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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROFESSOR ALBERTO CARVALHO


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DE ITABAIANA

ROTEIRO DESCRITIVO

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: PERSONIFICAÇÕES DAS


CONTRADIÇÕES NO ESPAÇO URBANO
Lucas Santos Costa
Talya Lima Santos

1. ONDE DESCOBRI A IDEIA?

Por meio de reflexões cotidianas sobre nossa realidade concreta, ou seja, sobre a
vida e seus desdobramentos visíveis e palpáveis. Durante o último inverno, o frio se
fez presente em Itabaiana de uma forma mais acentuada que o normal e foi
exatamente durante as noites frias que surgiram algumas reflexões, tais quais: se
eu, que vivo numa casa e estou envolta em cobertores, estou sentindo tanto
incômodo com as baixas temperaturas, como as pessoas em situação de rua estão
nesse momento? Quais os meios para sobreviver e viver em um ambiente inóspito
quando os meios tradicionais lhe foram negados?
O fato é que a questão social aqui apresentada é o ponto de partida para refletir
acerca dos múltiplos aspectos correlatos a desigualdade social e suas multifaces.
Afinal, eu estou no Nordeste do Brasil e aqui o frio não chega a ser tão severo
quanto em outras regiões do país ou do mundo, além disso, se proteger do frio não é
e está longe de ser a única problemática enfrentada pela população em situação de
rua. Então, quem são essas pessoas? Como vivem? Por que estão nas ruas?
Como se relacionam com o espaço onde vivem?
2. TEM ALGUM COLEGA PENSANDO JUNTO COMIGO? POR QUE EU
ACHO ESSA QUESTÃO IMPORTANTE?

Sim, a ideia está sendo debatida em conjunto entre Lucas Costa e Talya Lima.
Acreditamos que seja uma questão importante justamente pela invisibilidade à que
essas pessoas estão submetidas. Abordar essa questão a partir das histórias e
pontos de vistas dessas pessoas pode ser algo positivo, tendo em vista as diversas
conjecturas equivocadas e depreciativas que muitas vezes são disseminadas pelo
senso comum. Um exemplo disso é a famosa entrevista feita pela socialite Val
Marchiori com a Bia Dória, onde ambas apontam a situação de rua como um
atrativo, e qualquer tipo de ajuda como um incentivo à vadiagem. Nesse sentido, é
necessário pensar até que ponto também podemos estar internalizando conjecturas
estapafúrdias desse tipo.

3. COMO ESTOU PENSANDO EM ESTUDAR ESSA IDEIA E COMO


PRETENDO APRESENTÁ-LA?

A população em situação de rua, apesar de invisibilizada, faz parte de uma realidade


concreta, escancarada e absurdamente comum. Sendo uma situação tão numerosa,
abre-se espaço para o questionamento do porquê essas pessoas continuaram e
continuam sem assistência satisfatória durante tanto tempo. Por que alguém que
não possui relações efetivas com os bens de consumo e a propriedade privada
passa a ser visto como uma sombra pairando nos ares das cidades e não mais como
uma pessoa/cidadão real?
Estando à margem da sociedade, assim como qualquer grupo que por algum motivo
não se adequa às normas sociais dominantes, o morador de rua passa de um ser
social para um ser praticamente não existente aos olhos do Estado e de outras
instituições sociais. Mas o fato é que eles existem, são pessoas, pessoas comuns e
não homogêneas que possuem suas próprias histórias de vida, suas visões de
mundo e suas formas de se relacionarem e produzirem o espaço onde vivem, o
espaço urbano.
Sendo assim, pretendemos analisar histórias e depoimentos reais de pessoas que
moram nas ruas da cidade de São Paulo. Através dos relatos coletados e
disponibilizados pela ONG “SP invisível” em suas redes sociais, objetiva-se tentar
compreender um pouco, a partir de seus depoimentos, quem são essas pessoas,
como elas enxergam a si mesmas e a sociedade, de que forma se relacionam com o
espaço urbano e como as contradições existentes na produção desse espaço se
manifestam nessa temática.

4. O QUE FOI QUE EU APRENDI COM AS LEITURAS E COMO ELAS


APARECEM NA MINHA DESCRIÇÃO?

O fato de que vivemos no senso comum da sociedade e que quando temos nossas
certezas abaladas entramos em crise, mas uma crise positiva, pois ela possibilita
uma série de questionamentos sobre o que vemos e vivemos. O que Marilena Chauí
chama de atitude filosófica nos fez pensar sobre essa temática a partir das próprias
questões mencionadas por ela: O que é? Como é? Por que é? Para que é? As
questões norteadoras são fundamentais para a ciência, e ao pensar a ciência
geográfica, que procura compreender a produção do espaço através das relações
entre a sociedade e o meio, não faltam oportunidades para “entrarmos em crise” no
nosso dia a dia.

SEGUNDA ETAPA – RESULTADOS OBTIDOS

A avaliação progressiva contribuiu de forma prática para uma apresentação


dos conteúdos principais sobre Teoria e Método na Ciência, mais especificamente
sobre como as teorias são produzidas nas ciências humanas e consequentemente
na Geografia. A partir daí, nos debruçamos sob a tarefa de produzir uma teoria que
leve em consideração a produção e transformação social do espaço, além de
escolher um método para chegar aos requeridos resultados e a um produto final.
As leituras e debates feitos durante as aulas da disciplina Teoria e Método em
Geografia deram o suporte necessário para o entendimento dos conceitos e temas
principais: Teoria, Método, Filosofia da Ciência, Paradigmas e Categorias, entre
outras questões. Além disso, o texto “O sentido formativo da Geografia”, de Antônio
Carlos Robert Moraes, deixou bem claro a importância de dividir o espaço
geográfico em categorias de análise e assim o fizemos.
Considerando a produção social do espaço, objeto de estudo da Geografia,
partimos das seguintes categorias: espaço (espaço urbano), população (população
de rua) e habitat, para analisar a questão da vulnerabilidade socioespacial que as
populações de rua são submetidas.
Tendo como base tudo que foi abordado no componente curricular e os
nossos próprios questionamentos a respeito do tema escolhido, definimos um
caminho a ser percorrido durante o trabalho. A abordagem de método escolhida
para este trabalho se aproximou do método indutivo, e consistiu em fazer a coleta
dos dados, no caso aqui, os depoimentos divulgados pela SP invisível, organizar o
material e analisar os conteúdos que permeiam as categorias definidas, a fim de
chegar a conclusões que foram utilizadas no nosso produto final.
O espaço produzido socialmente por populações em situação de rua se difere
do espaço produzido socialmente da forma tradicional onde o espaço, de uma forma
geral, com suas funcionalidades específicas e sua paisagem urbana são
estabelecidas de acordo com funções guiadas pela lógica capitalista e sua inerente
produção de desigualdade. Quando um grupo de pessoas perde o direito, que
alguns nem chegaram a ter, de ocupar espaços convencionais/funcionais de
moradia, ou seja, o direito ao habitat, suas relações com o espaço se modificam de
diversas formas, considerando que, elas passam a ocupar esses espaços de forma
temporária, espaços que não foram feitos para que elas vivessem e habitassem,
mas que, no entanto, é tudo que lhes restam.
As relações de afetividade com a cidade são modificadas a partir do
momento em que se torna conflituoso estabelecer afetos concretos com lugares que
não são seus em nenhuma medida, visto que, te expulsam constantemente mesmo
que de forma simbólica. Por estar em constante vulnerabilidade socioespacial, a
população em situação de rua precisa adequar a sua produção espacial de acordo
com determinadas limitações e empecilhos, pois a produção de um espaço como
habitat se dá dentro de um território que não lhe pertence e que, portanto, faz
questão de lhe lembrar isto, das mais diversas formas, sempre que pode.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PALOMBINI, Leonardo Lahm. Os moradores de rua e sua relação com o espaço


urbano. Para Onde!?, Porto Alegre, RS, v. 7, n. 2, p. 47-56, nov. 2013. ISSN 1982-
0003. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/paraonde/article/view/49926>. Acesso
em: 04 dez. 2021. doi:https://doi.org/10.22456/1982-0003.49926.
PENNA, Nelba Azevedo; FERREIRA, Ignez Barbosa. DESIGUALDADES
SOCIOESPACIAIS E ÁREAS DE VULNERABILIDADES NAS CIDADES (social and
spatial inequalities and areas of vulnerability in the cities). Mercator, Fortaleza, v. 13,
n. 3, p. 25-36, dec. 2014. ISSN 1984-2201. Disponível em:
<http://www.mercator.ufc.br/mercator/article/view/1331>. Acesso em: 04 dez. 2021.

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