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POR QUE EXISTEM O MAL E O

SOFRIMENTO?

Por F. Kamal

(Este é um trecho do livro "É fácil


compreender o Islam")

Edição Ibn Salim Asadullah

OBSERVAÇÃO:
No caso de não muçulmanos que
estejam lendo este capítulo, alerto
que o presente artigo foi redigido
originalmente para um público
muçulmano e que, infelizmente, pode
por vezes ser difícil compreender
alguns assuntos “como terceiros.”

Diversos muçulmanos, mesmo como


tal, acreditam que o Islã é melhor
compreendido quando de fato
praticado (com sinceridade).

Contudo, o tema é oferecido como


meio de introspecção para pessoas
interessadas.

(Portanto, sugerimos uma consulta a


muçulmanos versados, caso não
compreenda alguma parte do
conteúdo a seguir.)

- Por que existe o mal neste mundo?

- Por que existe o sofrimento?

- Será que tudo é simplesmente


injusto?

- Por que é que as dua’as [súplicas]


dos muçulmanos não são atendidas?

RESPOSTA nº 1

O QUE CAUSA O MAL?

O que causa as trevas senão a


ausência da luz?

De onde vem a luz senão do Senhor e


Criador?

Quem é o assassino e torturador


ultrajante senão alguém que optou
por se voltar contra o Senhor e assim
condenar-se a si mesmo a ser
deixado cambaleando em suas
próprias trevas?

Onde existe luz senão onde Deus a


espalha com Sua Graça sobre aqueles
que se submeteram completamente
ao seu Senhor — em amor e
admiração plenos por Ele?

Assim, o “mal” pode emergir do livre


arbítrio (p. ex., submeter-se a Deus ou
virar-se contra Ele em revolta),
faculdade dada aos homens por Deus,
por um breve período.

É essa liberdade que irá aviltar o bem


diante do mal.

Devemos nos lembrar de que, para


muitos, o mundo está cheio de testes
(espirituais) — aqueles que se saírem
bem vão para o paraíso e os que
fracassarem vão para o inferno.

Entretanto, se não houver


adversidades ou esforços envolvidos
nos testes, que tipo de testes seriam
esses?

Qual seria sua eficácia para distinguir


o bom do mau?

“Ser testado” não significa apelar a


todas as suas reservas para realizar
uma tarefa?

Um atleta se torna um campeão sem


anos de dedicação, empenho e
trabalho árduo?

Devemos ansiar por vastos e infinitos


campos de alegria e fartura no
paraíso sem suor, sem tormentas,
sem sofrimento?

Onde está a lógica em tudo isto? Se


tudo vai bem, como é que alguém
pode ser testado?

Todos parecerão estar bem.

Um homem revela seu verdadeiro


caráter sob coação e adversidades.

Existe alguma maneira melhor de


marcar uma pessoa pelo mal do que
fazer com que expresse sua própria
maldade?

Por exemplo, se Hitler tivesse obtido


todas as terras, as riquezas e a fama
que buscava instantaneamente sem
esforço, será que nós, seres humanos,
teríamos percebido sua verdadeira
natureza?

Ou você acharia preferível que o mal


interior desses indivíduos tivesse se
mantido oculto para o mundo e para
eles mesmos?

Seria o paraíso prazeroso com


caluniadores, assassinos, ladrões e
hipócritas como seus companheiros e
vizinhos próximos?

Essas pessoas rebeldes estão aptas a


serem moradores do paraíso que você
almeja?

Não, isto não seria o paraíso e sim o


inferno.

Qual é a eficácia do teste?

Sunan Abu-Dawud, Tomo 40, Número


4726: Narrado por Abu Hurayrah: “O
apóstolo de Deus (que a paz esteja
com ele) disse:
Quando Deus criou o paraíso, disse a
Gabriel: ‘Ide, e olhai para ele’.

Ele foi e olhou para o paraíso.

Então voltou e disse: ‘Ó, meu Senhor!


Por Teu poder, ninguém que dele ouvir
falar deixará de merecê-lo.’

Deus, então, cercou o paraíso de


coisas repulsivas, e disse: Ide e olhai
para ele, Gabriel’.

Ele foi e olhou novamente.

Então voltou e disse: ‘Ó, meu Senhor!


Por Teu poder, receio que ninguém
aqui irá entrar’.

Quando Deus criou o inferno, disse a


Gabriel: ‘Ide, e olhai para ele’.

Ele foi e olhou para o inferno.

Então voltou e disse: ‘Ó, meu Senhor!


Por Teu poder, ninguém que dele ouvir
falar aqui irá entrar.’

Deus, então, cercou o inferno de


coisas desejáveis, e disse: Ide e olhai
para ele, Gabriel’.

Ele foi e olhou novamente.

Então voltou e disse: ‘Ó, meu Senhor!


Por Teu poder, receio que não há de
sobrar ninguém que aqui não entrará’.

Imagine por um momento o oposto


disto: as coisas mais sedutoras se
encontram fora do paraíso e as
maiores dificuldades, fora do inferno.

As pessoas certas estariam no


inferno?

Quantos ditadores tirânicos


submeteram seu povo à tortura
grotesca, ridicularizaram a verdade,
oprimiram os fracos e necessitados, e
penhoraram riquezas muito além de
suas necessidades para viver em
mansões, com carros luxuosos e
mulheres ainda mais luxuosas?

A sedução do mundo está se


tornando fato.

Os inescrupulosos não permitirão que


a moralidade interfira em seu trajeto
para devorar a riqueza e a fama,
cercados de “lindos tesouros de arte”,
tentando saciar seu apetite e seus
vícios, vivendo a “boa vida”, a “vida de
amenidades e luxos.”

Você gostaria de ver essas pessoas


no paraíso?

Considere agora o “fracassado” que


oferece comida a uma pessoa
faminta, apesar de ter pouco para si
mesmo e estar também com fome, ou
o indivíduo que foi “audacioso” o
suficiente para lutar por justiça,
apesar de ter tido a oportunidade de
“assumir” uma posição que oferecia
poder, riqueza e influência, oprimindo
os mais fracos que ele.

Considere o indivíduo que foi


torturado, passou fome e apanhou
somente por ter tentado criar um
mundo melhor.

Você gostaria de ver essas pessoas


no inferno?

Como fazemos para descobrir os


méritos de uma pessoa, no que ela
acredita, do que ela é feita?

O hadith de Sunan Abu Dawud acima


conta como Deus optou por marcar o
bem em vez do mal, e Deus é Al-Alim
(O Onisciente), Al-‘Adl (O Justo).

Alcorão 3:142.
<<Ou supondes que entrareis no
Paraíso, sem antes serdes testados
por Deus, para que Ele possa fazer
saber que dentre vós sois lutadores
árduos (por Sua causa) e (quem
dentre vós) sois perseverantes (sob
pressão)?>>

Alcorão 47:31.
<<E, certamente, pôr-vos-emos à
prova, até sabermos dos lutadores,
dentre vós, e dos perseverantes e até
provar vossas notícias (valores).>>

Alcorão 2. 155-157 .
<<E, em verdade, pomo-vos à prova,
com algo do medo e da fome e da
escassez de riquezas e de pessoas e
de frutos (de seu trabalho). E
alvissara o Paraíso aos perseverantes,
àqueles que, quando uma desgraça os
alcança, dizem: “Por certo, somos de
Deus e, por certo, a Ele retornaremos.”
Sobre esses são as bênçãos e a
misericórdia de seu Senhor. E esses
são os guiados.>>
Alcorão 16:96.
<<O que há junto de vós (bens
materiais) se exaure, mas o que há
junto de Deus é permanente. E, em
verdade, recompensaremos os que
pacientaram com prêmio melhor que
aquilo que faziam.>>

Alcorão 29:2.
<<Os homens supõem que, por
dizerem: “Cremos”, serão deixados,
enquanto não provados?>>

Podemos estar sendo testados


mesmo quando não esperamos, de
formas que podemos ou não esperar,
conforme citado nesse lindo trecho
narrado pelo profeta.

Abu Huraira relatou as palavras do


Mensageiro de Deus (que a paz esteja
com ele), dizendo:

Verdadeiramente, Deus, o Altíssimo e


Glorioso, diria no Dia da Ressurreição:

— “Ó, filho de Adão, Eu estava


adoentado mas vós ainda assim Me
visitastes.”

Ele diria:
“Ó, meu Senhor; como eu poderia
visitá-Lo se Vós sois o Senhor dos
Mundos?”

E em seguida diria:
— “Não sabíeis vós que esse e aquele
servidor Meu estava doente, mas vós
não o visitastes, e não estáveis vós
ciente de que se o tivesse feito,
encontrar-Me-íeis ao lado deles?
— Ó, filho de Adão, Eu pedi-vos
alimento, mas não me alimentastes.”

Ele diria:
“Meu Senhor, como poderia eu
alimentá-Lo se Vós sois o Senhor dos
Mundos?”

Ele disse:
— “Não sabíeis vós que esse e aquele
servidor Meu pediu comida, mas vós
não o alimentastes, e não estáveis
vós ciente de que se houvesse
alimentado tê-los-íeis encontrado ao
Meu lado?”

(O Senhor diria novamente)


— “Ó, filho de Adão, Eu pedi de beber a
vós, mas vós não saciastes Minha
sede.”
Ele diria:
“Meu Senhor, como poderia eu saciar
Vossa sede se Vós sois o Senhor dos
Mundos?”

Em seguida, Ele diria:


— “Esse e aquele servidor Meu pediu-
vos de beber, mas vós não saciastes a
sede deles, e se houvesse os dado de
beber, teríeis Me encontrado ao lado
deles.”
(Musslim 32.6232)

Se alguém sofre, lembre-se de que a


noite é seguida do dia.

“Saiba que, com paciência alcança-se


a vitória, com aflição encontra-se o
alívio, e com as adversidades, se
chega à tranquilidade”
(Nawawi nº 19, Veja também Alcorão
94:5-6)

Observe que é impossível haver


justiça humana plena nesta terra.

Considere a mãe cuja filha foi


injustamente torturada e morta.

Mesmo se (e trata-se de um enorme


‘se’) o assassino fosse capturado e
aprisionado.

A justiça foi feita?

Se você fizer essa pergunta à família,


sem dúvidas observarão que sua filha
não voltou ao seu lado.

Ou considere um ditador tirânico que


torturou e matou milhares de
pessoas.
Mesmo que seja preso e executado, a
justiça terá sido feita?

Pode uma morte equivaler a milhares


de mortes?

Devemos nos lembrar de que nosso


teste na Terra envolve, na maior parte,
estabelecer as responsabilidades
para o Dia do Julgamento, quando a
verdadeira justiça ocorrerá.

Deus pode fazer coisas que os seres


humanos não podem.

Se Ele assim desejar, pode compensar


a vítima e sua família da forma que
Ele julgar cabível.

Ele pode também fazer com que o


ditador tirânico sofra uma punição
equivalente a 1000 mortes, pois
nesse dia, nossos atos benevolentes
e malignos serão expostos diante de
nós, aguardando pelo julgamento.

Esse teste é para o nosso bem, uma


vez que Deus é Al-Alim (O Onisciente)
e como tal, já sabe o resultado
(embora nós tenhamos total liberdade
moral de escolhermos nossos atos).
Um(Ver Sahih Bukhari 4.55.550).

O teste é para o nosso próprio bem.

Podemos retratar um comandante


sérvio de um campo de concentração
e tortura na Bósnia dizendo: “Oh! Eu
sou um dos bons! Eu mereço o
paraíso!”
Se não houvesse vida mundana, que
provas teríamos presenciado contra
essas declarações?

Ainda assim, atualmente, devido à


vida, seus atos serão revelados diante
dele e prestarão testemunho contra
ele no Dia do Julgamento.

Porém, Deus é, sem dúvida, Al-Alim (O


Onisciente).

Pode-se fazer uma analogia à boa


professora que é capaz de prever
quais entre seus alunos irão bem ou
mal em uma prova que ela aplicar.

Deve-se notar que, mesmo que os


estudantes tenham a total liberdade
de escolher suas respostas na prova,
isto não muda a capacidade de uma
boa professora de prever os bons e
maus resultados de seus alunos. (1)

Naturalmente, Deus, que transcende


ao tempo, sabe e não prevê.

RESPOSTA nº 2

Muitas vezes, merecemos algo que


seja, na verdade, ruim para nós, ou
nos desesperamos quando “tempos
difíceis” nos afligem, quando na
verdade, com base apenas em nosso
conhecimento limitado, não somos
capazes de saber ao certo se algo que
cruza nosso caminho irá nos
beneficiar ou nos prejudicar — seja
algo bom para nós ou não — a menos
que Deus nos diga.

Às vezes nos sentimos felizes com


algo ruim ou reclamamos quando
deveríamos nos sentir realmente
gratos.

Talvez Deus às vezes nos dê o que


realmente precisamos em vez daquilo
que acreditamos desejar.

Alcorão 2:216:
<<E, quiçá, odieis algo que vos seja
melhor. E, quiçá, ameis algo que vos
seja pior. E Deus sabe, e vós não
sabeis.>>

Portanto, de fato, muitas vezes é


melhor não obtermos aquilo que
desejamos.

Há uma história, de um homem que


pediu ao Profeta Muhammad que
orasse para que se tornasse rico.
O profeta o ignorou.

Ele pediu novamente e novamente o


profeta o ignorou.

E ele pediu ainda mais uma vez e


então o profeta orou para que ele se
tornasse rico.

Agora, esse indivíduo, que costumava


passar um bom tempo na mesquita, à
medida que via sua riqueza aumentar,
via-se proprietário de rebanhos de
ovelhas cada vez maiores.

Então, ele os levava para a cidade


para pastar e ficava cada vez menos
tempo com o profeta e com seus
companheiros – preocupava-se mais
com seus rebanhos.
Quando a diretiva sobre zakat (dar
esmolas) foi revelada, o profeta
enviou alguém para coletar o zakat
(caridade) dele, mas o homem havia
se afastado tanto do Islam que se
recusou a ajudar.

A partir de então, o profeta se recusou


a aceitar qualquer zakat desse
homem.

Mesmo nos tempos de Abu Bakr e


Umar, quando esse homem tentou
pagar o zakat, ambos os califas
(líderes muçulmanos) recusaram-se a
aceitar a dádiva nas terras em que o
profeta as havia recusado do homem.

O Profeta havia percebido que a


riqueza não seria compatível com
esse homem no momento em que ele
pedira pela primeira vez que o Profeta
rezasse por ele.

Ainda assim, o homem insistiu várias


vezes...

Muitas vezes, é melhor sentir-se


satisfeito em não receber tudo o que
se pede.

Algumas coisas que pedimos podem


nos levar ao mau caminho.

Talvez você não saiba, mas Deus


sabe.

Na história do Profeta Moisés e de Al-


Khadir no Alcorão (que é também
explicada no hadith), Deus nos
previne quanto à chegada dos
julgamentos, com base no
conhecimento limitado e nos lembra
de que o conhecimento absoluto
limita-se a Ele.

Sahih Bukhari, Volume 6, Livro 60,


Número 250:
“Então, um homem dirigiu-se a
Moisés e perguntou ‘Ó, Apóstolo de
Deus! Há alguém na face da terra que
seja mais sábio do que vós?’

Ao que Moisés respondeu: ‘Não.’

Então Deus o admoestou (Moisés),


pois ele não limitou todo o
conhecimento a Deus.

E foi dito (em nome de Deus), ‘Sim,


(há um servidor vosso que sabe mais
do que vós).’
…E então eles retornaram e
encontraram Al-Khadir.

...Quando Moisés o cumprimentou,


ele descobriu seu rosto e disse:
‘Quem sois vós?’

Moisés disse:
‘Sou Moisés.’

…E Al-Khadir disse:
‘O que desejais?’

Moisés disse:
‘Vim até vós para que possais me
ensinar a verdade que a vós foi
ensinada’...

Naquele momento, um pássaro


apanhou (um pouco de água) do mar
com seu bico.

Al-Khadir então disse:


‘Por Deus, meu conhecimento e seu
conhecimento em comparação ao de
Deus é como o que esse pássaro
acaba de tomar do mar em seu bico.’”

O Alcorão prossegue, contando o


acontecido:

Alcorão 18:65-82:
<<E encontraram um de Nossos
servos, ao qual concedêramos
misericórdia vinda de Nós, e
ensináramo-lhe ciência, de Nossa
parte.

Moisés disse-lhe:
“Posso seguir-te, com a condição de
que me ensines algo do que te foi
ensinado de retidão?”

O outro (Khidr) disse:


“Por certo, não poderás ter paciência
(de aprender) comigo. E como
pacientar, acerca do que não abarcas
em ciência?”

Moisés disse:
“Encontrar-me-ás paciente, se Deus
quiser, eu não te desobedecerei
ordem alguma.”

O outro (Khidr) disse:


“Então, se me seguires, não me
perguntes por coisa alguma, até que
te faça menção desta coisa.”

Então, ambos foram adiante, até que,


quando embarcaram na nau, ele
(Khidr) a furou (a nau, fazendo com
que a água entrasse).

Moisés disse:
“Furaste-a, para afogar seus
ocupantes? Com efeito, fizeste algo
nefando!”

Khidr disse:
“Não te disse que, por certo, não
poderias ter paciência comigo?”

Moisés disse:
“Não me culpes pelo que esqueci, e
não me imponhas dificuldade, acima
de minha condição.”

Então, ambos foram adiante, até que,


quando se depararam com um jovem,
então, ele (Khidr) o matou.

Disse Moisés:
“Mataste uma pessoa inocente, sem
que ela haja matado outra? Com
efeito, fizeste algo terrível!”

Khidr disse:
“Não te disse que, por certo, não
poderias ter paciência comigo?”

Moisés disse:
“Se, depois disso, te perguntar por
algo, não me acompanhes mais! Com
efeito, conseguiste de minha parte
uma desculpa (para fazer-me deixá-
lo).”

Então, ambos foram adiante, até que,


quando chegaram aos moradores de
uma cidade, pediram-lhes alimento, e
estes recusaram-se a hospedá-los.

Então, aí (ao atravessarem a cidade),


encontraram ambos um muro prestes
a desmoronar-se, e ele (Khidr) o
aprumou.

Moisés disse:
“Se quisesses, receberias prêmio por
isso (seu trabalho).”

E Khidr disse:
“Esta é a hora da separação entre
mim e ti. Informar-te-ei da
interpretação daquilo, com que não
pudeste ter paciência.

“Quanto à nau, pertencia ela a pobres


(marinheiros), que trabalhavam no
mar.

Então, desejei danificá-la


(temporariamente), pois, adiante
deles, havia um rei, que tomava, por
usurpação, toda nau não danificada.

E, quanto ao jovem, seus pais eram


crentes, e receávamos que ele os
induzisse à transgressão e à
renegação da Fé.

Então, desejamos que seu Senhor


lhes substituísse o filho por outro
melhor que ele, em pureza, e mais
próximo, em blandícia.

E, quanto ao muro, ele pertencia a


dois meninos órfãos, na cidade.

E, debaixo dele, havia um tesouro para


ambos; e seu pai era íntegro: então,
teu Senhor desejou que ambos
atingissem sua força plena e
fizessem sair seu tesouro, por
misericórdia de teu Senhor.
E não o fiz (todas aquelas coisas) por
minha ordem.

Essa é a interpretação daquilo (de


tudo o que fiz), com que não pudeste
ter paciência.”>>
(Alcorão 18:64–82; ver também Sahih
Muçulmano, Livro 030, Nº 5865)

Não devemos invejar a vida de pompa


e tranquilidade a que fazem jus os
homens poderosos e corruptos, ou
sermos desencorajados pelas
circunstâncias de retidão de um
homem honesto.

Dizer que a vida é injusta é uma


verdadeira tolice.

Fazer isto é chegar ao árduo


julgamento.

Você seria capaz de determinar o


resultado de uma maratona de 24
horas 3 segundos após a partida?

Com que precisão faria tal


determinação?

Ainda assim, a vida neste mundo é


como uma gota no oceano, se
comparada ao que vem em seguida.

Diz o Alcorão, a respeito da


efemeridade da vida mundana:

<<“será como se não houvessem


permanecido na vida terrena senão
por uma hora do dia.”>>
(Alcorão 10:45)
A habilidade humana de discernir
entre o que é bom ou ruim para si
mesmo é muito limitada.

Lembra-se também de que Deus é al-


Hakim (O Sábio) e al-Latif (O Sutil).

Talvez você tenha pedido sabedoria, e


Deus tenha enviado problemas, de
forma que você adquira a sabedoria;

Talvez tenha pedido riqueza e Deus


tenha enviado tempos difíceis, para
ensiná-lo a parcimônia necessária
para se construir a prosperidade
duradoura;

Talvez tenha pedido saúde e Deus


tenha enviado problemas de saúde,
para ensiná-lo o valor das atividades
físicas e das dietas para construir um
alicerce melhor para uma possível
vida saudável.

Talvez o intuito de Deus tenha sido o


de lembrá-lo do valor de ser otimista
<<“então, quanto a quem dá e teme a
Deus (em toda sua sinceridade) e
confirma a mais bela Verdade, a esse,
facilitar-lhe-emos o acesso ao
caminho fácil.” (Alcorão 92.5-7) e
positivo.
(manter pensamentos positivos é
parte da reverência bem conduzida. -
Abu Dawud, Nº 4975) mesmo quando
os tempos não são os melhores.

Lembre-se: “confia em Deus. Por


certo, Ele é O Oniouvinte, O
Onisciente.”
(Alcorão 8:61).
Não se desespere pelo atendimento
de Deus a suas súplicas, pois a ira e a
impaciência em relação a uma
aparente ausência de resultados pode
anular suas súplicas (Bukhari 8.354).

Às vezes, Deus surpreende Seu fiel


servidor com uma maneira escolhida
por Ele para ajudar seu seguidor.

Alcorão 65:2-3:
<<...E quem teme a Deus, Ele (sempre)
lhe fará saída digna, e lhe dará
sustento, por onde não suporá. E
quem confia em Deus, Ele lhe bastará.
Por certo, Deus atinge o que quer de
Sua ordem, Deus fez para cada coisa
uma medida.>>

Às vezes, Deus retém a recompensa


por seus feitos.
Não se desespere se não conseguir o
que desejar nesta vida.

Talvez Deus venha a recompensá-lo


com o que deseja ou algo ainda
melhor na vida após a morte.

O valor da vida após a morte é, afinal,


muito, muito superior ao desta
curtíssima vida terrena.

Deposite sua confiança em Deus –


pois ninguém recompensa melhor do
que Ele.

<<“E concedeu-vos (sempre) de tudo


que Lhe pedistes. E, se contais as
graças de Deus, não podereis
enumerá-las.”>>
(Alcorão 14:34)
Riyadh-us-Saleheen, Nº 1501: Hazrat
Ubadah bin Samit relata que o Profeta
Abençoado disse:

“Sempre que um muçulmano suplica


a Deus, Ele concede a súplica ou
afasta do suplicante algum mal,
desde que este não ore por algo
pecaminoso ou algo que possa
romper seus elos de parentesco.

Ao ouvir isto, um dos companheiros


disse:
– ‘Devemos então suplicar
generosamente.’

O mensageiro de Deus disse:

‘Deus é mais generoso ao atender aos


vossos pedidos’.
(Tirmizi)

Hakim, narrando Hazrat Abu Sa’eed,


acrescenta: ‘ou mantém uma
recompensa equivalente à oração
reservada para o fiel no Dia Final.”

Tão generoso é o Senhor, que


concede ao fiel uma opção entre três:

1) a benção imediata;
2) uma recompensa semelhante no
futuro ou;
3) afasta os males de nós.

Portanto, por que deveria um


muçulmano se preocupar se não
obtiver a 1ª opção?

Isto ajuda o muçulmano a


compreender os dizeres a seguir, de
Abu Dawud, Livro 8, Número 1483:
Narrado por Salman al-Farsi: “O
Profeta (que a paz esteja com ele)
disse:

— "Seu Senhor é munificente e


generoso, e não quer deixar as mãos
de um servidor vazias quando as volta
para Ele abertas.”

Um servidor e devoto fiel de Deus


verdadeiramente jamais poderá
agradecer a Deus o suficiente pelas
bênçãos que Ele faz jorrar sobre si.

Às vezes, Deus retarda um assunto


em sua vida.

Deus fala sobre a purificação da


falsidade, Alcorão 13:17
<<“E, parte daquilo sob a qual
acendem o fogo (minério), para fazer
joias ou utensílios, é espuma igual.
Assim, Deus apresenta em parábola a
verdade e a falsidade. Quanto à
espuma, vai-se embora. Quanto ao
que beneficia aos homens,
permanece na Terra. Assim Deus
estabelece Seus exemplos.”>>

Os muçulmanos nos primórdios do


islamismo sofreram muito em Meca,
foram perseguidos, ridicularizados,
torturados e banidos.

Quando pediram ao Profeta que


orasse por uma trégua, ele incitou o
sabr (fiel perseverança e paciência).

No auge desse suplício, os bons se


separaram da escória.
O “incêndio” causado pelo suplício
expulsou as impurezas dos
muçulmanos, assim como o fogo
expulsa as impurezas do ouro ou do
minério de ferro para a geração do
aço.

A palavra árabe para suplício é


“fitnah,” que também denota um teste
de pureza do ouro.

Somente muitos anos depois, em


Medina, eles se fortaleceram o
suficiente para prosseguir com a
maravilhosa missão de construir a
nação muçulmana, livre dos
problemas e limitações que haviam
sofrido em Meca.

Tivessem eles recebido uma


comunidade política para governar
anteriormente, em sua fraqueza, a
“construção” da estrutura islâmica
teria sido seriamente comprometida.

Afinal, o aço, que é fundido a partir do


ferro em brasa, para eliminar as
impurezas, é muito mais forte do que
o próprio ferro.

Talvez este seja o segredo por trás do


hadith:
Abu Hurairah relatou que o
Mensageiro de Deus disse:

“Aquele a quem Deus pretende o bem,


Ele o faz sofrer algum tipo de aflição”
(Al-Bukhari). (Riyadh-us-Saleheen, Nº
39.)

Às vezes Deus utiliza adversidades


para ensinar às pessoas.

Veja o caso de um prédio ardendo em


chamas, em ruínas e perfurado por
balas, ou um caso de falência.

Às vezes a vida de uma pessoa


parece desmoronar por completo.

Disse Deus, Alcorão 29:41:


<<“O exemplo dos que tomam
protetores em vez de Deus, é como o
da aranha, que construiu uma casa
(com teias delicadas) para proteger-
se. E, por certo, a mais frágil das
casas é a casa da aranha. Se
soubessem!”>>

Você construiu sua vida sobre uma


teia de aranha ou sobre um alicerce
sólido na consciência de Deus?
Você sabe o que é realmente
importante na vida?

Um alicerce sólido que não irá ruir sob


seus pés?

O que é efêmero e o que é duradouro?

Não há nada mais forte na vida do


que construir sobre a graça de Deus,
Sua orientação e Suas instruções.

<<“...E, em verdade, fá-los-emos


experimentar algo do castigo menor
(mais brando), antes do (temido)
castigo maior, de forma que possam
pelo menos ter (uma chance de se
arrependerem de seus males) como
retornarem (à trajetória de Deus)”>>
(Alcorão 32:21).
Às vezes as adversidades nos
lembram da enorme dádiva de Deus.

Afinal, os adoentados não


desenvolvem um gosto especial pela
boa saúde?

<<“E, se contais as graças de Deus,


não podereis enumerá-las.”>>
(Alcorão 14:34)

Você começa a aprender o valor das


coisas.

É mais provável que alguém que já


tenha passado fome dê de comer a
um faminto e seja generoso e
proporcione mais conforto àqueles
que têm problemas.
Isto o torna mais humilde e grato a
Deus.

Isto o faz voltar-se a Deus e


desenvolver n’Ele confiança.

Em resumo, ele desenvolve os


atributos daqueles que têm a maior
probabilidade de serem elevados em
honra por Deus.

Sahih Musslim, Livro 32, Número


6238:
“A’isha relatou as palavras do
Mensageiro de Deus dizendo:

"O fiel não recebe (o transtorno) de


pisar em um espinho ou mais do que
isto, mas Deus eleva seu status ou
perdoa seus pecados por causa desse
transtorno.”
Enquanto a dor pode se apresentar de
diversas formas e proveniente de
diversas fontes, muitas vezes ela vem
de outros que abusam de você.

Contudo, não se preocupe


excessivamente se o infortúnio vier
em sua direção.

Obviamente, normalmente não há


nada de errado em se defender das
pessoas más.

Lembre-se também de que Deus o


compensará por seu infortúnio se
você for um fiel servidor d’Ele.

Portanto, não se preocupe demais.


(Em vez disto, concentre-se em
sempre fazer a vontade de Deus).
Não se esqueça de que um dos
nomes de Deus é Al-Muqsit, o
Equitativo, aquele que é Justo em Seu
julgamento.

Alcorão 5:27-29.
<<E, recita, Muhammad, para eles,
com a verdade, a história dos dois
filhos de Adão, quando fizeram ambos
oferenda a Deus, e foi aceita a de um
deles, e não foi aceita a do outro.
Disse Caim (em fúria invejosa):
“Certamente, matar-te-ei.”>>

<<Disse aquele (Abel): “Deus aceita,


apenas, a oferenda dos piedosos (e
sinceros para com Ele).” (E tentou
então ponderar com seu irmão irado),
dizendo: “Em verdade, se me
estendes a mão, para matar-me, não
te estarei estendendo a mão, para
matar-te. Por certo, eu temo a Deus, O
Senhor dos Mundos. Por certo, eu
desejo que tu incorras em meu
pecado e em teu pecado: então, serás
dos companheiros do fogo. E essa é a
recompensa dos injustos.”>>

O hadith a seguir explica melhor


esses ayat (versículos) do Alcorão.

Sahih Musslim, Livro 32, Número


6251:
Abu Huraira relatou as palavras do
Mensageiro de Deus, dizendo:

“Sabeis vós quem é pobre?”

Eles (os companheiros do Profeta


Sagrado) disseram:
“Um homem pobre entre nós é aquele
que não leva moedas ou riquezas
consigo.”

Ele (o Profeta Sagrado) disse:

“O homem pobre em minha


comunidade seria aquele que se
apresentasse no Dia da Ressurreição
com orações e jejum e atos de
caridade, mas que (ver-se-ia falido
naquele dia, por ter exaurido suas
reservas de virtude, pois) impingiu
abusos sobre outrem, trouxe a calúnia
a outrem, consumiu ilegalmente a
riqueza de outrem e derramou o
sangue de outrem e espancou
pessoas, e suas virtudes seriam
creditadas na conta daqueles (que
sofreram em suas mãos).

E se suas boas ações fossem


insuficientes para voltar o saldo da
conta a um valor positivo, seus
pecados seriam lançados (em sua
conta) e ele seria atirado ao fogo do
inferno.”
(Musslim)

Essa é a “contabilidade” do Dia do


Julgamento.

Todos serão inteiramente


recompensados e em nada serão
prejudicados.

RESPOSTA nº 3:

Às vezes uma calamidade insurge em


decorrência da revolta direta e
arrogante contra Deus.

Alcorão 29:38.
<<E aniquilamos o povo de ‘Ad e
Thamüd, e isso se tornou evidente
para vós, pelas ruínas de suas
vivendas.

E Satã aformoseara-lhes as (cruéis)


obras, e afastara-os do caminho certo
(de Deus), enquanto eram
clarividentes.

E aniquilamos Qãrün e Faraó e


Hãmãn.

E, com efeito, Moisés chegou-lhes


com as evidências (da verdade);

E eles ensoberbeceram-se, na terra, e


não puderam esquivar-se de Nosso
castigo.

Então, a cada um deles, apanhamos,


por seu delito.

E, dentre eles, houve aquele contra


quem enviamos um vento lastrado de
seixos.

E, dentre eles, houve aquele a quem o


grito apanhou.

E, dentre eles, houve aquele a quem


fizemos a terra engolir.

E, dentre eles, houve aquele a quem


afogamos (no mar).

E não é admissível que Deus fosse


injusto com eles; mas eles foram
injustos consigo mesmos.>>

Imagine se Deus não os houvesse


destruído?
E se a corrupção e o mal fossem
permitidos e deixados a reinar
supremos?

Qual seria a severidade do teste para


qualquer pessoa daquela sociedade
que tentasse ao menos fazer algo de
bom?

Porém, Deus é misericordioso com


seus servidores.

Às vezes o homem espera que Deus o


ouça, mas não escuta as palavras de
Deus. Onde está a lógica em tudo
isto?

Abu Huraira relatou as palavras do


Mensageiro de Deus, dizendo:
“Ó, meu povo, Deus é bom, e portanto
aceita apenas aquilo que é bom. E
Deus ordenou aos fiéis, assim como
comandava Seus Mensageiros,
dizendo: Ó Mensageiros! Comei das
coisas (alimentos) benignas e fazei o
bem. Por certo, do que fazeis, sou
Onisciente.” (Alcorão 23:51). E disse:
Ó vós que credes! Comei das coisas
benignas que vos damos por
sustento...” (Alcorão 2:172).

Ele então contou sobre uma pessoa


que viaja muito, com o cabelo
desgrenhado e coberto de poeira.

Ele ergue as mãos em direção ao céu


(e assim faz uma súplica):

“Ó Senhor, Ó Senhor,” considerando


que sua dieta é ilegal, sua bebida é
ilegal, suas roupas são ilegais e seu
sustento é ilegal. Como então podem
suas súplicas serem aceitas?
(Sahih Musslim, Livro 5, Nº 2214)

Eis então o seguinte:

Narrado por Anas ibn Malik:

“Deus, o Onipotente, disse a Ya’qoub


(Jacó), por intermédio de Jibreel:
‘Você sabe por que tirei sua visão e
verguei suas costas, e por que os
irmãos de Yusuf (José) fizeram o que
fizeram? Você matou um carneiro e
um pobre órfão que estava jejuando
surgiu e você nada deu a ele da
carne”.
(Al-Hakim)

RESPOSTA nº 4
(Para muçulmanos em dificuldades)

Você pensava que poderia entrar no


paraíso sem passar pelo que os que
vieram antes passaram?

Eles foram testados, por meio de


aflição e perdas, e (alguns) foram tão
abalados que até mesmo seu
mensageiro se juntou a eles no
pranto, “Quando irá Deus nos ajudar a
chegar?”

(Lembre-se de que) a ajuda de Deus


está sempre próxima!

A vida pode ser um teste. Um teste


difícil.

Para aqueles que estão passando por


momentos difíceis, uma das causas
primárias de sofrimento é a
preocupação com a própria
capacidade de lidar com um
problema.

O problema é simplesmente grande


demais para mim?

Um muçulmano, porém, não precisa


se preocupar com isto.

Deus diz no Alcorão:

<<A nenhuma alma é imposto senão o


que é de sua capacidade.>>
(Alcorão 2:233).

E também o seguinte:

Sa’d perguntou ao Profeta (que a paz


e as bênçãos de Deus estejam com
ele):
“Ó mensageiro de Deus, quais são as
pessoas que sofrem mais angústia?”

E ele disse:
“Os profetas, e em seguida aqueles
que os sucedem (em termos de
status), e em seguida os que a estes
últimos sucedem.

Um homem será testado conforme a


força de sua fé.

Se sua fé for forte, a angústia com a


qual ele será testado será maior; se
sua fé for fraca, ele será testado de
acordo com o nível de sua fé.

A angústia continuará recaindo sobre


o servidor, até que ele caminhe sobre
a face da terra livre de pecados.”
Isto quer dizer que tudo o que lhe for
imposto estará dentro de sua
capacidade de lidar com o desafio
islamicamente.

Isto, por si, deve ser uma fonte de


grande conforto.

Encontre também conforto e


tranquilidade no dhikr (a lembrança
de Deus).

<<“Ora, é com a lembrança de Deus


que os corações se tranquilizam”>>
(Alcorão 13:28).

Deve-se também ter o cuidado de não


cair na armadilha do desespero, que é
um tipo de descrença.
<<E quem pode desesperar-se da
misericórdia de seu Senhor, senão os
descaminhados?>>
(Alcorão 15:56)

Os piores pecados são... "e


desesperar-se da misericórdia
Deus” (2)

Não se esqueça também de contar


suas bênçãos:

<<“E, se contais as graças de Deus,


não podereis enumerá-las.”>>
(Alcorão 14:34)

Se você estiver preocupado por ter


perdido uma perna, considere a
pessoa que perdeu duas pernas.

Sahih Musslim, Livro 42, Número


7070:
“Abu Huraira relatou as palavras do
Mensageiro de Deus, dizendo:

"Olhai para as pessoas que se


encontram em um nível abaixo do
vosso, mas não olhais para as que
estão no nível acima, pois isto
tornaria as dádivas (concedidas por
Deus) insignificantes (a seus olhos).”

Os companheiros do profeta
costumavam queixar-se ao Profeta a
respeito da tortura que vinham
sofrendo…

Narrado por Khabbab bin Al-Arat:


“Reclamamos ao Apóstolo de Deus
(da perseguição infligida a nós
enquanto nos sentávamos à sombra
de Kaaba, apoiados em seu Burd
(capa).

Dissemos a ele: ‘Vós buscaríeis


auxilio para nós? Vós oraríeis a Deus
por nós?’

Ele disse:
‘Dentre as nações que vos
precederam, um homem (de fé) seria
jogado em uma vala cavada para ele,
e uma serra seria posta sobre sua
cabeça, e ele seria cortado em duas
partes; e ainda assim isto (essa
tortura) não seria o bastante para
fazê-lo abrir mão de sua religião. Seu
corpo seria raspado com grelhas de
ferro que fariam com que sua carne
se soltasse dos ossos e dos nervos, e
ainda assim ele não abandonaria sua
religião. Por Deus, essa religião (o
islamismo) prevalecerá até que um
viajante de Sana (no Iêmen) a
Hadramaut não tema ninguém além
de Deus, ou até que um lobo cuide de
suas ovelhas, mas vós (o povo) sois
precipitados”
(Bukhari 4.56.809).

Um mu’mim (crente) encontra-se em


um estado maravilhoso.

Se o bem recai sobre ele, ele usufrui


do bem; se o mal recai sobre ele, Deus
usa isto como meio de elevá-lo.

Sahih Bukhari, Volume 7, Livro 70,


Número 545: Narrado por Abu Sa’id
Al-Khudri e Abu Huraira: O Profeta
disse:

“Não há fadiga, ou pesar, ou tristeza,


ou ferida, ou angústia que recaia
sobre um muçulmano, mesmo a
penetração de um espinho, pois Deus
estará expiando dele alguns pecados
por isto.”

Considere agora um caso difícil de


uma mulher estuprada nos campos de
concentração da Bósnia.

Considere os casos de muçulmanos


sendo injustamente aprisionados;
considere o caso das indescritíveis
torturas que foram infligidas sobre
muçulmanos que professavam o
islamismo; pense no pior, mais trágico
e mais grotesco descaminho da
justiça que você possa imaginar.

Agora considere, não o pior caso, não


apenas no mundo de hoje, mas no
pior caso de TODOS OS TEMPOS(!)
registrado nos anais da história da
humanidade.

O que você diria sobre esse caso


específico?

Um caso visto como o epitoma da


injustiça explícita.

Aqui se encontra a importância de se


compreender as diferenças entre este
mundo e o mundo que virá em
seguida.

De se ponderar este mundo em


comparação ao próximo.

Você percebe que Deus usa um véu


até o Dia do Julgamento, quando as
realidades da existência se
manifestarão por si, conforme o Seu
comando.

Sahih Musslim, Livro 39, Número


6738: Anas b. Malik relatou que o
Mensageiro de Deus disse que um
dos moradores do inferno, que havia
levado uma vida de amenidades e
fartura, entre as pessoas deste
mundo, seria forçado a mergulhar no
fogo apenas uma vez no Dia da
Ressurreição e depois a ele seria dito:

“Ó, filho de Adão, encontrastes


qualquer conforto, ou qualquer
bênção material?”

E ele diria:
“Por Deus, não, meu Senhor.”

E então, seria trazida uma pessoa,


entre as pessoas do mundo, cuja vida
tenha sido a mais miserável (do
mundo), entre seus amigos no
paraíso, e ela seria levada uma vez ao
paraíso e a ela seria dito:

Ó, filho de Adão, vós sofrestes alguma


adversidade? ou qualquer sofrimento
recaiu sobre vós?”

Ao que ela diria:


“Por Deus, não, Ó meu Senhor, nunca
sofri qualquer adversidade ou
experimentei qualquer angústia.”

Certamente, nosso Senhor é al-‘Adl (O


Justo) e al-Basir (O que tudo vê).

Oremos todos a DEUS, nosso Rabb, o


Reverenciado e Mantenedor do
mundo.
(Sahih Musslim, Livro 4, Nº 2000):
Umm Salama, esposa do Apóstolo de
Deus, relatou que o Mensageiro de
Deus:

“Se qualquer servidor (de Deus) que


sofre uma calamidade disser:

‘Pertencemos a Deus e a Ele


retornaremos; Que Deus me
recompense por minha aflição e me
dê algo melhor em troca’, Deus o
recompensará pela aflição e o dará
algo melhor em troca.

Ela (Umm Salama) disse:


“Quando Abu Salama morreu, eu
proferi (essas mesmas palavras)
como fui instruída (a fazer) pelo
Mensageiro de Deus.
E então, Deus me deu algo melhor em
troca, pois o Mensageiro de Deus
tomou-me por esposa."

Quando um muçulmano se sente


desesperado e está a ponto de se
sobrecarregar pelos eventos, ele deve
mirar-se no exemplo de nosso
profeta.

Em um dos dias mais tristes de sua


vida, ele foi posto para fora,
apedrejado e sangrando, de Taif, ao
tentar apresentar o Islam ao povo
local.

Buscando refúgio em um pomar,


exausto e bastante aflito, ele disse
algo com que nós muçulmanos
podemos aprender muito.
Ele disse, em seu momento de maior
angústia:

— “Ó Deus! Somente a vós posso


queixar-me de meu desamparo, da
ausência de recursos e de minha
insignificância perante a humanidade.
Vós sois o mais misericordioso entre
todos. Vós sois o Senhor dos
desamparados e dos fracos, Ó meu
Senhor! Vós me abandonastes nas
mãos daquelas pessoas: nas mãos de
um parente distante e não simpático à
cause, que repentina- mente me
tratou como um estranho, ou do
inimigo que tomou o controle sobre
meus atos? Porém se Vossa ira não
recair sobre mim, não há nada que eu
possa temer.”
“Eu busco proteção na luz de Vosso
Semblante, que ilumina os céus e
dissipa as trevas, e que controla todas
as ações deste mundo e da
eternidade. Que eu jamais incorra em
Vossa ira e que jamais jogueis Vossa
ira sobre mim. E não há poder ou
recurso senão o Vosso.”

Devemos nos lembrar de que o receio


imediato de um muçulmano fiel é se
ele irou seu Senhor, e se isto não seria
um bom motivo para ele se voltar ao
seu Senhor em reconhecimento da
verdadeira realidade dos fatos.

Para que ele entenda que Deus é a


fonte de toda a força e de todo o
poder.

Ele se lembra da Graça de Deus e


pede Sua Misericórdia.
E ele sabe que se seu Senhor não
estiver insatisfeito com ele, nada tem
a temer.

Finalmente, o servidor inteligente de


Deus usa as adversidades como
lembretes para se voltar a Deus e para
não se colocar entre aqueles que se
esquecem e não agradecem a Deus
no momento em que as adversidades
são eliminadas.

Lembre-se de Deus nos momentos de


adversidade e nos de tranquilidade.

Ele é Quem vos faz caminhar, na terra


e no mar.

Até que, quando estais no barco, e


este corre com eles (os marinheiros),
movido por galerno vento (avanço).
E com este (avanço) eles jubilam,
chega-lhe tempestuoso vento, e
chegam-lhes as ondas, de todos os
lados, e pensam que estão
assediados: eles (percebem que
todas as religiões pertencem a Deus,
se suplicam a Ele) sendo sinceros
com Ele, na devoção:

<< “Em verdade, se nos salvares


desta, seremos dos agradecidos!”
Então, quando os salva, ei-los
cometendo, sem razão, transgressão,
na terra (novamente). Ó humanos!
Vossa transgressão é, apenas, contra
vós mesmos. (Há pouco tempo para)
o gozo da vida terrena. Em seguida, a
Nós será vosso retorno; e informar-
vos-emos do que fazíeis.>>
(Alcorão 10:22-23)
Lembre-se de Deus nos momentos de
adversidade e nos de tranquilidade.

OBSERVAÇÃO:

Uma breve nota agora sobre o


“fatalismo”, termo que carrega
diversas conotações negativas que
alguns elementos tentaram associar a
ele.

O islamismo não preconiza o


“fatalismo,” que implica a preguiça.

Na realidade, qualquer pessoa que


tenha se empenhado a caminho de
Deus, sabe que é bem o oposto da
preguiça.

Porém, se Deus decretou que algo ou


alguém realmente não tenha controle
sobre si, um muçulmano não perderá
seu tempo se decepcionando ou se
incomodando com isto.

São apenas algumas respostas


possíveis e, é claro, como sempre,
apenas Deus tem as melhores
respostas completas.

***
Notas

(1) Outra possível explicação que ouvi


é a de que Deus está fora do espectro
temporal do nosso universo. Portanto,
Deus pode, por exemplo, examinar as
opções que você fez, usando seu livre
arbítrio, e elaborar Seu plano com
base em Suas percepções. Bônus de
perspectiva: Isto também pode
explicar por que Deus é uma causa
“sem causa”. (Ao contrário de tudo
com que nos deparamos e que tem
uma causa, p. ex. a argumentação de
causa e efeito). Como Deus está fora
do espectro temporal do nosso
universo, Ele não precisa ter uma
causa. Por exemplo, uma possível
explicação se baseia na teoria do Big
Bang e na noção de que o tempo e o
espaço no nosso universo surgiram
em uma singularidade inicial que,
segundo os cálculos, ocorreu há
muitos bilhões de anos. E, é claro, os
muçulmanos acreditam que Deus
criou o universo e que Deus já existia
antes do Big Bang. (Teorias futuras
poderão oferecer possibilidades
diferentes.)

Observação: Há uma divergência de


opiniões entre os estudiosos
muçulmanos quanto a Deus estar fora
do tempo ou fora do nosso espectro
temporal.

Em nível pessoal, eu diria que o


“tempo” é um conceito bastante
insólito.

(2) Dito por Ibn Masood, relatado por


Abd al-Razzaaq e classificado como
sahih por al-Haythami e Ibn Katheer.

***
(Este é um trecho do livro "É fácil
compreender o Islam")

PDF criado por Ibn Salim Asadullah.

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