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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

ESTIMATIVA DAS EMISSÕES DE


METANO E ÓXIDO NITROSO DA
PRODUÇÃO DE LEITE NO
TERRITÓRIO DE IDENTIDADE MÉDIO
SUDOESTE DA BAHIA
Laurine Santos de Carvalho (IFBA )
laurinecarvalho@hotmail.com
Felipe Ungarato Ferreira (FAINOR )
ungarato@yahoo.com.br
Luciano Brito Rodrigues (UESB )
rodrigueslb@gmail.com

No presente trabalho as emissões de metano e óxido nitroso em uma


fazenda produtora de leite do Território de Identidade Médio Sudoeste
da Bahia foram estimadas com o intuito de analisar e utilizar os
resultados para apontar os pontos crítiicos da atividade relacionados
ao potencial de aquecimento global, bem como sugestões de melhorias,
de forma a auxiliar os tomadores de decisão na gestão da produção.
Visitas in loco e entrevistas não-estruturadas com o produtor rural e
com os auxiliares do processo produtivo foram realizadas visando
obter a maior quantidade de dados primários possíveis, que
representassem o sistema produtivo na propriedade estudada da
melhor forma. A metodologia proposta pelo Intergovernmental Panel
on Climate Change (IPCC) foi utilizada para a estimativa dos fatores
de emissão. Além da metodologia do IPCC, os relatórios de referência
do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação foram utilizados na
obtenção das estimativas nacionais para a realização dos cálculos, já
que as fornecidas pelo IPCC são para toda a América Latina. Os
resultados apresentaram uma elevada estimativa de emissões de
metano provenientes da fermentação entérica dos animais quando em
comparação com outros trabalhos. Com relação a esse aspecto,
possíveis alterações no regime alimentar do rebanho poderiam
contribuir para a redução de tais emissões. Além disso, destaca-se
também como alternativa o melhoramento genético dos animais com o
intuito de aumentar a produtividade através da conversão alimentar,
tendo assim uma redução no plantel, bem como das emissões de gases
por eles gerados, entretanto, com a manutenção ou aumento da
produção de leite.

Palavras-chave: Gestão Ambiental, Agroindústria, Pecuária


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1. Introdução

Em todo o mundo, estima-se que a agropecuária seja responsável por aproximadamente 18%
do total da emissão de gases causadores do efeito estufa, sendo 9% de dióxido de carbono
(CO2), 37% de metano (CH4) e 65% de óxido nitroso (N2O) (FAO, 2015). Segundo Slade et
al. (2016), os Gases de Efeito Estufa (GEE) são os maiores contribuintes para o aquecimento
global e alterações climáticas. Além disso, estima-se que as emissões de GEE provenientes da
agricultura e associadas à mudança no uso da terra contribuíram com 30% das emissões
antropogênicas globais em 2010 (SLADE et al., 2016). Desse total de emissões, a produção
de gado contribui com cerca de dois terços (Figura 1a), com emissões diretas que emanam
principalmente da fermentação entérica bovina (Figura 1b). Estima-se ainda que a produção
de carne e leite seja responsável por 60% das emissões totais de produção agropecuária
(Figura 1c).

Figura 1 - Contribuições globais para as emissões diretas de GEE pela agropecuária

a) Contribuições para todas as emissões agrícolas diretas com as emissões da produção pecuária dividida em duas formas
alternativas: b) de acordo com os diferentes tipos de emissões e c) diferentes tipos de gado. Fonte: Slade et al. (2016)

O metano produzido a partir da fermentação entérica é considerado uma das principais causas
de produção GEE globalmente. A produção de CH4 é parte do processo digestivo dos
herbívoros ruminantes e ocorre no rúmen (PEDREIRA e PRIMAVESI, 2011). O óxido
nitroso é um GEE cuja concentração na atmosfera aumenta a uma taxa de 0,26% ao ano

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(BRASIL, 2010a). Acredita-se que a tendência de aumento das concentrações de N2O irá
continuar nas próximas décadas, principalmente pela expansão da área agrícola nos países em
desenvolvimento, aos quais se associa o crescente consumo de fertilizantes nitrogenados.

Os fatores de emissão fornecem um indicativo da quantidade de GEE que são emitidos a


partir de uma determinada fonte ou atividade e podem ser obtidos através dos métodos
desenvolvidos pelo IPCC (2006a,b). Porém, tais métodos não estimam as emissões de CO2,
pois, as emissões anuais de dióxido de carbono líquido são assumidas como zero, onde, o CO2
usado na fotossíntese pelas plantas é devolvido para a atmosfera como CO2 respirado.
Entretanto, uma porção de carbono é retornado como metano e por este motivo requer uma
consideração separada (IPCC, 2006a).

As formas para estimar as emissões de CH4 e N2O são diferenciadas de acordo com a sua
precisão e detalhes. A abordagem “Tier 1” é indicada quando faltam fatores de emissão
específicos para o país, ou limitações quanto aos dados de atividade. A “Tier 2” é aconselhada
quando existem fatores de emissão disponíveis específicos para as principais condições do
país ou região e/ou maior detalhamento para os dados das atividades. A “Tier 3”, se refere ao
uso de procedimentos metodológicos desenvolvidos especificamente pelo país, que podem
incluir modelagem e maior detalhamento das medidas dos inventários.

Diante do contexto apresentado, no que tange à problemática da emissão de GEE da produção


de leite, este trabalho foi realizado com o intuito de estimar as emissões de metano e óxido
nitroso em uma propriedade rural do Território de Identidade Médio Sudoeste da Bahia, bem
como propor sugestões de melhorias na atividade que permitam a redução das emissões de
GEE, de forma a auxiliar os tomadores de decisão na gestão da produção.

2. Metodologia

A pesquisa realizada com este trabalho classifica-se, quanto à natureza, como aplicada e
quanto à abordagem do problema, como qualitativa e quantitativa. Com relação aos objetivos,
esta pesquisa pode ser classificada como exploratória, descritiva e explicativa. Para o local de
estudo, uma fazenda produtora de leite bovino foi definida como modelo representativo,
devido ao seu volume de produção e nível de tecnologia superiores em relação às demais
propriedades existentes na região.

A coleta de dados foi efetuada através de visitas in loco e entrevistas não-estruturadas com o
produtor rural e com os auxiliares da produção, sendo realizada a caracterização da

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propriedade, através da identificação do tamanho da propriedade, da produtividade, do


rebanho e do sistema de produção.

A fazenda compreende uma área de 67,8 hectares, com um rebanho de 128 animais composto
por 52 vacas em lactação, 38 vacas secas, 18 novilhas e 20 bezerras. Os animais são criados
em sistema semi-intensivo, que consiste em pasto com suplementação com concentrado.
Durante a coleta de dados, a produtividade média de leite era de aproximadamente 970 litros
por dia (6808,65 litros/vaca/ano). Há o cultivo de palma e milho para a produção do volumoso
e da silagem. A área de pasto irrigado compreende 11 hectares. O pastejo é rotacionado com a
área dividida em 100 piquetes, onde são usados três tipos de gramíneas, a saber: Mombaça,
Xaraés – MG5 e Tifton. A pastagem é adubada anualmente com nitrogênio (ureia) e super
simples (16% a 18% de P2O5 e 18% a 20% de Cálcio).

Os animais são alimentados de acordo com a categoria representada. No caso das vacas com
maior produtividade, além do pasto, a dieta é suplementada com o fornecimento de
concentrado a base de milho. As vacas de produtividade intermediária têm a dieta composta
por pastagem, enquanto que aquelas com menor produtividade se alimentam de resíduos da
pastagem. A ordenha é mecânica e ocorre em dois períodos, durante a manhã todas as vacas
em lactação são ordenhadas. Um segundo período de ordenha é realizado à tarde com as vacas
em lactação que possuem maior produtividade. O leite obtido é resfriado em tanque com
volume nominal de 2.050 litros e destinado em dias alternados às indústrias de laticínios da
região para processamento.

A Figura 2 apresenta um diagrama da produção de leite na fazenda estudada levando em


consideração as emissões de GEE estimadas neste trabalho, as entradas (insumos) e saídas
(resíduos, efluentes, emissões, carne e leite) da produção. As emissões consideradas no estudo
foram as provenientes da fermentação entérica (metano), dos dejetos (metano e óxido
nitroso), e fertilização das pastagens (óxido nitroso).

Figura 02 – Sistema de produção na fazenda estudada

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2.1. Fatores de emissão

Para obtenção dos fatores de emissão de CH4 provenientes da fermentação entérica, bem
como do manejo dos dejetos foi utilizado o método “Tier 2” contido no décimo capítulo do
quarto volume das Diretrizes para Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa do Painel
Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC): Agriculture, Forestry and Other Land
Use – Emissions From Livestock and Manure Management (IPCC, 2006a). Destaca-se que
para comparação com estudos nacionais, realizados por Olszensvski (2011), a emissão de
metano proveniente do manejo de dejetos também foi estimada pelo método “Tier 1” do
referido volume.

O capítulo 11 (Agriculture, Forestry and Other Land Use - N2O Emissions from Managed
Soils, and CO2 Emissions from Lime and Urea Application (IPCC, 2006b)), do volume 4 foi
utilizado para estimar as emissões de N2O provenientes do uso da fertilização nitrogenada e
do manejo dos dejetos na fazenda estudada, que são depositados no solo conforme são
produzidos.

Além das equações do IPCC, os relatórios de referência do Ministério de Ciência Tecnologia


e Inovação (BRASIL, 2010a,b) foram utilizados na obtenção das estimativas nacionais para a
realização dos cálculos, já que as fornecidas pelo IPCC são para toda a América Latina. A
seguir são apresentadas as equações que foram utilizadas para os cálculos dos fatores de
emissão.

2.1.1 Fermentação entérica

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Os fatores de emissão de metano gerados pela fermentação entérica para cada uma das
categorias animais (vacas, novilhas, bezerras) são apresentados pela Equação 01 (IPCC,
2006a; BRASIL, 2010a):

Onde:

 FEFE é o fator de emissão de metano pela fermentação entérica;


 EB é a ingestão de Energia Bruta; e
 Ym é a taxa de conversão do metano (0,06 de acordo com IPCC (2006a)).

A Equação 02 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a) foi utilizada para o cálculo da ingestão de
energia bruta (EB) para cada categoria animal:

Onde:

 NEm é a energia necessária para a manutenção;

 NEa é a energia necessária para a atividade;

 NEl é a energia necessária para a lactação;

 NEt é a energia necessária para o trabalho, calculada apenas para os animais de tração,
considerada para as categorias animais deste trabalho como zero;

 NEg é a energia necessária para a gestação;

 NEc é a energia necessária para o crescimento;

 RND é a razão da energia líquida, consumida para manutenção, lactação, trabalho e


gestação, para a energia digerível consumida;

 RNDc é a razão entre a energia líquida consumida para o crescimento e a


correspondente energia digerível consumida; e

 DE é a Digestibilidade do alimento fornecido.

Para o gado de leite, a energia requerida para a manutenção (NEm) é apresentada pela Equação
03 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a):

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Onde:
 W é o peso do animal (kg) (Tabela 01);
Tabela 01 - Dados do rebanho leiteiro nacional

Fonte: Brasil (2010a)

A energia líquida necessária para a atividade (NEa) é avaliada como uma parte da energia
requerida para a manutenção, conforme observado pela Equação 04 (IPCC, 2006a; BRASIL,
2010a):

Para o cálculo da energia líquida necessária para a lactação (NEl) a Equação 05 (IPCC, 2006a;
BRASIL, 2010a) foi utilizada:

Onde:

 PL é a produção de leite (kg/cabeça/dia); e

 %G é o percentual de gordura do leite (4,3% conforme relatório BRASIL (2010a)).

A energia líquida necessária para a gestação (NEg) é representada como uma fração da energia
líquida necessária para a manutenção e pôde ser obtida através da Equação 06 (IPCC, 2006a;
BRASIL, 2010a):

Onde:

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 PR é a taxa de prenhez (%) (Tabela 01).

A energia líquida necessária para o crescimento (NEc) é avaliada apenas para os bovinos
jovens e foi obtida através da Equação 07 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a):

Onde:

 W é o peso do animal;

 WG é o ganho de peso do animal jovem (kg/cabeça/dia)

Os Valores de RND e RNDc foram obtidos pelas Equações 08 e 09 (IPCC, 2006a; BRASIL,
2010a) respectivamente:

2.1.2 Manejo de dejetos

Para o cálculo dos fatores de emissão de metano provenientes do manejo dos dejetos animais
(FEME) a Equação 10 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a) foi utilizada, sendo calculada para cada
uma das categorias animais avaliadas.

Onde:

 EDsv é a excreção diária média de sólidos voláteis, por animal, para cada categoria
(kg/cabeça/dia);

 BOi é a capacidade máxima de produção de metano para os dejetos produzidos pelo


animal (m³ CH4/kg). Para o gado leiteiro, foi utilizado o valor padrão (IPCC, 2006)
para países em desenvolvimento (0,13 m³ CH4/kg);

 MCF é o fator de conversão de metano para o sistema de manejo de dejetos,


considerando o clima da região (2,0% conforme IPCC, 2006a);

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 MS é a fração de animais por categoria, relacionada ao sistema de manejo de dejetos


na região.

A excreção diária média de sólidos voláteis (EDsv), em kg matéria seca (MS)/dia, é obtida
pela Equação 11 (IPCC, 2006a; BRASIL, 2010a):

Onde:

 EB é a ingestão diária média de energia bruta (MJ/cabeça/dia);

 De é a taxa de digestibilidade do animal (%); e

 ASH é a fração do conteúdo de cinzas nos dejetos produzidos pelo animal, foi utilizado
o valor padrão (IPCC, 2006) (8%).

2.1.3 Emissões nitrogenadas

As emissões diretas de N2O ocorrem pela adição aos solos de fertilizantes sintéticos (FSN) e
estercos animais (FAM), pelo cultivo de plantas fixadoras de N2 (FBN), pela incorporação no
solo de resíduos de colheita (FCR), e pela mineralização de nitrogênio associada ao cultivo de
solos orgânicos (FOS). Em síntese, as emissões diretas de N2O de solos agrícolas pelo “Tier 1”
são calculadas pela Equação 12 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):

Onde:

 N- N2O é a emissão direta anual de N2O de solos agrícolas;

 FSN é a quantidade anual de Nitrogênio (N) como fertilizante nitrogenado aplicada ao


solo, descontadas as quantidades de N que volatilizam como NH3 e NOx;

 FAM é a quantidade anual N em estercos animais, intencionalmente aplicada ao solo,


descontadas as quantidades de N que volatilizam como NH3 e NOx;

 FBN é a quantidade de N fixado biologicamente por culturas a cada ano;

 FCR é a quantidade de N em resíduos de colheita que retornam anualmente ao solo;

 FOS é a área de solos orgânicos cultivada anualmente;

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 FE1 é o fator de emissão direta de N2O aplicado as quantidades de N adicionadas aos


solos (FSN, FAM, FBN e FCR), em kg N-N2O por kg N adicionado;

 FE2 é o fator de emissão direta de N2O de solos orgânicos cultivados, em kg N-


N2O/ha.

Para ajustar as quantidades de N como fertilizante, aplicadas ao solo, em função das


quantidades volatilizadas de NH3 e NOx, para obtenção de FSN, utilizou-se a Equação 13
(IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):

Onde:

 FRACGASF é a fração do N aplicado que volatiliza na forma de NH3 e NOx: 10%, valor
padrão, de acordo com o IPCC (2006b).

A quantificação do total de N na forma de dejetos aplicados ao solo como adubo foi obtida
através da Equação 14 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):

Onde:

 t é a categoria do rebanho;

 N(t) é o número de animais por categoria;

 Nex(t) o total de N excretado anualmente por animal de cada categoria;

 FRACGASM é a fração do N adicionado que é perdida por volatilização de NH3 e NOx


(Valor padrão segundo o IPCC (2006b) é 0,20); e

 FRACPRP é a fração do N total excretado pelos animais diretamente em pastagens.

A emissão de N2O dos dejetos depositados diretamente na pastagem (N2O-N(mm)) foi


calculada pela Equação 15 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):

Onde:

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 FP é a quantidade anual de N excretado diretamente na pastagem; e

 EF3 é o fator de emissão direta para pastagens

A quantidade de N que retorna anualmente ao solo com os resíduos agrícolas (FCR) foi
calculada pela Equação 16 (IPCC, 2006b; BRASIL, 2010b):

Onde:

 Crop é a produção útil de todas as culturas na propriedade. Os subscritos O e BF


referem-se a culturas não fixadoras e fixadoras de N2 atmosférico, respectivamente;

 FRACNCR é a fração do N da matéria seca;

 FRACR é a fração do N total acumulado pela planta removido com a colheita (0,50,
segundo IPCC, 1996);

 FRACBurn é a fração do N total dos restos culturais que são queimados, baseado nos
dados do Inventário das Emissões de CH4 e N2O pela queima de Resíduos Agrícolas.

3. Resultados e discussão

3.1 Fermentação entérica

Os resultados das equações utilizadas para estimar o consumo de energia bruta diária para o
rebanho da propriedade estudada, bem como os fatores de emissão de metano proveniente da
fermentação entérica para cada categoria animal são apresentados na Tabela 02.

Tabela 02 - Fatores de emissão do metano – Fermentação Entérica

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NEm = Energia necessária para Manutenção; NEa = Energia necessária para Atividade; NEl = Energia
necessária para lactação; NEg = Energia necessária para a gestação; NEc = Energia necessária para o
crescimento; EB = Energia Bruta; FeFE = Fator de Emissão para a Fermentação Entérica

O resultado obtido para as vacas leiteiras nesse trabalho foi superior ao relatado pelo IPCC
(2006a), onde os fatores de emissão de metano originado da fermentação entérica do gado
leiteiro são estimados em torno de 63 kg CH4/cabeça/ano. O valor apresentado pelo IPCC é
semelhante ao relatado por Olszensvski (2011) para a propriedade extensiva, onde o fator de
emissão de CH4 foi de 62,77 kg CH4/cabeça/ano, enquanto que na propriedade intensiva,
107,27 kg CH4/cabeça/ano. Resultados de pesquisas desenvolvidas por Pedreira et al. (2009)
utilizando a técnica do gás traçador SF6, indicaram uma variação da emissão de metano por
vacas em lactação de 14 a 16 g por hora, ou seja, aproximadamente 131 kgCH4/cabeça/ano.

De acordo com Pedreira e Primavesi (2011), tais variações estão associadas ao fator potencial
de produção, considerando-se que os animais permanecerão quase o ano todo consumindo as
dietas daquele período, o que não ocorre em condições reais no campo, pois durante uma
parte do ano os animais passam por escassez de alimentos e não tem acesso a aditivos, o que
gera menor quantidade de metano, embora a produção fique comprometida.

Além disso, a intensidade da emissão de metano proveniente da fermentação entérica depende


principalmente do tipo de animal, do consumo de alimentos e do grau de digestibilidade da
massa digerida. Dessa forma, as indicações para a redução das emissões de metano pela
pecuária estão relacionadas à melhoria dos pastos e da dieta, com fornecimento de
carboidratos rapidamente digestíveis, à manutenção de altos níveis de ingestão, à utilização de
forragens de melhor qualidade, à suplementação alimentar, à qualidade e melhoramento
genético dos animais, bem como outras medidas que reflitam na melhor eficiência produtiva,
resultando em ciclos de produção mais curtos (PEDREIRA e PRIMAVESI, 2011).

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Ainda com relação às práticas de alimentação, o uso de concentrados geralmente aumenta a


emissão de CH4 por unidade animal, mas também aumenta a produção de leite e carne, e o
resultado final é uma redução total das emissões de CH4 por unidade de produto (kg leite ou
de carne) (CARDOSO, 2012). Segundo Pedreira et al., (2009) usando-se a mesma dieta e
manejo, as emissões por vacas da raça Holandesa foram superiores do que pelas vacas
leiteiras mestiças, entretanto, eles ressaltam que as vacas da raça Holandesa permitem a
diluição das emissões de CH4 por kg de leite devido a sua maior produção de leite.

O efeito ambiental é observado na prática, a exemplo do que ocorreu com os Estados Unidos,
que em 1944 possuía 25,6 milhões de vacas leiteiras produzindo 53,0 bilhões de quilos de
leite, e em 2007 tinha 9,2 milhões de vacas produzindo 84,2 bilhões de quilos de leite
(CAPPER et al., 2009). Se a produtividade tivesse permanecido a mesma em 2007 seriam
necessárias 43,7 milhões de vacas ordenhadas para produzir o que apenas 9,2 milhões de
vacas produziram. Uma diferença de aproximadamente 33 milhões de cabeças, o que
representa uma grande diferença para as emissões de GEE (CARDOSO, 2012).

3.2 Manejo dos dejetos

Os fatores de emissão de metano para cada categoria animal provenientes do manejo de


dejetos, com base na metodologia do IPCC (2006a), e das estimativas de BRASIL (2010a),
para as abordagens Tier 1 e 2 são apresentados na Tabela 03.

Tabela 03 - Fatores de emissão do metano – Manejo dos dejetos

EDsv = Excreção Diária Média de Sólidos Voláteis; FeME = Fatores de Emissão para Manejo de dejetos

Olszensvski (2011), utilizando a abordagem “Tier 1” relatou fatores de emissão da ordem de


1889,38; 915,98; e 89,67 kgCH4/cabeça/ano, para vacas, novilhas e bezerras, respectivamente.
Entretanto, destaca-se que conforme BRASIL (2010a), para o gado bovino e suíno, devido à
importância das emissões provenientes dessas criações, é aconselhável o uso da abordagem
“Tier 2” para o cálculo dos fatores de emissão decorrentes do manejo de dejetos, evitando-se
assim uma superestimava das emissões.

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Além disso, destaca-se que na propriedade em estudo os dejetos não são manejados, e se
depositam na pastagem, secando-se e se decompondo no campo, em condições aeróbias, de
modo que são esperadas quantidades mínimas de emissão de CH4 a partir dessa fonte, quando
em comparação com outras formas de manejo dos dejetos, tais como o armazenamento ou o
tratamento com base líquida (em lagoas, lagos, tanques ou poços), onde os dejetos se
decompõem anaerobicamente e podem produzir uma quantidade significativa de CH4.

Outro fator relacionado à emissão de metano é a composição do dejeto, que é determinada


pela dieta animal, de modo que quanto maior o conteúdo de energia e a digestibilidade do
alimento, maior a capacidade de produção de CH4. Um gado alimentado com uma dieta de
alta qualidade produz um dejeto com maior potencial de gerar metano, ao passo que um gado
alimentado com uma dieta mais fibrosa produzirá um dejeto contendo material orgânico mais
complexo, tal como celulose, hemicelulose e lignina (BRASIL, 2010a). Esta segunda situação
estaria mais associada ao gado criado a pasto em condições tropicais, conforme situação
verificada nesse trabalho.

3.2 Emissões nitrogenadas

Tomando como base a metodologia proposta pelo IPCC (2006b), considerando as emissões
diretas provenientes do manejo do solo, através do uso de fertilizantes nitrogenados, bem
como da deposição do dejeto sem manejo sobre a pastagem, obteve-se um total de 1,10 kg de
N2O emitidos para cada litro de leite produzido na propriedade estudada. Além disso, destaca-
se uma média anual de excreção de nitrogênio pelas fezes e urina de aproximadamente 70,08;
56,06 e 14,02 kg N/cabeça/ano, para vacas, novilhas e bezerras respectivamente.

Segundo Cardoso (2012) a pecuária tecnicamente conduzida apresenta potencial de mitigar as


emissões de GEE. O nitrogênio, por exemplo, é um elemento que limita a produtividade da
pastagem (BODDEY et al., 2004), e a adição de fertilizantes nitrogenados contornariam esse
problema e elevariam a produtividade (De OLIVEIRA et al., 2004). No entanto, a maior
adição de fertilizantes aumenta as emissões de N2O, e o mesmo poderia acontecer com o uso
de leguminosas em pastagens (CARDOSO, 2012).

4. Conclusão

Os resultados obtidos neste trabalho permitiram verificar uma elevada estimativa de emissões
de metano provenientes da fermentação entérica dos animais. Com relação a esse aspecto,

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possíveis alterações no regime alimentar do rebanho poderiam contribuir para a redução de


tais emissões.

A alimentação do rebanho está relacionada com a categoria de mudanças climáticas, sendo


que quanto mais digestíveis forem os alimentos, maior as emissões oriundas da fermentação
entérica. Logo, o oferecimento do alimento com maior digestibilidade, entretanto, com alta
qualidade nutricional para atender a demanda diária do animal, já seria um fator responsável
pela redução das emissões.

Além das alterações no regime alimentar do rebanho, destaca-se também como alternativa o
melhoramento genético dos animais com o intuito de aumentar a produtividade através da
conversão alimentar, tendo assim uma redução no plantel, bem como das emissões de GEE
por eles gerados, entretanto, com a manutenção ou aumento da produção de leite.

REFERÊNCIAS

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