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REGIONAL
Resumo
Este trabalho é um desmembramento de uma pesquisa maior, que tem por objetivo principal
entender o papel dos intelectuais no Norte de Minas no processo de organização das classes
sociais dessa região. Sendo assim, esta proposta trata especificamente da atuação política de
um intelectual, o economista e professor Alfredo Dollabela Portella Filho. Este intelectual
nasceu no ano de 1928, no Rio de Janeiro-RJ. A sua vida foi diretamente ligada ao ambiente
universitário, realizou diversos cursos no exterior, no Brasil ele se formou em Engenharia, em
1951, e em Economia, em 1958. Aliás foi nesta segunda área que ele mais se destacou. Em
virtude do trabalho do seu pai, na década de 1980 ela já residia na região Norte do Estado de
Minas Geais. A sua relevância para a história desta região foi o seu engajamento nas causas
separatista que eclodiram na região na segunda metade do século XX. Ele liderou dois dos
três movimentos emancipacionistas e desempenhou papel relevante no tocante a organização
e divulgação dos ideais das elites regionais. Para alcançar o objetivo proposto neste trabalho,
utilizaremos como fonte os artigos publicados pelo mesmo em jornais de circulação regional,
no período que compreende os anos de 1985 a 2005. Este estudo se insere no campo da Nova
História Política, sobretudo no tocante aos estudos biográficos. Tomaremos como base as
considerações de Antonio Gramsci acerca do papel dos intelectuais enquanto agentes
organizadores das classes sociais. Alfredo Dollabela se destacou no cenário político norte
mineiro como um dos idealizadores dos movimentos separatistas nortemineiros a partir de
1950. Publicou diversos textos e artigos sobre o tema, defendia que os problemas sociais que
da região só seriam exauridos com o separatismo. Acreditava que a identidade de ser mineiro
não deveria sobrepor a necessidade de se atingir o desenvolvimento que viria, segundo ele,
com a separação da região do restante do Estado de Minas Gerais.
Introdução
Este trabalho é fruto de uma pesquisa maior que investiga a atuação de quatro
intelectuais no processo de modernização do norte de Minas e no que tange a conquista da
hegemonia política e econômica das elites regionais. Os quatro intelectuais estudados são
Simeão Ribeiro Pires, Alfredo Dolabella, Luiz de Paula Ferreira e Pedro Santos. Eles foram
atores-chave nos meios empresarial e político da região, atuando na construção de uma
identidade regional e da hegemonia do grande capital na segunda metade do século XX no
norte de Minas.
Entre 1950 e 2000, o norte de Minas, com destaque para Montes Claros, passou por
uma ocidentalização, conceito gramsciano que significa a expansão da sociedade civil e sua
crescente importância na direção dos processos políticos e econômicos. (PEREIRA, 2007)
Mais concretamente, uma rede de entidades civis foram criadas neste período, a exemplo de
sindicatos de trabalhadores e patronais, igrejas, lojas maçônicas, jornais, emissoras de rádio e
tv, faculdades, editora e diversas ONGs.
Com o intuito de entender melhor a sua atuação nos dois últimos movimentos
separatistas e, por conseguinte, compreender o pensamento no que tange ao desenvolvimento
regional. Como já adiantamos, a teoria e metodologia adotadas se filiam às formulações de
Antonio Gramsci, especialmente nos seus estudos sobre o papel dos intelectuais enquanto
agentes organizadores das classes sociais.
Esta pesquisa ainda está em andamento, fator que não impede que apresentemos
algumas considerações parciais da mesma. Até certo ponto é razoável supor que uma das
características similares entre os três movimentos é que a justificativa era sempre o progresso.
Nos dois últimos movimentos isto fica mais claro, Alfredo Dolabella publica diversos artigos,
dois livros e orienta várias monografias sobre o tema, e em todos os textos um pensamento é
comum: “Sem separação não há solução”.
Objetivos
Para que esta pergunta, e tantas outras que impulsionaram este trabalho, possa ser
solucionada é preciso que escrevamos, mesmo que de forma breve a biografia deste
intelectual. Sendo assim, destacaremos tal elemento no decorrer deste texto.
Referencial Teórico
Como já destacamos anteriormente, todos os homens podem ser intelectuais, mas nem
todos exercem essa função, ensina Gramsci. Aqueles que o fazem, via de regra, produzem
textos. Assim, as fontes para um trabalho desta natureza são sempre abundantes. Sirinelli
afirma que o excesso de documentos se torna um obstáculo ao pesquisador (SIRINELLI,
2003, p. 244-245), daí a necessidade de muito trabalho, ainda que se tente delimitar as fontes
a serem utilizadas.
Além da literatura acadêmica que trata dos intelectuais, da historia política e do norte
de Minas, esta pesquisa utilizará como fontes os textos assinados pelos personagens em
análise, incluindo os artigos em revistas e jornais, documentos, manifestos e livros. A
imprensa – mais especificamente o Jornal do Norte e o Jornal de Noticias – será de
fundamental importância porque ela veiculou grande parte dos debates políticos travados na
região no período.
Resultados e Conclusões
3
Dados biográficos extraídos do livro: PORTELLA FILHO, Alfredo Dolabella. Três passos para um mundo
melhor: três boas ideias. Montes Claros: Unimontes, 2009.
4
Idem., O Estado de Minas do Norte já na década 30?. Panfleto de divulgação da causa separatista (sem ano de
publicação registrado). p. 03. Disponível no arquivo privado de Alfredo Dolabella, em sua residência.
(...) entre 1910 e 1930, 33 mil alqueires de terra na microrregião de
Bocaiúva. Nessas terras, Alfredo Dolabela, o pai, organizou uma grande
plantação de cana e produção. Em 1944, a Cia. Agroindustrial Dolabela
Portella foi vendida para as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo.
(PEREIRA, 2007, p. 111).
Segundo Alfredo Dolabela, o filho, seu pai era amigo e companheiro político
de Fernando Mello Viana, governador de Minas Gerais em 1925 e vice-
presidente da República entre 1926-1930, e teria, entre suas propostas, o
projeto de criação de um novo Estado na região, cuja capital seria construída
exatamente na microrregião em que Dolabela adquiriu os 33 mil alqueires de
terra. Concretizando o projeto, os lucros do empresário seriam fabulosos.
(PEREIRA, 2007, p. 111).
Como sabemos, tal projeto não se concretizou, Dolabella Filho utilizou destes
argumentos para justificar historicamente a causa separatista que tanto defendia. Embora não
citamos todos neste texto, tivemos acesso a diversos artigos publicados pelo intelectual aqui
estudado nos jornais de circulação local entre os anos de 1985 a 2005. Em seus textos fica
bastante clara uma linha de raciocínio, uma ideia que lhe servia para justificar tal causa, isto é,
o desenvolvimento é o resultado da emancipação.
5
PORTELLA FILHO, Alfredo Dolabella. Povo do Norte de Minas, até quando teremos que aceitar a atual
situação?. Panfleto de campanha da causa separatista. Sem data registrada na publicação. Disponível no arquivo
particular de Alfredo Dolabella, localizado em sua residência.
Em outro panfleto ele afirma: “A emancipação política é a melhor solução para o
rápido desenvolvimento social e econômico de nossa região. Os opositores que venham
apresentar uma alternativa melhor.”6
6
PORTELLA FILHO, Alfredo Dolabella. O remanescente do Estado de Minas Gerais seria prejudicado com a
emancipação política da região Norte?. Montes Claros: Jornal de Notícias, 27/04/2003.
7
Podemos citar como exemplo o texto “Movimento Seremos 3” dá nova “cara” a Minas. Montes Claros:
Jornal de Notícias, 30/06/2004. E no artigo intitulado Divisão Territorial. Montes Claros: Gazeta Norte
Mineira, 16/03/2005, neste texto ele comenta o apoio do então vice-presidente da República José Alencar.
Ambos de autoria de PORTELLA FILHO.
8
PORTELLA FILHO, Alfredo Dolabella Redivisão territorial acelera o desenvolvimento. Montes Claros: O
Norte de Minas, 31/12/2005, p. 06.
Identificamos o professor Dolabella como um típico intelectual orgânico, isto é, um
intelectual próprio do sistema capitalista. Ele se destacou como um agente organizador,
elaborador e difusor dos interesses das classes que representava. Acreditava de forma
veemente que a emancipação política da região do Norte de Minas era a alternativa mais
viável para atingir o progresso e, por conseguinte, os problemas sociais da região seriam
solucionados.
Tais elites mostraram através da causa separatista, a faceta radical de sua ideologia e a
aproximação entre elite e população, com o intuito de tornarem seus projetos hegemônicos.
Processo no qual a atuação de intelectuais, como Alfredo Dolabella, é fundamental.
(PEREIRA, 2007, p. 162).
Bibliografia
PORTELLA FILHO, Alfredo Dolabela. Por que o Estado de São Francisco. Uma sucinta
análise histórica, sócio-econômica e geográfica do polêmico tema. Montes Claros. Montes
Claros, 1998.
PORTELLA FILHO, Alfredo Dolabella. Três passos para um mundo melhor: três boas ideias.
Montes Claros: Unimontes, 2009.