade da solução

3. Pela diminuição do ponto de congelamento: ∆Tcr. = K. m

K = constante ebulioscópica do solvente, m = molalidade da solução.

4. Pela pressão osmótica π = C.R.T ; em kPa

C = concentração molar, R = constante gasosa, T = Temperatura absoluta

As propriedades coligativas até aqui apresentadas referem-se a soluções


dos não electrólitos. Tratando-se de electrólitos, é necessário frisar que
as propriedades coligativas acentuam-se devido ao fenómeno da
dissociação, que leva a um maior aumento do número de partículas na
solução. Assim, é introduzido um coeficiente isotónico i.

Se partirmos do princípio que estamos em presença dum electrólito fraco,


que se dissocia originando k iões (positivos + negativos) e cujo grau de
dissociação é α teremos uma dissociação de n.α moles do electrólito,
formando-se nkα moles de iões. E permanecerão indissociáveis (n - n α)
= n(1 - α) moles do electrólito fraco. O número total de moles existentes
nessa solução será:

nkα + n(1 - α) = n[1 +(k - 1) α] = ni

A grandeza entre parêntesis recto tem a designação de factor de


dissociação I ou coeficiente isotónico de Van't Hoff:

I = 1+ α(k - 1) ou α = I - 1/k - 1
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 131

Para electrólitos fortes, cujo grau de dissociação tende para 1, usa-se o


termo de grau de dissociação aparente α para mostrar que a interacção
colombiana entre os iões de cargas opostas causam anomalias
dependentes da concentração, i. e., para os electrólitos fortes pode
considerar-se que não ocorre dissociação total.

Sendo assim, as propriedades coligativas de tais soluções podem


representar-se segundo as expressões:

Variação da pressão de vapor: ∆p=p0 - p1=p0 in2/(n1+in2)= ip0N2

Elevação do ponto de ebulição: ∆Teb. = iE m

Diminuição do ponto de congelamento: ∆Tcr. = iK. m

Pressão osmótica: π = iC.R.T

Auto-avaliação
1. Qual seria o ponto de congelamento e ponto de ebulição de uma
solução contendo 6.50g de etilenoglicol (C2H6O2), um composto
comumente usado como um anticongelante em automóveis, em
Exercícios 200,0g de água?

2. Uma solução de cloreto de cálcio foi preparada por dissolução de


25,0g de CaCl2 em exactamente 500g de H2O. Qual é a pressão de
vapor esperada para essa solução, a 80 ºC? A 80 ºC, a água possui
uma pressão de vapor de 47,3 KPa. Qual seria a pressão de vapor da
solução se o CaCl2 não fosse um electrólito?
132 Lição no 3

Resumo
Nsta unidade, subdividida em três lições de conteúdos relacionados com
as soluções e os conceitos básicos a ela ligados, esperamos que você
tenha aprendido bastante, considerando a sua importância para as nossas
Resumo actividades diárias.

Na primeira lição, tratámos das soluções e suas características. Aqui foi e


introduzido o conceito de solução, definidas como misturas homogéneas
de moléculas, átomos ou iões de duas ou mais substâncias através da
conjugação de um soluto e um solvente, destacando-se os tipos de
soluções e seu processamento (gás-líquido, líquido-líquido ou sólido-
líquido, gás-gás e sólido-sólido). Nesta lição também tratámos dos
factores que limitam a solubilidade das substâncias (a partir do princípio
de que semelhante dissolve semelhante); e, por fim, abordamos o calor da
solução que está relacionado com a possibilidade de haver formação de
soluções.

Na segunda lição, demos continuidade ao tratamento das soluções, mais


concretamente, a solubilidade e as medidas de concentração de soluções.
Nela começamos por definir o conceito de solubilidade, os tipos de
soluções em função da solubilidade (soluções saturadas, insaturadas e
supersaturadas) e os factores que condicionam a solubilidade (a
temperatura e pressão). Para além disso, também discutimos as várias
unidades de medida de concentração – quantidade de soluto presente num
determinado solvente, suas vantagens e desvantagens, dando destaque às
unidades mais comuns como: percentual em massa, fracção molar,
molaridade e molalidade.

Na terceira e última lição desta unidade, introduzimos as propriedades


coligativas de soluções, um conceito que voltará a ser abordado no
Módulo de Química Física I. Nesta lição, introduzimos o conceito de
propriedades coligativas e não coligativas, dando algum destaque às
propriedades coligativas (pressão de vapor, ponto de ebulição, ponto de
congelamento e pressão osmática), como aquelas propriedades das
soluções que não dependem da natureza do soluto, mas apenas da
quantidade de soluto, isto é, da quantidade de partículas dispersas.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 133

Bibliografia
CARVALHO, G.C. Química Moderna. 2o vol. São Paulo, Distribuição da
Livraria Nobel, 1976.

CHANG, Raymond. Química Geral – Conceitos Essenciais. 4ª Edição.


Leitura
São Paulo,Editora Mc Graw-Hill, 2007.

MAHAN, B.H. Química Um Curso Universitário. 4a edição. SP – Brasil,


Editora Edgard Büchler Ltda., 1998.

PERUZZO, Francisco M. & CANTO, Eduardo. Química na Abordagem


do Cotidiano. Volumes 1 e 2. São Paulo,Moderna, 1998.

SKOOG, D. at all. Fundamentos de Química Analítica. 8ª Edição. Brasil,


Editora Thomson, 2004.

Respostas dos exercícios


Lição 1
1. R: 24.1 kJ
2. R: Soluto: Cloreto de sódio Solvente: Água
3. R: É uma solução do tipo gás-gás, na qual o soluto é partículas sólidas
e o solvente é o ar atmosférico.

Resultados
Lição 2
1. R: (PC2H6)2 = 76.3 kPa
2. R: 40% por peso do álcool.
3. R: XA = 0.353
4. R: XA = 0.077
5. R: M = 4.0 M

Lição 3
1. R: ∆Tcr = - 0,968 oC e ∆Teb = 100,267 oC
2. R: ∆psolução = 46,1KPa
Se CaCl2 não fosse um eletrolítico ∆psolução = 47,3 KPa
134 Unidade 5

Unidade 5

Água. Reacções em Soluções

Introdução
Bem-vindo a esta unidade didáctica. Nela você irá obter noções básicas
sobre a água e soluções, bem como as reacções químicas em soluções.

Em Química a água serve, entre vrias coisas, como meio para o decurso
de muitas reacções. A água, sendo uma substância química muito
abundante na natureza, serve em muitos casos como solvente para iões e
moléculas.

Para além disso, trataremos das reacções de precipitação e produtos de


solubilidade; das reacções de formação de complexos e da constante de
instabilidade; da teoria protolítica dos ácidos e bases; e da espontaneidade
dum processo redox e os potenciais redox.

Para tal, temos que rever alguns conceitos ligados às soluções de


electrólitos – electrólitos fracos, o grau e a constante de dissociação;
electrólitos fortes e actividade dos iões.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

• Solidificar os conhecimentos sobre soluções de electrólitos e


actividade dos iões;
• Definir e caracterizar as reacções químicas em solução;
Objectivos • Interpretar as teorias ácido-base de Arrehnius, Bronsted e Lewis;
• Efectuar cálculos para determinação da concentração
hidrogeniónica para ácidos e bases fortes e fracos;
• Determinar o produto iónico da água, o pH, o pOH e o pK;
• Interpretar os conceitos de hidrólise e produto de solubilidade;
• Efectuar cálculos relacionados com o produto iónico da água, pH
o pOH e pK;
• Reconhecer as reacções de formação de complexos e nomear
alguns complexos simples;
• Identificar os processos redox e sua aplicação;
• Definir os conceitos ligados às noções básicas da electroquímica.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 135

Reacções em soluções de electrólitos


A água é geralmente um bom solvente para compostos iónicos. No estado
sólido, estas substâncias são compostas de iões positivos e negativos
ligados entre si, num arranjo rígido, por forças electrostáticas.

Ao se dissolver em água, estes sólidos quebram-se, ou dissociam-se,


produzindo iões que são mais ou menos livres para circular na solução. À
medida que o sólido se dissolve, os iões ficam cercados pelas moléculas
de água e são designados hidratados.

As reacções em solução podem ser: ácido-base, complexação e


precipitação,

Eletrólitos

Fortes Fracos
(sais, ácidos e (ácidos e bases fracas)
bases fortes) α ≈ 1, α >1, dissociam-se
dissociam-se parcialmente. São
completamente. mais estáveis (gases,
São por isso, complexos,
instáveis. precipitados).

Antes de mais nada, é necessário verificar que tipo de reacção poderá


ocorrer na solução com os iões presentes:

• Ocorrerá reacção de precipitação se Kps (produto ou constante de


solubilidade) superar as outras constantes das reacções possíveis;
Também poderá ser usada a teoria ácido-base de Pearson;

• Ocorrerá reacção ácido-base (ou de neutralização) se Ka


(constante de acidêz) ou Kb (constante de basicidade ou
alcalinidade) superar as outras constantes das reacções possíveis;

• Ocorrerá hidrólise ácida ou alcalina se Kh (constante de


hidrólise) superar as outras constantes das reacções possíveis;

• Ocorrerá complexação se β ou Kf (constante de complexação)


superar as outras constantes das reacções possíveis;

• Ocorrerá uma reacção redox se ϕ ou E (potencial eléctrico da


reacção) superar as outras constantes das reacções possíveis.
136 Lição no 1

Lição no 1

Reacções de Precipitação e
Produtos de Solubilidade

Introdução
As reacções em solução aquosa podem ser de simples troca (ou
deslocamento) ou de dupla troca. Nas reacções de dupla troca encontram-
se as reacções de neutralização, de precipitação, e de complexação.

Nesta lição você tratará com particularidade as reacções de precipitação,


os factores que condicionam a existência de um precipitado e os cálculos
que possibilitam prever a existência de uma reacção caracterizada pela
formação de um precipitado.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Caracterizar as reacções de precipitação;

• Descrever os factores que condicionam a existência de um


precipitado;
Objectivos da lição
• Efectuar cálculos para determinar o produto de solubilidade de
uma substância;

• Prever a existência de um precipitado numa determinada solução.

Reacções de precipitação. Solubilidade


As reacções de precipitação são aquelas que se caracterizam pela
formação de um composto insolúvel ou precipitado, envolvendo
compostos iónicos.

Quando isso acontece, nota-se a presença de um sólido insolúvel que se


separa da solução – o precipitado.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 137

Embora também existam soluções gasosas e sólidas, as soluções mais


comuns envolvem um solvente líquido. Todos os dias dissolvemos
substâncias em Água, por exemplo, sal de cozinha ou o açúcar.

• Solubilidade: é o número de gramas de soluto num litro de


solução saturada (g/L).
• Solubilidade molar: é o número de moles de soluto num litro de
solução saturada (mol/L).

Estas são grandezas que dependem da temperatura, sendo normalmente


referenciadas a 25 ºC.

Para cada conjunto de condições, existe uma quantidade limite de uma


dada substância que se consegue dissolver num determinado solvente, e
que se designa por solubilidade dessa substância nesse solvente.

À temperatura de 25oC, conseguem-se dissolver cerca de 36 gramas de


Cloreto de sódio (o sal de cozinha) em 100 ml de àgua, sendo, portanto,
de 36g/100ml, ou seja, 360g/1000ml a solubilidade do cloreto de sódio
Exemplo em àgua. Se se adicionar mais sólido à solução, este não se irá dissolver,
permanecendo o soluto dissolvido em equilíbrio com o respectivo sólido
que está em contacto com a solução.

Você viu anteriormente que dependendo da quantidade de soluto


dissolvido num determinado solvente e a solubilidade deste, as soluções
podem apresentar-se:
• Insaturadas, quando a quantidade de soluto na solução é inferior à
sua solubilidade;

• Saturadas, se a quantidade de soluto em solução for igual à


solubilidade desse soluto;

• Sobressaturadas ou supersaturadas, soluções em que a


concentração de soluto em solução é superior à sua solubilidade

Quando um soluto se dissolve num solvente, as moléculas do solvente


formam estruturas em torno das moléculas de soluto, num processo
designado por solvatação.
138 Lição no 1

No caso de substâncias iónicas que se dissolvem em solventes como a


Água, o processo de dissolução implica a separação dos respectivos iões
constituintes, os quais irão ser solvatados pela Água. Nestes casos, o
equilíbrio que se estabelece entre o sólido e o composto dissolvido
depende das concentrações em solução de todos os iões que constituem o
sal. O cálculo da solubilidade no equilíbrio químico é chamado Equilíbrio
de Solubilidade.

Nos sais pouco solúveis (solubilidade menor que 0,01mol/L) o produto da


concentração molar de iões é uma constante; a uma determinada
temperatura, esse produto (Kps) é chamado produto de solubilidade.

Para o caso do Sulfato de alumínio sólido [Al2(SO4)3], em contacto com


uma solução saturada de Sulfato de alumínio (Al2(SO4)3 (dissociado em
iões Al3+ e SO42-), o equilíbrio é traduzido por

Al(SO4)3(s) 2Al3+(aq) + 3SO42-(aq)

A constante que se associa a este equilíbrio denomina-se produto de


solubilidade (Kps) e é expressa, no caso deste sal, pelo produto das
concentrações molares de equilíbrio dos iões, cada um elevado ao
respectivo coeficiente estequiométrico:

Kps= [Al3+]eq2.[SO42-]eq3

Para o equilíbrio de solubilidade do Cloreto de prata, teremos:

AgCl(s) Ag+(aq) + Cl-(aq) ; Kps = [Ag+][Cl-]

Quando se misturam duas soluções, podem ou não formarem-se


precipitados. De forma a prever a formação ou não destes, recorre-se ao
cálculo de um quociente, denominado quociente de reacção (Q), que
envolve o produto das concentrações dos iões envolvidos elevados aos
respectivos coeficientes estequiométricos, de forma semelhante à que se
utiliza para calcular o produto de solubilidade (note-se que o produto de
solubilidade corresponde ao quociente de reacção quando a solução está
saturada, ou seja, quando as concentrações dos iões correspondem às suas
concentrações de equilíbrio); compara-se o valor de Q com o de Kps.
Assim, podem ocorrer três casos distintos:

• Se Q<Kps a solução não está saturada, logo não haverá


precipitação;
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 139

• Se Q=Kps a solução está saturada, não havendo precipitação;

• Se Q>Kps a solução está sobressaturada (supersaturada) e há


precipitação até que o produto das concentrações iónicas desça
para Kps.

Quando se determina o valor de Q é preciso ter em conta que, ao se juntar


duas soluções, o volume disponível para cada electrólito se altera. Assim
sendo, é necessário calcular as novas concentrações dos iões
intervenientes. Normalmente, para este cálculo, considera-se que os
volumes são aditivos.

Outro factor a ter em conta é a temperatura a que as soluções se


encontram; se esta não for conhecida, considera-se que ambas as soluções
estavam, inicialmente, à mesma temperatura, e que esta se mantém após a
mistura.

Considere-se a mistura de 200ml de uma solução aquosa 0,10 mol/dm3 de


Nitrato de prata (AgNO3) a 300 ml de uma solução aquosa 0,20 mol/dm3
de Sulfato de sódio (Na2SO4), a 25ºC. (Kps(Ag2SO4) = 1,4x10-4, a 25ºC).
Exemplo
O precipitado que se poderá formar é o Ag2SO4, com o seguinte
equilíbrio de dissolução: Ag2SO4(s) 2Ag+(aq) + SO42-(aq)

Para determinar se há ou não formação de precipitado, é necessário


determinar o Q, definido da seguinte forma:

Q= [Ag+]2.[ SO42-]

Para isso é preciso conhecer os valores das concentrações dos iões Ag+ e
SO42-. Estes valores calculam-se tendo em conta os valores das
concentrações iniciais:
O número de moles de Ag+ presente nos 200ml (0,2 dm3) iniciais
é de 0,10 mol/dm3 * 0,2 dm3 = 0,02 mol Ag+.
Como o volume final é 500ml (200ml + 300 ml) ao juntar as duas
soluções, a concentração de iões Ag+ na solução final será de 0,02
mol Ag+ / 0,5 dm3 = 0,04 mol/dm3.

O número de moles de SO42- presente nos 300ml (0,3 dm3) iniciais


é de 0,20 mol/dm3 * 0,3 dm3 = 0,06 mol SO42-.
140 Lição no 1

Para os 500ml finais, a concentração de iões SO42- na solução


final será de 0,06 mol SO42-/0,5 dm3 = 0,12 mol/dm3

Determinando o valor de Q, obtém-se Q= 0,04*0,12 = 4,8 x 10-3, donde


se conclui que Q>Kps. Desta forma, a solução está sobressaturada,
havendo, então, precipitação de Ag2SO4, até que [Ag+]2.[ SO42-]=1,4x10-4.

Considere-se o seguinte equilíbrio de dissolução


CaF2(s) Ca2+(aq) + 2F-(aq)

Sabendo que a solubilidade do Fluoreto de cálcio a 18ºC é de 0,016 g/l,


Exemplo pretende-se determinar o valor do produto de solubilidade.

Resolução.
Sabendo que a massa molar do CaF2 é 78 g/mol, determina-se a
solubilidade molar do composto:

n = m/M. Assim,

Através do equilíbrio de dissolução, observa-se que por cada mol de CaF2


que se dissolve, forma-se 1 mol de Ca2+ e 2 mol de F-. Assim, no
equilíbrio, as concentrações dos iões serão:
[Ca2+] = 2,05 x 10-4 mol/l e [F-] = 2 x 2,05 x 10-4 = 4,1 x 10-4 mol/l.

Conhecendo as concentrações dos iões no equilíbrio, é possível


determinar o produto de solubilidade que, neste caso, corresponde ao
produto da concentração de iões Cálcio pelo quadrado da concentração de
iões Fluoreto:
Kps = [Ca2+].[F-]2 = (2,05 x 10-4) . (4,1 x 10-4)2 = 3,45 x 10-11

Esses são alguns exemplos das chamadas reacções de precipitação,


processos químicos em que um dos produtos da reacção forma pequenas
partículas sólidas que ficam em suspensão no seio de uma solução, ou
caem para o fundo do recipiente em que se encontram (precipitado).

Quais são os factores que influenciam a solubilidade?


A solubilidade de uma dada substância num solvente pode ser afectada
por determinados factores. De entre os mais importantes, podem
destacar-se:
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 141

• A temperatura;
• O efeito do ião comum;
• O pH da solução;
• Os equilíbrios de complexação.

Dependência do Kps com a temperatura

Dependendo do tipo de reacções que ocorrem quando se misturam duas


soluções, o Kps pode aumentar ou diminuir. Assim, podem ocorrer dois
casos distintos:

• Reacção endotérmica – no caso de reacções endotérmicas, o Kps


aumenta com o aumento da temperatura indicando, também, um
aumento da solubilidade.

• Reacção exotérmica – no caso de reacções exotérmicas, o Kps


diminui com o aumento da temperatura, diminuindo, também, a
solubilidade.

O efeito do ião comum

Se se analisar a equação de equilíbrio de dissociação, por exemplo, de


sulfato de alumínio (indicada abaixo), aplicando o princípio de Le
Chatelier, verifica-se que, ao aumentar a concentração de um dos iões,
por exemplo o ião Sulfato, o equilíbrio irá deslocar-se no sentido de
formação de sulfato de alumínio sólido, diminuindo, portanto, a
solubilidade deste sal. Este efeito é denominado, efeito do ião comum.

Al2(SO4)3(s) 2Al3+(aq) + 3SO42-(aq)

Desta forma, justifica-se o facto de que quando se adiciona sulfato de


sódio (Na2SO4) a uma solução saturada de sulfato de alumínio
(Al2(SO4)3), aumentando assim a concentração do ião SO42-, uma parte do
sulfato de alumínio em solução precipitará.
142 Lição no 1

Influência do pH da solução na solubilidade

Num equilíbrio de dissolução em que entrem iões OH-, tal como o


equilíbrio de dissolução do Hidróxido de alumínio, por exemplo, o pH da
solução irá afectar a solubilidade do sólido.
Ca(OH)2(s) Ca2+(aq) + 2 OH-(aq)

Pelo princípio de Le Chatelier, verifica-se que ao aumentar a


concentração de iões OH- (aumentando o PH) na solução, o equilíbrio
desloca-se no sentido da formação de Ca(OH)2 sólido, reduzindo, então, a
solubilidade deste. Por outro lado, ao aumentar a concentração de iões H+
(diminuindo o pH) vamos reduzir a concentração de iões OH- em
solução, pelo que a solubilidade aumenta.

Determina a solubilidade do hidróxido de cálcio, Ca(HO)2, num meio


tampão cujo pH é 13. (Kps = 8 x 10-6). O equilíbrio de dissociação
associado a este composto é
Ca(HO)2(s) Ca2+(aq) + 2 HO-(aq)
Exemplo
Para um pH de 13, corresponde um pOH de:

pOH = - log [OH-] = 14- pH = 14 – 13 =1

Sendo assim, a concentração de iões OH- é 0,1 mol/l.

Sabendo que o Kps é igual a 8 x 10-6, pode calcular-se a concentração de


iões Ca2+:

Kps = [Ca2+].[OH-]2 = 8 x 10-6 ⇒ [Ca2+] = 8 x 10-6 / 0,12= 8 x 10 -4 mol/l

Como a cada mole de Ca2+ corresponde uma mole de Ca(HO)2, conclui-se


que a solubilidade molar do hidróxido de cálcio em pH=13 é 8 x 10 -
4
mol/l. Verifica-se, então, que esta é inferior à solubilidade do hidróxido
de cálcio em Água pura (0,0126 mol/l), confirmando que quanto maior o
pH (maior a concentração dos iões OH-) menor é a solubilidade, uma vez
que o equilíbrio se deslocado para a esquerda – formação de sólido.

Influência dos equilíbrios de complexação na solubilidade

A solubilidade de um determinado composto depende, também, da sua


capacidade para formar iões complexos.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 143

Por exemplo, se considerarmos o Hidróxido de zinco (Zn(OH)2), este, em


água pura, apresenta um produto de solubilidade baixo (Kps= 1,9x10-17, a
25ºC). No entanto, se houver um excesso de hidróxido, a solubilidade do
hidróxido de zinco é bastante maior, uma vez que há a formação de um
ião complexo.

Zn(OH)2(s) Zn2+(aq) + 2OH-(aq)

Zn(OH)2(s) + 2OH-(aq) [Zn(OH)4]2-(aq)

A constante de equilíbrio associada a um equilíbrio de complexação


denomina-se constante de formação do complexo, sendo designada por
Kf.

Auto-avaliação
1. O Kps do AgCl a 25oC é 1,0x10-10. Calcule as concentrações de Ag+ e
Cl- em solução saturada de AgCl e a solubilidade molar do AgCl.

2. 10mL de AgNO3 0,2M é adicionado a 10mL de NaCl 0,10M. Calcule a


Exercícios
concentração de Cl- remanescente na solução em equilíbrio e a
solubilidade do AgCl.

3. O iodeto de bismuto tem uma solubilidade de 7,76 mg/L. Qual o seu


Kps?

4. Qual a concentração de Ag+ e CrO42- numa solução saturada de


Ag2CrO4 (Kps Ag2CrO4 = 1,1x10-12)?

5. Dois compostos AB e AC2 têm produto de solubilidade igual a 4x10-18.


Qual o mais solúvel? Justifique!
144 Lição no 2

Lição no 2

Teoria protolítica dos ácidos e bases.


Hidrólise de iões e pH, pOH, pKW, pKa e pKb.

Introdução
No seu dia-a-dia é comum você usar o sumo de limão ou vinagre para
temperar alimentos; hidróxido de sódio ou leite de magnésio como
medicamento. Em muitas situações, perguntamo-nos quais as
propriedades de cada uma dessas substâncias químicas que ingerimos
com frequência. Ou ainda, qual o carácter ácido-básico de cada uma
dessas substâncias.
Para você responder a estas e outras questões, temos que começar por
entender a teoria protolítica dos ácidos e bases como ponto de partida
para a compreensão do comportamento dessas substâncias químicas em
solução aquosa.
Assim, nesta lição, irá estudar como determinar o grau de hidrólise das
substâncias ácidas, básicas ou neutras, como também aprenderá a
determinar os potenciais hidrogeniónico e hidroxiliónico.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Definir os conceitos de ácido e base segundo Arrhenius e


Bronsted-Lowry;

• Escrever equações de reacções de hidrólise dos diferentes tipos


Objectivos da licção
de iões;

• Reconhecer as forças de acidez e de basicidade de soluções de


ácidos e bases;

• Interpretar a lei de diluição de Ostwald para os diferentes


electrólitos em solução;

• Relacionar as diferentes constantes e os respectivos potenciais;

• - Efectuar cálculos para determinar o carácter ácido-base de


soluções.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 145

Teorias protolíticas dos ácidos bases

Definição de Arrhenius para ácidos e bases é a seguinte:

Arrhenius definiu um ácido como qualquer substância que tem


hidrogénio e que em solução aquosa liberta o iões (H+) ou que aumenta a
concentração do ião hidrónio (H3O+).

Uma base como substância que em solução aquosa origina iões hidroxilo
(OH-).

Exemplos:
HCN H+ (aq) + CN-(aq) e NaOH Na+(aq) + OH-(aq)
Definição de Bronsted-Lowry para ácidos e bases. Ião hidrônio

A definição de ácidos e bases em termos dos iões hidrónio e hidroxila em


água é muito restrita, porque limita a discussão do fenómeno ácido-base
apenas a solução aquosa.

Uma abordagem geral foi proposta pelo químico dinamarquês J. N.


Bronsted e pelo químico britânico T. M. Lowry.

Eles definiram ácido como uma substância capaz de doar um protão a


uma outra substância. E base, como substância capaz de aceitar um
protão de um ácido.
HCl + H2O H3O+ + Cl-
ácido base ácido base

Quando o ácido HCl reage, forma a base Cl-. Estas duas substâncias estão
relacionadas entre si pela perda ou pela aquisição de um simples protão, e
constituem um par ácido-base conjugado. A H2O é a base conjugada do
H3O+ e H3O+ é o ácido conjugado do H2O

Em geral, podemos representar qualquer reacção ácido-base de Bronsted-


Lowry por: Ácido (x) + Base(y) Base(x) + Ácido(y)

Em que: ácido (x) e base (y), representa um par conjugado e ácido (y) e
base (y) representam outro par conjugado.
146 Lição no 2

Hidrólise de iões

Hidrólise é um termo útil, oriundo da definição de Arrhenius de ácidos e


bases, e significa "quebra pela água". A hidrólise é uma reacção entre um
anião ou um catião e a água, com fornecimento de iões OH- ou H+ para a
solução.

Hidrólise de aniões

A hidrólise de um anião A- pode ser representada como:

A-(aq) + H2O(l) HA(aq) + OH-(aq). A reacção consiste na remoção de


protões das moléculas de água para formar moléculas de HA e iões
hidróxidos, tornando a solução básica. Segundo Arrhenius, esta reacção
ocorre porque HA é um ácido fraco. Em outras palavras, afirmar que HA
é um ácido fraco equivale a afirmar que a ligação na molécula de HA é
suficientemente forte para evitar que esta molécula se dissocie
completamente. A hidrólise do anião ocorre quando A- é uma base
suficientemente forte para remover um protão da água e estabelecer o
equilíbrio acima.

Um ácido fraco de Arrhenius é o produto da hidrólise de um anião e


quanto mais fraco for esse ácido maior o grau de hidrólise do anião. Por
exemplo, pode-se prever que o anião cianeto (CN-) hidrólise mais que o
fluoreto (F-), porque HCN é um ácido mais fraco do que HF. (Ka HCN =
1,0 x 10-10 e Ka HF = 6,7 x 10-4). Quanto mais fraco um ácido, mais
fortemente seu protão está ligado à molécula e, consequentemente, maior
a tendência de seu anião hidrolisar para formar a molécula do ácido. Pela
definição de Brönsted-Lowry, quanto mais fraco o ácido, mais forte será
sua base conjugada (veja mais detalhes em teoria ácido-base).

Quando o anião A- hidrolisa, o seguinte equilíbrio é estabelecido:

A-(aq) + H2O(l) HA(aq) + OH-(aq)

E a condição para esse equilíbrio é: [HA][OH-] / [A-]. O valor desse


equilíbrio é denominado constante de hidrólise ou constante
hidrolítica, e representado por Kh. Os valores dessas constantes
raramente são dados em tabelas, uma vez que é muito fácil calculá-los a
partir de outros valores de constantes.

Veja a dedução:
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 147

Multiplicando-se o numerador e o denominador da condição de equilíbrio


anterior, por [H+], obtemos: Kh = [HA][OH-][H+] / [A-][H+]. Mas perceba
que [OH-][H+] é igual a Kw e que [HA] / [A-][H+] é o inverso de Ka.
Assim, simplificando, temos: Kh = 1/Ka . Kw. Para aniões, portanto, a
constante de hidrólise é dada por:

Ka é a constante de dissociação de um ácido fraco formado durante a


hidrólise. Como estas constantes são bastante conhecidas e facilmente
disponíveis e o valor de Kw é constante (10-14), fica fácil calcular o valor
de Kh para ser usado num cálculo de hidrólise.

Hidrólise de catiões:

A hidrólise de um catião M+ pode ser representada como:

M+(aq) + H2O(l) MOH(aq) + H+(aq). A reacção forma moléculas de MOH


e iões hidroxônio, tornando a solução ácida. Segundo Arrhenius, esta
reacção ocorre porque MOH é uma base fraca. Em outras palavras,
afirmar que MOH é uma base fraca equivale a afirmar que a ligação na
molécula de MOH é suficientemente forte para evitar que esta molécula
se dissocie completamente.

Quando o catião M+ hidrolisa, o seguinte equilíbrio é estabelecido:

M+(aq) + H2O(l) MOH(aq) + H+(aq) e a condição para esse equilíbrio é:


[MOH][H+] / [M+]. Como já vimos anteriormente, a constante de
hidrólise (Kh) pode ser calculada a partir de Kw e da constante de
dissociação do electrólito fraco. Para hidrólise de catiões, tem-se a
seguinte relação:

Kb é a constante de dissociação de uma base fraca formada durante a


hidrólise.

Hidrólise do catião e do anião:

A constante de hidrólise conjunta de catião e anião é igual à razão entre o


produto iónico da água e o produto das constantes de ionização do ácido e
da base correspondente.
148 Lição no 2

Relação entre grau de ionização (α) e constante de ionização (Ki)

Grau de ionização (α) de um electrólito é a razão entre o número de


moléculas ionizadas e o número de moléculas inicialmente adicionadas à
água.

A expressão matemática para o grau de ionização é:


n º de moléculasionizadas
α=
n º de molesdissolvidos

Dividindo o numerador e o denominador pelo volume obtém-se:

α=
n º de moles ionizadas / V
=
H+ [ ] [ ]
⇒ H + =α .M
n º de molies dissolvido s / V M

Fórmula válida para monoácidos.

Substituindo os valores das concentrações no equilíbrio na constante de


ionizaçao, temos:

Ka =
[H ]. [A ] = α . M . α . M
+ −
⇒ Ka =
α2 .M
[HA] M (1 −α ) (1 − α )

Esta expressão é conhecida como Lei de Diluição de Ostwald

O grau de ionização (α) de um electrólito aumenta à medida que se dilui a


solução.

Nota: Ao se diluir uma solução, aumenta-se o grau de ionização, ou seja,


aumenta-se o número de moléculas ionizadas.

α2.M
Para monobásico: K b =
(1 − α )

Na prática, essa expressão é de grande utilidade quando trabalhamos com


ácidos e bases fracos. Nesse caso, (α) é menor que 5% (isto é, 0,05),
sendo numericamente muito pequeno se comparado a 1. Portanto, o
denominador da expressão (1–α) pode ser considerado como
aproximadamente igual a 1. Assim, a Lei de Diluição de Ostwald pode
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 149

ser simplificada. Para monoácido fraco: Ka = α2 .M; Para monobase fraca:


Kb = α2 . M.

Produto iónico da água

A água se dissocia em iões H3O+ e OH-, formando um equilíbrio


dinâmico.

H2O(l) + H2O(l) H3O+(aq) + OH-(l)

Este equilíbrio está deslocado para esquerda. A expressão de equilíbrio


para este processo é:
[H3O+]x[OH-]
Kc = ; Kc.[H2O]2 = [H3O+]x[OH-]
[H2O]2

O produto Kc.[H2O]2 é uma constante porque as concentrações dos


líquidos são quase invariáveis; esta constante é designada constante de
auto-protólise ou produto iónico da água, representado por Kw, assim:

Kw = [H3O+]x[OH-]; a temperatura de 25oC a [H3O+] = [OH-] = 10-7 M

A constante de auto-protólise da água varia com a temperatura:


aumentando com o aumento da temperatura, deslocando o equilíbrio para
a direita.

Relação entre Ka e Kb

[H3O+]x[A-] [HB]x[OH-]
Ka = ; Kb =
[HA] [B-]

Ka x Kb = Kw 10-14 = Ka x Kb à 25oC

pH e pOH de soluções

Durante sua pesquisa, que visava melhorar os métodos de controlo de


qualidade da cerveja, o químico dinamarquês Sorensen sugeriu a
150 Lição no 2

utilização de uma grandeza a que denominou potencal. Tal grandeza é


definida como o logarítimo decimal do inverso de qualquer concentração.

1
potencial = log ; e assim, temos:
concentração

Se a concentração considerada for de iões H+, o potencial será


denominado potencial hidrogeniónico, que é representado por pH.

Logo: pH = log
[ ]
1
H+
⇒ pH = − log H + [ ]
Se a concentração considerada for de iões OH-, o potencial se denominará
potencial hidroxiliónico, que é representado por pOH.

Logo: pOH = log


[
1
OH − ] ⇒ pOH = − log OH − [ ]
Ao dissolver uma base em água, forma-se na ionização, o ião OH-. No
cálculo de pH calcula-se, primeiro, a concentração do ião OH-,
efectuando-se, em seguida, com base na relação entre a concentração do
ião H+ e do OH- numa solução aquosa, o cálculo do pH.

Esta relação é obtida da constante de autoionização da água, que se ioniza


parcialmente, segundo: H2O(l) + H2O(l) H3O+ (aq) + OH-(aq)

A expressão da constante de equilíbrio deste processo é:

K = [H3O+] . [OH-]/[H2O]2

A ionização é tão pequena que se pode considerar que a concentração da


água (como vimos) não varia durante o processo. Neste caso, obtém-se:

K. [H2O]2 = [H3O+] . [OH-] = Kw

Partindo do produto iónico da água (Kw), aplicando logaritmos a ambos


os lados:
[H O ]. [OH ] = K ⇒ [H O ]. [OH ] =10
3
+ −
w 3
+ − −14
[ ] [ ]
⇒ logH3O+ + logOH− = log10−14
log[H O ] − log[OH ] =14
3
+ −

Multiplicando tudo por -1; temos: pH + pOH = 14

Por aquilo que dissemos até aqui, podemos concluir que, a 25 ºC:

Para o meio neutro:


[H ] = 10
+ −7
⇒ pH = − log 10 − 7
⇒ pH = 7
[OH − ] = 10 − 7 ⇒ pOH = − log 10 − 7 ⇒ pOH = 7
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 151

Para meio ácido:

[H ] > 10 − 7 
+

 + −5
[ ]

 Consideremos por exemplo : H = 10 e OH = 10
−9
[ ]
[OH ] −
< 10 − 7 

Então:
[H ] = 10
+ −5
[ ]
⇒ pH = − log H + ⇒ pH = − log 10 −5 ⇒ pH = 5

[OH ] = 10
− −9
[ ]
⇒ pOH = − log OH − ⇒ pOH = − log10 −9 ⇒ pOH = 9

Para um meio básico:

[H ] < 10
+ −7

 + −8
[ ]

 Consideremos por exemplo : H = 10 e OH = 10
−6
[ ]
[OH ] −
> 10 − 7 

Então:
[H ] = 10
+ −8
⇒ pH = − log H[ ]⇒
+
pH = − log 10 − 8 ⇒ pH = 8

[OH ] = 10
− −6
⇒ pOH = − log OH [ −
]⇒ pOH = − log 10 − 6 ⇒ pOH = 6

Relação entre pH, pOH, pKa, pKb e pKw

10-14 = Ka x Kb à 25oC
Logaritimando;

log Ka x Kb = log Kw (-1) - log Ka + (- log Kb) = - log Kw

à 25oC
pKa + pKb = pKw pKa + pKb = 14
152 Lição no 2

Auto-avaliação
1. Prepara-se uma solução de nitrito de potássio (KNO2), a 20oC. Calcular
a constante de hidrólise, sabendo que nessa temperatura a constante de
ionização do ácido nitroso é 4,0x10-4.
Exercícios
2. Dissolve-se cloreto de amónio (NH4Cl) em água, a 20oC. Sabendo que
nessa temperatura a constante de ionização do hidróxido de amónio é
2,0x10-5, calcule a constante de hidrólise.

3. Prepara-se uma solução de cianeto de potássio (KCN), a 20oC.


Determine a constante de hidrólise, sabendo que a constante de ionização
do ácido cianídrico é 8,0x10-10, nessa temperatura.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 153

Lição no 3

Reacções de Oxidação-redução
Bases da Electroquímica

Introdução
Os processos redox formam uma classe muito importante de reacções
químicas. Elas ocorrem entre muitos compostos inorgânicos e orgânicos e
são extremamente importantes nos sistemas bioquímicos, de onde
provêem o mecanismo para a transferência de energia nos organismos
vivos.

Nesta lição, você terá a oportunidade de tratar dos aspectos básicos da


electroquímica como é o caso de processos redox, dos potenciais redox e
das células galvânicas e da electrólise.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

• Caracterizar um processo redox;

• Diferenciar os processos espontâneos dos não espontâneos;

Objectivos da lição • Descrever os processos redox decorrentes nas pilhas;

• Descrever os processos redox decorrentes na electrólise.

Certamente que você já viu um material constituído pelo metal ferro a


enferrujar, ou o processo de desgaste duma pilha, ou ainda, uma bateria
de telemóvel ou de carro. Nesta lição, você aprofundará os seus
conhecimentos em relação aos processos que ocorrem em cada um desses
fenómenos.
154 Lição no 3

Reacções de oxidação-redução

Uma reacção de oxidação-redução (reacção redox) é aquela que se


processa com a variação do número de oxidação (nox) de alguns dos
elementos, ou seja, é aquela que ocorre com a transferência de electrões.

Oxidação = perda de electrões;

Redução = ganho de electrões;

Oxidante = aceirador de electrões; sofre redução;

Redutor = Dador de electrões; sofre oxidação.

Na reacção redox, os processos de oxidação e de redução ocorrem como


fenómenos complementares e simultâneos, como pode ver no exemplo
seguinte:

Redução
0 +2 +1 0

H2 (g) + CuO (S) H2O (l) + Cu (S)


Oxidação

Agente redutor Agente redutor

Numa reacção redox, os processos de oxidação e de redução podem ser


representados em separado e são chamados de semi-equações.

Bases da electroquímica

Espontaneidade de um processo redox e os potenciais redox

As reacções químicas espontâneas ocorrem em células galvânicas (pilhas)


e em acumuladores (baterias).

Quando se mergulha uma lâmina metálica num electrólito (semi-pilha


electroquímica), estabelece-se uma diferença de potencial, entre os
átomos da lâmina e os iões da solução, designada potencial de eléctrodo.
Este é um potencial de redução, pois corresponde à reacção de redução.

As células electroquímicas podem ser galvânicas ou electrolíticas.


Portanto, a célula galvânica ou pilha, é um dispositivo que transforma
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 155

energia química em energia eléctrica. Isso acontece por meio de uma


reacção de oxidação – redução, com o oxidante e o redutor separados em
compartimentos diferentes, de tal modo que o redutor seja obrigado a
fornecer os electrões ao oxidante através do circuito externo.

Na construção de pilhas com diferentes metais, pode-se constatar que


cada pilha oferece uma diferente “voltagem” ou “força electromotriz”
(fem) ou diferença de potencial (ddp). Isto deve-se, fundamentalmente, a
três factores que influenciam no funcionamento da pilha, a citar:
temperatura da pilha, concentração das soluções e natureza dos metais
formadores.

A célula galvânica, como fora referido anteriormente, consiste de dois


condutores chamados eléctrodos, cada um deles imerso numa solução
electrolítica. Estas soluções são diferentes e, por isso, precisam de ser
mantidas em separado para evitar uma reacção directa. No entanto,
utiliza-se a ponte salina entre as soluções.

A Ponte salina é constituída por um tubo de vidro contendo solução


saturada de KNO3 ou NH4Cl. Actua como um veículo iónico, permitindo
a passagem de iões de uma semi-célula para outra, de tal modo que a cada
instante as duas semi-células permanecem electricamente neutras.

As baterias são células galvânicas que armazenam energia eléctrica; são


geralmente feitas de várias dessas células, conectadas em série para
produzir voltagens mais elevadas que aquelas produzidas por uma única
célula, ou seja, são associações de pilhas ligadas em série.

Na constituição das células galvânicas e baterias, para além dos


eléctrodos e da ponte salina, podemos encontrar:

 Cátodo – eléctrodo onde ocorre o processo de redução. Este


recebe electrões do circuito externo é , portanto, o pólo positivo;

 Ânodo – eléctrodo onde ocorre o processo de oxidação. Este


emite electrões para o circuito externo é, portanto, o pólo
negativo.

Numa pilha, com a ajuda da tabela de potenciais padrão de eléctrodo,


pode-se calcular a diferença de potencial. Portanto, a ddp (∆Eº) de uma
pilha em condições padrão (isto é, com soluções 1 molar e a 25º C) é a
diferença entre o Eº do oxidante (cátodo) e o Eº do redutor (ânodo).

∆Eº = Eºoxidante – Eºredutor


156 Lição no 3

Se, ∆Eº > 0, indica que o funcionamento da pilha é espontâneo.

A partir da determinação de ∆Eº podem-se determinar várias grandezas


termodinâmicas:

1. Trabalho útil produzido pela pilha, ∆G = - W, então:

∆G = -n · F · ∆E;

Onde: ∆G – energia livre

W – trabalho eléctrico (joules)

n – número de moles de electrões envolvidos na reacção da pilha

F – Constante de Faraday = 96 500 coulombs

∆E – ddp da pilha (volts)

2. Equação de Nernst. Esta equação matemática está relacionada


com a ddp da pilha e as concentrações molares das soluções
presentes.

U = Uº – 0 ,059/n · log Q

Onde: U – tensão da pilha (a 25ºC e soluções de quaisquer molaridade);

Uº– tensão padrão da pilha (a 25ºC e com soluções de 1 molar);

0,059 – é o valor constante a 25ºC (varia com a temperatura);

n – número de moles de electrões envolvidos na reacção;

Q – quociente semelhante a constante de equilíbrio.

Ou seja:
R·T [Oxid]
U = Uº + · Ln
z·F [Red]

Onde: R – Constante universal dos gases;

T – Temperatura absoluta;

F – Constante de Faraday = 96 500 coulombs;

z – número de cargas que se transferem durante a reacção;


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 157

A equação de Nernst pode ser aplicada na determinação electrónica do


pH de uma solução; na determinação do KPS (produto de solubilidade) de
um sal; etc.

Reacções não espontâneas


As reacções não espontâneas ocorrem em células electrolíticas, nos
processos de electrólise.
A electrólise é uma reacção de oxidação e redução não espontânea
provocada pela passagem da corrente eléctrica. Portanto, é um processo
inverso ao das pilhas.
O processo da electrólise pode decorrer de duas maneiras diferentes, as
quais chamamos de electrólise ígnea e electrólise em solução aquosa.
A electrólise ígnea acontece quando compostos iónicos são fundidos. Um
exemplo típico é a electrólise ígnea do cloreto de sódio à 800º C.
A electrólise em solução aquosa em compostos iónicos em solução
aquosa. Neste tipo de electrólise deve considerar três aspectos
fundamentais:
Primeiro: a água sofre pequena ionização;

2H2O 2H+ + 2OH

Segundo: ocorre a descarga de catiões no cátodo (-). Portanto, ocorre a


descarga do ião H+ da água, ficando inalterados os iões de metais
alcalinos, alcalinos terrosos e o Al3+, segundo o exemplo,

Cátodo (-) 2H+(aq) + 2e- H2 (g)

Terceiro: ocorre a descarga de aniões no ânodo (+). Portanto, ocorre a


descarga do ião OH- da água, ficando inalterados os iões SO42-, PO43-, F- e
outros, desde que sejam oxigenados), segundo o exemplo:

Ânodo (+) 2OH-(aq) ½O2(g) + H2O (g) + 2e-

Por outro lado, os aniões não oxigenados, como por exemplo, Cl-, Br-, S2-,
etc., sofrem descarga, ficando inalterados os iões OH-.

Tome como exemplo a electrólise em solução aquosa do cloreto de sódio


(NaCl),
158 Lição no 3

Sendo a electrólise um processo que também ocorre com a formação de


novas substâncias, a ela é possível efectuar um estudo quantitativo que
permite determinar a massa da substância formada, a intensidade da
corrente, bem como a quantidade de carga que atravessa o eléctrodo.
Deste modo, duas leis formuladas pelo cientista Faraday são
fundamentais:

1ª lei da Faraday. Esta diz que, “ a massa (m) da substancia que reage ou
que se forma num eléctrodo é directamente proporcional à quantidade de
carga que atravessa o circuito”.

m=K·i·t

Onde: m – massa que reage ou que é produzida;

K – constante de proporcionalidade;

i – intensidade da corrente;

t – tempo (em segundos).

2ª Lei de Faraday. Esta diz que “ a massa (m) da substância que reage
ou que se forma num eléctrodo é directamente proporcional ao
equivalente-grama da substância”.

m=K·E

Onde: E – equivalente – grama; e K – constante de proporcionalidade.

Lembre-se, que o equivalente-grama de uma substância numa reação de


oxidação e redução é a massa em gramas, relacionada com um mole de
electrões, isto é, 6,02·1023 electrões.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 159

Auto-avaliação
1. Assinale com “X” a alternativa correcta. Uma reacção redox é aquela
que;
a) Ocorre com transferência de protões.
Exercícios b) Ocorre com transferência de energia.
c) Transferência de electrões.
d) Transferência de massa.

2. A equação acertada para a reacção redox entre o Alumínio e o


Hidróxido de sódio é:

a) 2 Al( s ) + 2NaOH( aq ) + 6 H2O( l ) 


→2Na[ Al( OH )4 ]( aq ) + 3H2 ↑

b) Al( s ) + NaOH( aq ) + 3H 2 O( l ) 
→ Na[ Al( OH )4 ]( aq ) + 32 H 2 ↑

c) Al( s ) + 3 NaOH ( aq ) 
→ Al( OH )3 ( aq ) + 3 Na( s ) + 32 H 2 ↑

d) 2 Al( s ) + 6 NaOH ( aq ) 
→ 2 Al( OH )3 ( aq ) + 6 Na( s ) + 3 H 2 ↑

3. Considere um elemento galvânico constituído por ferro metálico,


mergulhado numa solução de sulfato ferroso a 0,1M e por cobre metálico,
mergulhado numa solução de sulfato cúprico a 0,1M.

a) Faça o esquema da referida pilha e indique o ânodo, o cátodo


bem como a direcção do movimento dos electrões na pilha.

b) Calcule a força electromotriz da pilha.

c) Escreva as equações dos processos eléctricos que compõem a


pilha.
160 Lição no 3

Resumo
Esta unidade, que é igual às duas anteriores, está subdividida em três
lições de conteúdos, relacionados com o tema Água e Reacções em
Soluções Aquosa, e esperamos que você tenha aprendido bastante,
Resumo relacionado a sua importância com as nossas actividades diárias.

Na primeira lição, tratamos das reacções de precipitação e produtos de


solubilidade.Inicialmente, retratamos o conceito de solubilidade e
reacções de precipitação – caracterizadas pela formação de compostos
insolúveis ou precipitados. De seguida, abordamos o equilíbrio de
solubilidade (traduzido pelo produto da concentração molar do sal pouco
solúvel – constante de produto de solubilidade). E, por fim, destacamos a
dependência da constante do produto de solubilidade pela temperatura, o
efeito do ião comum, o pH da solução e os equilíbrios de complexação
como factores que influenciam a solubilidade.

Na segunda lição, foi objecto de estudo a teoria protolítica dos ácidos e


base, hidrólise de iões e os potenciais hidrogeniónico e hidroxiliónicos,
suas relações com os potenciais das constantes de hidrólise de ácidos e
bases. Nela destacamos as teorias protolíticas (de Arrhenius e Bronsted-
Lowry), os tipos de hidrólise de iões e suas respectivas constantes, bem
como a relação entre o grau de ionizão e a constante ionização e o
produto iónico da água (representada pela auto-protólise da água).
Também tratamos da relação entre as constantes de acidez e basicidade,
pH e pOH, e entre pH, pOH, pKa, pKb e pKw, conteúdos que serão
desenvolvidas no Módulo de Química Analítica I.

Na terceira e última lição desta unidade, introduzimos as reacções de


oxidação-redução e bases da termoquímica que serão desenvolvidas no
Módulo de Química Física I. Nela abordamos o conceito de oxidação e
redução, os processos redox e as bases da electroquímica – com particular
destaque para a espontaneidade de um processo redox e as leis de
Faraday.
Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 161

Bibliografia
FELTRE, Ricardo. Físico – Química. Vol. 2. 3ª Edição. Editora Moderna.
S. Paulo, 1991.

GLINKA N. Problemas e exercícios de Química Geral. Editora Mir.


Leitura
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GLINKA, N. Química Geral 1 e 2. Editora Mir. Moscovo, 1988.

MAHAN, B.H. Química um curso universitário. 4a edição, Editora


Edgard Büchler Ltda., SP – Brasil, 1998.

SKOOG, D. at all. Fundamentos de Química Analítica. 8ª Edição, Editora


Thomson copyrigth, Brasil, 2004.

Respostas dos exercícios


Lição 1

1. R: S = 1,0x10-5 ; se S = [Ag+] = [Cl-] = 1x10-5

2. R: [Cl-] = 2x10-9M;

[Cl-] é igual a solubilidade de AgCl, SAgCl = 2x10-9M

Resultados 3. Kps = 9,79 x 10-8

4. [Ag+] = 1,3 x 10–4 e [CrO42-] = 6,5 x 10-5.

5. SAC2=1x10-6 e SAB =2x10-9

Lição 2

1. R: Kh = 2,5x10-11.

2. R: Kh = 5x10-10.
162 Lição no 3

3. R: Kh = 1,25x10-5.

Lição 3

1. R: A alternativa correcta é c)

2. R: A alternativa correcta é a)

3. a) Fe/FeSO4 // Cu/CuSO4

b) fem = Eoxid – Ered

fem = +0,34 – (- 0,44)

fem = + 0,78v

c)

Oxidação (-): Fe(s) Fe2+(aq) + 2e-

Redução (+): Cu2+(aq) + 2e- Cu(s)

Fe(s) + Cu2+(aq) Fe2+(aq) + Cu(s)


Química Geral Curso de Licenciatura em Ensino de Química com Habilitação em Ensino de Biologia 163

Bibliografia Geral
BARROS, J. Manual de Química Geral. Maputo, Universidade
Pedagógica, 2004.

BRANDY, J. & HUMISTON, G. Química Geral. Volume 1, 2ª Edição,


Leitura
Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora, 2006.

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CHANG, Raymond, Química Geral – Conceitos essenciais. 4ª Edição,


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FARIA, Ana Maria & RIBEIRO, Maria Irene. Manual de Química 11º
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FELTRE, Ricardo. Físico – Química. Vol. 2. 3ª Edição. Editora Moderna.


S. Paulo, 1991.

GLINKA, N. Problemas e Exercícios de Química Geral. Moscovo,


Editora Mir, 1987.

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INROGA, F. A. D. Tratamento de Resíduos Laboratoriais. Monografia


Científica. Faculdade de Ciências Naturais e Matemática, Maputo,
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MAHAN, B.H. Química - um Curso Universitário. 4a edição, ., SP –


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PERUZZO, Francisco M. & CANTO, Eduardo. Química na Abordagem


do Cotidiano. Volumes 1 e 2, São Paulo, Moderna, 1998.

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SARDELLA, A. e LEMBO, A. Química. Volume 1, 2 e 3. São Paulo,


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Paulo, editora Markron Books, 1994.

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