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3. C.A ou CA?
Entrando agora nos aspectos que caracterizam o regime jurídico das infrações
fiscais aduaneiras no direito angolano, temos como disposições gerais o Código
Aduaneiro angolano, determinando as sanções aplicáveis, tendo em conta a gravidade
das infracções praticadas, a culpa, as circunstâncias agravantes e atenuantes. Quanto aos
crimes fiscais aduaneiros e o seu processamento, aplicar-se-ão de forma subsidiária as
disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. Relativamente às
transgressões fiscais aduaneiras e seu processamento, aplicam-se as disposições da Lei-
Quadro das transgressões administrativas, e no que toca à responsabilidade civil, as
disposições do Código Civil.
1
Cfr.: CA, art.160.˚
2
Ibidem, 190.˚-198.˚
3
Cfr.: CA, art. 190.ᵒ [no rodapé anterior já não se disse 190-198?]
• Contrabando de circulação, punido com prisão de 3 meses a 2 anos e multa de
uma a três vezes o valor dos direitos e demais imposições devidos.
4
Cfr.: CA, art. 182, nºs 1-3
5
Ibidem, art. 170.˚
6
Ibidem, art. 171.˚ e 172.˚
As multas aplicadas por transgressão prescrevem no prazo de quatro anos a
partir da data que transitou em julgado o despacho ou sentença que as aplicou. Importa
referir que a prescrição da multa envolve a prescrição da sanção acessória que ainda não
tenha sido executada7.
Nos crimes que forem praticados por despachantes, seus ajudantes, caixeiros
despachantes ou ajudantes aduaneiros, responde o proprietário das mercadorias que
tenha actuado com dolo ou negligência. O proprietário das mercadorias é sempre
responsável quanto ao pagamento dos direitos e demais imposições que forem devidos,
por todos os actos praticados pelos despachantes, seus ajudantes, caixeiros despachantes
ou agentes aduaneiros9.
7
Ibidem, art. 183.˚
8
Ibidem, art. 152.° e 156.˚
9
Ibidem, art. 157.°
Quanto ao nível de responsabilidade do infractor, nos crimes fiscais aduaneiros
existem circunstâncias atenuantes e circunstâncias agravantes.
10
SERVIÇO NACIONAL DAS ALFÂNEGAS: Gabinete Jurídico, “Procedimentos Sobre Instrução de
Processos Fiscais Aduaneiros” 07 de Setembro de 2012.
infracções são comuláveis, desde que tenham sido violados interesses jurídicos
distintos11.
A tentativa da prática de qualquer infracção fiscal aduaneira legalmente prevista
é punível nos mesmos termos da infracção consumada. Quanto aos cúmplices e
encobridores, devem ser aplicadas penas iguais às que hajam sido aplicadas aos autores;
os encobridores são punidos com as mesmas penas aplicáveis aos autores,
especialmente atenuadas12.
Se a infracção fiscal aduaneira for cometida por mais de uma pessoa, isto é,
havendo pluralidade de infractores, será apliacada a cada um dos infractores a pena
correspondente à infracção. Caso se verifique infracção na bagagem de vários
passageiros da mesma família viajando juntos, aplicar-se-à uma só multa, por cujo
pagamento são todos solidariamente responsáveis.
São igualmente responsáveis pela prática das infracções fiscais aduaneiras as
pessoas colectivas e entidades equiparadas, quando as infracções cometidas pelos seus
agentes, órgãos ou representantes em seu nome ou no seu interesse. Essa
responsabilidade é excluída quando o agente, órgão o representante tiver actuado contra
ordens ou instruções expressas de quem de direito. A responsabilidade das pessoas
colectivas e das entidades equiparadas não exclui a responsabilidade individual dos dos
seus agentes, órgãos ou representantes que tenham praticado a infracção. Se a sanção
for aplicada a uma entidade sem personalidade jurídica, responderá por ela o património
comum dos associados e, na sua falta ou insuficiência, solidariamente o património de
cada um.13
O ponto de partida pode ser de diversa gênese; nalguns casos, o processo por
infracção fiscal aduaneira começa por um Auto de notícia, quando a autoridade ou
agente de autoridade verificar pessoalmente os factos constitutivos de infracção fiscal
aduaneira, levantando o auto de notícia, desde que para tanto seja competente e, de
11
Cfr.: CA, art 144.˚
12
Ibidem, art. 146.˚
13
Ibidem.
imediato, o remeter à entidade que deva instituir o respectivo processo. Importa-nos
dizer que o auto de notícia somente deve ser levado nos casos de flagrante delito14.
Noutros casos o processo por infracção fiscal aduaneira começa com uma
participação, quando algum funcionário sem competência para levantar o auto de notícia
tiver conhecimento, no exercício ou por causa do exercício das suas funções, de
qualquer infracção, participando à autoridade competente para o seu processamento15.
Por fim, podem os processos por infracção fiscal aduaneira começar com uma
denúncia, podendo esta partir de qualquer pessoa, funcionária ou não. Neste último
caso, não estando a pessoa denunciante familiarizada com todas as normas
especificamente aplicáveis ao caso, pode não cumpri-las por desconhecer todos os
procedimentos exigíveis. E, por conseguinte, a autoridade receptora da denúncia deve
ter o bom senso de suprir as deficiências, chamando o denunciante para as colmatar ou
investigando por si própria com o mesmo fim. Isto para não se correr o risco de ficar
impune uma infracção merecedora de adequado processo de infracção17.
Desde logo, há que alertar para o facto de as bases acabadas de indicar não
constituírem lista taxativa. A Administração Aduaneira pode instaurar o processo de
infracção fiscal aduaneira quando tenha suspeita da prática de uma infracção, mesmo
14
Cfr.: CA, art. 272.˚
15
Ibidem, art. 279.˚
16
Ibidem
17
Ibidem, art. 281.˚ nº 3
18
Ibidem, art. 281.˚ nº 3, 296.ᵒ e 293.˚ n.º 2.
que tal conhecimento não lhe tenha chegado por uma das vias acima mencionadas. É o
caso, ainda que raro, de ser o próprio infrator, mediante declaração, que dá a conhecer à
autoridade aduaneira que cometeu uma infracção fiscal aduaneira.
O processo fiscal ocasionado por infracção fiscal aduaneira tem duas fases: a
fase instrutiva e a fase contenciosa.
19
Cfr.: CA, art. 271.˚ à 314.˚
20
É o conjunto de diligências destinadas à instrução do processo, com excepção da instrução
contraditória. [O QUE É ISTO???]
21
Cfr.: CA, arts. 224.˚, 225.˚e 343.˚
que de certa forma estejam devidamente decretadas por lei aduaneira e legislação
complementar.
A aplicação das penas, entre os limites fixados na lei para cada uma, depende da
culpabilidade do infractor, tendo-se em atenção a gravidade do facto criminoso, seus
resultados, a intensidade do dolo ou grau da culpa, ou motivos do crime e a
personalidade do infractor.