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GEOtermia

ENERGIA RENOVÁVEL EM PORTUGAL


Geotermia - Energia Renovável em Portugal

A Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG), no âmbito das suas


competências, deve exercer as funções de autoridade nacional nos domínios da
energia e dos recursos geológicos, contribuindo para a definição, implementação
e avaliação das políticas para estes setores, visando a sua valorização, utilização
apropriada, maximizando o valor acrescentado para Portugal, e acompanhando
o funcionamento dos respetivos mercados e empresas.
A geotermia faz a ligação entre as duas grandes áreas da DGEG, ao nível dos
recursos geotérmicos (que são recursos endógenos) e do seu aproveitamento
energético, como energia renovável, sendo importante a sua valorização e
aproveitamento.
A DGEG, como autoridade nacional e como organismo detentor da informação e
cadastro dos recursos geotérmicos de Portugal Continental, com esta
publicação pretende fazer o ponto de situação do aproveitamento geotérmico,
numa perspetiva de sensibilização, valorização e criação de condições tendentes
ao desenvolvimento sustentável desta forma de energia renovável que tem tido, a
nível europeu, um crescimento considerável nos últimos anos.

Lisboa, outubro de 2017

Mário Guedes
Diretor Geral de Energia e Geologia
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

APRESENTAÇÃO

A situação da geotermia O Decreto-Lei nº 130/2014, de 29 de agosto, com as reformulações introduzidas


de baixa entalpia pelo Decreto-Lei nº 33/2016, de 28 de junho, estabelece que é competência da
em Portugal DGEG, promover a utilização de fontes de energia renováveis, através da
Perspetivas de evolução e implementação de programas a tal dirigidos e da promoção de iniciativas e ações
principais problemas específicas junto dos agentes económicos e consumidores. O diploma legal relativo
ao regime jurídico da revelação e aproveitamento dos recursos geológicos (Lei nº
54/2015, de 22 de junho), nomeadamente a alínea o) do Art.º 2º, estabelece que os
recursos geotérmicos são “os fluidos e as formações geológicas do subsolo, cuja
temperatura é suscetível de aproveitamento económico.”.
Uma geologia de caracter complexo e diversificado dotou o País de um apreciável
potencial geotérmico, evidenciado pelo elevado número de ocorrências de águas
com temperaturas superiores a 20ºC.
A partir dos dados técnicos dispersos pelos processos das concessões e dos
relatórios arquivados na DGEG, relatórios estes sujeitos a confidencialidade
estabelecida nos contratos de outorga de direitos, foi feito um levantamento
exaustivo das ocorrências com temperatura superior a 20ºC.
Dos levantamentos efetuados é possível observar que a grande maioria das
ocorrências termais têm temperaturas relativamente baixas, mas suscetíveis de
poderem ser elevadas, quando sujeitas a trabalhos de prospeção e pesquisa em
profundidade, como se tem vindo a verificar nos últimos anos, em que os
concessionários estão a realizar captações cada vez mais profundas,
acompanhadas de aumento de temperatura.
É obrigação dos concessionários fazer o melhor aproveitamento dos recursos,
segundo normas técnicas adequadas e em harmonia com o interesse público do
melhor aproveitamento desses bens. Desta forma, a DGEG, através dos
mecanismos legais de gestão dos recursos, nomeadamente do enquadramento
legal das concessões e da aprovação dos planos de exploração, tem vindo a
sensibilizar os concessionários para perspetivarem o aproveitamento do calor das
ocorrências cuja temperatura é superior a 20ºC. Nestes casos constitui obrigação
contratual a elaboração de estudos de viabilidade de aproveitamento do calor das
ocorrências. Realça-se que esta perspetiva tem merecido acolhimento por parte da
maioria dos concessionários.
Assim, o calor de algumas das águas minerais atualmente qualificadas deve ser
utilizado para outros fins, que não só a balneoterapia, constituindo o uso em cascata
destes recursos uma forma racional do seu aproveitamento.
Portugal, tal como a União Europeia, aposta no recurso à energia de origem
renovável em substituição e com vista à redução da dependência de energia de
origem fóssil. Foi com esta perspetiva que a União Europeia aposta também na
valorização dos recursos endógenos, ou seja, nas fontes de energia renovável. Mas,
para além deste fator, há ainda a considerar que estas energias renováveis têm um
efeito nulo ou muito reduzido no ambiente, nomeadamente no que respeita à
emissão do dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa.
No âmbito do Portugal 2020 e de outros instrumentos financeiros, nomeadamente
no Fundo de Apoio à Inovação, poderão ser desenvolvidas ações que conduzam ao
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

aumento de utilização da energia geotérmica, podendo também contribuir para o


desenvolvimento das regiões onde ocorrem estes recursos.
Nesta publicação faz-se uma abordagem predominantemente técnica do
aproveitamento da energia geotérmica, embora não abordado é também importante a
abordagem do ponto de vista económico, estabelecendo um valor comparativo entre
o recurso geotérmico (a determinada temperatura) e outras formas de energia de
origem renovável e não, nomeadamente de origem fóssil.
Nesta perspetiva, a DGEG continuará com os trabalhos desencadeados nos últimos
anos, ou seja, a execução de ações que conduzam ao aumento do aproveitamento da
energia geotérmica em Portugal Continental.

Lisboa, outubro de 2017

Jorge Seguro Sanches


Secretário de Estado da Energia
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

ÍNDICE

PREÂMBULO 2

1. INTRODUÇÃO E CONCEITOS 6

2. POTENCIAL GEOTÉRMICO 8
2.1 Introdução 8
2.2 Estrutura interna da Terra 8
2.3 Reservatórios e recursos geotérmicos 11
2.4 Ocorrências geotérmicas em Portugal Continental 11
2.5 Enquadramento geológico 14
2.6 Quimismo das ocorrências geotérmicas 18
2.7 Utilização da energia geotérmica em Portugal Continental 20
2.8 Potencial geotérmico em Portugal Continental 23
2.9 Ocorrências geotérmicas dos Açores 25
2.9.1 Quimismo das ocorrências geotérmicas de baixa entalpia dos Açores 25
2.9.2 Utilização da energia geotérmica nos Açores 26
2.9.3 Potencial geotérmico dos Açores 27

3. A TECNOLOGIA 32
3.1 Aplicações térmicas 32
3.1.1 Sistemas para uso direto de recursos geotérmicos 32
3.1.2 Sistemas geotérmicos superficiais 33
3.2 Produção de eletricidade 37
3.2.1 Geotermia de média e alta entalpia 37
3.2.2 Geotermia estimulada 39
3.3 Redes de aquecimento geotérmico 40

4. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E SOCIAL DA GEOTERMIA 42


4.1 Aspetos ambientais 42
4.2 Aspetos sociais 43

5. REVELAÇÃO E APROVEITAMENTO DOS RECURSOS GEOTÉRMICOS 44


5.1 Estudo prévio: recolha e avaliação dos dados existentes 44
5.2 Prospeção e pesquisa 45
5.3 Captação do recurso geotérmico, ensaios e estudo de viabilidade 45
5.4 Exploração e valorização do recurso geotérmico 46
5.5 Especificidades de projetos geotérmicos de produção de eletricidade 47

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ANEXO 52
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

PREÂMBULO

Porquê desenvolver a No limiar do século XXI, o imperativo água e energia.


utilização dos recursos do desenvolvimento sustentável Os cenários do crescimento
obriga a que a Sociedade se económico mundial nos próximos
geotérmicos encaminhe para modelos de anos, centrados maioritariamente
desenvolvimento condicionados por nas economias emergentes,
três problemas fundamentais: mostram que as energias
a) A escassez da energia conduzindo convencionais não serão capazes
à necessidade de estabelecer de suportar a procura em
medidas de eficiência energética e de condições de sustentabilidade
aproveitamento de recursos adequadas.
endógenos renováveis; Será, por isso inevitável o recurso
b) A mudança climática, hoje crescente às energias de origem
realidade incontornável, que conduz renovável.
à necessidade de reduzir a emissão É neste contexto que interessa
para atmosfera de dióxido de perspetivar o papel que os
carbono e de outros gases com recursos geotérmicos podem
efeito de estufa, e, desempenhar no futuro, muito
c) O crescimento demográfico particularmente em Portugal, tendo
mundial, cada vez mais concentrado em conta a sua distribuição, as
nas grandes metrópoles, com suas especificidades de
padrões de consumo crescentes, desenvolvimento e de exploração e
reforçando a procura de alimentos, a procura.

A geotermia como indústria A geotermia como indústria, Foi depois dessa década que
em Portugal alicerçada no conhecimento nasceu o Projeto Geotérmico dos
geológico, hidrogeológico e Açores, hoje realização
geotérmico de um território, pode ser emblemática da geotermia
encarada nas seguintes vertentes: europeia para a produção de
a) A geotermia clássica, ou eletricidade (27,8 MW de
tradicional, compreendendo a capacidade total instalada, energia
produção de eletricidade e o anual produzida de 171,6 GWh,
aquecimento urbano; ano de 2016), projeto que coloca
Portugal no mapa dos
b) A geotermia nova, ou geotermia aproveitamentos geotérmicos
superficial que aproveita o potencial mundiais (Carvalho et al. 2015).
térmico do solo e do subsolo a
pequenas profundidades ou da água A energia geotérmica satisfaz
dos aquíferos superficiais, incluindo o atualmente cerca de 0,4% das
armazenamento de calor e frio nos necessidades de energia elétrica
aquíferos e, do mundo. Em Portugal esse valor,
estatisticamente, é também de
c) A geotermia do futuro com 0,4%, mas como é sabido está,
sistemas geotérmicos estimulados por força do contexto geológico,
em meios de elevada temperatura concentrado na Ilha de S. Miguel
mas de pequena permeabilidade nos nos Açores, onde a produção
quais se incrementa a conectividade alcança 42% das necessidades
natural das formações com
fracturação hidráulica ou outra. elétricas da Ilha, cerca de 22% das
do arquipélago.
A partir do primeiro choque petrolífero
de 1973, verificou-se um grande No que respeita aos usos diretos,
desenvolvimento da geotermia à para além das aplicações
escala mundial e à conceptualização balneoterápicas e balneológicas,
de novos modelos de exploração do lúdicas, recreativas, funcionais e
recurso. até gastronómicas em curso em

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Portugal Continental e nos Açores cerca de 0,8 MWt (Carvalho et al. existe procura.
desde tempos imemoriais, o 2015). Embora em 2010 tenha sido
interesse das nascentes termais Desde essa data, outros projetos têm realizada, em Portugal, uma tentativa
para outras aplicações sido equacionados e alguns de lançamento de projetos do tipo
geotérmicas vem também da concretizados noutros polos termais Sistema Geotérmico Estimulado
década de 70 do século passado. portugueses (S. Pedro do Sul, (EGS), estima-se que o investimento
A primeira realização geotérmica Monção, Longroiva, Alcafache, neste tipo de projetos seja avultado,
em Portugal para usos diretos foi Aregos, Caldas da Rainha, etc.) mas sendo também grande o
realizada nas Caldas de Chaves o crescimento tem sido tímido e desconhecimento em relação aos
para climatização da piscina titubeante. Será, contudo, nos polos reservatórios, o que dificulta o
municipal, estando hoje, o projeto termais que serão de esperar a curto aparecimento de iniciativas do setor
alargado a dois hotéis da cidade prazo novos desenvolvimentos privado.
com uma potência instalada de particularmente naqueles em que já

Dificuldades de A geotermia como indústria tem potável (Carvalho et al. 1990). Ao fim


introdução da geotermia dificuldades específicas de cada um de quase uma década de operação o
dos tipos atrás considerados, em projeto abortou por se ter verificado o
relação à penetração no mercado, colapso da coluna de revestimento do
mas uma característica comum: os furo, mas pode ainda hoje ser
custos de investimento são mais apresentado como paradigmático
elevados do que os das fontes para a região de Lisboa e
produtivas concorrentes e existe eventualmente para outros polos
ainda o risco geológico associado à localizados nas orlas sedimentares
revelação do recurso. Esta última portuguesas onde exista procura
circunstância não se coloca no caso adequada.
da geotermia superficial, o que Assiste-se, com atraso de vários
constitui uma mais-valia significativa anos, ao início da disseminação
em relação às opções clássicas. industrial das operações de geotermia
Do ponto de vista do risco geológico, superficial em Portugal. Estas
e no caso particular de Portugal, há operações estão a nascer, sem
que melhorar as metodologias de enquadramento institucional, e
prospeção e de captação de recursos geralmente ao mais baixo nível
geotérmicos, de molde a diminuir os técnico no que se refere à captação
custos de investimento e melhorar a do calor ou da água. É urgente
taxa de sucesso. Trata-se quase de aprontar regulamentação para esta
fazer a quadratura do círculo, mas há atividade e fazê-la cumprir no terreno,
que reconhecer que estamos presos domínio em que, como é sabido, os
a metodologias rotineiras que devem Portugueses não são muito dotados
ser atualizadas. (vide o desnorte da gestão do solo e
Uma característica relevante das do subsolo no território nacional
operações geotérmicas portuguesas apesar da legislação existente).
do Continente, e de alguns espaços Além de numerosas outras barreiras
termais dos Açores (e.g. Ferraria, no domínio da aceitação técnica e
Banhos da Coroa, Caldeira Velha, social da geotermia, assinale-se a
Carapacho), é a da coexistência da generalizada falta de conhecimento e
exploração geotérmica com os usos de confiança das entidades
balneoterápicos. decisoras, dos gestores do território e
Nos anos 90 do século passado da Sociedade, em relação a estas
funcionou no Hospital da Força Aérea tecnologias. Mas não pode ser
em Lisboa, atual Hospital das Forças esquecido, por exemplo, que todos
Armadas, o Projeto Geotérmico do os projetos que levaram à instalação
Lumiar que, com sucesso, produziu de estufas geotérmicas e de
água quente sanitária, o aquecimento piscicultura em polos termais
de parte do Hospital e ainda água portugueses na década de 90 do

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século passado foram abandonados financiamento comunitário. mais de trinta anos o aquecimento
sobretudo, por ter sido esquecida a Excetua-se a aplicação geotérmica no de estufas de frutos tropicais com
componente do mercado e por Polo do Vau, da concessão de S. recurso à energia geotérmica.
inadequada seleção dos recetores do Pedro do Sul, onde foi feito, durante

Algumas Nesta publicação está equacionado o d) A procura pela realização de


recomendações finais estado da arte dos aproveitamentos projetos do tipo sistemas
geotérmicos em Portugal e são geotérmicos estimulados flutuará
esboçados caminhos para a em função dos custos, da
disseminação industrial das várias disponibilidade dos combustíveis
tecnologias envolvidas. fósseis e da aceitação social e do
De uma forma geral é de prever, num mercado; o Estado, proativamente,
horizonte de vinte anos, que: deve estimular a investigação
conjunta no domínio da gestão do
a) A produção de energia elétrica se solo e subsolo (águas minerais
mantenha maioritariamente confinada naturais, aquíferos estratégicos
ao arquipélago dos Açores e que, profundos, petróleo, gás,
aliás, a respetiva penetração no sequestração de CO2, etc.).
mercado aumente. É de prever, e é
desejável, que surjam A complexidade da geotermia
aproveitamentos em cascata térmica, como indústria leva a que se apele
particularmente na Ilha de S. Miguel. para que a busca de soluções para
o desenvolvimento de novos
b) Haja um incremento considerável projetos geotérmicos, centrada
no aproveitamento geotérmico nos naturalmente nas Ciências da Terra,
polos termais, mediante a tenha forte componente
sensibilização dos atores envolvidos, multidisciplinar ligada às instalações
e das pressões ambientais e políticas, de superfície, à economia, à
mas há que lançar programas de sociologia e outras áreas
investigação aplicada para técnico/científicas necessárias à
salvaguardar a sustentabilidade dos superação de barreiras à
recursos hidrominerais envolvidos. penetração da tecnologia. De
c) Aumente exponencialmente a salientar aqui a necessidade de
realização de projetos de geotermia serem congregados esforços entre
superficial de pequena dimensão, o Estado, a indústria e a
atividade que é urgente integrar na Universidade.
regulamentação dos recursos
geológicos.
Lisboa, março de 2017

José Martins Carvalho


EurGeol, Prof. Emérito Politécnico do Porto

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

1. INTRODUÇÃO E CONCEITOS
Geotermia é a designação usada A legislação portuguesa sobre Até há poucos anos, os recursos
para o conjunto das ciências e recursos geológicos (Lei nº 54/2015, geotérmicos foram apenas
técnicas que estudam e exploram o de 22 de junho) define como recurso utilizados em estabelecimentos
calor terrestre ou a energia geotérmico “os fluidos e as termais. Contudo, tem-se vindo a
geotérmica. Este tipo de energia formações geológicas do subsolo, observar um interesse crescente
oferece, entre outras, a vantagem de cuja temperatura é suscetível de na realização de estudos e projetos
ser renovável, pouco poluente e aproveitamento económico”. que têm em vista o aproveitamento
independente do custo dos A revelação do recurso é o conjunto da energia geotérmica,
combustíveis. Para além disto, e em das atividades e operações que visam nomeadamente o aquecimento
contraste com outras fontes a descoberta de recursos e a dos próprios estabelecimentos
renováveis de energia, o recurso determinação das suas termais, de unidades hoteleiras, de
geotérmico tem uma elevada características, até à confirmação da piscinas e de estufas agrícolas.
disponibilidade, ou seja, pode ser existência de valor económico. No uso em cascata da água
explorado praticamente em contínuo. mineral natural quente é importante
As variações locais de distribuição de
A energia geotérmica tem origem no temperatura, permeabilidade, realçar que os meses em que é
interior da Terra, verificando-se que, porosidade, geometria dos necessário utilizar maior
em termos médios, a temperatura reservatórios e profundidade das quantidade de calor correspondem
aumenta, em profundidade, em cerca anomalias, levam ao aparecimento de ao período de menor consumo da
de 33ºC por km. Porém, devido à uma grande variedade de tipos de água mineral natural nos
heterogeneidade da crosta terrestre, sistemas geotérmicos (sistema estabelecimentos termais, ou seja,
existem zonas anómalas, isto é, geotérmico é a entidade natural onde ao período de inverno.
zonas onde a variação da o calor profundo é transferido para a Refira-se que a retirada do calor da
temperatura com a profundidade superfície da Terra, ou para muito água mineral natural, através de
(gradiente geotérmico) é inferior ou perto dela). permutadores, permite fazer uma
superior àquele valor, dito normal. melhor gestão dos caudais, que,
A alínea e) do Artº 29º da Lei nº
São as zonas de elevado gradiente, 54/2015, de 22 de junho, estabelece com o racional aproveitamento em
ou seja, as de maior temperatura a que constitui obrigação dos cascata, permite valorizar os
menor profundidade, que interessam concessionários fazer o melhor recursos nas suas duas valências:
prioritariamente à geotermia, como aproveitamento dos recursos, recurso hidromineral versus
são os casos das zonas afetadas por segundo normas técnicas adequadas recurso geotérmico.
vulcanismo. Contudo, as zonas de e em harmonia com o interesse Os recursos geotérmicos de
gradiente normal, ou mesmo inferior público do melhor aproveitamento Portugal Continental têm vindo a
ao normal, podem também ser desses bens. Assim, consideramos ser estudados não só através de
interessantes. que os recursos hidrominerais, cuja métodos e estudos
O aproveitamento da energia temperatura seja superior a 20ºC (1), hidrogeológicos clássicos, como
geotérmica implica a existência de são suscetíveis de serem também através de inventários
um fluido, normalmente a água, que aproveitados na sua componente minuciosos e recolha regular de
transporte o calor do interior da Terra geotérmica. dados quantitativos e interpretação
para a superfície. Na chamada Existem vários tipos de recursos que dos parâmetros obtidos.
geotermia convencional o reservatório refletem o grau de certeza com que A DGEG tem procedido ao estudo
geotérmico possui este fluido bem foram avaliados. As reservas são, exaustivo das ocorrências de água
como a permeabilidade necessária portanto, os recursos conhecidos, com temperatura superior a 20ºC,
para a sua extração, podendo este seja através de sondagens, seja quer nascentes naturais, quer
ser utilizado para a produção de através de dados geoquímicos ou provenientes de furos, através da
eletricidade, ou em aplicações diretas geofísicos, que podem ser compilação da informação e dados
de aquecimento industrial ou urbano. aproveitados energeticamente e técnicos dispersos pelos
No caso da geotermia estimulada, economicamente no presente. De processos das concessões e dos
cuja finalidade é a produção de acordo com a experiência atual, não relatórios arquivados na DGEG e,
eletricidade, pode não existir fluido constituem recursos quaisquer ainda, da caracterização
e/ou permeabilidade no reservatório, reservas que excedam os 3 km de geológico-estrutural das
pelo que é necessário artificialmente profundidade. As reservas são ocorrências.
injetar fluido e/ou criar a subdivididas em provadas, prováveis
permeabilidade essencial à sua Ao longo dos anos, vários têm sido
e possíveis. os trabalhos publicados nesta
circulação.
temática, salientando-se os

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Convenção adotada no “Atlas dos Recursos Geotérmicos da Europa” (CEC, 1988) para a definição de água quente.
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

seguintes, da responsabilidade da • Temperatura ambiente do local de feitas relativamente a um sistema


Divisão de Recursos Hidrogeológicos utilização; que utilize energia convencional.
e Geotérmicos do Instituto Geológico • Densidade de população da área; Realça-se ainda que os projetos
e Mineiro: Brochura “Recursos desta natureza são
Geotérmicos em Portugal • Custo de outras energias
capital-intensivos, isto é, os
Continental - baixa entalpia”, editada (convencionais e alternativas); principais custos são os custos
em 1998 e Catálogo de Recursos • Potência calorífica necessária; iniciais de investimento. No entanto,
Geotérmicos: Recursos Geotérmicos os custos comparados da energia,
• Sensibilização dos concessionários
em Portugal Continental, versão 1.0, produzidos por qualquer dos
e de outros utilizadores.
edição em CD-ROM, editado em sistemas, variam de país para país, e
1999. Em sociedades que revelam uma
não existem valores de referência
dependência energética crescente e
Em Portugal Continental, no estado para Portugal Continental, no que
que continuam a utilizar combustíveis
atual do conhecimento, só existem respeita aos recursos geotérmicos
fósseis como principal fonte de
condições para o aproveitamento da de baixa entalpia. A comparação
energia, o recurso à geotermia pode
baixa entalpia. Na elaboração de um entre os dois tipos de recursos
contribuir para a redução das
projeto de aproveitamento dos nunca será efetiva dado que, no
importações de produtos
recursos geotérmicos são vários os caso da utilização direta do calor, as
petrolíferos, a diversificação de
fatores que terão de ser ponderados, utilizações deverão ser locais, ou
fontes energéticas, bem como
nomeadamente: seja, o custo comparativo das duas
aumentar a segurança do
• Temperatura do recurso; formas de energia, elétrica ou calor,
abastecimento energético.
pode variar com a localização do
• Caudal do fluido geotérmico; Deverá ser feita uma análise projeto de utilização.
• Profundidade; económica tendo em vista a
Assim, existindo condições
• Parâmetros geológicos do recurso; utilização desejada, isto é, a sua
geológicas favoráveis e potenciais
análise deve garantir suficientes
• Custo das sondagens e das utilizadores, há que realizar um
benefícios, poupanças ou receitas,
instalações de superfície; estudo de viabilidade de suporte à
de modo a que seja justificado o
realização do investimento que, a ser
• Quimismo do fluido geotérmico; capital investido. As comparações
viável, deverá ser promovido o
• Distância que separa as captações para determinar a viabilidade
aproveitamento do recurso
do local de utilização; económica de um projeto
geotérmico.
geotérmico devem, obviamente, ser

Fig. 1 - Esquema de promoção do aproveitamento dos recursos geotérmicos

Outra aplicação da geotermia, as integração em edifícios, como por vantagens reconhecidas:


bombas de calor geotérmicas, exemplo, no norte da Europa e em • É uma forma de energia não
apresenta uma solução particular nos climas frios, como na poluente;
energeticamente eficiente para Escandinávia, tendo por objetivo a
fornecer condições de conforto substituição de caldeiras como • É um recurso renovável;
interior às habitações, dado que equipamento produtor de calor nos • É uma alternativa às formas de
aproveitam a energia do meio onde sistemas de aquecimento. energia convencional;
se inserem para produzir calor, quer Embora não seja ainda fácil de • As tecnologias de utilização são
para climatização, quer para demonstrar com clareza os pouco sofisticadas;
produção de águas quentes benefícios na utilização dos recursos • Poderá ser um motor de
sanitárias (AQS). geotérmicos, pode-se afirmar que desenvolvimento local.
A popularidade crescente destes existe um grande número de
sistemas é refletida pelo sucesso na

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

2. POTENCIAL GEOTÉRMICO
2.1 Introdução A energia geotérmica é a energia estimando-se que a energia total
calorífica que se encontra que nos chega do seu interior seja
armazenada sob a camada externa equivalente a 4,2 x 1012 Joule e que
sólida da Terra. Tem origem no calor perdure por milhares de milhões de
primordial da formação da Terra, há anos, o que a torna uma fonte
cerca de 4,5 mil milhões de anos. inesgotável de energia à escala
Este calor, conjuntamente com o humana. É esta origem telúrica do
que se gera em consequência de calor, que a distingue das outras
diversos fenómenos térmicos que se fontes de energia renováveis que
produzem no interior da Terra, têm origem direta ou indireta no
nomeadamente o calor libertado calor emanado pelo Sol.
pela cristalização do núcleo, pelos No entanto, apenas uma pequena
movimentos diferenciais entre as porção desta energia pode ser
diferentes camadas que constituem utilizada pela humanidade, estando
a Terra, e ainda como resultado da limitada a zonas nas quais as
desintegração de isótopos condições geológicas permitem a
radioativos presentes nas rochas circulação de água na fase líquida ou
que constituem a crosta e o manto, de vapor, que transporta calor desde
origina um fluxo de calor até à as zonas mais profundas e mais
superfície. quentes, até zonas mais superficiais,
Inclui-se na categoria das energias dando origem aos reservatórios
renováveis, porque o calor que geotérmicos e, por conseguinte,
existe naturalmente no interior da aos recursos geotérmicos.
Terra, é considerado ilimitado,

2.2 Estrutura interna da Para poder compreender como e A camada mais externa, a crosta
Terra porque existem reservatórios terrestre, é atualmente a única
geotérmicos é necessário conhecer diretamente acessível, sendo
a estrutura interna da Terra, a qual constituída por um mosaico de
se organiza em diversas camadas placas que se movimentam entre si,
cuja temperatura aumenta impulsionadas pelas correntes de
consideravelmente do exterior para convecção geradas no manto de
o interior (Fig. 2). origem plástica, e pela ação da
A camada mais interna, o núcleo, gravidade e da diferença de
divide-se em núcleo interno, no densidade dos diferentes tipos de
estado sólido e núcleo externo, no rochas que constituem as placas. A
estado líquido. Atinge a temperatura sua temperatura varia entre os
de 4000ºC e tem uma espessura 15-20ºC à superfície e os 800-
total de cerca de 3500 km. -1000ºC no contacto com o manto.
A camada intermédia, ou manto, A espessura da crosta terrestre varia
tem aproximadamente 2900 km de entre 5 e 10 km no caso da crosta
espessura e divide-se em duas oceânica e é de cerca de 15 a 75
camadas: o manto interno sólido e o km no caso da crosta continental.
manto externo também sólido, mas Existe assim uma diferença de
dúctil. A temperatura varia entre temperatura apreciável entre o
800-1000ºC na sua parte exterior e interior e a superfície da Terra.
é de cerca de 4000ºC na parte
interior.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 2 – Estrutura interna da Terra

O aumento de temperatura com a geotérmico normal. Neste caso tem- • As zonas de subducção (Fig. 3-2),
profundidade, conhecido como -se um gradiente geotérmico onde se dá a colisão entre placas e
gradiente geotérmico, tem um valor anómalo, que coincide com as zonas reabsorção da crosta pelo manto,
aproximadamente constante, na de maior atividade sísmica e com geração de novo magma, como
maior parte da crosta terrestre e é, a vulcânica, as quais estão é o caso do grande Anel de Fogo do
partir dos 15 a 30 m de relacionadas com a tectónica de Pacífico (Fig. 4-2).
profundidade, de cerca de 1,5 a placas:
3,0ºC por cada 100 m. Neste caso • As zonas de separação de placas
fala-se de gradiente geotérmico • Nas zonas onde, por movimentos
(Fig. 3-1), onde há geração de nova distensivos no interior das placas, se
normal. crosta oceânica a partir da ascensão produzem adelgaçamentos da crosta
No entanto, em zonas de magma, de que é exemplo a (Fig. 3-3) com a consequente
geologicamente ativas (Figs. 3 e 4), o grande dorsal oceânica que separa ascensão de magma, como por
fluxo de calor é anormalmente os continentes americano e euro- exemplo no rift do leste africano (Fig.
elevado, podendo chegar a valores africano (Fig. 4-1). 4-3).
10 vezes superiores ao gradiente

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 3 - Estrutura interna da Terra e repartição dos fluxos de calor


de acordo com a estabilidade geológica da zona

Fig. 4 - Placas tectónicas

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

2.3 Reservatórios e Uma concentração de calor no reservatórios de:


recursos geotérmicos interior da crosta terrestre dá origem a • Alta entalpia – quando a
um reservatório geotérmico, que temperatura é superior a 150ºC;
será tanto mais acessível quanto
maior for a temperatura e menor a • Média entalpia – quando a
profundidade a que se encontra. temperatura se situa entre os 100ºC e
os 150ºC;
Para que o reservatório geotérmico
possa ser explorado, são necessárias • Baixa entalpia – correspondem a
3 condições: temperaturas entre 30ºC e 100ºC;
1) Uma fonte de calor; • Quando o fluido se encontra a
temperaturas inferiores a 30ºC, já não
2) Uma cobertura rochosa que se fala em reservatório por ser uma
preserve esse calor no interior do situação comum em toda a crosta
reservatório; terrestre, no entanto, ainda é possível
3) Um meio permeável que a utilização desta muito baixa
permita a circulação de um fluido que entalpia, geralmente recorrendo a
transporte o calor para a superfície, bombas de calor (a ser exposto mais
de modo a poder ser utilizado sob a adiante).
forma de energia, térmica, ou elétrica, A porção de energia geotérmica
consoante a temperatura. acumulada num reservatório e que
Os reservatórios geotérmicos pode ser aproveitada de forma
diferenciam-se em função da técnica e economicamente viável
temperatura a que se encontra o constitui o recurso geotérmico.
fluido transportador de calor, em

2.4 Ocorrências O território de Portugal Continental Continental é relativamente baixa, não


geotérmicas em encontra-se no bordo ocidental da sendo expectável a existência de
placa continental euroasiática e reservatórios geotérmicos de alta
Portugal Continental corresponde a um bordo de placa entalpia. São, contudo, frequentes as
divergente passiva, pelo que a ocorrências geotérmicas, à
atividade tectónica é baixa ou nula. superfície, de nascentes de água com
Existe, no entanto, alguma atividade temperaturas superiores à
tectónica ativa pelo facto de se temperatura média das águas
encontrar perto da fronteira de placas superficiais. Pode-se assim, falar da
Açores-Gibraltar, uma fronteira existência, em Portugal Continental,
convergente entre a placa africana, a de ocorrências geotérmicas de baixa
sul, e a placa euroasiática, a norte. No entalpia, com temperaturas entre os
entanto, comparando com outras 30ºC e os 76ºC e ainda de inúmeras
zonas do planeta, tectonicamente ocorrências geotérmicas de muito
muito ativas e já referidas no número baixa entalpia, com temperaturas
anterior, pode-se considerar que a entre 20ºC e 29ºC (Fig.5, Quadro I).
atividade tectónica em Portugal

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 5 - Ocorrências geotérmicas em Portugal Continental

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Quadro I – Características das ocorrências geotérmicas em Portugal Continental

Temp. máxima
Nº Designação Quimismo Mineralização total
registada (°C)

1 Alcaçarias do Duque 30 Cloretada, sódica Fracamente mineralizada


2 Alcafache 51 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
3 Alferce 27 Bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
4 Almeida 35 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
5 Amieira 27 Cloretada, cálcica, sódica Fracamente mineralizada
6 Aregos 59 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamentemineralizada
7 Arrábidos 29 Sulfúrea, cloretada, sódica
8 Azenha 29 Cloretada, sódica Fracamente mineralizada
9 Bem Saúde 21 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica Hipersalina
10 Bicanho 28 Cloretada, cálcica, magnesiana, sódica Fracamente mineralizada
11 Caldas da Rainha 36 Sulfúrea, cloretada, sulfatada, sódica, cálcica, magnesiana Hipersalina
12 Caldas e Fonte Santa 47 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
13 Caldelas 33 Bicarbonatada, cálcica, fluoretada Hipossalina
14 Caldinhas 36 Sulfúrea, cloretada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
15 Canaveses 34 Sulfúrea, fluoretada, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
16 Carlão 29 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
17 Carvalhal 41 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
18 Carvalhelhos 22 Bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
19 Cavaca 29 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
20 Chaves 76 Gasocarbónica, bicarbonatada sódica, fluoretada Hipersalina
21 Corgas-Buçaco 22 Bicarbonatada, cálcica Fracamente mineralizada
22 Cró 25 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
23 Cucos 34 Cloretada, sódica, fluoretada Hipersalina
24 Eirogo 25 Sulfúrea, cloretada, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
25 Envendos 22 Silicatada, cloretada, sódica, potássica Hipossalina
26 Estoril 35 Cloretada, sódica Hipersalina
27 Felgueira 36 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
28 Fonte Quente 24 Cloretada, bicarbonatada , sódica Fracamente mineralizada
29 Gaeiras 35 Sulfúrea, sulfatada, cloretada, sódica, cálcica Hipersalina
30 Gerês 47 Bicarbonatada, sódica, fluoretada, ossulfatada Fracamente mineralizada
31 Granjal 38 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
32 Longroiva 47 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
33 Lumiar 50 Bicarbonatada, cálcica, magnesiana Hipersalina
34 Luso 27 Silicatada, cloretada, sódica, potássica Hipossalina
35 Malhada Quente 28 Bicarbonatada, sódica, sulfatada Fracamente mineralizada
36 Moimenta 21 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
37 Moledo 45 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
38 Monção 49 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
39 Monchique 32 Bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
40 Monfortinho 31 Silicatada, cloretada, sódica, potássica Hipossalina
41 Monte da Pedra 21 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
42 Moura 22 Bicarbonatada, cálcica, cloretada, sódica Fracamente mineralizada
43 Murtas 23 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
44 Oeiras 30 Bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
45 Piedade 25 Cloretada, bicarbonatada, sódica Hipersalina
46 Quarteira 21 Bicarbonatada, sódica, cálcica, magnesiana
47 Salgadas da Batalha 20 Cloretada, sódica Hipersalina
48 Salir 20 Cloretada, sódica Hipersalina
49 Sangemil 47 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
50 Santo António 25 Bicarbonatada, cálcica Fracamente mineralizada
51 São Jorge 23 Sulfúrea, cloretada, sódica Fracamente mineralizada
52 São Lourenço 34 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, potássica Fracamente mineralizada
53 São Miguel das Aves 22 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
54 São Paulo 23 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada
55 São Pedro doSul 67 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
56 São Silvestre 22 Bicarbonatada, cálcica Fracamente mineralizada
57 Seixo 21 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica
58 Taipas 30 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
59 Unhais da Serra 37 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada
60 Vimeiro 26 Bicarbonatada, cloretada, sódica, cálcica Hipersalina
61 Vizela 50 Sulfúrea, bicarbonatada, fluoretada, sódica Fracamentemineralizada

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

A temperatura de emergência não deixou vestígios arqueológicos qualificada como recurso geológico,
excede os 76ºC, verificando-se romanos por todo o país. mas cuja temperatura é suscetível de
existir uma predominância entre os Para além das ocorrências ser utilizada em aproveitamentos de
20ºC e os 40ºC (Fig. 6). geotérmicas referidas na Fig. 5 e no geotermia superficial. No entanto
Algumas destas ocorrências têm Quadro 1, existem em Portugal este tipo de ocorrências está fora do
sido utilizadas essencialmente para Continental numerosas nascentes e âmbito desta publicação.
fins de balneoterapia, atividade que furos de captação de água não

6
Nº de Ocurrências

0
20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76

Temperatura das ocorrências geotérmicas (°C)

Fig. 6 - Distribuição do nº de ocorrências geotérmicas de baixa entalpia em função da temperatura,


em Portugal Continental

2.5 Enquadramento A diversidade geológica de cruzamento entre as grandes falhas


geológico Portugal Continental determina a regionais e suas conjugadas, que se
distribuição dos reservatórios criam as condições mais adequadas
geotérmicos atualmente conhecidos. para a ascensão dos fluidos
Com efeito, a sua distribuição pelo geotérmicos provenientes de zonas
território é desigual, observando-se profundas da crosta.
uma clara predominância na zona Os grandes acidentes tectónicos
norte e centro do país, têm uma longa história de atividade,
geologicamente inseridas tendo rejogado nos diversos
respetivamente na Zona Centro- episódios tectónicos que afetaram o
Ibérica e na Orla Meso-Cenozóica território de Portugal Continental,
Ocidental (Fig. 7). evidenciando-se em especial a
A maior parte destas ocorrências Orogenia Varisca no passado e a
corresponde a emergências naturais Orogenia Alpina que subsiste ainda
de água quente, ou a furos na no presente. O último episódio
maioria executados a partir da compressivo desta orogenia
década de 80 do século passado. condicionou a atual morfologia
Constata-se que a maioria se prevalecente no país e induziu a
encontra diretamente relacionada movimentação de muitas falhas pré-
com grandes acidentes tectónicos. existentes, algumas das quais se
Com efeito, é geralmente no encontram ainda ativas na
atualidade.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 7 - Enquadramento tecno-estratigráfico das ocorrências geotérmicas e principais estruturas ativas (segundo Cabral et al. 2011) em Portugal
Continental. (fundo geológico adaptado da Carta Geológica de Portugal à escala
1:1000 000, LNEG, 2010)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Muitas das ocorrências geotérmicas das ocorrências geotérmicas Na Zona de Ossa-Morena,


estão relacionadas com falhas de conhecidas se encontrem na Zona assinala-se uma única ocorrência
grande extensão e que atingem Centro-Ibérica. geotérmica de muito baixa entalpia,
provavelmente elevadas Na Orla Meso-Cenozóica com temperatura máxima registada
profundidades na crosta, dado que Ocidental, a tectónica compressiva de 22°C, que estará provavelmente
condicionam a emergência de alpina induziu a ascensão de relacionada com a falha de
algumas das águas mais quentes sedimentos evaporíticos (salgema, Vidigueira-Moura (Fig. 7-8),
registadas em Portugal Continental gesso) de natureza plástica, ao longo Considerada ativa por Cabral et al.
(Fig.7). É o caso das duas principais de acidentes tectónicos pré- (2011).
megaestruturas de orientação NNE- -existentes, tendo-se originado Na Zona Sul-Portuguesa apenas se
-SSW ocorrentes na zona norte: a diversas estruturas diapíricas. Pela registam ocorrências geotérmicas na
falha de Penacova-Régua-Verin (Fig. sua extensão, salienta-se a falha de dependência do maciço sienítico de
7-2) e a falha de Manteigas-Vilariça- Nazaré/Caldas da Rainha-Vimeiro Monchique de idade cretácica (Fig.8).
Bragança (Fig. 7-3), ambas (Fig. 7-6) de orientação NNE-SSW e
consideradas ativas na atualidade Neste caso, será o próprio maciço
também considerada ativa na magmático, intruído nos xistos
(Cabral et al., 2011). Nesta zona a atualidade (Cabral et al. 2011), que
morfologia é caracterizada por um paleozóicos da Zona Sul-
condicionou a ascensão dos diapiros -Portuguesa, que cria condições
relevo vigoroso, constituído por um de Leiria, Caldas da Rainha, Vimeiro
mosaico de blocos, com desníveis favoráveis para a ascensão dos
e Santa Cruz (Fig. 8). Existem fluidos geotérmicos provenientes de
acentuados e depressões profundas diversas ocorrências geotérmicas na
ocupadas pela rede hidrográfica, que profundidades provavelmente não
dependência desta falha, cujas muito elevadas. Na restante área da
se dispõe predominantemente temperaturas variam entre 25 e
segundo as direções NNE-SSW e Zona Sul-Portuguesa regista-se a
35°C. Um pouco mais a sul e na ausência total de ocorrências
ENE-WSW, coincidentes com os dependência da falha que controla o
principais alinhamentos estruturais geotérmicas, provavelmente devido à
diapiro de Matacães, surge uma composição predominantemente
que afetam a região. A morfologia ocorrência (23-Fig. 8) de temperatura
em blocos e a intensa fracturação, xistenta e, por conseguinte, de fraca
a rondar os 34°C. permeabilidade.
aliadas a uma litologia constituída por
rochas graníticas e por rochas Na região de Lisboa são conhecidas Na Orla Meso-Cenozóica Algarvia,
sedimentares metamorfizadas (Fig.8), ocorrências geotérmicas, geralmente as condições geológicas apenas dão
criaram, na Zona Centro-Ibérica, associadas ao aquífero de origem origem a ocorrências, cuja
condições para a ocorrência do sedimentar detrítica do Cretácico temperatura não ultrapassa os 25°C
maior número de ocorrências Inferior, com temperaturas a atingir e que ocorrem nos sedimentos
geotérmicas de baixa entalpia e de os 50°C na zona do Lumiar, 30°C em meso-cenozóicos. Neste caso não
muito baixa entalpia conhecidas no Oeiras e 35°C no Estoril. se exclui a possibilidade de as
país. Esta zona é também a que, no No sul do país as ocorrências ocorrências existentes estarem
país, regista maiores índices de geotérmicas são em número relacionadas com as falhas ativas,
pluviosidade anual. Este facto, e as reduzido. (Cabral et al.,2011) de S. Marcos
condições morfotectónicas descritas, Quarteira (Fig. 7-9), Carcavai (Fig. 7-
contribuem para que, no total, 63 % 10) e Santo Estêvão (Fig. 7-11).

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 8 - Carta Geológica das Ocorrências Geotérmicas em Portugal Continental (adaptada da Carta Geológica de Portugal à escala 1/1 000 000, 2010,
LNEG). Legenda das ocorrências geotérmicas, consultar Quadro I.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

No que respeita à litologia, (Fig. 8), a nas zonas de interseção de evidenciado, entre outros fatores,
maior parte das ocorrências acidentes tectónicos, o que lhes pela morfologia abrupta e
geotérmicas de temperatura mais confere uma permeabilidade rejuvenescida, de que existem
elevada, estão relacionadas com suficiente para permitir a circulação diversos testemunhos
unidades graníticas da Orogenia da água. Por outro lado, a zona norte documentados (Cabral, 1995), o que
Varisca. do país, onde ocorrem estes poderá justificar, segundo Ribeiro e
Com efeito, estes granitos granitos, sofreu um levantamento Almeida (1981), a existência de uma
encontram-se, na maioria, acentuado durante a fase fonte de calor mais próxima da
intensamente fraturados, em especial compressiva da Orogenia Alpina, superfície.

2.6 Quimismo das As ocorrências geotérmicas formações geológicas que


ocorrências geotérmicas registadas no território de Portugal atravessam.
Continental têm uma composição Pode-se considerar que existem 5
química que está diretamente tipos principais de águas com
relacionada com o tipo litológico das potencialidade de serem utilizadas
para aplicações geotérmicas:

Fig. 9 - Distribuição do quimismo das ocorrências geotérmicas em Portugal Continental

• Águas sulfúreas: representam geotérmicas. São pouco frequentes atingir os 35 000 mg/L, devido ao
53% das ocorrências geotérmicas como tipo dominante na Zona enriquecimento em cloretos, sulfatos,
conhecidas (Fig. 9) e são Centro-Ibérica, ocorrendo com mais sódio, cálcio.
caracterizadas pela presença de frequência na Orla Meso-Cenozóica • Águas silicatadas: ocorrem
formas reduzidas de enxofre, Ocidental e no sul do país. São associadas aos quartzitos da zona
elevados teores em sílica e do ião geralmente fracamente mineralizadas Centro-Ibéria e são águas
fluoreto, que na ocorrência 15 é o ião e o pH é próximo da neutralidade. hipossalinas, ou seja, de
dominante, e valores de pH elevados • Águas cloretadas: ocorrem na mineralização muito baixa, inferior a
(> 8). São em geral fracamente Orla Meso-Cenozóica Ocidental, 200 mg/L. As 3 ocorrências
mineralizadas, ou seja, a sendo a sua composição claramente conhecidas são cloretadas, sódicas
mineralização total situa-se entre os influenciada pela presença de e potássicas e a temperatura
200 e os 1000 mg/L. A maior parte diapiros que constituem estruturas máxima registada é de 28°C.
deste tipo de água está associada geológicas caracterizadas pela
aos granitos variscos da Zona Centro • Águas gasocarbónicas: são
acensão, ao longo de fraturas pré- naturalmente enriquecidas em CO2
Ibérica (Fig.10). Na Orla Meso- existentes e geralmente profundas,
Cenozóica Ocidental, ocorrem (teor de dióxido de carbono superior
de sedimentos evaporíticos de a 250 mg/L). As duas ocorrências
também algumas águas sulfúreas, comportamento plástico, como o
mas neste caso trata-se de águas conhecidas estão localizadas, uma
salgema (cloreto de sódio, potássio e junto à falha de Penacova-Régua-
hipersalinas, com mineralização total magnésio), a halite (cloreto de sódio),
superior a 3000 mg/L, devido à Verin, e outra junto à falha de
o gesso (sulfato de cálcio), a silvite Manteigas-Vilariça-Bragança. Estão
presença dos evaporitos das zonas (cloreto de potássio), etc. A presença
diapíricas. por explicar as razões pelas quais a
destes minerais influi primeira regista temperatura máxima
• Águas bicarbonatadas: significativamente na geoquímica das de 76°C e a segunda não ultrapassa
constituem o segundo tipo químico águas, conferindo-lhes um aumento os 21°C. Na composição química
mais frequente das ocorrências na mineralização total que chega a são ambas bicarbonatadas sódicas.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 10– Quimismo das ocorrências geotérmicas em Portugal Continental


(carta geológica adaptada da Carta Geológica de Portugal à escala 1:1 000 000, LNEG, 2010

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

2.7 Utilização da energia A energia calorífica proveniente das Decreto-Lei nº 560-C/76, de 16 de


geotérmica em Portugal águas quentes que ocorrem em Julho.
Portugal Continental foi, durante O desenvolvimento crescente em
Continental muito tempo, utilizada apenas para todo o mundo, de projetos de baixa
balneoterapia, prática aliás já utilizada entalpia, e a constatação de que era
desde os tempos da ocupação possível e desejável o aproveitamento
romana, como referido anteriormente. dos recursos existentes em Portugal
No entanto, desde há cerca de três Continental, determinou a
décadas, estas águas começaram a necessidade de criação de um novo
ter outros usos, nomeadamente, no quadro regulamentar apropriado ao
aproveitamento do calor para fins de seu aproveitamento, concretizado
climatização dos próprios balneários através da publicação dos Decretos-
termais. Estas ações marcam, em Lei nº 90/90 e nº 87/90, ambos de 16
Portugal, o aparecimento do conceito de março. Atualmente os recursos
de recurso geotérmico. Nos últimos geotérmicos estão contemplados na
anos, tem-se vindo a observar um Lei nº 54/2015, de 22 de junho e no
interesse crescente por parte dos Decreto-Lei nº 87/90, de 16 de
concessionários que exploram estas março.
águas, no seu aproveitamento, para Segundo os referidos diplomas, os
além do termalismo, também como recursos geotérmicos integram o
recurso geotérmico, para climatização domínio público do Estado, pelo que
não só dos balneários, mas também a sua revelação e exploração
de piscinas, de unidades hoteleiras somente podem ser realizadas
de apoio à atividade termal, na mediante contrato administrativo com
produção de águas quentes o Estado.
sanitárias (AQS) e, nalguns casos,
também para aquecimento de estufas Das 61 ocorrências geotérmicas
para produção de frutos tropicais e referidas nesta publicação, 45 estão
frutos fora de estação. Verifica-se qualificadas como águas minerais
também um interesse crescente no naturais. Destas (Figs. 11 e 12),
desenvolvimento de novas áreas de algumas são utilizadas exclusiva-
prospeção e pesquisa deste recurso mente para engarrafamento, ou para
energético. termalismo, ou têm as duas
utilizações em simultâneo. Existem
A crise energética vivida no início dos apenas 7 (Alcafache, Carvalhal,
anos setenta do século passado, Chaves, Longroiva, Monção, S. Pedro
associada à vontade de proceder ao do Sul e Vizela) que têm uma dupla
aproveitamento dos recursos qualificação como água mineral
geotérmicos de alta entalpia natural e como recurso geotérmico.
existentes no Arquipélago dos
Açores, para produção, Das águas não qualificadas, 2 tiveram
essencialmente, de eletricidade, levou já aproveitamento geotérmico,
ao estabelecimento do primeiro estando atualmente abandonadas
diploma legal relativo à geotermia: (ocorrências 33 e 44, Fig. 12).

Fig. 11 - Utilização das ocorrências geotérmicas em Portugal Continental

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 12 - Utilização das ocorrências geotérmicas em Portugal Continental

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Águas minerais naturais com de 2 km a sul de S. Pedro do Sul, para climatização e para os
aproveitamento geotérmico em um furo inclinado com cerca de tratamentos aí efetuados e ainda
funcionamento: 200m de comprimento e uma para a produção de AQS e
• Caldas de Chaves temperatura de 67°C, que não se aquecimento da piscina exterior do
O primeiro projeto, em Portugal encontra qualificado como água hotel rural situado nas proximidades.
Continental, de utilização do calor mineral natural, mas apenas como • Termas do Carvalhal
para outros fins, para além da recurso geotérmico, é aproveitado O recurso hidromineral do Carvalhal,
balneoterapia, registou-se em numa utilização direta em agricultura, com uma temperatura máxima
Chaves, no início da década de 80 para o aquecimento de estufas de registada de 41°C, foi
do século XX. frutos tropicais. concessionado para termalismo por
Trata-se do campo geotérmico das • Caldas de Vizela alvará de 1916, e qualificado como
Caldas de Chaves, cuja água mineral Na concessão hidromineral de recurso geotérmico em 2007. No
natural regista uma temperatura Caldas de Vizela os caudais entanto, atualmente, ainda não é
máxima de 76ºC, sendo captada em excedentes são utilizados no feito o seu aproveitamento
furos com profundidade até 150 m e aquecimento de uma piscina e na energético, estando em curso o
utilizada numa rede de aquecimento climatização e produção de AQS de desenvolvimento de projetos para
urbano, para climatização e um hotel localizado na zona. O esse efeito.
produção de água quente sanitária recurso geotérmico apresenta uma Águas não qualificadas como
(AQS) de dois hotéis e do edifício temperatura à volta de 50°C e uma minerais naturais, com
termal e aquecimento da piscina. mineralização total de 338 mg/L. aproveitamento geotérmico
• S. Pedro do Sul • Banho de Alcafache abandonado
É o maior balneário termal português A água mineral natural de Alcafache, Existem ainda em Portugal
em termos de frequência, onde, utilizada tradicionalmente em Continental outros recursos
desde há cerca de três décadas, tem termalismo, recebeu em 2002 a geotérmicos não qualificados como
vindo a decorrer, de forma regular, o qualificação conjunta com a de água mineral natural, que tiveram em
desenvolvimento geotérmico da área recurso geotérmico. Com efeito, o tempos aproveitamento energético,
das nascentes termais. Atualmente, estabelecimento termal está, desde mas que estão atualmente
o aproveitamento geotérmico 2003 a ser climatizado a partir da abandonados devido a problemas
funciona em dois polos: água mineral natural com 51°C de técnicos com as captações.
O Polo das Termas - tem em temperatura. • Hospital da Força Aérea no
funcionamento, desde 2001, uma • Caldas de Monção Lumiar (Lisboa)
central geotérmica para climatização O recurso hidromineral das Caldas Em 1987 foi executado um furo com
e produção de AQS de dois de Monção com uma temperatura de 1500 m de profundidade que captou
balneários termais e de dois hotéis, a 49°C foi qualificado como recurso água, com temperatura de 50°C, nos
partir de um furo com 500 m de geotérmico em 2006. arenitos do Cretácico Inferior da
profundidade e 69°C de A exploração do recurso para uso bacia sedimentar de Lisboa. Esta
temperatura. geotérmico teve início em março de água foi utilizada, durante nove anos
A central geotérmica é constituída no 2015, tendo como objetivo o consecutivos, para a produção de
essencial, por um permutador de aquecimento do estabelecimento AQS, para climatização e para
placas principal, que transfere a termal, piscinas públicas, hotel e utilização como água potável depois
temperatura da água mineral natural edifícios públicos. Encontra-se de arrefecida à temperatura
para a água normal da rede (água atualmente em período experimental. ambiente. O projeto foi abandonado
não mineral); um “coletor de saída”, • Longroiva devido a problemas de corrosão no
constituído por seis saídas, leva a A água mineral natural de Longroiva revestimento do furo, provavelmente
água não mineral aquecida para os foi qualificada como recurso termal resultantes de intrusões salinas
vários consumidores do geocalor; em 2004 e como recurso geotérmico provenientes da água do mar.
um “coletor de retorno”, com seis em 2011, data a partir da qual se • Serviços Sociais das Forças
entradas recebe a água não mineral, iniciaram estudos com vista ao Armadas (Oeiras)
já fria, após ter fornecido o geocalor aproveitamento geotérmico da água,
aos consumidores. Os coletores O aproveitamento geotérmico foi
que emerge por artesianismo à feito, entre 1992 e 1997 a partir da
estão associados em série à rede de temperatura de 47°C.
água não mineral. água a uma temperatura de 30°C
Atualmente, o recurso geotérmico é captada nos arenitos do Cretácico
No Polo do Vau, localizado a cerca utilizado no balneário das termas, Inferior, por meio de um furo com

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

475 metros de profundidade. O calor neste caso tenha sido necessário o progressiva salinização da água
foi aproveitado para a produção de apoio com bombas de calor. captada levaram ao abandono do
AQS e para climatização, ainda que, Problemas de colapso do furo e a projeto.

2.8 Potencial geotérmico O potencial geotérmico de Portugal permitem, no estado de


em Portugal Continental Continental situa-se no domínio das conhecimento atual, a utilização dos
baixas e muito baixas entalpias, recursos geotérmicos para produção
tendo, até à data, sido inventariadas de energia elétrica. No entanto, o
61 ocorrências de água com geocalor pode ser utilizado em
temperatura superior a 20°C: pequenos a médios projetos de
• 34 ocorrências de muito baixa aplicação direta, sendo a utilização
entalpia, com temperatura entre 20°C em cascata a forma mais eficiente de
e 29°C; aproveitamento do recurso
geotérmico.
• 27 ocorrências de baixa entalpia
com temperatura entre 30°C e 73°C. Segundo Lindal (1973) os recursos
geotérmicos podem ter diversas
As 61 ocorrências conhecidas aplicações a diferentes níveis
distribuem-se por 2 tipos: entálpicos. Desenvolvido por este
• 46 ocorrências qualificadas como autor, o Diagrama de Lindal (Fig. 13)
águas minerais naturais, das quais 7 sintetiza as principais utilizações
qualificadas também como recursos possíveis de um recurso geotérmico,
geotérmicos; referenciadas à sua temperatura
• 15 ocorrências não reconhecidas ótima. Segundo este diagrama, cada
como águas minerais naturais. utilizador usa o recurso na
temperatura mais adequada para o
Do ponto de vista geológico,
seu processo, tendo-a recebido a
correspondem a águas de circulação
uma temperatura mais elevada e
profunda onde adquirem
passando-o depois para o utilizador
temperaturas elevadas e que
seguinte com necessidades de
ascendem à superfície em virtude da
temperatura inferior, e assim
existência de descontinuidades
sucessivamente até o recurso chegar
geológicas - tectónicas e/ou
à temperatura ambiente.
estratigráficas, constituindo assim,
anomalias geotérmicas locais que No caso de Portugal Continental, o
sobressaem dos valores regionais de Diagrama de Lindal tem apenas
gradiente geotérmico. Distribuem-se aplicação a partir de temperaturas
da seguinte forma: inferiores a 80°C, existindo já alguns
pontos de utilização do recurso
• 38 ocorrem no conjunto das Zonas
geotérmico em cascata, como é o
Centro-Ibérica e de Galiza-Trás-os-
caso de Chaves, São Pedro do Sul,
Montes, associadas a formações
Vizela, Alcafache, Longroiva e
essencialmente graníticas, mas
Monção, onde existem, para além das
também quartzíticas ou xistentas e,
aplicações balneoterápicas, pequenos
com frequência, na dependência de
a médios projetos de climatização das
falhas ativas profundas.
próprias instalações termais e de
• 1 na Zona de Ossa-Morena; hotéis, de produção de AQS e
• 17 na Orla Meso-Cenozóica aquecimento de piscinas e estufas.
Ocidental associadas a estruturas Os projetos ligados ao
diapíricas ou a sedimentos detríticos e aproveitamento geotérmico em
carbonatados; Portugal Continental, com utilização
• 3 na Zona Sul-Portuguesa direta a partir de aquíferos profundos,
associadas ao maciço sienítico são ainda diminutos. Existe, no
mesozóico de Monchique. entanto, uma apreciável margem para
• 2 Orla Meso-Cenozóica do Algarve. ampliação e melhoria dos resultados
obtidos, nomeadamente com a
As temperaturas existentes, não dinamização de trabalhos de

|23
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

prospeção e pesquisa e estudos na ocorrência do Carvalhal, onde a investigação geológica possibilite a


científicos diversos. execução de um furo, de 600 m de obtenção de temperaturas e,
Com efeito, estudos deste tipo profundidade, tornou possível um provavelmente, caudais mais
realizados nalguns polos termais aumento de caudal e de temperatura elevados na Zona Centro-Ibérica.
apontam para temperaturas de de 3 l/s a 44,4°C para 6 l/s a 60°C e Na Orla Sedimentar Meso-Cenozóica
reservatório significativamente na da Fonte Santa de Almeida, onde Ocidental, ocorrem águas com
superiores às observadas à um furo de 1000 m de profundidade temperaturas consideráveis, o que
superfície. Tal facto foi confirmado permitiu um aumento de temperatura põe em evidência a existência de
em duas ocorrências geotérmicas de 19°C para 35°C. Gera-se, assim, aquíferos profundos, cujo potencial
em granitos da Zona Centro-Ibérica: a expetativa de que a realização de geotérmico é ainda desconhecido.

TEMPERATURA ( ºC) UTILIZAÇÕES POSSÍVEIS

Evaporação de soluções concentradas


180 Refrigeração por ciclo de amoníaco
Digestão de polpa de papel
Fabrico de água pesada - método do SH2 Produção elétrica
170 Recozimento de terras de diatomite convencional
Secagem de farinha de peixe
160
Secagem de madeiras para construção
150 Preparação de alumina pelo processo Bayer
Secagem de produtos agrícolas
140
Esterilização de conservas de alimentos
Refinação de açúcar
130
Extração de sais por evaporação
120 Destilação de água doce Produção elétrica
110 Secagem de placas de cimento pré - fabricadas por ciclo binário
Secagem de algas
100 Secagem de lãs
Esterilização dos solos das estufas
90 Secagem de peixe
80 Aquecimento dos edifícios por convecção
70 Limite inferior dos ciclos de refrigeração
60 Aquecimento de estufas
50 Usos em estâncias termais
40 Aquecimento dos solos Aquecimento por bomba de
30 Águas para piscinas (uso direto) calor
20 Piscicultura (uso direto)

Fig. 13 – Utilizações da energia geotérmica de acordo com o Diagrama de Lindal


(adaptado de Lindal, 1973)

De acordo com dados de Ribeiro e grandeza. Na zona de Lisboa, o furo Tendo em atenção estes dados,
Almeida (1981), o gradiente geotérmico do Lumiar parece ser existe um potencial, extensível a todo
geotérmico médio é, nestas zonas, representativo destas condições, o país, para o desenvolvimento dos
de cerca de 2°C a 3°C /100 m, dado que atingiu a temperatura de aproveitamentos geotérmicos em
estimando-se que, a profundidades 50°C à profundidade de 1500 m. Na profundidade, tanto por utilização
da ordem dos 1500 m, se atinja a Península de Setúbal, as sondagens direta a partir de aquíferos profundos,
temperatura de 50°C. Estes dados petrolíferas na zona do Barreiro, como também, e na ausência de
são coincidentes com a informação revelaram a mesma ordem de permeabilidade, a partir dos
decorrente das sondagens grandeza do gradiente geotérmico, Sistemas Geotérmicos
petrolíferas, que apontam também com temperatura de 75°C a 2800 m Estimulados (Enhanced Geothermal
para gradientes da mesma ordem de de profundidade. Systems – EGS), cujo funcionamento

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

é focado no capítulo 3. Pode-se considerar que existe em potencial. A dinamização da


Também extensível a todo o país é o Portugal Continental um elevado utilização desse recurso energético
potencial para desenvolver bombas potencial para a ampliação da não é apenas uma questão de
de calor geotérmico, para utilização dos recursos geotérmicos disponibilidade do recurso, mas
aquecimento e climatização, a partir de baixa e muito baixa entalpia, também um problema de mercado,
de aquíferos ou formações sendo, no entanto, necessários de marketing e de educação
geológicas a temperatura normal. estudos multidisciplinares para a ambiental.
avaliação quantitativa deste

2.9 Ocorrências O Arquipélago dos Açores é formado maars e fissuras eruptivas, que
geotérmicas dos Açores por nove ilhas oceânicas vulcânicas, frequentemente definem alinhamentos
localizadas em pleno Atlântico Norte e vulcano-tectónicos locais ou
dispersas ao longo de uma faixa com regionais.
cerca de 600 km de extensão A natureza geológica, a intensa
segundo a direção WNW-ESE, na fraturação associada, a tectónica e a
junção tripla das placas norte sismicidade, potenciam a existência
americana, euroasiática e africana. de reservatórios geotérmicos de alta
Esta localização e o enquadramento entalpia em diversas ilhas dos Açores
geotectónico do arquipélago dos (nomeadamente nas ilhas S. Miguel,
Açores traduzem-se numa atividade Terceira, Graciosa, Pico e Faial).
sísmica e vulcânica significativas, Merecem destaque o campo
incluindo numerosas manifestações geotérmico da Ribeira Grande, na ilha
de vulcanismo secundário, como de S. Miguel (com temperaturas da
campos fumarólicos e de água à saída das captações de
desgaseificação e nascentes, poços e 142°C a 203°C) e o campo
furos com águas termais. O geotérmico do Pico Alto, na ilha
vulcanismo do arquipélago dos Terceira (com temperaturas da água à
Açores é genericamente saída das captações de 263°C a
caracterizado por 27 sistemas 283°C), ambos atualmente em
vulcânicos principais e, também, pela exploração.
existência de cerca de 1750 vulcões
monogenéticos, quer nos flancos e No total estão identificadas nos
dentro das caldeiras de subsidência Açores 48 ocorrências geotérmicas
dos vulcões poligenéticos, quer superficiais de baixa entalpia (com
integrando sistemas fissurais temperaturas entre 22 e 98°C), a
basálticos. Estes pequenos vulcões maioria das quais (25 manifestações)
incluem, entre outros, cones de na chamada “Hidrópole das Furnas”,
escórias basálticas, domos e coulées na ilha de S. Miguel (Quadro II e Fig.
traquíticas, cones e anéis de tufos, 15).

2.9.1 Quimismo das As ocorrências geotérmicas de baixa contribuindo para o aumento dos
ocorrências geotérmicas de entalpia identificadas nas ilhas dos processos de interação água-rocha
baixa entalpia dos Açores Açores estão, de modo geral, vulcânica (de natureza traquítica e
associadas a sistemas de alta entalpia basáltica) e consequente aumento da
em ebulição e enriquecidos em gases mineralização total das águas.
vulcânicos. As águas termais têm Os seis tipos principais de águas
composição química que está minerais com potencialidade para
fortemente dependente da influência aplicações geotérmicas são (Fig. 14):
do vulcanismo ativo nas ilhas, não só águas sulfúreas, águas
pelo elevado gradiente geotérmico, bicarbonatadas, águas
como pela emissão de fluidos com gasocarbónicas (CO2 livre>500 mg/L),
origem magmática e hidrotermal águas cloretadas, águas sulfatadas e
profunda. Estas emissões são de águas silicatadas.
natureza ácida (CO2(g), H2S(g)),

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 14 - Distribuição do quimismo das ocorrências geotérmicas de baixa entalpia nas ilhas dos Açores

2.9.2 Utilização da energia Na Região Autónoma dos Açores quente para utilização no balneário
geotérmica nos Açores estão qualificados como recurso termal da Ferraria (balneário e
geotérmico: piscina exterior); o recurso apresenta
• O Campo Geotérmico da Ribeira uma temperatura de 61°C e uma
Grande (ilha de S. Miguel), mineralização total de 20485 mg/L.
constituído pelas formações • As formações geológicas
geológicas atravessadas e pelo calor atravessadas e o calor dos fluidos
dos fluidos captados nos poços captados no furo AC1, no
CL1, CL2, CL3, CL5, CL6, CL7, Carapacho (ilha Graciosa – nº 40,
PV2, PV3, PV4, PV7 e PV8, bem Quadro II), anteriormente direcionado
como pelas formações geológicas para usos recreativos mas,
atravessadas pelos poços de atualmente, sem utilização.
reinjeção CL4, CL4A, PV5, PV6, Das 48 ocorrências geotérmicas de
PV9, PV10 e PV11; estes poços baixa entalpia nos Açores referidas
asseguram o funcionamento das nesta publicação (cf. Quadro II), 18
centrais geotérmicas da Ribeira estão qualificadas como águas
Grande e do Pico Vermelho, com minerais naturais e integram a
uma capacidade instalada total de concessão hidromineral denominada
27,8 MW. de “Estância Termal das Furnas”,
• O Campo Geotérmico do Pico Alto demarcada pela Direção Geral de
(ilha Terceira), constituído pelas Minas e Serviços Geológicos
formações geológicas atravessadas (Ministério da Economia) a 14 de
e pelo calor dos fluidos captados setembro de 1964 e cujo Alvará de
nos poços de produção PA2, PA3 e Concessão (alvará n.º 6317) está
PA4, bem como pelas formações publicado no Diário do Governo n.º
geológicas atravessadas pelo poço 48, III Série, de 26 de fevereiro de
de reinjeção PA8; estes poços 1965. Atualmente, apenas a
asseguram o funcionamento da captação designada de “Quenturas”
central geotérmica do Pico Alto, com (ou de “Água Férrea das Quenturas”-
uma capacidade instalada total de nº 19, Quadro II) é utilizada em
4,0 MW. termalismo, abastecendo as piscinas
• As formações geológicas do Furnas Boutique Hotel Thermal &
atravessadas e o calor dos fluidos Spa. Outras ocorrências desta
captados no furo AC3, na Ponta da concessão têm utilização tradicional
Ferraria (ilha de S. Miguel – nº 35, em múltiplas vertentes (e.g. Bica da
Quadro II); este furo de captação Água Santa, Poço, Padre José) ou
assegura a produção de água têm sido utilizadas no
desenvolvimento de novos produtos

|26
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

(e.g. utilização de água “Terra mineral natural, abastecendo o denominada de “Água da Ladeira
Nostra” em produtos balneário termal do Carapacho. da Velha”, com o Alvará de
dermocosméticos e “Água Azeda” Trata-se de uma água cloretada Concessão n.º 7095 publicado no
na salmoura/maturação de sódica, com uma mineralização Diário do Governo n.º 147, III Série,
queijos). total média de 8200 mg/L. de 26 de junho de 1974. A água
Do mesmo modo a água do furo Ainda, a água termal da Ladeira da termal desta concessão,
de captação PS2, do Carapacho Velha (nº 32, Quadro II) está atualmente detida pela Região
(ilha Graciosa – nº 41, Quadro II), qualificada como água mineral Autónoma dos Açores, não tem
está qualificada como água natural e integra a concessão utilização formal.

2.9.3 Potencial geotérmico dos No que respeita aos recursos duas centrais geotérmicas de fluido
Açores geotérmicos de alta entalpia, o seu binário na ilha de S. Miguel (a Central
aproveitamento para a produção de Geotérmica da Ribeira Grande e a
energia elétrica teve início em 1980 no Central Geotérmica do Pico
Vulcão do Fogo, ilha de S Miguel, Vermelho), com uma capacidade total
com a central piloto do Pico Vermelho instalada de 27,8 MW, uma potência
(com capacidade instalada de 3 MW). total de 23,2 MW e uma energia
A utilização à escala industrial teve produzida de 171,6 GWh (ano de
início em 1994, com a Central 2016), energia correspondente a
Geotérmica da Ribeira Grande, com cerca de 44% dos consumos
capacidade instalada de 5,8 MW. elétricos da ilha.
Atualmente estão em funcionamento

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Quadro II -Características das ocorrências geotérmicas de baixa entalpia nos Açores

Temp. máxima
Nº Designação Quimismo Mineralização total Observações
registada (°C)

1 Água da Prata (*) 24 Gasocarbónica, sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
2 Água Férrea (*) 39 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
3 Bica da Água Santa (*) 96 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
Caldeira Barrenta 68 Gasocarbónica, sulfúrea, sulfatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
4
(Lagoa das Furnas)
Caldeira da Lagoa 94 Sulfúrea, sulfatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
5
das Furnas
Caldeira da Ribeira 97 Sulfatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
6
dos Tambores
7 Caldeira do Asmodeu (*) 88 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Hipersalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
8 Caldeira do Esguicho (*) 93 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
9 Caldeira dos Vimes (*) 73 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, ferruginosa Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
10 Caldeira Grande (*) 98 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
11 Caldeirão do Chalet (*) 78 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
12 Encosta (*) 60 Bicarbonatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
13 Grutinha (*) 44 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
Grutinha 41 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
14
Ernesto Correia (*)
15 Morangueira (*) 33 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
16 Padre José (*) 58 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
17 Poça da Dona Beija 39 Bicarbonatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
18 Poço (*) 47 Bicarbonatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
19 Quenturas (*) 59 Bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
20 Rego (*) 57 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
Ribeira de Nossa 42 Bicarbonatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
21
Senhora/Terra Nostra
22 Ribeira Quente 44 Bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
23 Sanguinhal 36 Bicarbonatada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão das Furnas - S. Miguel
24 Torno (*) 40 Bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
25 Três Bicas (*) 57 Bicarbonatada, sódica, fluoretada, ferruginosa Mesossalina Vulcão das Furnas - S. Miguel
26 BEL Portugal 40 Cloretada, sódica Hipersalina Vulcão do Fogo - S. Miguel
27 Caldeira Velha - Fumarola 98 Sulfatada, sódica, potássica Fracamente mineralizada Vulcão do Fogo - S. Miguel
28 Caldeira Velha - Nascente 31 Silicatada, cloretada, bicarbonatada, sódica, ferruginosa Hipossalina Vulcão do Fogo - S. Miguel
Caldeiras da Ribeira 59 Sulfúrea, sulfatada, sódica, ferruginosa, fluoretada Fracamente mineralizada Vulcão do Fogo - S. Miguel
29
Grande - Fumarola
30 Cerâmica Vieira 58 Cloretada, sódica Mesossalina Vulcão do Fogo - S. Miguel
31 INSULAC 28 Bicarbonatada, sódica, potássica Fracamente mineralizada Vulcão do Fogo - S. Miguel
32 Ladeira da Velha 30 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada Vulcão do Fogo - S. Miguel
33 Monte dos Frades 28 Bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada Vulcão do Fogo - S. Miguel
34 Pocinha 29 Sulfúrea, cloretada, bicarbonatada, sódica, ferruginosa Fracamente mineralizada Vulcão do Fogo - S. Miguel
35 Ferraria - Furo Ac3 61 Cloretada, sódica, ferruginosa Hipersalina Vulcão das Sete Cidades - S. Miguel
36 Juncal 23 Sulfúrea, cloretada, sódica Mesossalina Vulcão dos Cinco Picos - Terceira
37 ER1 27 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada Vulcão do Pico Alto - Terceira
38 Terra Chã 25 Sulfúrea, bicarbonatada, cloretada, sódica, fluoretada Fracamente mineralizada Zona Basáltica Fissural - Terceira
Terra Chã - Furo 39 Sulfúrea, bicarbonatada, sódica, fluoretada Mesosalina Zona Basáltica Fissural - Terceira
39 Caminho Posto Santo
40 Carapacho - Furo AC1 43 Cloretada, sódica, ferruginosa Hipersalina Vulcão da Caldeira - Graciosa
41 Carapacho - Furo PS2 39 Cloretada, sódica Hipersalina Vulcão da Caldeira - Graciosa
42 Homiziados 56 Cloretada, sódica, ferruginosa Hipersalina Vulcão da Caldeira - Graciosa
43 Guadalupe - Furo Courelas 42 Gasocarbónica, cloretada, sódica, ferruginosa Hipersalina Plataforma NO - Graciosa
44 Pontal 28 Cloretada, sódica Hipersalina Plataforma NO - Graciosa
Azeda da Caldeira 22 Gasocarbónica, bicarbonatada, sódica Fracamente mineralizada Ilha de S. Jorge
45
de Santo Cristo
46 Capelo 40 Sulfúrea, cloretada, sódica, ferruginosa Hipersalina Península do Capelo - Faial
47 Lajedo 48 Sulfúrea, cloretada, sódica, fluoretada Hipersalina Ilha das Flores
48 Poio Moreno 25 Bicarbonatada, sódica Mesossalina Ilha das Flores

(*) integra a Concessão Hidromineral "Estância Termal das Furnas" (Alvará nº 6317, 26.Fev.1965)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Na ilha Terceira está em produção. A penetração da energia agroindústrias e piscicultura.


funcionamento, desde agosto de elétrica produzida por via geotérmica É na baixa entalpia que se preveem
2017, a Central Geotérmica do Pico vai depender da forma como a fortes desenvolvimentos
Alto, com uma capacidade instalada economia da Ilha de S. Miguel e da operacionais, quer no incremento de
de 4,0 MW, produzindo 16% dos Ilha Terceira crescerem e de empreendimentos e polos
consumos elétricos da ilha. mudanças societais, entre as quais a balneoterápicos e balneológicos,
No domínio dos usos diretos, há a da mobilidade elétrica. Noutras ilhas quer na pesquisa e captação de
destacar as estufas do INOVA- existe espaço para o surgimento de recursos facilmente acessíveis com
Instituto de Inovação Tecnológica mini centrais com fluidos binários sondagens
dos Açores, financiadas no âmbito para a produção de energia elétrica a hidrogeológicas/geotérmicas
do Programa THERMIE e aquecidas partir de recursos com temperaturas correntes.
geotermicamente entre 1997 e 2005, na gama dos 70-98°C.
Nos Açores não são conhecidas
cuja reativação está em avaliação. Parte dos efluentes das centrais operações de geotermia superficial
O crescimento previsível da geotérmicas, atualmente reinjetados (GSHP) mas considera-se haver forte
produção de energia eléctrica no na totalidade, poderão vir a ter mercado para esta tecnologia no
futuro é limitado pela procura e pela aproveitamento a jusante, na cascata domínio da climatização (ar
concorrência com outras formas de térmica, quer em projetos ligados à condicionado, aquecimento,
energia renovável, já que os recursos indústria turística, de distribuição desumidificação).
permitem significativos aumentos de urbana de calor, estufas,

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Fig. 15 - Enquadramento vulcano-estratigráfico das ocorrências geotérmicas de baixa entalpia nos Açores (ver também Quadro II). Base geológica de
Nunes (2004). Nas ilhas S. Miguel e Terceira é indicada a área de concessão de exploração de recursos geotérmicos de alta entalpia. Em baixo, à direita,
é pormenorizada a localização das ocorrências da “Hidrópole das Furnas”.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

3. A TECNOLOGIA

A valorização energética a partir dos ser utilizados para aplicações vapor ou sistemas geotérmicos
recursos geotérmicos apresenta uma térmicas (uso direto ou sistemas estimulados).
grande diversidade. De acordo com geotérmicos superficiais), ou para a
a temperatura de ocorrência podem produção de eletricidade (centrais a

3.1 Aplicações térmicas Em Portugal Continental, a maioria termais. Para esse efeito, na central
dos aproveitamentos diretos de geotérmica, o recurso hidromineral é
calor geotérmico são feitos a partir permutado com um fluido (não
3.1.1 Sistemas para uso direto de
de recursos qualificados como necessariamente água) que, em
recursos geotérmicos
águas minerais naturais e como circuito fechado, transporta o calor
recursos geotérmicos. Nas situações até à central de utilização onde é
em que a temperatura é mais novamente permutado, para daí ser
elevada, é necessário proceder a um encaminhado para os utilizadores
arrefecimento da água até uma (Fig. 16).
temperatura que permita as práticas

Água quente do Água do recurso


recurso geotérmico geotérmico arrefecida
Permutador de calor
da central geotérmica

Fluído de CIRCUITO PRIMÁRIO


transporte Fluído de
(fechado) transporte Frio
Quente

Permutador de calor
da central de utilização

Água aquecida Água fria


do utilizador do utilizador
Fig. 16 – Esquema simplificado de um circuito de aquecimento geotérmico.

As utilizações podem passar pela utilizadores, conferindo, desta forma,


climatização de edifícios e produção de uma maior eficiência energética na sua
águas quentes sanitárias (AQS), utilização.
aquecimento de piscinas e estufas, Os aproveitamentos geotérmicos
piscicultura, entre outros usos, citados são os mais utilizados em
podendo o recurso ser utilizado em Portugal Continental nos locais
sistemas em paralelo ou em cascata, assinalados na Fig. 12, do capítulo 2.
dependendo das necessidades dos

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

3.1.2 Sistemas geotérmicos Sistemas geotérmicos superficiais calor enterrados.


superficiais são sistemas energéticos que utilizam Em relação aos sistemas
bombas de calor, a partir do calor convencionais, o investimento inicial
acumulado no solo. De facto, estes no equipamento e instalação é
sistemas não necessitam de uma superior, mas, no entanto, é
fonte de calor com temperaturas rapidamente superado pela maior
elevadas, e a sua mais-valia economia de funcionamento.
energética resulta do facto da
captação de calor ser feita no solo As bombas de calor, através de um
que mantem uma temperatura ciclo termodinâmico, permitem a
constante ao longo do ano, ao transferência de calor de uma fonte
contrário do ar e da água que para outra, contrariando a direção
apresentam variações significativas, espontânea do fluxo de calor. É,
conforme a estação do ano. assim, um equipamento reversível que
pode ser utilizado para climatização
O sistema das bombas de calor já é (aquecimento e arrefecimento) de
conhecido há vários anos, mas ambientes interiores, bem como para
somente nas últimas décadas a produção de AQS ou aquecimento
conheceu uma grande evolução. Para de piscinas.
isso contribuíram, para além das
várias crises petrolíferas que levaram O equipamento mais conhecido e
ao aumento do custo dos difundido é essencialmente
combustíveis, questões ligadas à constituído por um circuito fechado,
necessidade de utilizar a energia de dentro do qual o fluido de trabalho,
forma mais racional, bem como os denominado fluido frigorigéneo (2).
crescentes problemas ambientais. Este, a cada ciclo de
Estes factos têm constituído o compressão/expansão, que
principal incentivo à substituição das corresponde a um ciclo de trabalho,
tecnologias que utilizam combustíveis retira um pouco de calor ao fluido frio
fósseis para climatização e produção e cede-o ao quente.
de AQS, por tecnologias que os não Para a transferência de calor entre
utilizam, sendo por isso consideradas meios, utilizam-se vários tipos de
"limpas", como o são os sistemas fluidos que evaporam quando o calor
geotérmicos superficiais. é absorvido e que condensam
Estes sistemas são usados para quando o calor é cedido. Estas
climatização (aquecimento ou passagens de estado fazem aumentar
arrefecimento) ou produção de AQS, consideravelmente a quantidade de
de pequenos empreendimentos, calor que cada ciclo de trabalho é
como vivendas unifamiliares e, neste capaz de absorver e ceder. A inversão
caso, é utilizado o terreno circundante dos ciclos de trabalhos permite o
como zona de captação de calor, ou aquecimento e o arrefecimento. No
em empreendimentos de maior primeiro caso trata-se de uma bomba
dimensão como complexos de calor e no segundo de uma
hospitalares, edifícios habitacionais, máquina frigorífica.
ou outros, e neste caso a captação A Fig. 17 evidencia os principais
de calor é feita através de furos componentes de uma bomba de
geotérmicos com permutadores de calor.

(2)
O fluido frigorigéneo utilizado deverá respeitar a legislação em vigor respeitante à utilização de gases fluorados com efeito de estufa, nomeadamente,
em relação à compra e venda destes sistemas, assim como no que diz respeito à legislação aplicável sobre certificação, por forma a garantir que os
instaladores cumprem o explanado no Decreto – Lei n.º 56/2011, de 21 de abril e nos Regulamentos CE 303/2008, de 2 de abril e UE 517/2014, de 16
de abril.

|33
Geotermia - Energia Renovável em Portugal

1/2 – Através de um evaporador, o calor do meio ambiente (água, ar ou 4 – O condensador permite ao fluido frigorigéneo (que passa de vapor a
terra) é transferido para água glicolada. liquido) ceder calor ao fluido quente que é transferido à água de
3 – O compressor aumenta a pressão e temperatura do fluido aquecimento.
frigorigéneo. O coeficiente (ε) à eficiência do compressor é dado pela 5 – O circuito de aquecimento fornece calor ao meio a climatizar. A forma
relação entre o calor cedido ao fluido quente e a energia sob forma de mais eficiente de o fazer é através da utilização de superfícies radiantes
trabalho do compressor. (pisos, paredes ou tectos), porque necessita de temperaturas mais baixas
(aprox. 30ºC).
Qc
ε = 6 – Válvula de expansão-expande o fluido frigorigéneo, baixando a sua
Wcompressor temperatura (queda de pressão).

Fig. 17 – Principais componentes de uma bomba de calor


(Fonte: www.portal-energia.com)

Os sistemas geotérmicos superficiais módulos de aquecimento solar, edifício – fundações termo ativas), ou
tiram partido das temperaturas melhorando os níveis de eficiência. através de sistemas abertos com a
moderadas e estáveis do solo para A transferência de calor do solo, ou extração de água subterrânea que
incrementar a eficiência e, deste para o solo, pode ser efetuada em troca calor com um permutador de
modo, reduzir os custos sistemas fechados através de calor na superfície, sendo
operacionais de sistemas de permutadores de calor enterrados posteriormente injetada no aquífero
aquecimento e de refrigeração. Estes (vertical ou horizontalmente, ou (Figs. 18 e 19).
podem ser combinados com incorporados nas fundações do

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

A
B

Fig. 18 - Representação esquemática de sistemas geotérmicos superficiais abertos (A), fechados verticais (B) e fechados horizontais (C).
(Fonte: www.erdwaermekoeln.de)

Os sistemas abertos referem-se a apresentam uma temperatura mais diretamente em contacto com o
sistemas de bombas de calor ou menos constante ao longo do restante sistema, tornando estes
geotérmicas que utilizam diretamente ano, acabam por ser uma excelente sistemas extremamente seguros,
a água do subsolo, de minas ou forma de energia térmica. No com pouca manutenção, permitindo,
túneis, ou até da rede de entanto, estes sistemas apresentam teoricamente, a sua instalação em
abastecimento público, como fonte riscos acrescidos de alteração das qualquer local.
energética, incluindo água potável características da água subterrânea, Nos sistemas geotérmicos
que passa no sistema e é devolvida podendo levar a impactos superficiais fechados recorrendo a
à origem como fonte de ambientais que poderão ser fundações termo ativas (Fig. 19),
aquecimento ou arrefecimento. consideráveis, pelo que devem ser que apresentam um funcionamento
Os furos geotérmicos, na maior parte avaliados. semelhante aos restantes sistemas
dos casos, com profundidades entre Os sistemas fechados trocam calor fechados, o permutador de calor
os 10m e os 50m, servem para a de e para o solo através da diferença encontra-se incluso nas fundações
extração e para a reinjeção de água de temperatura entre o solo e o do edifício ou outras estruturas
que circula pela bomba de calor fluido de trabalho que circula dentro enterradas no solo, como por
onde é aproveitada a sua energia do permutador de calor enterrado. exemplo, estacas, paredes
através da diferença de temperatura, São sistemas fechados, uma vez que moldadas ou muros de contenção.
sendo depois devolvida ao subsolo. em nenhuma fase o fluido de
Como as águas subterrâneas trabalho do circuito primário entra

Fig. 19 – Representação esquemática de sistemas geotérmicos superficiais fechados com fundações termo ativas.
(Fonte: www.erdwaermekoeln.de)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Para além da disposição dos para o circuito primário e de diminuir dimensionamento e a eficiência
permutadores de calor no solo, os as perdas de calor que existem na global dos sistemas energéticos do
sistemas geotérmicos fechados permuta entre o circuito primário edifício.
podem também apresentar fechado e o circuito da bomba de Em Portugal Continental, podem ser
diferentes configurações internas, calor. Contudo, é necessária uma referidos como casos práticos em
diferindo no tipo de fluido de trabalho maior quantidade de fluido funcionamento de demonstração
que circula no circuito primário e na frigorigéneo, que é mais dispendioso desta tecnologia, de entre vários
forma como esse circuito se liga ao que a água utilizada por norma no exemplos, os seguintes:
ciclo da bomba de calor. permutador enterrado fechado,
apresentando um maior risco em • O edifício do Brigantia Ecopark em
Na Fig. 20 é descrito sucintamente o Bragança, que utiliza três bombas de
funcionamento de um sistema termos ambientais em caso de fuga.
calor geotérmicas, uma para AQS e
geotérmico superficial fechado Os sistemas geotérmicos superficiais as restantes para climatização do
vertical. podem também ser utilizados numa edifício;
Outro sistema possível é a utilização ótica de integração com outros
sistemas energéticos instalados num • O projeto Groudmed em Coimbra,
de expansão direta, onde o próprio onde foi instalada uma bomba de
fluido frigorigéneo da bomba de calor edifício. Podem, por exemplo,
durante o verão, servir para dissipar calor geotérmica no atual edifício da
circula pelo furo, existindo uma união Agência Portuguesa para o
entre o circuito primário e a bomba no solo o calor excedentário de um
sistema solar térmico, que virá a ser Ambiente, para climatização de um
de calor. Este sistema tem a piso com 22 gabinetes e 600m2 de
vantagem de não necessitar de uma parcialmente recuperado durante o
inverno, otimizando o área;
bomba de circulação independente

1 - Compressor, o fluido frigorigéneo, que circula em circuito fechado, 7- Ventilador, a água fria ao circular pelo ventilo convector retira calor
aumenta a sua pressão e temperatura. existente no ar ambiente. A temperatura de ida tem de ser regulada
2 - Condensador (permutador de calor), o calor é transferido para o para não haver condensação.
aquecimento central. O agente de refrigeração arrefece e liquefaz-se. 8 – Em piso, paredes ou teto radiante, ao circular a água, esta arrefece
3 - Válvula de expansão, expande o fluido frigorigéneo, baixando a sua à superfície da divisão a climatizar. Esta superfície funciona como
temperatura (queda de pressão) e arrefece. permutador de calor retirando calor do espaço ambiente. A
temperatura de ida tem de ser regulada de forma não haver
4 – Sondas geotérmicas permitem aproveitar o calor constante que condensação.
existe nas camadas do subsolo, para a produção de água quente
sanitária e como fonte de climatização. 9 – Válvulas comutadoras, conduzem a água de aquecimento através
do permutador de calor e arrefecimento.
5 – Evaporador, a energia captada pela sonda geotérmicas é
transferida para o fluido frigorigéneo, este aquece e evapora-se. 10 – Bomba de circulação/climatização, uma vez em funcionamento
ativa a água glicolada. A energia da água de climatização é transferida
6 – Para a operação paralela do aquecimento central da água e do para o circuito da água glicolada dentro do permutador de calor e
arrefecimento passivo, os dois sistemas são separados dissipa-se no solo.
hidraulicamente por válvulas comutadoras.
Fig. 20 – Bombas de calor com coletores enterrados
(Fonte: www.portal-energia.com)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

• O projeto Groudhit em Setúbal, de várias instituições do setor, destes aproveitamentos e que torne
consiste em duas bombas de calor preparou, por forma a permitir a possível a sua contabilização para o
geotérmicas colocadas nas regulamentação da utilização destes cumprimento da Diretiva
instalações do Instituto Politécnico sistemas, uma proposta de projeto 2009/28/CE, relativa à promoção da
de Setúbal, que permitem a de decreto-lei com os seguintes utilização de energias renováveis.
climatização de duas salas de aula e objetivos: Em maio de 2016 foi criado o perfil
sete gabinetes. O principal objetivo • Notificação prévia das instalações de Técnico Instalador de Sistemas
deste projeto era a identificação de por forma a prevenir possíveis Térmicos de Energias Renováveis,
qual o melhor fluido refrigerante e a interações com as áreas de proteção no âmbito do Catálogo Nacional de
demonstração do seu de dos recursos hidrominerais, Qualificações, sob coordenação da
funcionamento, com dois tipos nomeadamente no que diz respeito à Agência Nacional para a Qualificação
diferentes de permutador, coaxial instalação de sistemas geotérmicos e o Ensino Profissional (ANQEP),
simples e duplo U. O estudo permitiu superficiais verticais; onde se incluem os sistemas
identificar o R410A como fluido geotérmicos superficiais. Na
refrigerante e a configuração de • Avaliação dos riscos para a
exploração de recursos hidrominerais elaboração deste perfil foi tido em
duplo U como o permutador mais consideração a interface entre o
adequado. e de águas de abastecimento
público no caso de sistemas sistema energético (bomba de calor)
Em Portugal existe um vazio legal geotérmicos superficiais abertos; e o sistema geológico (perfuração e
nesta matéria, não existindo um instalação do permutador de calor),
cadastro das instalações de • Cadastro das instalações no caso dos sistemas verticais.
sistemas geotérmicos superficiais, realizadas em Portugal para que se
pelo que a DGEG, com contributos disponha de uma georreferenciação

3.2 Produção de A tecnologia para a produção de vapor, depois de arrefecido e


eletricidade energia elétrica tem capacidade de condensado, é reintroduzido no
utilizar recursos geotérmicos de alta e subsolo através de um furo de retorno
média entalpia, apresentando três denominado de reinjeção (Fig. 21).
3.2.1 Geotermia de variantes consoante as condições em
média e alta entalpia Estas centrais são instaladas nas
que se apresenta o fluido geotérmico proximidades de depósitos
(normalmente água e/ou vapor). geotérmicos naturais, emitindo
• Centrais geotérmicas de vapor apenas vapor e pequenas
seco: o fluido, principalmente vapor, é quantidades de gases não
extraído por um furo chamado de condensáveis para a atmosfera.
produção (que pode ter de centenas Esta tecnologia foi a primeira a ser
de metros de profundidade a até desenvolvida para produção de
cerca de 5 km), e é introduzido eletricidade, tendo sido instalada em
diretamente numa turbina que está Larderello, na Itália, em 1904.
ligada a um gerador elétrico. Esse

TURBINA GERADOR REDE

CAMADA
ROCHOSA
FURO DE FURO DE
PRODUÇÃO REINJEÇÃO

Fig. 21 – Esquema de uma central geotérmica de vapor seco


(adaptado de U.S. Department of Energy)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

• Centrais geotérmicas de Vapor produção) para depósitos que se vapor é condensado e, juntamente
Flash (reevaporação): é o tipo de encontram a pressões inferiores à da com a água não vaporizada, é
central mais comum na atualidade. água, onde esta, por efeito da reintroduzido no subsolo por furos de
Recorre a reservatórios naturais de diminuição de pressão se vaporiza, reinjeção, por forma a manter o
água que se encontram a uma sendo o vapor resultante conduzido equilíbrio do reservatório (Fig. 22).
temperatura superior a 180ºC. A para uma turbina para produção de
água é extraída por furos (furos de eletricidade. Após a sua utilização, o
TANQUE DE
EVAPORAÇÃO TURBINA GERADOR REDE

CAMADA
ROCHOSA
FURO DE FURO DE
PRODUÇÃO REINJEÇÃO

Fig. 22 – Esquema de uma central geotérmica de vapor flash (reevaporação)


(adaptado de U.S. Department of Energy)

• Centrais geotérmicas de ciclo para acionar a turbina produzindo Açores, nas ilhas de S. Miguel e
binário: utilizam água que se assim eletricidade, retornando depois Terceira, é de entre os três tipos
encontra a temperatura superior a ao permutador para ser reaquecido e citados, aquele que apresenta um
100ºC, extraída por furos de vaporizado, fechando-se o circuito. maior potencial de crescimento, pois
produção, para aquecer um fluido O efluente geotérmico retorna ao os recursos geotérmicos de
secundário com uma temperatura de subsolo por furos de reinjeção (Fig. temperatura inferior a 150ºC são os
evaporação inferior ao da água 23). mais comuns, tornando-se assim na
através de um permutador de calor, Como esta central trabalha em tecnologia que potencialmente terá o
não se verificando qualquer contacto circuito fechado, apenas é lançado maior número de instalações em
entre os fluídos. O fluido secundário vapor de água para a atmosfera. funcionamento por todo o planeta.
(daí a denominação de ciclo binário),
depois de vaporizado, é utilizado Este tipo de central, que é o que está
atualmente em funcionamento nos
TURBINA GERADOR REDE

PERMUTADOR DE CALOR
COM FLUÍDO SECUNDÁRIO

CAMADA
ROCHOSA
FURO DE FURO DE
PRODUÇÃO REINJEÇÃO

Fig. 23 – Esquema de uma central geotérmica de ciclo binário


(adaptado de U.S. Department of Energy)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

3.2.2 Geotermia estimulada Quando se tem conhecimento da acima referidas, que os reservatórios
existência de um campo geotérmico tenham de ser estimulados para
promissor, mas que por motivos aumentar a sua permeabilidade, e
geológicos (ausência de falhas assim incrementar o seu caudal de
naturais/rocha impermeável) não se produção.
demonstra disponível, de acordo com O furo de injeção é feito em camadas
as técnicas clássicas por não existir rochosas de baixa fraturação ou baixa
permeabilidade e conectividade permeabilidade, sendo injetada água
natural, pode-se recorrer a uma a alta pressão, e/ou através da
técnica denominada por EGS utilização de agentes químicos para
(Sistema Geotérmico Estimulado), dissolução seletiva de fases minerais,
que consiste em criar uma fraturação de forma a induzir essas fraturas nas
hidráulica que permite a recuperação camadas circundantes do furo.
do calor necessário ao funcionamento
de uma central geotérmica através da A estimulação dos reservatórios deve
injeção de água por meio de furos ser bem controlada e
(Fig. 24). cuidadosamente monitorizada para
evitar a geração de sismos percetíveis
Em Portugal Continental, onde o e contaminação de aquíferos pelos
gradiente geotérmico é relativamente agentes químicos.
baixo comparado com as regiões de
vulcanismo ativo, como o arquipélago Pode-se aumentar o número de furos
dos Açores, as profundidades de injeção de água para induzir
necessárias para exploração do fraturas em áreas mais extensas de
recurso para a produção de forma a se atingir os valores de calor
eletricidade (~3-5 km), implicam, para extração necessários ao
sempre que se verifique as condições funcionamento da central geotérmica.

Fig. 24 - Esquema ilustrativo de um Sistema Geotérmico Estimulado e da sua exploração.


(adaptado de Department of Energy, 2008).

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

Na vizinhança do furo de injeção é existente sugere que Portugal dos sistemas geotérmicos
efetuado um segundo furo que será também possui recursos passíveis estimulados.
o de recolha do fluido geotérmico de poderem vir a ser explorados. O desenvolvimento da tecnologia
aquecido pelas camadas rochosas. Entre os fatores favoráveis EGS encontra-se dependente da
Uma vez melhorada a destacam-se a existência de granitos gradual redução dos custos das
permeabilidade do reservatório, radiogénicos, com elevada sondagens e do desenvolvimento
garantindo-se caudais significativos, capacidade de geração de calor das técnicas de estimulação de
o calor das rochas é extraído através resultante do decaimento radioativo reservatórios. A expansão deste tipo
da circulação de água. de alguns dos seus elementos de sistemas para novos contextos
Após a passagem pelo centro constituintes. A existência de geológicos, permitirá que estes
electroprodutor e/ou por um espessas bacias sedimentares com cheguem a novas áreas geográficas,
permutador de calor, dependendo da aquíferos quentes, bem como a sendo essencial conhecer bem a
utilização à superfície, a água é ocorrência de falhas profundas, que distribuição do calor em
reinjetada em profundidade, possam facilitar a ascensão de profundidade, para selecionar os
garantindo, desta forma, a pressão fluidos profundos, são outros fatores locais que tenham gradiente
do reservatório necessária para a ter em conta. Embora existam já geotérmico mais elevado, uma vez
suster o caudal. alguns estudos que avaliam alguns que a profundidade de exploração
Embora o facto de cada área ter as destes fatores, esta temática carece afetará os custos dos projetos,
suas especificidades geológico- de ser aprofundada e integrada com condicionando a sua viabilidade.
-estruturais, o conhecimento novos modelos e técnicas na ótica

3.3 Redes de aquecimento À escala da área urbana, industrial • Instalações industriais;


geotérmico ou da região, as redes de • Instalações agrícolas (incluindo
aquecimento permitem a utilização horticultura, floricultura, pecuária,
de energia geotérmica em diferentes aquacultura).
contextos, designadamente em: A Fig. 25 esquematiza o
• Edifícios (habitação, comércio e funcionamento de uma rede de
serviços); distribuição de calor geotérmico.

5
8
3
7
2
LEGENDA
1. Furo de produção
2. Bomba de produção imersa
3. Bomba de reinjeção
4. Furo de reinjeção
4 5. Permutador de calor geotérmico
1 6. Caldeira auxiliar (utilização: peak-load)
10 9 7. Rede de aquecimento
8. Subestração
9. Reservatório geotérmico
10. Zona de Fluído Frio

Fig. 25 – Componentes de uma rede de aquecimento geotérmico


(adaptado de: http://newenergynews.blogspot.pt/2015/12/how-geothermal-can-heat-whole-
district.html)

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

A operação deste tipo de redes de bombas de calor, com especial possíveis soluções adequadas às
distribuição, consoante a natureza e incidência atualmente nos países do necessidades, de modo a se fazer
intensidade da procura, além de sul da Europa. uma análise, de base regional, sobre
contribuir de forma significativa para No caso de Portugal Continental, o potencial existente.
a descarbonização do setor da existem recursos geotérmicos de A energia geotérmica e seu uso em
climatização, é estrategicamente baixo gradiente térmico revelados e redes de aquecimento ou
muito interessante a nível significativamente caracterizados, arrefecimento levará a uma melhoria
local/regional, pelos seus potenciais que poderão ser explorados numa do desempenho energético,
impactes positivos em termos escala diferente da atual. designadamente no que se refere ao
energéticos, sociais e económicos. sector dos edifícios, que é uma
Esta aplicabilidade está igualmente Para o efeito, importa rentabilizar o
conhecimento existente no terreno, componente significativa do
demonstrada quando o objetivo é o consumo europeu de energia.
arrefecimento, com recurso a identificando oportunidades e

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

4. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E SOCIAL


DA GEOTERMIA

Uma sociedade sustentável implica a substituição dos combustíveis viabilidade energética e económica,
utilização de sistemas energéticos de fósseis, tem levado à utilização de mas também pelo seu desempenho
forma sustentável do ponto de vista diversas fontes de energia a nível social e ambiental.
económico, social e ambiental, bem alternativas, pelo que é expectável A proteção ambiental e social tem
como serem estas práticas que a utilização de energia vindo a ser apoiada pelas instituições
compatíveis com o bem-estar das geotérmica conheça uma procura financeiras, sendo as orientações do
gerações futuras. crescente, dado tratar-se de uma Banco Mundial para a produção de
A crescente aposta em energias solução tecnológica promissora que energia elétrica por via geotérmica,
renováveis, com a consequente comporta benefícios (locais e uma referência nesse âmbito.
regionais), não apenas pela sua

4.1 Aspetos ambientais A geotermia quando comparada desenvolvimento económico e


com outras fontes de energia, exibe social.
menos impactes ambientais A elevada disponibilidade e potencial
negativos e oferece maior de aplicação da geotermia, aliada ao
segurança, permitindo manter o facto de ser uma tecnologia de baixo
ambiente natural, bem como a carbono, poderá contribuir
integridade das comunidades e dos fortemente para o combate às
restantes ecossistemas subjacentes, alterações climáticas (Fig. 26).
possibilitando, simultaneamente, o
Fonte de Energia Primária

Carvão

Petróleo

Gás Natural

Geotermia

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000

g CO2 / kWh

Fig. 26 – Contribuição do impacte da geotermia nas emissões de CO2


Fonte: Fridleifsson, I.B., et al. 2008

A forma de utilização do recurso emissões quase nulas quando


geotérmico (eletricidade, calor) vai comparada com tecnologia que
determinar os respetivos impactes recorre a fontes não renováveis;
ambientais positivos e negativos: • Impactes negativos - gestão da
• Impactes positivos - fonte de água e dos resíduos no caso da
energia renovável disponível geotermia estimulada; emissões
localmente; proporciona elevada gasosas e ruído associados ao
disponibilidade e estabilidade processo de perfuração, instalação e
(inclusive para uso direto); utilização operação do sistema.
de tecnologia energética com

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

4.2 Aspetos sociais Novos investimentos na exploração influenciada por vários fatores. Numa
de energia geotérmica podem resultar primeira fase, a atitude centra-se nos
num incremento das atividades benefícios e nos riscos da tecnologia,
económicas associadas ao sendo então crucial a influência das
desenvolvimento social, com diferentes partes envolvidas no
impactes positivos diretos e indiretos processo. Quando os níveis de
sobre as oportunidades de emprego aceitação social progridem, as
(com diferentes graus de condições definidas pela agenda de
especialização) e, consequentemente, política pública têm mais importância.
sobre a economia local. De forma geral, os impactes sociais
A perceção societal da tecnologia positivos e negativos, resultantes do
geotérmica está naturalmente desenvolvimento e exploração da
relacionada com a fase de maturidade energia geotérmica, têm grande
em que a mesma se encontra no diversidade e especificidade, sendo
contexto de aplicação, isto é, com o úteis na conceção, construção e
período de tempo que decorre deste divulgação do projeto.
o início da sua exploração. Bons Os impactes devem também ser tidos
exemplos em Portugal são os casos em consideração como dimensões
de exploração geotérmica em S. para a criação de valor social, com
Miguel (Açores) e nas Termas de contribuições para a saúde,
Chaves e S. Pedro do Sul. saneamento, educação, demografia,
Em termos sociais, a evolução de criação de riqueza local e
uma tecnologia emergente é desenvolvimento económico.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

5. REVELAÇÃO E APROVEITAMENTO
DOS RECURSOS GEOTÉRMICOS

A implementação de um projeto de vários fatores, desde o início à económica, social e ambiental das
geotérmico, que normalmente é de sua operacionalização: as condições ações previstas, os enquadramentos
capital intensivo, obriga a um geológicas, hidrogeológicas e institucionais e regulamentares, o
planeamento detalhado e depende geotérmicas locais, a viabilidade acesso ao financiamento.

5.1 Estudo prévio: recolha e Esta fase inicia-se com o contrato - Executar os trabalhos de acordo
avaliação dos dados de prospeção e pesquisa, nos com o programa aprovado;
existentes termos do disposto no artigo 18º e - Indemnizar terceiros por todos os
seguintes da Lei nº 54/2015, de 22 danos que lhes forem diretamente
de junho. Deverá ser elencado um causados em virtude das atividades
conjunto de trabalhos a executar de prospeção e pesquisa e executar
durante o período de vigência do as medidas de segurança, de
contrato. proteção ambiental e de
• O contrato de prospeção e recuperação paisagística prescritas,
pesquisa atribui os seguintes mesmo após o termo das referidas
direitos: atividades.
- Realizar na área objeto do contrato É ainda necessário ter em
os estudos e trabalhos inerentes à consideração as necessidades de
prospeção e pesquisa dos recursos transmissão de eletricidade e
geotérmicos; distribuição de água quente, as
- Utilizar temporariamente os infraestruturas básicas e as
terrenos necessários à realização comunicações disponíveis, bem
dos trabalhos de prospeção e como uma avaliação preliminar de
pesquisa; impactes ambientais e as
necessárias licenças, autorizações e
- Obter a concessão de exploração outros aspetos legais.
dos recursos revelados, desde que
preenchidas as condições legais e No final, na posse de um conjunto
contratuais aplicáveis. de dados preliminares (que inclui: a
primeira estimativa do tipo e
• O contrato de prospeção e dimensão do reservatório, os
pesquisa também impõe as possíveis utilizadores, o
seguintes obrigações: enquadramento legal e
- Iniciar os trabalhos no prazo de regulamentar, as possibilidades de
seis meses, a contar da data da financiamento, os possíveis
celebração do contrato, salvo se impactes ambientais e sociais),
outro prazo neste for toma-se a decisão de avançar para
convencionado; a fase seguinte do projeto: a fase de
prospeção e pesquisa.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

5.2 Prospeção e pesquisa Esta fase destina-se a caracterizar as e/ou de vapor.


formações e as estruturas geológicas É ainda necessário realizar uma
que condicionam o recurso e a avaliar estimativa preliminar da dimensão do
e quantificar as disponibilidades sistema e do seu potencial
geotérmicas. energético.
A prospeção inclui atividades de Tendo por base os resultados da
cartografia geológica e prospeção, é tomada a decisão de
hidrogeológica, prospeção avançar ou não para a pesquisa.
termométrica, geoquímica da água e Tomada a decisão de avançar, é
dos solos, e geofísica. Pode também necessário elaborar o plano de
incluir sondagens de reconhecimento, pesquisa e respetiva orçamentação.
ou outras perfurações para São igualmente recolhidos dados
caracterizar a ocorrência do recurso. para a avaliação do impacte
A partir dos estudos iniciais é ambiental.
elaborado o primeiro esboço do Nas sondagens de pesquisa, recorre-
modelo conceptual geotérmico, que se à perfuração para avaliar a
deve focar aspetos como o calor evolução da temperatura e da
disponível, a distribuição da pressão com a profundidade, e
temperatura em profundidade, a testar/rever os resultados da
estrutura geológica, a presença de prospeção bem como,
aquíferos e as características da eventualmente, reforçar a prospeção
recarga, ou de formações capazes de geofísica, ou outra, para mapeamento
funcionar como reservatório de estruturas existentes no subsolo.
geotérmico.
Depois de executados os trabalhos
É também importante avaliar, nesta de prospeção e pesquisa, segue-se o
fase, questões como a estudo de viabilidade, onde se
permeabilidade e conetividade, estima, face ao mercado, o potencial
presença de cobertura rochosa de exploração comercial.
impermeável, composição físico-
química do fluido, caudal de água

5.3 Captação do recurso Esta fase inicia-se com a realização elementos necessários para
geotérmico, ensaios e de perfurações, ensaios de produção submissão do projeto a
estudo de viabilidade de curta e longa duração e financiamento.
interpretação dos resultados, com o Sendo esta uma fase de decisão,
objetivo de confirmar a existência do com base no conhecimento existente
recurso geotérmico, sua localização sobre o campo geotérmico, é
exata e potencial energético do determinada a escala de projeto mais
campo geotérmico. vantajosa, integradas as
Se os resultados da pesquisa forem recomendações designadamente
positivos, e o potencial geotérmico for sobre impactes negativos e opções
confirmado, desenvolve-se um estudo de prevenção ou mitigação
de viabilidade, que integra a avaliação correspondentes, bem como os
de todos os dados disponíveis e os investimentos necessários.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

5.4 Exploração e Nesta fase são atribuídos direitos de No entanto, fica também o
valorização do recurso exploração, através da assinatura do concessionário obrigado a (artigo
geotérmico contrato de concessão, nos termos 29º):
do disposto no artigo 26º e • Iniciar, no prazo de um ano, a
seguintes da Lei nº 54/2015, de 22 contar da data da celebração do
de junho. respetivo contrato de concessão, os
Com a assinatura do contrato de trabalhos indispensáveis à
concessão, são atribuídos ao exploração, salvo se
concessionário os seguintes direitos contratualmente for fixado prazo
(artigo 28º): diferente;
• Explorar os recursos, nos termos • Manter a exploração em estado de
da Lei e do respetivo contrato; laboração, salvo se a suspensão da
• Comercializar todos os produtos mesma tiver sido previamente
resultantes da exploração; autorizada;
• Utilizar, observando os • Indemnizar terceiros por danos
condicionalismos legais, as águas e causados pela exploração;
outros bens do domínio público do • Cumprir as normas e medidas de
Estado que não se acharem higiene, segurança e saúde no
aproveitados com base em outro trabalho, de proteção ambiental e de
título legítimo; recuperação paisagística, mesmo
• Contratar com terceiros a após a extinção da concessão;
execução de trabalhos especiais ou • Fazer o aproveitamento dos
a prestação de assistência técnica, recursos, segundo as normas
desde que tais acordos não técnicas adequadas e em harmonia
envolvam uma transferência de com o interesse público do melhor
responsabilidades inerentes à sua aproveitamento desses bens;
condição de concessionário; • Explorar, sempre que possível, os
• Requerer a expropriação por recursos do domínio público do
utilidade pública e urgente dos Estado que sejam revelados na área
terrenos necessários à realização demarcada com reconhecido valor
dos trabalhos e à implantação dos económico, desde que se verifique
respetivos anexos, ainda que fora da compatibilidade de exploração;
área demarcada, ficando os • Apresentar, com a periodicidade
mesmos afetos à concessão; que lhes for fixada pela DGEG, os
• Obter a constituição, a seu favor, elementos de informação relativos
por ato administrativo, das servidões ao conhecimento do recurso,
necessárias à exploração dos devendo a periodicidade fixada ser
recursos; adequadamente fundamentada.
• Preferir na venda ou dação em No final desta fase o recurso
cumprimento de prédio rústico ou geotérmico encontra-se em
urbano existente na área condições de ser explorado, dentro
demarcada, desde que a aquisição do prazo contratualmente fixado.
dessa propriedade se mostre Segue-se a elaboração do projeto
indispensável à exploração. de construção da central
geotérmica.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

5.5 Especificidades de No caso especifico de um projeto de de agosto, alterado e republicado


projetos geotérmicos de produção de eletricidade, e por se pelo Decreto-Lei n.º 215-B/2012, de
tratar de uma fonte de energia 8 de outubro).
produção de eletricidade renovável, este deverá cumprir os Os procedimentos para a obtenção
procedimentos de controlo prévio da licença de produção de
(licença de produção ou comunicação eletricidade encontram-se mais
prévia) de eletricidade em regime detalhados no Anexo a esta
especial (PRE) de acordo com o publicação, sendo que existem
definido no Decreto-Lei n.º 176/2006, alguns passos que têm de ser
de 23 de agosto, alterado e efetuados em momentos chave do
republicado pelo Decreto-Lei n.º 215- desenvolvimento do projeto de
B/2012, de 8 de outubro. valorização do recurso geotérmico.
No PRE existem dois regimes Durante a fase de captação do
remuneratórios para a eletricidade recurso geotérmico, ensaios e estudo
produzida: o Regime Geral (preço de de viabilidade (fase 5.3) quando já
mercado) e o Regime de existe uma maior certeza sobre a
Remuneração Garantida. existência do recurso geotérmico,
No Regime Geral enquadram-se deverá ser efetuado o pedido de
quaisquer projetos de produção de informação sobre a existência de
eletricidade, nomeadamente a partir capacidade de receção da rede
de recursos geotérmicos que utilizem elétrica, pois a sua inexistência
tecnologias já maduras, como é o poderá inviabilizar o projeto.
caso das centrais geotérmicas de Ainda nesta fase, por forma a evitar
vapor seco, de vapor flash e de ciclo hiatos temporais na execução do
binário, ou tecnologias emergentes e projeto, deverá ser pedida a Licença
de elevado risco, como são as de Produção ou Comunicação Prévia,
centrais EGS. consoante o caso, assim que se
Para acesso ao Regime de obtenha sucesso na realização da
Remuneração Garantida, associadas captação, devendo, para esse efeito,
a projetos incentivados por tarifas já ter recolhido toda a documentação
fixadas administrativamente para necessária para a solicitar.
promoção do seu desenvolvimento, é Após a construção da central
necessária a abertura de geotérmica eletroprodutora, esta só
procedimento concursal de iniciativa pode iniciar a exploração industrial
pública ou procedimento equivalente após obtenção da Licença de
(nos termos do n.º 5, do art.º 33.º -G Exploração ou do Certificado de
no Decreto-Lei n.º 176/2006, de 23 Exploração, consoante o caso.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

• A evolução tecnológica, seja ao nível da prospeção desenvolvimento de projetos com vista ao incentivo
e pesquisa, da perfuração, ou das tecnologias de para a utilização direta destes recursos.
utilização dos recursos geotérmicos, poderá tornar • A promoção da utilização da geotermia superficial
possível novas aplicações destes recursos. A evolução deve ser incrementada, como forma de utilização de
tecnológica tem também levado a constantes uma fonte renovável de energia, para a climatização de
alterações do diagrama de Lindal, (ponto 2.8. deste edifícios e produção de águas quentes sanitárias,
estudo), pois o aproveitamento dos recursos sendo para isso necessária a sua regulamentação,
geotérmicos para determinadas aplicações cada vez é como forma de assegurar a sua mais correta utilização,
efetuado a temperaturas mais baixas. minimizando possíveis impactes que possam existir,
• Novas tecnologias de perfuração poderão permitir nomeadamente no que diz respeito à interferência com
aceder a maiores profundidades através de qualquer recursos do domínio hídrico e hidrogeológico.
tipo de formação geológica, potenciando o acesso a • A utilização da energia geotérmica constitui um efeito
recursos geotérmicos até agora inacessíveis. benéfico em termos de eficiência energética na área
• Técnicas de prospeção e pesquisa mais dos edifícios, uma vez que se estima que cerca de 40%
eficientes no desenvolvimento de projetos geotérmicos do consumo europeu de energia seja efetuado nesta
poderão levar a um melhor conhecimento do subsolo, a área, contribuindo para o cumprimento das metas
custos mais reduzidos, devido à diminuição dos riscos europeias em termos de eficiência energética. Para
associados à incerteza inerente à geologia em além disso, destaca-se a contribuição dos recursos
profundidade. geotérmicos na diminuição das emissões de gases
• A integração dos recursos geotérmicos com com efeito de estufa e, consequente, nas alterações
outras tecnologias renováveis poderá ainda contribuir climáticas.
para um aumento da eficiência energética nos edifícios, Face ao potencial geotérmico de Portugal
na indústria, ou na produção de eletricidade, pelo que o Continental, e à utilização que atualmente dele se faz,
desenvolvimento de novas soluções poderá também surge a necessidade de se formular um plano de ação
contribuir para o seu desenvolvimento e melhoria de para o seu desenvolvimento, que deverá abordar, de
desempenho. uma forma sistemática, os tópicos acima referidos,
• O potencial geotérmico já revelado em Portugal tornando a geotermia numa solução mais atrativa e
Continental encontra-se subexplorado, devendo ser com menores riscos geológicos e financeiros, maior
previstas linhas de apoio financeiro ao eficiência energética e menores impactes ambientais.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

BIBLIOGRAFIA

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Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa,
140 pp.

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

ANEXO

Procedimentos para a obtenção A produção de eletricidade em regime especial, no âmbito do definido no n.º 1 do artigo 18.º do
de licença de exploração para Decreto-Lei n.º 29/2006, de 15 de fevereiro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 215-
A/2012, de 8 de outubro, rege-se pelo Capítulo III do Decreto-Lei n.º 172/2006, de 23 de agosto,
centros eletroprodutores de alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 215-B/2012, de 8 de outubro (DL 172/2006).
valorização de recursos Neste diploma, o regime especial divide-se em dois regimes de remuneração:
geotérmicos
a) Regime Geral (alínea a), n.º 1, artigo 33.º-G) – Em que os produtores de eletricidade vendem
a eletricidade produzida, nos termos aplicáveis à produção em regime ordinário, em mercados
organizados ou através da celebração de contratos bilaterais com clientes finais ou com
comercializadores de eletricidade, incluindo com o facilitador de mercado ou um qualquer
comercializador que agregue a produção.
Neste regime a instalação de centros eletroprodutores é sujeita a Licença de Produção, sempre
que se verifiquem os pressupostos do n.º 2, do artigo 33.º-E, ou seja:
i) Potência de ligação à rede superior a 1 MVA;
ii) Sujeição da instalação do centro eletroprodutor aos regimes jurídicos de avaliação de impacte
ambiental ou de avaliação de incidências ambientais, nos termos da legislação aplicável;
iii) A instalação do centro eletroprodutor esteja projetada para espaço marítimo sob a soberania
ou jurisdição nacional;
O pedido de Licença de Produção deve ser instruído nos termos e com os elementos constantes
do artigo 33.º-J e Anexo II do DL 172/2006, bem como com a demonstração da observância dos
critérios gerais definidos no seu artigo 33.º-F.
Caso contrário, a instalação de centros eletroprodutores para produção em regime especial é
sujeita a Comunicação Prévia, caso em que são aplicáveis os procedimentos da Portaria n.º
237/2013, de 24 de julho.
O pedido de Comunicação Prévia deve ser instruído nos termos e com os elementos constantes
do artigo 5.º e Anexo I da Portaria n.º 237/2013, bem como com a demonstração da observância
dos critérios gerais definidos no artigo 33.º-F do DL 172/2006.
b) Regime de remuneração garantida (alínea b), n.º 1, artigo 33.º-G) – Em que a eletricidade
produzida é entregue ao Comercializador de Último Recurso (CUR), contra o pagamento da
remuneração atribuída ao centro eletroprodutor nos termos dos n.ºs 4 e 5 do mesmo artigo.
Neste caso a instalação de centros eletroprodutores é sujeita a Licença de Produção sendo
aplicáveis os procedimentos constantes na Portaria n.º 243/2013, de 2 de agosto, na redação
dada pela Portaria n.º 133/2015, de 15 de maio.
Mais se informa que o regime de remuneração garantida carece de publicação de procedimento
concursal de iniciativa pública ou procedimento que a faculte a todos os interessados que
preencham os requisitos que venham a ser estabelecidos, de acordo com critérios de igualdade e
transparência. (ver n.º 4 e 5, do artigo 33º-G, do DL 172/2006).
Em fase anterior à apresentação do pedido de controlo prévio à instalação do centro
eletroprodutor (Licença de Produção ou Comunicação Prévia) o promotor deve acautelar a
obtenção dos elementos/pareceres necessários, em particular a informação sobre a existência de
capacidade de receção e condições de ligação à rede da parte do correspondente operador da
rede (distribuição ou transporte) e autorizações ambientais/ordenamento do território.
Relativamente aos regimes de avaliação ambiental deverão ser averiguadas as seguintes eventuais
abrangências:
i) Sujeição ao regime de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA), conforme definido no Decreto-Lei
nº 151-B/2013 de 31 de outubro, na redação dada pelo Decreto-Lei nº 47/2014, de 24 de
março, e pelo Decreto-Lei nº 179/2015, de 27 de agosto (Diploma AIA) por via objetiva,
decorrente da aplicação do disposto no artigo 1.º, n.º 3, alínea b), subalínea i) do Diploma AIA:
os projetos que estejam tipificados no ponto 3 do anexo II do Diploma AIA e que estejam
abrangidos pelos limiares ali fixados, encontram-se sujeitos a Avaliação de Impacte Ambiental
(AIA), carecendo de emissão de Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável ou
condicionalmente favorável em fase prévia ao licenciamento.
ii) Sujeição ao regime AIA por via subjetiva, através da aplicação do disposto no artigo 1.º, n.º 3,
alínea b), subalíneas ii) e iii) do Diploma AIA: os projetos que estejam tipificados no ponto 3 do
anexo II do Diploma AIA mas que não atinjam os limiares ali definidos, devem proceder à
apreciação prévia de sujeição a AIA em conformidade com o artigo 3.º do Diploma AIA. Para
este efeito devem, em fase prévia ao licenciamento, remeter os elementos previstos no Anexo I
da Portaria n.º 395/2015, de 4 de novembro.
De salientar ainda que qualquer projeto, ainda que não integrado em nenhuma das tipologias
constantes dos anexos I e II do Diploma AIA, pode ser sujeito a AIA por aplicação do disposto na
alínea c) do n.º 3 do seu artigo 1.º, a qual prevê a possibilidade de sujeição a AIA de projetos, por
decisão conjunta do membro do Governo competente na área do projeto em razão da matéria e
do membro do Governo responsável pela área do ambiente, que, em função da sua localização,
dimensão ou natureza, sejam considerados como suscetíveis de provocar um impacte significativo

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

no ambiente, tendo em conta os critérios estabelecidos no anexo III do diploma AIA.


iii) Para os projetos que, comprovadamente, não careçam de AIA, deve ser verificada a eventual sujeição
ao regime de Avaliação de Incidências Ambientais (AIncA) no âmbito do artigo 33.º-R do DL 172/2006.
Caso se verifique a abrangência por AIncA, o respetivo Estudo de Incidências Ambientais (EIncA) deve ser
submetido à DGEG conjuntamente com o pedido de licenciamento.
iv) Para os projetos que, comprovadamente, não careçam de AIA nem de AIncA, deve ser obtido parecer
favorável sobre a localização à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR)
territorialmente competente.
Para além dos regimes de avaliação ambiental, o promotor deverá acautelar outra legislação que tenha de
cumprir, através da obtenção dos pareceres de entidades com cujo domínio a instalação interfira, como
por exemplo:
• APA caso os projetos possuam infraestruturas em terra com domínio/recursos hídricos (DL 226-A/2007 de
31 de maio),
• DGRM caso a instalação seja instalada em espaço marítimo,
• CCDR caso a instalação se localize em reserva ecológica nacional,
• Câmara Municipal respetiva demonstrando a não oposição da mesma à execução do projeto,
• Operadores da Rede Nacional de Distribuição (RND), EDP Distribuição e Rede Nacional de Transporte
(RNT), a REN, caso a instalação possa interferir com os seus domínios de atividade (este parecer é distinto
do parecer dos operadores relativamente à existência de capacidade de injeção na rede),
• Infraestruturas de Portugal (na situação de atravessamento de estradas nacionais ou ferrovias),
• Ana Aeroportos e Estado Maior da Força Aérea,
Outras entidades não listadas cujo domínio interfira com a instalação.
Os titulares de Licença de Produção ou de Comunicação Prévia admitida devem concluir os trabalhos de
instalação do centro eletroprodutor e iniciar a exploração do mesmo num prazo que não pode ultrapassar
dois anos (cf. artigo 33.º-P do DL 172/2006 e artigo 9.º da Portaria 237/2013), ou nos prazos definidos no
artigo 20.º da Portaria 243/2013, quando aplicável.
O titular da Licença de Produção ou do ato de admissão da Comunicação Prévia só pode iniciar a
exploração industrial do centro eletroprodutor após obtenção da Licença de Exploração ou do Certificado
de Exploração, consoante o caso, a emitir pela entidade licenciadora, na sequência da realização de vistoria
(cf. artigo 33.-Q articulado com artigo 20.º-B e 21.º do DL 172/2006, artigo 10.º da Portaria 237/2013 ou
artigo 21.º da Portaria 243/2013, cf. aplicável).

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Geotermia - Energia Renovável em Portugal

FICHA TÉCNICA

DGEG – Direção Geral de Energia e Geologia


Elaborado pela DSRHG (Direção de Serviços de Recursos Hidrogeológicos e Geotérmicos) com a colaboração da DEIR
(Divisão de Estudos, Investigação e Renováveis) e DSEE (Direção de Serviços de Energia Elétrica).
A componente relativa à Região Autónoma dos Açores foi elaborada em colaboração com o INOVA – Instituto de
Inovação Tecnológica dos Açores e o Governo dos Açores (Direção Regional de Energia e Direção Regional de Apoio ao
Investimento e Competitividade).

AGRADECIMENTOS

A DGEG agradece ao Doutor José Martins Carvalho pela sua colaboração na revisão do documento final.

ISBN:
978-972-8268-43-5;
Título: Geotermia - Energia Renovável em Portugal
Autor: DGEG - Direção Geral de Energia e Geologia
Suporte: Impresso
Formato: 210x280mm; Brochado

978-972-8268-44-2;
Título: Geotermia - Energia Renovável em Portugal
Autor: DGEG - Direção Geral de Energia e Geologia
Suporte: Eletrónico

N. DL: 434412/17
Nº de Edição: 1ª edição

Esta brochura teve apoio financeiro do Fundo de Apoio à Inovação

Data: novembro 2017

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Av. 5 de Outubro, 208 (Edifício Sta. Maria)
1069-203 Lisboa - Portugal

+ 351 217 922 700


+ 351 217 922 800

www.dgeg.gov.pt

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