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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

GESTÃO AMBIENTAL

2º Ano

Disciplina: DIREITO DO AMBIENTE E


DO URBANISMO
Código: ISCED22-CJURFE016

Total Horas/2o Semestre: 125


Créditos (SNATCA): 5
Número de Temas: 6

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED


ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).
A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos
judiciais em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


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Website: www.isced.ac.mz

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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pela Coordenação Direcção Académica do ISCED


Pelo design
Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação


a Distancia (IAPED)
Pela Revisão
Msc Hélio Divage

Elaborado Por: DIANA PINTO – MESTRE EM DIREITO ADMINISTRATIVO

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Visão geral 1
Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Direito do Ambiente e do Urbanismo ..................... 1
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 5
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 8
Avaliação ........................................................................................................................... 9

TEMA – I: CONSIDERAÇÕES GERAIS. 11


UNIDADE Temática 1.1.Introdução, delimitação do Direito do Ambiente .................... 11
Introdução....................................................................................................................... 11
Sumário ........................................................................................................................... 13
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 13
UNIDADE Temática 1.2.Evoluçao histórica – A tomada de Consciência ambiental ....... 13
Introdução....................................................................................................................... 13
Sumário ........................................................................................................................... 25
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 25
UNIDADE Temática 1.3.Conceito, Objecto e Características .......................................... 25
Introdução....................................................................................................................... 25
Sumário ........................................................................................................................... 30
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 30
UNIDADE Temática 1.4.A autonomia do Direito do Ambiente de outras disciplinas
jurídicas afins .................................................................................................................. 31
Introdução....................................................................................................................... 31
Sumário ........................................................................................................................... 32
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 33
UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema ............................................................... 33
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 33

TEMA – II: DIREITO DO AMBIENTE. 35


UNIDADE Temática 1.1.A Constitucionalização do ambiente ........................................ 35
Introdução....................................................................................................................... 35
Sumário ........................................................................................................................... 40
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 40
UNIDADE Temática 1.2.Movimento legislativo ambiental – A tutela jurídica ............... 40
Introdução....................................................................................................................... 40
Sumário ........................................................................................................................... 45
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 45
UNIDADE Temática 1.3. Princípios fundamentais de defesa do Ambiente.................... 45
Introdução....................................................................................................................... 45
Sumário ........................................................................................................................... 51

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 51


UNIDADE Temática 1.4.Principais problemas ambientais de Moçambique .................. 51
Introdução....................................................................................................................... 51
Sumário ........................................................................................................................... 61
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 62
UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema ............................................................... 62

TEMA – III: DIREITO INTERNACIONAL DO AMBIENTE. 64


UNIDADE Temática 1.1.Tratados e Convenções Internacionais ..................................... 64
Introdução....................................................................................................................... 64
Sumário ........................................................................................................................... 68
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 68
UNIDADE Temática 1.2.Direito do Ambiente na SADC ................................................... 68
Introdução....................................................................................................................... 68
Sumário ........................................................................................................................... 70
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 71
UNIDADE Temática 1.4.Protocolo de Quioto e Moçambique ........................................ 71
Introdução....................................................................................................................... 71
Sumário ........................................................................................................................... 81
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 82
UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema ............................................................... 82

TEMA – IV: TUTELA DO AMBIENTE. 83


UNIDADE Temática 1.1.O licenciamento ambiental....................................................... 83
Introdução....................................................................................................................... 83
Sumário ........................................................................................................................... 87
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 87
UNIDADE Temática 1.2.A avaliação do impacto ambiental ........................................... 87
Introdução....................................................................................................................... 87
Sumário ........................................................................................................................... 94
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 94
UNIDADE Temática 1.3.Auditoria Ambiental ................................................................. 95
Introdução....................................................................................................................... 95
Sumário ........................................................................................................................... 98
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 98
UNIDADE Temática 1.4.Monitorização ambiental ......................................................... 98
Introdução....................................................................................................................... 98
Sumário ......................................................................................................................... 100
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 100
UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema ............................................................. 100

TEMA – V: RESPONSABILIZAÇÃO POR DANO AMBIENTAL. 102


UNIDADE Temática 1.1.O Direito Administrativo do Ambiente ................................... 102
Introdução..................................................................................................................... 102
Sumário ......................................................................................................................... 105

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 106


UNIDADE Temática 1.2.O Direito Civil do Ambiente .................................................... 106
Introdução..................................................................................................................... 106
Sumário ......................................................................................................................... 110
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 110
UNIDADE Temática 1.3.O Direito Penal do Ambiente .................................................. 111
Introdução..................................................................................................................... 111
Sumário ......................................................................................................................... 113
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 113
UNIDADE Temática 1.4.Exercícios deste tema ............................................................. 113

TEMA – VI: DIREITO DO URBANISMO. 115


UNIDADE Temática 1.1.Noção, função, objectivos e tutela legal ................................ 115
Introdução..................................................................................................................... 115
Sumário ......................................................................................................................... 122
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 122
UNIDADE Temática 1.2. Princípios jurídicos estruturantes .......................................... 123
Introdução..................................................................................................................... 123
Sumário ......................................................................................................................... 130
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 130
UNIDADE Temática 1.3. Exercícios deste tema ............................................................ 131
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 131
Referências Bibliográficas ............................................................................................. 133

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Visão geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Direito do


Ambiente e do Urbanismo
Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Direito do Ambiente e do


Urbanismo deverá ser capaz de: Apresentar compreender a teoria
geral do Direito do Ambiente que lhe permita trabalhar em áreas
específicas como a protecção da qualidade do ar, da água, da
fauna e da flora. O aluno deverá ser capaz de enquadrar
problemas ambientais, identificar os diplomas legais aplicáveis,
analisar criticamente o problema buscando uma solução baseada
na doutrina, na jurisprudência e na legislação.

 Conhecer os problemas relacionados com a questão ambiental,


bem com os meios de tutela colocados à disposição pela
legislação ambiental, em vigor, em Moçambique;

Objectivos  Conhecer os princípios do Direito do Ambiente;


Específicos
 Promover e defender o Ambiente;

 Identificar e interpretar a forma como o Direito intervém na


regulação das formas de aproveitamento humano das
utilidades dos bens ambientais naturais, como assegura a
preservação destes e como pune os comportamentos lesivos
da integridade dos recursos naturais.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em Gestão Ambiental do ISCED. Poderá ocorrer,
contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar
seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Direito do Ambiente e do Urbanismo, para


estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em Gestão
Ambiental, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado
como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros


exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e
actividades práticas algumas incluído estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para
facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:
1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de
leitura.
2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).
3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e
assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).
4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua
aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.
5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou
as de estudo de caso se existirem.
IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,
respectivamente como, onde e quando... estudar, como foi
referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos
de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para
si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.
Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler
e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.
Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por
tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos
das actividades obrigatórias.
Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual
obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo,
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!
Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma
avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.
Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que
matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que

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resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo


quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas
trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff

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do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED


indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que lhe permite situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

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O plágio1é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es).


Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um
autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

TEMA – I: CONSIDERAÇÕES GERAIS.

UNIDADE Temática 1.1. Introdução, delimitação do Direito do


Ambiente
UNIDADE Temática1.2. Evolução histórica – A tomada da consciência
ambiental
UNIDADE Temática1.3. Conceito, Objecto e Características
UNIDADE Temática 1.4. A autonomia do Direito do Ambiente de
outras disciplinas jurídicas afins
UNIDADE Temática 1.5. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 1.1.Introdução, delimitação do Direito do Ambiente

Introdução

Nesta unidade vamos enquadrar o tema do Direito do Ambiente, pois


a preocupação com o meio circundante surgiu do facto do Homem ter
tomando consciência de que não é mais senhor absoluto da Natureza.
Deve-lhe respeito total, sob pena de colocar em risco a própria
subsistência humana e a de todos os seres vivos, o que pressupõe uma
exploração sustentável e equilibrada dos diversos componentes
ambientais.
A par destes pensamentos também se sentiu no plano internacional
uma manifestação de tomada de consciência através da construção de
um direito específico para as questões ambientais.
O ano de 1968 é apontado como o ano do surgimento oficial do
Direito Internacional do Ambiente, pois é o ano das regras da OCDE,
da Convenção Africana para Protecção da Natureza e dos Recursos
Naturais, da convocação para 1972 da Conferência das Nações Unidas
sobre Ambiente Humano, da Carta Europeia da Água e da Declaração
de princípios sobre o controlo da poluição aérea.
Contudo a implementação e aplicação do direito ambiental gera
conflitos e incompatibilidades fundamentais entre a protecção da

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

pessoa humana ou do património comum da Humanidade, por um


lado, e a protecção das soberanias e interesses industriais ou
estratégicos dos Estados, por outro.
A superação deste obstáculo constitui o grande desafio para a
Comunidade Internacional na luta por um ambiente global, regional e
local melhor.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Definir: Direito do Ambiente;

 Demonstrar: quando surgiu o Direito do Ambiente;

Objectivos  Delimitar: o âmbito de actuação do Direito do Ambiente;


específicos

Foi a partir da conferência de Estocolmo que os princípios e normas do


Direito Internacional Ambiental começaram a ser recebidos na ordem
jurídica interna de inúmeros estados, dando origem a um novo e
autónomo ramo do Direito, com características próprias.
Neste sentido o Direito do Ambiente pode ser definido como o
sistema de normas jurídicas que tendo em vista as relações do homem
com o meio, prossegue os objectivos de conservação da natureza,
manutenção dos equilíbrios ecológicos, salvaguarda do património
genético, protecção aos recursos naturais e combate às diversas
formas de poluição.
Parte-se da falsa ideia de que o direito do ambiente pretende
inviabilizar a economia de mercado, contudo o que esta em causa é a
definição de um regime jurídico que assente na política de
desenvolvimento sustentável, tendo presente as necessidades de
protecção e conservação do ambiente, estabelecendo-se um quadro
legal que previna e combata os danos sérios e irreversíveis no
ambiente, conjugado com as necessidades de desenvolvimento
económico nos inúmeros Estados e regiões. Para que se consigo este
equilíbrio tem de ser estabelecida uma nova relação entre o Homem e

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

a Natureza, baseada na razão, no equilíbrio, na sustentabilidade e na


equidade.
Em Moçambique necessita-se dos recursos disponíveis na natureza
para sobreviver, para atingir um patamar de existência condigna, pois
a grande maioria da população depende quase que integralmente
daquilo que a natureza lhe dá. Dai que a política ambiental a
implementar pressuponha a utilização dos recursos naturais, na busca
da criação do bem-estar material e espiritual dos cidadãos

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de considerações gerais á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Delimitação;
2. Noção e;
3. Âmbito.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Defina o conceito de Direito de Ambiente.


2. Tendo em conta os seus conhecimentos pessoais e a sua
experiência do dia-a-dia indique como podemos enquadrar a
protecção ambiental á realidade moçambicana.

UNIDADE Temática 1.2.Evoluçao histórica – A tomada de Consciência ambiental

Introdução

A relação entre o Homem e a Natureza passa pelo equacionamento


dessa relação. Antes da era da industrialização e da intensificação da
exploração dos recursos naturais o Homem exercia sobre a natureza

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

um impacto relativamente moderado, a sua actuação não punha em


causa o equilíbrio ecológico ou a existência para as gerações futuras,
dos recursos naturais indispensáveis ao sustento da espécie humana.
Com as novas descobertas científicas, a intensificação da exploração
dos recursos naturais e a massificação da industrialização surgem
novos problemas ambientais.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Demonstrar: o surgimento da problemática ambiental;

 Analisar: as perspectivas de defesa do ambiente;

Objectivos  Acompanhar: a evolução histórica da problemática ambiental;


específicos  Entender: os principais movimentos ambientais;

No contexto histórico do Liberalismo Económico surgiu o modelo


individualista de relacionamento com a Natureza, segundo o qual esta
só fazia sentido na perspectiva de objecto susceptível de apropriação
pelos particulares, sendo que o ambiente era concebido como bem
livre e ilimitadamente renovável, disponível a toda e qualquer forma
de consumo dos particulares, que a intervenção do homem nunca
conseguia esgotar.
Só a partir do século XIX, começaram a aparecer os primeiros
movimentos e associações de protecção das espécies animais e
vegetais ou da natureza no seu todo. Assumiam uma perspectiva
antropocêntrica defendendo a protecção dos recursos naturais na
medida em que eles era indispensáveis à subsistência do próprio
Homem.
Só com a segunda metade do século XX, depois da 2ª Grande Guerra
Mundial é que surgiram os grandes movimentos mundiais de
protecção do ambiente e de defesa da ecologia, baseando-se numa
filosofia em que a protecção da Natureza deve ser feita em função da
própria Natureza e não apenas enquanto objecto útil ao Homem e

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

tendo presente o pressuposto que a causa ambiental é


verdadeiramente global.
Aqui se lançaram as bases da corrente ecocêntrica, defensora da
protecção do ambiente enquanto tal, independentemente do proveito
que o Homem dele retira, assumindo-se assim uma perspectiva
ecocêntrica.

Foi neste panorama que começaram as surgir os primeiros


movimentos ambientais como é o caso da União Internacional para a
Protecção da Natureza (UIPN), criada em 1948 que se veio a tornar em
1954 na União Internacional para a Conservação da Natureza e dos
seus recursos naturais (UICN) sob a égide da UNESCO.
Esta Organização tem vindo a desempenhar um papel muito
importante na elaboração e implementação de políticas e estratégias
internacionais e nacionais para a protecção e conservação da
natureza.
Já na década de 60, com a publicação da obra da bióloga Rachel
Carson (A Primavera Silenciosa), dá-se o início da consciencialização
geral da opinião pública. Surgindo assim a problemática do ambiente,
decorrente da tomada de consciência das proporções alarmantes que
caracterizavam a degradação do meio ambiente, devido a três
factores, a urbanização acelerada, a rapidez do crescimento
económico e a utilização insustentável de novas técnicas de produção

15
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

e de novos produtos, nomeadamente petróleo, que esta associado a


inúmeros desastres ambientais.
Em 1968 a OUA (Organização Unidade Africana), aprovou a Convenção
Africana sobre a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais,
que tem por objectivo assegurar a conservação, utilização e o
desenvolvimento dos solos, das águas, dos recursos florestais e
faunísticos dos Estados Membros, tendo presente os princípios gerais
da conservação da natureza e os interesses das próprias populações. –
Ratificado pela AR através da Resolução nº 18/81 de 30 de Dezembro.
Ainda nesse ano realizou-se um movimento estudantil conhecido
como Maio de 68, em que uma das suas principais reivindicações
estava relacionada com a problemática ambiental.
Seguem agora os principais “movimentos” ambientais subsumidos nas
principais conferências ao nível internacional:
As Conferências da ONU sobre o clima, conhecidas como (COPs –
Conferências das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre
Mudanças Climáticas) ocorreram a partir de 1965, mas os acordos só
começaram a ser feitos a partir de 1972.
Conferência de Estocolmo (Suécia, 1972)
A primeira conferência da ONU para o meio ambiente
aconteceu na Suécia, em 1972, subordinada ao tema “O
Homem e o seu meio: as bases de uma vida melhor”. Nela,
foram criados os 26 princípios que iriam direccionar os
indivíduos de todo o mundo a melhorar e preservar o meio
ambiente. Foi com base nos princípios constantes da sua
fundamentação que se iniciou o processo de
constitucionalização do direito fundamental do ambiente. Esta
conferência teve como objectivo criar um documento que
norteasse a conduta dos países com relação as emissões de
gases do efeito estufa e também sobre um novo
comportamento sustentável. Nesse ano também houve a

16
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente


(PNUMA).
Conferência de Toronto (Canadá, 1988)
A Conferência de Toronto foi a primeira a se preocupar com o
clima. Houve uma reunião de cientistas alertando sobre a
necessidade de reduzir a emissão dos gases que aumentam o
efeito estufa. Assim, foi criado, o Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que seria um medidor das
mudanças climáticas ocasionadas pelas actividades humanas.
Conferência de Genebra (Suíça, 1990)
Nesta conferência discutiu-se sobre a produção de um tratado
internacional do clima, que seria criado em 1992. Para o
produzir foi necessário criar o Comité Intergovernamental de
Negociação para uma Convenção-Quadro sobre Mudanças
Climáticas. Nesse ano, o IPCC demonstra que há sinais de um
aumento da temperatura do planeta terra.
Conferência no Brasil (Rio de Janeiro, 1992)
Uma das maiores conferências para a discussão de questões
ambientais foi a chamada Conferência das Nações Unidas para
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida
também como Rio-92 ou Eco-92. Nessa reunião foi criada a
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente,
cujo objectivo era estabilizar a concentração de gases estufa na
atmosfera, que ocorre anualmente para que os países
pudessem debater sobre as mudanças climáticas. Os principais
documentos criados nessa conferência foi a Agenda 21 e um
acordo chamado Convenção da Biodiversidade.
Conferência de Berlim (Alemanha, 1995)
É realizada a primeira Conferência das Partes (COP-1), em que
são feitas negociações e definidas metas para a redução dos
gases de efeito estufa que posteriormente estariam no futuro

17
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Protocolo de Quioto. Nesse ano foi apresentado um novo


relatório do IPCC.
Conferência de Genebra (Suíça, 1996)
Cidade em que foi realizada a COP-2, ficou decidido pelas
partes que os relatórios do IPCC iriam direccionar as futuras
decisões sobre o clima e meio ambiente. Além disso, ficou
acordado que os países em desenvolvimento receberiam apoio
financeiro da Conferência das Partes para desenvolver
programas de redução de gases.
Conferência de Quioto (Japão, 1997)
Com a realização da COP-3, no Japão, os organismos
internacionais tomaram uma nova posição em relação às
questões ambientais, embora houvesse um conflito entre
União Europeia e Estados Unidos. Nessa conferência foi criado
o Protocolo de Quioto. Um documento legalizado que sugere a
redução de gases do efeito estufa (cujas metas são de 5,2%) e
para que fosse aprovado, os países desenvolvidos deveriam
aceitar o acordo, pois a eles correspondiam a maior parte das
emissões de gases poluentes da atmosfera. Com a criação do
protocolo surgem os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo
(MDL) e os certificados de carbono.
Conferência em Buenos Aires (Argentina, 1998)
Em 1988, é realizada a COP-4, uma reunião que iria decidir
como seria implementado as medidas tomadas no Protocolo
de Quioto. Foi conhecido como Plano de Acção de Buenos
Aires.
Conferência de Bonn (Alemanha, 1999)
Em 1999, na COP-5, que ocorreu na Alemanha, na cidade de
Bonn, ocorreu a implementação do Plano de Acção de Buenos
Aires, dando início as reuniões sobre a Mudança de Uso da
Terra e Florestas.
Conferência de Haia (Holanda, 2000)

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Durante a COP-6, os conflitos entre Estados Unidos e União


Europeia aumentam durante as negociações. Em 2001, os EUA
(um dos maiores emissores de gases estufa), sob a alçada do
presidente George W. Bush, afirmam que o País não ratificará o
protocolo de Quioto e não participará do acordo alegando que
haveriam custos muito altos para a sua economia se se levasse
a cabo os programas para a redução desses gases.
Conferência em Bonn (Alemanha, 2001) e Marrakesh (Marrocos, 2001)
Nesse ano, o IPCC convoca uma reunião extraordinária
(considerada a segunda parte da COP-6), a fim de divulgar os
dados do terceiro relatório, que mostrava que as
consequências do efeito estufa aumentavam devido as
actividades humanas. E na COP-7 (em Marrakesh), os países
industrializados diminuíram os conflitos.
Conferência de Nova Deli (Índia, 2002)
Durante a COP-8, há a necessidade de acções mais concretas e
objectivas para a redução dos gases e os países concordam
com as regras dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo.
Nessa reunião é a primeira vez que o foco se mantém no
desenvolvimento sustentável com a definição da Cúpula
Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), cujo
tema influenciou um debate sobre fontes de energia
renováveis. Além disso, as ONG´s e empresas privadas também
aderiram ao protocolo de Quioto e mostraram projectos sobre
a criação dos créditos de carbono.
Conferência de Milão (Itália, 2003)
Na COP-9, percebe-se que nas reuniões, as lideranças estavam
susceptíveis ao desacordo e esse comprometimento cada vez
mais foi cobrado pelas ONG´s. Houve a regulamentação de
sumidouros de carbono, projectos de reflorestamento para
obter créditos de carbono.
Conferência de Buenos Aires (Argentina, 2004)

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Na COP-10, há discussões sobre as novas metas do Protocolo


de Quioto após 2012, ano de vencimento do documento e a
necessidade da criação de metas mais rígidas.
Conferência de Montreal (Canadá, 2005)
Nessa conferência foi constatado que os países em
desenvolvimento (Brasil, China e Índia) passaram a ser
importantes emissores de gases estufa, logo sentiu-se a
necessidade de estes países também serem abrangidos pelas
metas do protocolo de Quioto. Foi durante a COP-11 que
aconteceu a primeira Conferência das Partes do Protocolo de
Quioto (COP/MOP1), em que as instituições europeias
defendem a redução de 20% a 30% de gases até 2030 e de 60 a
80% até 2050.
Conferência de Nairobi (África, 2006)
Na COP-12, demonstra-se que os países pobres são mais
vulneráveis aos efeitos nefastos das mudanças climáticas.
Ainda nesse ano, houve uma ampla divulgação do Relatório
Stern (Inglaterra) sobre um estudo detalhado dos efeitos do
aquecimento global. O Brasil sugere a implantação de um
sistema de incentivo financeiro para preservação das florestas
chamado Redução de Emissões por Desmatamento e
Degradação (Redd).
Conferência de Bali (Indonésia, 2007)
Nessa conferência, a COP-13, houve a elaboração do Mapa do
Caminho de Bali (Bali Action Plan), um documento que possui
cinco pilares para simplificar as assinaturas de um novo
compromisso internacional em Copenhaga, antes do
vencimento do Protocolo de Quioto. Ficou definido que haveria
a criação de um fundo de recursos para países em
desenvolvimento (Fundo de Adaptação), Acções de Mitigação
Nacionalmente Adequadas (Namas) e uma proposta de modelo

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

para os países em desenvolvimento na diminuição das


emissões.
Conferência de Poznan (Polônia, 2008)
A COP-14 decorreu no seio de muitas discussões, mas poucas
decisões para um acordo pleno em Copenhaga embora
houvessem expectativas de resolução na COP 15, uma vez que
com as eleições americanas havia um novo presidente Barack
Obama, logo a expectativa de que os EUA ratificassem o
protocolo de Quioto. O Brasil criou o Plano Nacional sobre
Mudança do Clima (PNMC) com metas de redução do
desmatamento e também expõe o Fundo Amazónia (fundo de
captação de recursos para projectos que reduzem os
desmatamentos e a divulgação da conservação e
desenvolvimento sustentável na região). Os países em
desenvolvimento (Brasil, China, Índia, México e África do Sul)
assumiram um compromisso não obrigatório sobre a redução
dos gases.
Conferência de Copenhaga (Dinamarca, 2009)
Na COP-15 houve a elaboração do 'Acordo de Copenhague'
após as discussões entre Brasil, África do Sul, China, Índia,
Estados Unidos e União Europeia (os países líderes). Apesar do
acordo ter sido aceito pela ONU, houveram países que se
opuseram. O documento estima que os países desenvolvidos
deverão cortar 20% das emissões até 2020 e 80% até 2050,
apesar do corte não estar de acordo com as recomendações do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
Conferência em Cancun (México, 2010)
Na COP-16, houve a criação de um Fundo Verde do Clima, um
fundo que administraria todo o dinheiro que os países
desenvolvidos estão a aplicar para auxiliar nas mudanças
climáticas, onde se estima que deveriam ser arrecadados US$
30 bilhões (2012-2012) e US$ 100 bilhões anuais (após 2020).

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Os líderes e participantes deixaram para decidir o futuro do


Protocolo de Quioto em Durban (África do Sul, 2011).
Conferência em Durban (África do Sul, 2011)
Na COP-17 haviam vários desafios em pauta como: definir que
medidas seriam tomadas com relação as mudanças climáticas e
também qual seria o próximo passo, após o término do
Protocolo de Quioto. Alguns países aceitaram a criação de um
novo acordo ou protocolo com força legal para diminuir as
mudanças climáticas e também para que futuramente todos os
países participassem na diminuição dos gases. No novo texto
da COP-17 foram discutidos os seguintes pontos:
 Existência de uma lacuna entre a proposta de redução
dos gases estufa e a contenção do aquecimento médio
do planeta em 2ºC;
 Formação de um grupo para criar um novo instrumento
internacional legal até 2015, com implementação a
partir de 2020 (processo chamado de Plataforma
Durban para Acção Aumentada);
 O relatório do IPCC deverá ser levado em consideração,
para que sejam tomadas medidas mais severas para
conter o aquecimento global;
 Surgimento de uma nova etapa para o Protocolo de
Quioto ainda em vigor, sendo que ficou acordado que
seria estendido até 2017.
Conferência no Brasil (Rio de Janeiro, 2012) Rio +20
A Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável
mais conhecida como Rio +20 aconteceu na cidade do Rio de
Janeiro, após vinte anos da realização das conferências sobre
meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Rio-92. O
principal objectivo desta conferência foi garantir e renovar o
compromisso entre os políticos para o desenvolvimento
sustentável.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Conferência no Qatar (Doha, 2012)


Na COP-18 após o fracasso na obtenção de um sucessor do
Protocolo de Quioto, na sessão de 2011, um dos objectivos
cimeiros será a extensão do Protocolo de Quioto, que termina
no final de 2012, e a criação de um novo pacto que o substitua,
alargando-se aos países em vias de desenvolvimento. Em
Durban, acordou-se que até 2015 seria elaborado o sucessor,
contudo divergências entre países desenvolvidos e em vias de
desenvolvimento têm-se tornado obstáculos difíceis de
ultrapassar, além de os três maiores poluidores não se
encontrarem abrangidos pelo Protocolo actual, pois os Estados
Unidos não o assinaram, e a China e Índia não têm metas
obrigatórias a cumprir. Foram apresentados relatórios
científicos cujas conclusões apontam para um derretimento
mais acentuado do solo permanentemente gelado e para o
facto de a subida do nível médio do mar estar a ocorrer cerca
de 60% mais rápido do que as previsões, colocando em risco de
desaparecimento ilhas e cidades costeiras em todo o mundo.
Conferência na Polónia (Varsóvia, 2013)
Na COP-19 foi aprovado mecanismo de perdas e danos, que
força os países ricos a financiar países mais vulneráveis, que
sofrem com a mudança climática, houve um desbloqueio do
debate sobre financiamento a longo prazo, foi reforçada a
necessidade de aprovar o novo acordo em 2015. Os governos
ficaram de preparar ‘contribuições’ sobre o que farão para
reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, e não tem
prazo certo. E foram estabelecidas normas sobre
financiamento de projectos voltados à protecção de florestas
em países em desenvolvimento (REDD+).
Conferência no Peru (Lima, 2014)
No COP-20 foi aprovado um texto de base para um futuro
tratado mundial sobre o clima que será concluído em Paris no

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

final de 2015 onde os países participantes deviam apresentar


até o início do ano seguinte os seus próprios programas
nacionais de luta contra o aquecimento climático, com o
objectivo de constituir a base para o futuro tratado sobre o
clima. O documento estabeleceu um "objectivo zero de
emissões" de CO2 até 2100, ou até antes, através da
substituição dos combustíveis fósseis pelas energias renováveis
do documento final adoptado em Lima constavam os países
emergentes, como China e Índia.
Conferência em França (Paris, 2015)
A COP-21, que se realiza em Dezembro de 2015, visa a firmar
um novo acordo do clima, que substituirá o Protocolo de
Quioto a partir de 2020. No acordo de Paris, tanto os países
desenvolvidos quanto em desenvolvimento passarão a ter
metas de redução de emissões de gases de efeito estufa,
conforme ficou definido na última Conferência do Clima, em
Dezembro de 2014, em Lima.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente quatro itens em termos de considerações gerais á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Evolução histórica;
2. A tomada de consciência ambiental;
3. As perspectivas de defesa do ambiente e;
4. Principais movimentos ambientais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Identifique e explique as perspectivas que podemos encontrar


no âmbito da defesa do ambiente.
2. Identifique 5 movimentos ambientais.
3. Em que momento temporal podemos enquadrar o inicio da
consciência ambiental?
4. Faça um breve resumo, não mais que 10 linhas, sobre a
evolução histórica da problemática ambiental.

UNIDADE Temática 1.3.Conceito, Objecto e Características

Introdução

Com o advento mundial da problemática ambiental tornou-se clara a


necessidade de se intervir politicamente no sentido do controlar, ora
foi neste âmbito que surgiu o Direito na temática da protecção
ambiental.
O apela ao direito e à norma legal para, com a sua autoridade e força
coerciva, alterar comportamentos, renova-se e acompanha a dinâmica
cientifica e tecnológica nas propostas de solução para a questão
ecológica.

25
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Este ramo do direito envolve um conjunto de normas jurídicas, que


tem por função, a defesa do meio ambiente ecologicamente
equilibrado, voltado para a sadia qualidade de vida e à preservação de
todas as espécies vivas existentes no planeta. Para tanto, baseia-se em
princípios que têm por finalidade básica a protecção da vida,
desdobrando-se em vertentes que se propõem a integrar todas as
possibilidades de um saudável meio ambiente, focando o
desenvolvimento económico e a protecção dos recursos da natureza, a
fim de se permitir um desenvolvimento sustentável.
Tendo como base estudos complexos - que compreendem vários
conhecimentos técnicos de outros ramos do direito, bem como de
outras ciências, como a biologia, economia, geografia, ecologia,
antropologia e engenharia dentre outras -, esse ramo do direito deve
ser visto fundamentalmente de forma sistémica, não podendo ficar
em conhecimentos fragmentados, sob pena de não conseguir atingir a
finalidade principal, que é a protecção do meio ambiente.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Analisar: o conceito de direito do ambiente;

 Demonstrar: o objecto do direito do ambiente;

Objectivos  Entender e aplicar: a noção jurídica de ambiente;


específicos  Identificar e Demonstrar: as características do direito do ambiente;

O direito do ambiente pode ser definido como os sistemas de normas


jurídicas que, tendo especialmente em vista as relações do homem
com o meio, prossegue os objectivos de conservação da natureza,
manutenção dos equilíbrios ecológicos, salvaguarda do património
genético, protecção aos equilíbrios ecológicos, salvaguarda do
património genético, protecção aos recursos naturais e combate às
diversas formas de poluição.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

O que está em causa com a implementação do direito do ambiente


não é a inviabilização da economia de mercado, mas a definição de um
regime jurídico que assente na política de desenvolvimento
sustentável, tendo presente, por um lado, as necessidades de
protecção e conservação do ambiente, estabelecendo-se um quadro
legal que previna e combata os danos sérios e irreversíveis no
ambiente, e por outro, as necessidades de desenvolvimento
económico nos inúmeros Estados e regiões. Tal regime pressupõe uma
nova filosofia na relação entre o Homem e a Natureza, baseada nos
postulados da razão, do equilíbrio, da sustentabilidade e da equidade.
No caso concreto de Moçambique está fora de questão a adesão a
qualquer espécie de ecocêntrismo fundamentalista, colocando o
ambiente num patamar de intocabilidade, defendendo a proibição de
qualquer actividade susceptível de alterar as condições ambientais,
muito menos o oposto, antropocentrismo.
O Homem moçambicano necessita dos recursos disponíveis na
natureza para sobreviver, dai que qualquer política ambiental a
implementar pressuponha a utilização dos recursos naturais, na busca
da criação do bem-estar material e espiritual dos cidadãos.
O modelo a utilizar deve reflectir o ideal da concordância óptima das
necessidades aparentemente antagónicas da protecção da natureza e
de desenvolvimento económico.
O regime jurídico de protecção ambiental não seguirá a via
preservacionista mas sim conservacionista, os componentes
ambientais naturais deverão ser explorados de forma sustentável, com
apelo a limites definidos, com vista à satisfação das necessidades das
gerações presentes e futuras.
Uma política nacional do ambiente baseada nos preceitos
constitucionais deve estabelecer as linhas de desenvolvimento
sustentável e equilibrado e zelar pela qualidade e bem-estar
ambiental.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Noção Jurídica de Ambiente


Na construção do conceito jurídico de ambiente podemos encontrar as
seguintes tendências:
Conceito amplo, que inclui os componentes ambientais naturais, como
água, ar, solo, subsolo, flora e fauna, e os componentes ambientais
humanos, isto é, o ambiente construído, produto da acção do homem.
Conceito estreito, cingindo-se apenas aos componentes ambientais
naturais, correspondendo à ideia de natureza.

Em Moçambique o legislador constitucional não definiu o conceito de


ambiente, tendo deixado tal tarefa para o plano ordinário
nomeadamente para a Lei do Ambiente (Lei nº 20/97 de 1 de
Outubro). Segundo esta, no seu artigo 1º nº 2 ambiente é o meio em
que o homem e outros seres vivem e interagem entre si e com o
próprio meio, incluindo o ar, a luz, a terra e a água; os ecossistemas, a
biodiversidade e as relações ecológicas, toda a matéria orgânica e
inorgânica, todas as condições sócio culturais e económicas que
afectam a vida das comunidades.
Assim sendo podemos concluir que o conceito de ambiente adoptado
abrange não só os componentes naturais, mas também as condições
sociais, culturais e económicas, traduz-se em tudo aquilo que nos
rodeia e que influencia directa ou indirectamente a nossa qualidade
de vida e os seres vivos que constituem a bioesfera.
O legislador moçambicano enveredou pela delimitação de um
conceito amplo de ambiente, que integra duas espécies de
componentes: os componentes ambientais naturais e os componentes
ambientais humanos, que compreendem o património cultural
construído e a paisagem.

Características do Direito do Ambiente


 Globalidade ou universalidade

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

O direito do ambiente é um direito global ou universalista, isto é, que


ultrapassa a visão local ou regional. Grande parte dos problemas
ambientais têm um impacto que transborda o local da sua ocorrência
não podendo jamais ser encarados numa mera óptica casuística ou
isolacionista.
Nenhum continente é capaz de resolver sozinho o problema da
camada de ozono, das alterações climáticas, ou do empobrecimento
dos recursos. Quando se fala da problemática do ambiente é
necessário falar da questão do desenvolvimento, principalmente num
país como Moçambique, em que a situação da pobreza, que afecta
grande parte da população, assume contornos preocupantes.
 Autonomia
Assume-se como um direito autónomo, detentor de uma identidade
própria, comprovada pela existência de novos princípios e
instrumentos jurídicos, nascidos no contexto da problemática
ambiental. Claro que não podemos esquecer que se trata de uma
autonomia relativa, uma vez que implica a revisão dos institutos, das
técnicas e dos instrumentos clássicos dos outros ramos do direito.
 Interdisciplinaridade
Apela aos conhecimentos das restantes ciências sociais e naturais.
Logo está ligado as mais diversas áreas do saber. O jurista que
enveredar por esta área tem de assumir necessariamente uma postura
aberta e interdisciplinar, sob pena de não conseguir compreender o
objecto do seu estudo.
 Horizontalidade o transversalidade
Traduz-se na importância dos conceitos, meios, institutos e
instrumentos dos diferentes ramos clássicos do direito na ordenação
jurídica do ambiente. Dai que ao nível da doutrina se tenha
identificado e desenvolvido sub-ramos nomeadamente: direito
constitucional do ambiente, direito administrativo do ambiente;
direito civil do ambiente; direito penal do ambiente; direito

29
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

internacional do ambiente e direito fiscal do ambiente. É um direito


que apela ao conhecimento de quase todos os ramos clássicos.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.3 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de considerações gerais á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Conceito;
2. Objecto e;
3. Características.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Indique de forma fundamentada quais as principais


características do Direito do Ambiente.
2. O ambiente como conceito jurídico pode ser perspectiva em
duas vias, indique quais.

30
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

3. Veja qual a definição legal de Ambiente na legislação


moçambicana e enquadre-a no âmbito de actuação do Direito
do Ambiente.

UNIDADE Temática 1.4.A autonomia do Direito do Ambiente de outras


disciplinas jurídicas afins

Introdução

A relação do Direito do Ambiente com o Direito Administrativo, o


Direito Civil, o Direito Penal, o Direito do Urbanismo e o Direito do
Ordenamento do Território pode muitas vezes sem confundida com
uma dependência. Contudo não podemos esquecer que o Direito do
Ambiente encontra fundamentos para a sua autonomia científica e
legal. Esta área do Direito é vista como um ramo de Direito Público.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enquadrar: o direito do ambiente no âmbito jurídico (direito publico ou


direito privado;
Objectivos  Demonstrar: que o direito do ambiente é um ramo de direito autónomo;
específicos

Podemos ver o Direito do Ambiente como uma área de intervenção


interdisciplinar, onde o seu campo de actuação é a defesa dos
interesses difusos, ou seja, a preservação, a manutenção do meio
ambiente é uma matéria por si só abstracta, ela visa o interesse difuso,
isto é, o destinatário é indeterminado, não temos como identificar
quem será aquele que irá se beneficiar com uma política saudável de
protecção ambiental, vejamos o artigo 90º da CRM “Todo o cidadão
tem o Direito de viver num ambiente equilibrado e o dever de o
defender”, este artigo quer referir que o ambiente é um bem de
interesse publico.

31
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

A ideia do direito do ambiente é que ele está intimamente ligado com


o desenvolvimento económico e com o desenvolvimento social e não
apenas em matéria de preservação ambiental propriamente dita. O
direito do ambiente não foi criado apenas para proteger, preservar o
meio ambiental. Esta seria uma visão equivocada, pois em momento
algum quer frear o desenvolvimento socioeconómico. Pelo contrário,
se frear o desenvolvimento socioeconómico, com certeza, estará
gerando indirectamente uma maior agressão ao meio ambiente, pois
actividades irregulares começarão a aparecer.
Ora por se tratar então de uma área interdisciplinar e por ser um ramo
do direito que tem uma multiplicidade de fontes jurídicas, uma
diversidade de perspectivas e métodos científicos vezes que se se
confunde a sua autonomia.
O direito do ambiente é de facto um ramo do direito autónomo, tem
legislação própria, tem consagração constitucional própria e
consagração internacional própria. Embora se possa integrar no
âmbito do Direito Publico não pode e não deve ser confundido com
áreas como o Direito Administrativo, o Direito Constitucional ou até
mesmo o Direito Penal. A confluência de todos estes domínios
científicos faz do Direito do Ambiente uma realidade multidisciplinar,
que convida o jurista a abarcar todas as multidimensionalidades dos
problemas ambientais.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.4 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de considerações gerais á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Direito do ambiente como área autónoma e;
2. Direito do ambiente como ramo do direito público.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Procure fazer um texto com máximo de 2 páginas onde


distingue o Direito do ambiente de outras áreas do direito e
onde o enquadre no ramo do Direito Publico ou no ramo do
Direito Privado.

UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (verdadeiro ou falso)


1. O direito do ambiente é um ramo do direito que depende de
outros ramos do direito.
2. A noção jurídica de ambiente da legislação nacional adopta o
conceito restrito.
3. Direito do Ambiente pode ser definido como o sistema de
normas jurídicas que tendo em vista as relações do homem
com o meio, prossegue os objectivos de conservação da
natureza.
4. O protocolo de Quioto foi criado na conferência do Rio de
Janeiro em 1992.
5. O direito do ambiente é um ramo do direito interdisciplinar
pois apela aos conhecimentos das mais diversas áreas do
saber.

Grupo 2 – Resposta detalhada


1. Tendo em conta a definição legal de Ambiente presente na
legislação moçambicana diga justificando se a enquadra na
perspectiva antropocêntrica ou egocêntrica.
2. O direito do ambiente, como ramo essencial que é, baseia a
sua protecção em determinadas características essenciais.

33
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Indique, fundamentando, quais as principais características do


direito do ambiente
3. Foi com o advento da problemática ambiental que surgiu a
consciência da necessidade de protecção jurídica do ambiente.
Enquadre historicamente esta afirmação.

Grupo 3 – Exercícios de reflexão


1. Comente de forma fundamentada o seguinte excerto: “As
ciências jurídicas não podem isolar-se do processo evolutivo do
saber e da abordagem do meio ambiente. Ao contrário impõe-
se um diálogo com outros saberes, para que o Direito não seja
sarcófago, mas guardião do Planeta Vivo.”

34
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

TEMA – II: DIREITO DO AMBIENTE.

UNIDADE Temática 1.1. A Constitucionalização do ambiente


UNIDADE Temática 1.2. Movimento legislativo ambiental – A tutela
jurídica
UNIDADE Temática 1.3. Princípios fundamentais de defesa do
Ambiente
UNIDADE Temática 1.4. Principais problemas ambientais de
Moçambique
UNIDADE Temática 1.5. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 1.1.A Constitucionalização do ambiente

Introdução

O movimento de constitucionalização do ambiente iniciou-se em


meados do séc. XX com o advento da tomada de consciência
ambiental, consequência da cadência sucessiva e impressionante de
desastres ecológicos e a constatação que algo de muito sério se estava
a passar em termos de transformação humana do rumo natural das
coisas. Logicamente o direito não ficou alheio a evolução dos
acontecimentos dai que tenham sido elaborados princípios e normas
nos níveis internacional e nacional, visando a protecção e a
conservação dos inúmeros componentes naturais.
O I princípio da declaração de Estocolmo determinou que a pessoa
humana tem direito fundamental a liberdade, igualdade e a condições
de vida satisfatórias, num ambiente cuja qualidade lhe permita viver
com dignidade e bem-estar. Cabe-lhe o dever solene de proteger e
melhorar o ambiente para as gerações actuais e vindouras. O direito
ao ambiente é mais do que um simples direito a não sofrer restrições
da personalidade: adquire o carácter de direito dever de intervenção

35
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

positiva a favor da comunidade humana para a salvaguarda dos seus


bens essenciais.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Demonstrar: a protecção do ambiente ao nível constitucional;


 Analisar: a Constituição ambiental;
 Entender e aplicar na prática: a Constituição da Republica de Moçambique
Objectivos
ao ramo do Direito do Ambiente;
específicos
A polónia foi o primeiro estado a consagrar o direito ao ambiente
como direito fundamental, em 1952. Portugal no ano de 1976 e
Moçambique no ano de 1990.
Tratou-se de uma perspectiva que poderemos considerar de
subjectivista, isto é, que se baseia no cidadão enquanto sujeito de
direitos e deveres, constitucionalmente consagrados. Esta perspectiva
reconhece a existência de um direito subjectivo ao ambiente, com
assento constitucional autónomo e distinto de outros direitos também
constitucionalmente consagrados.
Por outro lado, verificou-se uma tendência de atribuir ao Estado a
obrigação de proteger o ambiente, numa perspectiva objectivista no
sentido de protecção do ambiente como fim ou tarefa do Estado.
Neste sentido fundamenta-se no valor colectivo ou público do bem
jurídico ambiente, no facto de estarem essencialmente em causa
interesses públicos ou colectivos, isto é, da colectividade no seu todo e
não de cidadãos individualmente considerados.
Muitos autores avançam para a ideia de um verdadeiro Estado
Constitucional Ecológico, associado à ideia de democracia sustentada.
Conforme Gomes Canotilho, o que se pretende com estes enunciados
ou fórmulas é isto: 1) o Estado Constitucional, além de ser e dever ser
um Estado de Direito democrático e social, deve ser também um
Estado regido por princípios ecológicos; 2) o Estado ecológico aponta

36
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

para formas novas de participação política sugestivamente


condensadas na expressão de democracia sustentada.
Foi assim que gradualmente o ambiente passou a configurar-se como
um autêntico bem jurídico, autónomo e protegido de forma directa.
Segundo Munch é muito claro que a questão que se coloca ao
legislador constituinte moderno já não é a questão de saber se a
protecção do ambiente deve ou não fazer parte do texto da
Constituição, mas apenas a questão de como tal se deve fazer. Se sob
a forma de fim do Estado (modelo objectivista) ou sob a forma de
direito fundamental (modelo subjectivista), ou ambos (modelo
híbrido).
O primeiro texto constitucional que Moçambique conheceu após a
Independência, a Constituição de 1975, não fazia alusão directa ao
ambiente. Com a sua sucessora, a Constituição de 1990, o legislador
optou pelo terceiro caminho (híbrido) com o artigo 72º e 37º onde se
atribuía ao Estado a obrigação de tomar as iniciativas necessárias a
efectiva tutela do meio ambiente, garantindo o exercício do direito
fundamental ao ambiente por parte de todos os cidadãos, e abstendo-
se de praticar acções ou omissões que ponham em causa o equilíbrio
ambiental, constituindo a sua protecção uma garantia da norma
jurídico-constitucional.
Com a Constituição de 2004 (que se encontra em vigor) há um reforço
do modelo híbrido representado pelos artigos:

Artigo 90º
(Direito ao ambiente)

1. Todo o cidadão tem o direito de viver num ambiente


equilibrado e o dever de o defender.
2. O Estado e as autarquias locais, com a colaboração das
associações de defesa do ambiente, adoptam políticas de

37
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

defesa do ambiente e velam pela utilização racional de todos os


recursos naturais.

Este artigo consagra o direito ao ambiente.

Artigo 117º
(Ambiente e qualidade de vida)

1. O Estado promove iniciativas para garantir o equilíbrio


ecológico e a conservação e preservação do ambiente visando
a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
2. Com o fim de garantir o direito ao ambiente no quadro
de um desenvolvimento sustentável, o Estado adopta políticas
visando:
a) Prevenir e controlar a poluição e a erosão;
b) Integrar os objectivos ambientais nas políticas
sectoriais;
c) Promover a integração dos valores do ambiente nas
políticas e programas educacionais;
d) Garantir o aproveitamento racional dos recursos
naturais com salvaguarda da sua capacidade de renovação, da
estabilidade ecológica e dos direitos das gerações vindouras;
e) Promover o ordenamento do território com vista a uma
correcta localização das actividades e a um desenvolvimento
sócio- económico equilibrado.

Este artigo atribui ao Estado a obrigação de levar a cabo um rol


bastante significativo de acções de protecção e valorização do
ambiente.

38
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Hoje é indiscutível a elevação e autonomização do ambiente à


categoria de bem jurídico fundamental, ao lado da vida, da saúde, ou
da propriedade. A dimensão objectivista do ambiente não prejudica a
assunção do direito subjectivo, na circunstância de ser assumido como
um direito de todo e qualquer cidadão individualmente considerado, o
ambiente para além de ser um bem social unitário é dotado de uma
indiscutível dimensão pessoal.
Dai se avançar com a ideia de um Estado Constitucional Ecológico
associado a ideia de democracia sustentada, nas palavras de Gomes
Canotilho.
Na senda de Carlos Serra Jr., podemos considerar como Constituição
Ambiental de 2004 os seguintes artigos, artigo 11º; artigo 35º; artigo
45º; artigo 52º; artigo 62º; artigo 69º; artigo 70º; artigo 79º; artigo
81º; artigo 88º; artigo 89º; artigo 90º; artigo 98º; artigo 102º; artigo
117º; artigo 253º;
O legislador constitucional deu um passo assinalável na consolidação
do ordenamento jurídico-ambiental, através da incorporação de novas
normas no ordenamento jurídico ambiental, as quais vão, sem dúvida,
enfermar desenvolvimento a nível legislativo e regulamentar.
Para além do reforço das “normas ambientais” o legislador veio
atribuir este âmbito de protecção ao Ministério Público, uma vez que
este tem um papel importante na defesa dos direitos e interesses
difusos ou colectivos (artigos 234º a 240º), bem como ao Provedor de
Justiça, artigo 256º e 259º na senda da protecção dos direitos
fundamentais.
Conclui-se então que o ambiente é actualmente um bem caracterizado
por uma indiscutível dignidade jurídico-constitucional, o qual deverá
determinar positivamente a actuação do legislador e dos órgãos da
Administração Pública. Caminhamos para um verdadeiro Estado
Constitucional Ecológico, pelo menos no plano normativo, o mesmo
não se dirá em relação ao mundo real, pois pressupõe um longo
caminho a percorrer. O nosso contributo pode ser feito de pequenas

39
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

acções, uma somadas as outras resultara numa verdadeira mudança


qualitativa de atitude. É na atitude que reside a grande diferença.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de Direito do Ambiente á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Constituição Ambiental;
2. Perspectiva Objectivista e Perspectiva Subjectivista e;
3. Ambiente como Bem Jurídico fundamental.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja os principais artigos da Constituição que forma a


chamada Constituição ambiental
2. Indique justificando se a Constituição de Moçambique
adoptou uma perspectiva objectivista ou subjectivista.
3. Nos dias de hoje o ambiente é considerado como um
verdadeiro bem jurídico. Comente fundamentadamente.

UNIDADE Temática 1.2.Movimento legislativo ambiental – A tutela jurídica

Introdução

Neste capítulo iremos identificar as principais normas nacionais que


regulam a protecção ambiental. Por ser uma matéria muito extensa,
iremos restringir-nos principalmente às normas que consagram os
direitos e os deveres ambientais e àquelas que dão corpo aos
principais instrumentos normativos utilizados para a defesa do
ambiente.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

40
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Indicar: os diplomas normativos nacionais fundamentais para a protecção do


ambiente.

 Caracterizar: o ambiente como uma tarefa do Estado e como um direito


Objectivos
subjectivo fundamental.
específicos

A noção jurídica do ambiente parte do reconhecimento da dignidade


inerente a todos os seres humanos e os seus direitos, no sentido de
que o homem tem um direito fundamental à liberdade, à igualdade e a
condições de vida satisfatórias, num ambiente cuja qualidade lhe
permita viver com dignidade e bem-estar.
A tutela jurídica do ambiente depende de uma opção ideológica sobre
que valores se pretende salvaguardar. Se o que se pretende
salvaguardar é a Natureza enquanto bem para o Homem, ou enquanto
bem em si mesma.
Na resposta a esta questão derivam duas orientações, uma
antropocêntrica, em que os recursos naturais são a fonte de utilidade
para a vida humana; e uma ecocêntrica, que se concentra no facto de
a Natureza ser por si só uma realidade digna de tutela,
independentemente da sua capacidade de satisfazer as exigências
humanas.
É nesta dicotomia que o legislador moçambicano definiu o ambiente
nos termos do artigo 1º nº 2 da Lei do Ambiente.
Podemos concluir que com base neste dispositivo o legislador
moçambicano enveredou por uma concepção ampla, que estabelece
tanto os componentes ambientais naturais, como os componentes
ambientais humanos. Daqui decorre que ambiente é tudo o que
rodeia o ser humano.
Com a Constituição de 2004, novos contornos vieram para esta
perspectiva, pois com o artigo 90º aliamos a defesa do ambiente à
garantia do direito de todo o cidadão viver num meio ambiente

41
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

equilibrado; e com o artigo 117º temos o Estado como garante do


equilíbrio ecológico, conservação e preservação do ambiente.
Mas a Constituição não se limitou a consagrar o meio ambiente com
um direito constitucional, formal e materialmente fundamental,
também foi atribuído ao Estado a tarefa de promover iniciativas para
garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e preservação do
ambiente, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos –
117º nº1.
Assim temos a tutela adjectiva, que consiste no acesso à justiça por
todos os cidadãos, como meio de luta contra os actos que violem os
seus direitos legalmente reconhecidos – artigo 21º da Lei do
Ambiente.
Estes meios processuais tanto podem ser encontrados na jurisdição
comum, como na jurisdição administrativa. Por isso podemos concluir
que a opção ideológica do legislador é uma tutela ampla.
Na defesa do ambiente o que está em jogo é o interesse colectivo de
toda a humanidade, dai que tenha sido consagrado como um direito-
dever de utilização racional dos bens ambientais. A todos é
reconhecido o direito de impedir preventiva e sucessivamente a
degradação do ambiente, em conformidade com a natureza colectiva
do bem constitucionalmente protegido.
O movimento legislativo no domínio do ambiente em moçambique
não se iniciou com a Lei do ambiente. Foi no domínio da flora e da
fauna que surgiram os primeiros diplomas legais. Nomeadamente o
Decreto nº 7/78 de 18 de Abril, Regulamenta as modalidades de caça a
serem praticadas na República Popular de Moçambique e a Portaria nº
117/78 de 16 de Maio, Determina que sejam as constantes desta
portaria as modalidades de caça a serem praticadas na República
Popular de Moçambique. Mais tarde com o Decreto nº 12/81 de 25 de
Julho, Determina que sejam classificadas como madeiras preciosas
todas as que pelas suas qualidades, raridade, utilização e valor que

42
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

possuam no mercado internacional devam ser protegidas de forma


especial.
A Lei do Ambiente surgiu no ano de 97 com a Lei nº 20/97 de 1 de
Outubro, Lei do Ambiente, define as bases legais para uma utilização e
gestão correctas do ambiente e seus componentes, ainda hoje se
encontra em vigor e é o elemento base para o estudo desta área. A
par deste importante instrumento legal podemos encontrar as
políticas governamentais nomeadamente a
Resolução nº 5/95, de 6 de Dezembro que aprova a Política Nacional
do Ambiente.
No campo institucional podemos elencar o Decreto nº 12/2006, de 15
de Junho, que Designa o Ministério para a Coordenação da Acção
Ambiental como Autoridade Nacional Designada; o Decreto nº
13/2013 de 11 de Abril que aprova o Regulamento do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Sustentável; o Decreto nº 39/200 de 17
de Outubro que cria o Fundo do Ambiente e o Decreto nº 80/2010, de
31 de Dezembro, que Cri a Agência Nacional para o Controlo da
Qualidade Ambiental (AQUA).
No âmbito dos campos de actuação mais específicos:
No campo das águas temos a Lei das Águas, Lei nº 16/91 de 3 de
Agosto e o Decreto n.º 45/2006 de 30 de Novembro, Regulamento
para a Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e
Costeiro.
No campo das pescas temos a Lei das Pescas, Lei n.º 22/2013 de 1 de
Novembro.
No campo das florestas e fauna bravia temos a Lei nº 10/99 de 7 de
Julho, Lei de Florestas e Fauna Bravia; temos o Regulamento da Lei de
Florestas e Fauna Bravia, Decreto nº 12/2002 de 6 de Junho;
Regulamento dos Procedimentos para Aprovação de Projectos de
Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal,
Decreto n.º 70/2013, de 20 de Dezembro e o Regulamento Sobre o

43
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Silvestres


Ameaçadas de Extinção, Decreto n.º 16/2013, de 26 de Abril.
No campo da energia, minas e petróleos temos a Lei dos Petróleos, Lei
n.º 21/2014, de 18 de Agosto; a Lei de Minas, Lei n.º 20/2014, de 18
de Agosto e o Código da Rede Eléctrica Nacional, Diploma Ministerial
n.º 184/2014 de 12 de Novembro.
No campo dos resíduos temos o Regulamento sobre Gestão de
Resíduos Perigosos, Decreto n.º 83/2014, de 31 de Dezembro, o
Decreto nº 8/2003 de 18 de Fevereiro, Regulamento sobre gestão dos
lixos biomédicos e o Regulamento sobre a Gestão de Resíduos Sólidos
Urbanos, Decreto n.º 94/2014, de 31 de Dezembro.
No que toca aos instrumentos de prevenção ambiental temos o
Decreto nº 25/2011, de 11 de Junho, aprova o Regulamento sobre o
Processo de Auditoria Ambiental; o Decreto nº 54/2015, de 31 de
Dezembro, aprova o Regulamento Relativo ao Processo de Avaliação
do Impacto Ambiental; o Diploma Ministerial nº 198/2005, de 28 de
Setembro, concernente a coordenação sectorial na implementação
efectiva do Regulamento sobre o processo de Avaliação do Impacto
Ambiental; o Diploma ministerial nº 130/2006 de 19 de Julho que
aprova a Directiva geral para a participação publica no processo de
avaliação do impacto ambiental; o Despacho do Ministro para a
Coordenação da Acção Ambiental, de 28 de Setembro de 2005,
concernente a emissão das licenças ambientais; o Decreto nº 39/2003
de 26 de Novembro que aprova o Regulamento do Licenciamento
Industrial; o Decreto nº 2/2008 de 12 de Março que aprova o Regime
de licenciamento simplificado das actividades económicas que, pela
sua natureza, não acarretem impactos significativos para o ambiente,
saúde publica, segurança e economia no geral e o Decreto nº 11/2006,
de 15 de Junho que aprova o Regulamento sobre a Inspecção
Ambiental.

44
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de Direito do Ambiente á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Diplomas normativos de protecção ambiental;
2. A tutela do ambiente no ordenamento jurídico moçambicano.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Faça uma leitura dos principais diplomas legais existentes em


Moçambique nomeadamente a Lei do Ambiente, a Lei de
Florestas e Fauna Bravia e a Politica Nacional do Ambiente e
enquadre o ambiente como bem tutelado no ordenamento
jurídico moçambicano.

UNIDADE Temática 1.3. Princípios fundamentais de defesa do Ambiente

Introdução

Neste capítulo iremos conhecer os princípios de Direito do


Ambiente, enquanto instrumento de suporte para a identificação
das melhores soluções jurídicas para a resolução de problemas
ambientais. Para além disso, iremos apreciar como estes princípios
determinam as opções de estruturação do Direito do Ambiente

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enumerar e descrever: o conteúdo dos principais princípios do Direito do


Ambiente.

 Distinguir: os vários princípios do Direito do Ambiente.


Objectivos
específicos  Apresentar: exemplos concretos que demonstrem a aplicação dos princípios
do Direito do Ambiente.

45
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Noção de princípio de Direito


Os princípios enquanto directrizes úteis para determinar a solução a
adoptar para um caso concreto, servindo de suporte às actividades de
interpretação e de aplicação das normas jurídicas. A distinção entre
princípios, políticas e normas.
Os princípios essenciais do Direito do Ambiente são:
 Princípio da utilização e gestão racionais dos
componentes ambientais
Esta consagrado no artigo 4º da Lei do Ambiente e
significa que a utilização e gestão racionais dos recursos
naturais constituem condição necessária para a
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Assim deve
entender-se que o desenvolvimento económico deve
basear-se na gestão ambiental, de modo a satisfazer as
necessidades da geração presente, sem comprometer o
equilíbrio do ambiente e a possibilidade de as gerações
futuras também poderem satisfazer as suas
necessidades – artigo 10º nº 1 da Lei do Ambiente.
Em Moçambique este princípio decorre da Política
Nacional do Ambiente, segundo a qual a utilização dos
recursos naturais deve ser optimizada. Onde o sector
privado deve reduzir ao máximo a poluição causada
pelo desenvolvimento das suas actividades e
compensar a degradação ambiental.

 Princípio da responsabilização
Este princípio também se encontra consagrado no
artigo 4º g) da Lei do Ambiente, no artigo 3º d) da Lei
de Florestas e Fauna Bravia (LFFB) e no ponto 2.2 da
Política Nacional do Ambiente (PNA), e resulta da
necessidade de responsabilização geral dos causadores

46
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

de danos ao ambiente ou às pessoas e bens,


sancionando as violações à legislação ambiental quer
civil, quer penal, quer administrativamente. Têm
grande importância no que respeita à justiça social,
tendo presente a necessidade de imputar aos
responsáveis os danos que tenham causado. Bem como
uma vertente preventiva na medida em que os agentes
económicos farão um esforço no investimento de
tecnologias menos poluentes, a fim de não serem
responsabilizados.
Assim ao abrigo deste princípio o sector privado tem a
responsabilidade de reparar os danos decorrentes da
sua actividade, compensar a degradação e prejuízos
causados, bem como reconstituir a situação existente
antes da verificação do evento danoso por si causado
ao meio ambiente.

 Princípio da prevenção
Este princípio está previsto no artigo 3º c) da LFFB, na
Lei das águas, na lei da energia eléctrica, na lei dos
petróleos, e no artigo 15º da Lei do Ambiente através
da consagração da Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA). E visa evitar que certos comportamentos
humanos potencialmente danosos possam lesar
gravemente o meio ambiente, de tal modo que seja
impossível a sua reconstituição in natura (ex. extinção
de uma espécie animal), ou que a reconstituição seja
muito onerosa.
A aplicação deste princípio implica a adopção de
medidas antes da ocorrência de um dano concreto a
fim de se evitar a sua verificação, ou minimizar os seus
efeitos.

47
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

São vários os instrumentos que podem ser utilizados


para este fim, nomeadamente, a AIA, a criação de áreas
de conservação, bem como instrumentos de carácter
fiscal e financeiro.

 Princípio da precaução
Este princípio encontra-se no artigo 4º c) da Lei do
ambiente, ao estabelecer que a precaução se dá com
base na gestão do ambiente devendo ser priorizado o
estabelecimento de sistemas de prevenção de modo a
evitar a ocorrência de impactos ambientais negativos.
Tem um carácter geral e deve ser aplicado
independentemente da existência concreta de um
problema ambiental actual e específico. O ambiente
deve ter a seu favor a dúvida quando haja incerteza.
Surge como uma espécie de in dúbio pro ambiente, ou
seja na dúvida sobre a periculosidade de uma certa
actividade decide-se a favor do meio ambiente e contra
o potencial poluidor.

 Principio do poluidor pagador


Este princípio está consagrado na PNA no ponto 2.2 e
significa que o poluidor tem de suportar os custos do
desenvolvimento das medidas de controlo da poluição,
decididas pelas autoridades públicas a fim de garantir
que o ambiente esteja num estado aceitável.
Este princípio tem como objectivo o equilíbrio entre o
desenvolvimento económico e a protecção sócio
ambiental, responsabilizando os causadores dos danos.
Assim o Estado deve impor ao poluidor que este
suporte os custos sociais da poluição, as despesas
públicas ou privadas necessárias ao controlo da

48
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

poluição de forma a estimular o aumento da eficiência


económica, a redução da despesa pública e a melhoria
da qualidade do ambiente. Desta forma não se deixarão
alternativas ao poluidor a não ser deixar de poluir, ou
poluir menos.
Este pode ser um meio de arrecadar fundos para o
Estado combater a poluição.
Não podemos pensar este princípio como de carácter
sancionatório, pois visa essencialmente acautelar
necessidades de prevenção e precaução.

 Princípio do reconhecimento e valorização das


tradições e do saber das comunidades locais
Está consagrado na Lei do Ambiente e no ponto 2.3.10
da PNA, onde se consagra no elenco dos princípios
fundamentais, onde o conhecimento e saber das
comunidades locais é condição primeira para uma
convivência harmoniosa com o ambiente, que passa
necessariamente pela utilização responsável dos
recursos naturais, isto é, pela sua conservação. O
conceito de comunidade local esta na Lei da Terra,
artigo 1º nº 1. As comunidades locais são agora
autênticos sujeitos de direito e deveres.

 Princípio da visão global e integrada do ambiente


Decorre da alteração substancial que ocorreu no direito
internacional do ambiente no seu objecto, este é a
própria biosfera globalmente considerada e analisada,
não são os elementos naturais. Hoje defende-se a
melhoria substancial do próprio planeta, no sentido de
um ambiente como um todo, constituído pelos seus
diversos componentes naturais, pelo conjunto das

49
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

relações de interdependência mútua. Está consagrado


no artigo 1 nº 2 a) a c) da lei do ambiente.

 Principio da ampla participação dos cidadãos


Previsto no PNA ponto 2.2, onde se prevê a
participação publica na tomada de decisões com
impactos ambientais. Bem como na lei do ambiente,
artigo 8º. Este corresponde ao entendimento segundo o
qual a participação dos cidadãos é a condição para o
sucesso das políticas de protecção e conservação
ambientais. Podemos encontrar na legislação
moçambicana algumas consagrações, nomeadamente
na AIA, complementada pelo Diploma ministerial nº
130/2006 de 19 de Julho e na LFFB, artigo 31º nº 1.

 Princípio da igualdade
Artigo 4º f) da Lei do Ambiente, na PNA ponto 2.3.10,
artigo 66º da CRM. Em matéria ambiental não há
cidadãos de primeira ou de segunda, todos têm
igualmente o direito fundamental ao ambiente e o
correspectivo dever de o defender.

 Princípio da cooperação internacional


Procura-se obter soluções harmoniosas dos problemas
ambientais numa dimensão global, onde se parte do
pressuposto que os problemas ambientais não dizem
respeito ao Estado x ou y, mas sim a todos.
Possui algumas dimensões, nomeadamente, apoio
financeiro e científico-tecnológico; intercâmbio ou
colaboração na prestação de informações, criação de
projectos transfronteiriços de protecção e conservação
da natureza.

50
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Princípio da correcção na fonte


Constitui um corolário o Principio do Poluidor Pagador e
tem o seu campo de acção no domínio da investigação
científica, onde se visa pesquisar as causas dos diversos
danos ambientais.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.3 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de Direito do Ambiente á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Noção de princípios do Direito e;
2. Princípios fundamentais de defesa do Direito do Ambiente.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja todos os princípios estudados acima e defina 4


procurando exemplos práticos na sua explicação.
2. Reveja os artigos da legislação mencionada e enquadre os
respectivos princípios no sue texto.
3. Distinga o princípio da prevenção do princípio da precaução.

UNIDADE Temática 1.4.Principais problemas ambientais de Moçambique

Introdução

Neste capítulo iremos conhecer os principais problemas


ambientais que existem em Moçambique, não será feita uma
exposição exaustiva pelo que se recomenda complementar o
estudo desta unidade temática com outro material.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Registar e analisar: os principais problemas ambientais em Moçambique;


 Enquadrar e aplicar na prática: os principais problemas ambientais em
Moçambique;
Objectivos  Demonstrar: o enquadramento legal dos principais problemas ambientais
específicos em Moçambique;

Não vamos fazer uma discussão dos problemas que assumam um


carácter global, isto é, aqueles que constituem motivo de preocupação
de todos os Estados do planeta, como é o caso do aquecimento global,
e da destruição da camada de ozono, contudo aconselha-se o seu
estudo ainda de que de forma superficial.

Mapa 1 – Problemas ambientais no Mundo

Em Moçambique é possível identificar inúmeros problemas


ambientais, nomeadamente:
 Poluição
Poluição é definida pelo legislador ambiental como a deposição no
ambiente de substâncias ou resíduos, independentemente da sua
forma, bem como a emissão de luz, som e outras formas de energia,

52
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

de tal modo e em quantidade tal que o afecta negativamente. Artigo


1º nº 21.
Assim poluição decorre da introdução, directa ou indirecta, de
substâncias poluentes no meio ambiente que, ao atingir determinado
volume de concentração, começam progressivamente a destrui-lo ou
degradá-lo.
Este é um problema de carácter fundamental, que atinge a todos, é
algo que faz parte da rotina, que incomoda e afecta, muitas vezes sem
termos consciência disso. Ex. Ruído urbano; água não potável por
causa da acção humana; qualidade do ar; lixo espalhado pelas vilas e
cidades.
Este é um problema global da máquina do planeta, e faz levantar a
questão de como diminuir substancialmente os efeitos da poluição
junto do meio ambiente e dos seres humanos, de forma a não
comprometer a subsistência do Homem e de qualquer outra forma e
vida. Claro que é impossível ou pelo menos muito inviável reduzir a
poluição ao chamado grau zero, pois quase todas as actividades
humanas pressupõem danos no meio ambiente. O que se pretende é
reduzir os índices de poluição a níveis sustentáveis ou toleráveis,
capazes de permitir a auto-regeneração dos diversos componentes
ambientais. É importante implementar a educação e sensibilização
ambientais. Tipos de poluição:
 Poluição dos solos
 Poluição das águas interiores
 Poluição marítima
 Poluição atmosférica
 Poluição sonora
É necessário inverter de uma vez por todas o actual estado das coisas,
devemos procurar modificar radicalmente a nossa conduta para com o
ambiente e os recursos naturais, e um dos caminhos passa
necessariamente pela educação e sensibilização ambiental. A
responsabilidade na conservação e protecção do nosso Planeta cabe

53
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

individual e colectivamente a cada um de nós. O ambiente é um bem


comum a humanidade. O esforço para diminuir os níveis de poluição
em todo o mundo depende, de cada um de nós. E esse esforço começa
através da educação e pela limpeza da nossa própria casa, nossa rua,
nosso bairro, nossa cidade e nosso país. A limpeza do ambiente em
que vivemos é a garantia que as próximas gerações continuarão tendo
uma casa limpa para habitar, o planeta Terra.

 Erosão e Desflorestamento
Qualquer cidadão minimamente atento apercebe-se do impacto que
este problema tem tido junto das populações. Segundo o legislador
ambiental erosão é definido como despreendimento da superfície do

54
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

solo pela acção natural dos ventos ou águas, que muitas vezes é
intensificado por práticas humanas de retirada de vegetação.
Os solos estão permanentemente sujeitos a profundas alterações em
virtude da acção natural do vento e da água, o que origina a
diminuição da espessura do solo produtivo e a diminuição da
fertilidade. Embora a erosão seja de extrema importância para o
enriquecimento dos solos o problema é quando esta avança mais
rápido do que a própria formação dos solos, o que provoca o
arrastamento das camadas superficiais pela acção do vento e da água,
conduzindo ao seu empobrecimento progressivo.
A erosão e o desflorestamento constituem problemas ambientais
ligados, pois o desaparecimento das florestas nas zonas inclinadas
pode provocar alagamentos de terras, bem como atolamento dos rios,
logo aumento do risco de inundações ao longo das margens.
A erosão é um fenómeno geológico pelo que não se pode evitar,
contudo pode ser regulado, para que o seu excesso não provoque a
ruina do solo e a miséria das populações.
A Política Nacional do Ambiente (PNA) definiu estratégias e
prioridades de acção, nomeadamente na gestão costeira e marinha e
na gestão do ambiente urbano.
A Lei da Terra criou um instrumento contra o fenómeno da erosão, a
chamada zona de protecção parcial, artigo 6º, 8º, 9º, 22º e 23º.
Lei de Águas, artigo 58º nº1 e 2, artigo 60º nº 1 e 2, artigo 14º nº 1 a 3.
Uma das formas mais eficazes de combater a erosão é o plantio de
vegetação nas zonas afectadas, e está previsto no artigo 27º nº 1 e 2
da LFFB.
Um outro meio de prevenção e combate a este fenómeno é através da
implementação de políticas e instrumentos de urbanismo e
ordenamento do território, cujos órgãos competentes são, o
Ministério para a Coordenação da Acção ambiental; Ministério das
Obras Públicas e Habitação; Autarquias locais e Governos Distritais.

55
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Desertificação

56
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Desertificação é a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e


sub-húmidas secas, resultantes de vários factores, incluindo as
variações climáticas e as actividades humanas. A comunidade
internacional reconhecendo que a desertificação é um problema
socioeconómico e ambiental importante para o mundo, realizou em
1977 a Conferência das Nações Unidas sobre a desertificação,
aprovando um Plano de Acção de Combate à Desertificação.
O fenómeno da seca e da desertificação, encontram-se inter-
relacionados principalmente, com as condições de pobreza e o nível
de vida da população. Questões de ordem social, económicas,
culturais, segurança alimentar, migrações, água potável, entre outros,
estão intimamente ligadas à degradação do solo.
Estudos já realizados no país, por instituições oficiais e ONG´s, ligadas
a esta problemática, identificaram as causas imediatas que já causam,
em algumas regiões, o fenómeno da seca e da desertificação. As
origens das causas que aceleram a seca e a desertificação, no país,
dividem-se em dois grupos:

 De origem natural: seca e défice hídrico.


 De origem humana: utilização excessiva dos solos provocada pelo
desmatamento/derrubas, queimadas descontroladas, sobre-
pastoreio, práticas agrícolas impróprias, etc., que por sua vez
provocam erosão, infertilidade, salinização. Após um longo período
de exposição pode-se desencadear o processo de Desertificação.

57
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Províncias Principais causam que concorrem para a


Distritos desertificação
Insuficiência de água superficial; baixa precipitação;
Moamba queimadas descontroladas, abate de árvores para a
produção de carvão vegetal e de lenha.
Redução do caudal dos rios; défice pluviométrico;
queimadas descontroladas; abate indiscriminado de
Namaacha árvores para a produção de carvão vegetal e de
lenha.

Redução do caudal do Incomáti; défice


Maputo pluviométrico; queimadas descontroladas; abate de
Magude árvores para a produção de carvão vegetal, de lenha
e de madeira; erosão.
Malalane Redução do caudal do Incomáti; défice
Gaza pluviométrico; queimadas descontroladas; abate
Chiculacuala indiscriminado de árvores para produção de carvão
Massagena vegetal, de lenha e de madeira.
Inhambane
Défice pluviométrico; queimada descontroladas;
Massinga
abate indiscriminado de árvores para a produção de
Funhalouro
carvão, de lenha e de madeira.
Vilankulo

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Inhassoro
Govuro
Nhamatanda
Défice pluviométrico; queimadas descontroladas;
Gorongosa
desmatação; alguma erosão eólica e fluvial.
Maríngué
Chemba
Sofala Redução do caudal dos rios; queimadas
Caia descontroladas; desmatamento.
Moatize
Mágoé
Tete Queimadas descontroladas; desmatamento; erosão.
Changara
Manica
Queimadas descontroladas; uso excessivo do solo;
Macossa
desmatamento.
Manica

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Mapa 2 – Risco de Erosão


Fonte: J.van Wambeke (1986). Erosion Hazard Mapping in
Mozambique. INIA/DTA, Maputo

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Mapa 3 – Mapa de risco de erosão no país

Sumário

Nesta Unidade temática 1.4 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de Direito do Ambiente á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Principais problemas ambientais em Moçambique;
a. Poluição;
b. Erosão e Desmatamento;

61
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

c. Desertificação.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Tendo em conta os problemas mencionados nesta temática


procura relatórios e textos que abordem estes problemas
ambientais, tanto ao nível nacional, quanto internacional e faça
um resumo em 3 páginas.

2. Enquadre os problemas ambientais na sua zona de residência.

3. Enquadre os problemas ambientais no âmbito da legislação


nacional.

UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (verdadeiro ou falso)


1. A Política Nacional do Ambiente baseada nos preceitos
constitucionais baseia-se numa perspectiva preservacionista e
ecocêntrica.
2. O poluidor tem de suportar os custos do desenvolvimento das
medidas de controlo da poluição.
3. Ao abrigo da Constituição da República de Moçambique o
ambiente é considerado um bem jurídico.
4. A Constituição da República de Moçambique eleva a proteção
do ambiente a tarefa fundamental.

Grupo 2 – Resposta detalhada


1. Indique, justificando, o que entende por princípio da
responsabilização.
2. Indique, justificando, o que entende por direito do ambiente
como bem jurídico.
3. Indique, justificando, o que entende por princípio do poluidor
pagador.

62
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

4. Indique, justificando, o que entende por princípio da ampla


participação dos cidadãos.
5. Indique, justificando, o que entende por princípio da
prevenção.

Grupo 3 – Exercícios de reflexão


1. Comente de forma fundamentada o seguinte excerto: “O
direito fundamental ao ambiente constitui um direito de
terceira geração. A previsão constitucional e de nível
internacional de proteger o meio ambiente também integra, de
certa forma, a garantia individual de direito à vida,
principalmente com relação às futuras gerações e preservar a
qualidade de vida, à saúde e desenvolvimento da sociedade
actual, através do uso racional dos recursos naturais, obter um
meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é dever de
todos e do Estado.”
2. Comente de forma fundamentada tem em conta os principais
problemas ambientais que Moçambique enfrenta:
“Moçambique é um dos países afectados pelos efeitos das
mudanças climáticas, razão pela qual 21 distritos, dos 128
existentes no país, estão afectados pela seca e outros 27 pela
degradação dos solos.”

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

TEMA – III: DIREITO INTERNACIONAL DO AMBIENTE.

UNIDADE Temática1.1. Tratados e Convenções Internacionais


UNIDADE Temática 1.2. Direito do Ambiente na SADC
UNIDADE Temática 1.3. Protocolo de Quioto e Moçambique
UNIDADE Temática 1.4. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 1.1.Tratados e Convenções Internacionais

Introdução

Nesta unidade iremos identificar os principais tratados e convenções


internacionais que regulam a protecção ambiental. Por ser uma
matéria muito extensa, iremos restringir-nos principalmente a sua
referência, sendo que caberá ao estudante estudar com profundidade
as referências dadas.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Identificar: os tratados e convenções de nível internacional que se


enquadram na temática de protecção ambiental;

Objectivos  Demonstrar: quais os tratados e convenções que Moçambique ratificou e


aos quais esta vinculado;
específicos
 Analisar: os principais tratados e convenções.

O Direito Internacional do Meio Ambiente é o conjunto de regras e


princípios que regulam a protecção da natureza na esfera
internacional. Não apenas cuida dos temas que atingem vários Estados
simultaneamente, tais como a poluição transfronteiriça ou as
mudanças climáticas, mas também tem como objecto certos
elementos de protecção da natureza no âmbito interno dos Estados. É
construído, em diversos temas, no contexto da preocupação global
com a protecção da natureza, independente do território onde se

64
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

encontre. O Direito do Ambiente começa, realmente, a tomar corpo a


partir dos anos 50 e 60.
Já existiam diversas normas para a protecção da natureza, desde o
final do século XIX, mas é apenas a partir da segunda metade do
século XX que se pode falar em um conjunto de normas, parte do
Direito Internacional Público, regulando o tema específico. Entre os
factores que contribuíram para a formação e ao fortalecimento do
Direito do Meio Ambiente, encontramos: as altas taxas de crescimento
da população mundial, consequentemente, a melhoria das condições
sanitárias; o desenvolvimento das ciências médicas, após a Segunda
Guerra Mundial; o uso maciço dos recursos ambientais, causa da
destruição de vários ecossistemas em todo o mundo, mas,
principalmente, nos países do hemisfério Norte; os primeiros grandes
acidentes de efeitos imediatos, com a destruição em larga escala da
natureza.

No seguimento da consolidação do direito internacional do ambiente,


Moçambique iniciou, pouco depois da independência, um processo de
adesão a tratados e convenções internacionais sobre diversas matérias
ambientais, quer ao nível internacional, quer continental, quer
regional. Seguem alguns dos principais:
 Resolução n.º 18/81, de 30 de Dezembro. Convenção
Africana Sobre a Conservação da Natureza e dos
Recursos Naturais.
 Resolução n.º 20/81, de 30 de Dezembro. Ratifica a
adesão da República Popular de Moçambique à
Convenção Sobre Comércio Internacional das Espécies
de Fauna e Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção
(CITES).
 Resolução n.º 21/81, de 30 de Dezembro de 1981.
Ratifica a inscrição da República Popular de
Moçambique na União Internacional para a

65
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.


(IUCN)
 Resolução n.º 17/82, de 13 de Novembro. Aprova a
adesão da República Popular de Moçambique à
Convenção para a Protecção do Património Cultural e
Natural do Mundo da UNESCO.
 Resolução n.º 8/93, de 8 de Dezembro. Ratifica a
Convenção de Viena, de 22 de Março de 1985, sobre a
Protecção da Camada de Ozono bem como as
respectivas emendas de Londres de 1990 e Copenhaga
de 1992.
 Resolução n.º 10/91, de 24 de Setembro. Adesão da
República de Moçambique à Organização de
Cooperação Económica, Científica e Técnica Marinha do
Oceano Indico – IOMAC.
 Resolução n.º 1/94, de 24 de Agosto. Ratifica a
Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças
Climáticas, de Junho de 1992.
 Resolução n.º 2/94, de 24 de Agosto. Ratifica a
Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade
Biológica.
 Resolução n.º 17/96, de 26 de Novembro. Ratifica a
Convenção para a Protecção, Gestão e
Desenvolvimento Marinho e Costeiro da Região
Oriental de África, de 2 de Junho de 1985 e respectivos
Protocolos.
 Resolução n.º 18/96, de 26 de Novembro. Ratifica a
Convenção de Basileia sobre o Controlo de Movimentos
Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e sua
Eliminação.
 Resolução n.º 19/96, de 26 de Novembro. Ratifica a
Convenção de Bamako relativa à Interdição da

66
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Importação de Lixos Perigosos e ao Controlo da


Movimentação Transfronteiriços desses lixos em África.
 Resolução n.º 20/96, de 26 de Novembro. Ratifica a
Convenção das Nações Unidas, de 7 de Junho de 1984,
sobre o Combate à Desertificação nos Países Afectos
por Seca Grave e ou Desertificação, particularmente em
África.
 Resolução n.º 21/96, de 26 de Novembro. Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
 Resolução n.º 11/2001, de 20 de Dezembro. Protocolo
de Cartagena sobre Bio-Segurança.
 Resolução n.º 52/2001, de 6 de Novembro.
Concernente à denúncia da República de Moçambique
da Convenção Internacional sobre a Responsabilidade
Civil pelos Prejuízos Devidos à Poluição por
Hidrocarbonetos, 1969 (CLC 69) e à adesão da
República de Moçambique ao Protocolo da Convenção
Internacional sobre a Responsabilidade Civil pelos
Prejuízos à Poluição por Hidrocarbonetos, 1992 (CLC
1992).
 Resolução n.º 53/2001, de 6 de Novembro.
Concernente à denúncia da República de Moçambique
da Convenção Internacional para a Constituição de um
Fundo Internacional para Compensação pelo Prejuízos
Devidos à Poluição por Hidrocarbonetos, 1971.
 Resolução n.º 45/2003, de 5 de Novembro de 2003.
Concernente à adesão da República de Moçambique à
Convenção sobre Terras Húmidas de Importância
Internacional, especialmente as que servem como
Habitat de Aves Aquáticas.
 Resolução n.º 56/2004, de 31 de Dezembro. Ratifica a
Convenção Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos e

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Persistentes, adoptada em 23 de Maio de 2001 em


Estocolmo, Suécia.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de Direito Internacional do
Ambiente á disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Direito internacional do Ambiente;
2. Tratados e Convenções internacionais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Analise os tratados e convenções mencionados nesta


temática ambiental e enquadre dentro da problemática
ambiental.

UNIDADE Temática 1.2.Direito do Ambiente na SADC

Introdução

Nesta unidade iremos identificar qual o tratamento que o Direito do


Ambiente tem na SADC (Southern Africa Development Community em
Português Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) é
um bloco económico e político composto por 15 países da África
Austral (região sul do continente). A sede do bloco fica na cidade de
Gaborone (maior cidade de Botswana).

68
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Mapa 5 – Países membros da SADC


Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Demonstrar: a importância da temática ambiental no quadro regional da


SADC;
Objectivos  Identificar: os protocolos ratificados por Moçambique ao nível da SADC.
específicos

Uma vez que no contexto regional, Moçambique é membro da


Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC),
ratificado através da resolução nº 3/93 de 1 de Junho, cujo artigo 5º nº
1 g) prevê o meio ambiente. Os principais objectivos da SADC são:
1. Estimular o comércio de produtos e serviços entre os países
membros;
2. Diminuir a pobreza da população de todos os países membros e
melhorar a qualidade de vida;
3. Maximizar o uso dos recursos naturais da região;
4. Promover o crescimento sustentável dos países do bloco;
5. Promover a paz e bons relacionamentos políticos na região,
actuando para evitar conflitos e guerras;
6. Cooperação socioeconómica e política na região;

69
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

7. Buscar soluções em comum para os principais desafios da região;


8. Redução e unificação das tarifas alfandegárias e taxas de
importação e exportação nas relações comerciais entre os países
membros.
9. Promover a paz e a segurança;
Tendo em conta a política da SADC o tema do ambiente está
enquadrado tanto nas suas temáticas, através do tratamento especial
dado aos recursos naturais mas também têm tratamento ao nível dos
problemas que merecem especial atenção dos seus estados membros.
Moçambique ratificou os seguintes protocolos da SADC:
 Resolução n.º 52/98, de 15 de Setembro. Protocolo de
Cooperação no Domínio da Energia da SADC.
 Resolução n.º 53/98, de 15 de Setembro. Protocolo sobre o
sector Mineiro da SADC.
 Resolução n.º 31/2000, de 27 de Dezembro. Protocolo revisto
sobre Cursos de Água Compartilhados na região da SADC.
 Resolução n.º 12/2001, de 20 de Março. Protocolo sobre o
Desenvolvimento do Turismo da SADC.
 Resolução n.º 14/2002, de 5 de Março. Protocolo relativo à
Conservação da Fauna e aplicação da Lei na SADC.
 Resolução n.º 39/2002, de 30 de Abril. Protocolo sobre as
Pescas da SADC.

De facto começamos a ter um Direito Regional do Ambiente ao


nível da SADC, o qual poderá revelar-se de extrema importância
para a protecção e conservação do ambiente nos estados
membros.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de considerações gerais á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

1. A SADC e o meio ambiente;


2. Protocolos da SADC ratificados por Moçambique;

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja as políticas previstas no protocolo de constituição


da SADC e identifique a temática ambiental.

2. Visite os seguintes sites:


http://www.sadc.int/issues/environment-sustainable-
development/# e http://www.sadc.int/themes/natural-
resources/ e elabore um texto onde justifique a
importância do enquadramento regional do ambiente para
a sua protecção.

UNIDADE Temática 1.4.Protocolo de Quioto e Moçambique

Introdução

É comum vermos catástrofes ao redor do mundo como furacões,


ciclones, tufões, tsunamis, ondas de calor, tempestades, enchentes,
famílias desabrigadas, casas destruídas, mortes, doenças, mudanças
drásticas no clima, entre outros. Mas o que essas mudanças climáticas
podem afectar o Planeta Terra?
Grande parte disso é resultado do aquecimento global e do efeito
estufa, que em grande parte são causados por acções humanas. O uso
de combustíveis fósseis e de outras substâncias prejudiciais desde a
era pré-industrial, acabaram por liberar gases poluentes para a
atmosfera e colocando em risco não só as gerações futuras, como
também a natureza e os animais.
É preciso que haja mudança nos hábitos dos indivíduos. E, as
indústrias, empresas e governos são os responsáveis por tomarem
medidas para a redução e troca de combustíveis fósseis por novas
tecnologias energéticas, fiscalizar, consciencializar, criar projectos, etc.
É preciso a mobilização para o bem comum! Mas afinal, o que é
Protocolo de Quioto e o que ele tem a ver com isso?

71
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

O Protocolo de Quioto é um tratado internacional que tem como


objectivo fazer com que os países desenvolvidos assumissem o
compromisso de reduzir a emissão de gases que agravam o efeito
estufa, para aliviar os impactos causados pelo aquecimento global.
Além disso, são realizadas discussões para estabelecer metas e criar
formas de desenvolvimento que não sejam prejudiciais ao Planeta.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Identificar: as características do protocolo de Quioto;

 Demonstrar: a importância do protocolo de Quioto para a temática


ambiental.
Objectivos
específicos  Entender e aplicar na prática: o protocolo de Quioto no contexto
Moçambicano.

Para conhecer o Protocolo e, por maioria de razão, o impacto que


teve, e tem, em Moçambique, é necessário retrocedermos a Junho de
1988, em Toronto, no Canadá, aquando da realização da Conferência
Mundial sobre Alterações Climáticas – “The Changing Atmosphere:
Implications for Global Security” – que, entre outras coisas, criou o
Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (adiante
designado IPCC, sigla da designação em inglês, como é geralmente
conhecido).

Ora, em 1990, o IPCC publica o seu primeiro relatório atestando que a


influência humana nas alterações climáticas representam uma ameaça
à humanidade e, com isso, marca uma reviravolta histórica no que
respeita a concepção do fenómeno no seio da comunidade científica e
política. Consequentemente, a partir dessa data intensifica-se uma
onda de negociações com vista a promover formas de cooperação e
comprometimento relativamente à diminuição de emissões de Gases
com Efeito Estufa e ao uso de tecnologias ditas “limpas”.

72
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Nessa sequência, em 1992, dá-se a aprovação do texto da Convenção-


Quadro das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
A Convenção, como será a partir de agora designada, estabelecia que
as Partes integrantes do seu Anexo I, referidas como Partes do Anexo
I, (países pertencentes, em 1992, à OCDE – Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico e, também, pelas antigas
Repúblicas Socialistas da União Soviética) deveriam adoptar políticas e
medidas de mitigação capazes de fazer com que os seus níveis de
emissão antrópica de Gases de Efeito Estufa (GEE) retornassem aos
níveis de 1990. No entanto, como este compromisso não continha
linhas precisas de actuação das diferentes Partes Contratantes foi
aprovado na sua Terceira Conferência das Partes (COP 3), realizada em
Quioto, no Japão, um protocolo com metas precisas e quantitativas de
redução de GEE. Nascia, então, o famoso Protocolo de Quioto.
Protocolo de Quioto foi aprovado em 11 de Dezembro de 1997 e é um
Tratado que complementa e reforça a Convenção, adoptando os
mesmos objectivos, princípios, órgãos e mecanismos. Sendo, como tal,
condição sine qua non à sua adesão, a adesão prévia à Convenção. O
que faz com que uma denúncia a mesma signifique, automaticamente,
uma denúncia ao Protocolo. Quanto à sua entrada em vigor, o art. 25º
dispõe que “… entra em vigor no nonagésimo dia após a data em que
pelo menos 55 partes da Convenção, englobando as partes incluídas
no Anexo I que contabilizarem no total pelo menos 55 por cento das
emissões totais de carbono em 1990 das Partes incluídas no Anexo I,
tenham depositado seus instrumentos de ratificação, aceitação,
aprovação ou adesão”. Ou seja, dois requisitos são exigidos: primeiro,
que 55 partes o ratifiquem; depois, que dentro deste número se
encontrem Partes do Anexo I, cujas emissões signifiquem pelo menos
55% das emissões totais verificadas em 1990.

Esta foi assim, a forma encontrada para garantir a eficácia do mesmo


e, paralelamente, potenciar um maior comprometimento dos países
desenvolvidos, historicamente responsáveis pelos elevados níveis de

73
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

GEE presentes na atmosfera terrestre. No entanto, isto fez com que o


Protocolo assinado em 1997, apenas iniciasse a sua vigência a 16 de
Fevereiro de 2005, na sequência da ratificação da Rússia, a 4 de
Novembro de 2004, país responsável por 17% das emissões de CO2 no
ano de 1990 e que, por isso, permitiu que o somatório das Partes do
Anexo I atingisse 55% das emissões de 1990. Assim, tendo em vista a
diminuição das emissões de GEE, o Protocolo impõe aos países
desenvolvidos (também conhecidos como, Partes do Anexo I), entre
2008 e 2012, uma redução das emissões de gases que provocam o
efeito de estufa: Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), Óxido
Nitroso (N2O), Hidrofluorcarbonetos (HFCs), Perfluorocarbonetos
(PFCs) e Hexafluoreto de Enxofre (SF6) em, pelo menos, 5% abaixo dos
níveis registados em 1990. Nesse sentido, cada Parte do Anexo I
recebeu uma meta de redução dos níveis de poluição diferenciada,
metas estas que estão listadas no Anexo B do Protocolo.

Apesar de defender a imposição de metas quantificadas de redução de


GEE, como forma de proteger o sistema climático para as gerações
presentes e futuras, o Protocolo assume que existe uma diferença a
ser levada em consideração entre os países desenvolvidos e os países
em vias de desenvolvimento. Diferença esta que reside, sobretudo, no
facto dos primeiros serem os responsáveis directos pelo aumento das
emissões de GEE verificadas a partir da Revolução Industrial. Com
efeito, o Protocolo distingue-os em Partes incluídas no Anexo I e
Partes não incluídas no Anexo I da Convenção. E o que significa isto?
Ora, o Protocolo, tal como a Convenção, diferencia, à partida, as
Partes inseridas no Anexo I, constituídas por países desenvolvidos, aos
quais foram atribuídas metas fixas de redução de GEE. E, pelos países
com economias ditas em transição para economias de mercado, aos
quais se atribuiu um regime especial. Estes usufruem de um estatuto
que lhes atribui a faculdade de prorrogar, por alguns anos, o
cumprimento das metas impostas pelo Protocolo ou de usar como ano
de base, outro que não 1990, dando-lhes assim, uma maior

74
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

flexibilidade para alcançar os objectivos estabelecidos. E, por fim, não


previstos no Anexo I, temos os países em vias de desenvolvimento,
como é o caso de Moçambique, que não têm metas fixas de redução
de emissões, mas que devem enveredar esforços no sentido de
diminuir o nível de emissões de GEE. Não obstante, caso isto não se
traduza propriamente numa redução, não se verifica nenhum
incumprimento no âmbito do Protocolo, porque se presume que esse
aumento esteja, directamente, relacionado com o crescimento
económico, imprescindível ao desenvolvimento dos mesmos. Ora, o
Protocolo assenta na necessidade de responsabilização dos países
desenvolvidos e na necessidade de cooperação, destes, com os países
em vias de desenvolvimento. E fá-lo através da consagração do
princípio das responsabilidades comuns, porém, diferenciadas. No
âmbito do qual, devem ser levadas em consideração as necessidades
específicas e especiais de cada parte, principalmente das que estejam
mais vulneráveis às mitigações climáticas.

Nesse sentido, ficou estipulado que os países em desenvolvimento não


podem ser cobrados de forma a causar danos ou prejuízos em suas
economias, já que estariam a ser responsabilizados por encargos que
não podem assumir e dos quais não foram os agentes directamente
causadores. Assim, o princípio das responsabilidades comuns, porém,
diferenciadas está, dessa forma, em directa consonância com o
princípio do poluidor-pagador, que estabelece que aquele que fez o
uso irracional do meio ambiente deve ser o responsável pela
reparação do dano que causou. Cria, dessa forma, uma relação de
causa/efeito, onde o poluidor deve responsabilizar-se, não podendo
penalizar aqueles que mantiveram uma conduta ecologicamente mais
equilibrada ou aqueles que não contribuíram significativamente para a
prática do facto.

Com efeito, nas negociações das metas de redução de GEE, os


governos aceitaram níveis diferenciados, que permitiram que os países
desenvolvidos negociassem valores individuais que produzissem, no

75
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

conjunto, uma redução de pelo menos 5% das emissões de GEE


verificadas em 1990. A União Europeia aceitou uma redução de 8%,
usando um critério de "bolha". Ou seja, aceitou uma redução unitária
para a União e, posteriormente, atribuiu metas aos seus Estados-
Membros de acordo com as suas capacidades. Os Estados Unidos da
América (EUA) acordaram numa redução de 7% e o Japão, num corte
de 6%. A Rússia concordou apenas em estabilizar as emissões nos
níveis de 1990 e alguns países, como a Austrália e a Islândia, foram
autorizados a aumentar as suas emissões.

Com o evoluir das economias emergentes houve a necessidade de se


estenderem as metas aos países em desenvolvimento, como o Brasil, a
Índia e a China (estes, actualmente, grandes emissores de GEE, devido
ao crescimento exponencial verificado nos últimos anos, ao tipo de
energia que utilizam, baseada sobretudo em combustíveis fósseis e
aos desmatamentos constantes) foi defendida pelos EUA na
elaboração do Protocolo e usada como argumento pelo presidente
George W. Bush para rejeitá-lo, em 2006. Chegando mesmo, este
tema, a ser apresentado para discussão na COP 3 através de uma
proposta da Nova Zelândia que, no entanto, não foi adoptada e
mereceu por parte dos países em desenvolvimento grande oposição.
Mas terá esta oposição fundamento? Vejamos, a dúvida que se coloca
é a de saber até que ponto estas metas de redução de emissões não
geram desigualdades não justificadas entre as Partes. Ou até, se é
justificável a imposição de metas de redução a certos países e a outros
não. Os países industrializados, com aproximadamente 20% da
produção global, são responsáveis por 60% das emissões anuais de
Dióxido de Carbono (CO2) e só o maior emissor, os EUA, é responsável
por mais de 20% desse total. Entre 1950 e 1992, os países
industrializados produziram 74% e os EUA 28% do total acumulado das
emissões mundiais de CO2, que permanecem na atmosfera durante
muitos anos. Assim, por um lado temos os países desenvolvidos que
entendem que a ausência de compromissos legalmente vinculativos

76
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

por parte dos países em desenvolvimento coloca as suas indústrias


numa situação de desvantagem e mina a eficácia do Protocolo no
domínio do ambiente. E, no outro verso da medalha, os países em
desenvolvimento que são, na sua grande maioria, contra
compromissos formais, ainda que voluntários, que estabeleçam limites
máximos para as suas emissões. Invocando, para tal, que as suas
emissões per capita continuam a ser baixas comparadas com as dos
países industrializados e que são condição necessária ao seu
desenvolvimento económico.

Mas será este desenvolvimento, um desenvolvimento sustentável?

77
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Não é fácil alcançar um consenso, no entanto, parece-nos que, a


cumprir-se o princípio das responsabilidades comuns, porém,
diferenciadas, os países em desenvolvimento beneficiariam, se num
futuro próximo, optassem pela aceitação de metas voluntárias, num
primeiro momento. Uma vez que, teriam a garantia que a fixação das
suas metas iriam obedecer a requisitos de equidade e justiça social e
usufruiriam das vantagens que advêm pertencerem ao “pelotão da
frente” no combate às alterações climáticas. Quer politicamente, uma
vez que posicionavam-se de forma activa perante a comunidade
internacional, quer economicamente, visto que passavam a ter a
faculdade de, para além de receptores, serem investidores no
mercado de emissões, tornando assim, o seu posicionamento
ambiental, num modo mais lucrativo. Tanto assim é que, existe já um
grupo de países em desenvolvimento, entre os quais se encontra a
Argentina, que já se mostraram dispostos a ter em consideração a
questão, desde que, os países industrializados cumpram a promessa
de tomar a iniciativa e as responsabilidades sejam partilhadas de uma
forma equitativa.
Veja-se, quanto a isso, o êxito conseguido no que se refere à redução
das emissões de gases que destroem a camada de ozono, nos termos
do Protocolo de Montreal sobre as Substâncias que Empobrecem a
Camada de Ozono, adoptado em 16 de Setembro de 1987. Nos termos
do qual, os países desenvolvidos acordaram em liderar a acção
tendente a reduzir os Clorofluorcarbonetos (CFC) nocivos e em dar
apoio financeiro e técnico, tendo em vista ajudar os outros países a
procederem da mesma maneira. E, em que os países em
desenvolvimento aceitaram a fixação de metas de redução das suas
emissões com um “período de latência” de dez anos.
Com efeito, para alcançar os objectivos e metas estabelecidas, as
Partes Não Anexo I poderiam comprometer-se mais seriamente, não
obstante, num primeiro momento ser ainda de forma muito singela,
demonstrando assim a sua forte convicção e intenção em dar

78
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

continuidade e ser parte integrante deste importantíssimo acordo de


âmbito mundial. Assim as Partes Não Anexo I devem investir em
tecnologias limpas e energias menos poluentes. Por um lado, porque
os graves problemas de qualidade do ar estão já a afectar a saúde
humana e o ambiente nessas localidades e, por outro, porque, como
não têm metas a reduzir, podem aproveitar os mecanismos de
flexibilidade criados pelo Protocolo para financiar o seu
desenvolvimento economicamente sustentável.

Protocolo de Quioto e Moçambique


Importa, chegados a esta fase, compreender então, qual o papel de
Moçambique no cenário supra descrito. Ora, antes de mais,
Moçambique não consta do Anexo I da Convenção e,

79
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

consequentemente, não tem metas definidas de redução de emissões


de GEE prevista no Anexo B do Protocolo.
No entanto, como já constatamos, isto não significa que a análise da
aplicação do Protocolo aqui seja inútil, muito pelo contrário. É facto
assente que a mitigação e a adaptação às alterações climáticas
afectam mais os países em desenvolvimento, devido sobretudo à sua
limitada capacidade de resposta, e Moçambique não constitui
excepção à regra. Com efeito, por meio da Resolução n.º 10/2004, de
28 de Julho, aprova-se a adesão da República de Moçambique ao
Protocolo sob referência.
De facto a implementação efectiva do Protocolo em Moçambique é
residual. Ora, é difícil apontar as causas, mas não se pode esquecer
que somente a partir de 2006, com a criação da AND a nível nacional,
se pode efectivamente desenvolver projectos de MDL em
Moçambique. Pelo que, para além das dificuldades naturais advindas
da implementação do regime, este se encontra ainda a dar os seus
primeiros passos. Não obstante, apesar da sua implementação
residual, sem dúvida, pode-se hoje afirmar que Moçambique reúne
todas as condições necessárias para cumprir na íntegra os dispositivos
previsto no âmbito do Protocolo de Quioto basta, para tal, que se
consiga posicionar na rota dos países hospedeiros de projectos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e, com isso, fazer
efectivamente Moçambique atingir os objectivos definidos em Quioto.

80
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.3 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de Direito Internacional do
Ambiente á disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Protocolo de Quioto;
2. Protocolo de Quioto e Moçambique e;

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Estude âmbito de aplicação do Protocolo de Quioto em


Moçambique á luz da recente conferência sobre o clima COP-
21 que decorreu em Paris.
2. Elabore, em 2 páginas, um texto critico sobre o Protocolo de
Quito.

UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema

Grupo 1 – Resposta com detalhe


1. Indique justificando se existe em Moçambique um quadro de
Direito Internacional do Ambiente.
2. Indique justificando se Moçambique esta vinculado, em termos
ambientais, ao quadro legal da SADC. Em caso de resposta
positiva dê exemplos de algumas matérias.

Grupo 2 – Exercícios de Reflexão


1. Comente de forma crítica a seguinte afirmação: “O Protocolo
de Quioto é um tratado internacional com compromissos mais
rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o
efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das
investigações científicas, como causa antropogénicas do
aquecimento global.”

82
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

TEMA – IV: TUTELA DO AMBIENTE.

UNIDADE Temática 1.1. O licenciamento ambiental


UNIDADE Temática 1.2. A avaliação do impacto ambiental
UNIDADE Temática 1.3. Auditoria ambiental
UNIDADE Temática 1.4. Monitorização ambiental
UNIDADE Temática 1.5. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 1.1.O licenciamento ambiental

Introdução

A presente unidade insere-se no capítulo da Prevenção Ambiental. Os


instrumentos de prevenção ambiental encontram fundamento na
importância crucial que a prevenção assume para a tutela do
ambiente, pois torna-se essencial evitar a ocorrência de danos
ambientais ao invés de procurar remediar ou corrigir algo que já
aconteceu.
Para se prosseguir o objectivo do desenvolvimento sustentável a
utilização dos recursos naturais deve ser feita de forma racional e
ponderada. É neste sentido que se situa o mecanismo prático do
licenciamento ambiental como sendo de extrema importância para o
estabelecimento de novos empreendimentos e/ou a regularização dos
já existentes, por constituir uma oportunidade impar de participação
do empreendedor na preservação do ambiente e na promoção da
produção cada vez mais limpa.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Compreender: como se inicia o procedimento de licenciamento ambiental;

 Analisar: a legislação aplicável ao procedimento de licenciamento ambiental;

Objectivos  Relacionar: o procedimento de licenciamento ambiental com a preservação


específicos do meio ambiente;

 Entender: a necessidade de estabelecer este procedimento como

83
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

mecanismo de prevenção de danos ambientais.

O licenciamento ambiental encontra-se previsto no artigo 15º nº 1 da


Lei do Ambiente (LA). Tem em vista a obtenção de uma licença com
um conteúdo específico e característico.

Licença ambiental é definida pelo Decreto nº 54/2015, de 31 de


Dezembro, aprova o Regulamento Relativo ao Processo de Avaliação
do Impacto Ambiental (RAIA), no anexo VIII, esta possui uma natureza
jurídica de um acto administrativo, pois é uma decisão com força
obrigatória e dotada de exequibilidade sobre determinado assunto,
tomada por um órgão de uma pessoa colectiva de direito público.

A necessidade deste tipo de mecanismos com carácter preventivo


surge no contexto da dinamização do conceito de Desenvolvimento
Sustentável. De facto este conceito faz parte dos quadros de
desenvolvimento de todos os países, tendo como foco a necessidade
de se mudar a forma como a Natureza e o meio ambiente são
pensadas pelo Homem. Este conceito está definido na legislação
nacional, desde logo no anexo VIII, onde se diz que “desenvolvimento
sustentável é o desenvolvimento baseado numa gestão ambiental que
satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer o
equilíbrio do ambiente e a possibilidade de as gerações futuras
satisfazerem também as suas necessidades”.

84
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Tendo este conceito como ponto de partida fará todo o sentido que
qualquer actividade que poderá afectar o ambiente carece duma
autorização, onde a autorização baseia-se na avaliação do potencial
impacto da actividade planeada para determinar a sua viabilidade
ambiental, e termina com a emissão duma licença ambiental.
Com a publicação da LA e do RAIA impôs-se a figura de licenciamento
ambiental, que passou a construir um instrumento fundamental de
prevenção de danos no bem jurídico ambiente. Esta consiste em
condicionar as actividades susceptíveis de causar um impacto
ambiental nocivo à emissão de uma licença ambiental, a cargo do
Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural.

85
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

A licença ambiental deve ser solicitada antes do processo de obtenção


da licença sectorial. Isto é antes do inícios de qualquer actividade de
construção de um empreendimento é necessário iniciar os
procedimentos legais de obtenção da licença ambiental junto do
Ministério e só então é que se requererá a licença sectorial de
conteúdo técnico (cfr artigo 15º da LA).
 PROCEDIMENTOS PARA A OBTENÇÃO DUMA LICENÇA
Faz-se um requerimento para uma licença ambiental durante a fase de
preparação e planeamento dum projecto. Deve-se observar que a
emissão de outras licenças (tal como uma licença de operações
industriais, licença de concessões florestais, licença de turismo e
aprovação final pelo CPI) que dependem da emissão anterior duma
licença ambiental.
 Etapas do Licenciamento Ambiental
Qualquer tipo de actividade ou projecto de investimento que pode ter
um impacto ambiental deve primeiro requerer uma Avaliação de
Impacto Ambiental (AIA). O processo da AIA começa com uma pré-
avaliação. Esta avaliação determina, ou confirma (na base da categoria
à qual a actividade pertence) o tipo de avaliação que será exigida
antes da emissão duma licença, esta licença será a fase final deste
procedimento administrativo, e segue os termos do artigo 19º e 20º
do RAIA.
De referir que existe regulamentação específica para o licenciamento
de certas actividades como é o caso das actividades de indústria
transformadora, para tal deve ser aplicado, de forma articulada com a
restante legislação, o Decreto nº 39/2003 de 26 de Novembro.
Caso se trate de actividades económicas que pela sua natureza não
acarretam impactos negativos para o ambiente, saúde pública,
segurança e para a economia em geral será aplicado o Decreto nº
2/2008 de 12 de Março.

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de Tutela do Ambiente á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Mecanismos de prevenção ambiental;
2. Licenciamento ambiental e;
3. Tipos de licenciamento.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja a legislação aplicada nesta unidade e faça uma leitura


exaustiva dos mesmos.
2. Demonstre, de forma fundamentada, a importância que o
licenciamento ambiental tem para a preservação do meio ambiente.

UNIDADE Temática 1.2.A avaliação do impacto ambiental

Introdução

A presente unidade insere-se no capítulo da Prevenção Ambiental. Os


instrumentos de prevenção ambiental encontram fundamento na
importância crucial que a prevenção assume para a tutela do
ambiente, pois torna-se essencial evitar a ocorrência de danos
ambientais ao invés de procurar remediar ou corrigir algo que já
aconteceu.
Para se prosseguir o objectivo do desenvolvimento sustentável a
utilização dos recursos naturais deve ser feita de forma racional e
ponderada. É neste sentido que se situa o mecanismo prático da
Avaliação de Impacto Ambiental no seguimento do procedimento de
Licenciamento visto na unidade anterior.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

87
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Compreender: o que é a Avaliação de Impacto Ambienta;

 Demonstrar: a importância da AIA no desenvolvimento sustentável do País;

Objectivos  Analisar: a AIA como instituto jurídico;


específicos  Relacionar: a AIA com a necessidade de participação da comunidade.

a) A avaliação do impacto ambiental (AIA)


a. Surgimento, conceito e princípios
Surgiu nos anos setenta e dada a sua natureza preventiva e a sua
importância foi formalmente reconhecida pela Declaração do Rio de
92. Em Moçambique com a Constituição de 1990 concebeu-se um
quadro legal ambiental que implicou a adopção de instrumentos de
protecção, preservação e monitoramento das actividades humanas
susceptíveis de causar danos ao ambiente. Com a aprovação da LA o
processo de Avaliação de Impacto Ambiental foi definitivamente
consagrado no ordenamento jurídico moçambicano no seu artigo 1º
nº 5 da LA “um instrumento de gestão ambiental preventiva e consiste
na identificação e análise prévia, qualitativa e quantitativa, dos efeitos
ambientais benéficos e perniciosos de uma actividade proposta”,
articulado com o artigo 1º nº 5 do RAIA e o artigo 16º da LA. Ainda
antes destes já estava previsto no artigo 7º nº 2 e 3 da Lei das Águas o
estudo de impacto ambiental, bem como no artigo 26º nº 1 da Lei dos
Investimentos (Lei nº 3/93 de 24 de Junho).
Com a aprovação do Decreto nº 54/2015, de 31 de Dezembro
estabeleceu-se o regime da AIA dando assim mais ênfase a
necessidade de aplicação deste procedimento como forma de
prevenção ambiental.
A AIA consiste na submissão preventiva dos projectos de actividades
susceptíveis de causar efeitos nocivos no meio ambiente a um
processo de averiguação e analise, de carácter técnico-científico,
daqueles mesmos efeitos. Sendo então um procedimento de apoio à

88
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

decisão de autorização ou licenciamento de projectos susceptíveis de


ter impactos.
A AIA tratando-se de um procedimento e carácter prévio que tem
como objectivo fundamental o fornecimento de todas as informações
e elementos essenciais à entidade competente para proferir a decisão
sobre a viabilidade ambiental do empreendimento proposto, a qual
condicionará todas as demais licenças ou autorizações tem como
função a articulação entre o direito ao desenvolvimento económico e
do direito ao ambiente. Essa articulação deve buscar a
compatibilização óptima entre tais direitos sempre tendo em vista o
almejado desenvolvimento sustentável (isto é as condições ambientais
de hoje e do futuro).
A definição legal está consagrada no artigo 1º da LA e pretende
fundamentalmente avaliar os efeitos de uma actividade com
potenciais implicações ambientais e tem em vista submeter os
respectivos estudos à consulta pública antes de se tomar qualquer
decisão sobre a viabilidade dessas actividades.
Vantagens da AIA:
 Identificação dos problemas numa fase precoce do
processo decisório, permitindo a correcção atempada;
 Garantia de que se estudam adequadamente os
problemas controversos, levando a decisões mais
ponderadas;
 Contribuição para maior equidade social e económica e
melhor gestão dos recursos naturais;
 Evitar problemas ambientais graves, através das
medidas preventivas;

Como instrumento precoce de decisão dá cumprimento aos seguintes


princípios:
 Princípio da precaução;

89
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Princípio da prevenção, artigo 1º nº 5 e 28 do Decreto nº


45/2004 de 29 de Setembro;
 Princípio da participação dos cidadãos na gestão ambiental,
artigo 14º do RAIA e Decreto nº 130/2006 de 19 de Julho;
 Princípio da utilização e gestão racionais dos componentes
ambientais;
 Princípio da responsabilização;

b. A AIA como instituto jurídico


A AIA é um procedimento administrativo prévio da iniciativa dos
particulares e que tem por objecto a prática de um acto
administrativo, que é a licença ambiental. Tendo presente o artigo 15º
nº 2 da LA a emissão da licença ambiental é antecedida de um
processo de AIA sobre a proposta de actividade apresentada por um
determinado proponente.
A licença ambiental visa determinar a viabilidade ambiental do
projecto e, por conseguinte, não configura um acto administrativo
puro, já que este é a licença técnica da actividade que se pretende
desenvolver e que é requerida aos sectores com competência devida.
O processo da AIA encontra-se regulamentado no Decreto nº 45/2004,
e nele estão previstas as formalidades a serem cumpridas, isto é,
existem actos que deverão ser levados a cabo pelas diversas entidades
envolvidas no empreendimento. Não só devem ser alvo de AIA as
actividades enunciadas no anexo do RAIA, como também todas as que
possam ter significativos impactos no ambiente. Os Anexos I, II e III do
Regulamento da Avaliação do Impacto Ambiental (Decreto 45/2004 de
29 de Setembro) dividem as actividades potenciais em três categorias
baseadas no seu provável impacto no ambiente (cfr artigo 3º do RAIA):
 Categoria A: Está sujeita a um Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) completo;
 Categoria B: Está sujeita a um Estudo Ambiental Simplificado
(EAS);

90
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Categoria C: Está sujeita à observância das normas de boa


gestão ambiental

O processo de AIA encontra-se estruturado em seis fases


fundamentais:
1. Instauração do processo junto do Ministério – artigo 6º do
RAIA
2. Pré avaliação do projecto ou actividade – artigo 7º a11º do
RAIA
É o processo de análise ambiental preliminar da concepção do
projecto quanto aos seus potenciais impactos.
3. Elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) – artigo 12º
e 13º do RAIA
É a peça documental de caracter fundamental da AIA, trata-se
de um documento do qual constam as informações necessárias
sobre determinada actividade, com vista a informar o público
em geral e a apoiar a decisão da entidade competente sobre a
viabilidade ambiental dessa mesma actividade. O EIA deve
incluir e prever medidas susceptíveis de minorar o impacto
negativo do projecto ou actividade, logo terá de incluir um
programa de gestão ambiental, que pressupõe a monitorização
dos impactos e os planos de prevenção e contingência de
acidentes. É essencial que o EIA contenha um resumo não
técnico, isto é, um resumo que seja acessível a comunidade em
geral pois será esta a base para a consulta ambiental.
4. Consulta pública – artigo 14º do RAIA e Decreto nº 130/2006
de 19 de Julho
É a consagração na prática do princípio da participação (artigo
4º e) da Lei do Ambiente), é também a consagração da política
imposta pelo desenvolvimento sustentável, na medida em que
os cidadãos devem participar no processo da tomada de
decisões políticas susceptíveis de produzir consequências no

91
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

meio ambiente. O acesso a informação deve ser amplo,


atempado e objectivo, logo a pratica desta consulta pública
implica a prática do Direito à informação e um verdadeiro
dever de informar (tanto por parte do proponente do projecto,
quanto por parte do Ministério).
5. Revisão técnica do Estudo de Impacto Ambiental – artigo 15º a
18º do RAIA
Depois do EIA e do cumprimento de todas as normas do RAIA o
Ministério deve proceder á respectiva revisão técnica que terá
por base os termos de referencia aprovados na pré-avaliação.
6. Licenciamento Ambiental – artigo 19º e 20º do RAIA
Quando todas as formalidades anteriormente elencadas forem
verificadas o Ministério emite a licença ambiental para a
actividade em causa.

Em Moçambique, caso o promotor de actividades não sujeite as


actividades a AIA, caso o proponente não implemente as medidas de
mitigação de danos propostas no EIA e caso altere o projecto inicial e
forma substancial provocando danos ao meio ambiente o mesmo será
responsabilizado tanto civil quanto criminalmente.

c) A AIA e o Desenvolvimento sustentável


Para que exista um ambiente enquadrável no desenvolvimento
sustentável é muito importante que se faça a AIA, visto que as
vantagens são inúmeras. É desde logo possível identificar a ocorrência
de eventuais danos ambientais, possibilitando uma correcção de
carácter preventivo sem grandes custos para o promotor; permite a
participação da sociedade na discussão do relatório; e constitui um
instrumento de participação democrática.
Através do EIA podemos obter informações consistentes sobre a
natureza dos impactos, nomeadamente sobre o tipo de efeitos, a
extensão do impacto, a duração do impacto, a intensidade, a

92
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

probabilidade de acontecimento do impacto, e a sua significância. E


com base nessas informações podemos apurar dados relevantes e
formas de actuação.
A definição de desenvolvimento sustentável está prevista no artigo 1º
nº 10 da LA que também vêm referido na CRM no artigo 117º nº 2.
Este atende as necessidades das gerações presentes sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as
suas próprias necessidades. Em Moçambique a política económica do
estado é dirigida à construção das bases fundamentais do
desenvolvimento, à melhoria das condições de vida do povo, ao
reforço da soberania e à consolidação da unidade nacional, através da
participação dos cidadãos, bem como da utilização eficiente dos
recursos humanos e materiais, neste sentido temos o artigo 11º d),
96º nº 1 e 2, 101º nº 2 e 117º nº2 e) da CRM.
O desenvolvimento sustentável pressupõe que a Natureza tem limites,
que o progresso humano não pode continuar de forma ilimitada e
incontrolável e que deve haver uma responsabilidade colectiva e
essencialmente partilhada pelo uso dos recursos naturais.
A AIA como instrumento de política ambiental contribui para o
desenvolvimento económico e social, e configura-se como um
mecanismo que promove o desenvolvimento equilibrado e
harmonioso do país. É assim que a AIA é chamada a desempenhar um
papel fundamental, constituindo uma espécie de filtro dos projectos
de actividade.

93
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de Tutela Ambiental á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Avaliação de Impacto Ambiental;
2. A AIA como instituto jurídico e;
3. A AIA e o Desenvolvimento Sustentável.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja a legislação referida nesta unidade.

2. Diga de forma fundamentada o que entende por AIA.

3. Relacione a AIA com o Desenvolvimento sustentável.

4. Indique quais as fases da AIA.

5. Qual a importância da participação da comunidade no


procedimento de AIA.

94
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

UNIDADE Temática 1.3.Auditoria Ambiental

Introdução

A presente unidade insere-se no capítulo da Prevenção Ambiental. Os


instrumentos de prevenção ambiental encontram fundamento na
importância crucial que a prevenção assume para a tutela do
ambiente, pois torna-se essencial evitar a ocorrência de danos
ambientais ao invés de procurar remediar ou corrigir algo que já
aconteceu.
Para se prosseguir o objectivo do desenvolvimento sustentável a
utilização dos recursos naturais deve ser feita de forma racional e
ponderada. É neste sentido que se situa o mecanismo prático da
Auditoria Ambiental. Este mecanismo foi desenvolvido nos anos
setenta no EUA como ferramenta de gestão para avaliar o
cumprimento das leis ambientais.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enquadrar: o mecanismo de auditoria ambiental no quadro legislativo


moçambicano;

 Definir: auditoria ambiental;


Objectivos
específicos  Compreender: o funcionamento do mecanismo de auditoria ambiental;

 Avaliar: a auditoria ambiental como meio de prevenção de danos.

A AIA é um mecanismo preventivo que se aplica a actividades


propostas, ou a actividades que ainda não foram implementadas, nem
sempre este mecanismo se mostra suficiente na prevenção de danos,
pois mesmo depois do projecto ter sido submetido a AIA e ser
licenciado pode causar danos sérios e irreversíveis no meio ambiente.
Assim o legislador sentiu a necessidade de implementar mecanismos
de controlo permanente já numa fase posterior a implementação do

95
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

projecto. Foi através da Auditoria Ambiental (AA) que é um


mecanismo para gerir actividades existentes e em curso que se
consegui este objectivo uma vez que as AA’s são realizadas depois da
recepção da licença ambiental duma actividade. (cfr artigo 1º nº 4 da
LA, artigo 18º da mesma lei, artigo 1º nº 3 do RAIA e o Decreto nº
25/2011, de 11 de Junho, aprova o Regulamento sobre o Processo de
Auditoria Ambiental).
A AA é uma ferramenta de gestão concebida para assegurar de forma
contínua a conformidade legal e a conformidade com o plano de
gestão ambiental apresentado como parte do EIA. A AA também
procura identificar áreas que devem ser melhoradas. O objectivo da
AA é organizar e interpretar dados de monitoramento ambiental,
verificar que o monitoramento está em conformidade legal, comparar
os impactos reais com aqueles previstos no EIA e no plano de gestão,
avaliar o sistema de gestão ambiental montado e determinar se as
medidas de mitigação em uso são satisfatórias ou não. O resultado da
AA deve ser uma revisão regular do plano de gestão ambiental e uma
protecção ambiental optimizada na base de informações actualizadas
sobre a melhor prática.
Uma AA pode ser pública, quando realizada por uma autoridade
governamental ou privada, quando realizada pelo titular da licença
ambiental. Auditorias públicas podem ser realizadas pelo Ministério
sempre que o julgar necessário. Auditorias privadas são realizadas em
conformidade com o plano de gestão ambiental da empresa. Os custos
duma AA privada são suportados pela organização que leva a cabo a
actividade a ser auditada. A Lei não é clara sobre se a organização
deve também suportar os custos quando a AA é pública. No caso de
AA’s privadas as empresas normalmente contratam um consultor
ambiental certificado pelo Governo para prestar este serviço, embora
empresas com pessoal ambiental interno possam optar por realizar o
processo elas próprias.

96
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

A AA começa com um plano resumido que define o âmbito da


auditoria, o local onde terá lugar e os objectivos da auditoria. O plano
também inclui a definição dosocorre em três fases:
 Pré-auditoria;
 Auditoria;
 Pós-auditoria.
A pré-auditoria inclui a elaboração dum plano da auditoria mais
detalhado e a elaboração dum questionário da auditoria, bem como
uma análise da bibliografia relevante e a elaboração duma lista dos
documentos e dados necessários para a equipa da auditoria. A fase da
pré-auditoria pode também incluir uma visita preliminar ao local da
auditoria paracolher informação de fundo adicional.
A auditoria propriamente dita começa com uma reunião inicial na qual
os especialistas são apresentados, o plano da auditoria apresentado e
levantadas as questões que possam afectar o resultado da auditoria.
Depois da análise de quaisquer documentos que precisam, a equipa da
auditoria leva a cabo uma inspecção detalhada do local e entrevistas
com trabalhadores e, se necessário, com PI&A’s. Na base dos
resultados deste trabalho a equipa da auditoria elabora um relatório
provisório da auditoria que descreve as actividades realizadas e
questões levantadas, bem como quaisquer recomendações provisórias
para discussão. Este relatório é apresentado numa reunião final na
qual a organização a ser auditada tem a oportunidade de fazer
comentários sobre as conclusões e concordar com quaisquer
mudanças nas suas operações que poderão ser necessárias.
A pós-auditoria inclui a elaboração dum relatório final da auditoria
contendo uma descrição de todo o processo da auditoria e os
resultados. Este relatório é divulgado para recolher comentários antes
de ser terminado. Na base do relatório final da auditoria deve ser
elaborado um plano de acção. Este plano deve incluir actividades
específicas a serem implementadas e deve atribuir responsabilidades
por estas actividades. O plano de acção deve incluir prazos de

97
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

implementação e procedimentos detalhados para o monitoramento e


revisão do plano.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.3 estudamos e discutimos


fundamentalmente dois itens em termos de Tutela Ambiental á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Auditoria Ambiental;
2. A regulamentação da Auditoria Ambiental;

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja a legislação elencada nesta unidade e faça um estudo


do funcionamento deste mecanismo de prevenção.

2. Enquadre o mecanismo de Auditoria Ambiental no âmbito do


princípio da prevenção.

3. Enquadre o mecanismo de Auditoria Ambiental no quadro do


Desenvolvimento Sustentável.

UNIDADE Temática 1.4.Monitorização ambiental

Introdução

A presente unidade insere-se no capítulo da Prevenção Ambiental. Os


instrumentos de prevenção ambiental encontram fundamento na
importância crucial que a prevenção assume para a tutela do
ambiente, pois torna-se essencial evitar a ocorrência de danos
ambientais ao invés de procurar remediar ou corrigir algo que já
aconteceu.
Para se prosseguir o objectivo do desenvolvimento sustentável a
utilização dos recursos naturais deve ser feita de forma racional e

98
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

ponderada. É neste sentido que se situa o mecanismo prático da


Monitorização Ambiental.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enquadrar: o mecanismo de monitorização ambiental no quadro legislativo


moçambicano;

 Definir: monitorização ambiental;


Objectivos
específicos  Compreender: o funcionamento do mecanismo de monitorização ambiental;

Traduz-se na medição regular e periódica das variáveis ambientais


representativas da evolução dos impactos ambientais da actividade
após o início da implementação do projecto de uma actividade para
documentar as alterações que foram causadas, com o objectivo de
verificar a ocorrência dos impactos previsto e a eficácia das
perspectivas medidas mitigadoras - Artigo 1º g) do Regulamento da
AIA.
É um instrumento de medição e de registo do nível de emissões e de
descarga de efluentes ao longo de todos os períodos de laboração da
empresa.
Pretende-se com este mecanismo de prevenção ambiental, constatar
de forma periódica e regular o bom curso das medidas de tutela e
conservação ambiental previstas na AIA bem como a ocorrência de
eventuais desvios ao quadro inicialmente traçado.
No fundo é um sistema de acompanhamento do funcionamento e
exploração do projecto fornecendo os dados que permitem controlar
as condições estabelecidas no processo de AIA. Este mecanismo
mostra-se relevante no decurso da realização das auditorias
ambientais e a sua semelhança pode resultar da iniciativa do
Ministério ou da própria empresa.

99
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.4 estudamos e discutimos


fundamentalmente um item em termos de Tutela Ambiental á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Monitorização Ambiental;

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Reveja a legislação referida na unidade e enquadre o


mecanismo de prevenção no âmbito dos mecanismos de
prevenção.

UNIDADE Temática 1.5.Exercícios deste tema

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (verdadeiro e falso)


1. As actividades industriais em Moçambique não encontram
enquadramento legal específico.
2. A auditoria ambiental é um instrumento de gestão e de
avaliação pontual.
3. O EIA é um componente do processo de AIA.
4. Impacto ambiental é uma qualquer mudança no meio
ambiente.
5. O licenciamento ambiental é um acto administrativo.

Grupo 2 – Resposta com detalhe


1. Relacione os mecanismos de prevenção com o
Desenvolvimento sustentável.
2. Relacione a AIA vista como um instituto jurídico intermedio da
licença ambiental.
3. Explique a importância da Auditoria Ambiental para a
manutenção de um ambiente saudável em Moçambique.

100
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Grupo 3 – Exercícios de Reflexão


1. Comente de forma crítica a seguinte afirmação: “A Lei do
Ambiente previne a poluição. As actividades que aceleram a
erosão, a desertificação, desflorestamento ou qualquer outra
forma de degradação do ambiente devem ser prevenidas.”
2. Comento de forma critica a afirmação: «Para que exista um
ambiente enquadrável no desenvolvimento sustentável é
muito importante que se adoptem mecanismos de prevenção,
visto que as suas vantagens são inúmeras».

101
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

TEMA – V: RESPONSABILIZAÇÃO POR DANO AMBIENTAL.

UNIDADE Temática 1.1. O Direito Administrativo do Ambiente


UNIDADE Temática 1.2. O Direito Civil do Ambiente
UNIDADE Temática 1.3. O Direito Penal do Ambiente
UNIDADE Temática 1.4. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 1.1.O Direito Administrativo do Ambiente

Introdução

Ainda que a prioridade da gestão ambiental seja a prevenção de danos


ambientais, existem casos em que se torna necessário accionar
mecanismos de reacção á violação do direito ao ambiente.
Sempre que ocorram danos no meio ambiente temos ao nosso alcance
mecanismos de reacção, quer seja através do Direito Administrativo,
quer seja através do Direito Civil, quer ainda através do Direito Penal.
Nesta unidade temática vão ser dados a conhecer quais os
mecanismos existentes no ordenamento jurídico moçambicano de
uma forma genérica, pois estas matérias serão aprofundadas nas
respectivas unidades curriculares como sejam o Contencioso
Administrativo, o Direito Civil e o Direito Penal.
A possibilidade de reagir contra danos ambientais é dada pela própria
Lei do Ambiente no seu artigo 21º, assim importa interpretar e
concretizar o seu alcance como uma das formas de tutela do direito
fundamental ao ambiente.
O artigo 21º da LA garante o Direito de Acesso à Justiça a qualquer
cidadão que considere terem sido violados os direitos que lhe são
conferidos por Lei, ou que considere que existe ameaça de violação
dos mesmos, o legislador abre a possibilidade de, nestas
circunstâncias, se poder recorrer às instâncias jurisdicionais para obter
a reposição dos seus direitos ou a prevenção da sua violação (nº1 do
artigo 21º da LA).

102
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Para concretização deste direito fundamental os cidadãos, as


associações podem usar quaisquer meios processuais lícitos que se
mostrem adequados para fazer parar a execução da actividade
causadora a violação do seu direito ou evitar a sua lesão, de facto este
artigo tem um aspecto preventivo, na medida em que a agressão
ambiental pode ainda não se ter consumado na plenitude, e um
aspecto de reacção dos cidadãos contra a violação dos seus direitos e
interesses juridicamente protegidos.
São três as principais vias de fazer valer este direito, o direito de
petição, queixa e reclamação; a arbitragem, a conciliação e mediação;
e a acção popular. Para além destes temos os meios judiciais
propriamente ditos que vamos estudar nas unidades seguintes.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enquadrar: a responsabilização administrativa por danos ambientais;

 Compreender: o funcionamento da possibilidade de reacção através do


direito administrativo;
Objectivos
específicos  Identificar: os meios processuais administrativos passíveis de utilização pelo
direito do ambiente;

 Enquadrar: legalmente o meio de reacção administrativa

No que toca à possibilidade de reacção através do Direito


Administrativo temos o processo de embargo administrativo, artigo
22º da LA. Esta dá aos lesados o direito de obter a suspensão imediata
da actividade violadora, tratando-se de um meio destinado a conferir
uma tutela provisória. Este é entendido como o meio pelo qual a
Administração ou outras entidades com atribuições legais para o
efeito ordenam a suspensão de uma determinada actividade que viole
o disposto numa dada lei ou regulamento.

103
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Na prática gera-se uma dificuldade na interpretação deste artigo pois


o legislador não deixou claro se este meio processual é uma forma de
acção administrativa ou um meio de acção jurisdicional.
No ordenamento jurídico moçambicano não encontramos nenhum
meio jurisdicional denominado “processo de embargo administrativo”.
O que gera ainda mais confusão e dificuldade de interpretação. De
forma extensiva pode ser interpretado como a tutela através dos
meios processuais administrativos, que constam da legislação
específica como seja a Lei nº 14/2011 e a Lei nº 7/2014. Alguns dos
mecanismos processuais pré-existentes no Direito Administrativo, isto
é, pela via do tribunal administrativo são:
o Intimação para um comportamento
Este meio processual está previsto no artigo 120º da Lei nº 7/2014 e
trata-se de uma providência cautelar proposta no tribunal
administrativo de modo a obter a condenação de um particular, órgão
administrativo ou concessionário para se abster de certa conduta que
lese ou venha a lesar o ambiente.
Tem como sujeito activo os lesados, o MP e os ofendidos nos seus
direitos a um ambiente ecologicamente equilibrado, por força do
artigo 120º da mesma lei e do artigo 21º nº 4 da LA. Como o legislador
se refere a qualquer pessoa, subentende-se que esta possibilidade é
alargada as associações que mostrem interesses legítimos.
Do lado passivo podemos ter qualquer órgão administrativo,
concessionário ou particular.
A causa de pedir será a violação de um direito fundamental ou receio
de violação, em especifico o direito a um ambiente ecologicamente
equilibrado, nos termos do artigo 120º da Lei nº 7/2014 e artigo 22º
da LA.
O tribunal competente são os tribunais administrativos, segundo a
legislação específica, Lei nº 24/2013.
Este é um meio processual acessório, artigo 120º nº 2, logo apresenta-
se adequado à suspensão da violação do direito a um ambiente

104
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

ecologicamente equilibrado, não a eliminação definitiva dessa


violação.

o Suspensão de eficácia de actos administrativos


É um meio processual de natureza cautelar e acessória, consagrado no
artigo 108º da Lei nº 7/2014, é a providência adequada para obstar à
execução de um acto administrativo, pois é uma decisão com força
obrigatória e dotado de exequibilidade sobre determinado assunto,
tomada por um órgão de uma pessoa colectiva de direito público.
Tem de estar verificados os requisitos do artigo 109º da mesma lei.
Nos termos do artigo 100º da Lei nº 7/2014 pode ser requerida
quando o acto já esteja em execução. Segue os termos do artigo 111º
e seguintes da Lei nº 7/2014.
A suspensão de eficácia dos actos apresenta-se como um importante e
adequado meio com base no qual se pode recorrer para a suspensão
da violação do direito ao ambiente à luz do artigo 22º da LA. Contudo
não assegura de forma totalmente eficaz a tutela preventiva do
ambiente, pois não só a prevenção significa mais do que mera
suspensão como também gera dificuldades derivadas dos interesses
em jogo.
A semelhança do meio processual anterior também este é um meio
acessório pelo que esta dependente de um meio processual principal
que será o recurso contencioso, previsto nos artigos 32º e seguintes
da Lei nº 7/2014 para a tutela efectiva do direito em causa, isto é, para
atacar de forma definitiva o acto administrativo que viola o ambiente.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de responsabilização por
dano ambiental á disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Mecanismos de reacção à violação do direito ao ambiente –
Direito Administrativo;

105
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

2. A intimação para um comportamento;


3. A suspensão de eficácia de actos administrativos.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (verdadeiro e falso)


1. No direito do ambiente os mecanismos de reacção judicial
apenas podem ser usados depois de ocorrer o dano.
2. Nos termos do artigo 21º da LA não é possível aceder a justiça
para reagir contra a violação de direitos ambientais.
3. Os embargos previstos no artigo 22º da LA dão aos lesados a
possibilidade de pedir a suspensão dos actos que estejam a
provocar danos.

Grupo 2 – Resposta com detalhe


1. Relacione os mecanismos de reacção previstos no artigo 21º
com o artigo 22º da lei do ambiente.
2. Explique o que entende por intimação para um
comportamento.
3. Explique o que entende por suspensão de eficácia de actos
administrativos.

Grupo 3 – Exercícios de Reflexão


1. Análise de forma critica os artigos 21º e 22º da LA
relacionando-os com a Lei 7/2014 e a Lei 14/2011.

UNIDADE Temática 1.2.O Direito Civil do Ambiente

Introdução

Ainda que a prioridade da gestão ambiental seja a prevenção de danos


ambientais, existem casos em que se torna necessário acionar
mecanismos de reacção á violação do direito ao ambiente.

106
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sempre que ocorram danos no meio ambiente temos ao nosso alcance


mecanismos de reacção, quer seja através do Direito Administrativo,
quer seja através do Direito Civil, quer ainda através do Direito Penal.
Nesta unidade temática vão ser dados a conhecer quais os
mecanismos existentes no ordenamento jurídico moçambicano de
uma forma genérica, pois estas matérias serão aprofundadas nas
respectivas unidades curriculares como sejam o Contencioso
Administrativo, o Direito Civil e o Direito Penal.
A possibilidade de reagir contra danos ambientais é dada pela própria
Lei do Ambiente no seu artigo 21º, assim importa interpretar e
concretizar o seu alcance como uma das formas de tutela do direito
fundamental ao ambiente.
O artigo 21º da LA garante o Direito de Acesso à Justiça a qualquer
cidadão que considere terem sido violados os direitos que lhe são
conferidos por Lei, ou que considere que existe ameaça de violação
dos mesmos, o legislador abre a possibilidade de, nestas
circunstâncias, se poder recorrer às instâncias jurisdicionais para obter
a reposição dos seus direitos ou a prevenção da sua violação (nº1 do
artigo 21º da LA).
Este artigo tem um aspecto preventivo, na medida em que a agressão
ambiental pode ainda não se ter consumado na plenitude, e um
aspecto de reacção dos cidadãos contra a violação dos seus direitos e
interesses juridicamente protegidos.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enquadrar: a responsabilização civil por danos ambientais;

 Compreender: o funcionamento da possibilidade de reacção através do


direito civil;
Objectivos
específicos  Identificar: os meios processuais civis passíveis de utilização pelo direito do
ambiente;

107
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Enquadrar: legalmente o meio de reacção civil.

No que toca à possibilidade de reacção através do Direito Civil a


abertura advém de uma forma genérica do artigo 21º da LA. No nº 2
do mesmo artigo temos a possibilidade de responsabilização civil por
danos ambientais através de um pedido de indemnização.
Quanto ao alcance do artigo 22º da LA, isto é, meios de reacção
preventivos temos os seguintes meios processuais:

o Embargo de obra nova


É um meio processual de carácter preventivo que visa a suspensão de
uma obra, trabalho ou serviço novo de modo a garantir a realização
efectiva de um direito real, evitando a sua extinção e assegurando o
efeito útil desse direito. É um incidente de uma acção principal.
Processa-se nos termos do artigo 412º do CPC.
No âmbito da tutela ambiental o embargo de obra nova pode ser
associado ao artigo 22º “actividade causadora de ofensa”, e no âmbito
do artigo 1º nº1 ambos da Lei do Ambiente.
Os cidadãos podem fazer uso deste instituto a fim de pedir a
suspensão de um acto material causador ou susceptível de causar
ofensas no direito a um ambiente ecologicamente equilibrado dos
cidadãos. Contudo tem uma limitação implícita no artigo 414º do CPC,
em relação as obras do Estado em terrenos públicos e às obras das
autarquias locais nos terrenos comuns, nestes casos temos de
enveredar pela via contenciosa administrativa junto do Tribunal
Administrativo.

o Providência cautelar não especificada


Estão reguladas nos artigos 399º e 401º do CPC e são meios
contenciosos júris-civilísticas importantes na prevenção de agressões
ambientais, desde logo quando não seja possível o uso do embargo de
obra nova (nomeadamente quando não exista uma obra, actividade

108
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

ou serviço novo). Temos por exemplo um bar ou estabelecimento de


diversão nocturna que está a vários meses a produzir elevados índices
de poluição sonora, prejudicando o direito dos moradores vizinhos ao
sossego e ao descanso. Estes podem pedir ao tribunal que intime o réu
a abster-se de poluir sonoramente o ambiente, ou ainda realizar obras
que isolem o som.

o Acção inibitória
Uma outra via decorre do artigo 70º nº 2 do CC. Insere-se neste
âmbito por se considerar o direito ao ambiente como um direito de
personalidade pois os direitos integrados nos direitos fundamentais
são vastos e incorporam-se no direito de personalidade, numa
vertente física ou moral. No artigo referido o legislador consagra um
instrumento com fins preventivos e que visa fazer cessar actos ilícitos
no âmbito da tutela geral da personalidade. Logo todo aquele que se
mostre lesado ou em vias de o ser pode recorrer à via judicial com o
objectivo de obter uma condenação por parte de quem actue de
forma lesiva ou para que se abstenha dessa actuação ou a faça cessar.
Este preceito deve ser conjugado com os artigos 1474º e 1475º do
CPC.
Tratando-se de uma acção inibitória cível de tutela do direito ao
ambiente, exercida através do processo especial de jurisdição
voluntária (o que pressupõe algumas vantagens para o requerente,
nomeadamente as constantes do artigo 1409º nº 2, 1410º e 1411º do
CPC).
Não é um meio processual muito usado, embora tenha as suas
vantagens, pois é simultaneamente um meio processual principal e
preventivo (previne ou minimiza os efeitos danosos). Este meio de
defesa do ambiente é unicamente adequado para situações em que o
sujeito interessado vise somente pretensões de carácter inibitório e
não de carácter indemnizatório, para esse caso deve prosseguir a visa
do processo comum.

109
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de responsabilização por
dano ambiental á disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Mecanismos de reacção à violação do direito ao ambiente –
Direito Civil;
2. O embargo de obra nova;
3. A providência cautelar não especificada;
4. A acção Inibitória.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta com detalhe


1. Indique de forma fundamentada quais os mecanismos de
reacção ao dano ambiental por via do direito civil.
2. Explique o que entende por embargo de obra nova.
3. Explique o que entende por providências cautelares não
especificadas.
4. Explique o que entende por acção inibitória.

Grupo 2 – Exercícios de Reflexão


1. Análise de forma critica os artigos 21º e 22º da LA
relacionando-os com os artigos aplicáveis através do direito
civil.

110
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

UNIDADE Temática 1.3.O Direito Penal do Ambiente

Introdução

Ainda que a prioridade da gestão ambiental seja a prevenção de danos


ambientais, existem casos em que se torna necessário acionar
mecanismos de reacção á violação do direito ao ambiente.
Sempre que ocorram danos no meio ambiente temos ao nosso alcance
mecanismos de reacção, quer seja através do Direito Administrativo,
quer seja através do Direito Civil, quer ainda através do Direito Penal.
Nesta unidade temática vão ser dados a conhecer quais os
mecanismos existentes no ordenamento jurídico moçambicano de
uma forma genérica, pois estas matérias serão aprofundadas nas
respectivas unidades curriculares como sejam o Contencioso
Administrativo, o Direito Civil e o Direito Penal.
A possibilidade de reagir contra danos ambientais é dada pela própria
Lei do Ambiente no seu artigo 21º, assim importa interpretar e
concretizar o seu alcance como uma das formas de tutela do direito
fundamental ao ambiente.
O artigo 21º da LA garante o Direito de Acesso à Justiça a qualquer
cidadão que considere terem sido violados os direitos que lhe são
conferidos por Lei, ou que considere que existe ameaça de violação
dos mesmos, o legislador abre a possibilidade de, nestas
circunstâncias, se poder recorrer às instâncias jurisdicionais para obter
a reposição dos seus direitos ou a prevenção da sua violação (nº1 do
artigo 21º da LA).
Este artigo tem um aspecto preventivo, na medida em que a agressão
ambiental pode ainda não se ter consumado na plenitude, e um
aspecto de reacção dos cidadãos contra a violação dos seus direitos e
interesses juridicamente protegidos.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

111
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Enquadrar: a responsabilização penal por danos ambientais;

 Compreender: o funcionamento da possibilidade de reacção através do


direito penal;
Objectivos
específicos  Identificar: os crimes ambientais existentes no código penal;

Enquadrar: legalmente o meio de reacção penal.

Com o novo código penal, aprovado pela Lei nº 35/2014 de 31 de


Dezembro o legislador moçambicano introduziu de forma clara e tácita
os crimes ambientais no ordenamento jurídico.
No título IV, dos crimes de perigo comum, capitulo II encontramos os
crimes contra o ambiente, artigo 349º a 357º do Código Penal. O
legislador moçambicano criminalizou a pesquisa e exploração ilegal de
recursos minerais, artigo 349º; a disseminação de enfermidades,
artigo 350º; a produção e introdução no meio ambiente de
substâncias tóxicas e nocivas à saúde, artigo 351º; a exploração ilegal
de recursos florestais, artigo 352º; o abate de espécies protegidas ou
proibidas, artigo 353º e a poluição de águas e solos, artigo 354º.
Uma novidade introduzida por este código penal foi a possibilidade de
as pessoas colectivas serem punidos com penas de multa e exclusão
temporária de acesso aos benefícios do Estado pelos crimes previstos
no capítulo dos crimes ambientais.
O legislador moçambicano com o novo código penal também
criminaliza a caça e pesca nos artigos 359º e 360º do código penal,
penalizando os infractores com pena de prisão de 8 a 12 anos.

112
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Sumário

Nesta Unidade temática 1.3 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de responsabilização por
dano ambiental á disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Mecanismos de reacção à violação do direito ao ambiente –
Direito Penal;
2. Crimes ambientais;

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (verdadeiro e falso)


1. A caça proibida pode ser punida com 5 anos de prisão.
2. As pessoas colectivas podem ser penalizadas ao abrigo do
código penal por crimes ambientais.
3. O abate de mangais é punível com pena de prisão de 15 anos.
4. A exploração ilegal de florestas é punível com pena de prisão.

Grupo 2 – Resposta com detalhe


1. No ordenamento jurídico moçambicano existem crimes
ambientais, indique quais são e fundamente.
2. O novo código penal criminaliza os danos ambientais, indique
quais e fundamente.

Grupo 3 – Exercícios de Reflexão


1. Análise de forma critica os artigos 21º e 22º da LA
relacionando-os com os artigos aplicáveis através do direito
penal.

UNIDADE Temática 1.4.Exercícios deste tema

Grupo 1 – Resposta com detalhe

113
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

1. Indique, de forma fundamentada, quais os mecanismos de


reacção existentes no ordenamento jurídico moçambicano
para reagir contra danos no ambiente.
2. Explique o alcance do artigo 21º da lei do ambiente.

Grupo 2 – Exercícios de Reflexão


1. Reveja a legislação referida no presente capítulo e faça um
texto de 2 páginas onde excursa sobre os mecanismos de
reacção aos danos no ambiente.
2. Comento de forma critica a afirmação: “Para que exista um
ambiente enquadrável no desenvolvimento sustentável é
muito importante que se adoptem mecanismos de prevenção,
os cidadãos têm ao seu alcance meios de prevenir danos no
ambiente, quer sejam judiciais, quer sejam extrajudiciais”

114
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

TEMA – VI: DIREITO DO URBANISMO.

UNIDADE Temática 1.1. Noção, função, objectivos e tutela legal


UNIDADE Temática 1.2. Princípios jurídicos estruturantes
UNIDADE Temática 1.3. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 1.1.Noção, função, objectivos e tutela legal

Introdução

O direito urbanístico, aliado à gestão urbanística, constitui uma das


disciplinas jurídicas mais recentes, mas também, das mais importantes
nos países em vias de desenvolvimento. De facto, tradicionalmente, as
preocupações urbanísticas (pelo menos num plano global e
sistemático) têm-se encontrado alheadas das questões de
desenvolvimento económico e social dos diversos países, o que gera,
como se vê na prática, cenários de desenvolvimento não sustentável
ou durável.
O urbanismo e o ordenamento do território constituem ciências que
se dedicam à investigação, gestão, desenvolvimento e ordenamento
do espaço territorial, isto é, tem por finalidade a organização das
diferentes actividades humanas no território.
A gestão do território é essencial nos nossos dias, pois através deste
podemos reconciliar três pilares essenciais que são o Homem, o
espaço e os recursos naturais.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Enquadrar: o direito do urbanismo e o ordenamento do território no


ordenamento jurídico moçambicano;

 Definir: urbanismo e ordenamento do território;


Objectivos
específicos  Identificar: a função do urbanismo e do ordenamento do território;

 Identificar: os objectivos do urbanismo e do ordenamento do território.

115
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

O direito do urbanismo é fortemente influenciado, pelas opções que,


na Constituição de cada país se façam relativamente ao papel do
Estado, no controlo da criação e expansão de aglomerados urbanos e
na criação das condições que permitem a disponibilização/oferta de
solos para este efeito (política de solos).
Este papel depende de uma opção quanto à titularidade do direito de
propriedade e que pode consistir ou na colectivização integral dos
solos, na veste da nacionalização ou municipalização dos mesmos —
que suprime a propriedade privada daqueles bens e elimina,
consequentemente, o mercado dos solos —, e a que pressupõe um
liberalismo puro, que implica uma não intervenção da Administração
Pública nos tecidos económico e social e, assim, no mercado
imobiliário.
Esta opção tem consequências directas na configuração e
conformação do direito de propriedade dos solos, no que concerne à
respectiva titularidade, com repercussões imediatas na modelação dos
específicos instrumentos de intervenção estadual no domínio do
urbanismo, em especial na política de solos.
Se o princípio for o da propriedade pública dos solos, essa intervenção
poderá ser feita valer no momento do planeamento, sem que seja
necessário que se desencadeiem mecanismos paralelos de aquisição
do solo, como é o caso de e de Moçambique - artigo 46º da CRM, que
determina que a terra é propriedade do Estado, não podendo ser
vendida ou por qualquer outra forma alienada, nem hipotecada ou
penhorada. Esta opção constitucional é concretizada também pela Lei
das terras, Lei 19/97 de 1 de Outubro, no artigo 3º.
Os solos desempenham uma importante função social tanto nos
ordenamentos jurídicos que reconhecem a existência de uma
propriedade privada, como nos ordenamentos em que a propriedade
da terra é pública. Nestes sistemas, como é o caso de Moçambique,
prevêem-se, desvios ao princípio geral — pela admissão expressa de
que podem ser concedidos direitos sobre os solos a privados —,

116
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

desvios que terão, naturalmente, de estar funcionalizados ao respeito


da função social da propriedade. A Constituição de Moçambique
refere expressamente este limite ao determinar, no seu artigo 47º,
que o uso e aproveitamento da terra por pessoas singulares será
efectuado nas condições que vierem a ser fixadas pelo Estado, mas
sempre tendo em conta o seu fim social (n.º 2).

O urbanismo é assumido actualmente, e cada vez mais, como uma


função pública e não como uma simples actividade privada, quer
porque muitas das operações urbanísticas são directamente
promovidas por entidades públicas quer no sentido de que, mesmo
tratando-se de operações urbanísticas de iniciativa privada, caberá
sempre às entidades públicas, pelo menos, o controlo administrativo
daquelas, através de procedimentos, preventivos ou sucessivos,
específicos (como é o caso da fiscalização).
No que concretamente se refere ao direito urbanístico — o sector do
direito que incide sobre esta realidade —, o mesmo tem sido assumido
maioritariamente como uma parte ou uma área especial do direito
administrativo. No que diz respeito à natureza jurídica do direito
urbanístico, embora haja quem o considere como um ramo autónomo
de direito, a tese maioritária configura-o como uma parte especial de
direito administrativo. São várias as razões que apontam nesse
sentido, designadamente:
 A natureza das relações jurídicas que constituem o seu objecto:
os principais actores do direito urbanístico são entidades
públicas que se relacionam entre si e com os particulares
interessados;
 Os instrumentos jurídicos que nele predominam, que são
essencialmente de cariz administrativo: actos administrativos
(actos de controlo preventivo de operações urbanísticas, como
licenças e autorizações), regulamentos administrativos
(regulamentos de edificação e urbanização), contratos

117
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

administrativos (contrato de empreitada de uma obras pública,


contratos para planeamento);
 As garantias administrativas e contenciosas dos particulares,
são maioritariamente administrativas.
Sendo o direito urbanístico um ramo especial do direito administrativo
e, por isso, um ramo de direito público, pode ser distanciado do direito
civil. Mesmo que existam regras especificas de direito civil referentes à
construção (o designado direito privado de construção), as mesmas
visam apenas regular estritas relações de vizinhança civil (e
salvaguardar interesses meramente privados) e não, como acontece
com o direito administrativo da construção, salvaguardar interesses
públicos como os da salubridade, higiene e segurança.

É chegado então o momento de definir esta área do direito. Tendo


como base a noção avançado por Diogo Freitas do Amaral, urbanismo
traduz-se na política sectorial que define os objectivos e os meios de
intervenção da administração pública no ordenamento racional das
cidades. Este conceito ligado ao conceito de ordenamento do
território avançado pelo mesmo autor designa estas acções
desenvolvidas pela Administração Pública no sentido de assegurar a
melhor estrutura das implantações humanas em função dos recursos
naturais e das exigências económicas, tendo em vista o
desenvolvimento harmónico.
Assim podemos entender que os objectivos que se deve prosseguir
consistem na distribuição racional em termos geográficos das
actividades económicas; no desenvolvimento socioeconómico e no
restabelecimento de equilíbrios entre partes e regiões do país; na
melhoria da qualidade de vida; na gestão responsável dos recursos
naturais e na protecção do ambiente, bem como na utilização racional
do território.
Analisando ao pormenor a definição e os objectivos esta retira-se que
ordenamento do território/urbanismo aparecem indissociavelmente

118
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

ligados ao objecto espaço (ou território) e à sua valia. Deste modo, de


uma concepção assente na mera ordenação do espaço e das
actividades que nele se inscrevem, passa-se para um paradigma que
visa a valorização dos territórios, tendo em consideração as
necessidades, por vezes antinómicas, de desenvolvimento económico
e de equilíbrio ou coesão territorial.
Esta noção ampla implica, como metodologia de intervenção uma
abordagem de carácter geral e integral de todos os factores que têm
incidência sobre o território, incorporando os vários mecanismos de
planificação socioeconómica e física do mesmo. Contudo, supondo
que, em regra, o espaço não se ordena automaticamente, nem por
intermédio da mera iniciativa privada, nem pela adopção isolada de
opções públicas sobre a ocupação do solo, tornou-se necessário
promover uma concepção voluntarista sobre ordenamento do
território, que preveja e prepare o futuro com base num modelo de
desenvolvimento coerente, colectivo e consensual. O ordenamento do
território é, assim, um imperativo para as entidades públicas que não
se podem eximir da sua promoção, configurando-se como uma das
mais relevantes políticas públicas, na medida em que é por seu
intermédio que se coordenam as demais políticas com relevo
territorial.
O ordenamento do território tem, como vimos, uma densificação
material ampla, abarcando diferentes sectores da actividade
administrativa, tratando-se de uma actividade materialmente distinta
daquela que pertence ao domínio do direito urbanístico. De acordo
com uma primeira concepção (que, comparada com as restantes,
podemos designar de concepção restrita), o direito do urbanismo
pode ser definido como “o sistema de normas jurídicas que, no quadro
de um conjunto de orientações em matéria de Ordenamento do
Território, disciplinam a actuação da Administração Pública e dos
particulares com vista a obter uma ordenação racional das cidades e
da sua expansão.”

119
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Estamos perante uma concepção que assenta no direito urbanístico


como algo que se refere exclusivamente à urbe ou à cidade lato sensu,
ou seja, como uma política pública sectorial que define os objectivos e
os meios de intervenção no ordenamento racional das cidades (seja
referindo-se à áreas urbanizadas ou passíveis de urbanização ou,
ainda, a espaços verdes urbanos), não abrangendo a regulamentação
jurídica do espaço rural nem as regras de equilíbrio entre a cidade e o
campo. No entanto, também não é mais restrito que isto, não
devendo ser reduzido ao mero direito do planeamento urbanístico ou
da construção urbana.
Ao direito do ordenamento do território caberia, por seu turno, de
acordo com esta concepção, a “manutenção ou a recuperação dos
grandes equilíbrios regionais entre a capital e a província, entre o
litoral e o interior, entre regiões ricas e regiões pobres, entre zonas
urbanas e zonas rurais”, só sendo passível de cabal compreensão à
escala nacional e regional, respeitando, assim, à conformação do
território na sua globalidade e heterogeneidade.
A tendência actual é a de se adoptar, precisamente, uma noção ampla
de direito urbanístico. Ela é o resultado de um movimento recente de
alargamento das fronteiras do direito do urbanismo, rompendo-se,
assim, com o seu localismo e o seu carácter urbano, lançando-o
também no domínio da organização de todo o território.
Isto significa que o alargamento do âmbito do direito urbanístico
acabou por esbater as fronteiras entre o seu âmbito e o âmbito do
direito do ordenamento do território estando hoje de tal modo
próximos nos fins, nos instrumentos utilizados e no âmbito de
aplicação que o primeiro pode considerar-se um prolongamento do
segundo.

Resta avaliar as finalidades deste ramo do direito. São finalidades do


ordenamento do território:

120
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 O estabelecimento de uma repartição geográfica mais racional


das actividades económicas;
 O restabelecimento dos equilíbrios desfeitos entre regiões;
 A descentralização geográfica da localização dos serviços
públicos e das indústrias;
 A criação de nas cidades ou pólos de crescimento;
 A resolução de problemas de articulação entre as cidades e os
núcleos suburbanos.
São finalidades do urbanismo:
 O ordenamento racional da cidades, fixando as diferentes
áreas destinadas as diferentes actividades;
 A promoção da qualidade de vida e ambiente;
 O estabelecimento de normas de construção, estética,
segurança e salubridade;
 O estabelecimento de normas de utilização do solo urbano.

Relativamente a matéria de direito do urbanismo resta ver qual o


enquadramento legal aplicável. De notar que nesta unidade temática
será apenas elencada a legislação aplicável, fazendo uma breve
apresentação da mesma, cabe ao aluno fazer a sua leitura e analise
mais profunda.
Desde logo é aplicável a Constituição conforme vimos no início desta
unidade temática, será também aplicável as seguintes leis:
 Lei nº 19/97 de 1 de Outubro, Lei de Terras, que pretende
regular o uso e aproveitamento da terra como direito de todo
o povo moçambicano;
 Lei nº 19/2007 de 18 de Julho, Lei de Ordenamento do
Território, que procede ao enquadramento jurídico da Politica
do Ordenamento do Território e estabelece as bases legais do
regime dos instrumentos de ordenamento do território
nacional;

121
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

 Decreto nº 23/2008 de 1 de Julho, Regulamento da Lei de


Ordenamento do Território, que estabelece as medidas e
procedimentos regulamentares que assegurem a ocupação e
utilização racional e sustentável dos recursos naturais, a
valorização dos diversos potenciais de cada região, das infra-
estruturas, dos sistemas urbanos e a promoção da coesão
nacional e segurança das populações;
 Lei nº 2/97 de 18 de Fevereiro, Lei das Autarquias locais.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de Direito do Urbanismo de
Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Noção de urbanismo e ordenamento do território;
2. Objectivos do urbanismo e ordenamento do território;
3. Finalidades do urbanismo e ordenamento do território;
4. Identificar a legislação aplicável ao urbanismo e ordenamento
do território.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (verdadeiro e falso)


1. Urbanismo é uma política sectorial que define os meios de
intervenção da administração privada dos solos.
2. A terra em Moçambique é propriedade pública.
3. O urbanismo é uma sub-matéria do ordenamento do território.
4. Uma faz finalidades do urbanismo é estabelecer normas de
utilização dos solos.
5. Urbanismo é visto como uma área de direito privado, pois está
dependente do direito civil.

Grupo 2 – Resposta com detalhe

122
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

1. Relacione urbanismo e ordenamento do território.


2. Relacione o urbanismo como meio essencial para o
desenvolvimento do País.
3. Explique a importância do ordenamento do território e do
urbanismo.

Grupo 3 – Exercícios de Reflexão


1. Comente de forma crítica a seguinte afirmação: “O
relacionamento entre Homem, espaço e recursos naturais é
um dos maiores problemas da sociedade moderna, enaltecer e
incrementar a prática das noções do urbanismo e do
ordenamento do território é fundamental para se obter o
equilíbrio e atingir o desenvolvimento sustentável do País.”

UNIDADE Temática 1.2. Princípios jurídicos estruturantes

Introdução

Incidiremos a nossa atenção sobre os princípios fundamentais de


ordenamento do território e a sua sistematização, na medida em que
deles decorre a solução (imediata ou mediata) para os problemas de
direito do urbanismo. Tais princípios têm por função orientar as
entidades públicas com responsabilidades nestas duas matérias, que
os devem respeitar nas decisões relativas à ocupação do território que
venham a tomar e nos instrumentos de gestão territorial que venham
a elaborar.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Identificar e definir: os princípios aplicáveis ao urbanismo e ordenamento do


território;
Objectivos
específicos

123
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

Princípios fundamentais que integram os principais vectores da


organização administrativa de cada Estado, designadamente os
princípios da soberania nacional e da unidade territorial e nacional e o
papel atribuído aos princípios da descentralização e subsidiariedade
neste domínio, vejamos então os princípios específicos aplicáveis no
ordenamento do território e no urbanismo:

a) Princípio da Justa Ponderação de Interesses


O princípio da justa ponderação entre a multiplicidade e a
complexidade de interesses conflituantes coenvolvidos nos planos e
da superação dos conflitos de interesses surgidos em torno deles
surge como um dos princípios mais importantes no âmbito do
ordenamento do território e do direito do urbanismo. De facto, este é
considerado como o produto de um procedimento de ponderação que
pode, inclusivamente resultar viciado caso as exigências de
identificação de todos os interesses relevantes e da sua adequada
pesagem e consideração não resultem cumpridas no caso concreto.
Uma parte importante deste princípio refere-se à ponderação de
interesses públicos, mas deve a mesma ocorrer também entre
interesses públicos e privados colidentes (com especial relevo, no que
a este últimos diz respeito, para os interesses dos proprietários dos
solos ou de direitos de uso sobre os mesmos) e entre os distintos
interesses privados concorrentes.

b) Princípio da proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade, intimamente associado ao princípio
da ponderação de todos os interesses relevantes no planeamento,
tem entrado, progressivamente, em esferas cada vez mais alargadas
da actuação das entidades públicas.
Este princípio subdivide-se, como vimos, em três momentos
relevantes, distinguindo-se, em regra, entre um teste de idoneidade

124
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

ou adequação, pelo qual uma medida deve tender para a efectiva


realização do objectivo que justificou a sua emanação, um teste de
necessidade ou de mínima afectação possível dos interesses públicos e
privados, e um teste de proporcionalidade em sentido estrito, que
exige do decisor uma tarefa de ponderação dos interesses e bens
jurídicos relevantes prosseguidos e afectados pela medida em apreço.
Em termos regulamentares, o relevo deste princípio é visível, como
veremos, no âmbito da adopção de medidas cautelares dos planos, já
que estas devem, pela sua natureza precária e temporalmente
delimitada, produzir uma afectação bem recortada dos interesses que
serão modelados, em definitivo, pelo plano que por elas visa ser
salvaguardado.
No entanto, não é apenas neste âmbito que o princípio da
proporcionalidade se assume como verdadeira “pedra de toque” do
ordenamento jurídico urbanístico, já que qualquer concreta opção
urbanística (sobretudo as que envolvam elevados impactes
ambientais, como sucede coma reclassificação de solo rural para solo
urbano) tem de o tomar em consideração, como condição para se
afirmar a sua legitimidade.

c)Princípios da sustentabilidade e da solidariedade intergeracional


São já raras as tarefas públicas que, na actualidade, não apresentam
qualquer ligação com o princípio da sustentabilidade, o mesmo
acontecendo com as relativas ao ordenamento do território e
urbanismo, que apelam para a necessidade de consideração deste
princípio jurídico pelo instrumento que lhes é mais característico: o
plano.
O plano configura-se como um importante instrumento da
sustentabilidade, nas suas várias dimensões ou vertentes: económica,
ambiental e social, uma vez que quanto à ocupação do território, os
legítimos interesses das gerações futuras passam, em grande medida,
por uma localização adequada das actividades, compatível com a

125
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

preservação de espaços naturais, bem como com a preservação de


elementos notáveis do património natural ou construído.
Na sua vertente económica, os planos devem exprimir espacialmente
as opções de carácter económico que lhes estão subjacentes e que
foram devidamente concertadas pelas várias entidades por elas
responsáveis no âmbito do seu procedimento de elaboração.
Também a dimensão ambiental é bem visível nos actuais instrumentos
de planeamento. Com efeito, verifica-se actualmente uma
preocupação crescente deste instrumento com a protecção do
ambiente, sendo esta uma das componentes a integrar naqueles.
Tal é lógica que surge na sequência do princípio da integração das
preocupações ambientais também na política de ordenamento do
território e do urbanismo, no planeamento, sendo incentivada pelo
facto de o plano, como instrumento de antecipação de decisões, ser
propício à promoção dos princípios da prevenção e da precaução,
típicos do direito do ambiente.
A dimensão ambiental da sustentabilidade em matéria de
planeamento do território está bem marcada actualmente, a vários
títulos, apresentando-se o ambiente como interesse a ponderar pelo
plano, como um dos objectivos a prosseguir por ele e ainda, em certos
casos, como a finalidade do mesmo. Ultimamente, é à dimensão social
da sustentabilidade que a doutrina do planeamento tem dado
particular atenção, em especial no que diz respeito à questão de saber
se podem os planos territoriais servir como instrumento de combate à
segregação espacial urbana, uma das formas da segregação e exclusão
social.
Neste aspecto tem-se acentuado que o paradigma tradicional do
planeamento se tem mostrado, não só desadequado no combate à
segregação urbana, como, inclusive a tem potenciado.
Não obstante, deve ter-se consciência da importância do plano como
instrumento imprescindível para fazer face aos problemas da
segregação urbana, para o que terá de se repensar o seu paradigma

126
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

clássico à luz da ideia da sustentabilidade ambiental e social (sendo


certo que a última vertente, designadamente a da solidariedade, tem
sido praticamente esquecida).
A alteração do paradigma tradicional do planeamento para fazer face
às preocupações sociais passará pela introdução, no processo de
planeamento, de determinado tipo de obrigações, designadamente a
obrigação de coexistência de usos urbanísticos variados (residencial,
industrial, comercial), e da diversidade de tipologia de habitações na
mesma área. O objectivo é o de promover uma maior riqueza do
tecido social, fortalecendo a coesão, através da promoção da
convivência, num espaço comum, de pessoas pertencentes a classes
sociais diferentes ou grupos culturais diversos.
O mesmo objectivo será igualmente alcançado através da criação da
obrigação de o plano tomar em consideração as necessidades de
habitação (quer do ponto de vista quantitativo, quer qualitativo), em
especial através da consagração de standards relativos ao número e
especificações das habitações sociais a construir.

d) Princípio da Equidade
Em termos genéricos, a equidade ou igualdade entre as pessoas que
vivem em partes distintas do território nacional, ou seja, a criação de
qualidade e de condições de vida equivalentes é um dos objectivos
principais do ordenamento do território, de onde decorre o relevo
especial que deve ser dado a este princípio.
Uma das vertentes do princípio da equidade mais importante é
atinente à “justa repartição dos encargos e benefícios decorrentes da
aplicação dos planos territoriais e urbanísticos”, dimensão esta que
configura um elemento de relevo na inscrição de mecanismos
equitativos de perequação compensatória destinados a assegurar a
redistribuição entre os interessados dos encargos e benefícios
resultantes de tais planos, sobretudo quando estes sejam titulares de
direitos de uso do solo. Quanto tal não suceda, também a ordenação

127
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

dos espaços rurais e urbanos feita pelos planos territoriais e que tenda
para um aproveitamento útil dos mesmos deve ser acompanhada de
uma política equitativa de concessões fundiárias e de distribuição de
terras.
Também as próprias opções relativas à criação e manutenção de
serviços públicos, de infra-estruturas e equipamentos colectivos e de
espaços verdes devem contribuir para a atenuação das assimetrias
existentes dentro dos perímetros urbanos e dentro e fora destes.

e) Princípio da informação
Este princípio visa, sobretudo, promover a recolha sistemática de
dados e facultar o respectivo acesso tanto a cidadãos e organismos
interessados como às competentes organizações internacionais.
Assim, sem prejuízo da aplicabilidade neste domínio do direito geral
de informação e acesso a documentos administrativos, este princípio
apresenta um conteúdo específico, traduzido essencialmente na
necessidade de recolha, divulgação e acesso ao maior número de
dados relativos ao ordenamento do território e ao direito urbanístico,
uma vez que correspondem a actividades que interessam, directa ou
indirectamente, a todos os membros da colectividade.

f) Princípio da participação
O princípio da participação surge, em certa medida, como um princípio
com dupla matriz, na medida em que funciona, por um lado, como
princípio de relacionamento agora já não entre entidades públicas mas
entre entidades públicas e entidades privadas, apresentando-se, no
entanto, também como um princípio material, uma vez que por seu
intermédio é veiculado todo um conjunto de elementos que
permitirão à Administração decidir melhor e com respeito pelos
direitos e interesses legítimos dos interessados.
Isto porque a necessidade de garantir a participação dos cidadãos em
matéria de ordenamento do território resulta, desde logo, da

128
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

necessidade de as decisões tomadas neste domínio serem


ponderadas, com consideração, ao lado dos interesses públicos
relevantes, dos interesses privados titulados pelos particulares.
A exigência da participação dos particulares nos procedimentos de
tomada de decisões administrativas constitui um factor de
democratização das decisões da Administração e de adensamento da
consciência cívica dos cidadãos.

g) Princípio da responsabilidade
Este princípio, associado à obrigação de ponderação das intervenções
com impacte relevante no território, liga-se “o dever de reposição ou
compensação dos danos ambientais”, sejam eles causados por
entidades privadas ou por entidades públicas.
Nesta dimensão, o princípio também assume cariz ecológico. Todavia,
convém ressaltar que o mesmo, aliado a outros princípios ecológicos
como o princípio da precaução, da prevenção e do poluidor pagador
devem continuar, na concretização da apontada lógica de integração,
a modelar a tipologia, procedimento e conteúdo dos vários
instrumentos de gestão territorial, sob pena de, estando tais
preocupações arredadas destes planos, se comprometer em definitivo
a senda de um desenvolvimento sustentável.

h) Princípio da segurança jurídica


Este princípio visa garantir, no que se refere aos procedimentos de
elaboração, execução e alteração dos instrumentos de planeamento, a
estabilidade dos regimes legais e o respeito pelos direitos e situações
jurídicas validamente constituídas.
No âmbito de validade deste princípio encontra-se a exigência de
indemnização ou, preferencialmente, do estabelecimento de
mecanismos de perequação compensatória, já que sem a previsão
destes pode resultar violado o princípio da protecção da confiança
legítima dos particulares designadamente num determinado uso

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

urbanístico do seu terreno ou numa certa concessão urbanística do


solo para finalidades privadas.

i) Princípio da inventariação
Este princípio determina que, sobretudo pela via de planeamento
(mas também através de procedimentos específicos, que implicam a
imposição de restrições de utilidade pública) deve assegurar-se o
levantamento sistemático, actualizado e tendencialmente exaustivo
dos bens culturais ou naturais existentes, com vista à respectiva
identificação. Este princípio pode e deve ser entendido com um
sentido mais amplo, nele se incluindo não apenas a actividade de
inventariação, mas também a de classificação dos bens culturais ou
naturais que sejam considerados de relevância para a identidade e
valorização da comunidade em causa.

Sumário

Nesta Unidade temática 1.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de Direito do Urbanismo á
disciplina de Direito do Ambiente e do Urbanismo:
1. Princípios do urbanismo e ordenamento do território.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (definição)


1. Defina os seguintes princípios:
a. Princípio da informação;
b. Princípio da Justa Ponderação de Interesses;
c. Principio proporcionalidade;
d. Princípio da segurança jurídica;
e. Princípio da equidade.

Grupo 2 – Resposta com detalhe

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

1. Relacione os mecanismos de prevenção com princípio da


responsabilidade.
2. Relacione o princípio da sustentabilidade com a importância de
se planificar a organização do território.
3. Explique a importância do princípio da participação no
ordenamento do território e urbanismo.

UNIDADE Temática 1.3. Exercícios deste tema

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Grupo 1 – Resposta sem detalhe (definição)


1. Defina urbanismo.
2. Defina o princípio da participação no urbanismo e
ordenamento do território.
3. Defina ordenamento do território.
4. Identifique na lei o conceito de ordenamento do território.
5. Indique com base legal quem é titular da terra em
Moçambique.

Grupo 2 – Resposta com detalhe


1. Relacione urbanismo e ordenamento do território com o
conceito de desenvolvimento sustentável.
2. Explique a importância do ordenamento do território e do
urbanismo no desenvolvimento e equidade intergeracional.
3. Identifique na lei as formas de planificação do ordenamento do
território existentes em Moçambique.

Grupo 3 – Exercícios de Reflexão


1. Comente de forma crítica a seguinte afirmação: “O
relacionamento entre Homem, espaço e recursos naturais é
um dos maiores problemas da sociedade moderna, enaltecer e
incrementar a prática das noções do urbanismo e do

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ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

ordenamento do território é fundamental para se obter o


equilíbrio e atingir o desenvolvimento sustentável do País.”

132
ISCED CURSO: GESTÃO AMBIENTAL; 2º Ano Disciplina/Módulo: DIREITO DO AMBIENTE E DO URBANISMO

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