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DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO

CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE IMAGENS METEOROLÓGICAS

MET011

DISCIPLINA 1 – INTERPRETAÇÃO DE IMAGENS DE RADAR METEOROLÓGICO

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MET-011

INTENCIONALMENTE EM BRANCO

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MET-011

Departamento de Controle do Espaço Aéreo – DECEA


2017

Curso de Interpretação de Imagens Meteorológicas


MET011

Disciplina: Imagens de Radar Meteorológico

Organização e elaboração do conteúdo:


Maj QOEMET Antônio Paulo de Queiroz – IAE
1º Ten QOEMET Jimmy Nogueira de Castro – DECEA

Revisão
SO BMT Luís Carlos da Silva Beserra – CINDACTA I

O presente trabalho foi desenvolvido para uso didático, em cursos que são oferecidos pelo

Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). O seu conteúdo é fruto de pesquisa em

fontes citadas na referência bibliográfica, e que o(s) autor(es)/revisor(es) acreditam ser confiáveis.

No entanto, nem o DECEA, nem o(s) autor(es)/revisor(es) garantem a exatidão e a atualização das

informações aqui apresentadas, rejeitando a responsabilidade por quaisquer erros e/ou omissões,

ou por danos e prejuízos que possam advir do uso dessas informações. Esse trabalho é publicado

com o objetivo de orientar o aprendizado, não devendo ser entendido como um substituto a

manuais, normas ou qualquer tipo de publicação técnica específica que trata de assuntos

correlatos.

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APRESENTAÇÃO:

Este material didático corresponde à disciplina Imagens de Radar Meteorológico. O material foi
elaborado a partir de assuntos selecionados especialmente para orientar sua aprendizagem. A seguir
você conhecerá os objetivos que deverá alcançar ao final da disciplina e os conteúdos que serão
trabalhados.

OBJETIVOS:
 valorizar a importância do uso das imagens radar para fins aeronáuticos (Va);

 valorizar a importância dos fundamentos teóricos de funcionamento do radar na


interpretação de imagens de radar meteorológico (Va);

 empregar as metodologias sistematizadas na interpretação de imagens radar (Ap);

 localizar alvos meteorológicos em uma imagem radar apontando sua localização,


intensidade e deslocamento em imagens de radar (Cp); e

 diferenciar fenômenos não meteorológicos (clutter) de alvos de interesse em uma imagem


radar (Cp).

EMENTA:

Conhecendo o Radar Meteorológico, Princípios de funcionamento, Radar Doppler, Tipos de dados


gerados pelo radar meteorológico, Tipos de varreduras, Modos de Operação, CLUTTER, Efeitos
atmosféricos na propagação da energia eletromagnética, Radares Meteorológicos do Brasil, Radares
Meteorológicos do SISCEAB, Radares RMT0100D e DWSR8500S, PPI (Plan Position Indicator),
RHI (Range Height Indicator), CAPPI (Constant Altitude PPI), MAXDISPLAY (MAXIMUM
DISPLAY), VXSECT (Vertical Cross Section), ECHO TOP (Maximum Height of Echo), ECHO
BASE (Minimum Height Of Echo), VAD (Velocity Azimuth Display), VVP (Volume Velocity
Processing), STP (Storm Tracking Product), WARNING, LTB (Layer Turbulence), Detecção de

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Precipitação, Características da Refletividade, Interpretação de Velocidades No Radar Doppler,


Modelos conceituais de tempestades utilizando dados de radar.

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UNIDADE 1

O RADAR METEOROLÓGICO

1.1 Introdução

Durante uma reunião matinal no Centro Meteorológico de Vigilância de Brasília (CMV-BS)


localizado em Brasília, os meteorologistas discutem quais são as áreas mais propícias para formação
de tempo significativo que possam causar algum tipo de impacto no fluxo de aeronaves entre os
aeroportos brasileiros, tais como nevoeiros, pancadas de chuva, ventos de rajada ou tempestades de
granizo.

Essas informações são difundidas através da Rede de Meteorologia Aeronáutica para todos
os aeronavegantes através de cartas de previsão, mensagens de vigilância, imagens de radar
meteorológico e imagens de satélite. Os atuais modelos numéricos de previsão de tempo fornecem
uma indicação muito boa das áreas onde esses fenômenos meteorológicos impactantes podem
ocorrer. Os satélites meteorológicos produzem imagens excelentes que mostram onde estão
localizados os vários sistemas meteorológicos de importância para a aviação e os sistemas de
detecção de descargas atmosféricas identificam os locais onde estão situadas as nuvens convectivas
responsáveis pelo tempo severo.

Contudo, quando o meteorologista necessita fazer uma previsão para poucas horas, ou até
para alguns minutos, uma das melhores ferramentas atualmente disponível é o radar meteorológico.
Através das varreduras volumétricas dos radares os meteorologistas conseguem visualizar o interior
das tempestades, estudar a sua severidade e acompanhar o seu deslocamento. Essa previsão é muito
importante para a segurança operacional do serviço de navegação aérea.

Vamos iniciar os estudos sobre radar com as noções básicas. Ao final desta etapa você será
capaz de identificar a origem do Radar Meteorológico e seu funcionamento, o Radar Doppler, os
dados gerados pelo radar e tipos de varredura, modos de operação, clutter radar, os efeitos
atmosféricos na propagação da energia eletromagnética e os radares meteorológicos do Brasil.

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1.2 Histórico do radar meteorológico

O Radar é um sistema eletromagnético para detecção e localização de objetos por meio de


ecos de rádio. O nome RADAR deriva das palavras “Radio Detection and Ranging” (detecção de
alvos e medida de distância por rádio). O radar é um dispositivo eletrônico capaz de transmitir um
sinal eletromagnético (EM), receber de volta ecos de alvos e determinar vários aspectos dos
mesmos, a partir das características dos sinais recebidos. Os primeiros radares surgiram no final dos
anos 30 com o objetivo bélico de detectar aviões e navios de guerra e, sob este aspecto, foram
amplamente utilizados durante a Segunda Guerra Mundial. Porém havia um problema, a
nebulosidade/precipitação obscurecia os alvos (navios e aviões) e era necessário distinguir o sinal
dos alvos meteorológicos, o que, mais tarde, levou à observação do potencial da aplicação do radar
para fins meteorológicos. Em 1948 começaram os estudos das possíveis aplicações meteorológicas
oque resultou na primeira relação quantitativa entre as medidas do radar e a intensidade de
precipitação na superfície. Pela primeira vez era possível localizar precipitações, medir sua extensão
e observar seu crescimento e movimento. Assim, o uso primário do radar meteorológico está ligado
à caracterização e ao monitoramento de áreas de mau tempo (localização de precipitação, cálculo de
seu movimento e na estimativa de seu tipo: chuva, neve, granizo).

No início dos anos 60, teve-se um dos mais importantes avanços na tecnologia radar, que foi
o desenvolvimento da técnica Doppler, utilizada para quantificar, além da potência retroespalhada
pelo alvo (obtida pelos radares convencionais), a velocidade de deslocamento dos alvos
meteorológicos detectados pelo radar (velocidade radial média de deslocamento dos alvos em
relação ao radar).

Radar Banda S de Massachusetts (EUA), em 1942.

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Espectro de frequências desde o visível até as frequências de rádio.

As frequências utilizadas pelos radares variam desde 100 MHz até 100 GHz. O quadro
acima mostra as diferentes frequências (desde o visível até frequências de rádio) e seus
correspondentes valores de comprimento de onda. Note que a frequência é inversamente
proporcional ao comprimento de onda. Algumas frequências são tão utilizadas que foram
convenientemente designadas por letras. A Tabela do item 1.3.1 lista as bandas do espectro
eletromagnético que comumente são utilizadas pelos radares, com suas frequências e comprimentos
de ondas.

1.3 Tipos de Radares e suas Aplicações

Os radares são construídos para operarem em diversas áreas, como tráfego aéreo,
meteorologia, navios, trânsito e outras.

1.3.1 Banda de operação dos radares

Para executarem suas funções os radares são produzidos obedecendo-se características


específicas em seu projeto. A banda de operação, por exemplo, define o campo de atuação do radar.

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Banda de Frequência Comprimento


Aplicação
Operação (GHz) de onda (cm)

Microfísica de nuvens, radar CW Doppler


K 12 – 40 2,5 – 0,75
(continuous wave) de rodovias.

X 8 – 12 4 – 2,5 Vento e circulação atmosférica.

Nuvens, precipitação, nevoeiros, vento, cobertura


C 4–8 7,5 – 4
meteorológica local.

Fenômenos meteorológicos intensos,


S 2–4 15 – 7,5
precipitação, fornos de micro-ondas.

L 1–2 30 – 15 Tráfego aéreo, celulares.

Banda de operação dos radares

1.4 Como o radar funciona

O princípio de funcionamento do radar meteorológico está baseado na navegação do morcego:


sons de alta frequência, ao interceptarem obstáculos, retornam ao ouvido do morcego. Quanto mais
rápido o retorno do som, mais perto estará o obstáculo e vice-versa.

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Basicamente o radar meteorológico apresenta a seguinte operação. O transmissor é controlado


por um processador de sinal e produz pulsos de ondas eletromagnéticas que são direcionados para o
duplexador, que funciona como um sistema de chaveamento, enviando o sinal transmitido para a
antena.

A antena irradia as ondas eletromagnéticas concentrando a sua energia em uma determinada


direção. Essa energia adquire uma forma cônica ao ser emitida para o espaço e no interior desse
cone, a energia se distribui de forma uniforme em forma de lóbulo, sendo a energia maior no centro,
diminuindo na periferia, conforme mostrado na Figura abaixo. Devido à impossibilidade de
confinar toda a energia no lóbulo principal do cone, parte da energia se perde através dos lóbulos
secundários.

Lóbulo principal e lóbulos secundários emitidos pelo radar.

As ondas eletromagnéticas podem interagir com os hidrometeoros (chuva, neve ou granizo)


das nuvens. Parte da energia retroespalhada volta em direção à antena, e desta vez, o duplexador
direciona os sinais retroespalhados para o receptor. O tempo transcorrido entre transmissão e
recepção é pequeno, da ordem de microssegundos. Os sinais emitidos pela antena podem superar 1
MW enquanto os sinais recebidos podem chegar a 10-14 W. Dessa forma, o radar pulsado apresenta
dois períodos distintos de funcionamento: o primeiro, no qual ele transmite um pulso de energia, e o
segundo, no qual ele “escuta” o eco deste pulso produzido pelos alvos.

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Esquema mostrando a relação entre a distância r, o tempo t e a velocidade de propagação cm


das ondas eletromagnéticas.

Os pulsos de energia são transmitidos durante certo intervalo de tempo em uma dada
frequência de repetição de pulso – PRF (Pulse Repetition Frequency). Cada “pacote” de energia
transmitido neste intervalo de tempo caracteriza o chamado volume iluminado do radar. Sabendo-se
a elevação e o azimute da antena, pode-se localizar a região do espaço onde estão os hidrometeoros.

A intensidade do sinal de retorno (refletividade) está relacionada com a distribuição da


quantidade e tamanho, o formato e o estado físico dos hidrometeoros e do comprimento de onda, a
diferença de fase entre o sinal transmitido e o sinal recebido está associada à velocidade de
deslocamento radial dos hidrometeoros contidos dentro do volume iluminado pelo pulso. Assim, no
caso da precipitação de hidrometeoros, a potência, o tempo, e a fase do sinal de retorno são
computados e convertidos em taxa de precipitação, distância do radar e velocidade radial de
deslocamento, respectivamente. O formato dos alvos meteorológicos são, em sua maioria,
aproximadamente esféricos. As dimensões “elétricas” de uma esfera podem ser definidas pela
relação entre seu diâmetro e o seu comprimento de onda (lei de RAYLEIGH).

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1.5 Tipos de Radares Meteorológicos

1.5.1 Radar convencional

Um radar meteorológico convencional pode ser definido como um sistema de radar capaz de
detectar alvos e analisar a intensidade do sinal de retorno destes (refletividade do alvo), atribuindo
valores em uma escala de refletividade, porém não possui a capacidade de interpretar os alvos
quanto à velocidade e direção do deslocamento. O radar meteorológico convencional consiste de
quatro componentes básicos: o transmissor que gera sinal eletromagnético de alta potência e alta
frequência, a antena que envia e recebe os sinais, o receptor que detecta e amplifica o sinal de
retorno e o visualizador que mostra numa tela os alvos detectados. A Figura abaixo mostra um
diagrama com os principais elementos de um radar pulsado convencional.

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Esquema de um radar meteorológico convencional

Radar convencional. Imagem apresentando a intensidade das formações (dBZ)

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1.5.2 Radar Doppler

O processamento Doppler utilizado nos Sistemas dos radares meteorológicos permite detectar
as velocidades radiais dos alvos meteorológicos. Os radares que não possuem o processamento
Doppler são chamados de convencionais.

Quando um alvo está se movendo em relação ao radar meteorológico ocorre uma alteração
aparente na frequência recebida da onda eletromagnética que é denominada Efeito Doppler.

Suponha que um alvo meteorológico está se deslocando de forma a se afastar do radar


meteorológico. O sinal eletromagnético que retorna apresenta uma frequência menor em
comparação ao sinal transmitido. Por outro lado, quando o alvo se desloca de forma a se aproximar
do radar meteorológico, o sinal eletromagnético que retorna apresenta uma frequência maior em
comparação ao sinal transmitido. Através desta diferença nas frequências é calculada a velocidade
radial do alvo.

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Radar Doppler. Imagem apresentando a velocidade de deslocamento das formações (m/s)

1.5.3 Radar Polarimétrico ou de dupla polarização

Radares com dupla polarização podem estimar dirversas propriedades do sinal retroespalhado,
muito além dos radares convencionais tais como os radares doppler de polarização simples
(horizontal). O radar polarimétrico ou de dupla polarização, além de medir a refletividade e a
velocidade de deslocamento das formações na radial de apontamento da antena é capaz de
discriminar partículas de granizo e gotas de chuva, identificar a dimensão média das partículas de
granizo, o tipo de hidrometeoro (neve, chuva, granizo), apresenta melhoria sensível nas estimativas
da intensidade da precipitação em várias formas (chuva, neve) e assinaturas específicas de pássaros
e insetos.

1.5.3.1 Polarização da onda eletromagnética

Polarização de ondas é o fenômeno no qual uma onda transversal, vibrando em várias


direções, tem uma de suas direções de vibração selecionada, enquanto as vibrações nas demais
direções são impedidas de passar por um dispositivo, denominado polarizador.

A polarização é um fenômeno exclusivo das ondas transversais, não podendo ocorrer com as
ondas longitudinais. Assim, as ondas luminosas, que são transversais, podem ser polarizadas, ao
contrário das ondas sonoras, que não se polarizam, por serem longitudinais.

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Na figura acima vemos a onda eletromagnética sendo propagada em todos os sentidos até o
momento em que chega ao polarizador. Neste exemplo foi definido polarizar a onda de forma que
apenas a componente vertical ultrapassasse o polarizador.

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Nos radares convencionais e Doppler a onda eletromagnética é polarizada na horizontal


enquanto que nos radares de dupla polarização ocorre a polarização horizontal e vertical.

Antenas que transmitem e recebem radiação de ondas horizontalmente polarizadas tem a


capacidade de detecção de gotas de chuva, uma vez que ao caírem, tornam-se achatadas com maior
extensão horizontal que vertical (Radar convencional e radar doppler).

Antenas que transmitem e recebem radiação de ondas horizontalmente e verticalmente


polarizadas maximizam a capacidade de detecção e análise de hidrometeoros e alvos não
meteorológicos (radar polarimétrico ou de dupla polarização).

Radar Polarimétrico. Imagem apresentando a classificação dos hidrometeoros, litometeoros e


bioespalhadores

1.6 Rede de Radares Meteorológicos do Brasil

Os Radares no Brasil são implantados e operados por instituições públicas ou particulares,


seja para prevenção de grandes tormentas ou para pesquisa dos fenômenos de tempo.

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O DECEA projetou a implantação da rede de radares nos Destacamentos de Controle do


Espaço Aéreo – DTCEA, em virtude de dispor de efetivo administrativo, manutenção e segurança;
da mesma forma a Comissão para Coordenação do Projeto do Sistema de Vigilância da Amazônia -
CCSIVAM deu continuidade à ideia.

1.6.1 Radares meteorológicos do SISCEAB

A Figura abaixo indica onde estão os radares pertencentes ao Sistema de Controle do Espaço
Aéreo Brasileiro (SISCEAB). Cada círculo indica o limite da área de cobertura de 400 km de raio
para cada radar.

Rede de Radares Meteorológicos do SISCEAB.

Rede composta por radares instalados, sob a administração técnica e operacional dos
CINDACTA I, CINDACTA II, CINDACTA III e SIPAM:

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Radares instalados na área de jurisdição do:

CINDACTA I:
 Pico do Couto – RJ (PCO)
 Gama – DF (GA)
 São Roque – SP (SRO)
 Três Marias – MG (TRM)
 Santa Teresa – ES (STA)

CINDACTA II:
 Morro da Igreja – SC (MDI)
 Santiago – RS (STI)
 Canguçu – RS (CGU)
 Jaraguari – MS (JAG)

CINDACTA III:
 Natal – RN (NT)
 Petrolina – PE (PL)
 Salvador – BA (SV)

SIPAM:
 Manaus – AM (MN)
 São Gabriel da Cachoeira – AM (YA)
 Tabatinga – AM (TT)
 Porto Velho – RO (PV)
 Boa Vista – RR (BV)
 Belém – PA (BE)
 Tefé – AM (TF)
 Cruzeiro do Sul – AC (CZ)
 Macapá – AP (MQ)

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 Santarém – PA (SN)
 São Luís – MA (SL).

1.6.2 Radares RMT0100D e DWSR8500S

São radares meteorológicos Doppler, banda S, que operam com comprimento de onda de
aproximadamente 10 cm. Apresentam um ângulo de abertura do feixe de cerca de 2 graus e um
refletor de 4 m de diâmetro útil. Largura dos pulsos: Pulso Curto = 1μs; Pulso Longo = 2μs. PRF:
Pulso Longo = 250Hz a 400Hz; Pulso Curto = 400Hz a 1200Hz.

O Radar Meteorológico RMT0100D foi desenvolvido pela Tectelcom Aerospacial, empresa


nacional encarregada do desenvolvimento do hardware, em parceria com a GAMIC, empresa alemã
responsável pelo software de controle e operação radar, com o objetivo da implantação da primeira
rede de radares meteorológicos do Brasil, empreendimento este conhecido como “Projeto
Alvorada”.

No Projeto SIVAM foi firmado contrato com a empresa AmazonTech, sendo que o hardware
dos radares fornecidos foram fabricados pela Enterprise Eletronics Corporation (EEC), empresa
sediada na cidade Enterprise no Alabama/EUA. O modelo de hardware selecionado foi o
DWSR8500S e software utilizado na extração e apresentação dos produtos foi confeccionado pela
empresa alemã GAMIC.

Conheça as siglas dos radares RMT 0100D e DWSR 8500S, observando a tabela abaixo:

R Radar D Doppler
M Meteorológico W Weather
T Tecnasa (empresa que fez o protótipo) S Surveillance
0100 Número dado pela Tectelcom R Radar
D Doppler 8500 Número dado pela EEC
S Banda de operação do equipamento

1.7 Equipamentos do radar meteorológico

Os radares meteorológicos do SISCEAB foram projetados para operarem, primariamente, em

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modo remoto, possibilitando aos operadores dos Centros de Operação Remota (Centros
Meteorológicos onde estão instaladas as estações de operação remota - ROW) interagirem com os
equipamentos do radar, localizados na Estação de Radar Meteorológico (local físico onde o radar
está instalado), para configurar varreduras e produtos e monitorar a execução das tarefas agendadas.
Havendo a impossibilidade da execução da operação remota, poderá ser realizada a operação no
próprio destacamento onde o radar se encontra instalado, como também a intervenção da equipe de
técnicos do radar para a realização de manutenções nos equipamentos. O sistema formado por essa
rede de equipamentos está listada abaixo.

1.7.1 Equipamentos que compõem uma Estação de Radar Meteorológico

 Computador de Controle do Radar (RCC)

 Controla o funcionamento dos componentes mecânicos do radar.

 Elevação da antena

 Excursão horizontal

 Guia de onda da antena

 Computador de Dados do Radar (RDC)

 Controla a ERM através do gerenciamento da recepção dos dados do radar.

 Adquire os dados 3D e envia para a LOW. Opera com o software Frog RT


(real time).

 É uma interface para visualização de dados em tempo real de PPI e RHI em Z,


V e W.

 Sua operação é destinada a testes, calibração e manutenção do radar.

 Estação de Operação Local (LOW)

 Recebe os dados 3D e gera produtos 2D, disponibilizando-os para a rede.

 Controla a operação do radar sendo possível configurar receitas de varreduras,


bem como a visualização dos produtos gerados.

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1.7.2 Equipamentos que compõem um Centro de Operação Remota

 Estação de Operação Remota (ROW)

 Responsável pela operação (definição, aquisição e geração de produtos) e


monitora o estado dos sensores do radar.

 Recebe os dados e produtos 2D da LOW.

 Visualiza os produtos 2D.

 Estação de visualização remota (RVW)

 Visualização das imagens geradas pelo radar meteorológico

 Instalado em Centros Meteorológicos

 Não possui as ferramentas de configuração do radar

 Unidade servidora de rede (NSU) RMT0100D ou Computador de supervisão e


controle radar (RSM) DWSR 8500S

 Responsável pela supervisão e monitoração do estado da rede radar


meteorológico (tráfego de rede). Também faz o processamento das
comunicações entre os computadores do sistema e a disseminação dos produtos
meteorológicos para toda a rede de radares.

1.8 Processo de aquisição de dados e modos de operação

Para você entender melhor como são as varreduras executadas pelo radar, é importante
conhecer a definição de Azimute e Elevação:

Azimute: é o ângulo medido sobre o horizonte, no sentido horário (NESO), com origem no
Norte geográfico e na intersecção do plano vertical que contém o alvo meteorológico e plano do
horizonte. O azimute varia entre 0º e 360º.

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Elevação: é o ângulo formado pelo plano do horizonte local e a direção de apontamento da


antena radar. Quando o apontamento da antena radar se faz acima do plano do horizonte temos
ângulos de elevação positivos e para apontamentos abaixo do plano do horizonte temos valores
negativos. Nos radares meteorológicos do SISCEAB os ângulos de elevação variam de -2º a 90º.

Ângulo de azimute e elevação.

1.8.1 Estratégias de varredura

São três os tipos de varredura do espaço realizadas por um radar meteorológico:

Varredura em Azimute: apresenta um ângulo de elevação constante com a antena


percorrendo vários azimutes, normalmente de 0º a 360º. Este tipo de varredura é utilizado
principalmente para vigilância de fenômenos meteorológicos que se encontram a grandes distâncias
do radar (acima de 200 km).

Varredura em azimute

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Varredura em Elevação: fixa-se um ângulo de azimute quando então a antena realiza um


movimento vertical percorrendo vários ângulos de elevação. Este tipo de varredura é normalmente
utilizado para se estudar um fenômeno meteorológico isolado no modo análise.

Varredura em elevação

Varredura Volumétrica: composta de múltiplas varreduras em azimute, cada uma em um


ângulo de elevação distinto e sucessivo. A antena executa uma varredura em azimute e,
imediatamente depois de terminada, inicia-se outra varredura, também em azimute, mas em outro
ângulo de elevação e assim sucessivamente.

Varredura volumétrica

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Varredura volumétrica

1.8.2 Modos de operação

De acordo com o estudo ou monitoramento dos alvos meteorológicos, a operação do radar


meteorológico pode ser classificada como:

 VIGILÂNCIA: Empregado quando o tempo presente, na área de cobertura do Radar


Meteorológico, se apresenta estável e se deseja acompanhar a entrada de sistemas
meteorológicos ou o desenvolvimento de formações meteorológicas locais. As principais
características do modo vigilância são:

a) o período de repetição das imagens pode ser longo;

b) o raio de cobertura deve ser de 400 km;

c) o produto indicado para este modo de operação é o PPI (Z) ou MACAPPI (Z) com três
elevações.

 EVOLUÇÃO: Empregado quando se deseja observar detalhes evolutivos de formações


meteorológicas existentes dentro da região intermediária de cobertura radar. As principais
características do modo evolução são:

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a) o período de repetição das imagens deve ser curto;

b) o raio de cobertura é usualmente médio ou pequeno, ou seja, a estrutura convectiva


estudada está normalmente localizada a meia distância ou mais próximo do radar;

c) os produtos indicados para este modo de operação são: PPI(Z e V); CAPPI (Z e V);
MAXCAPPI (Z, V e W); ECHO BASE (Z) e ECHO TOP (Z).

 ANÁLISE: Empregada quando se deseja observar detalhes constitutivos de formações


meteorológicas específicas existentes que ocorrem em regiões mais próximas do radar. As
principais características do modo análise são:

a) executado, normalmente, sem período de repetição

b) o raio de cobertura deve ser o suficiente para abranger a localização do fenômeno a ser
analisado;

c) os produtos indicados para este modo de operação são: RHI(Z e V); CAPPI (Z, V e W);
VXSECT (Z,V e W), ECHO BASE (Z), ECHO TOP (Z), VAD e VVP.

1.8.3 Processo de aquisição de dados. Tipos de dados gerados pelo radar meteorológico

A intensidade do sinal de retorno está relacionada com a distribuição da quantidade e tamanho


dos hidrometeoros, e a diferença de fase entre o sinal transmitido e o sinal recebido está associada à
velocidade de deslocamento radial dos hidrometeoros contidos dentro do volume iluminado pelo
pulso.

Assim, no caso da precipitação de hidrometeoros, a potência, o tempo, e a fase do sinal de


retorno são computados e convertidos em taxa de precipitação, distância do radar e velocidade
radial de deslocamento, respectivamente.

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MET-011

O radar meteorológico pode gerar produtos relacionados com os seguintes tipos de dados:
refletividade, velocidade radial média, largura espectral e potencial de precipitação ou
potencial de chuva.

1.8.3.1 Refletividade

A refletividade de um alvo meteorológico depende dos seguintes fatores: o número de


hidrometeoros por unidade de volume; o tamanho dos hidrometeoros; o estado físico dos
hidrometeoros (gelo ou água) e o formato ou formatos dos elementos individuais do grupo. O radar
meteorológico disponibiliza os seguintes dados de refletividade:

 UZ - Refletividade não corrigida (sinal de retorno dos alvos detectados sem uso de filtros
atenuadores). Utilizada para medir a intensidade das formações meteorológicas. A unidade
utilizada para medição é mm6/m3 ou dBZ.

 Z - Refletividade corrigida (sinal de retorno dos alvos detectados com a utilização de


filtros atenuadores). Utilizada para medir a intensidade das formações meteorológicas. A
unidade utilizada para medição é mm6.m-3 ou dBZ.

Produto Refletividade não corrigida (UZ) Produto Refletividade corrigida (Z)

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Unidade de volume analisada pelo radar meteorológico

A intensidade do sinal de retorno está relacionada com a distribuição da quantidade e tamanho


dos hidrometeoros por unidade de volume

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729 gotas de 1 mm 1 gota de 3 mm

Volume de 1 m3

Z = (729 gotas/m3) (1 mm)6 + (1 gota/m3) (3 mm)6

Z = 729 mm6/m3 + 729 mm6/m3

Z = 1458 mm6/m3

1.8.3.1.1 Seção Transversal de Retroespalhamento

A potência de retorno captada por um radar meteorológico é tanto maior quanto maior for a
seção transversal de retroespalhamento do alvo.

Considerando-se partículas de água e gelo esféricas com diâmetros não superiores a 1 cm e


radares meteorológicos banda S (comprimento de onda λ aproximadamente de 10 cm) temos um
tipo de espalhamento denominado de Rayleigh. Para partículas nessas condições, a área transversal
de retroespalhamento σ é proporcional a sexta potência do diâmetro da esfera:

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Onde é o parâmetro associado ao índice de refração complexo do meio. O valor de K


depende do material, da temperatura e do comprimento de onda do radar. A maior dependência está
relacionada com o material. Descreve a propriedade física do alvo e sua capacidade de transmitir
corrente elétrica.

Em geral, para radares meteorológicos este coeficiente é = 0,93 para a água líquida e = 0,197
para o gelo.

A seção transversal de retroespalhamento é produzida pelo efeito integrado de todos os


hidrometeoros dentro do volume iluminado pelo pulso de micro-ondas. Ao considerar o volume
iluminado pelo pulso tem-se que:

em que, dentro do volume iluminado, é a principal quantidade a ser medida pelo


radar. Esse valor é conhecido como Refletividade Radar Z e é expresso em mm6.m-3.

A refletividade é um parâmetro que depende do número e espectro de gotas e varia desde


0,001 mm6.m-3(nevoa úmida) até 36.000.000 mm6.m-3 (granizo grande, aproximadamente, de 5 a 10
cm). Devido a esta grande variação, utiliza-se Z numa escala logarítmica.

Assim, para a variação de refletividade acima, tem-se um espectro de -30 a 76,5 dBZ.

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Para o exemplo do cubo:

Z= (729 gotas/m3) (1 mm)6 + (1 gota/m3) (3 mm)6

Z = 729 mm6/m3 + 729 mm6/m3

Z = 1458 mm6/m3

dBZ= 10 log 1458

dBZ = 10 log 1458

dBZ = 10 (3,16)

dBZ = 32 dBZ

Escala de taxa de refletividade

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 R - Potencial de Precipitação ou Potencial de Chuva. O conceito de Potencial de Chuva


pode ser definido como a quantidade de água precipitável existente no interior da formação
meteorológica, ou seja, quanto maior for a intensidade da formação detectada pelo radar
meteorológico, maior será a quantidade de água precipitável. A unidade de medida utilizada
para medição do Potencial de Chuva é milímetros por hora – mm/h.

O Potencial de Precipitação ou Potencial de Chuva é diretamente proporcional à Taxa de


Refletividade (Z). Quanto maior for a intensidade da formação (Z), maior será o seu Potencial de
Precipitação/Chuva.

A relação entre a intensidade das formações e o seu Potencial de Precipitação/Chuva é


expressa pela seguinte equação: Z = a x Rb.

Como “a” e “b” são parâmetros que dependem da densidade de distribuição das gotas pelos
seus diâmetros e que variam no decorrer do tempo de vida e ao longo do espaço de um fenômeno
meteorológico, torna-se muito difícil determiná-los. Experimentos que levaram a diferentes relações
empíricas entre Z e R, proporcionaram a existência de centenas de valores de “a” e “b” propostos
para diferentes situações e locais.

A relação de Marshall/Palmer, pesquisadores que fizeram as primeiras observações, é a mais


utilizada quando ainda não se tem um estudo para obtenção de uma relação própria, ou seja,
Z = 200 x R1,6.

Vale lembrar que a relação entre Z e R é variável e depende diretamente dos parâmetros
utilizados para “a” e “b”.

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MET-011

No quadro abaixo você pode verificar exemplos de relação entre Z e R.

Relação entre Z e R Tipo de Precipitação Referência

Z = 200R1,6 Chuva Estratiforme Marshall e Palmer (1948)

Z = 31R1,71 Chuva Orográfica Blanchard (1953)

Z = 500R1,5 Chuva Convectiva Joss et al. (1970)

Z = 1780R2,21 Flocos de Neve Sekhon and Srivastava (1970)

Z = 325R1,36 Região de Bauru Calheiros et al. (1987)

Z = 176,5R1,29 Região de Maceió Moraes (2003)

É possível estimar a quantidade de precipitação em uma região, utilizando-se a relação de


conversão de refletividade em taxa de precipitação. Para isso podemos lançar mão da relação
Z = a x Rb. Antes vamos observar alguns conceitos.

Conhecendo-se a distribuição e o tamanho das gotas e a velocidade com que uma gota de um
dado diâmetro cai, pode-se usar o fator de refletividade do radar Z mm6.m-3 para calcular a taxa de
precipitação usando a relação ZR.

1.8.3.2 Velocidade Radial Média

Utilizada para medir a velocidade do deslocamento das formações na radial de apontamento


da antena do radar meteorológico. Quando a energia a uma dada frequência é refletida pelos alvos
movendo-se para fora do radar, ela retorna a uma frequência menor que originalmente emitida.
Quanto mais rápido os alvos afastam-se, menor será a frequência retornada (Efeito Doppler). A
unidade utilizada para medição é m/s. Por convenção alvos que se aproximam do radar têm
velocidade negativa e alvos que se afastam do radar têm velocidade positiva. Similarmente, a
energia refletida de um alvo movendo-se para o radar tem uma frequência mais alta que a emitida

32
MET-011

originalmente. Quanto mais rápido o alvo se move em direção ao radar, mais alta será a frequência
retornada. Energia retornando ao radar de um alvo estacionário, entretanto, não exibe mudança de
frequência comparada com a que foi emitida.

1.8.3.2.
1 Efeito Doppler

Denomina-se efeito Doppler a alteração da frequência notada pelo observador em virtude do


movimento relativo de aproximação ou afastamento ente uma fonte de indas e o observador.

Cristian Doppler descobriu que a frequência do som de objetos em movimento mudava


proporcionalmente à velocidade do objeto em relação a um objeto estacionário.

O mesmo efeito ocorre com a radiação eletromagnética, porém, no caso do radar, os alvos
estão em movimento.

33
MET-011

Fontes de som estáticas produzem ondas de som a frequências constantes ff e as ondas se


propagam simetricamente para longe da fonte à velocidade constante c. Todos os observadores vão
ouvir a mesma frequência, que vai ser igual à frequência da fonte, ou seja: ff = fo.

A mesma fonte de som está irradiando ondas sonoras à mesma frequência no mesmo meio.
Porém, agora a fonte está se movendo. Já que a fonte está se movendo, cada nova frente de onda é
um pouco deslocada para a direita. Como resultado, as frentes de onda começam a se "amontoar" à
direita (à frente) e a se "espalhar" à esquerda (atrás) da fonte. Um observador à frente da fonte
ouvirá uma frequência mais alta e um observador atrás da fonte irá ouvir uma frequência mais
baixa.

34
MET-011

O processamento Doppler utilizado nos sistemas dos radares meteorológicos permite detectar
as velocidades radiais dos alvos meteorológicos. Os radares que não possuem o processamento
Doppler são chamados de convencionais.

Quando a energia a uma dada frequência é refletida pelos alvos, movendo-se para fora do
radar, ela retorna a uma frequência menor que originalmente emitida. Quanto mais rápido os alvos
afastam-se menor será a frequência retornada.

Similarmente, quando um alvo está se movendo em relação ao radar meteorológico ocorre


uma alteração aparente na frequência recebida da onda eletromagnética que é denominada Efeito
Doppler.

A energia refletiva de um alvo movendo-se para o radar tem uma frequência mais alta que a
emitida originalmente. Quanto mais rápido o alvo move-se em direção ao radar, ais alta será a
frequência retornada.

35
MET-011

1.8.3.2.2 Propriedades das ondas eletromagnéticas

 Os campos elétrico e magnético são perpendiculares à direção de propagação da


onda;

 O campo elétrico é perpendicular ao campo magnético; e

 Os campos variam sempre na mesma frequência e estão em fase.

 Fase da onda eletromagnética: corresponde à fração da onda completa em um ponto


qualquer em relação a um ponto de referência medido em graus ou radianos.

 Diferença de fase: é a diferença, expressa em ângulo ou tempo, entre duas ondas que

36
MET-011

tenham mesma frequência e em referência ao mesmo ponto no tempo. Duas oscilações que
tenham mesma frequência e fases diferentes têm uma diferença de fase, e as oscilações são
ditas fora de fase entre si.

Ondas em fase

Ondas fora de fase

37
MET-011

Na figura à esquerda as ondas senoidais de mesma frequência apresentam concordância de fase. Já


na figura à direita apresentam defasagem de 90° (¼ de ciclo).

1.8.3.2.3 Velocidade Radial Doppler

Velocidade de aproximação ou afastamento dos alvos (hidrometeoros) em relação ao radar na


direção da radial de apontamento do radar. O vento radial é mostrado em m/s com valores positivos
para os alvos que se afastam e valores negativos para os alvos que se aproximam do radar.

Quando a radial de
apontamento do radar é
paralela ao sentido de
deslocamento do alvo a
componente completa do
vento é medida.

38
MET-011

39
MET-011

Descrição da Velocidade Radial Doppler

Velocidade Radial x Velocidade real do alvo. A velocidade do vento medida pelo radar,
referente ao deslocamento do alvo, depende do ângulo entre a radial de apontamento do radar e a
posição relativa do alvo. Quando a radial de apontamento do radar é paralela ao sentido de
deslocamento do alvo a componente completa do vento é medida.

40
MET-011

Observe que a direção do vento pode ser percebida como perpendicular à radial de
apontamento do radar "zero isodop" com 0% de medição da velocidade.

41
MET-011

As figuras acima mostram o posicionamento da isodop zero

42
MET-011

Produto velocidade radial

1.8.3.2.4 Velocidade máxima não ambígua

Por "não ambíguo", estamos nos referindo à habilidade do radar meteorológico


de determinar, com precisão, a maior velocidade radial Doppler que pode ser
calculada. A relação entre Vmax e a PRF (frequência de repetição de pulsos) pode ser
expresso por:

1.8.3.2.5 Largura Espectral.

Está relacionada com a variância da distribuição do espectro de velocidades Doppler, gerado


pelas contribuições de cada gota contida no volume iluminado do radar. O produto radar de Largura
Espectral informa se dentro da formação meteorológica existe turbulência. A unidade utilizada para
medição é m/s. É calculado o desvio padrão das medidas obtidas em cada amostra (pixel) indicando
a turbulência nesse volume conforme a variância dos alvos presentes.

Quando o radar detecta um único alvo, a frequência muda no sinal de retorno e é dado por:

f = 2v/λ

43
MET-011

Onde f é a mudança da frequência Doppler, V é a velocidade radial do alvo e λ é o


comprimento de onda.

Quando existem muitos alvos no volume de amostragem, cada alvo individual produz uma
mudança na frequência relacionada com sua velocidade radial. O resultado é uma distribuição das
frequências medidas. Em uma amostragem real de um radar haveria bilhões de gotas de chuva
presente. Um radar Doppler geralmente processa todos os sinais de retorno para produzir uma única
velocidade para o volume de amostragem inteiro. Esta é a velocidade média da amostra e é o que se
mede quando se fala de velocidade radial Doppler. Quando é calculada a dispersão das velocidades
dentro do volume de amostragem do radar e é computado o desvio padrão do espectro de
velocidades tem-se a largura do espectro dentro do alvo analisado.

Produto Largura Espectral

Produto velocidade radial vs Produto largura espectral

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MET-011

Nesta unidade vimos um breve histórico da implantação dos radares meteorológicos da


rede do SISCEAB, seus tipos e aplicações. Passamos a compreender as estratégias de varredura,
os modos de operação e os tipos de dados gerados pelo radar.
Já que estamos familiarizados com os assuntos anteriormente abordados, vamos agora
conhecer os produtos gerados pelo radar meteorológico, resultado da execução das varreduras,
que são a informação que chegam ao usuário final.

Bom estudo!!!

45
MET-011

UNIDADE 2

PRODUTOS DO RADAR METEOROLÓGICO

2.1 Introdução

O Radar Meteorológico é uma das ferramentas mais poderosas que pode ser utilizada pelo
Meteorologista para o acompanhamento das condições sinóticas reinantes na área de cobertura do
sensor radar meteorológico, por intermédio da varredura da atmosfera, visando à coleta de inúmeros
dados e, consequentemente, a geração de vários produtos, em tempo real.

Para que o Meteorologista possa interpretar os dados gerados pelos radares meteorológicos é
necessário conhecer os seus produtos e suas características.

2.2 Produtos Standard

Os produtos standard podem ser gerados por radares convencionais (somente dados de
refletividade), como pelos radares Doppler de polarização simples e Doppler polarimétricos (dupla
polarização). Mais a frente estudaremos os produtos gerados somente pelos radares Doppler
polarimétricos.

2.2.1 PPI - Plan Position Indicator

O PPI é um produto de uso frequente, quando as condições sinóticas, na área de cobertura do


radar meteorológico, encontram-se estáveis, ou seja, sem a presença de formações significativas a
uma distância não inferior a 200 km. É o produto mais utilizado no Modo Vigilância.

O produto PPI pode ser gerado por intermédio de uma varredura em Azimute, com apenas um
ângulo de elevação ou associando-se o produto a um determinado ângulo de elevação de uma
varredura Volumétrica. Geralmente os dados para a geração do PPI são coletados à baixa altitude,
preferencialmente, com a antena posicionada em um ângulo de elevação baixo (entre 0º e 1º),
visando alcançar grandes distâncias de forma que o feixe eletromagnético do radar meteorológico
fique próximo da superfície.

46
MET-011

Exemplo de produto PPI

A figura acima mostra uma imagem PPI onde pode ser visualizado alguns pixels nas cores
amarelo e laranja com valores de refletividades acima de 40 dBZ, indicando nuvens convectivas
isoladas com intensidade de precipitação moderada e forte.

O tempo necessário para a aquisição dos dados para a geração do PPI pode ser extremamente
curto, pois o PPI é gerado de uma varredura em Azimute, que necessita de apenas uma volta da
antena;

Radar realizando uma varredura em azimute (PPI)

Para ângulos de elevação pequenos (0º a 1º), o PPI permite a visualização ampla dos
fenômenos localizados a grandes distâncias.

O PPI também é muito adequado para, no Modo Vigilância, manter atualizada a informação
sobre as condições de tempo reinante na área de cobertura do radar meteorológico.

47
MET-011

Por ser utilizado com mais frequência no Modo Vigilância, em área na qual as condições do
tempo estão estáveis, o tempo de renovação do PPI pode ser grande, ou seja o operador do radar
meteorológico disponibiliza PPI com intervalos maiores.

Interpretação de um produto PPI.

2.2.2 RHI - Range Height Indicator

Os dados do RHI são obtidos dos ecos recebidos ao longo das radiais do radar meteorológico,
provenientes de uma varredura em elevação, em um ângulo de azimute determinado (fixo).

O produto representa a projeção, no plano vertical, que passa pelo centro do radar
meteorológico e tem a direção do azimute selecionado, dos dados refletividade corrigida (Z),
velocidade radial média (V) e largura espectral (W), mostrados em uma janela retangular, por
intermédio de uma escala de cores.

Dois ângulos de elevação devem ser determinados, sendo que o 1º indica a elevação de início
e o 2º a elevação em que se deseja terminar a varredura.

A grade auxiliar de coordenadas sobrepostas que indica a altitude e distância é curva, para
levar em consideração a curvatura terrestre.

O RHI é ideal para, no Modo Análise, examinar formações de grande extensão vertical.

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MET-011

Interpretação do produto RHI

Exemplo do produto RHI

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MET-011

2.2.3 CAPPI - Constant Altitude Ppi

Os dados do CAPPI são obtidos dos ecos recebidos ao longo das radiais do radar
meteorológico, em uma varredura volumétrica.

O produto representa a projeção, no plano horizontal, dos dados (Z, V e W) contidos em uma
camada na altitude constante H sobre a estação de radar meteorológico, mostrados em uma janela
retangular, através do código de cores. O período de renovação dos dados é em função da duração
da varredura volumétrica.

O CAPPI é muito útil para o exame e acompanhamento das condições do tempo onde existem
rotas aéreas, é usado principalmente nos Modos Evolução e Análise.

A figura acima mostra como uma imagem CAPPI é processada formando uma imagem com dados
situados em uma determinada altura.

50
MET-011

Interpretando o produto CAPPI

Produto CAPPI

51
MET-011

2.2.4 MAXDISPLAY - Maximum Display

O Maxdisplay é um produto representativo da projeção dos valores máximos de Intensidade


(Z), Velocidade Radial (V) e de Velocidade Espectral (W) em três planos:

 de cima para baixo, sendo que os valores das máximas intensidades, encontradas no
interior da formação meteorológica, são “pintados” em um plano horizontal;

 de oeste para leste, sendo que os valores das máximas intensidades são “pintados” em
um plano vertical lateral direito; e

 de sul para norte, sendo que os valores das máximas intensidades são “pintados” em
um plano vertical lateral superior.

Explicando esse produto de uma forma mais simples, podemos dizer que, para gerar o
MAXCAPPI, o Radar Meteorológico divide o plano horizontal varrido em pequenas colunas
verticais.

O diâmetro dessas colunas varia de acordo com o alcance da varredura e com a resolução
utilizada para gerar a imagem 2D do produto.

Interpretando a construção do produto MAXDISPLAY

52
MET-011

Vamos supor que o Radar Meteorológico esteja configurado para varrer com alcance de 400
km de raio. De que forma o MAXCAPPI será gerado?

Como o alcance é de 400 km de raio, ou seja, 800 km de diâmetro, essa imagem 2D será
dividida em vários quadrados e cada lado desses quadrados medirá 1 km. Pronto. Aí estão formadas
as várias colunas de 1 km2 e, dentro de cada uma dessas colunas, o Radar Meteorológico irá
procurar as máximas intensidades, desde o topo da formação até a sua base. E os valores menos
intensos? Serão desprezados? Não. Esses valores serão rebatidos nas projeções verticais laterais.

Entendendo a construção do produto MAXDISPLAY

Produto MAXDISPLAY

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MET-011

Exemplo do produto MAXCAPPI

2.2.5 VXSECT - Vertical Cross Section

Este produto representa a projeção, em um plano vertical, dos dados (Z, V e W) contidos em
um corte vertical realizado em um determinado setor da formação meteorológica.

Pode ser utilizado para estudar a severidade das formações meteorológicas através da
observação de estruturas de chuva em forma de gancho, identificar a posição da banda brilhante ou
para mostrar ao aeronavegante como estão as condições atmosféricas durante o procedimento de
pouso ou decolagem.

Caso as coordenadas de um determinado aeródromo forem conhecidas, esse produto poderá


ser muito útil. Se for realizado um corte vertical sobre o eixo da pista, será visualizada a condição
meteorológica que o piloto irá enfrentar durante o pouso ou decolagem. O produto VXSECT surge
a partir de um corte no volume de dados, obtendo-se a seção transversal desejada. Pode ser obtido
selecionando-se em um produto CAPPI ou MAXDISPLAY, dois pontos quaisquer, que vão
determinar onde passará o plano vertical no bloco de dados. Este produto só pode ser gerado a partir

54
MET-011

de uma varredura volumétrica e, quanto maior o número de elevações utilizadas, melhor será a
representatividade do VXSECT. O produto representa a projeção, num plano vertical, dos dados Z,
V e W contidos no corte vertical executado.

O VXSECT permite visualizar cortes verticais de estruturas precipitantes em qualquer região


do volume de dados, sem que seja necessário que o plano traçado passe pelo centro do radar. É
muito útil quando utilizado no Modo Análise.

Modelo da utilização do VXSECT para pousos e decolagens.

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MET-011

Interpretando a construção do produto VXSECT

Produto VXSECT

56
MET-011

Exemplo do produto VXSECT

2.2.6 ECHO TOP - Maximum Height Of Echo

Este produto representa, em um plano horizontal, as altitudes das ocorrências mais elevadas
de um determinado valor de refletividade especificado pelo operador do Radar Meteorológico,
dentro do bloco de dados 3D. Essa busca é feita de cima para baixo em cada célula volumétrica de
resolução.

O ECHO TOP não representa o topo das formações. Ele representa a altitude de uma
ocorrência que está sendo buscada pelo operador do Radar Meteorológico.

Exemplo: vamos supor que o operador radar definiu como procura a ocorrência com o valor
de intensidade de 40 dBz.

Como o produto será montado?

Em cada uma das células de resolução do bloco de dados 3D, a procura pelo valor de 40 dBz
será iniciada de cima para baixo. A partir do momento que for detectado o primeiro valor de 40

57
MET-011

dBz, a altitude desse valor é “pintada” em um plano horizontal (produto 2D) e a cor dessa altitude
será escolhida pelo software (FROG MURAN VIS) de acordo com a escala de cores atribuída ao
produto. Lembre-se que o produto ECHO TOP informa as máximas altitudes de uma determinada
ocorrência.

Quando a ocorrência procurada é encontrada, a busca é interrompida e a altitude da referida


ocorrência é computada (pintada) e, imediatamente, inicia-se a busca nas próximas células de
resolução.

Como o principal propósito desse produto é mostrar, em um plano horizontal, as máximas


altitudes de uma determinada ocorrência, mesmo que na célula de resolução varrida (coluna
vertical) seja encontrada outra ocorrência com a mesma intensidade procurada, porém, a uma
altitude mais baixa, ela será descartada.

Em primeiro lugar, o meteorologista deve visualizar a Barra de Título do produto e verificar


qual é o valor da ocorrência que o produto está configurado para procurar.

Após o conhecimento da ocorrência procurada, o produto 2D irá mostrar, de acordo com a


legenda de cores, as altitudes da ocorrência previamente selecionada pelo operador do Radar
Meteorológico.

Lembre-se que, embora a Barra de Título do produto esteja se referindo a um valor em dBZ
especificado, o produto 2D refere-se às máximas altitudes desse valor.

O produto apresenta, no plano horizontal, as alturas das ocorrências mais elevadas de um


valor especificado de Z ou R no volume de dados, portanto só pode ser gerado a partir de uma
varredura volumétrica.

A busca é feita de cima para baixo dentro da célula volumétrica de dados e a altura das
ocorrências mais elevadas é codificada por cores.

Do exposto acima, se verifica que para o produto ECHO TOP a altitude exata do nível dos
valores especificados é obtida por interpolação em varreduras de elevações adjacentes.

58
MET-011

Esquema que mostra como os valores do ECHO TOP são processados

Interpretação do Produto ECHO TOP/ETOP

A Figura acima mostra como é processada uma imagem ECHO TOP. Inicialmente é
necessária uma varredura volumétrica como indicado no lado esquerdo da figura. Em seguida é
definido um valor de referência de refletividade (Z) ou precipitação (R). Os dados volumétricos do
radar são transformados para coordenadas cartesianas formando uma grade de coordenadas x, y e z.

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MET-011

Para cada coluna de coordenadas DX,DY do volume de dados é feito um processamento de cima
para baixo, buscando a altura máxima H do valor de referência escolhido. Assim, no final teremos
uma imagem com os valores das máximas alturas obtidas para determinado valor de referência
escolhido.

Exemplo de produto ECHO TOP / ETOP

A Figura acima mostra a imagem de um produto ECHO TOP, que indica os máximos
valores de alturas para a refletividade selecionada de 20 dBZ. No lado direito da imagem existe uma
escala de altura em km. Note que a refletividade de 20 dBZ está situada em alturas mais elevadas
nos pixels de cor marrom. A cor verde brilhante indica onde os valores de 20 dBZ estão a alturas
menos elevadas.

60
MET-011

2.2.7 ECHO BASE - Miminum Height Of Echo

Este produto representa, em um plano horizontal, as altitudes das ocorrências mais baixas de
um valor especificado pelo operador do Radar Meteorológico, dentro do bloco de dados 3D. Essa
busca é feita de baixo para cima em cada célula volumétrica de resolução.

O ECHO BASE não representa a base das formações. Ele representa a altitude mais baixa de
uma determinada ocorrência que está sendo buscada pelo operador do Radar Meteorológico.

Exemplo: vamos supor que o operador radar definiu como procura, a ocorrência com o valor
de intensidade de 40 dBZ.

Como o produto será montado?

Em cada uma das células de resolução do bloco de dados 3D, a procura pelo valor de 40 dBZ
será iniciada de baixo para cima. A partir do momento que for detectado o valor de 40 dBZ, a
altitude desse valor é “pintada” em um plano horizontal (produto 2D) e a cor dessa altitude será
escolhida pelo software (FROG MURAN VIS) de acordo com a escala de cores atribuída ao
produto. Lembre-se que o produto ECHO BASE informa as mínimas altitudes de uma determinada
ocorrência.

Quando a ocorrência procurada é encontrada, a busca é interrompida e a altitude da referida


ocorrência é computada (pintada) e, imediatamente, inicia-se a busca nas próximas células de
resolução.

Como o principal propósito desse produto é mostrar, em um plano horizontal, as mínimas


altitudes de uma determinada ocorrência, mesmo que na célula de resolução varrida (coluna
vertical) seja encontrada outra ocorrência com a mesma intensidade procurada, porém, a uma
altitude mais elevada, ela será descartada.

Interpretação do produto echo base:

 Em primeiro lugar, o meteorologista deve visualizar a Barra de Título do produto e


verificar qual é o valor da ocorrência que o produto está configurado para procurar.

 Após o conhecimento da ocorrência procurada, o produto 2D irá mostrar, de acordo com


a legenda de cores, as altitudes da ocorrência previamente selecionada pelo operador do

61
MET-011

Radar Meteorológico.

 Lembre-se que, embora a Barra de Título do produto esteja se referindo a um valor em


dBZ especificado, o produto 2D refere-se às mínimas altitudes.

Interpretação das informações contidas na Barra de Título do produto

O produto apresenta, no plano horizontal, as altitudes das ocorrências mais baixas de um valor
especificado de Z ou R no volume de dados, portanto só pode ser gerado a partir de uma varredura
volumétrica.

A busca é feita de baixo para cima dentro da célula volumétrica de dados e a altitude das
ocorrências mais baixas é codificada por cores.

Do exposto acima, se verifica que para o produto ECHO BASE a altitude exata do nível dos
valores especificados é obtida por interpolação em varreduras de elevações adjacentes.

62
MET-011

Modo de processamento de um ECHO BASE

Interpretação do Produto ECHO BASE/EBASE

63
MET-011

A Figura acima mostra como é processada uma imagem ECHO BASE. Inicialmente é
necessária uma varredura volumétrica como indicado no lado esquerdo da figura. Em seguida é
definido um valor de referência de refletividade (Z) ou precipitação (R). Os dados volumétricos do
radar são transformados para coordenadas cartesianas formando uma grade de coordenadas x, y e z.
Para cada coluna de coordenadas DX,DY do volume de dados é feito um processamento de baixo
para cima, buscando a altura mínima H do valor de referência escolhido. Assim, no final teremos
uma imagem com os valores das mínimas alturas obtidas para determinado valor de referência
escolhido.

2.2.8 VAD - Velocity Azimuth Display

Este produto representa, por intermédio de um gráfico, a velocidade radial média (VR) de
deslocamento dos hidrometeoros (gotas, neve, etc.), que é medida a uma determinada distância, ao
longo de um círculo completo, através de uma varredura em azimute com elevação constante,
conforme mostrado na figura abaixo.

64
MET-011

Esquema que mostra como é processado o VAD

A figura mostra como é processado o produto VAD. Inicialmente é fixado um ângulo de


elevação (EL). Esse ângulo não varia (geralmente o valor de EL escolhido está entre 20 e 60 graus).
Suponha que exista um hidrometeoro com velocidade V. Essa velocidade V pode ser decomposta
(pois é um vetor) em duas componentes, uma componente que é paralela à radial do radar (VR) e
outra que é perpendicular à radial do radar (VP). O radar só consegue medir a componente que é
paralela à radial do radar (VR). Note que no esquema da figura acima, só foi plotado um
hidrometeoro em uma determinada altura, conforme indicado na figura acima.

Suponhamos agora que nessa determinada altura todos os hidrometeoros estão se deslocando
de SW para NE. O radar realiza uma varredura em azimute (ângulo EL fixo e ângulo AZ variando
de 0 a 360 graus). Assim, o radar processa a velocidade dos hidrometeoros que estão em uma
determinada altura formando um anel conforme a figura abaixo.

65
MET-011

Esquema de hidrometeoros que se deslocam com velocidade V a uma determinada altura sobre o
radar meteorológico.

Podemos plotar em um gráfico que mostra a velocidade VR para cada ângulo de azimute.
Por definição valores de VR que se aproximam do radar tem valores negativos e são representados
por cores frias (por exemplo azul), e valores de VR que se afastam do radar tem valores positivos e
são representados por cores quentes (por exemplo vermelho). O gráfico que mostra VR em função
do ângulo de azimute é composta por uma senóide e é chamado de VAD.

Também podemos criar um produto VAD relacionando VR com a velocidade máxima que o
radar consegue medir sem erro chamada de VU.

Nesse tipo de gráfico, a linha senóide representa o deslocamento das formações (de onde
vem e para onde vai) por intermédio da relação entre a componente da velocidade na radial de
apontamento da antena – VR e a velocidade Doppler não ambígua máxima – VU (máxima
velocidade radial que o radar pode estimar. Depende diretamente da PRF (frequência de repetição
de pulsos) e do comprimento de onda.

Essa relação entre VR e VU deve ser sempre inferior ou igual a 1 (um). Caso esta condição
não ocorra, significa que a receita de varredura, que está sendo utilizada pelo radar meteorológico,
só consegue medir velocidades de deslocamento inferior à velocidade das formações detectadas, ou
seja, os produtos de velocidade radial não conseguirão mensurar a real velocidade de deslocamento
das formações.

66
MET-011

Portanto, para um radar Doppler banda S (10cm) operando com uma PRF de 1000Hz tem-se
uma velocidade máxima não ambígua de ±25m.s-1.

Um radar banda X (3cm) operando com a mesma PRF terá uma velocidade máxima não
ambígua de ±8m.s-1.

Todas as velocidades excedendo esses limites serão ambíguas e seriam indistinguíveis, se


um processamento Doppler convencional fosse utilizado.

Vamos agora exemplificar uma situação, visando melhor entendimento desse conceito:

O operador do Radar Meteorológico configurou uma receita de varredura volumétrica capaz


de medir até 40 m/s, conforme indicado na janela de configuração da receita.

Ao varrer a atmosfera, o radar meteorológico detectou formações com o deslocamento


superior ao deslocamento indicado pela receita configurada. Exemplo: 60 m/s.

De acordo com a relação VR/VU, o resultado será superior a 1 (60/40 = 1,5). Isso significa
que a receita implantada no Radar Meteorológico não consegue medir, sem erro, o deslocamento
real das formações detectadas.

Podemos depreender deste fato que por intermédio da interpretação do produto VAD,
também é possível conhecer se a configuração da receita implantada está corretamente configurada,
em relação à medição do deslocamento das formações meteorológicas.

ATENÇÂO: Na parte superior do gráfico, aparece a direção do deslocamento da formação


meteorológica. Essa direção indica para onde a formação está indo e, nesse caso, é necessário
somarmos 180º para se saber a direção de onde o fenômeno está vindo.

67
MET-011

Interpretação do Produto VAD

A figura acima mostra o Produto VAD. Neste exemplo temos alvos meteorológicos se
deslocando de sudoeste para nordeste na área de cobertura do radar meteorológico. O cavado da
onda senoide indica a direção de onde estão vindo os hidrometeoros e a crista da onda indica a
direção para onde os hidrometeoros estão se deslocando.

Interpretando a construção do produto VAD

A figura acima mostra o esquema do deslocamento dos ecos detectados pelo radar de SE para
NW a uma determinada altura acima do radar meteorológico.

68
MET-011

Exemplo de produto VAD

2.2.9 VVP - Volume Velocity Processing

É gerado a partir de uma varredura volumétrica e é constituído de dois gráficos, que


representam o perfil de direção e da velocidade do deslocamento das formações meteorológicas nas
diversas camadas de altitude, mostrando a altitude inicial e final da camada em que o produto está
sendo representado, permitindo ótima visualização do perfil de deslocamento das formações em
uma determinada região.

Este produto apresenta dois gráficos distintos, sendo que o da parte inferior representa a
velocidade de deslocamento das formações e o da parte superior indica a direção do deslocamento.

69
MET-011

Entendendo a construção do VVP

A Figura acima representa um modelo que explica como o produto VVP é processado.
Inicialmente é realizado uma varredura volumétrica, que é representada por vários cones invertidos,
cada um com um determinado ângulo de elevação, conforme observado na Figura acima à esquerda.
Determina-se uma região do espaço onde será realizado o processamento dos dados. Essa região
está compreendida entre uma altura mínima (Min Height) até uma máxima altura (Max Height)
acima da área de cobertura do radar meteorológico. Desse modo são obtidos dois gráficos conforme
mostrado na Figura acima à direita. O gráfico superior mostra a variação da direção de
deslocamento dos hidrometeoros com a altura e o gráfico inferior indica a velocidade dos
hidrometeoros com a altura. A altura está limitada entre dois valores pré-determinados (Min Height
e Max Height).

70
MET-011

Imagem real VVP

A figura acima mostra o produto VVP. O gráfico de cima indica a direção do deslocamento
dos hidrometeoros. O gráfico de baixo indica a velocidade de deslocamento dos hidrometeoros.
Note que existem faixas horizontais (cinza) onde não há a presença de hidrometeoros, portanto nem
a direção nem a velocidade foram plotadas.

2.2.10 STP - Storm Tracking Product

O STP mostra a velocidade, deslocamento e a previsão da trajetória de uma célula de


tempestade de acordo com as configurações realizadas pelo operador do radar meteorológico. Por
meio do STP a posição futura da célula de tempestade pode ser visualizada nos produtos PPI,
CAPPI ou MAXCAPPI.

71
MET-011

Exemplo de produto STP

A figura acima mostra a apresentação do produto STP. Pode-se ver a trajetória da célula de
tempestade, com as respectivas velocidades (em m/s) e tempo (horas e minutos GMT) que indicam
as horas e minutos em que a tempestade atinge determinado ponto da trajetória. Também está
plotado na cor azul, a previsão de deslocamento da tempestade.

2.2.11 WARNING

Produto que informa a localização, por intermédio de símbolos distintos, de áreas de cortante
de vento, chuva e granizo. Primeiramente são escolhidos os limiares de refletividade para a
determinação destes parâmetros. Por exemplo, o programa COLIBRI apresenta para granizo os
seguintes limiares: valor mínimo de 35 dBz e valor máximo de 55 dBZ. Assim, o meteorologista
pode escolher o valor de 53 dBZ para que, a partir dele seja plotado um ícone que indicará a
presença de granizo na área de cobertura do radar meteorológico.

72
MET-011

Os ícones na Figura abaixo representam a possibilidade de ocorrência de granizo, chuva e


cortante de vento (Shear):

Produto MAXDISPLAY com WARNING aplicado.

2.2.12 LTB (LAYER TURBULENCE)

Representa a turbulência entre duas camadas localizadas em altitudes diferentes e previamente


selecionadas pelo operador radar. Normalmente a o valor escolhido está entre 10 e 12 km de altura,
a fim de obter a turbulência no nível de voo de cruzeiro.

73
MET-011

Exemplo de LTB
A Figura acima mostra um exemplo do produto LTB que indica turbulência leve nas áreas de
cor cinza entre 10 e 12 km de altura, sobre a região de cobertura do radar meteorológico do Gama.

2.3 Produtos de detecção de fenômenos e hidrológicos (polarimétricos)

São produtos gerados a partir da análise de dados adquiridos de varredura onde foi
empregada a técnica da dupla polarização da onda eletromagnética, possibilitando a identificação
dos tipos de espalhadores (hidrometeoros, biológico, superfície/mar). São realizadas medidas
quantitativas de chuva muito melhores que nos radares de polarização simples, assim como permite
a detecção de tornados, granizo (inclusive a determinação do tamanho do granizo, gelo e o conteúdo
de hidrometeoros e suas propriedades, que causam diferenças em suas assinaturas polarimétricas.

74
MET-011

2.3.1 Variáveis polarimétricas

2.3.1.1 Refletividade Diferencial (Zdr )

Razão entre as refletividades horizontal e vertical. Depende da composição e forma da gota,


analisados a partir do volume, tamanho do eixo maior e menor do esferóide, do índice de refração e
da permissividade dielétrica. Útil para discriminar chuva, granizo e neve.

Zdr é calculado utilizando-se a equação Zdr = 10 log(Zhh/Zvv). A partir dela são verificadas
as seguintes condições:

Zdr > 0: Zdr positivo indica que a gota está horizontalmente orientada. Zdr positivo
geralmente indica a presença de gotas líquidas. Pode apresentar formato quase esférico até o
formato de “hamburger”. Altos valores de Zdr indicam gota grande, flocos de neve molhada,
cristais de neve insetos, pássaros e chaff.

Zdr < 0: Zdr negativo indica que a gota está verticalmente orientada.Zdr ~ 0: Zdr com
valores próximos de zero indica que a gota possui forma quase esférica. As pedras de granizo que
caem resultam em um formato quase esférico. Baixos valores de Zdr gotas pequenas, graupel,
granizo,
neve
agregada
seca e eco
de terreno.

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MET-011

Zdr > 0

Zdr < 0

Zdr ~ 0

Variação de Zdr em função do tamanho da gota

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MET-011

77
MET-011

Comparação entre produtos de refletividade com analisados com polarização


simples e com dupla polarização

2.3.1.2 Diferença de fase entre o sinal de retorno em H e V (φdp) e fase diferencial


específica (Kdp)

A fase diferencial (Φdp) é a diferença em fase entre os feixes de onda eletromagnética com
polarização horizontal e vertical numa
dada distância ao longo da trajetória
dos feixes:

onde, Φ h (r) = fase do feixe de onda eletromagnética com polarização horizontal numa dada
distância do radar (r); Φ v (r) = fase do feixe de onda eletromagnética com polarização vertical
numa dada distância do radar (r).

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MET-011

A fase diferencial específica (Kdp ) é a razão entre as diferenças de duas fases diferenciais a
diferentes distâncias do radar ao longo da trajetória dos feixes de onda eletromagnética pelo dobro
da diferença das distâncias:

A fase diferencial específica (Kdp ) é a razão entre as diferenças de duas fases diferenciais a
diferentes distâncias do radar ao longo da trajetória dos feixes de onda eletromagnética pelo dobro
da diferença das distâncias.

onde, r1= distância ao radar (km) no ponto 1, tal que r2 > r1. A fase diferencial específica
varia de -1° km -1 to 6° km -1 para alvos meteorológicos.

Φ HH , Φ VV : apresenta mudanças cumulativas na diferença de fase para a viagem


completa do pulso (alvo e radar) e diferença de fase devido ao espalhamento + mudanças na
diferença de fase ao longo do caminho de propagação.

Estatisticamente hidrometeoros isotrópicos apresentam mudança de fase similares tanto para


ondas polarizadas H e V. Já as partículas não isotrópicas produzem mudanças de fase diferente.

Em um volume como hidrometeoros oblatos: gotas de chuva grande e cristais de gelo, uma
onda polarizada H se propaga mais devagar que uma V, logo temos uma mudança de fase (Φ HH)
maior por unidade de comprimento e Φdp aumenta, devido à diferença de fase ao longo da radial
de apontamento do radar.
Φdp permite estimar a taxa e quantidade de precipitação, sendo muito útil na análise de
produtos hidrológicos.

79
MET-011

A propagação da onda H é mais lenta do que na onda V, através da gota oblata, ocorrendo a
defasagem.

Gotas de chuva têm formas obladas e são


orientadas.

A onda H encontra mais massa tornando-a mais


lenta na propagação
Eh Ev
A onda V tem menos obstáculo

Portanto, a onda H sofre atraso progressivamente


em relação a onda V.

A diferença de fase específica em granizo/chuva ocorre da seguinte forma:

Granizo é estatisticamente isotrópico, portanto não


afeta o KDP (KDP=0)

Gotas em mesclas geram diferencial de fase (ΦDP)

Portanto, o KDP capta a chuva na mistura

Para quantificar a quantidade de chuva, a relação


entre R(KDP) deve ser desenvolvida

80
MET-011

Comparação entre dBZ e KDP

81
MET-011

2.3.1.3 Coeficiente de correlação (ρHV)

O coeficiente de correlação (ρHV ) mede o grau de coerência entre os retroespalhamentos do


alvo iluminado pelos feixes de ondas eletromagnéticas com polarização horizontal e vertical no
mesmo instante. Eficiente na identificação de espalhadores não-meteorológicos.
Geralmente ρHV classifica o alvo analisado com os seguintes valores de referência:

Classificação de ρHV
Para água pura e gelo puro ρHV >0.95

Para partículas misturadas (camada de fusão, por exemplo) ρHV <0.9

Para insetos ρHV <0.8

Para eco de solo ρHV <0.7

ρHV de formas esféricas ou fixas de pequenos hidrometeoros

ρHV = 1 para: esferoides, orientados, oblatos e esferoides alongados

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MET-011

Análise do coeficiente de correlação

83
MET-011

Classificação dos alvos usando ρHV

2.3.2 Produtos polarimétricos

2.3.2.1 ZHAIL – Z-Based Hail Detection

O produto ZHAIL analisar a refletividade vertical acima da camada de fusão (isoterma de


0°). A altura desta camada pode ser introduzida manualmente ou retirada de um arquivo pré-
configurado em um banco de dados. Os padrões identificados são exibidos pelo seu valor de
probabilidade de granizo.

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MET-011

2.3.2.2 SRI – Surface Rainfall Intensity

O produto SRI gera uma imagem com a intensidade da precipitação em uma camada pré-
selecionada a uma altura constante acima do solo.

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MET-011

2.3.2.3 DPSRI – Dual Polarization Surface Rainfall Intensity

O produto DPSRI gera uma imagem com a intensidade da precipitação do mesmo modo que o SRI,
porém utilizando as variáveis polarimétricas ZDR e KDP.

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MET-011

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MET-011

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MET-011

2.3.2.4 PAC – Precipitation Acumulation

O produto PAC utiliza um produto SRI ou RTR como base de dados, mediante a
determinação de um intervalo de tempo para calcular a precipitação acumulada.

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MET-011

2.3.2.5 VIL – Vertical Integrated Liquid Water Content

O produto VIL fornece uma estimativa instantânea da quantidade de água existente em uma
camada definida pelo usuário e indica o potencial de ocorrência de tempestades em um curto espaço
de tempo.

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MET-011

2.3.2.6 RTR – Rain Track

O produto RTR utiliza como base de dados os produtos PPI, CAPPI, SRI e DPSRI e
disponibiliza o monitoramento e previsão automáticos de campos de precipitação. O RTR consiste
em diferentes camadas de dados: taxa de precipitação real, taxa de precipitação média anterior, taxa
de precipitação esperada em futuro próximo e o acumulado esperado para o futuro próximo.

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MET-011

92
MET-011

Chegamos ao final de mais uma unidade. Nela tivemos a apresentação dos produtos
gerados pelo radar meteorológico, suas estruturas características e a interpretação das suas
funcionalidades.
Agora que já conhecemos os produtos vamos, na próxima unidade, interpretar as
imagens geradas pelo radar. Analisar a precipitação através da refletividade dos ecos, a presença
de granizo, a estrutura das tempestades e por último analisaremos a influência da velocidade na
detecção de fenômenos meteorológicos no radar Doppler, lembrando que as imagens nem sempre
apresentam somente nebulosidade, mas nos trazem alguns “ecos intrometidos”, os clutters.

Vamos em frente!!!

93
MET-011

UNIDADE 3

INTERPRETAÇÃO DE IMAGENS

3.1 Introdução

Como você já conhece os princípios de funcionamento do radar, suas características básicas


e os produtos que podem ser gerados a partir das varreduras da atmosfera, agora é hora de
começarmos a aplicar esses conhecimentos para a interpretação das imagens geradas pelos seus
produtos.

Nesta etapa você aprenderá a identificar as precipitações, os tornados, os alvos indesejáveis,


a velocidade e o deslocamento dos alvos e a classificar as tempestades.

3.2 Detecção de precipitação

As imagens de radar são úteis para localizar precipitação. Como uma imagem de
ressonância magnética examina minuciosamente o interior do corpo humano, um radar examina o
interior de uma nuvem enviando um pulso de energia na atmosfera. Se qualquer precipitação é
interceptada pelo pulso de energia, parte desta energia é espalhada de volta ao Radar. Estes sinais
que retornam, chamados de ecos, são reunidos processados para produzir as imagens de radar.

Imagem MAXDISPLAY que mostra formações embutidas com presença de granizo ao sul do
estado de Santa Catarina.

94
MET-011

A localização dos ecos coloridos indica onde há precipitação e as várias cores indicam a
intensidade da precipitação, conforme o código de cores que está na legenda no lado direito da
imagem acima. A figura mostra vários núcleos de formações estendendo-se desde o norte do Rio
Grande do Sul até o sul do Estado de Santa Catarina, em 17 de fevereiro de 2005. As áreas em tons
de azul e verde-claro indicam regiões de precipitação mais leve, enquanto as áreas em tons de
vermelho e rosa indicam regiões de tempestades fortes a ocasionalmente severas.

Normalmente, é difícil distinguir tipos de precipitação baseando-se somente na refletividade


do radar. Neve e chuvisco leve produzem praticamente os mesmos valores de refletividade. Neve se
derretendo e chuva moderada também. Refletividades muito altas (acima de 60 dBZ nas cores rosa
e violeta na escala da imagem acima) são sempre associadas a granizo.

3.3 Características da refletividade

Durante o processo de detecção dos objetos de interesse meteorológico, outros objetos,


naturais ou artificiais também são encontrados. Esses alvos, poeira, areia, insetos, pássaros,
sementes em suspensão, veículos e retorno de solo que não são de interesse da Meteorologia Radar
são considerados Clutter Radar

Os alvos de clutter mais influentes são o retorno de ecos de solo (montanhas e edifícios) e de
mar (reflexos das ondas), e são característicos de cada local de instalação do radar.

Para realizar a filtragem (remoção) do clutter, os parâmetros de processamento devem ser


configurados de forma a otimizar os resultados em função da PRF, da largura de pulso e dos tipos
de clutter existentes no local.

Softwares mais avançados de operação de radares meteorológicos possuem filtro de clutter.

Convém ressaltar que mesmo clutter de ecos denominados “fixos”, podem apresentar
flutuações de velocidade Doppler no entorno da velocidade nula, em função, principalmente, dos
movimentos da vegetação sobre o solo ou das ondas na superfície do mar.

Clutter de insetos e retorno de solo e direção do vento em baixos níveis podem ser
identificados nas imagens dos radares meteorológicos como alvos que não são de interesse para a
meteorologia.

95
MET-011

Ecos de lóbulos laterais da antena: são devidos à irradiação a ao retorno de sinais através
dos lóbulos laterais. São típicos de clutter de solo próximos do radar.

Ecos de segunda viagem: caso a distância do alvo seja maior que a máxima distância não-
ambígua que o radar pode medir, os ecos podem aparecer “dobrados” a uma distância menor que a
real.

Ecos de espelho: quando o feixe é apontado para um edifício (por exemplo), o mesmo pode
servir de espelho para as ondas emitidas pelo radar. Pode ser possível então, observar uma mesma
precipitação com dois ecos em azimutes distintos.

Efeitos de sombras: quando o feixe radar é apontado para um edifício ou uma montanha, por
exemplo, os alvos que estão atrás deles estão “na sombra”, e portanto não estarão visíveis.

Ecos de “anjos”: são ecos que não são atribuíveis a alvos bem conhecidos, podendo ser
originados, na maioria das vezes por CAT, insetos, aves, areia, poeira ou fumaça.

3.3.1 Efeitos atmosféricos na propagação da energia eletromagnética

O desempenho do radar é reduzido ou sofre erros pelos efeitos dos fenômenos de propagação
da energia eletromagnética na atmosfera, tais como:

 Espalhamento da energia eletromagnética na superfície terrestre.

 Refração causada pela atmosfera não homogênea.

 Atenuação pelos gases, partículas e precipitações na atmosfera.

 Ambiente do ruído externo.

 Reflexão pela superfície da Terra, por chuva, neve, pássaros e outros “clutter”.

A energia eletromagnética se propaga no espaço, sofrendo alterações de diferentes naturezas,


em função da composição atmosférica:

Atenuação: Perda de potência pelo espalhamento e absorção das ondas eletromagnéticas por
gases atmosféricos (oxigênio, vapor d’água), nuvens e precipitações.

96
MET-011

Refração: mudança da direção de propagação em função da densidade do meio de


propagação.

3.3.2 Identificação de alvos indesejáveis

Em geral, os alvos de interesse da meteorologia radar estão associados aos fenômenos e as


atividades naturais da atmosfera terrestre. Infelizmente outros objetos, naturais ou artificiais,
existentes na atmosfera são captados pelo radar no decorrer dos processos de detecção dos
hidrometeoros.
Segue abaixo alvos que não são de interesse meteorológico e que são considerados clutter
radar:
 fumos, poeiras, areias e partículas de poluição em suspensão na atmosfera;

 solo, vegetação, mares, rios e lagos;

 insetos, pássaros ou morcegos em voo na atmosfera;

 pólen e sementes em supensão na atmosfera;

 radiossondas, refletores e ressoadores artificiais;

 veículos, edificações; e

 fontes de emissão eletromagnética interferentes.

3.3.2.1 Retorno do solo

O solo é um excelente alvo para mandar os sinais emitidos de volta ao radar. Se for realizada
uma varredura com um ângulo muito baixo (abaixo de um grau), parte do feixe irá interceptar o solo
e produzirá um forte sinal de retorno.
Os sistemas utilizados atualmente em radares meteorológicos tiram o proveito de um fato
óbvio e útil: o solo não se move. Assim, o retorno de solo entra em um padrão conhecido que se
repete. Também, a velocidade radial Doppler do retorno de solo é zero. Os processadores de radar
usam esta informação para descobrir e identificar o retorno de solo e removem essa “sujeira” da
exibição. Estas técnicas não são perfeitas, entretanto, o meteorologista deve estar atento quanto a
padrões de eco de radar que não se movem.

97
MET-011

Exemplo de retorno de solo

Na Figura anterior observamos pixels na cor azul nas proximidades do centro da imagem
onde está situado o radar meteorológico de Manaus, causado por lóbulos secundários. A oeste do
radar verifica-se a presença de precipitação nas cores amarelo e laranja. Uma maneira de identificar
o retorno do solo é utilizar a animação, pois desse modo podemos diferenciar as estruturas de chuva
que se movimentam daqueles pixels causados pelo retorno do solo que permanecem imóveis.

3.3.2.2 Retorno do oceano

Na Figura a seguir podemos observar o retorno do oceano que é muito comum nos produtos
apresentados no site da REDEMET para aqueles radares próximos ao litoral. Pode-se observar nesta
mesma imagem, retorno do oceano à sudeste da posição onde está situado o radar meteorológico do
Morro da Igreja em Santa Catarina. Este clutter é causado pelas ondas do mar. Apresentam baixos
valores de refletividade e são ecos persistentes no local e não variam de intensidade.

98
MET-011

Retorno devido às ondas do oceano.

Retorno de uma revoada de pássaros

Algumas vezes é possível detectar uma revoada de pássaros na imagem radar, está se caracteriza
pela presença de uma figura circular.

Retorno de uma revoada de pássaros.

99
MET-011

3.3.2.3 Outras fontes emitindo radiação eletromagnética

Algumas vezes é visível um eco com a forma de uma linha estreita, que se estende
diretamente para fora, na radial do radar. Normalmente, isto é produzido por alguma outra fonte de
radiação eletromagnética. Se outro transmissor está operando de forma contínua, o sistema radar
processará eco em todos os alcances e produzirá uma linha radial de eco no produto. É o que
acontece em alguns dos produtos de refletividade apresentados no site da REDEMET, devido a
presença do radar de controle de tráfego aéreo TRS 2230 nas proximidades do radar meteorológico.
Na Figura a seguir podemos observar a linha provocada pela emissão deste radar, na radial noroeste,
em uma imagem MAXDISPLAY do radar de Morro da Igreja.

Quando as fontes são terrestres, eles são normalmente bem conhecidos pelos operadores
radar e sempre aparecem em um mesmo azimute. Outra fonte excelente de microondas é o Sol. Se o
radar é apontado diretamente para o Sol, há possibilidade de logo após amanhecer, ou antes pôr-do-
sol, que um produto de refletividade apresente um intenso eco estendendo-se para fora do radar,
respectivamente, à leste ou à oeste.

Clutter radar causado pelo Sol.

100
MET-011

A Figura acima mostra uma imagem MAXCAPPI onde é possível ver um clutter em forma
de linha reta (indicado pela seta branca) que se estende a sudoeste acompanhando a radial do radar
causado pela radiação solar. Este tipo de clutter pode ser utilizado para a calibração da posição do
radar, uma vez que sabendo-se a hora e o dia do ano da ocorrência do fenômeno, pode-se facilmente
identificar o posicionamento do sol, determinando o ângulo de elevação e o ângulo de azimute em
relação ao radar meteorológico. Desse modo, é feita a calibração da posição do radar com relação
aos pontos cardeais. Por exemplo, para o dia 12/11/2013, para a região do radar de Pico do Couto,
ocorrido às 21:13 Z, e o ângulo de azimute foi de 250 graus.

3.3.2.4 Propagação anômala

Em condições normais de refração todo feixe de radiação emitido na atmosfera curva-se para
baixo. Isto não é causado pela gravidade, mas sim pela variação vertical da densidade atmosférica.
Normalmente, o feixe não se curva tanto quanto a curvatura da própria Terra, desse modo, quanto
mais distante o feixe se encontra do radar mais afastado do solo ele se encontra, conforme mostrado
no esquema abaixo.

Esquema que mostra o feixe do radar.

Considerando-se uma atmosfera em condições padrão de refração, para um ângulo de


elevação ϴ (em graus) pode-se relacionar a altura do feixe (h) com a distância (r) do radar através
da seguinte equação.

101
MET-011

Onde, R = 6373 km é o raio médio da Terra.

Em casos extremos, uma inversão de temperatura perto do solo pode ser tão forte que um
feixe de radar que inicialmente está se desviando para cima acaba por se curvar para baixo
atingindo o terreno. Isto produz ecos que geralmente acompanham algumas radiais em determinado
setor da área de cobertura do radar meteorológico e esse fenômeno é chamado de Propagação
Anômala (Anomalous Propagation - AP).

Esquema que mostra o fenômeno da AP.

Geralmente, a velocidade radial Doppler de ecos produzidos por AP é zero, mas os ecos
podem ter movimento porque as características de propagação da atmosfera estão continuamente
mudando.

102
MET-011

Imagem onde pode-se ver o fenômeno AP.

A figura acima mostra o fenômeno propagação anômala (AP), na qual podemos ver ecos que
acompanham as radiais do radar meteorológico que está situado no centro da imagem.

Se um previsor meteorologista dispõe de imagens de mais de um radar, cobrindo uma


mesma área de cobertura, então será fácil identificar a AP, porque poderá comparar as duas
imagens, e verificar se os alvos estão visíveis para os dois radares.

A estrutura de eco de AP tende a ser incomum, não se parecem com padrões de precipitação,
com mudanças repentinas em intensidade. Também, seu movimento tende a ser irregular, com
velocidades dos ecos próximas a zero. As melhores ferramentas para confrontar a existência da AP
são as observações de superfície e dados de satélite.

O gráfico abaixo mostra a altura do feixe em relação à superfície terrestre como uma função
de ângulo de elevação. Foram consideradas diferentes padrões de refração para confecção deste
gráfico.

103
MET-011

Representação da curvatura do feixe radar em diversas situações de refração.

Em condições de subrefração o feixe fica mais elevado que teria nas condições normais. Por
outro lado em condição de superrefração a altura do feixe é menor que aquela da refração padrão.

3.3.2.4 Banda brilhante


O funcionamento de um radar consiste basicamente na emissão de radiação eletromagnética
por uma fonte, e na detecção da mesma radiação retroespalhada pelos alvos atingidos. A potência da
radiação retroespalhada medida define a grandeza refletividade (Z) que depende diretamente das
características físicas dos alvos.
A precipitação normalmente se forma em altitudes onde a temperatura está abaixo do
congelamento. À medida que cristais de gelo se formam em níveis superiores e caem, eles se
chocam uns com os outros se agregando para formarem grandes aglomerados de gelo. Ao
atravessarem níveis onde a temperatura do ar está acima do ponto de congelamento, começam a
derreter formando inicialmente uma película superficial de água. O radar capta uma maior energia
de retorno desse material, pois a água apresenta uma área de seção transversal de retroespalhamento
cerca de nove vezes maior que o gelo. Esse fato ocorre devido ao parâmetro associado ao índice de
2
K
refração complexo do meio que é igual a 0,93 para a água líquida, e 0,197 para o gelo.

Assim, estes grandes aglomerados de gelo em fusão produzem uma alta refletividade,
conforme indicado na figura abaixo:

104
MET-011

Modelo conceitual da trajetória da precipitação e movimentos verticais médios através de um


corte vertical de uma linha de instabilidade. Asteriscos representam os hidrometeoros e os círculos
cheios a intensidade da precipitação (círculos grandes - precipitação intensa; círculos pequenos -
precipitação fraca).
Fonte: Adaptada de Biggerstaff e House (1993).

À medida que os flocos continuam a cair, encontram temperaturas mais altas e derretem-se,
eles se transformam em gotas de chuva. As gotas de chuva são menores e caem mais rapidamente,
assim tanto os tamanhos das gotículas como suas concentrações são reduzidas diminuindo a
refletividade apresentada no radar. Isto leva a formação de uma estreita camada de refletividades
mais altas situada um pouco abaixo da altura do nível de 0 graus, também conhecido como nível de
congelamento. Em uma imagem PPI esta camada é vista como um estreito anel de alta refletividade
chamado de “banda brilhante” e pode ser visto na Figura abaixo.

Gelo: refletividade menor (em função de sua estrutura superficial).

Gelo em fusão: refletividade maior (a camada externa do gelo em processo de fusão


representa uma “falsa gota” de grande diâmetro).

Gotas de chuva: refletividade intermediária (gotas menores que as do gelo em fusão


identificadas pelo radar).

105
MET-011

Dois produtos PPI apresentando o fenômeno da banda brilhante.

Note que na figura anterior as duas imagens PPI mostram o fenômeno da banda brilhante em
forma de uma anel que não chega a se fechar completamente. Por outro lado, em uma imagem
VXSECT ou RHI a banda brilhante vai aparecer como uma estreita camada, conforme observado na
imagem a seguir.

Visualização da banda brilhante em uma composição de duas imagens RHI.

Na Figura anterior é possível ver o fenômeno da banda brilhante como uma camada de cor
amarelada no lado esquerdo da imagem. Em geral a banda brilhante é um indicativo de regiões com
nebulosidade estratiforme.
Portanto lembre-se: a banda brilhante pode ser vista como um anel (ou parte dele) em uma
imagem PPI, ou como uma camada em uma imagem RHI ou VXSECT, conforme indicado no
esquema abaixo.

106
MET-011

Esquema que mostra como é visualizada a banda brilhante.

3.4 Granizo – indicação por regiões que apresentam alta refletividade

No dia 28 de julho de 2009 as 21:00 GMT áreas de instabilidades atravessaram o Estado de


São Paulo conforme pode-se observar nas imagens do radar de São Roque e do satélite GOES 10.
Nota-se que na imagem de radar é possível detectar onde estão localizadas as estruturas convectivas
mais intensas. Na legenda estão indicados os valores de refletividade em dBZ e seu valor
correspondente de taxa de precipitação em mmh-1, segundo a relação Z-R de Marshall e Palmer.
Através da animação das imagens pode-se prever se uma determinada estrutura convectiva passará
por algum aeroporto ou aerovia e até se causará impacto ao tráfego aéreo. As áreas com
refletividades maiores que 53 dBZ indicam precipitação intensa e granizo. Nesse evento foram
registradas tempestades de granizo em São José dos Campos e Taubaté na região do Vale do
Paraíba em São Paulo.

107
MET-011

Imagens MAXCAPPI-Radar de São Roque e IFR-GOES 10 para o dia 28/07/2009 as 21:00 GMT.

3.5 Modelos conceituais de tempestades utilizando dados de radar

É possível estabelecer uma série de modelos idealizados de tempestades como síntese de


muitas observações, fundamentalmente baseadas no radar meteorológico.
Nenhuma tempestade se ajusta perfeitamente aos modelos propostos, porém os modelos
proporcionam um ponto de partida para as análises dos poucos dados de radar que em geral estão
disponíveis e também servem como uma ferramenta a mais para a previsão.
Podemos classificar as tempestades levando em conta o seu grau de organização, o
cisalhamento do vento e instabilidade nos seguintes tipos: tempestades ordinárias (ou de células
simples), multicélulas, supercélulas e linhas de instabilidade.

108
MET-011

Esquema que representa modelos de diferentes tipos de tempestades.

3.5.1 Princípio dos primeiros ecos detectados pelo radar

Se os primeiros ecos detectados pelo radar são altos (acima da isoterma de -15ºC, cerca de 9-
10 Km de altura) a convecção será potencialmente intensa, porque a corrente ascendente, será tanto
mais intensa quanto mais altos forem os primeiros ecos.
Se os primeiros ecos são baixos, é sinal de que as correntes ascendentes, que geram a
convecção têm pouca intensidade.

Primeiros ecos registrados pelo radar

3.5.2 Tempestades de células simples

Tempestades de células simples (ordinárias) ou de massa de ar são aquelas usadas para


descrever pequenas nuvens cumulonimbus isoladas, produzidas por convecção local em uma massa
de ar instável. Apresentam um ciclo de vida bem característico com três estágios: estágio inicial ou

109
MET-011

de cumulus, maturidade e dissipação (BYERS; BRAHAM, 1949). Na fase inicial a nuvem apresenta
correntes ascendentes, com maior velocidade no centro (~10 m s-1), nas bordas ocorre a mistura
com o ar ambiente. Não há presença de raios nem precipitação, em geral o radar meteorológico não
detecta esta fase. A fase madura caracteriza-se pelo aparecimento de raios e início da pancada de
chuva. A precipitação organiza a corrente descendente por arrasto. O ar seco exterior, que penetra
na nuvem por entranhamento produz evaporação das gotículas, provocando um resfriamento (o ar
torna-se mais denso) e acelera a corrente descendente. Como a nuvem apresenta-se orientada
verticalmente, devido ao fraco cisalhamento, a precipitação cai próxima à corrente ascendente. A
corrente ascendente, então começa a erosionar, dando início a fase de dissipação. Nesta fase, o topo
da nuvem atinge a tropopausa e se espalha horizontalmente. Ocorre o predomínio de correntes
descendentes, formando em superfície, uma massa de ar mais fria e úmida, terminando assim, o
ciclo de vida da tempestade . A Figura abaixo representa o esquema de uma tempestade simples
com todas as fases do seu ciclo de vida.

Ciclo de vida de uma Tempestade Ordinária.

Através de imagens reais em PPI e CAPPIs de diversos níveis que foram obtidas com o
radar meteorológico de Madri na Espanha no dia 24 de maio de 1993, podemos verificar as
diferentes fases de uma tempestade simples a cada 20 minutos entre 15:00Z e 15:40Z, conforme
mostrado na abaixo. Observando-se os CAPPIs das 15:20Z verifica-se que se unirmos as máximas
refletividades dos diferentes níveis obtêm-se um eixo quase vertical, o que é uma indicação do fraco
cisalhamento do vento.

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MET-011

Imagens PPI – Radar de Madri em 24 de maio de 1993.

Imagens CAPPI – Radar de Madri em 24 de maio de 1993.

3.5.3 Tempestades multicelulares

Tempestades multicelulares são caracterizadas pela sucessão de células, cada uma evoluindo
com seu ciclo de vida próprio, formando um aglomerado de nuvens. Uma característica das
tempestades multicelulares é a presença de uma frente de rajada, onde o ar quente e úmido da
camada limite é levantado pelo ar mais denso e frio, que diverge quando as correntes descendentes
atingem a superfície. Novas células tendem a se formar ao longo do avanço da frente de rajada,
sustentando a tempestade multicelular. Browning (1977) chama essas novas células de ‘células

111
MET-011

filhas’, sendo que essas novas células periféricas, formadas de cumulus congestus se deslocam em
direção ao sistema de tempestade e se fundem com a ‘célula mãe’. A Figura abaixo mostra o
modelo de uma tempestade multicelular.

Modelo de uma Tempestade Multicelular

As principais características da imagem radar de uma tempestade multicelular são:


 intensos valores de refletividade nas camadas médias-altas (convecção profunda) assim
como Echotops elevados, sinal das fortes correntes ascendentes que se originaram no
interior da tempestade;
 presença de elementos que assemelham-se a: zonas abalconadas, região de ecos fracos,
estruturas em gancho na vertical, etc;
 linha de união dos máximos de refletividade, Z, de cada nível, inclinada com relação a
vertical como consequência do cisalhamento vertical do vento; e
 forte gradiente de Z nas camadas baixas, como consequência da convergência de ar
quente e úmido com o ar descendente da convecção.

3.5.4 Tempestades supercélulas

Tempestades supercélulas apresentam uma característica que as distinguem das outras, que é
a corrente ascendente rotacional (WEISMAN; KLEMP, 1986). A rotação induz a formação de um
mesociclone (isto é, região de pressões mínimas) dentro da corrente ascendente. São o tipo mais
destruidor dentre todos. Supercélulas podem produzir fortíssimos ventos e até tornados. Destacam-

112
MET-011

se pela sua persistência, 2 a 6 horas, em um sistema de uma única célula. As correntes ascendentes
podem exceder 40 m s-1 capazes de sustentar grandes pedras de granizo. A estrutura de uma típica
tempestade supercélula é revelada pelo esquema mostrado a seguir através de CAPPIs a diferentes
níveis e cortes verticais.

Supercélula Severa.

Estrutura dos CAPPIs em uma típica tempestade supercélula:


 nos níveis altos observa-se a existência de altos valores de refletividade acima da zona de
fortes correntes ascendentes. A zona de precipitação, corrente abaixo aparece alongada pelo
vento que sopra no nível;
 nos níveis intermediários observa-se a estrutura em gancho, associada ao mesociclone que
foi formado. Embaixo da zona de forte refletividade, aparece a região de ecos fracos (REF).
A área de refletividades mais baixas é menor que aquela observada nos níveis superiores,
como consequência da menor intensidade do vento;
 em níveis baixos aparece a estrutura em gancho, forte zona de refletividade na zona de
alimentação e forte gradiente de refletividade.
Os cortes verticais AB e CD da Figura acima mostram a estrutura mais típica de uma
supercélula em seu estado quase-estacionário com os elementos mencionados anteriormente:
gancho na vertical, valores elevados de Z, etc.

113
MET-011

Na Figura a seguir observa-se que o modelo consegue representar bem a imagem PPI real de
uma estrutura convectiva em forma de gancho.

Modelo e uma imagem PPI que mostram estrutura em forma de gancho.

A estrutura de gancho também aparece na imagem VXSECT do radar meteorológico de


Bauru, conforme mostra a imagem da Figura abaixo.

Imagem VXSECT do radar de Bauru que mostra estrutura em forma de gancho.

3.5.5 Linhas de instabilidade

Uma Linha de Instabilidade é um sistema convectivo com células agrupadas e organizadas


em linha. Um elemento importante na organização da Linha de Instabilidade é a existência da
entrada de ar seco em níveis médios pela parte traseira. Este ar atua nos processos de evaporação da

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MET-011

própria chuva estratiforme que gera o sistema em sua parte média e traseira, produzindo uma
intensificação das correntes descendentes, parte da qual saem por sua parte dianteira, formando uma
microfrente de rajada muito ativa, conforme indicado no modelo conceitual abaixo.

Linha de Instabilidade.

As células mais ativas geram uma zona de precipitação moderada ou intensa em seu flanco
dianteiro caracterizada por ecos mais fortes. Na parte média e traseira aparece uma região ampla de
chuva estratiforme com ecos menos intensos. Próximo ao nível de congelamento observa-se uma
região de ecos moderados caracterizando a banda brilhante.
Em sua parte mais ativa é possível observar novas células em formação, em níveis altos,
geradas da mesma maneira que as tempestades multicelulares.
Na zona estratiforme, através de processos de liberação de calor latente, pode-se gerar uma
mesobaixa em níveis médios, L1, que produz uma zona ampla de ascensão, que provém da parte
dianteira e é advectada até a parte traseira.
Contrariamente existe outra circulação, externa ao sistema, de ar mais seco que penetra pela
parte traseira, em amarelo, e desce, gerando no flanco dianteiro uma microfrente de rajada muito
ativa. Adiante deste, e devido ao aporte de ar mais quente, pode-se formar uma estrutura de
mesobaixa, L2.
A precipitação, associada a zona mais ativa gera uma mesoalta, justamente abaixo delas

115
MET-011

porém de dimensões muito reduzidas, H1. Em níveis altos as correntes ascendentes, ao chegar a
tropopausa, podem gerar uma zona difluente e outra mesoalta, H2.

3.6 Interpretação de velocidades no radar Doppler (configurações de vento com


velocidade cortante)

Para compreender as configurações da velocidade radial Doppler, primeiramente tem-se que


considerar a geometria de uma varredura radar. Normalmente o feixe do radar é direcionado a um
ângulo de elevação maior que zero. Deste modo o feixe, à medida que se distancia do radar, eleva-
se cada vez mais sobre a superfície da terra. Devido a sua geometria, a energia que retorna devido
aos alvos próximos ao radar representa o campo de vento em níveis baixos, enquanto que a energia
proveniente de alvos mais distantes, o campo de vento em níveis mais altos.
Em PPI, a distância a partir do centro do display radar representa tanto uma mudança na
distância horizontal como na vertical. Para determinar o campo de vento a uma elevação particular
sobre o radar, deve-se examinar as velocidades radiais em um anel (círculo) a uma distância fixa do
radar. A elevação exata representada por um anel em particular depende do ângulo de elevação do
feixe radar.

Geometria de uma varredura azimutal. Os anéis externos em um produto PPI representam


informação de níveis mais altos.

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MET-011

Nos exemplos abaixo, configurações de velocidade radial Doppler idealizadas foram


construídas através de processamento, partindo de configurações de campos verticais de vento mais
simples, para configurações mais complicadas, associadas aos deslocamentos de frentes e
tempestades.
As configurações Doppler de velocidade (à direita) correspondem ao perfil vertical de vento
(à esquerda), onde as rebarbas do vento representam a velocidade e direção do vento a partir do
solo, até uma altura de 24.000ft. As velocidades negativas (azul-verde) significam um deslocamento
em direção ao radar e, as positivas (amarelo-vermelho), afastando-se do radar. A localização do
radar está no centro do “display”.

Produto PPI apresentando campo de vento com direção constante e velocidade variando
com a altura.

Para o primeiro exemplo, a direção é constante com a altura, mas a velocidade aumenta de
20kt no solo para 40kt em 24.000ft. Note no campo de velocidade radial, que a máxima velocidade
de chegada ocorre no oeste, e, a máxima velocidade de saída, no leste; enquanto que para o norte e
sul o radar mede velocidade radial zero. Isto ocorre porque os ventos estão perpendiculares ao feixe
radar quando observado nas radiais norte e sul.

Produto PPI: campo de vento com direção constante com a altura e velocidade variando.

117
MET-011

No segundo exemplo, os ventos aumentam de 20 para 40Kt entre zero e 12.000ft e depois
diminuem novamente para 20Kt a 24.000ft. A direção do vento é constante. O feixe radar intercepta
o nível de 12.000ft ao longo do anel a meia-distância do “display” radar, onde vemos as velocidades
máximas de chegada e saída do radar.

Difluência.

No terceiro exemplo, vemos um campo de vento que muda a direção de norte para sul, mas
com velocidade constante em todos os níveis. A linha de velocidade radial zero agora curva-se para
o campo de vento perpendicular ao radar. As velocidades máximas radiais são observadas onde o
feixe radar aponta diretamente para a direção do vento que se aproxima ou se afasta.

Confluência.

No quarto exemplo, vemos o mesmo efeito; porém neste caso o fluxo é confluente ao invés
de difluente, como no caso anterior.

3.6.1 Método para interpretação de imagens de velocidade radial

Como vimos anteriormente o melhor produto para analisarmos o campo de ventos é um


PPI. Para utilizarmos esse método devemos escolher um dos anéis da imagem (range ring) pois,

118
MET-011

como vimos anteriormente, os anéis próximos a ERM no fornecem informação de velocidade em


níveis mais baixos e anéis mais afastados de níveis mais altos.

Escolhido um anel (distância) e com a informação do ângulo de varredura da PPI podemos


com a ajuda do gráfico da Figura abaixo determinar, para condições normais de refração, o nível
que estamos avaliando o campo de vento.
Para determinar a direção do vento:
1 – Escolher um anel do produto;
2 – Localizar a linha de velocidade radial Doppler igual a zero (isodop zero);
3 – A direção do vento é determinada onde o anel (range ring) encontra a “isodop” igual
zero. A direção do vento é sempre perpendicular ao feixe-radar neste ponto. Lembre-se que para
Meteorologia Aeronáutica temos para direção do vento de onde ele sopra, ou seja, de velocidades
com valores negativos para velocidades com valores positivos.
Para determinar a velocidade do vento:
1 – Escolher um anel do produto;
2 – Localize no anel o ponto em que a velocidade é máxima. Normalmente esse ponto
localiza-se a 90º do ponto em que a “isodop” zero encontra o anel;
3 – Ignore o sinal, isto é, não importa para determinação da velocidade se o alvo está se
afastando ou se aproximando do radar. Use somente o valor absoluto da velocidade. Isto é feito
porque na maioria das vezes encontraremos no anel dois valores máximos: um positivo e outro
negativo.
A Figura abaixo exemplifica o processo descrito.

Aplicação do método para interpretação de um produto de velocidade radial.

119
MET-011

3.6.2 Configurações de velocidade com direções cortantes

Os exemplos a seguir mostram onde há mudança na direção do vento.

Vento variando em direção com a altura no sentido anti-horário. A “isodop” zero toma a
forma de um “S” invertido.

No primeiro caso acima, os ventos variam de sul no solo para leste a 24.000ft. a velocidade
do vento não varia. O primeiro anel na tela do radar mostra azul para o sul e laranja para o norte
representando um vento de sul. O anel exterior mostra azul para o leste e laranja para o oeste
representando um vento de leste. Os anéis intermediários mostram uma variação progressiva de sul
para leste à medida que se distancia do centro do display. Note o formato “S” invertido para a linha
de velocidade radial zero. Esta é a característica de ventos variando (no sentido anti-horário) com a
altura.

Vento variando em direção com a altura no sentido horário nos níveis mais baixo. A “isodop”
zero toma a forma de um “S”.

120
MET-011

No segundo exemplo, a interpretação é exatamente oposta ao exemplo anterior nos níveis


mais baixos (até 12.000 ft). O vento varia (no sentido horário) com a altura e a linha de velocidade
radial zero assume o formato de um “S”.

Vento variando em altura no sentido horário e anti-horário. A “isodop zero” toma forma
inicialmente de “S” e após de “S” invertido.

No terceiro exemplo, o vento varia (no sentido horário) com a altura até 12.000ft para
retornar depois (no sentido anti-horário) até 24.000ft. Os anéis interiores mostram uma
configuração da linha de velocidade radial zero em “S”, enquanto que nos anéis exteriores vemos o
oposto (“S” invertido).

121
MET-011

Apresentação de um produto PPI antes da passagem de uma frente fria (hemisfério sul)
sobre a Estação Radar Meteorológico.

No quarto exemplo, uma frente fria se desloca de sudoeste em direção ao radar. Os ventos a
frente do sistema frontal são de noroeste. A configuração Doppler de velocidade ilustra os ventos de
noroeste. Atrás do sistema frontal, onde os ventos são de sudoeste, todos os ventos estão
direcionados para o radar e aparecessem em cores azul e verde. A fina (exata) fronteira entre as
cores vermelha e verde na parte superior do display define a frente fria.
A figura 7.11 resume alguns dos diversos padrões de velocidade radial doppler possíveis de
serem apresentados em um produto PPI.

Padrões de velocidade radial doppler possíveis em um produto PPI.

3.6.3 Ventos retilíneos e rotacionais

As configurações Doppler de velocidade foram processadas para uma pequena área (display)
situada ao norte da posição do radar. Dentro desse display, podemos estudar as configurações de
vento para diversos campos de escoamento do vento, tais como: uniforme, rotacional, convergente
ou divergente. Tais configurações seriam similares aos campos que um operador encontraria na
natureza, com ventos algumas vezes uniformes escoando sobre a área de cobertura do radar,

122
MET-011

algumas vezes violentos, quando da ocorrência de um ciclone de mesoescala associado a uma


tempestade severa; ou quando acontecem fortes rajadas de vento.

Janela ao norte em um produto de radar.

O diagrama mostra a localização e o tamanho (27x27 NM) da janela do “display” usado para
simular os diversos tipos de configuração de velocidades Doppler. A janela está a 65NM a norte do
radar localizado no centro da região do “display”.

Esquema que mostra as radiais do radar

Portanto as próximas figuras vão mostrar apenas a janela que está situada ao norte da posição
do radar. Para a análise do vento temos que entender como as radiais que se originam no radar estão

123
MET-011

“passando” pela janela. Observe como as radiais estão direcionadas na figura, apenas uma radial
está direcionada de norte para sul, justamente a que passa pelo centro da janela, as outras radiais
estão levemente inclinadas,conforme mostra a figura anterior à direita.

Agora vamos estudar diferentes configurações do vento dentro da janela. Podemos representar
o campo do vento através de vetores. No primeiro exemplo vamos estudar um campo de vento que
flui de oeste para leste na região da janela, conforme mostrado na figura a seguir.

Campo de vento de oeste sobre a janela situada ao norte do radar.

Lembre-se que o radar só consegue medir a componente radial do vento, portanto se


processarmos uma imagem com o vento resultante deste escoamento de oeste teremos a figura a
seguir.

124
MET-011

Representação da velocidade radial do vento de oeste em cores.

Note que a figura mostra em destaque uma grande isodop de norte para sul na cor cinza. Isto
ocorre porque a radial do radar nestes pontos forma um ângulo de 90 graus com o vento fluindo de
oeste, portanto a velocidade do vento projetada na direção da radial é zero. Na extremidade inferior
à direita da figura vemos uma pequena área na cor vermelha, que indica a componente radial que se
afasta do radar meteorológico, e no canto inferior à esquerda vemos uma pequena área na cor verde,
que indica a componente radial que se aproxima do radar meteorológico. Repare que a legenda de
cores indica a velocidade do vento em nós. Cores quentes (vermelho) para valores positivos (se
afastam do radar) e cores frias (azul) para valores negativos (em direção ao radar).

A partir de agora vamos representar o campo de vento (representado por vetores), lado a lado
com sua representação em cores da componente radial processada pelo software de visualização do
radar meteorológico, como observado abaixo.

125
MET-011

Apresentação assumida pela janela ao norte de um produto radar para um


escoamento uniforme de oeste.

Um campo de vento que está girando ao redor de um ponto no centro da janela, terá uma
representação como indicada na Figura a seguir. A velocidade do vento é maior quanto mais
próxima a distância do centro da janela. Este é um modelo que representa uma circulação ciclônica
de mesoescala associada a uma tempestade severa no hemisfério sul.

Fluxo rotacional: ciclone de mesoescala (H.S.).

No exemplo da Figura acima têm-se um campo de vento que está girando ao redor de um
ponto no centro da caixa. A velocidade do vento é de 40 KT a 2,5 NM do centro e decresce até zero,
na extremidade da caixa, à medida que se distancia do centro. Esta é uma representação de uma
circulação ciclônica de mesoescala associada a uma tempestade severa. O “display” mostra a linha
de zero diretamente no meio da janela devido ao vento ser perpendicular ao feixe de radar nesta
linha. Contudo, à esquerda e à direita da linha, aparecem dois pontos de velocidades mais intensas,
aproximando-se (à esquerda) e distanciando-se (à direita) do radar. Esta é uma indicação
(assinatura) típica de rotação do vento em torno do eixo do feixe radar.
Se tivéssemos um campo de vento girando no sentido anti-horário (circulação anti-ciclônica
no hemisfério sul) dentro da janela, teríamos uma configuração conforme observado na figura a
seguir.

126
MET-011

Fluxo rotacional: anticiclone (H.S.).

Nas próximas figuras estudaremos os ventos que fluem se afastando ou se aproximando do


centro da janela de visualização.

Fluxo divergente: rajadas de ventos.

Ventos retilíneos frequentemente se originam em circulações chamadas de rajadas, na qual o


ar frio descendente se choca com o solo em alta velocidade e se espalha em todas as direções. No
limite fronteiriço do ar frio e o ar quente surge uma frente chamada de frente de rajada. A imagem
acima mostra a velocidade radial Doppler em uma rajada idealizada. Esta configuração corresponde
a um fluxo divergente simétrico onde o centro da rajada está no centro da janela 65nm a norte do
radar. Note as velocidades mais fortes (azul e vermelho) ao longo do eixo do feixe radar e a linha de
zero perpendicular a este eixo.

Ventos retilíneos que vão em direção do centro da janela indicam uma forte convergência e
terão a configuração conforme mostrado na figura seguinte.

127
MET-011

Modelo de circulação dos ventos que indicam convergência.

Uma vez estudado a configuração dos ventos em uma janela situada ao norte da posição do
radar, podemos estender este entendimento para qualquer posição dentro do display, a janela
poderia estar em qualquer posição em relação ao radar meteorológico conforme a figura seguinte.

Esquema de janelas situadas ao norte, leste, sul e oeste da posição do radar.

Na Figura anterior o radar meteorológico está situado no centro da imagem. Cada janela
representa o mesmo tipo de circulação (ciclônica no hemisfério sul). Imagine que você estivesse em
pé no centro da imagem. Repare que se você olhasse para cada uma das janelas, veria sempre a cor
vermelha a esquerda da radial do radar, e a cor azul a direita da radial do radar (para o caso de
circulação ciclônica no hemisfério sul).

128
MET-011

Portanto quando verificarmos em uma imagem PPI de vento, regiões com cores diferentes
(quentes e frias) adjacentes, em uma pequena área do display, devemos primeiramente identificar
qual radial que passa pela região, e fazer a análise da circulação dos ventos. Poderemos identificar
regiões de convergência, divergência, circulação ciclônica ou anticiclônica dentro da imagem PPI, e
até configurar alertas para tempestades e regiões de microexplosão ou microburst.

Imagem PPI com regiões de áreas divergentes.

Na figura anterior podemos observar em uma imagem PPI de vento, duas regiões de
divergência ao sul e a nordeste do radar meteorológico que está situado no centro da imagem. As
duas regiões estão identificadas pela oval branca e por setas brancas que indicam a direção dos
ventos em relação a radial do radar naquele ponto. Note que nas duas regiões existe uma pequena
área de cor verde próxima a uma área de cor amarela sobre a radial do radar, indicando a
divergência.

NOTA: MESOESCALA – Escala de fenômenos meteorológicos com extensão variando de alguns


quilômetros até cem quilômetros aproximadamente. Fenômenos de menores dimensões são
classificados como de Microescala, enquanto que os de maior extensão são classificados
como de Escala Sinótica.

129
MET-011

3.6.4 Configurações de velocidades associadas às assinaturas de tornados

Dentre os fenômenos mais importantes associados à convecção intensa estão os tornados.


Quando um tornado se faz presente, seu tamanho normalmente não é maior que uma ou duas
larguras do feixe emitido. Dependendo da geometria do feixe radar emitido, da distância do tornado
até o radar e da localização do feixe radar relativo ao tornado, os fortes ventos do tornado
normalmente irão ocupar um ou dois “pixels” da imagem. “Pixels” adjacentes apresentarão
acentuada diferença de velocidade e sempre com ventos contrários aproximando-se e afastando-se
do radar. Na Figura a seguir um ciclone de mesoescala e o tornado estão no meio de um feixe da
varredura do radar, desta forma a banda de velocidade Doppler zero em cinza separa o display em
duas metades.

Ciclone de mesoescala dando origem a um tornado.

Com frequência os ventos serão tão intensos em um tornado que as velocidades observadas
por um radar serão ambíguas no pixel que contém o tornado. Os TVS (Tornado Vortex Signatures)
apresentam diferentes características que dependem da geometria e se as velocidades são ou não
ambíguas. As duas figuras abaixo mostram exemplos de TVS. Na Figura a seguir, a circulação foi
movida para a metade da largura do feixe à direita. As velocidades são ambíguas.

Velocidades ambíguas em um produto apresentando TVS (Tornado Vortex Signature).

130
MET-011

Na Figura abaixo, o TVS está localizado 2.5 NM a nordeste do centro do ciclone:

Velocidades ambíguas em um produto apresentando TVS (Tornado Vortex Signature).

3.6.5 Localização de tornados – ecos em gancho e “pares de velocidade com sentidos


opostos”

Tornados são frequentemente localizados no centro de um eco em formato de gancho no


lado sudoeste de trovoadas. O gancho é melhor observado no campo de refletividade. Esta imagem
mostra um campo de refletividade que contém vários ecos em forma de gancho associados a
trovoadas que ocorreram no Tennessee e Kentucky em 18 de maio de 1995.

Produto de refletividade apresentando ecos em forma de gancho.

Uma outra maneira de se determinar se em uma tempestade há a presença de tornado é


examinar o campo de velocidade radial. Em um ciclone de mesoescala, a pequena circulação com
seu centro abaixo das correntes descendentes de uma super-célula , é detectável como um par de
velocidades com sentidos opostos.

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MET-011

Produto de velocidade radial Doppler apresentando pontos em que há um par de velocidades com
sentidos opostos.

O par de velocidades com sentidos opostos é orientado de maneira tal que uma área
concentrada de ventos radiais movendo-se para fora do radar aparece em um lado do eixo do feixe,
enquanto que área concentrada de ventos radiais movendo-se em direção ao radar aparece no lado
oposto do eixo do feixe. Quando os “pixels” centrais próximos ao eixo do feixe mostram
excepcionalmente ventos fortes, esta assinatura é chamada TVS (Tornado Vortex Signature). A
Figura acima mostra o TVS no campo de velocidades da mesma trovoada de Tennessee and
Kentucky. Valores negativos (azul e verde) denotam movimentos em direção ao radar e valores
positivos (amarelo e vermelho) representam movimentos para fora do radar.
A Figura abaixo mostra o campo de refletividade de uma trovoada que produziu um tornado
no TEXAS em 29 de maio de 1995. O eco em forma de gancho no campo de refletividade está
localizado próximo a Newcastle.

Eco em forma de gancho.

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MET-011

A Figura abaixo mostra o campo de velocidades associado ao eco em forma de gancho em


Newcastle (“pixels” vermelhos e verdes adjacentes entre si). O radar está situado fora da figura no
canto inferior direito, conforme está indicando a radial que atravessa transversalmente a imagem e
os anéis de distância. As duas setas indicam o sentido de rotação (ciclônico no hemisfério norte) da
tempestade.

Par de velocidades com sentidos contrários.

3.6.6 Assinaturas de furacões no radar – áreas circulares de moderada a alta


refletividade

Furacões apresentam-se claramente em um radar como áreas circulares de moderada a alta


refletividade, frequentemente envolvendo um centro de baixa refletividade.

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Furacão Andrew.
A imagem acima apresenta o campo de refletividade da parede de nuvens convectivas que
cercam o olho do furacão Andrew. A simetria mostrada nesta imagem indicou que o Andrew foi um
furacão muito bem desenvolvido. O anel de cor laranja possui alta refletividade associada a
convecção encontrada na parede do olho.

Furacão Erin.
A Figura acima mostra o campo de refletividade de uma varredura do furacão Erin em 02 de
agosto de 1995. A falta de simetria na indicou que Erin foi um furacão particularmente fraco, se
comparado com Andrew.

Produto de velocidade radial Doppler apresentando rotação ciclônica (H.N.)

134
MET-011

O campo de velocidades do furacão Erin revela uma intensa rotação anti-horária


(Hemisfério Norte) responsável pelo fluxo entrando ao norte da tempestade e o fluxo saindo no lado
sul. Valores negativos (azul-verde) denotam movimentos voltados na direção do radar e valores
positivos (amarelo-vermelho) denotam movimentos para fora do radar.

Furacão Roxane.

A figura acima mostra o campo de refletividade de uma varredura do furacão Roxanne em


19 de outubro de 1994. Os altos valores de refletividade ao norte e leste do olho são associados à
intensa convecção presente na parede do olho.

135
MET-011

É! Terminou. Finalizamos, nosso estudo sobre interpretação de imagens de radar


meteorológico. Esperamos que tenha sido proveitoso e o objetivo de transmitir a você, caro aluno,
o conhecimento para iniciar seus trabalhos na arte de interpretar as informações que o radar
entrega na forma de produtos.
Lembre-se! O curso hora ministrado representa apenas o começo, no decorrer da
operação há espaço para a aquisição de conhecimento e novas descobertas. É o que essa
ferramenta extraordinária, o radar meteorológico, proporciona.

Obrigado e até mais!!!

136
MET-011

REFERÊNCIAS

BRASIL, TECSAT, MANUAL DO CURSO DE OPERAÇÃO DO RADAR METEOROLÓGICO


RMT0100D [SÃO PAULO-SP], 2002.

BRASIL, ICEA, APOSTILA DO CURSO DE OPERAÇÃO DO POSTO DE VISUALIZAÇÃO


REMOTA DOS RADARES METEOROLÓGICOS – CONHECIMENTOS BÁSICOS DE
METEOROLOGIA RADAR [SÃO PAULO-SP], 2014.

QUEIROZ, A. P., 2009, MONITORAMENTO E PREVISAO IMEDIATA DE TEMPESTADES


SEVERAS USANDO DADOS DE RADAR. DISERTAÇÃO DE MESTRADO. INSTITUTO
NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SÃO PAULO.

MASSAMBANI, OSWALDO FUNDAMENTOS DO RADAR. SÃO PAULO, SÃO PAULO.

137
MET-011

ÍNDICE

APRESENTAÇÃO..................................................................................................………… 4

O RADAR METEOROLÓGICO................................................................................………. 7

INTRODUÇÃO…………………………………..................................................…… 7

HISTÓRICO DO RADAR METEOROLÓGICO…................................................…. 8

TIPOS DE RADARES E SUAS APLICAÇÕES...............................................……… 9

COMO O RADAR FUNCIONA……………………………................................…… 10

TIPOS DE RADARES METEOROLÓGICOS………..............................................… 13

RADARES METEOROLÓGICOS DO BRASIL…………………………..............… 18

EQUIPAMENTOS DO RADAR METEOROLÓGICO……………………………… 21

PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE DADOS E MODOS DE OPERAÇÃO………….. 23

PRODUTOS DO RADAR METEOROLÓGICO.......................................................………. 27

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….. 48

PPI (PLAN POSITION INDICATOR)..............................................................……… 48

RHI (RANGE HEIGHT INDICATOR)..............................................................……... 50

CAPPI (CONSTANT ALTITUDE PPI).............................................................……... 52

MAXDISPLAY (MAXIMUM DISPLAY)...........................................................……. 54

VXSECT (VERTICAL CROSS SECTION).....................................................………. 56

ECHO TOP (MAXIMUM HEIGHT OF ECHO)................................................…….. 59

ECHO BASE (MINIMUM HEIGHT OF ECHO)...............................................……... 63

VAD (VELOCITY AZIMUTH DISPLAY)..........................................................……. 66

VVP (VOLUME VELOCITY PROCESSING)..................................................……... 71

STP (STORM TRACKING PRODUCT)..........................................................………. 73

WARNING......................................................................................................………... 74

LTB (LAYER TURBULENCE)........................................................................………. 75

138
MET-011

REFLETIVIDADE DIFERENCIAL………………………………………………….. 77

DIFERENÇA DE FASE ΦDP E KDP………………………………………………… 80

COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO ΡHV…………………………………………... 84

ZHAIL (Z-BASED HAIL DETECTION)…………………………………………….. 87

SRI (SURFACE RAINFALL INTENSITY)………………………………………….. 88

DPSRI (DUAL POLARIZATION RAINFALL INTENSTITY)……………………... 89

PAC (PRECIPITATION ACUMULATION)…………………………………………. 91

VIL (VERTICAL INTEGRATED LIQUID WATER CONTENT)………………….. 92

RTR (RAIN TRACK)…………………………………………………………………. 93

INTERPRETAÇÃO DE IMAGENS...................................................................……………. 97

INTRODUÇÃO……………………………………………………………………….. 97

DETECÇÃO DE PRECIPITAÇÃO..................................................................………. 97

CARACTERÍSTICAS DA REFLETIVIDADE..................................................……... 98

GRANIZO...............................................................................................................…... 110

MODELOS CONCEITUAIS DE TEMPESTADES UTILIZANDO DADOS DE


RADAR...........................................................................................................………... 111

INTERPRETAÇÃO DE VELOCIDADES NO RADAR


DOPPLER.........................................................................................................………. 119

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 140

139

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