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1. Introdução
Em todo o mundo, estima-se que a agropecuária seja responsável por aproximadamente 18%
do total da emissão de gases causadores do efeito estufa, sendo 9% de dióxido de carbono
(CO2), 37% de metano (CH4) e 65% de óxido nitroso (N2O) (FAO, 2015). Segundo Slade et
al. (2016), os Gases de Efeito Estufa (GEE) são os maiores contribuintes para o aquecimento
global e alterações climáticas. Além disso, estima-se que as emissões de GEE provenientes da
agricultura e associadas à mudança no uso da terra contribuíram com 30% das emissões
antropogênicas globais em 2010 (SLADE et al., 2016). Desse total de emissões, a produção
de gado contribui com cerca de dois terços (Figura 1a), com emissões diretas que emanam
principalmente da fermentação entérica bovina (Figura 1b). Estima-se ainda que a produção
de carne e leite seja responsável por 60% das emissões totais de produção agropecuária
(Figura 1c).
a) Contribuições para todas as emissões agrícolas diretas com as emissões da produção pecuária dividida em duas formas
alternativas: b) de acordo com os diferentes tipos de emissões e c) diferentes tipos de gado. Fonte: Slade et al. (2016)
O metano produzido a partir da fermentação entérica é considerado uma das principais causas
de produção GEE globalmente. A produção de CH4 é parte do processo digestivo dos
herbívoros ruminantes e ocorre no rúmen (PEDREIRA e PRIMAVESI, 2011). O óxido
nitroso é um GEE cuja concentração na atmosfera aumenta a uma taxa de 0,26% ao ano
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(BRASIL, 2010a). Acredita-se que a tendência de aumento das concentrações de N2O irá
continuar nas próximas décadas, principalmente pela expansão da área agrícola nos países em
desenvolvimento, aos quais se associa o crescente consumo de fertilizantes nitrogenados.
As formas para estimar as emissões de CH4 e N2O são diferenciadas de acordo com a sua
precisão e detalhes. A abordagem “Tier 1” é indicada quando faltam fatores de emissão
específicos para o país, ou limitações quanto aos dados de atividade. A “Tier 2” é aconselhada
quando existem fatores de emissão disponíveis específicos para as principais condições do
país ou região e/ou maior detalhamento para os dados das atividades. A “Tier 3”, se refere ao
uso de procedimentos metodológicos desenvolvidos especificamente pelo país, que podem
incluir modelagem e maior detalhamento das medidas dos inventários.
2. Metodologia
A pesquisa realizada com este trabalho classifica-se, quanto à natureza, como aplicada e
quanto à abordagem do problema, como qualitativa e quantitativa. Com relação aos objetivos,
esta pesquisa pode ser classificada como exploratória, descritiva e explicativa. Para o local de
estudo, uma fazenda produtora de leite bovino foi definida como modelo representativo,
devido ao seu volume de produção e nível de tecnologia superiores em relação às demais
propriedades existentes na região.
A coleta de dados foi efetuada através de visitas in loco e entrevistas não-estruturadas com o
produtor rural e com os auxiliares da produção, sendo realizada a caracterização da
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A fazenda compreende uma área de 67,8 hectares, com um rebanho de 128 animais composto
por 52 vacas em lactação, 38 vacas secas, 18 novilhas e 20 bezerras. Os animais são criados
em sistema semi-intensivo, que consiste em pasto com suplementação com concentrado.
Durante a coleta de dados, a produtividade média de leite era de aproximadamente 970 litros
por dia (6808,65 litros/vaca/ano). Há o cultivo de palma e milho para a produção do volumoso
e da silagem. A área de pasto irrigado compreende 11 hectares. O pastejo é rotacionado com a
área dividida em 100 piquetes, onde são usados três tipos de gramíneas, a saber: Mombaça,
Xaraés – MG5 e Tifton. A pastagem é adubada anualmente com nitrogênio (ureia) e super
simples (16% a 18% de P2O5 e 18% a 20% de Cálcio).
Os animais são alimentados de acordo com a categoria representada. No caso das vacas com
maior produtividade, além do pasto, a dieta é suplementada com o fornecimento de
concentrado a base de milho. As vacas de produtividade intermediária têm a dieta composta
por pastagem, enquanto que aquelas com menor produtividade se alimentam de resíduos da
pastagem. A ordenha é mecânica e ocorre em dois períodos, durante a manhã todas as vacas
em lactação são ordenhadas. Um segundo período de ordenha é realizado à tarde com as vacas
em lactação que possuem maior produtividade. O leite obtido é resfriado em tanque com
volume nominal de 2.050 litros e destinado em dias alternados às indústrias de laticínios da
região para processamento.
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Para obtenção dos fatores de emissão de CH4 provenientes da fermentação entérica, bem
como do manejo dos dejetos foi utilizado o método “Tier 2” contido no décimo capítulo do
quarto volume das Diretrizes para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC): Agriculture, Forestry and Other Land
Use – Emissions From Livestock and Manure Management (IPCC, 2006a). Destaca-se que
para comparação com estudos nacionais, realizados por Olszensvski (2011), a emissão de
metano proveniente do manejo de dejetos também foi estimada pelo método “Tier 1” do
referido volume.
O capítulo 11 (Agriculture, Forestry and Other Land Use - N2O Emissions from Managed
Soils, and CO2 Emissions from Lime and Urea Application (IPCC, 2006b)), do volume 4 foi
utilizado para estimar as emissões de N2O provenientes do uso da fertilização nitrogenada e
do manejo dos dejetos na fazenda estudada, que são depositados no solo conforme são
produzidos.
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Os fatores de emissão de metano gerados pela fermentação entérica para cada uma das
categorias animais (vacas, novilhas, bezerras) são apresentados pela Equação 01 (IPCC,
2006a; BRASIL, 2010a):
Onde:
A Equação 02 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a) foi utilizada para o cálculo da ingestão de
energia bruta (EB) para cada categoria animal:
Onde:
NEt é a energia necessária para o trabalho, calculada apenas para os animais de tração,
considerada para as categorias animais deste trabalho como zero;
Para o gado de leite, a energia requerida para a manutenção (NEm) é apresentada pela Equação
03 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a):
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Onde:
W é o peso do animal (kg) (Tabela 01);
Tabela 01 - Dados do rebanho leiteiro nacional
A energia líquida necessária para a atividade (NEa) é avaliada como uma parte da energia
requerida para a manutenção, conforme observado pela Equação 04 (IPCC, 2006a; BRASIL,
2010a):
Para o cálculo da energia líquida necessária para a lactação (NEl) a Equação 05 (IPCC, 2006a;
BRASIL, 2010a) foi utilizada:
Onde:
A energia líquida necessária para a gestação (NEg) é representada como uma fração da energia
líquida necessária para a manutenção e pôde ser obtida através da Equação 06 (IPCC, 2006a;
BRASIL, 2010a):
Onde:
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A energia líquida necessária para o crescimento (NEc) é avaliada apenas para os bovinos
jovens e foi obtida através da Equação 07 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a):
Onde:
W é o peso do animal;
Os Valores de RND e RNDc foram obtidos pelas Equações 08 e 09 (IPCC, 2006a; BRASIL,
2010a) respectivamente:
Para o cálculo dos fatores de emissão de metano provenientes do manejo dos dejetos animais
(FEME) a Equação 10 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a) foi utilizada, sendo calculada para cada
uma das categorias animais avaliadas.
Onde:
EDsv é a excreção diária média de sólidos voláteis, por animal, para cada categoria
(kg/cabeça/dia);
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A excreção diária média de sólidos voláteis (EDsv), em kg matéria seca (MS)/dia, é obtida
pela Equação 11 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a):
Onde:
ASH é a fração do conteúdo de cinzas nos dejetos produzidos pelo animal, foi utilizado
o valor padrão (IPCC, 2006) (8%).
As emissões diretas de N2O ocorrem pela adição aos solos de fertilizantes sintéticos (FSN) e
estercos animais (FAM), pelo cultivo de plantas fixadoras de N2 (FBN), pela incorporação no
solo de resíduos de colheita (FCR), e pela mineralização de nitrogênio associada ao cultivo de
solos orgânicos (FOS). Em síntese, as emissões diretas de N2O de solos agrícolas pelo “Tier 1”
são calculadas pela Equação 12 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):
Onde:
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Onde:
FRACGASF é a fração do N aplicado que volatiliza na forma de NH3 e NOx: 10%, valor
padrão, de acordo com o IPCC (2006b).
A quantificação do total de N na forma de dejetos aplicados ao solo como adubo foi obtida
através da Equação 14 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):
Onde:
t é a categoria do rebanho;
Onde:
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A quantidade de N que retorna anualmente ao solo com os resíduos agrícolas (FCR) foi
calculada pela Equação 16 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):
Onde:
FRACR é a fração do N total acumulado pela planta removido com a colheita (0,50,
segundo IPCC, 1996);
FRACBurn é a fração do N total dos restos culturais que são queimados, baseado nos
dados do Inventário das Emissões de CH4 e N2O pela queima de Resíduos Agrícolas.
3. Resultados e discussão
Os resultados das equações utilizadas para estimar o consumo de energia bruta diária para o
rebanho da propriedade estudada, bem como os fatores de emissão de metano proveniente da
fermentação entérica para cada categoria animal são apresentados na Tabela 02.
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NEm = Energia necessária para Manutenção; NEa = Energia necessária para Atividade; NEl = Energia
necessária para lactação; NEg = Energia necessária para a gestação; NEc = Energia necessária para o
crescimento; EB = Energia Bruta; FeFE = Fator de Emissão para a Fermentação Entérica
O resultado obtido para as vacas leiteiras nesse trabalho foi superior ao relatado pelo IPCC
(2006a), onde os fatores de emissão de metano originado da fermentação entérica do gado
leiteiro são estimados em torno de 63 kg CH4/cabeça/ano. O valor apresentado pelo IPCC é
semelhante ao relatado por Olszensvski (2011) para a propriedade extensiva, onde o fator de
emissão de CH4 foi de 62,77 kg CH4/cabeça/ano, enquanto que na propriedade intensiva,
107,27 kg CH4/cabeça/ano. Resultados de pesquisas desenvolvidas por Pedreira et al. (2009)
utilizando a técnica do gás traçador SF6, indicaram uma variação da emissão de metano por
vacas em lactação de 14 a 16 g por hora, ou seja, aproximadamente 131 kgCH4/cabeça/ano.
De acordo com Pedreira e Primavesi (2011), tais variações estão associadas ao fator potencial
de produção, considerando-se que os animais permanecerão quase o ano todo consumindo as
dietas daquele período, o que não ocorre em condições reais no campo, pois durante uma
parte do ano os animais passam por escassez de alimentos e não tem acesso a aditivos, o que
gera menor quantidade de metano, embora a produção fique comprometida.
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O efeito ambiental é observado na prática, a exemplo do que ocorreu com os Estados Unidos,
que em 1944 possuía 25,6 milhões de vacas leiteiras produzindo 53,0 bilhões de quilos de
leite, e em 2007 tinha 9,2 milhões de vacas produzindo 84,2 bilhões de quilos de leite
(CAPPER et al., 2009). Se a produtividade tivesse permanecido a mesma em 2007 seriam
necessárias 43,7 milhões de vacas ordenhadas para produzir o que apenas 9,2 milhões de
vacas produziram. Uma diferença de aproximadamente 33 milhões de cabeças, o que
representa uma grande diferença para as emissões de GEE (CARDOSO, 2012).
EDsv = Excreção Diária Média de Sólidos Voláteis; FeME = Fatores de Emissão para Manejo de dejetos
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Além disso, destaca-se que na propriedade em estudo os dejetos não são manejados, e se
depositam na pastagem, secando-se e se decompondo no campo, em condições aeróbias, de
modo que são esperadas quantidades mínimas de emissão de CH4 a partir dessa fonte, quando
em comparação com outras formas de manejo dos dejetos, tais como o armazenamento ou o
tratamento com base líquida (em lagoas, lagos, tanques ou poços), onde os dejetos se
decompõem anaerobicamente e podem produzir uma quantidade significativa de CH4.
Tomando como base a metodologia proposta pelo IPCC (2006b), considerando as emissões
diretas provenientes do manejo do solo, através do uso de fertilizantes nitrogenados, bem
como da deposição do dejeto sem manejo sobre a pastagem, obteve-se um total de 1,10 kg de
N2O emitidos para cada litro de leite produzido na propriedade estudada. Além disso, destaca-
se uma média anual de excreção de nitrogênio pelas fezes e urina de aproximadamente 70,08;
56,06 e 14,02 kg N/cabeça/ano, para vacas, novilhas e bezerras respectivamente.
4. Conclusão
Os resultados obtidos neste trabalho permitiram verificar uma elevada estimativa de emissões
de metano provenientes da fermentação entérica dos animais. Com relação a esse aspecto,
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Além das alterações no regime alimentar do rebanho, destaca-se também como alternativa o
melhoramento genético dos animais com o intuito de aumentar a produtividade através da
conversão alimentar, tendo assim uma redução no plantel, bem como das emissões de GEE
por eles gerados, entretanto, com a manutenção ou aumento da produção de leite.
REFERÊNCIAS
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pastures: The key to understanding the process of pasture decline. Agriculture, Ecosystems & Environment,
Amsterdam, 103(2): 389-403, 2004.
CAPPER, J. L.; CADY, R. A. & BAUMAN, D. E. The environmental impact of dairy production: 19944
compared with 2007. Journal of Animal Sicence, 87: 2160-2167, 2009.
CARDOSO, A.S. Avaliação das emissões de gases de efeito estufa em diferentes cenários de intensificação
de uso das pastagens no Brasil Central. Seropédica, 2012.
DE OLIVEIRA, O. C.; DE OLIVEIRA, I. P.; ALVES, B. J. R.; URQUIAGA, S.; BODDEY, R. M. Chemical
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PEDREIRA, M.S.; PRIMAVESI, O. Quantificação das emissões e nutrição para redução da produção de metano
por bovinos. In: Desertificação e mudanças climáticas no semiárido brasileiro. 2011.
PEDREIRA, M.S.; PRIMAVESI, O.; LIMA, M.A.; FRIGHETTO, R.; OLIVEIRA, S.G.; BERCHIELLI, T.T.
Ruminal methane emission by dairy cattle in southeast Brazil. Scientia Agricola, Piracicaba, 66(6): 742-750,
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gas emissions from cattle farming. Scientific Reports | 6:18140 | DOI: 10.1038/srep18140.2016. Disponível em:
www.nature.com/scientificreports/.2016.
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