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2 A ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO DOS ALUNOS

pessoas dão as mais diversas respostas ao serem questionadas sobre o que é a


S escola e para que serve. Para tanto, utilizam como critério a relação existente
entre a escola e a sociedade, o que entendem por Educação, o que esperam que a
escola faça por seus filhos ou pela nova geração, como vêem o processo histórico vivido
pelo povo brasileiro, etc. Vejamos alguns exemplos disso:
A escola...
 serve para aprender a ler, escrever e contar.
 serve para "dar educação" e disciplinar as crianças, ensinar boas maneiras e
como se comportar em sociedade.
 é uma instituição social que serve para adaptar e integrar crianças e adolescentes
à sociedade dos adultos.
 existe para alfabetizar as crianças, ensinar Matemática e o que for básico e
necessário para que os jovens possam vir a trabalhar e exercer uma profissão.
 é um órgão do Estado voltado para a alfabetização da população, para o ensino
dos conhecimentos básicos de Matemática, História, Geografia, Ciências... que foram
produzidos pela humanidade em sua história. A escola ensina a localizar diferentes
países e culturas. Trabalha informações sobre o nosso país (quem somos, população,
costumes, crenças, história, valores nacionais, governo, recursos minerais, vegetais,
animais, alimentação, indústria, educação...). E, principalmente, transmite idéias,
valores, políticas e diretrizes que interessem ao governo.
 "deve transmitir o saber necessário para que os alunos desenvolvam habilidades
e potencialidades pessoais e de sua classe, contribuindo para a transformação social
desejada... O fundamental é que a escola habilite o estudante a operar com os
instrumentos necessários à sua vida profissional, social, política e cultural."1
Antônio Joaquim Severino, professor da USP, em seu livro Educação, ideologia e
contra-ideologia, assinala que a escola pública, aberta e igualitária, é uma necessidade
para todos, permi-

1
Neidson RODRIGUES, Lições do príncipe e outras lições, p. 77.

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tindo o acesso ao saber e aos bens culturais da humanidade. Assim, o indivíduo pode se
perceber como parte integrante de um todo social, situando-se em sua realidade
histórico-social. Além disso, para as classes subalternas, a escola deve fornecer
instrumentos e recursos de luta contra a dominação, exercitando, pois, seu papel de
resistência à ideologia dominante ou de contra-ideologias.
A escola surge historicamente como fruto da necessidade de se preservar e
reproduzir a cultura e os conhecimentos da humanidade, crenças, valores e conquistas
sociais, concepções de vida e de mundo, de grupos ou de classes. Ela permaneceu e se
modernizou à medida que foi capaz de se tornar instrumento poderoso na produção de
novos valores e crenças, na difusão e socialização de conquistas sociais, econômicas e
culturais desses grupos ou classes.
Pode-se descrever a escola como lugar de encontro e de convivência entre
educadores e educandos. Um grupo que se reúne e trabalha para que ocorram condições
favoráveis ao desenvolvimento em diferentes áreas: cognitiva, afetivo-emocional,
motora, social e profissional.
Por desenvolvimento cognitivo entende-se adquirir novos conhecimentos e rever
os que já se possui; relacionar e organizar informações; desenvolver a imaginação, a
capacidade de pensar e de criar soluções; desenvolver habilidades artísticas.
O desenvolvimento afetivo-emocional compreende, entre outros aspectos, o
crescente conhecimento de si mesmo (diferentes recursos que se possui, limites
existentes e potencialidades a serem desenvolvidas). Isso significa abrir espaço para que
se expressem e se trabalhem diferentes emoções: alegria, sofrimento, raiva, ódio, amor,
agressão, autodefesa, atenção, respeito, cooperação, competitividade, solidariedade.
Ainda sob este aspecto é importante que a criança e o adolescente adquiram
segurança pessoal superando as inseguranças próprias de cada idade; que se sintam
valorizados em sua singularidade e nas mudanças que venham a ocorrer; aprendam a se
organizar internamente e se relacionem com o ambiente externo.

DIDÁTICA: A aula como centro


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No desenvolvimento motor as atividades físicas são fundamentais. Ajudam as


crianças e os adolescentes a se desenvolverem e aguçar os órgãos dos sentidos e a
coordenação motora, praticar esportes individuais e em grupo (andar de bicicleta, patins,
skate; jogar voleibol, futebol), etc.
Na área social é importante que o aluno desenvolva sua sociabilidade e
comunicabilidade com os colegas de turma, da escola, com os professores e com a
comunidade em geral. Aprender, conforme sua idade, a se localizar no espaço e no
tempo, na sociedade onde vive, captando os fatos e acontecimentos que agitam seu
mundo interno e o mundo à sua volta. Neste sentido, aprender a se relacionar e a
participar das descobertas das ciências e do momento histórico em que vive.
No plano profissional Neidson Rodrigues afirma que é importante desenvolver o
questionamento "do processo e da relação de trabalho (...) enquanto forma de ação do
homem na construção do mundo"2. Ao mesmo tempo, explorar toda e qualquer
experiência de trabalho já vivida pelo aluno, que lhe permita "compreender o papel que
esse trabalho tem no âmbito da sociedade (...). Entender que o trabalho já se desenvolve
inclusive no processo de educação na escola, no próprio processo de alfabetização. Isto
é, alfabetizar e ser alfabetizado são formas de trabalho. No momento em que a criança e
o professor entram na sala de aula e começam a desenvolver suas atividades, ambos
estão envolvidos num processo de trabalho."3
Em última análise, um processo de ensino-aprendizagem que leve em conta o
educando em sua totalidade pode fazer com que a escola resgate amplamente seu papel
educativo.

Para nos ajudar a refletir sobre a escola, foram escolhidos três autores: Georges
Snyders, professor da Universidade de Paris, pela sua coragem em escrever sobre a
alegria na escola e manifestar sua preocupação com a felicidade dos alunos nessa
instituição; depois, Neidson Rodrigues, por sua insistência em propor uma "Nova
Escola", em apontar uma passagem para uma "Escola Necessária" e também por ousar
pôr em prática suas idéias quando esteve à frente da Secretaria de Educação de Minas
Gerais; e, por fim, José Carlos Libâneo, professor da Universidade Federal de Goiás,
por seus textos críticos sobre o tema e principalmente por se constituir num autor de
livro-texto sobre Didática dirigido aos alunos do curso de magistério.

2
Neidson RODRIGUES, Por uma nova escola, p. 60.
3
Ibid., p. 61.
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A Escola e o Desenvolvimento dos Alunos

1. Georges Snyders
"É preciso reconhecer realmente que a escola é de início lugar de divergência
entre as maneiras de ser: do professor aos alunos, desacordo de idade, de formação de
gostos; corre-se o risco de que o professor esteja voltado para o passado, para um
passado que o justifica enquanto que os alunos estão voltados para o futuro.
O professor tem dificuldade em aceitar a juventude deles, que não é sua. Quanto
mais ele se envolve com seus alunos e com a cultura que ele quer lhes revelar, mais ele
tem dificuldade em suportar o que sente como uma concorrência, ou melhor, uma
intrusão: a vida de seus alunos fora de sua ação, fora da escola;
valores e modos de vida tão diferentes dos que ele gostaria de vê-los adotar.
Por sua parte, os alunos sentem em primeiro lugar a escola como lugar onde lhes
dizem: 'parem de falar sua língua habitual, de ler suas histórias em quadrinhos habituais;
interrompam sua existência habitual5.
A partir daí seus protestos contínuos: os adultos e particularmente os professores
rejeitam sua cultura, sua cultura de jovens sem mesmo conhecê-la: (...) 'eles não tentam
compreender nossos gostos, nossos problemas, recusam o que nós gostamos'.
E isso significa também: 'recusam-nos uma vez que não há realmente terreno
comum entre eles e nós5."4

2. Neidson Rodrigues
"A escola tem por função preparar o indivíduo para o exercício da cidadania
moderna, para a modernidade. Isto significa formar o homem capaz de conviver numa
sociedade em que se cruzam interveniências e influências mundiais da cultura, da
política, da economia, da ciência e da técnica.
(...)
A escola é uma instituição social e, como tal, está inserida na história. Ela é uma
instituição que sofre influência e influencia aquilo que acontece ao seu redor. Em outras
palavras: a escola está inserida numa certa realidade da qual sofre e na qual exerce
influência. Ela não é apenas o local onde se reproduzem os interesses, os valores, a
cultura, a ideologia. Também pode influenciar a ideologia, os valores, a ciência, a
política e a cultura na sociedade em que está inserida."5

4
Georges SNYDERS, A alegria na escola, p. 216.
5
Neidson RODRIGUES, Da mistificação da escola à escola necessária, p. 56.
DIDÁTICA: A aula como centro
PG 23

A Escola Necessária proposta por Rodrigues caracteriza-se como sendo "uma


escola democrática e que prepara os indivíduos para a democracia, (...) uma instituição
de cultura que deve socializar o saber, a ciência, a técnica e as artes produzidas
socialmente para que todos possam ter acesso a esses bens culturais.
(...)
Outra característica é a contemporaneidade histórica da escola, (...) permitir que o
educando seja capaz de entrar no mundo dessa realidade para entendê-lo. A escola
deverá estar comprometida politicamente e preparar o educando para o exercício da
cidadania."6

3. José Carlos Libâneo


"A atividade educativa acontece nas mais variadas esferas da vida social (nas
famílias, nos grupos sociais, nas instituições educacionais ou assistenciais, nas
associações profissionais, sindicais e comunitárias, nas igrejas, nas empresas, nos meios
de comunicação de massa, etc.) e assume diferentes formas de organização.
(...)
O processo educativo que se desenvolve na escola pela instrução e ensino consiste
na assimilação de conhecimentos e experiências acumulados pelas gerações anteriores
no decurso do desenvolvimento histórico-social. Entretanto, o processo educativo está
condicionado pelas relações sociais em cujo interior se desenvolve.
(...)
A finalidade geral do ensino de 1° grau é estimular a assimilação ativa dos
conhecimentos sistematizados, das capacidades, habilidades e atitudes necessárias à
aprendizagem, tendo em vista a preparação para o prosseguimento dos estudos série a
série, para o mundo do trabalho, para a família e para as demais exigências da vida
social.
É responsabilidade também do ensino do 1° grau colocar os alunos em condições
de continuarem estudando e aprendendo durante toda a vida e inculcar valores e
convicções democráticas, tais como: respeito pêlos companheiros, solidariedade,
capacidade de participação em atividades coletivas, crença nas possibilidades de
transformação da sociedade.
(...)
6
Ibid., p. 60-4.

A Escola e o Desenvolvimento dos Alunos

A escola pela qual devemos lutar hoje visa o desenvolvimento científico e cultural
do povo, preparando as crianças e jovens para a vida, para o trabalho, para a cidadania,
através da educação geral, intelectual e profissional."7

À medida que a escola se organiza com atividades que facilitem o crescimento e o


desenvolvimento nas várias dimensões do ser humano (como já vimos atrás), ela se
tornará algo interessante, vivo, dinâmico. Pode tornar-se um lugar de encontro
agradável dos estudantes entre si e com os professores. Isso significa uma escola onde
se respire envolvimento, interesse, motivação e trabalho. Mas como fazer isso?

 Criando na escola um clima de amizade, de colaboração, de trabalho em


conjunto, de confiança e respeito mútuo. É incentivador sentir colegas e professores
como parceiros do mesmo processo de crescimento e desenvolvimento.
 Selecionando conteúdos que tenham a ver com as experiências, vivências e
conhecimentos dos alunos.
 Abrindo espaços para os estudantes formularem questões que lhes digam
respeito, relacionem os conhecimentos científicos com os problemas atuais e transfiram
o que aprenderam para outras situações de sua vida.
7
José C. LIBÂNEO, Didâtica, p. 24, 43-4.

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DIDÁTICA: A aula como centro

 Utilizando estratégias dinâmicas, que incentivem a participação, a


movimentação dos alunos, descartando a passividade.
 Criando um sistema de avaliação que ofereça continuamente informações
ao aluno e ao professor sobre o aproveitamento no curso, evitando o clima de tensão dos
dias de provas e um estudo obrigatório apenas para tirar uma nota e ser aprovado.

No capítulo V do livro A Alegria na Escola, já citado anteriormente, Snyders faz


algumas propostas interessantes. Como o próprio título do livro sugere, a alegria deveria
ser a tônica predominante na escola.
1. Alegria da Escolha
As tarefas são globais e distribuídas de tal modo que cada aluno escolhe o que
desejar fazer ou aquilo onde tem chances de sucesso. Não é uma escola em que tudo
está previsto e estabelecido pelo professor. Autonomia, iniciativa, projetos e contratos
são negociados: os alunos "controlam" sua própria vida.
2. Alegria da Abertura para o Mundo
Os alunos sentem que o mundo da escola e o mundo que eles pressentem e
descobrem progressivamente ao seu redor unem-se, não se opõem. Assim, a vivência do
aluno na escola e o dia-a-dia fora dela convergem em vez de divergir.
3. Alegria do Trabalho em Comum
O que os alunos fazem juntamente com os demais vai além das experiências
individuais. Viver junto permite a professores e alunos experimentar a
complementaridade que pode levar à cooperação. Além disso, ambos podem estabelecer
regras comuns de trabalho.
4. Alegria das Novas Relações com o Professor
Na preparação das atividades os alunos negociam com o professor. Em campo, o
professor não é onisciente nem todo-poderoso: a avaliação e as correções necessárias
estão distribuídas entre ele e seus alunos. Caminha-se, assim, para procedimentos de
auto-avaliação. O professor fica no meio de seus alunos para juntos viverem situações
de busca e descoberta.
Podemos dizer que as propostas de Snyders constituem antes de tudo um ideal a
ser alcançado. Sabemos que o caminho do crescimento e do aprendizado é áspero, cheio
de obstáculos, mas isso não significa que a escola deve continuar a ser um lugar chato,
cheirando a coisa antiga, desatualizada, ultrapassada e obrigatória.
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Compare a escola que você freqüentou com a descrição que melhor a
define, justificando sua escolha!

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