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Histórias de Sucesso

Empresas graduadas das


Incubadoras Mineiras

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FICHA TÉCNICA Agradecimento

Sebrae-MG SECRETARIA DE ESTADO DE Agradecemos a todos que se envolveram com dedicação e aceitaram
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
Roberto Simões
ENSINO SUPERIOR – SECTES
o desafio de participar da produção do 2º volume do Livro – Histórias
Presidente do Conselho Deliberativo
de Sucesso de Empresas Graduadas de Incubadoras Mineiras.
Alberto Duque Portugal
Afonso Maria Rocha
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia
Diretor Superintendente
e Ensino Superior
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos
Aos escritores que escreveram os estudos de caso e se tornaram
Evaldo Ferreira Vilela
Diretor Técnico autores de novas histórias de sucesso.
Secretário Adjunto de Estado de Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior e Gerente
Matheus Cotta de Carvalho
do Projeto Estruturador Rede de Inovação
Diretor de Operações
Tecnológica
Aos empresários das empresas graduadas que permitiram que
Anízio Dutra ViaNna
Vicente José Gamarano descrevêssemos suas experiências empresariais e transformasse
Gerente da Unidade de Inovação
Subsecretário de Estado de Inovação e Inclu-
e Tecnologia
são Digital em uma história que será exemplo para aqueles que desejam
Ricardo Luiz Alves Pereira
Gerente da Unidade de Educação,
Anna Flávia Lourenço E. M. Bakô aprender a empreender com sucesso.
Gerente Adjunta do Projeto Estruturador
Empreendedorismo e Cooperativismo
Rede de Inovação Tecnológica

Coordenação do Projeto Aos gestores de incubadoras que contribuíram na busca de


REDE MINEIRA DE InovaÇÃO – RMI
Casos de Sucesso novas experiências de sucesso e apoiaram os escritores dis-
Rogério Abranches da Silva Lilian da Silva Botelho
Presidente ponbilizando informações.
Tutoria Geral
Paulo Tadeu Leite Arantes Cláudio Afrânio Rosa
Vice Presidente
À coordenação estadual do projeto Casos de Sucesso, equipe de
Equipe de Orientadores
Bezamat de Souza Neto Any Myuki Wakabayashi orientadores e equipe técnica que atuaram intensamente na pro-
Diretor Antônio Carlos Soares Pereira
Jadilson Ferreira Borges dução deste 2º volume garantindo a qualidade final deste livro.
Daisy Andrade de Melo e Souza Wellington Damasceno de Lima
Diretora
Supervisão Técnica Agradecemos a parceria entre Sebrae Minas, Rede Mineira de Inova-
Andréa Furtado de Almeida
Lilian da Silva Botelho ção – RMI e Secretaria de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior de
Minas – SECTES que proporcionou a viabilidade de continuar des-
Fotografia crevendo experiências de sucesso para serem disseminadas como
Gustavo Roscoe
fonte de inspiração para futuros empreendedores.
SUMÁRIO
Prefácio 1 – Sebrae-MG.........................................................................................................7 CASO 7........................................................................................................................................ 88
Empresa: HPE – High Power Engineering
Prefácio 2 – RMI........................................................................................................................8
Incubadora: Inova – UFMG
Prefácio 3 – Sectes..................................................................................................................9 Autor: Gustavo Menezes Aleixo
Apresentação.........................................................................................................................11 Orientador: Cláudio Afrânio Rosa

CASO 1.........................................................................................................................................12 CASO 8...................................................................................................................................... 102


Empresa: 4WAY Web Solutions Ltda Empresa: Intec Consultoria e Assessoria Ltda.
Incubadora: Incet Incubadora de Base Tecnológica de Montes Claros Incubadora: Centev – Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa
Autora: Érica Ferreira da Silva Autoras: R onise Suzuki de Oliveira, Amanda Castro de Souza
e Adriana Ferreira de Faria
Orientador: Antônio Carlos Soares Pereira
Orientador: Any Myuki Wakabayashi
CASO 2....................................................................................................................................... 24
CASO 9.......................................................................................................................................116
Empresa: AGTechnologies
Empresa: Neware Informática
Incubadora: Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações
Incubadora: Incet Incubadora de Base Tecnológica de Montes Claros
Autor: Luiz Carlos Dionísio
Orientador: Any Myuki Wakabayashi
 rica Ferreira da Silva
Autora: É
Orientador: Antônio Carlos Soares Pereira
CASO 3........................................................................................................................................ 36
CASO 10.................................................................................................................................... 126
Empresa: Amicus Inovações – Indústria e Comércio de Produtos Eletrônicos Ltda.
Empresa: Plangeo Planejamento e Geotecnologia Ltda
Incubadora: Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações
Incubadora: C  entro Regional de Inovação e Transferência
Autor: Luiz Carlos Dionísio
de Tecnologia / Critt – UFJF
Orientador: Jadilson Ferreira Borges
Autores: Evandro Mendonça Fortuna e Ursula Oliveira Chrispim de Mello

CASO 4........................................................................................................................................ 48 Orientador: Wellington Damasceno de Lima

Empresa: Biocod Biotecnologia Ltda.


CASO 11.................................................................................................................................... 142
Incubadora: Habitat/Fundação Biominas
Empresa: Sanders do Brasil
Autores: Bernardo Annoni e Luciana Patrícia Rezende da Silva
Incubadora: Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações
Orientador: Jadilson Ferreira Borges
Autoras: Camila Joanita Silva de Jesus e Kelen Aparecida Rosa

CASO 5........................................................................................................................................ 62 Orientador: Jadilson Ferreira Borges

Empresa: DynamicCAD Software Técnico Ltda.


CASO 12.................................................................................................................................... 156
Incubadora: C  entro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia da Empresa: Seek Fontes Chaveadas
Universidade Federal de Juiz de Fora - Critt/UFJF.
Incubadora: Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações
Autoras: Anna Paola Esteves de Faria Pinto e Flávia Couto Ruback Rodrigues
Autor: Evandro Carvalho da Silva
Orientador: Wellington Damasceno de Lima
Orientador: Wellington Damasceno de Lima
CASO 6........................................................................................................................................ 74
Empresa: Fácil Tecnologias Ltda. METODOLOGIA DO PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO....................... 169
Incubadora: Unitecne - Incubadora de Tecnologia da Universidade de Uberaba
UTILIZAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO Sebrae PARA FINS DIDÁTICOS............... 171
Autoras: Silvia Ester da Silva e Raquel Mendonça do Vale Resende
Orientador: Any Myuki Wakabayashi
Prefácio 1 – Sebrae-MG

Já faz tempo que o Sebrae vislumbrou no estímulo à incubação de empresas


um dos caminhos para a criação de empreendimentos mais sólidos e, portan-
to, mais bem sucedidos, tanto em Minas quanto no restante do país. Desde
1998, o Sebrae apoia as incubadoras, que, somente no estado de Minas Gerais,
geraram 170 empresas de base tecnológica.

O livro Histórias de Sucesso – Empresas Graduadas das Incubadoras Mineiras, em


sua segunda edição, relata a trajetória de sucesso de doze empresas mineiras
que vem se destacando de forma significativa no movimento nacional de in-
cubação de empresas.

O fato gerador do grande sucesso são os ambientes que estimulam a criação e


protegem o desenvolvimento de novas empresas. Além disso, as incubadoras
abrigam novos negócios por um período de tempo limitado e se destacam en-
tre os vários mecanismos criados para estimular a transformação de resultados
de pesquisas em produtos e serviços. Assim, revertem em atividade econômi-
ca os investimentos em pesquisa realizados pela sociedade.

As incubadoras de empresas devem ser estimuladas quando existem parceiros


mobilizados e interessados. A Rede Mineira de Inovação e a Secretaria de Esta-
do de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior são parceiras fundamentais para o
movimento de incubação do estado e parceiras nesta publicação.

A participação de universidades e centros de pesquisa, através do estímulo ao


empreendedorismo e da Inovação, facilitam a geração de bons projetos, soma-
da à sinergia decorrente da própria convivência entre os novos empresários, fa-
zem com que a taxa de mortalidade desses empreendimentos seja minimizada.

As incubadoras são instrumentos alavancadores de desenvolvimento, uma vez


que as empresas nascentes nas incubadoras promovem a geração de emprego
e renda e consequentemente geração de impostos, transferência de conheci-
mento e geração de novas tecnologias.

Roberto Simões
Presidente do Conselho Deliberativo
Sebrae Minas

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Prefácio 2 – RMI Prefácio 3 – Sectes

Este segundo livro, que demonstra a história de sucesso de mais doze em- A Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) desenvol-
presas graduadas das incubadoras mineiras, além de ser mais uma resposta a ve desde 2003, por meio do projeto estruturador Rede de Inovação Tecnológica
alguns questionamentos ainda existentes em relação à eficácia dos resultados - RIT, ações para estimular a criação e a consolidação de incubadoras de empresas,
do sistema de incubação, vem também confirmar a tendência demonstrada pelo fato de acreditar que elas são fundamentais ao desenvolvimento econômico
pela edição 2008 da pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor – GEM, que e tecnológico de qualquer estado ou país que se propõe a inovar.
aponta a mudança da característica brasileira de país empreendedor por ne-
cessidade para um país de empreendedores por oportunidade. O grande resultado dessa ação é o volume de empresas inovadoras que se graduaram
nas incubadoras mineiras, reconhecidas nacionalmente pela excelência no processo
Nos últimos anos, um número cada vez mais expressivo de pessoas tem de- de incubação. Por isso, Minas Gerais se tornou referência e hexacampeã no Prêmio
monstrado interesse em ter seu próprio negócio e estudar mais sobre empre- Nacional de Empreendedorismo Inovador, conferido pela Associação Nacional de En-
endedorismo. Sendo assim, desde sua primeira versão, este livro tem sido tam- tidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
bém um excelente guia prático para potenciais empreendedores, estudantes e
professores de empreendedorismo, já que relatos atestam que esta bibliogra- Este segundo livro conta a história de 12 empresas que possuem os requisitos para
fia tem sido cada vez mais utilizada em sala de aula. impulsionar o desenvolvimento sustentável esperado por todos nós. São empre-
endimentos novos, inseridos na economia do conhecimento e de alto conteúdo
É necessário neste momento ter a consciência de que as Incubadoras de Em- tecnológico convertidos em competitividade no mercado mundial, que exige a
presas, como resultado de um processo de amadurecimento, precisam dar o utilização de recursos sem o comprometimento das gerações futuras.
esperado salto de eficiência em seus resultados, no entanto é fundamental  
admitir que se trata de um dos mais adequados e eficazes mecanismos de É importante ressaltar que Minas Gerais propicia um cenário extremamente favorável
desenvolvimento local e regional. ao surgimento desse tipo de empresa, devido à presença e à interação entre ações que
fomentam a cultura empreendedora. Nesse contexto, por meio da Rede de Inovação
A ideia deste projeto nasceu da percepção da Rede Mineira de Inovação – RMI Tecnológica, estimula-se o desenvolvimento de produtos de base tecnológica, além
e do Sebrae-MG, observando a necessidade de relatar e disseminar algumas do suporte na legitimação da propriedade intelectual com fornecimento de um am-
riquíssimas experiências de empreendedores de sucesso que criaram e desen- plo apoio jurídico e administrativo, e a criação e consolidação de ambientes propícios
volveram seus negócios nas incubadoras mineiras. Certamente não pararemos à inovação. Nesse sentido é importante destacar o Sistema Mineiro de Inovação - SIMI,
por aqui, este movimento continuará produzindo muitas outras histórias dig- programa focado no relacionamento entre governo, empresas, centros de pesquisas e
nas de serem contadas. outros atores de desenvolvimento para disseminar a inovação. A Plataforma SIMI é um
ambiente para geração de parcerias e negócios.
Aos empreendedores, escritores, tutores, gerentes das incubadoras e demais  
colaboradores que de forma direta ou indireta trabalharam para que este livro Com essa articulação de atores em torno do mesmo objetivo, outros países se destacaram
fosse publicado, a todos vocês os nossos mais sinceros agradecimentos. na indução à abertura de empresas inovadoras. No Brasil, e em especial em Minas Gerais,
temos a convicção de que estamos no caminho certo, principalmente pelo êxito das em-
presas graduadas em nossas incubadoras. Parabéns a todas elas!
Rogério Abranches da Silva
Presidente da Rede Mineira de Inovação - RMI
Evaldo Ferreira Vilela
Secretário-adjunto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais

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Apresentação

As incubadoras de empresas surgiram como um dos instrumentos na su-


pressão de demandas do mercado. A incubadora de empresas é um proces-
so utilizado para promover a criação, o desenvolvimento e a consolidação
de micro e pequenas empresas competitivas mediante a adoção de práti-
cas modernas de gestão e a oferta de produtos e serviços inovadores.

O processo de incubação confere às empresas condições favoráveis para


detectar tendências, incorporar novidades e acompanhar as mudanças de
mercado, principalmente atuando como interface entre o setor do conhe-
cimento e o produtivo.

No contexto socioeconômico as incubadoras de empresas têm desempe-


nhado um papel importante no desenvolvimento local e regional, atuando
como uma plataforma de desenvolvimento, buscando potencializar as vo-
cações regionais e suprir deficiências das cadeias produtivas locais.

Não podemos deixar de lembrar também da importância de seu papel no


tecido social no que tange à criação de postos de trabalho e geração de
renda, contribuindo dessa forma com a melhoria da qualidade de vida da
população local e inclusão socioprodutiva além da promoção da inovação
e do empreendedorismo.

A parceria entre o Sebrae Minas, a Secretaria de Estado de Ciência, Tecno-


logia e Ensino Superior e a Rede Mineira de Inovação possibilitou a conti-
nuidade do projeto da segunda edição do livro, promovendo o segmento,
seus resultados, registrando e difundindo a trajetória vitoriosa de empre-
sas graduadas das incubadoras de Minas Gerais. “Histórias de Sucesso –
Empresas Graduadas das Incubadoras Mineiras” – 2ª edição, é resultado de
um trabalho coletivo e voluntário.

O projeto Casos de Sucesso foi criado em 2002 , como uma prioridade es-
tratégica do Sebrae, com o objetivo de difundir experiências de pequenas
empresas e disseminar, no meio acadêmico e empresarial, novos conheci-
mentos com a utilização de estudos de caso.

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CAMINHOS PARA
UM NEGÓCIO EM
INFORMÁTICA
12 13
O termo informática foi usado para referir-se ao processo de tratamento auto-
mático da informação por meio de máquinas eletrônicas chamadas computa-
dores. Em um contexto mais amplo, a informática surgiu para superar a neces-
sidade do ser humano de registrar e manipular dados em grandes quantidades
com precisão e rapidez.

O município de Montes Claros era considerado a “capital do norte de Minas


Gerais” e, apesar de contar com a estrutura industrial mais desenvolvida da
região, ainda possuía potencial para expansão. Nos últimos anos surgiram na
cidade diversas oportunidades na área tecnológica. Essa situação causava re-
flexos importantes na economia, possibilitando o surgimento de negócios em
setores Inovadores, como o da tecnologia da informação.

Empresa Foi em Montes Claros que em 2001, Marcos Alan Rocha, com 17 anos de idade,
4WAY Web Solutions Ltda. matriculou-se no curso técnico de informática. Nesse mesmo período foi con-
vidado a participar do programa de estágio do setor de tecnologia da Funda-
Incubadora ção Educacional Montes Claros (FEMC). Marcos Alan era considerado um bom
Incet – Incubadora de Base Tecnológica aluno e com grande afinidade com a área. Além dessas atividades, em 1999
de Montes Claros havia sido proprietário de uma empresa de venda e importação de equipa-
mentos de informática. Entretanto, a crise cambial que arrebatou o país em
Autora 2000 fez com que o negócio ficasse inviável.
Érica Ferreira da Silva
Ainda em 2001, Marcos Alan propôs a si mesmo o seguinte desafio: lançar-se
Orientador novamente em um negócio relacionado à tecnologia. Dessa maneira, a ques-
Antônio Carlos Soares Pereira tão principal era como montar uma empresa na área de informática que pri-
masse pela qualidade nos serviços, fosse financeiramente viável e apresentas-
se perspectivas de ampliação.

Montes Claros:
cenário de grandes histórias

Montes Claros começou como uma fazenda de gado, mas desde a Vila das
Formigas no século XVII, o local havia se tornado centro para distribuição de
produtos. O impulso para a industrialização ocorreu em 1965 com a chegada
da eletricidade pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e com a
inclusão da região na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste –
Sudene. Incentivos fiscais da Sudene modificaram a economia, determinando

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fluxos internos de pessoas, capital e tecnologia. Esse processo acelerou a mi- pelo reforço dos alunos. Porém, nesse mesmo ano, em razão da crise cambial
gração da população rural para a cidade, provocando diversos problemas de vivida pelo Brasil, o negócio foi fechado. Para obter renda, realizava trabalhos
urbanização e estrutura. eventuais de programação e manutenção, utilizando a rede de contatos criada
na FEMC e em seu negócio anterior.
Localizada na região norte do Estado, Montes Claros era considerada o princi-
pal centro urbano da região, pois seu raio de influência abrangia todo o norte Mesmo atuando informalmente, Marcos Alan pretendia voltar a empreender
de Minas Gerais e parte do sul da Bahia. O município com área de 3.470 km2 no setor de informática. Tinha consciência de que um novo negócio demanda-
está situado a 418 km da capital, Belo Horizonte, e possuía em 2008, segundo ria a superação de uma série de obstáculos. Dessa forma, em 2001 seu maior
dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 352.384 mil ha- desafio estava relacionado a como montar uma empresa de informática, eco-
bitantes. Essas milhares de pessoas formavam um amplo mercado consumidor nomicamente viável e que no médio prazo tivesse perspectivas de ampliar sua
de produtos e serviços. atuação para todo o Estado.

Montes Claros possuía vocação para a agropecuária e tinha ao longo dos anos expe-
rimentado um crescimento nas áreas de indústria, comércio e serviços. O município 4WAY: convergência de caminhos
vinha se tornando um grande pólo empresarial, devendo parte desse desenvolvimen-
to à instalação de empresas de ramos diferenciados, como a maior fábrica de leite A Fundação Educacional Montes Claros criou em 2000 a Incubadora de Empre-
condensado do mundo, uma das três fábricas de insulina da América Latina, uma mo- sas de Base Tecnológica – Incet, que correspondia a um espaço físico – com
derna fábrica têxtil e a quinta maior fábrica de cimento do Brasil. infraestrutura técnica e operacional associada – especialmente configurado
para transformar ideias em produtos, processos ou serviços. Tratava-se de um
Como alavanca de crescimento, se destacava na cidade a Fundação Educacio- núcleo que abrigava microempresas de base tecnológica ou gerencial. Esse
nal Montes Claros – FEMC, cujo lema era: “Qualificar o homem ao Norte das projeto surgiu da iniciativa de um grupo de professores da instituição com o
Gerais”. A instituição foi fundada em 1976, pela Associação Comercial e Indus- apoio técnico da unidade de Montes Claros do Sebrae-MG – Serviço de Apoio
trial de Montes Claros, para desenvolver os recursos humanos, operacionais e às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais.
técnicos necessários à implantação do Parque Industrial do Norte Mineiro. Em
1990 a OIT – Organização Internacional do Trabalho e a Unesco – Organização Em junho de 2001, Marcos Alan começou a buscar respostas para suas inquie-
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura certificaram a qua- tações. Após obter informações sobre o funcionamento da Incet e analisar o
lidade do trabalho da associação, divulgando em todo o mundo o modo sui tipo de apoio oferecido, entendeu que estar em um espaço dessa natureza
generis1 de financiamento da educação profissionalizante de pessoas carentes contribuiria para a transformação do seu projeto em realidade.
pelas empresas.
O primeiro passo foi a escolha dos sócios, pois julgava que sozinho não alcan-
Marcos Alan iniciou seus estudos na FEMC em 1998 e o ambiente relacionado çaria os objetivos traçados. Marcos Alan procurou identificar entre as pessoas
à tecnologia despertou nele o desejo de empreender nesse setor. Em 1999 de seu convívio, aquelas que pudessem compartilhar de seu sonho. Buscou
montou uma empresa de venda de equipamentos e serviços em informática, como parceiros os colegas do curso técnico, Jáder Alexandre Gomes Barral, de
tendo como clientes pessoas com quem se relacionava na FEMC. Em 2000, 18 anos, Arley Fabiano Santos e Érico Fernando, ambos com 17 anos. Os quatro
teve a oportunidade de trabalhar como monitor na Fundação, se responsabi- tornaram-se sócios da empresa. Com a sociedade formada, foi elaborado um
lizando pela manutenção dos computadores do laboratório de informática e plano de negócios para apresentação à incubadora. O projeto foi aceito e em
setembro de 2001 iniciou-se a fase de pré-incubação, que procurava analisar a
Sui generis significa literalmente “de seu próprio gênero”, ou seja, “único em seu gênero”. Usa-se como adjetivo para indicar que algo é único, peculiar:
1

uma atividade sui generis, uma proposta sui generis, um comportamento sui generis. viabilidade técnica, econômica e financeira do empreendimento.

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Instalados nas dependências da incubadora, receberam orientações sobre como Uma das metas foi ampliar a atuação da empresa, para tanto os sócios passa-
planejar e gerir uma empresa. Começaram a enfrentar uma das fases mais difíceis ram a participar de editais e concorrências para a prestação de serviços em
de qualquer negócio: o começo. Para a marca da empresa pensaram em homena- informática. Em 2004, a 4WAY firmou parceria com a Universidade Federal de
gear o companheirismo existente entre eles. Optaram por 4WAY, que possuía um Juiz de Fora (UFJF) para a instalação do Sistema para Administração e Controle
significado singular: quatro amigos em busca de novos caminhos e soluções na área Escolar (Sislame) nas 4.000 escolas estaduais de Minas Gerais. A 4WAY era res-
de informática. Decidiram que a empresa teria como foco a prestação de serviços de ponsável pela capacitação, implantação e suporte às escolas da região norte.
informática com ênfase na criação de sites e sistemas web, treinamento, suporte e No início oito empresas eram parceiras da UFJF, cada uma representava uma
implantação de softwares, instalação e manutenção de redes e computadores. região, com exceção do centro que contava com três empresas.

Outro passo importante foi dar maior visibilidade ao negócio. Em parceria com Os sócios começaram os trabalhos visitando 15 municípios para coletar os da-
a Incet, participaram em setembro da Fenics – Feira Nacional da Indústria, Co- dos necessários à configuração do sistema. O resultado do trabalho foi satisfa-
mércio e Prestação de Serviços de Montes Claros. Durante o evento tiveram a tório e a coordenação do projeto Sislame convidou a empresa para implantar
oportunidade de divulgar suas soluções, captando os primeiros clientes. Com o sistema nas escolas municipais.
apenas dois meses, a empresa tornou-se autossustentável e toda sua receita
inicial foi reinvestida em infraestrutura. Nesse período os trabalhos foram in- Em abril de 2005, o então sócio, Érico Fernando havia se graduado no curso
tensos, pois os sócios só concluiriam o curso técnico em dezembro de 2001. de Administração e sentiu que era momento de voltar à sua terra natal para
cuidar dos negócios da família. O fato fez o grupo repensar suas estratégias.
Enquanto a 4WAY teve o suporte da incubadora, os sócios aumentaram a di-
vulgação do negócio e aumentaram o número de novos contratos, a partir da Mantendo a qualidade nos serviços, a 4WAY foi convidada em julho de 2005
indicação dos próprios clientes. Nessa época os trabalhos eram desenvolvidos para implantar o Sislame em 300 escolas da região metropolitana de Belo Ho-
na residência dos sócios. No processo de crescimento da empresa puderam rizonte. O convite ocorreu porque as outras empresas não apresentaram os re-
contar com a assistência oferecida pelo Sebrae-MG em parceria com a Incet. sultados desejados. Para atender à demanda que se estenderia por três meses,
Para os sócios, as consultorias e treinamentos possibilitaram o amadurecimen- Jader e Marcos Alan interromperam a faculdade por seis meses. Assim Marcos
to profissional e contribuíram para a organização dos trabalhos. Alan, Jader e Arley mudaram-se para a capital, enquanto isso a gestão da em-
presa era feita à distância e os serviços executados por seus funcionários. Uma
Em abril de 2002 a 4WAY foi formalmente constituída, transferindo-se para uma vez por semana, Marcos Alan retornava a Montes Claros para acompanhar o
sede própria, mas ainda mantendo vínculos com a Incet. Buscaram escritórios negócio. O projeto teve início em agosto e foi concluído em novembro, mar-
de publicidade como clientes para desenvolver e dar manutenção aos sites cando a volta dos sócios para Montes Claros.
dessas empresas. Essa ação permitiu que o negócio alcançasse o ponto de
equilíbrio financeiro. O crescimento era considerado satisfatório e os objetivos Em 2006 retomaram os estudos, os trabalhos foram intensificados e prosse-
traçados no planejamento formulado com o suporte da Incet e do Sebrae-MG guiu a rotina para conciliar as atividades acadêmicas e profissionais. Os sócios
começaram a ser atingidos. trabalharam arduamente, utilizando a qualidade dos serviços como sua princi-
pal ferramenta de marketing. Para tanto lançavam mão da qualificação técnica
No final de 2002, Marcos Alan e Jáder Barral decidiram que era hora de buscar da equipe, da flexibilidade nas negociações e da inovação das suas soluções.
a realização de outro sonho: ingressar na faculdade. Prestaram vestibular e fo- Os resultados os estimulavam a prosseguir, pois se a parcela de lucro não era
ram aprovados no curso de Sistemas de Informação da Universidade Estadual ainda tão grande ao menos a empresa era autossustentável.
de Montes Claros (Unimontes). As aulas tiveram início em fevereiro de 2003 e o
tempo de ambos era compartilhado entre a faculdade e a empresa.

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Em 2007, viveram dois momentos distintos. A tristeza pela saída de mais um sócio, Arley Em outubro de 2008 a 4WAY recebeu o prêmio de destaque nacional “Top
Fabiano, e a alegria de se graduarem como bacharéis em Sistemas de Informação. Excelência Empresarial/2008”, no segmento sistemas de informática, obten-
do a indicação em âmbito regional na preferência dos entrevistados que mais
Devido à qualidade dos serviços prestados ao Centro de Políticas Públicas e votaram nesse ramo de atividade.
Avaliação da Educação (Caed), a empresa ganhou credibilidade e com isso o
volume de contratos cresceu. Ainda em 2007 iniciaram o planejamento da im-
plantação do Sistema Mineiro de Administração Escolar (Simade) em 800 esco- O aprendizado com a 4WAY e
las estaduais, mas que poderia chegar a mais de mil em Minas Gerais. o planejamento para o futuro

Para ampliar seu campo de atuação, a 4WAY estabeleceu contato com uma empresa de Avaliando o balanço dessa experiência, os jovens empresários aprenderam
Portugal contratada para a implantação de sistemas na rede de saúde e hospitalar em que o sucesso era resultado de dinamismo. “Em um mercado competitivo
todo o Estado. Outra parceria importante foi junto a uma empresa paulista, onde a 4WAY era preciso não ter uma visão unilateral, focada em um ramo específico,
implantaria um sistema específico nas filiais da empresa localizadas na região norte de Mi- mas gerenciar com uma visão ampliada, valorizando cada cliente e enten-
nas Gerais. O aumento na demanda de serviços resultou na ampliação do espaço físico e dendo que as parcerias fazem parte da razão de ser da empresa”, declarou
do número de funcionários para o total de oito no ano de 2008. Marcos Alan.

Os investimentos feitos na empresa desde a sua criação resultaram no aumen- “Criar e gerir uma empresa reafirmou a ideia de que um negócio só cresceria
to gradativo e consistente das receitas. O trabalho de prospecção e negociação se conduzido com persistência e dedicação. Frente às tendências de mercado,
de novos contratos seriam a base para o salto previsto no volume de trabalho e tomar as decisões corretas no tempo certo era imprescindível”, explicou o só-
no faturamento da empresa para 2008, conforme demonstra o gráfico abaixo. cio Jáder Alexandre Barral.

gráfico 1 – Evolução das receitas da 4WAY
O início do projeto exigiu a tomada de decisões firmes que foram funda-
1100,00%
mentais para a continuidade da empresa. A falta de maturidade profissio-
1000,00% nal foi compensada pela escolha correta dos sócios, das parcerias e pelo
900,00% ingresso na incubadora.

800,00%
Marcos Alan e Jáder Barral aprenderam com os erros e reconheceram que, se
700,00% fosse para recomeçar, trabalhariam melhor o planejamento e a definição de
600,00% metas. Buscariam mais informações sobre processos e pessoas, além de po-
tencializar as características positivas da equipe e de terceirizar atividades que
500,00%
não eram o foco da empresa.
400,00%

300,00% O fato da empresa ter crescido e ampliado sua atuação não fizeram de Marcos
200,00%
Alan e Jáder gestores plenamente realizados. A 4WAY foi projetada na pers-
pectiva de expandir e essa expectativa fazia com que analisassem os riscos e
100,00%
oportunidades.
0,00%
2003 2004 2005 2006 2007 2008
previsão
Fonte: dados fornecidos pelos empreendedores Receita

20 21
Com uma filosofia de trabalho voltada para o crescimento acelerado, novas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ações estavam sendo planejadas. Encontrava-se em fase final um software de
gestão de clientes desenvolvido pela 4WAY através de uma parceria com uma Associação Comercial e Industrial de Montes Claros. Disponível em: <http://
empresa de telefonia, com atuação em 17 estados. Outro passo, prestes a ser www.acimoc.com.br/indexaci.htm>. Acesso em 23 out. 2008 às 19:09.
dado, era o desenvolvimento de websites para o mercado europeu.
Fundação Educacional Montes Claros. Disponível em: <http://www.femc.edu.
Marcos Alan e Jáder Barral conseguiram aglutinar em um só negócio, em- br>. Acesso em 26 jun. 2008 às 21:28.
preendedores com características que se complementavam, parcerias com
entidades de apoio, como a Incet e o Sebrae-MG e a prospecção de em- IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 20 out. 2008 às
presas atuantes no mercado, como clientes. A soma dessas características 21:30.
fez com que a 4WAY obtivesse resultados significativos na prestação de
serviços em informática. Informática. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/informatica/>.
Acessado em 21 out. 2008 às 18:39.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO Montes Claros. Disponível em: <http://www.montesclaros.mg.gov.br>. Acesso


em 30 jun. 2008 às 21:01.
1. Q
 ue tipo de apoio as empresas devem buscar para montar ou expandir um
negócio? Wikipédia. Montes Claros. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mon-
tes_Claros>. Acesso em 30 jun. 2008 às 20:28.
2. Q
 uais atitudes fazem a diferença para um empreendedor?

3. Q
 ue fatores devem ser observados na escolha dos sócios que constituírão
uma empresa?

22 23
A CONQUISTA
DO MERCADO
DE DISPLAYS

24 25
Conhecida como Vale da Eletrônica, Santa Rita do Sapucaí, cidade localizada
no sul de Minas Gerais, era considerada um pólo tecnológico que concentrava
a produção de equipamentos digitais. Sua atuação no ramo de eletrônica e
telecomunicações propiciou a geração e o desenvolvimento de empreendi-
mentos que alavancavam a economia local.

Foi nesse cenário, especificamente na incubadora de empresas do Instituto


Nacional de Telecomunicações – Inatel, que o empresário Anderson Marcos
Silva Dias fundou em 2004 a AGTechnologies Produtos Eletrônicos Ltda.

Engenheiro eletricista, Anderson, em parceria com o economista e administra-


dor de empresas, Edmundo Coutinho Dias, concorreu em 2004 ao processo de
seleção de incubação de empresas. Após aprovação do plano de negócio, foi
implantada a AGTechnologies, pioneira no Brasil na fabricação do Display de
Empresa
Cristal Líquido – LCD1.
AGTechnologies

Incubadora
Em 2005, com a empresa estabelecida, Anderson deparou-se com uma situa-
ção inesperada. O produto encontrava-se com o custo elevado e baixa quali-
Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações
dade. Era necessária a adoção de estratégias que aumentassem a competitivi-
dade da AGTechnologies no mercado interno e externo.
Autor
Luiz Carlos Dionísio
Berço da eletrônica
Orientador
Any Myuki Wakabayashi A história da eletrônica em Santa Rita do Sapucaí foi marcada pela implan-
tação da Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa – ETE, na
década de 1950, então pioneira na América Latina, e pelo Instituto Nacional de
Telecomunicações – Inatel em 1965. Com o surgimento de novas tecnologias,
a cidade absorveu entidades de ensino, pesquisa e extensão. Nesse contexto,
várias micro e pequenas empresas, voltadas para o mercado eletroeletrônico,
se instalaram em Santa Rita do Sapucaí. Assim, em meados dos anos de 1980,
surgiu o Vale da Eletrônica reconhecido nacional e internacionalmente pela
fabricação de produtos eletroeletrônicos.

LCD - Sigla em inglês para Liquid Crystal Display - Tela plana de cristal líquido composto por duas lâminas de vidro, entre os quais há uma camada
1

de cristal líquido. Um trio de transistores ligado a cada ponto da tela, um para cada cor, polariza o cristal líquido permitindo a passagem de luz. Estes
módulos de Display de Cristal Líquido são utilizados em calculadoras, relógios, celulares, computadores, TV, rádios, câmeras, etc.

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O reflexo do desenvolvimento tecnológico no setor eletroeletrônico possibili- Aproveitando a vocação local de Santa Rita do Sapucaí e as oportunidades do merca-
tou que a cidade registrasse em 2007 uma receita anual de aproximadamente do nacional e internacional, no final de 2004, em parceria com um novo sócio, Edmun-
700 milhões de reais, com geração de empregos acima de 7 mil trabalhos dire- do Coutinho Dias, Anderson fundou a AGTechnologies Produtos Eletrônicos Ltda.
tos e indiretos, o que representava 40% da população economicamente ativa
do município 2 . O projeto da empresa foi submetido e aprovado no processo seletivo da Incuba-
dora de Empresas e Projetos do Inatel. A incubadora tinha uma área construída de
Segundo o Instituto de Pesquisas iSuppli, em 2007, o mercado de Display de 800 m² e disponibilizava aos empreendimentos incubados espaço físico, acesso
Cristal Líquido – LCD, incluindo as tecnologias de tela plana e cristal líquido, gratuito à internet, fax e telefone; além de equipamentos para o desenvolvimento
ultrapassou a casa dos 100 bilhões de dólares, o que representava um cresci- de produtos, assessoria em prospecção de mercado, captação de recursos finan-
mento de 8% em relação ao ano anterior. Esse mesmo instituto, calculou que o ceiros, gestão empresarial e outros serviços a custo reduzido.
mercado de display de baixo consumo de energia, em sua nova versão de LCD,
atingiu aproximadamente US$ 6 bilhões em vendas em 2008, e que iria crescer A empresa iniciou suas atividades em 2005, numa instalação de 30 m², na incu-
até US$ 24 bilhões até 2012. badora do Inatel. Entretanto, sua existência estava ameaçada, pois o produto
LCD possuía um custo elevado para desenvolvimento e sua qualidade estava
abaixo da exigida pelos compradores. A permanência da empresa no mercado
De empregado a empreendedor dependia da redução dos custos operacionais e de ações inovadoras que fizes-
sem o modelo de negócio da AGTechnologies tornar-se mais competitivo.
Nascido na cidade de Socorro (SP), Anderson Marcos Silva Dias, aos 15 anos
deixou sua família e foi estudar em Santa Rita do Sapucaí. Seus pais, ambos
funcionários públicos, tiveram dificuldades para custear seus estudos. Depois Em busca da redução dos custos tributários
de formado, em 1991, iniciou o curso de Engenharia Elétrica no Inatel. Além
dos estudos, trabalhava na WTN Telecomunicações. O proprietário da WTN, Em maio de 2005, Sidiney identificou que o custo de tributação do ICMS – Imposto
Walter Teixeira, identificou em Anderson um potencial empreendedor e ofere- sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços onerava o preço dos produtos. Esse
ceu-lhe sociedade em um novo negócio, voltado para a manutenção de tele- gasto poderia ser eliminado com a obtenção de um benefício oferecido à época
fones públicos a cartão. pelo Governo do Estado de Minas Gerais. O benefício reduziria o custo direto do
display de LCD, tornando-o mais acessível. Para isso era necessária a aprovação de
O serviço era executado para as estatais telefônicas. Assim, de empregado An- um processo denominado “Protocolo de Intenções” com o governo.
derson passou a empresário. Em 1999, um ano após a privatização das estatais,
ele previu que o mercado na área de manutenção não seria mais lucrativo, O Governo de Minas Gerais, através do Decreto nº 43.080/2002, possibilitou o
desligou-se da empresa e decidiu ampliar seus conhecimentos. diferimento do ICMS na importação de produtos de informática, telecomunica-
ções, eletrônico e eletroeletrônico. O objetivo dessa medida foi incrementar o
Anderson foi para São Paulo cursar um MBA em gestão de negócios e, no início desenvolvimento industrial e comercial dos Arranjos Produtivos Locais – APLs3
de 2004, estabeleceu uma nova sociedade com Walter Teixeira. Juntos com- inseridos no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI. Essa ação
praram 50% do capital da Displaytec Industrial do Brasil, empresa que tinha demonstrava o esforço do Estado para viabilizar negócios que modernizassem
como atividade principal a fabricação de Displays de Cristal Líquido. Como o e fortalecessem o parque produtivo mineiro e a economia regional para o se-
negócio não apresentou os resultados esperados, dez meses após a aquisição, tor de eletroeletrônicos, informática e telecomunicações.
ambos venderam suas partes e a sociedade foi desconstituída. Arranjo Produtivo Local - APL é o termo utilizado para definir uma aglomeração de empresas com a mesma especialização produtiva e que se localiza
3

em um mesmo espaço geográfico. Os APLs mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si, contando também com
Fonte: Sindvel – Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica.
2 o apoio de instituições locais como Governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.

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Para obter o incentivo, era exigida a assinatura do Protocolo de Intenções entre a Empresas de Minas Gerais, a AGTechnologies lançou o Backlights, um sistema
empresa e o Estado, no qual a empresa se comprometia a investir na implantação de luz de fundo para os módulos do LCD. Coube ao Sebrae subsidiar financei-
de novas fábricas, gerar empregos diretos e terceirizados, promover ações para ramente o desenvolvimento do produto.
capacitação de mão-de-obra e ampliar a exportação de produtos.
A tecnologia do display com Backlights, era uma alternativa nacional em relação à im-
As operações de diferimento de ICMS permitiam que a empresa beneficiada adiasse portada. O Diodo Emissor de Luz – LED há menos de cinco anos, só era usado como in-
o recolhimento do imposto na importação dos produtos de informática, telecomuni- dicador luminoso de aparelhos como rádios, televisores ou computadores, e permitia
cações, eletrônico, eletroeletrônico. Com isso era possível diminuir a necessidade de identificar o estado de ligado ou desligado. Com a evolução da tecnologia, ele deixou
capital de giro e, consequentemente, investir nas ações acordadas no Protocolo. de ser um marcador para se transformar em emissor de luz visível, de modo que seus
dobravam o fluxo luminoso proporcionando economia de energia.
Em 02 de maio de 2005, a AGTechnologies conseguiu a aprovação do seu Pro-
tocolo de Intenções, na Secretaria da Fazenda do Estado de Minas Gerais, para O mercado brasileiro não possuía à época fabricantes nacionais de backlights.
o diferimento do ICMS para a produção e comercialização do LCD. A AGTechnologies tornou-se a primeira no Brasil a produzir esse equipamen-
to, diferenciando-se dos concorrentes internacionais por oferecer módulos de
A partir de 1 de julho de 2005, a AGTechnologies passou a usufruir do benefício displays de cristais líquidos personalizados. A empresa também se destaca-
concedido. Essa foi uma ação complexa, pois o processo de concessão era buro- va por sua capacidade de pesquisa em projetos especiais, em que, para cada
crático, sendo necessária a apresentação de diversos documentos, até o deferi- aplicação, os clientes exigiam soluções específicas. O curto tempo para de-
mento do pedido pela Receita Estadual. O benefício resultou na diminuição anual senvolvimento desse tipo de projeto e a qualidade final do produto elevou a
do recolhimento de ICMS na saída dos produtos em até 100%. Desobrigada desse confiança do mercado consumidor.
encargo, a empresa conseguia aumentar seus recursos financeiros em caixa.
Isso só foi possível, porque, além de competência técnica, a empresa contava
A AGTechnologies cumpriu os compromissos acordados no Protocolo de In- no seu entorno com especialistas e laboratórios de instituições e centros de
tenções com o Governo, investindo na própria empresa através de treinamen- ensino que suportavam os trabalhos de pesquisa.
tos para os funcionários, desenvolvimento de produtos e principalmente no
aumento do número de empregos. O cumprimento integral dessas exigências Os compradores na época buscavam no produto alternativas para a redução do con-
era condição fundamental para a manutenção do benefício. sumo de energia, sobretudo, com a utilização de Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo – MDLs. Assim, a AGTechnologies ofereceu ao mercado por meio do Backli-
O resultado dessa negociação foi a diminuição do custo final e consequente- ghts, o LCD com baixo consumo de energia. Já nos serviços, disponibilizou suporte
mente um pequeno aumento na qualidade percebida do produto pelo merca- técnico para a solucionar as eventuais demandas dos clientes.
do interno. Era necessário agora uma estratégia que tivesse maior impacto e
eficácia na competitividade da empresa. Nos processos internos, a AGTechnologies implantou um sistema de gestão
da qualidade, obtendo em dezembro de 2007 a certificação ISO 9001:2000. A
certificação permitiu descrever procedimentos e padronizar a documentação
Tecnologia como fator de diferenciação dos macroprocessos da empresa, envolvendo as áreas de suprimentos, ven-
das, produção e desenvolvimento de produtos.
Anderson acreditava na tecnologia como fator de diferenciação. A convicção
era tamanha que a empresa criou, no final de 2006, o seu produto mais ino-
vador. Em parceria com o Sebrae-MG – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

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A decisão de superar desafios gráfico 1 – faturamento

R$ 3.900.000
4.000.000
Para que seu produto se tornasse de fato competitivo, além do diferencial téc-
nico, era necessário diminuir ainda mais os custos de fabricação. Buscando a
3.000.000 R$ 2.600.000
redução de gastos, Anderson fechou parcerias com fornecedores internacio-
nais de matéria-prima. Com a importação das peças foi possível nacionalizar R$ 1.900.000

(r$)
2.000.000
a montagem do produto. Como resultado a AGTechnologies reduziu custos,
estoques e prazos de entrega. Entretanto, a produção não havia alcançado 1.000.000
volume para proporcionar a lucratividade esperada. R$ 280.000
0
0
2004 2005 2006 2007 2008
Em julho de 2006, a AGTechnologies adotou um sistema de economia de
escala através de uma política industrial de estoques de subconjuntos cujo Fonte: Dados da empresa

objetivo era reduzir o ciclo operacional do negócio. Os subconjuntos eram


partes pré-montadas do produto final, importadas individualmente e que
demandavam um tempo maior de aquisição. Ao utilizar seu capital de giro O faturamento da AGTechnologies apresentou taxas anuais equivalentes a
para assegurar o período de estocagem das matérias-primas, a empresa 700%, 150% e 140% de crescimento de 2005 a 2008. Esses resultados foram
conseguia, nesse meio tempo, reunir partes das peças, o resultado era a decorrentes da consolidação da empresa no mercado de LCD.
composição parcial do produto.
gráfico 2 – empregos gerados

Assim, quando o pedido do cliente entrava na fábrica, o prazo de montagem 30 28

(número de empregados)
diminuía consideravelmente em relação aos concorrentes. Enquanto o tempo
médio da concorrência era de noventa dias, com a adoção dessa política a AG- 20
Technologies passou a entregar seus produtos em sete dias. 20

12
Para diversificar o quadro de fornecedores, Anderson participou de mis- 10
sões internacionais para prospectar negócios em países com potencial de 4
compra e comercialização. Em 2006 e 2007, na condição de vendedora de 0
seu produto LCD, a AGTechnologies visitou na América Latina seis países: 0
2004 2005 2006 2007 2008
Argentina, Uruguai, Chile, Costa Rica, Panamá e México. Como compradora
de insumos esteve em países do Continente Asiático, como China, Hong Fonte: Dados da empresa

Kong, Coréia e Taiwan.

Os resultados apurados entre 2006, 2007 e, principalmente 2008, aponta- De 2005 a 2008 ocorreu a ampliação do número de empregados, sendo que
ram o crescimento da empresa. Em 2007, a AGTechnologies detinha 40% do no último ano a empresa contava com uma equipe formada por 28 colabora-
mercado nacional de LCD. Foi registrado aumento no número de pessoas dores. O aumento do quadro de pessoal foi reflexo da evolução das vendas, o
contratadas e no volume da produção dos módulos de LCD, conforme pode que implicou na contratação de pessoas para as áreas de produção, comercia-
ser visto nos gráficos 2 e 3. lização e pesquisa.

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gráfico 3 – produção de lcd
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
(unidade) peças fabricadas 160.000
160.000
120.000 1. P ara as empresas que dependem de matéria-prima importada, que estraté-
120.000
gias podem ser adotadas para reduzir os custos de produção, uma vez que
80.000 possíveis benefícios concedidos pelo governo podem ser extintos?
48.000
40.000 20.000 2. Q
 ual foi a importância das parcerias para que a AGTechnologies se tornasse
0
0 uma empresa de destaque no mercado de LCD?
2004 2005 2006 2007 2008
Fonte: Dados da empresa 3. Q
 uais medidas foram mais eficazes para o aumento da competitividade da
AGTechnologies?
O crescimento da produção dos módulos de LCD entre os anos de 2005 e 2008
pode ser observado no Gráfico 3. Estes resultados retratavam o processo de
estruturação da produção da empresa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGTechnologies. Disponível em: <http://www.agte.com.br/>. Acesso em 23


Foco na tecnologia e resultados futuros out. 2008 às 19:20.

“Aprendi que a reunião de parceiros, a busca pela melhoria contínua na gestão Display Search. Disponível em: <http://www.displaysearch.com/>. Acesso em
e nos aspectos tecnológicos foram essenciais. Quanto mais investíamos, maior 14 jun. 2008 às 18:45.
era o crescimento da empresa”, relatou Anderson.
FONTES, Lílian. Sinhá Moreira, uma mulher à frente do seu tempo. Rio de Ja-
Uma das lições apontadas por ele foi que o desenvolvimento da empresa esta- neiro: Gryphus, 2007.
va ligado diretamente ao seu crescimento pessoal e profissional. Dessa manei-
ra, procurou adquirir ao longo do tempo características, como ter uma visão Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – Abinee. Disponível em:
de futuro para o negócio e ser persistente em suas ações. Para Anderson um <http://www.Abinee.org.br/>. Acesso em 30 jul. 2008 às 20:00.
empreendedor ainda tinha que se arriscar para obter sucesso.
Câmara Municipal de Santa Rita do Sapucaí. Disponível em: <http://www.ca-
O novo desafio da AGTechnologies seria elevar sua participação no mercado marasrs.mg.gov.br/>. Acesso em 10 jul. 2008 às 17:20.
de módulos de LCD, de maneira a atingir um faturamento anual de 6 milhões
de reais até 2010. A geração dos recursos financeiros, no patamar de milhões Guia de Santa Rita do Sapucaí. Disponível em: <http://www.guiasrs.com.br/
de reais, permitiria no médio prazo, a construção de uma nova fábrica. valeletronica.asp>. Acesso em 15 set. 2008 às 12:00.

Anderson apostava também na ampliação da linha de produtos relacionados a Display Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em: <http://
com a adoção de novas tecnologias. Um exemplo era o lançamento futuro do módulo www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em 4 out. 2008 às 23:11.
TFT-LCD, que teria uma ampla gama de aplicação em aparelhos de GPS, videoportei-
ro, monitor veicular, sistemas de som estéreo, equipamentos médicos e industriais. Os Sebrae Minas. Disponível em: <http://www.sebraeminas.com.br/casosdesu-
novos produtos seriam distribuídos em mercados com franca expansão, sobretudo, cesso>. Acesso em 5 jun. 2008 às 16:30.
em países do Mercosul, como a Argentina, Uruguai e Chile.

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InovaÇÕES PARA
O MERCADO PET

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Santa Rita do Sapucaí está localizada no sul do Estado de Minas Gerais. O mu-
nicípio fica às margens da BR-459, no eixo da malha viária entre as capitais São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e próximo à cidade de Campinas (SP).
Com uma área de 361 km2 e uma população de 35.7241 mil habitantes, Santa
Rita do Sapucaí apresentava como sua principal vocação industrial o setor de
eletroeletrônica.

Natural de Campinas, Francisco Mecchi era um jovem com várias metas tra-
çadas. Em 2002 deixou a família e veio para Santa Rita do Sapucaí para cursar
Engenharia Elétrica no Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel. In-
fluenciado pelo pai, que era proprietário de uma empresa do ramo de tele-
comunicações, sentiu os primeiros impulsos para empreender no tempo que
atuou como monitor na faculdade.
Empresa
Amicus Inovações – Indústria e Comércio Após submeter um plano de negócio ao processo de seleção da Incubadora de
de Produtos Eletrônicos Ltda. Empresas e Projetos do Inatel, Francisco teve seu projeto aprovado. Foi nesse
ambiente tecnológico que em 2004 ele criou, nas dependências da incubado-
Incubadora ra, a Amicus Inovações – Indústria e Comércio de Produtos Eletrônicos Ltda.
Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações Na época o empreendimento foi o primeiro no Brasil e na América Latina a
desenvolver uma coleira com um dispositivo “antilatido”.
Autor
Luiz Carlos Dionísio Neste mesmo ano, após ser legalmente constituída e já estar em funcionamento,
Francisco se deparou com dificuldades para divulgar a empresa e seus produtos.
Orientador Somado a isso estava o fato de não dispor de recursos financeiros para investir
Jadilson Ferreira Borges em ações de marketing. Tornar a Amicus e suas soluções conhecidas no merca-
do era um fator-chave para a continuidade e o crescimento do negócio.

Educação e avanço tecnológico

Santa Rita do Sapucaí vinha, desde a década de 1960, despontando no cenário


da eletrônica e das telecomunicações. Este progresso foi resultado da implanta-
ção em 1959 da Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa – ETE, na
época pioneira em toda a América Latina. Em 1965 nascia o Inatel e, logo depois, a
FAI – Faculdade de Administração e Informática. Essas três escolas de nível edu-
cacional e tecnológico, vocacionadas para o empreendedorismo, fizeram a ci-
dade crescer e receber mais tarde o título de “Vale da Eletrônica”.
Dados de 2008 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
1

38 39
Nas décadas seguintes, a cidade consolidou-se em um potencial pólo de Inovação, As indústrias do ramo eletroeletrônico no município empregavam cerca de 7.500
sendo reconhecida nacional e internacionalmente pela qualidade dos produtos pessoas e faturavam 530 milhões de reais ao ano. O Índice de Desenvolvimento
de suas empresas. Possuidora de uma concentração de empreendimentos de alta Humano (IDH) aumentou 10%, passando de 0,72 em 1991, para 0,79 em 2000. De
tecnologia, Santa Rita do Sapucaí tinha um complexo eletroeletrônico, onde eram acordo com o Atlas de Desenvolvimento Humano, se o município continuasse
fabricados os mais variados equipamentos. Estas empresas, além de espalhadas nesse ritmo, em aproximadamente 14 anos, alcançaria o patamar de São Caeta-
pelo município, também se concentravam nas incubadoras, estruturas que abri- no do Sul (SP), cidade que apresentava o melhor IDH do Brasil (0,92).
gavam negócios recém criados com potencial tecnológico e econômico. Nesse
ambiente eram desenvolvidos diversos projetos, protótipos e produtos para se- A cidade ainda preservava aspectos regionais, como as tradicionais festas re-
rem lançados no mercado interno e externo. ligiosas, além do conservadorismo na área agrícola e pecuária. Nesse cenário
típico do interior, a convivência entre os aspectos regionais e o progresso tec-
No Brasil, em 2007, o quadro das empresas na área de eletroeletrônico chegou nológico se integravam com o meio empreendedor, proporcionando conheci-
ao patamar de 700 indústrias associadas à Abinee – Associação Brasileira da In- mento, riqueza e tranquilidade.
dústria Elétrica e Eletrônica. Por suas peculiaridades, em Santa Rita do Sapucaí
havia, no segundo semestre de 2008, 132 microempresas de base tecnológica,
filiadas ao Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Simila- Percepção empreendedora
res do Vale da Eletrônica – Sindvel.
Nascido em Campinas, Francisco desde a infância tinha como aspiração tra-
Conforme demonstrado pelo Gráfico 1, essas empresas estavam distribuídas balhar na direção de uma empresa. Esse desejo era decorrente da influência
por segmento da seguinte forma. familiar, pois seu pai, o Sr. Francisco Mecchi Neto, era proprietário da AsGa,
empresa do ramo de telecomunicações.
gráfico 1 – Distribuição das empresas por segmento
Após concluir o ensino médio, Francisco pretendia ingressar no curso de Adminis-
tração de Empresas, porém abandonou a ideia ao saber que a maioria dos executi-
outros vos da área de telecomunicações eram engenheiros. Decidiu prestar vestibular para
12% engenharia na Unicamp – Universidade de Campinas. Contudo, seu pai que empre-
Automação gava ex-alunos do Inatel, o convenceu da qualidade do ensino do instituto. Após
26% diversas pesquisas, Francisco percebeu que a Instituição se destacava na área de
telecomunicações, e muitos de seus egressos ocupavam posição de destaque.
Tecnologia
da informação
20% A trajetória de Francisco no Inatel começou em 2002, quando foi admitido no
curso de Engenharia em Telecomunicações. Nesse mesmo ano, matriculou-se
na disciplina de empreendedorismo. A matéria, obrigatória na grade da facul-
Eletrônica e dade, o motivou a colocar em prática o aprendizado e as ferramentas necessá-
telecomunicações rias para transformar ideias em oportunidades.
42%
Além de participar da empresa júnior, Francisco trabalhava como monitor na
Casa Viva, um setor da faculdade que tinha como objetivo a inclusão digital
Fonte: Sindvel dos estudantes. Em 2004 surgiu a possibilidade de criar um negócio próprio

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em parceria com Henrique Augusto Soares Carneiro, colega de classe de Fran- Não havia no país fabricantes nacionais de coleiras eletrônicas. A descoberta desse ni-
cisco. Ambos inscreveram-se no concurso “Os Melhores Planos de Negócio”, cho partiu do Sr. Fernando Marcos Bigeschi, adestrador de cães e campeão nessa mo-
organizado pelo Núcleo de Empreendedorismo do Inatel. O plano foi apresen- dalidade. Francisco e Henrique contataram Fernando e chamaram-no para compor o
tado para uma banca examinadora, obtendo o primeiro lugar. O prêmio em quadro societário da empresa. Fernando aceitou o convite e ajudou na concepção do
dinheiro serviu de “capital semente”2 para a abertura da Amicus. protótipo. Após um ano, Fernando vendeu sua parte e desligou-se da sociedade. Os
sócios trabalharam durante um ano no desenvolvimento da coleira, e em 2005 a Ami-
Ainda em 2004, o projeto empresarial foi aprovado no processo seletivo da cus lançou no mercado o seu primeiro produto, o Smart – Coleira Antilatido.
Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel. A incubadora possuía 800 m2
de área construída e disponibilizava para os negócios incubados, além do Desde o início, a empresa tinha como foco a aplicação de tecnologia de ponta na fa-
espaço físico, acesso gratuito à internet, telefone e fax; equipamentos para bricação dos seus produtos. Esse diferencial foi explorado, quando da concepção do
o desenvolvimento de produtos, assessoria na gestão empresarial, pros- Smart Coleira Antilatido. A coleira pretendia dar fim ao latido excessivo dos cães que,
pecção de mercado, captação de recursos financeiros e outros serviços a muitas vezes, traziam problemas ao dono do animal, vizinhos, etc. A solução estava
custos compartilhados. no uso de uma correção sonora inofensiva, acionada pelo latido do animal. A coleira
captava o som e emitia um sinal sonoro numa frequência específica de adestramento,
Inicialmente, a empresa procurou desenhar soluções para atender às de- fazendo com que o cão parasse de latir. O sinal era entendido como um “não” e, assim,
mandas do segmento pet, criando produtos para pequenos animais de após quatro ou cinco dias de uso, o animal associava a razão da correção sonora ao
estimação. A Amicus iniciou suas atividades como a primeira na América seu, o que o condicionava a não latir mais enquanto estivesse com a coleira.
Latina e no Brasil a fabricar uma coleira antilatido. Por ser um produto novo
e destinado a um mercado capilarizado, muitos clientes não adquiriam a O produto era comercialmente competitivo, mas a empresa não possuía recur-
coleira por não saber de sua existência. sos financeiros para torná-lo conhecido. Essa situação levou Francisco a pensar
em como tornar nacionalmente conhecido o produto, uma vez que não havia
capital para investir em ações promocionais e de marketing.
Tecnologia como diferencial competitivo

O Brasil era considerado o segundo país do mundo em número de animais de O desafio, a estratégia e a decisão
estimação. Existiam 28 milhões de cães, 12 milhões de gatos e quatro milhões
de outros animais de estimação nos lares brasileiros. Segundo dados da pes- Sem orçamento para ações promocionais, em julho de 2006, Francisco começou a
quisa Ibope Target Group de 2005, em 49,3% dos domicílios do país há, pelo visitar pessoalmente potenciais distribuidores, utilizando material gráfico e amostras
menos, um animal de estimação. Esses números davam uma clara medida da do produto. Durante as visitas eram demonstrados os possíveis usos e o potencial de
força que esse fenômeno vinha ganhando a partir das duas últimas décadas. venda do dispositivo antilatido. Para minar a resistência inicial, foi necessário compro-
var que o produto solucionaria os problemas do latido excessivo dos cães.
O surgimento da Amicus foi baseado em pesquisas no mercado externo, onde havia gran-
de demanda para os produtos do segmento pet, principalmente nos Estados Unidos, Aus- O primeiro obstáculo havia sido superado e as empresas procuradas passaram a
trália e Europa. Na época da criação da empresa, vários desses produtos também apresen- distribuir o Smart Coleira Antilatido. A partir de então o produto fornecido pela
tavam uma procura no mercado interno, mais especificamente pela coleira eletrônica de Amicus tornou-se uma alternativa mais viável quando comparada aos concorren-
adestramento, que até então só era adquirida por meio de importação. tes que fabricavam produtos similares no exterior. Além de não ser mais preciso a
importação da tecnologia, os compradores tinham disponível um produto a um
Também chamado de “seed money” é o capital fornecido à empresa num estágio pré-operacional para, por exemplo, a construção de um protótipo,
2
custo menor e com a mesma aplicabilidade, segurança e qualidade.
a condução de uma pesquisa de mercado, a elaboração de um plano de negócios e a contratação dos executivos que vão tocar a empresa.

42 43
Porém, os resultados ainda estavam aquém do esperado e em maio de 2007, Fran- Outra tecnologia criada foi um controle de adestramento ultrassônico capaz de treinar e
cisco decidiu adotar uma nova estratégia. Conseguiu, através de parcerias com condicionar o cão, chamado Sonic. Ele podia ser usado para reforçar comandos, como,
varejistas de grande porte, a divulgação em todo o país dos produtos da empresa por exemplo, evitar que o cão chegasse perto da mobília ou pulasse nas pessoas. O Sonic
sem incorrer em qualquer tipo de custo. As parcerias foram firmadas com em- produzia um ultrassom só ouvido por cães e gatos, que não causava danos à saúde do ani-
presas de projeção nacional, como a loja virtual Americanas.com, Comprafacil do mal. No processo de adestramento o ultrassom emitido era entendido pelo cão como um
Grupo Hermes e Redetv Shop. O produto da Amicus também atraiu a atenção da “não”. Ao utilizar esse estímulo negativo quando o cão apresentasse um comportamento
mídia especializada, sendo apresentado no programa Late Show, da Rede TV. “Es- indesejado, o animal era condicionado a não repetí-lo.
sas ações fizeram com que a Coleira Antilatido e a Amicus ficassem conhecidas em
todo Brasil e para isso não gastamos um centavo sequer”, afirmou Francisco. Essa evolução possibilitou que a Amicus alcançasse resultados positivos. Em 2008 a empre-
sa contava com uma equipe formada por nove colaboradores. De 2006 para 2007 houve
O impacto dessa estratégia foi o aumento das vendas, despertando o interesse de outros um crescimento de 229% no volume de fabricação das coleiras, chegando à capacidade
varejistas em disponibilizar o produto nos demais pontos de venda. Em 6 de julho de 2007 produtiva de 10.700 peças por ano, conforme pode ser observado no Gráfico 2.
a Amicus se graduou na Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel.
gráfico 2 – produção de coleiras

(unidade) peças fabricadas


12.000
Agarrando as oportunidades
9.000

A partir dos resultados alcançados, a Amicus apostou no desenvolvimento de 6.000


novos produtos eletrônicos de adestramento que permitiriam ao próprio dono
educar seu cão de uma maneira fácil e eficaz. 3.000

0
Para fortalecer a marca e expandir sua rede comercial, a Amicus participou em 2004 2005 2006 2007
setembro de 2007, na Expo Transamérica em São Paulo-SP, da Pet South América, Fonte: Dados fornecidos pela empresa.
maior feira destinada ao mercado pet do país. A cobertura feita pelos meios de
comunicação trouxe mais credibilidade, resultando na introdução do produto em Pode ser observado no Gráfico 3 um aumento de 20% na receita da empresa
distribuidores estratégicos de cada uma das cinco regiões do país. em relação a 2006. Esses resultados financeiros foram decorrentes dos inves-
timentos em tecnologia, da preocupação com a eficiência e a qualidade do
Durante a feira foi lançada a Stop Cerca Virtual, um dispositivo que permitia res- produto e principalmente das estratégias de comercialização adotadas.
tringir a área em que não era desejada a presença do cão sem o uso de barreiras
gráfico 3 – evolução do faturamento
físicas, como muros, portões ou grades. A Stop consistia em uma coleira com um
21
pequeno receptor, um transmissor e fios que funcionavam como delimitadores.
18

(VALOR % relativo)
15
O transmissor da Stop poderia ser instalado em qualquer local coberto da casa. 12
O transmissor enviava um sinal e ao aproximar-se do fio, o receptor na coleira do 9
cão captava o sinal e emitia um tom de alerta. Caso o cão continuasse a avançar, o 6
receptor emitiria um inofensivo estímulo eletrostático ao animal. Depois de pou- 3
cos dias o cão não mais avançaria ao ouvir o som e, após alguns dias, já estaria con- 0
2004 2005 2006 2007
dicionado com a área que deveria permanecer antes de ouvir o som de alerta.
Fonte: Dados fornecidos pela empresa.

44 45
O futuro pautado na consolidação QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

Os resultados apurados pela empresa foram decorrentes da sua política de inova- 1. Q


 ue relação pode ser observada entre o monitoramento de tendências e o
ção e da sua busca permanente em desenvolver produtos que possibilitassem a lançamento dos produtos da Amicus?
melhoria da qualidade de vida e a harmonia entre o animal e o seu dono. A apli-
cação de técnicas de planejamento estratégico e a utilização de ferramentas de 2. Q
 ue outras estratégias de marketing a empresa poderia ter adotado para alavancar as
divulgação sinalizavam para um processo de crescimento sustentado. “Aprende- vendas dos seus produtos, sem implicar em grandes investimentos financeiros?
mos que, sem a interação e o comprometimento dos sócios na busca de um ideal
comum, o sucesso não apareceria”, relatou Francisco. 3. N
 a sua opinião que cuidados Francisco deve ter para que seus planos de
internacionalização sejam bem-sucedidos?
Como projeto futuro um novo produto para o mercado pet estaria sendo
desenvolvido, o SIT – Sistema Inteligente de Treinamento que consistiria
em um controle remoto para auxiliar adestradores no treinamento de cães. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Esse tipo de controle era difundido no exterior e utilizado por caçadores
e demais pessoas que desejavam adestrar seu animal de estimação. O SIT FONTES, Lílian. Sinhá Moreira, uma mulher à frente do seu tempo.
enviaria estímulos à coleira do cão em cinco níveis diferentes, além do nível Rio de Janeiro: Gryphus, 2007.
sonoro de alerta. Estes estímulos seriam análogos aos usados em aparelhos
de abdominais eletrônicos. Dessa forma, o cão poderia ser adestrado a uma Sebrae Minas. Disponível em: <http://www.sebraeminas.com.br/casosdesu-
distância de até 50 metros. cesso>. Acesso em 23 jun. 2008 às 10:00.

Além disso, a Amicus estava desenvolvendo outro produto que seria lançado Câmara Municipal de Santa Rita do Sapucaí. Disponível em: <http://www.ca-
em 2009. Esse produto seria um tapete de adestramento, ainda sem nome co- marasrs.mg.gov.br/>. Acesso em 20 out. 2008 às 21:28.
mercial. Ele consiste em um tapete que emitiria pequenas descargas estáticas,
caso o cão ou o gato passasse por cima. Ele seria utilizado para que o animal Guia de Santa Rita do Sapucaí. Disponível em: <http://www.guiasrs.com.br/
não subisse em cima do carro, do sofá ou outros móveis. O tapete também au- valeletronica.asp>. Acesso em 30 jul. 2008 às 20:40.
xiliaria para que o animal não ultrapasasse determinada área, como uma porta
ou corredor, e seria utilizado dentro de casas ou apartamentos. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Disponível em: <http://
www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php>. Acesso em 10 jun. 2008 às 19:05.
Os próximos desafios que Francisco vislumbrava era inserir seus produtos no
mercado internacional. Outra ação era estabelecer parcerias para trazer maior Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica. Disponível em: <http://www.
visibilidade à empresa. A Amicus estava se preparando para esses desafios com abinee.org.br/informac/arquivos/pan2008.pdf>. Acesso em 15 ago. 2008 às 10:00.
investimentos em qualidade e marketing. Nas exportações, pretendia procurar
distribuidores que conseguissem comercializar e divulgar a marca no exterior. Amicus. Disponível em: <http://www.amicus.com.br/>. Acesso em 5 out. 2008
Para isso, a Amicus participaria de missões e feiras internacionais com a ajuda às 17:35.
do Sindvel, através do programa Apex-Brasil3.
FINEP. Projeto Inovar: Glossário. Capturado em 10 jul. 2000. On line. Disponível em: <http://
www.capitalderisco.gov.br/vcn/glossario_CR.asp>. Acesso em 11 set. 2008 às 9:45.
Serviço Social Autônomo ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior destinado a promover as exportações de produtos
3

das empresas brasileiras.

46 47
procurando
um nicho de
mercado na
biotecnologia

48 49
A genética esteve presente na vida humana desde a pré-história, quando o
homem comum utilizava de conhecimento tácito1 na domesticação e no cru-
zamento seletivo de animais e plantas. Já no século XXI, a genética passou
a ser empregada na indústria de biotecnologia como aspecto estratégico no
desenvolvimento de novos negócios e produtos.

No Brasil a área de genética se enquadrava como potencial competitivo e em


Minas Gerais era um segmento que crescia em termos de avanços tecnológicos.
Segundo o Diagnóstico da Indústria de Biotecnologia de Minas Gerais, elabo-
rado pela Federação das Indústrias em 2004, os fatores que levaram a essa si-
tuação foram a tradição das escolas de medicina, bioquímica e farmácia, assim
como os investimentos nas universidades e centros de pesquisa do Estado.

Empresa Prova dessa tendência foi que em Belo Horizonte, após concluir o mestrado
Biocod Biotecnologia Ltda. em microbiologia pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, Kátia
Torres começou a trabalhar em um laboratório de biotecnologia, onde obteve
Incubadora experiência e conheceu pessoas que compartilhavam os mesmos interesses e
Habitat/Fundação Biominas possuíam o anseio de empreender na área.

Autores Assim, a Biocod Biotecnologia foi criada em 2000 com o objetivo de oferecer
Bernardo Annoni e serviços de identificação animal e humana pelo teste de DNA 2 , tendo Kátia e
Luciana Patrícia Rezende da Silva mais três colegas de profissão como dirigentes. Os serviços de identificação
de animais obtiveram uma aceitação no mercado acima do esperado, fazendo
Orientador surgir demandas significativas para a empresa.
Jadilson Ferreira Borges
Em Janeiro de 2004, Kátia viu-se diante de uma oportunidade de negócios re-
levante: atender a demanda animal existente, fortalecendo o posicionamento
da empresa nesse segmento. Esse fato trouxe uma série de desafios para a Bio-
cod, pois o setor de animais absorveria todos os recursos humanos, materiais e
financeiros do empreendimento.

Havia duas possibilidades para a Biocod: investir e especializar-se na produção


genética para animais ou permanecer simultaneamente nos dois segmentos,
animal e humano, atendendo a um mercado mais amplo.

Conhecimento tácito é aquele que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, que está na cabeça das pessoas. Geralmente é difícil de ser explicado a
1

outra pessoa, pois é subjetivo e inerente às habilidades de uma pessoa. Tácito vem do latim tacitus: “não expresso por palavras”.

O ácido desoxirribonucleico (ADN, em português: ácido desoxirribonucleico; ou DNA, em inglês: deoxyribonucleic acid), é um composto orgânico cujas
2

moléculas contêm as instruções genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento dos seres vivos e alguns vírus.

50 51
Biotecnologia mineira: Em Minas Gerais, a Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH abrigava
tendência local de família um pólo de biotecnologia que se destacava pelos seus resultados no desen-
volvimento de produtos e serviços. Do conhecimento da bioindústria instala-
A palavra biotecnologia3 foi usada pela primeira vez em 1919 por um engenheiro da na região resultavam de inovações destinadas à saúde humana e animal, ao
agrícola da Hungria. As primeiras aplicações biotecnológicas pelo ser humano da- desenvolvimento do agronegócio e à sustentabilidade do meio ambiente.
tam de 1800, com o uso de leveduras para fermentar vinhos e pães. Mas foi a partir
da descoberta da estrutura do DNA, em 1953, que o setor acelerou seu crescimen- Kátia Torres deu seus primeiros passos nesse setor em 1985, quando graduou-se
to com o desenvolvimento da Engenharia Genética. Esse crescimento trouxe para em biologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Em seguida ingressou no
o Brasil, em 1976, a primeira empresa de biotecnologia. mestrado em microbiologia da UFMG. Na época trabalhou no primeiro laborató-
rio da América Latina dedicado a realizar testes de identificação com DNA.
Em 1990 surgiu em Minas Gerais, por iniciativa de empresas do setor, a Fundação Bio-
minas. Criada como uma entidade privada de suporte, seu papel era facilitar e catalisar Nos nove anos em que trabalhou no laboratório, adquiriu conhecimentos, ten-
ações de integração, difusão de conhecimento e de governança do setor. do a certeza de que o rigor científico geraria qualidade e valor aos seus ser-
viços. Nesse período, conheceu as biólogas Márcia Caldeira Brant Neves Cam-
Segundo estudo da Fundação Biominas, em 2007 existiam no Brasil 71 empresas de bio- pos, Valéria Matarelli Pereira Calijorne e Cristiane Lommez de Oliveira, que se
tecnologia, sendo que 21 ficam em Minas Gerais, conforme mostra a tabela abaixo. tornariam suas sócias num futuro não muito distante.
Tabela 1 – Distribuição regional das
empresas de biotecnologia por unidade Márcia era bióloga pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC
da federação e grandes regiões Minas e sempre trabalhou nas áreas de imunologia e genética humana, além
de ter chefiado o setor de paternidade de um laboratório. Valéria também es-
Grande Região Unidade da federação (UF) Empresas % Brasil tudou Biologia na PUC Minas e foi contratada pelo mesmo laboratório logo
Nordeste (5,63%) Alagoas 1 1,41 após se formar. Cristiane era considerada uma “menina prodígio”, pois formou-
Bahia 1 1,41 se com 21 anos em Biologia e tornou-se mestre em Bioquímica e Imunologia
Pernambuco 2 2,82 pela UFMG em 1989, ano em que completou 23 anos de idade.
Centro-Oeste (5,63%) Distrito Federal 1 1,41
Goiás 1 1,41 A convivência e a rotina do laboratório de biologia molecular onde trabalha-
Mato Grosso 2 2,82 vam, fez com que Kátia desenvolvesse afinidades com as três outras pesquisa-
doras. Em conjunto as quatro decidiram abrir uma empresa.
Sudeste (80,28%) Minas Gerais 21 29,58
Rio de Janeiro 6 8,45
Em 1999 começaram com um projeto para cultivo de plantas por meio de cul-
São Paulo 30 42,25 tura, não obtendo sucesso, entretanto. Em fevereiro de 2000, criaram a Biocod
Sul (8,45%) Paraná 1 1,41 Biotecnologia Ltda., uma empresa focada em atividades de identificação pelo
Rio Grande do Sul 4 5,63 teste de DNA em dois segmentos: humano e animal.
Santa Catarina 1 1,41
Brasil Total 71 100,00 Para não concorrer com o laboratório onde trabalhavam, buscaram dois novos
Fonte: Fundação Biominas (2007) segmentos. O primeiro era a identificação de animais, especialmente bovinos e
equinos de raça; enquanto o segundo era voltado para identificação humana,
Biotecnologia consiste na aplicação em grande escala, ou transferência para indústria, dos avanços científicos e tecnológicos, resultantes de pesqui-
no qual previam a constituição de um banco genético para as seguradoras, seus
3

sas em ciências biológicas.

52 53
principais clientes. Mesmo se diferenciando do antigo laboratório, levaram uma Com os conhecimentos e ferramentas adquiridos, Kátia organizou a em-
importante bagagem de experiência para a abertura da nova empresa. presa em quatro áreas distintas: finanças, vendas, processos e produção.
Cada uma das sócias respondia pela direção de uma das áreas, mas op-
Iniciar uma empresa de biotecnologia não era uma tarefa simples. A compra taram por não criar a figura de um presidente. Todas as decisões eram
de equipamentos e a construção de espaço físico consumiam, em média, 75% tomadas em consenso.
dos investimentos iniciais. Como esses investimentos ultrapassavam a barreira
dos milhões de reais, elas tiveram que procurar apoio. Foi assim que buscaram Apesar do apoio da incubadora, na cessão do espaço físico e na oferta de capa-
a Fundação Biominas com o objetivo de incubar a empresa recém-criada. citação, a empresa ainda precisava de caixa para seu desenvolvimento pleno.
A Biocod não dispunha de recursos para comprar insumos básicos e equipa-
A Fundação Biominas era uma instituição privada que promovia o desenvol- mentos específicos. Todos esses materiais implicavam em um custo elevado
vimento dos bionegócios no Brasil e integrava uma rede de relacionamentos por se tratar do campo da biologia molecular. Em 2000, Kátia procurou o Ban-
nacional e internacional, que facilitava a identificação de projetos de pesquisa co de Desenvolvimento de Minas Gerais – BDMG e apresentou um projeto,
com potencial para gerar novos negócios. solicitando um empréstimo no valor de 56 mil reais. Após diversas análises, o
financiamento foi concedido.
Atuava também como gestora da Incubadora de Empresas Habitat, inaugura-
da em 1997 por meio da iniciativa da Fundação com a Universidade Federal de Após receber o empréstimo, Kátia percebeu que poderia contar com a aju-
Minas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte, Governo do Estado de Minas Gerais da de órgãos de fomento para viabilizar o negócio. Tornou-se especialista
e Governo Federal. Em seus 11 anos de atividade, foi responsável pela apresen- em preencher formulários de projetos específicos e monitorava os editais das
tação, no mercado, de 21 empresas start-ups 4 , gerando um faturamento de agências de fomento.
mais de 70 milhões de reais durante seu período de incubação.
Através dos editais, conseguiu a aprovação de projetos que alavancaram o
O processo de incubação foi fundamental para o desenvolvimento da empre- crescimento da empresa. Um deles foi aprovado no Conselho Nacional de Pes-
sa, pois a incubadora oferecia as condições de desenvolvimento até que as quisa (CNPq), dentro da linha de Recursos Humanos para o Desenvolvimento
empresas pudessem prosseguir seu caminho de forma independente. Tecnológico (RHAE). Com esse projeto obtiveram, em maio de 2001, uma bolsa
mensal que durou dois anos.
A Biocod passou por um processo de seleção que consistia na elaboração e en-
trega de um plano de negócios, além de diversas entrevistas. Os analistas res- A Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais – Fapemig também con-
ponsáveis pela avaliação do plano de negócios questionaram se a gestão da em- cedeu uma bolsa no valor de 2 mil reais mediante a aprovação de um projeto.
presa seria feita de forma eficiente por quatro pessoas com a mesma formação. Isto ocorreu duas vezes na história da empresa, em 2001 e em 2003. Na Fa-
pemig foi aprovado ainda um empréstimo, sem a cobrança de juros, para a
As sócias perceberam que era necessário se capacitar e desenvolver habilidades ge- compra de equipamentos, no montante de 30 mil reais.
renciais, mesmo que no futuro contratassem uma pessoa para gerir as operações da
empresa. Diante desse fato, a Biominas estimulou as empreendedoras a participarem Mesmo após todos esses investimentos, a linha de produção voltada para
do programa da Fundação Dom Cabral chamado PAEX (Parceiros para a Excelência)5. identificação humana e criação de um banco de dados genéticos para as se-
guradoras obteve rejeição. Para que o serviço fosse eficaz, era necessário que
Start-up é um termo em inglês que designa empresas com história limitada de operação. Essas empresas, geralmente recém criadas, se encontram
4

em fase de pesquisa e desenvolvimento de mercados. Este termo tornou-se popular internacionalmente durante os anos 2000, quando um grande
o assegurado cedesse uma amostra de seus tecidos e isso gerava constrangi-
número de empresas de internet foram criadas. mento aos clientes, o que levava-os a recusar o serviço.
O PAEX – Parceiros para a Excelência é um programa da FDC de Belo Horizonte para empresas de pequeno e médio portes. É um modelo de gestão
5

integrado, que prioriza o intercâmbio intensivo com outras empresas, bem como a aplicação de metodologias de gestão focadas em melhoria de
competitividade.

54 55
Quando receberam a notícia, a equipe de biólogas estava desenvolvendo Após negociação com a Biocod, a Associação Brasileira dos Criadores do Ca-
um kit de análise de material genético. O serviço foi interrompido, pois o valo Manga-larga Marchador começou a exigir o teste de DNA para todos os
processo havia se tornado financeiramente inviável. Então, em agosto de animais nascidos a partir daquela data. E em 2004 a empresa se tornou forne-
2000, decidiram adaptar o kit para a realização de testes de paternidade, cedora de todos os testes das associações.
pois os procedimentos eram semelhantes. Esse serviço teve como resulta-
do o início das vendas da empresa, munindo-a, assim, de capital de giro. Nesse momento, ocorreu a visualização de uma oportunidade de merca-
O fato permitiu também que associassem essa ideia à criação do mesmo do, pois a plataforma tecnológica utilizada nos testes em cavalos poderia
teste para animais. ser empregada na produção bovina, o que ampliava a demanda dos kits
de análise por laboratórios de todo o Brasil. A Biocod trouxe à tona o
Os recursos iniciais possibilitaram a contratação do primeiro funcionário e exame de paternidade animal e os criadores de cavalos gostaram tanto
a divulgação dos serviços da empresa. No início de 2001, a Biocod fechou do novo serviço que em dezembro de 2004 encomendaram aproximada-
um contrato significativo, mas pontual e sem perspectivas de se tornar mente 500 exames.
uma demanda contínua. A contratação de pessoas para realizar os dois mil
exames estabelecidos no contrato se tornou impraticável, obrigando as só- Dessa forma, em 2004 o boom de demanda fez com que a empresa se visse
cias a trabalhar nos finais de semana para reunir dinheiro suficiente para a numa posição em que a tomada de decisão deveria ser rápida. “Os testes de
compra de equipamentos. paternidade já eram conhecidos e aceitos no mercado, mas os testes e análises
em animais estavam ‘roubando a cena’, pois os clientes eram bem distintos e a
No mesmo ano, a base de clientes aumentou de forma a permitir a ampliação forma de lidar com eles diferente”, declarou Kátia.
do quadro de empregados. No final de 2001, a Biocod contava com três co-
laboradores, seis em 2002 e atingiu o patamar de dez em 2003. Em 2004, os As empresárias perceberam que o desafio em atender à demanda crescen-
kits de análise de material genético em animais começaram a ser vendidos e te por serviços de identificação animal, sem sacrificar o negócio de testes de
a empresa experimentou um crescimento impressionante, o que demandou a paternidade, havia se instalado na realidade da empresa. Qual seria o melhor
contratação de mais dez funcionários. caminho? Investir apenas no atendimento aos testes de DNA em animais ou
permanecer atuando nos dois segmentos, correndo o risco de um prejudicar
Além disso, as sócias decidiram comprar um sequenciador genético de últi- as operações do outro?
ma geração para poder atender à demanda de testes em animais. Para isso,
pediram um novo empréstimo de 260 mil reais ao BDMG, que exigiu um
bem como garantia. Nesse momento, Kátia hipotecou sua própria casa ao LinhaGen: O Spin-off6 corporativo da Biocod
banco, um ato arriscado, mas que mostraria posteriormente ter sido uma
decisão acertada. No início do negócio voltado para animais, as sócias da Biocod elaboraram
um estudo de viabilidade para essa linha de atuação. Quando o desafio se ins-
Para alavancar as vendas, Kátia procurou diretamente os criadores de ca- taurou, Kátia procurou investidores para produzir os kits de análise em larga
valos para oferecer os testes de identificação. A reação inicial foi de re- escala e atender a laboratórios de todo o Brasil. Com o auxílio de consultores
jeição a esse tipo de investimento, uma vez que o procedimento não era e do núcleo de novos negócios da incubadora, a Biocod instigou a Biominas a
obrigatório juridicamente e as associações de criadores não o havia re- investir no projeto.
comendado. Kátia percebeu então quem eram os formadores de opinião
nesse contexto. Spin-off é um termo em inglês usado para descrever uma nova empresa que nasceu a partir de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade
6

ou centro de pesquisa, normalmente com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia. É comum que estas se estabeleçam
em incubadoras ou áreas de concentração de empresas de alta tecnologia.

56 57
Assim, Kátia juntamente com suas sócias resolveu abrir uma nova empresa, O crescimento do faturamento ocorrido entre 2006 e 2008 da Linhagen foi
spin-off da Biocod, tendo a Biominas como sócia. Além disso, devido aos con- resultado da conquista de novos clientes, principalmente em outros estados.
tatos feitos com as associações de criadores de cavalos, um deles se interessou Analisando o crescimento da empresa em números, a quantidade de exames
em participar da nova empresa. Em fevereiro de 2005, nasceu a Linhagen Solu- aumentava gradativamente. Em 2005, eram por volta de 6 mil exames. Em
ções em Genética, com o objetivo de atuar somente no setor animal, especia- 2006, 15 mil, em 2007 aumentou para 21 mil e o último levantamento em 2008,
lizada em exames de identificação genética animal. por volta de 26 mil exames.

A sociedade era composta da seguinte maneira: as sócias da Biocod fica- Além disso, as sócias buscaram se atualizar participando de congressos e mis-
ram com 42%, a Biominas com 36% e o criador de cavalos com 22%. Kátia, sões internacionais que renderam contatos e possíveis parcerias comerciais.
Márcia, Valéria e Cristiane eram responsáveis pela área técnica e a filha do Dentre eles Kátia destacou um congresso sobre genética animal realizado em
criador de cavalos se tornou a diretora comercial. Quatro funcionários fo- 2008 na Holanda, no qual tiveram acesso a avançadas discussões sobre o tema
ram transferidos da Biocod para a Linhagen. Após a decisão de criar a spin- e que trouxe ideias para a criação de novos produtos.
off, Kátia e suas sócias dedicaram-se à construção do plano de negócios do
empreendimento.
Lições aprendidas
A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Manga-larga Marchador en-
trou em contato com a empresa para que fizessem os testes de DNA em todos Para Kátia, a experiência na direção da Biocod e da Linhagen reforçou a impor-
os animais da associação. A Linhagen elaborou a proposta, mas a associação tância de se formular um plano estratégico consistente, identificando um foco
pediu uma redução no preço. Aceitaram diminuir o preço, desde que fosse de atuação para a empresa. Em toda sua trajetória, foi possível observar a ne-
feito um contrato de no mínimo dois anos de prestação de serviços. cessidade de manter uma visão voltada para a inovação. “Procuramos garantir
a expansão e a diversificação permanente das nossas linhas de serviço, sempre
A empresa iniciou em 2005 com um faturamento pequeno, pois estavam em tendo como marca o pioneirismo”, explicou.
fase de transição e muitos dos exames ainda eram realizados pela Biocod. A
partir de 2006, o faturamento cresceu significativamente, conforme apresen- Foi dessa forma que a empresa se fortaleceu no mercado, respeitando a exigentes
tado no gráfico abaixo: padrões de qualidade, segurança e sigilo. A participação em projetos de pesquisa
e desenvolvimento para o aprimoramento de suas tecnologias foi outro ponto
gráfico 1 – faturamento Linhagen essencial para assegurar o cumprimento da missão da empresa em prover com
excelência o atendimento especializado em genética humana.

1.200.000 R$ 1.100.000,00
R$ 1.000.000,00 Para isso, estava em fase de implantação um projeto de revisão e aprimora-
1.000.000 mento dos procedimentos para realização dos testes de identificação nos ani-
800.000 mais. O objetivo era diminuir o tempo dos testes sem afetar sua credibilidade,
(R$)

600.000 R$ 450.000,00 pois os clientes viam resultados rápidos com bons olhos. O projeto também
400.000 permitiria reduzir os custos dos testes.
200.000 R$ 50.000,00
0 No início de 2009, o faturamento na Linhagen tendia a diminuir devido
2005 2006 2007 2008 à crise financeira internacional. Isso acontecia porque a maior parte dos
Fonte: dados da empresa clientes usuários desse tipo de serviço tinha suas aplicações nas bolsas

58 59
de valores, cujos investimentos vinham caindo. Na Biocod, que trabalhava Referências bibliográficas
diretamente com genética humana, a situação era semelhante em função
da perda de poder aquisitivo dos clientes de baixa renda, principais com- Empreendedorismo de base tecnológica Afonso Cozzi – Rio de Janeiro:
pradores desse tipo de teste. Elsevier, 2008.

Para minimizar essa ameaça, a Linhagen necessitava se tornar menos vul- Diagnóstico BIOTECNOLOGIA. – Belo Horizonte: Fiemg / IELMG, 2004, 74 p.
nerável às variações do ambiente externo. Para tanto, pretendia aumentar Indústria de Biotecnologia - Minas Gerais - Diagnóstico do setor
e diversificar sua participação no mercado. Foram adotadas medidas para
atingir diretamente os clientes, uma delas seria a implantação de um siste- RMI. Disponível em: <www.rmi.org.br>. Acesso em 3 set. 2008 às 8:00.
ma de telemarketing.
Biocod Biotecnologia Ltda. Disponível em: <www.biocod.com.br>. Acesso em
Com o fortalecimento e especialização das duas empresas, Biocod e Linhagen, 26 jun. 2008 às 16:40.
uma nova possibilidade se apresentava para Kátia. Seria o momento de criar
um grande grupo, forte em genética animal e humana, unindo a competência Associação Brasileira de Biotecnologia. Disponível em: <http://www.abrabi.
das duas empresas? org.br/biotecnologia.htm>. Acesso em 14 ago. 2008 às 18:20.

GEEIN. Disponível em: <http://geein.fclar.unesp.br/>. Acesso em 13 out. 2008


Questões para discussão às 14:20.

1. Q
 uais os principais pontos positivos que contribuíram para o crescimento
do negócio? Quais foram os riscos assumidos nesse processo?

2. N
 a sua opinião, a Biocod conseguiria atender a demanda caso não tivesse
decidido pelo spin-off ou se perderia na tentativa em atender aos dois seg-
mentos, animal e humano? Justifique sua resposta.

3. E mque situações e condições uma empresa deve optar pela criação de


spin-off como solução empresarial?

60 61
InovaNDO EM
MERCADOS DE NICHO

62 63
O município de Barbacena, conhecido no Brasil como “cidade das rosas”, nas-
ceu na cabeceira do rio das Mortes, em 1791. De clima ameno, situa-se na serra
da Mantiqueira, Minas Gerais, a 169 quilômetros de Belo Horizonte. Com uma
área de 788.001 km² ocupa o sítio de um antigo aldeamento de índios Puris do
grupo Tupi, na região conhecida como Campo das Vertentes e contava com
aproximadamente 120 mil habitantes segundo dados de 2008 do IBGE – Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Além da intensa produção de frutas européias, como morango e pêssego e de


rosas, comercializadas no país e no exterior, Barbacena configurou-se como
centro de pecuária, agricultura e da indústria de tecelagem da região. O muni-
cípio contava com algumas indústrias e o setor de serviços tinha se mostrado
Empresa suficiente para a subsistência da cidade.
DynamicCAD Software Técnico Ltda.
Foi em Barbacena que nasceu o empresário Dário Campos Furtado. Desde
Incubadora adolescente, Dário apresentava vocação para empreender. Em suas palavras:
Centro Regional de Inovação e “quando era moleque eu fazia pipa, mas não fazia pra mim: fazia pra vender”.
Transferência de Tecnologia da Universidade Federal Com 14 anos, descobriu sua aptidão para produzir aviões de isopor e passou
de Juiz de Fora - Critt/UFJF. a vendê-los para toda a Barbacena. Com a renda, comprou um videogame e
abriu uma locadora, desenvolvendo, na ocasião, um programa para controle
Autoras de empréstimos, inédito no município. Contudo, outras oportunidades ainda
Anna Paola Esteves de Faria Pinto estavam por surgir.
e Flávia Couto Ruback Rodrigues
Em 1998, Dário e seu primo, unidos em um novo empreendimento, a DynamicCad
Orientador Engenharia e Sistemas, enfrentaram seu maior desafio. Após dez meses de esfor-
Wellington Damasceno de Lima ços no desenvolvimento do AutoCONT1, um software para projetos de estrutura de
contenção , descobriram, no lançamento do produto por meio de uma página na
internet, que as vendas não ocorreram como o esperado. Dário relatou: “achei que
fosse diferente, que iria vender bastante, mas na realidade isso não aconteceu”.

O desafio

Dário escolheu os cursos de Engenharia Civil e Informática por enxergar opor-


tunidade de negócio. Tinha a consciência de que abrir uma construtora exigi-
ria investimentos significativos, fato que não ocorreria na área de Informática.

Muros construídos para conter encostas que deslizam sobre estradas, casas, e outros.
1

64 65
Quando cursou a disciplina Concreto Armado, elaborou um algoritmo que facilita- Após sua graduação, em 1998, Dário recebeu um convite, por parte de um dos profes-
va a resolução de problemas considerados de alto grau de dificuldade. O progra- sores com o qual trabalhou na UFJF, para ingressar no Programa de Mestrado da Uni-
ma, desenvolvido em 1995, permitia a resolução de problemas em calculadoras versidade do Rio de Janeiro, com orientador definido e bolsa de estudo. Teve dúvidas,
científicas e foi utilizado pelos alunos da Engenharia Civil na disciplina Pontes, até mas optou por investir no negócio em processo de pré-incubação na UFJF.
o ano de 2006. Na época, desenvolveu vários códigos que foram aproveitados nos
softwares que sua empresa desenvolveria anos mais tarde. Em 1998, primeiro ano de incubação no Critt, submeteu sua proposta do projeto Au-
toCONT ao PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico)
No final de 1996, quando Dário ainda era acadêmico na UFJF – Universidade Fe- da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) em parceria com o Critt e com a Faculda-
deral de Juiz de Fora, visualizou uma oportunidade para abrir uma empresa de de de Engenharia da UFJF. A proposta foi aprovada e, dessa forma, o primeiro ano foi
informática com foco na área de engenharia. Atraído pela infraestrutura de labo- praticamente financiado pelos recursos de fomento à pesquisa obtidos nesse progra-
ratório e ambiente técnico, submeteu-se ao processo de seleção e foi aprovado no ma, cujo apoio consistiu em bolsas e equipamentos, possibilitando à empresa contar
programa de Pré-Incubação do Gênesis2. Durante três meses fez um curso de Em- com mais um colaborador e adquirir seus primeiros equipamentos.
preendedorismo em Belo Horizonte ministrado por Fernando Dolabella3, período
no qual elaborou praticamente todo o plano de negócio de uma empresa de de- Entretanto, quando finalizou o desenvolvimento de seu primeiro software e
senvolvimento de um software direcionado à área de engenharia de estruturas. promoveu o lançamento de seu site, Dário surpreendeu-se com o fato de que
as vendas não ocorreram. Atento, inscreveu-se em vários programas de apoio
A permanência no Gênesis durou pouco mais de um ano e, durante o processo ao desenvolvimento de seu empreendimento e descobriu, por meio do pro-
de pré-incubação, além do curso, houve o desenvolvimento de um software. grama de pré-incubação, que “não bastava só programar, tinha que ter outras
Neste período, foram oferecidas duas capacitações gerenciais, complemen- áreas na empresa e não só a parte de desenvolvimento. [...] A parte mais difícil
tando a formação do empresário. é o resto”. A partir daí, Dário viu-se obrigado a responder questões sobre como
vender o software para um mercado de nicho 5 e como atingir o público-alvo.
Logo depois, em 1997, participou do “Concurso Nacional do Jovem Empreendedor em
Informática”. A premiação para o primeiro colocado seria uma viagem aos Estados Uni-
dos e 1.500 dólares. Comprovando seu aproveitamento no curso, Dário conquistou o Nem tudo são rosas
primeiro lugar no concurso e decolou para os EUA com todas as despesas pagas. Era o
início de uma etapa que consolidou a pré-incubação no Gênesis e, posteriormente, o in- A DynamicCAD surgiu com a necessidade de desenvolver ferramentas de projeto, para
gresso na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica do Centro Regional de Inovação profissionais de arquitetura e engenharia, atentando para as dificuldades que surgiam en-
e Transferência de Tecnologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Critt4/UFJF. tre esses profissionais na elaboração de um projeto de engenharia. O empresário tinha
conhecimento do mercado, mas não era suficiente para alavancar as vendas do produto.
No período final da graduação em Engenharia Civil, Dário era membro de um projeto de
Iniciação Científica da UFJF orientado por um professor da Engenharia e outro da Infor- Os primeiros meses foram difíceis. Como a empresa tinha apenas um produto e as
mática, e por meio do qual desenvolveu vários códigos de programação para a área de vendas não aconteceram, cada vez mais, Dário tinha a certeza de que ter seu próprio
construção civil, que posteriormente iriam compor uma biblioteca básica de métodos negócio não seria das tarefas mais fáceis: “até então eu não tinha noção de como era
numéricos de grande utilidade para o desenvolvimento de novos programas. o funcionamento de uma empresa. Eu achava que se o software fosse bom, ele ia ven-
O programa Gênesis, coordenado pelo Softex (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro) e pelo Ministério de Ciência e Tecno-
2
der por si só. Mas vi que fazer o software é fácil, difícil é vender”.
logia, tem por objetivo fornecer condições para que ideias Inovadoras sejam concretizadas e ganhem lugar no mercado de software.

Fernando Dolabela foi criador e coordenador de projetos de disseminação da disciplina “O Empreendedor em Informática” em universidades brasi-
Assim, além dos desafios enfrentados para captar recursos para fomentar o desenvol-
3

leiras; criador e coordenador do Concurso Nacional do Jovem Empreendedor em Informática, do Softex — Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).
vimento do produto e para estruturar o negócio, as principais questões eram: como
O Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) é o Núcleo de Inovação Tecnológica da UFJF, vinculado à Secretaria de Desenvolvi-
4

mento Tecnológico. Dentre suas atribuições, estão a de gerenciar a política de Inovação da UFJF e coordenar a Incubadora de Base Tecnológica (IBT).
Nicho é um segmento de mercado com características especiais em termos de necessidades a serem atendidas.
5

66 67
vender o produto? Como atingir o público-alvo? Foi nesse momento que Dário per- e o desaquecimento na demanda foram variáveis que ajudaram a compor o cenário de
cebeu a importância de se capacitar em gestão e estabelecer uma rede de contatos. redução das atividades do setor em 2001, culminando em 2003.
Iniciou-se então, um longo processo de formação gerencial: cursos de técnicas de ven-
das, ampliação da rede de relacionamentos, dentre outros. Além disso, o ambiente externo inquietante também contribuiu para frear o ritmo
de expansão da economia brasileira e influenciou de forma negativa o desempenho
Por ter escolhido e investido no mercado de Engenharia, Arquitetura e Cons- da construção naquele ano, o que afetou fortemente os negócios da DynamicCad.
trução Civil, Dário estudou-o e constatou que, em 1998, havia 430 mil profis- Mas, a sobrevivência a essa crise se deu pelo fato de que nos três primeiros anos fo-
sionais engenheiros e arquitetos no Brasil. O nicho deste mercado para proje- ram desenvolvidas várias soluções com alta rentabilidade para o mercado de nicho.
tos de contenção atingiria, aproximadamente, 23 mil escritórios. Assim, após Por decisão dos sócios, os recursos que seriam divididos entre eles foram alocados
oito meses de visitas a clientes, participação em eventos e apresentação do para pagamento de custos fixos da empresa entre 2001 e 2003.
AutoCONT, o número de pedidos começou a aumentar.
Além disso, de acordo com Dário, “passado algum tempo, o mercado de nicho deu um
“A nossa empresa trabalhava em um mercado de nicho, com profissionais da área sinal de esgotamento e você não tinha mais o que oferecer. Então demos um salto maior.
de engenharia. Só que, por ser um software de projeto de estrutura de contenção, Desenvolvemos outro produto para o mesmo nicho para tentar superar a crise”.
o AutoCONT era ainda mais de nicho. Para entrar no mercado foi bom, porque
não havia produto similar a ele: existiam soluções rudimentares, como planilhas Para dar esse salto, mesmo em meio à crise econômica no Brasil, inclusive no setor da cons-
do Excel. Fizemos um software profissional, que contemplava todas as etapas do trução civil, os empresários, que já haviam acordado investir seus pró-labores para ma-
projeto, desenho de estrutura, etc. Esse foi um grande achado. E como vendíamos nutenção da empresa, deram prosseguimento à criação de mais uma linha de produtos
bem, começamos a investir nesse nicho.” lembrou Dário. – o Archus. Desenvolvidos a partir de 2002, os softwares trabalhavam em conjunto com
plataformas CAD (AutoCAD e IntelliCAD) fornecendo ferramentas personalizadas para o
Em 1999, cientes da necessidade de mais um engenheiro na empresa, decidiram contratar projetista construir o modelo 3D completo da edificação e, a partir dele, extrair a docu-
ainda o estudante de Engenharia da UFJF, Fábio Rezende, que havia sido bolsista de Dário mentação 2D necessária: plantas baixas, cortes, fachadas e elevações. A partir de então,
quando este assumira a função de Administrador de Redes do Laboratório de Engenharia Dário lembrou que “de 2000 a 2008 foi solução atrás de solução”.
Elétrica da universidade. Em 2000, ao se formar, Fábio incentivou os dois sócios a fechar a Dy-
namicCad Engenharia e Sistemas e abrir a DynamicCad Software Técnico6. Essa decisão foi
tomada considerando o fato de que o mercado de construção civil passava por um período Em meio à crise, o desabrochar para o mundo
difícil e que esta seria uma maneira de viabilizar os ganhos e dividir as responsabilidades. A
sede em Barbacena existia para embalagem e expedição dos produtos, e a filial em Juiz de Segundo Dário, comparado com a linha anterior de produtos, o sistema Archus
Fora para o desenvolvimento e negociação, pois assim estariam oferecendo uma solução abrangia um mercado com um número de profissionais dez vezes maior. Entre-
completa aos clientes. Esta solução incluía a venda de equipamentos de informática. tanto eles não contavam que, em contrapartida, enfrentariam a concorrência de
empresas maiores e estruturadas comercialmente, com soluções que estavam no
mercado há anos. “Essa dificuldade nós enfrentávamos desde o lançamento, pois
Um espinho na jornada a concorrência era predominantemente estrangeira. Existiam quatro produtos na-
cionais e mais de 15 importados” relembrou Dário. Porém, uma grande oportuni-
Passados dois anos de trabalho, os empresários se depararam com um panorama ines- dade surgia e seria a saída para a entrada do Archus no mercado.
perado: a construção civil configurou-se como setor de atividades fortemente impacta-
do pelos juros e dependente de créditos de longo prazo. A alta da taxa de juros interna Ao adquirir conhecimento do AutoCONT em 2002, uma empresa alemã, para a qual
A DynamicCAD/ARCHUS.com é uma empresa voltada para o desenvolvimento de software técnico para o setor de AEC – Arquitetura, Engenharia e
6
já haviam desenvolvido uma solução para a subsidiária brasileira, solicitou a criação
Construção Civil. Nascida em 1997 como DynamicCAD Engenharia & Sistemas, dentro do CRITT, a empresa vinha se destacando ao longo destes anos
pelo trabalho de desenvolvimento de soluções em software para a automação de tarefas nos processos relacionados a projetos para construção civil.

68 69
de um software específico para o seu tipo de estrutura de contenção. Dário negou
a proposta, pois pensava que o software não seria facilmente comercializado. Então No ano de 2006, o sistema Archus foi premiado pela Sociedade Mineira de Engenhei-
os alemães propuseram alocar os recursos para o desenvolvimento do software. Foi ros, na categoria Soluções em Tecnologia – Software. Já em 2007 e 2008, a empresa foi
assim que a DynamicCad ingressou no mercado externo e encontrou uma alternativa contemplada com dois novos projetos ao Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado
para a entrada do Archus. A partir desse relacionamento, começaram a desenvolver de Minas Gerais (Fapemig), edital do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pa-
softwares para a matriz dessa empresa, na Rússia. ppe), com recursos de bolsa e custeio de aproximadamente 100 mil reais. Um deles foi
referente à nova versão do AutoCONT e o segundo para o desenvolvimento de um
Os empresários decidiram enfrentar os gigantes de fora e prosseguiram com o software para otimização da produção de aciarias7.
Archus. Segundo Dário, o produto nacional possuía vantagens sobre o importado,
pois estava adaptado às normas brasileiras, enquanto o estrangeiro implantava O segundo projeto integrava a nova visão da empresa de não se restringir somente
uma metodologia de projeto global e apresentava-se de forma modular. Contudo, ao mercado de nicho. Quando questionado sobre as dificuldades enfrentadas, Dário
em sua visão, “os estrangeiros vendiam bem, possuíam grandes recursos de pro- respondeu que “o crescimento foi a grande dificuldade. Manter a empresa não foi tão
moção, mesmo que aquele mercado não cobrisse o investimento. Havia concor- difícil, foi difícil crescer. Nós nos especializamos em mercados de nicho e ele tem tama-
rentes nacionais que fecharam as portas. Não aguentaram”. nho. E, além disso, o produto tem seu ciclo de vida. Negociamos novos contratos para
outros tipos de desenvolvimento que ampliam nosso mercado potencial, e lançamos
E foi assim que a empresa, a partir de 2002, alcançou o diferencial para atingir o mer- uma versão nova do Archus em junho, trazendo ganhos para profissionais da área”.
cado de nicho, enfrentar a crise econômica do período e a concorrência externa, adap-
tando-se à realidade nacional e iniciando a prestação de serviço com a customização Aliado a esse fator, Dário atribuiu à evolução tecnológica o fator preponderante para sua
do produto, que incluía o desenvolvimento, implantação e treinamento. Ao final de competitividade: “o tipo de tecnologia que começamos há dez anos já mudou. Descobri-
2003, a empresa foi graduada no processo de incubação do Critt. mos ferramentas mais produtivas e o grande desafio era manter-se atualizado”. A argu-
mentação de Dário foi confirmada pela evolução do faturamento da empresa, que atingiu
Dário permaneceu empreendendo. Em 2003, já pela terceira vez como professor subs- o maior valor em 2004 e decresceu nos anos seguintes, sem perder a competitividade,
tituto no Departamento de Engenharia da UFJF, ingressou no mestrado em Engenha- com o desenvolvimento de várias soluções desde então (Gráfico 1).
ria de Produção na UFRJ. “Decidi ficar com a empresa e conclui o mestrado em 2005. gráfico 1 – faturamento
Naquela época eu entraria no mestrado de Engenharia de Estruturas, mas foi melhor 450
ter esperado. Fiquei seis anos no mercado e decidi fazer mestrado em Engenharia de 400
Produção, numa área mais relacionada ao que fazia. Eu tinha 23 anos e foi difícil en- 350
xergar a empresa como um negócio. A formação através dos cursos e consultorias 300
oferecidas pelo Critt e pelo Gênesis foi fundamental”, dizia. 250

(R$)
200
Enquanto pesquisador e empresário, em 2005, Dário publicou um artigo so- 150
bre o Archus e suas vantagens para os profissionais de Portugal, num blog de 100
um arquiteto português e, a partir de então, o número de clientes do Archus 50
aumentou. Nesse mesmo ano foi desenvolvida uma página do produto para 0
Portugal. Em seguida, a empresa iniciou a venda por cartão de crédito e a ex- 2004 2005 2006 2007

portação se estendeu ao Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, México, Angola, ano

Moçambique e Espanha. Dário relembrou “eles baixavam e compravam o Fonte: dados da empresa
software. Foi uma oportunidade natural, nada prospectado”.
Unidade de uma usina siderúrgica onde existem máquinas e equipamentos voltados para o processo de transformar o ferro-gusa em diferentes tipos de aço.
7

70 71
A empresa cresceu e contava com dois colaboradores permanentes e o restante da dutos para o mercado de Engenharia, Arquitetura e Construção Civil, com expan-
equipe era contratada no período de desenvolvimento de novos projetos (gráfico 2). são para outros setores inseridos na política de desenvolvimento do país, como
por exemplo, a siderurgia.
gráfico 2 – Número de colaboradores

12
Questões para discussão
Nº de colaboradores

10

8 1. Q
 ue fatores indicam inovação no caso da DynamicCad?
6
2. Q
 ue ações adicionais você sugeriria como estratégia de entrada em novos
4
mercados?
2
3. Q
 ual o diferencial da DynamicCad frente aos concorrentes? Como a empre-
0
sa utilizou esse diferencial a seu favor?
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano
Fonte: dados da empresa Referências bibliográficas

A carteira de clientes se expandiu rapidamente, contando em 2008 com gran- BALANÇO DO SETOR DA CONSTRUÇÃO EM 2001 E PERSPECTIVAS PARA 2002. Comissão
des empresas como Cemig, MRS Logística, Concer, Anglo American Corpora- de Economia e Estatística. Cee/Cbic, Belo Horizonte, dez. 2001. Disponível em: <http://
tion (Mineração Morro Velho) e Coelba. www.cbicdados.com.br/files/textos/021.pdf>. Acesso em: 29 jul. 2008 às 19:30.

CENTRO REGIONAL DE InovaÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA. Disponí-


Lições de um empresário vel em: <http://www.critt.ufjf.br>. Acesso em: 21 out. 2008 às 21:15.

Como lições de empreendedorismo, Dário salientou que foi importante “aprender a admi- CIDADES HISTÓRICAS. Barbacena. Disponível em: <http://www.vtn.com.br/cidades/ci-
nistrar uma empresa, aprender a vender, aprender que há o pós-venda”. Ele argumentou dadeshistoricasminas/barbacena/barbacena.htm>. Acesso em: 22 jul. 2008 às 17:45.
que 30% da venda se dá pelas características técnicas do produto, 40% pelo esforço de
venda, 10% pelo contato direto com o cliente e 20% é o pós-venda, suporte e melhorias no DYNAMICCAD Software Técnico. Disponível em: <http://www.dynamiccad.
produto. Aprendeu também que no mercado de nicho teve uma noção clara do sucesso, com.br>. Acesso em: 22 jul. 2008 às 22:10.
pois lançaram quatro produtos, um após o outro e a maioria que adquiriu o primeiro sof-
tware comprou o segundo, e assim por diante. Ele frisou ainda que “a partir do momento FELIPINI, D. Qual é o seu nicho de mercado? Disponível em: <http://www.e-com-
que temos um contato com o cliente e pós-venda eficiente, conquistamos uma fidelidade, merce.org.br/Artigos/nicho_de_mercado.htm>. Acesso em: 29 out. 2008 às 16:50.
o que não foi fácil: deu trabalho!” Outro aspecto de aprendizado que Dário fez questão de
ressaltar foi a contribuição da UFJF no desenvolvimento de novos produtos. TEIXEIRA, A. B. Viajando pela Vila de Barbacena: possibilidades de história regional
para Minas oitocentista sob o olhar dos viajantes. Disponível em: <http://www.
E então, como docente, pesquisador e empresário, Dário continuou contribuindo anpuh.uepg.br/xxiii-simposio/anais/textos/ADRIANO%20BRAGA%20TEIXEIRA.
na formação de novos empreendedores, na inovação e competitividade de pro- pdf>. Acesso em: 22 jul. 2008 às 17:20.

72 73
Tecnologia a
favor da Educação
para o Trânsito

74 75
Educação a distância – EaD é o processo de ensino–aprendizagem, na qual
professores e alunos estão separados espacial e/ou temporalmente, poden-
do estar conectados por tecnologias, principalmente as telemáticas, como
internet. Mas também podem ser utilizados o correio, o rádio, a televisão, o
vídeo, o CD-ROM e o telefone.

Em Uberaba, os dados estatísticos de 1990 mostravam que as maiores causas


dos acidentes no trânsito da cidade eram a falta de atenção, a desobediência
à sinalização e a não observância da distância de segurança. Cerca de 80% dos
acidentes eram causados pela falta de educação dos condutores.

Alexandre Conceição Bastos, ainda como colaborador da Cemig (Companhia


Energética de Minas Gerais), percebeu que o segmento de treinamentos de
Empresa
direção defensiva era carente de soluções educacionais de qualidade.
Fácil Tecnologias Ltda.

Incubadora
Ele tinha em mente que a educação dos condutores de veículos poderia mu-
Unitecne – Incubadora de Tecnologia dar as estatísticas dos acidentes de trânsito. O álcool, a imprudência e a alta
velocidade eram fatores controlados pelos motoristas que deveriam agir de
da Universidade de Uberaba
forma a preservar vidas e a favorecer a convivência no trânsito.

Autoras
Com essa certeza e a identificação da oportunidade no mercado, Alexandre
Silvia Ester da Silva e
Bastos se dedicou a um projeto: desenhos que facilitariam o entendimento
Raquel Mendonça do Vale Resende
das regras de trânsito. Seus dias eram preenchidos com testes e mais testes
sobre como tornar o aprendizado dessas regras tão interessante e interativo
Orientadora
que fizesse com que os condutores entendessem e colocassem em prática os
Any Myuki Wakabayashi conhecimentos adquiridos.

Mas, criar, colocar no papel, desenvolver ferramentas e softwares de ensino a


distância, embora trabalhoso era fácil. O ano era 2004 e o desafio era colocar
o produto no mercado, vencendo as barreiras de um segmento conservador e
carente de investimentos em infraestrutura computacional.

Um olhar para as estatísticas de trânsito

Acidentes de trânsito eram a principal causa mundial de morte de jovens entre 10


e 24 anos, de acordo com o relatório Youth and Road Safety (Juventude e Segu-
rança no Trânsito, em tradução livre), da Organização Mundial da Saúde (OMS).

76 77
Todos os anos, quase 400 mil jovens morriam nas ruas e nas estradas do Funcionário da Cemig, empresa concessionária de energia elétrica de Minas
mundo, segundo o levantamento. No geral, anualmente, cerca de 1,2 mi- Gerais, Alexandre residia na cidade de São Simão em Goiás. Em 2000 iniciou
lhão de pessoas de todas as idades morriam em acidentes rodoviários. O o desenvolvimento de um projeto chamado “Escola de Trânsito Eletrônica”.
custo anual dos acidentes era de US$ 528 bilhões (mais de 1 trilhão de re- Tratava-se de um curso a distância que utilizava a mídia de CD-ROM. Na sua
ais), de acordo com a OMS. percepção, o perfil dos novos condutores havia mudado e o tipo de ensino que
os Centros de Formação de Condutores – CFCs praticavam era ultrapassado e
Segundo um editorial da revista médica “The Lancet”, as vítimas fatais nos pa- pouco atrativo. Alexandre realizou vários testes para identificar as estratégias
íses menos desenvolvidos tendiam a ser pedestres, ciclistas, motoqueiros ou educacionais mais adequadas para tornar o aprendizado das regras de trânsito
passageiros, já que a infraestrutura urbana e de transportes não estava prepa- tão interessante e interativo que fizesse com que os condutores entendessem
rada para usuários não-motorizados das ruas, que eram obrigados a dividir o e o colocassem em prática esses conhecimentos.
espaço com carros, ônibus, caminhões e animais.
Segundo dados do Abraead – Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aber-
“A solução individual estava em algo que era talvez uma das coisas mais difí- ta e a Distância), o número de alunos que estudavam a distância aumentou
ceis de serem mudadas: o comportamento humano. O ensino de segurança em 62% em 2005. Segundo as estatísticas, o número chegou a 1,2 milhão de
rodoviária desde uma idade bastante jovem devia ser uma prioridade, com alunos no ano de 2005.
adultos dando um bom exemplo”, concluiu a revista. Ou seja, a solução passa-
va pela educação. À medida que avançavam as tecnologias de comunicação virtual (que conec-
tavam pessoas distantes fisicamente através da internet, telecomunicações,
No Brasil esse cenário se repetia. Os acidentes de trânsito eram uma das princi- videoconferência, redes de alta velocidade) o conceito de presencialidade se
pais causas de morte. Segundo dados da pesquisa de mortalidade por aciden- alterava.
tes de transporte terrestre, divulgada na Primeira Semana Mundial das Nações
Unidas de Segurança no Trânsito, promovida pela OMS, 35 mil pessoas mor- O conceito de aula também mudou. Ainda entendia-se por aula um espaço e
reram em 2005 no país. De acordo com o levantamento, metade das vítimas tempo determinados. Mas, esse tempo e espaço, cada vez mais, se tornavam
era jovem. Comparado com outros países, os dados do Brasil eram elevados. O flexíveis. As necessidades impostas pelo ritmo de vida, pelo crescimento das
crescimento econômico pelo qual o país passou na última década, contribuiu cidades, dificuldade de deslocamento, alteraram o estilo de vida e a forma
para o incremento dessas estatísticas, pois aumentou o acesso de um número como as pessoas buscavam se capacitar.
maior de pessoas a carros.
Ainda como funcionário da Cemig, Alexandre foi transferido para Uberaba em 2001.
Lá, se esforçou, estudando e trabalhando em seu projeto. Ao final de 2001, conheceu
Uma ideia: Educação para o Reinildo Reis de Oliveira, especialista em animação gráfica e no desenvolvimento de
trânsito com uso da tecnologia kits multimídia. A parceria deu certo. Reinildo cedeu o espaço do seu escritório para
que juntos pudessem dar sequência à ideia do software de trânsito.
Alexandre Conceição Bastos sempre gostou de estudar sobre trânsito e com
os cursos que fazia foi conhecendo cada vez mais sobre regras e legislação. No Em 2002, Alexandre resolveu procurar um investidor, pois os custos aumen-
final de 1997, o Código de Trânsito Brasileiro – CTB foi aprovado e Alexandre tavam e eles ainda não conseguiam lucro com a criação. Alexandre viajou até
tornou-se um especialista autodidata no assunto, aprendendo e analisando Belo Horizonte em busca da parceria do presidente do Sindicato das Autoes-
cada lei e/ou resolução que tratava da matéria. colas de Minas Gerais. Infelizmente tal tentativa não foi bem-sucedida, pois o
presidente à época não gostou do projeto e o desmotivou a seguir em frente.

78 79
Alexandre não se intimidou. No final do ano de 2003, ele e Reinildo oficiali- Durante o período da pré-incubação, os sócios contaram com bolsas de apoio
zaram a parceria, criando uma sociedade. No início de 2004, era constituída a financeiro, para auxiliar nas despesas para elaboração do protótipo. “Na pré-
Fácil Tecnologias Ltda., quando então finalizaram o desenvolvimento do pri- incubação recebemos diversos treinamentos e aportes para participar de feiras
meiro produto: o kit Nosso Trânsito. e eventos que alavancaram bastante a parte comercial”, contou Alexandre.

Os sócios procuraram uma autoescola em Uberaba para estabelecer uma par- Em 2004, Alexandre e seu sócio Reinildo iniciaram a incubação na Unitecne.
ceria de teste e, assim, viabilizar o produto. Fecharam negócio com uma escola Segundo Alexandre, o processo de incubação foi um alicerce que ajudava prin-
de trânsito por três meses, pois o projeto era caro e era preciso identificar um cipalmente na preparação para a comercialização do produto.
investidor financeiro.
A possibilidade de tornar real o que era até então apenas um protótipo se
Uma das maiores dificuldades, na visão de Alexandre, foi o período de lança- concretizou com a contribuição que o Sebrae-MG – Serviço de Apoio às Micro
mento do produto no mercado. Segundo ele, um período assustador, porque e Pequenas Empresas deu ao negócio, por intermédio do Sebraetec, em 2004.
ainda era funcionário da Cemig, e tinha que pedir vários dias de dispensa para O Sebraetec era um subsídio através do qual empresas recebiam consultorias
realizar as viagens de negócios. tecnológicas para o aprimoramento de seus produtos e processos. A Fácil Tec-
nologias teve acesso a esse serviço para a criação de parte do conteúdo do
“Nosso produto exigia do cliente uma visão tecnológica, de investimento e curso multimídia Nosso Trânsito, mais especificamente na área de mecânica
melhoria. E esse era um setor tradicionalista, então comecei a enxergar um de automóveis.
grande número de dificuldades. Precisávamos vender, mas eu pensava em
como chegar ao cliente”, contou o empresário. O curso multimídia Nosso Trânsito, voltado para os Centros de Formação de
Condutores, abrangia toda a temática exigida para a formação dos futuros
Vendo que seu público era formado pelos Centros de Formação de Conduto- condutores e suas reciclagens (legislação, direção defensiva, primeiros socor-
res de todo o Brasil, Alexandre se deparou com o seguinte problema: como ros, mecânica, convívio social no trânsito e meio ambiente) em um único pro-
atingir um segmento conservador e distante com um produto tecnologica- duto. Eliminava complementações com materiais alternativos, mantendo um
mente avançado. padrão único para as aulas. O produto era atualizado conforme as mudanças
na legislação.

O empreendimento se consolida A cada versão, novos vídeos e conteúdos eram inseridos, e o cliente recebia
essa atualização sem custo adicional durante sua licença de uso. A metodo-
Atento às oportunidades, Alexandre viu a chamada do edital para a Incubado- logia de aula passava a ser da escola, não mais do instrutor, o que garantia a
ra de Tecnologia da Universidade de Uberaba – Unitecne. A incubadora era um manutenção da qualidade mesmo com a troca do profissional.
centro de referência responsável pelos programas de incubação de empresas
e de fomento ao empreendedorismo junto à comunidade acadêmica. O material era altamente ilustrado, possuindo mais de 120 vídeos em 3D, o
que assegurava a assimilação pelo aluno e aumentava os índices de aprova-
Alexandre submeteu o projeto a uma banca de avaliadores e o mesmo foi ção. O uso de jogos educativos permitia o aprendizado de forma prazerosa e
aprovado para o processo de pré-incubação. Dessa forma, em 2004, o pro- promovia a disputa sadia do conhecimento na sala. Possuía ainda recursos de
jeto se formalizou com a pré-incubação na Unitecne da Uniube – Univer- pesquisa por palavras-chave, apontamento em tela, cadastro simplificado de
siadade de Uberaba. turmas, informações complementares em tela, simulado, elaboração e altera-
ção do plano de aula.

80 81
Outro projeto da empresa incubada era o “Trânsito na Escola”, em parceria A chegada na reta final
com o 4º BPM (Batalhão de Polícia Militar - MG), que tinha o objetivo de levar
às escolas de ensino fundamental da rede pública palestras sobre educação no Por meio de parcerias a Fácil Tecnologias atingiu todo o Brasil, promovendo
trânsito para as crianças. e participando de eventos junto ao Sindicato dos Proprietários de Centro de
Formação de Condutores do Estado de Minas Gerais – SIPROCFCMG e sindica-
Da parceria com a Superintendência Regional do Ensino de Uberaba nasceu tos de autoescolas de outros estados. A empresa estava presente em mais de
outro projeto: o site http://www.nossotransito.com.br/bancoconteudo, uma 22 estados brasileiros. Os 480 clientes efetivos que utilizavam os serviços da
ferramenta de pesquisa na Internet, na qual o educador poderia extrair ima- empresa encontravam-se distribuídos, conforme o mapa abaixo.
gens, textos, reportagens e músicas que contribuíssem para a inclusão do as-
sunto trânsito nas disciplinas curriculares. A empresa detinha em 2008, em torno de 4% do segmento de Centro de For-
mação de Condutores - CFC / Autoescolas.
Resolvidas as questões técnicas e com produtos novos, a empresa tinha
que prospectar mercado. Os sócios começaram a participar de eventos que
Figura 1 – Distribuição de clientes da Fácil Tecnologias no Brasil
promovessem a empresa e recebiam da incubadora assessoria em comuni-
cação, se colocando na mídia e firmando a marca da Fácil Tecnologias em
Uberaba e região.
Roraima
Alexandre e o sócio Reinildo começaram a procurar mais meios para conquis- Amapá (06)
tar espaço e obter maior visibilidade para seus produtos. No ano de 2005, a
empresa ganhou sua sede própria, onde era possível receber os clientes e fir-
mar novas parcerias. Amazonas (12) Maranhão
Pará (03) (03) Rio Grande do Norte (03)
Paraíba (02)
Em 2007, a empresa obteve apoio das entidades de classe patronais que reu- Piauí Pernambuco (03)
niam os empresários do segmento (sindicatos dos proprietários de autoesco- Acre
Tocantins Alagoas (05)
las de diversos estados), com o objetivo de utilizar seus canais de comunicação Mato (11) Sergipe (01)
Rondônia (03) Grosso Bahia (10)
(jornais, revistas, mala direta, etc.). (05)
DF (05)
Goiás
Minas
Em março de 2008, a Fácil Tecnologias se graduou. Ainda em 2008, para (04)
Mato Gerais
divulgar seus produtos e ampliar sua rede de clientes, realizou e patrocinou Grosso (280) Espírito Santo (04)
seminários regionais que estimulavam a integração dos proprietários de do Sul
Rio de Janeiro (10)
autoescolas. Fizeram o 1º Seminário de Gestão para Centros de Formação
Paraná (35) São Paulo (30)
de Condutores do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o 1º Seminário de
Responsabilidade Socioeducacional dos Instrutores dos Centros de Forma- Santa Catarina (05)
Rio
ção de Condutores da Bahia, o 3º Seminário de Gestão e Educação no trân- Grande
sito para CFCs em Belo Horizonte e muitos outros eventos, reunindo um do Sul
total de mais de 700 empresários. (20)

Fonte: dados da empresa

82 83
Com essa distribuição nacional, os resultados alcançados foram expressivos, O Gráfico 2 apontou um índice de 82% na renovação da licença anual para o
conforme demonstrado nos gráficos abaixo: uso do curso multimídia Nosso Trânsito de 2007 para 2008. Número considera-
do satisfatório em função da ampliação do atendimento para clientes de todos
Gráfico 1 – Evolucão do número
os países.
de licenças do curso nosso trânsito

350 A empresa negociou durante os cinco anos do processo de desenvolvimen-


310
to e incubação na Unitecne, 280 licenças de uso do curso multimídia Nosso
300
Trânsito, com uma tiragem trimestral do guia do aluno de 25 mil exemplares.
250 Colocou mais de 85 sites de Centros de Formação de Condutores – CFCs no
ar, com uma média de 12 mil acessos por mês e uma receita bruta mensal de
200
25 mil reais.
150

100 80
45 Caminhos para o futuro
50

0 “Ao longo desses anos aprendi muito, principalmente com os erros. Criar um
2006 2007 2008
produto, serviço ou processo era brincadeira de criança se comparado à sua
Fonte: dados da empresa colocação no mercado, ainda mais quando se inova e afeta a zona de conforto
das pessoas. Aprendi que o principal capital de uma empresa é o humano e
De acordo com o Gráfico 1, de 2006 para 2008 houve um aumento de aproxi- que nem só de dinheiro se faz o sucesso, mas também de criatividade e de
madamente seis vezes no número de licenças do curso Nosso Trânsito. A libe- boas parcerias. Enfim, aprendi que ainda há muito a aprender e que nunca
ração da licença de uso do Curso estava vinculada à venda do guia do aluno. poderia parar”, finalizou Alexandre.
O guia do aluno era um livro adotado pelos candidatos à habilitação, em seu
estudo para a prova teórica do Detran. A Fácil Tecnologias diversificou seu portfólio de produtos. Havia uma pro-
posta em discussão com a Universidade de Uberaba para a implantação da
Gráfico 2 – Índice de renovação do curso
primeira escola de trânsito universitária do Brasil, que trabalharia o assunto
Nosso trânsito de 2007 para 2008
trânsito da pré-escola ao ensino superior. Seria inaugurada também em
2009 a primeira escola de trânsito universitária, que ofereceria a possibi-
Não lidade do aluno ingressar no mercado de trabalho já habilitado, além de
Renovadas realizar campanhas de educação para o trânsito junto ao público de 20 mil
18% alunos e para a comunidade, tornando a Uniube a primeira universidade a
cumprir a Lei 9.503 (Código de Trânsito Brasileiro 1).

Renovadas
A Fácil Tecnologias foi chamada pela Uniube para aplicar sua experiência no
82% segmento de trânsito e no desenvolvimento de softwares educacionais para
lançar o Curso Superior Tecnológico de Gestão de Trânsito, inicialmente pre-
visto para o Estado do Espírito Santo.

Fonte: dados da empresa A Lei preconiza que CAPÍTULO III, Art. 26. Os usuários das vias terrestres devem, se orientar pelas normas gerais de conduta e circulação no trânsito brasileiro.
1

84 85
A empresa avaliava para os próximos anos o desenvolvimento de protótipos Referências Bibliográficas
de produtos pedagógicos que aliariam microeletrônica, informática e design.
“Estávamos planejando a criação de um novo produto para a educação infantil CTB Denatran. Disponível em: <www.denatran.gov.br/ctb.htm>. Acesso em 25
que conjugaria a tecnologia da microeletrônica no desenvolvimento do con- jun. 2008 às 18:30.
sole e da informática, no aplicativo que faria a interface de estudo do aluno e
de configuração do educador”, explicou Alexandre. Nosso Trânsito. Disponível em: <http://www.nossotransito.com.br>. Acesso
em 17 ago. 2008 às 21:28.
Outro projeto estava ligado à resolução nº 265 do Conselho Nacional de Trân-
sito – Contran, que trazia a possibilidade de inserir no ensino médio a primeira Detran MG. Disponível em: <www.detrannet.mg. gov.br>. Acesso em 30 out.
etapa da habilitação. A Fácil Tecnologias queria desenvolver, em parceria com 2008 às 18:39.
as escolas de Uberaba, aulas de trânsito, desde o ingresso do aluno no ensino
médio até sua saída, idade na qual já estaria apto a frequentar a autoescola e Denatran. Disponível em: <www.denatran.gov.br>. Acesso em 22 jul. 2008 às 21:01.
obter sua habilitação.
Abramet. Disponível em: <www.abramet.org>. Acesso em 10 out. 2008 às 20:40.
Para 2009 o objetivo da Fácil Tecnologias era alcançar de 7 a 9% de participa-
ção no mercado de CFCs do Brasil. World Health Organization. Disponível em: <http://www.who.int/countries/
bra/en/>. Acesso em 18 out. 2008 às 20:50.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO Programa Acelera Minas apresenta os resultados. Disponível em: <www.iof.
mg.gov.br/iodiario/noticiar/23012007/acaog003.asp>. Acesso em 12 jul. 2008
1. Q
 ual a sua opinião sobre o caminho traçado pelos empreendedores para às 21:10.
conseguir parcerias?
Uberaba. Disponível em: <www.uberaba.mg.gov.br>. Acesso em 8 ago. 2008
2. A lexandre Bastos largou seu emprego estável numa estatal brasileira, ven- às 14:30.
deu imóveis e posses para se dedicar ao sonho de ter seu próprio negócio.
Que cuidados uma pessoa deve ter ao tomar esse tipo de decisão?

3. S egundo o empreendedor, a parte mais difícil de empreender é colocar o


produto no mercado. Faça suas considerações sobre como minimizar esse
tipo de dificuldade.

4. Identifique no texto quais foram as características empreendedoras apre-


sentadas por Alexandre.

86 87
REPENSANDO
PRODUTOS
EM ENERGIA

88 89
Belo Horizonte foi a primeira cidade planejada do Brasil. O município sempre
foi considerado uma mistura de tradição e modernidade, destacando-se pela
beleza de seus conjuntos arquitetônicos e por uma rica produção cultural e
científica. Localizada na região central de Minas Gerais, a capital possuía mais
de 2,4 milhões de habitantes, segundo levantamento realizado pelo IBGE (Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2007.

Braz Cardoso Filho era professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFMG


– Universidade Federal de Minas Gerais. Sidelmo Silva, estudante de doutorado à
época, era orientado por Braz, Manoel dos Santos trabalhava como engenheiro da
Gerdau Açominas, uma das maiores siderúrgicas do país. Havia um ponto comum
entre eles, todos integravam a equipe do Laboratório de Aplicações Industriais
(LAI) da UFMG, que estava sob a coordenação de Braz.

Empresa
Em meados de 2004, nascia em Belo Horizonte a HPE – High Power Enginee-
HPE – High Power Engineering ring, uma empresa criada pelos três pesquisadores para desenvolver produtos
Incubadora
na área de energia para aplicações industriais. No mesmo ano, a Inova, incuba-
dora de empresas de base tecnológica instalada dentro da universidade, abriu
Inova – UFMG
um edital para a inscrição e captação de projetos. Os sócios participaram do
processo e foram aprovados para o processo de incubação.
Autor
Gustavo Menezes Aleixo
No começo de 2006, Thiago Milagres, formado no curso de Engenharia Elétrica,
foi convidado para se tornar sócio da HPE. Em 2007, a partir do trabalho diário
Orientador
na empresa, Thiago percebeu que havia potencial para captar mais recursos e
Cláudio Afrânio Rosa clientes do que o verificado até então. Porém, isso só aconteceria se o negócio,
focado exclusivamente na prestação de serviços, tomasse um novo rumo.

Belo Horizonte: predominância


do setor de serviços

Segundo o censo 2008 do IBGE, Belo Horizonte era o sexto município mais po-
puloso do Brasil com 2.412.937 habitantes, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro,
Salvador, Fortaleza e, mais recentemente, Brasília. O Índice de Desenvolvimen-
to Humano (IDH1) – que varia de 0 a 1 – da capital era 0,839, de acordo com o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). No ranking, ela-
borado em 2000, Belo Horizonte estava na 71ª posição das cidades brasileiras.
Medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança média de vida, natalidade e outros fatores utilizada para avaliar o bem-estar de
1

uma população, especialmente o bem-estar infantil. O índice foi desenvolvido em 1990 pelo economista paquistanês, Mahbub ul Haq.

90 91
Belo Horizonte possui ligações terrestres com outras capitais da região Sudes- Nesse mesmo ano, foi publicado um edital para a captação de projetos para a Ino-
te e Centro-Oeste. A infraestrutura para transportes abrangia, também, os ae- va, incubadora de empresas de base tecnológica instalada no campus da UFMG.
roportos da Pampulha e de Confins – este localizado na região metropolitana, A incubadora contava com diversos parceiros, entre eles o Sebrae-MG (Serviço de
a 38 km da capital. Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais) responsável à época pelo
suporte logístico, divulgação e pelo aporte de contatos e recursos financeiros.
Dados do IBGE ainda indicavam que Belo Horizonte possuía o quinto maior PIB – Pro-
duto Interno Bruto entre os municípios, com valor aproximado de 28 bilhões de reais Para ingressar na incubadora foi preciso apresentar um estudo de viabilidade da em-
em 2005. O setor de serviços representava 84% da economia e o setor fabril era res- presa. O projeto foi aprovado e o período de incubação na Inova teve início ainda em
ponsável por 16%. A indústria automobilística, a siderurgia, a eletrônica e a construção 2004. Entre os serviços oferecidos havia o custeio da infraestrutura por meio da dis-
civil eram os destaques do parque produtivo. O comércio e a prestação de serviços ponibilização da sala para atividades administrativas, linha telefônica e acesso à inter-
também movimentavam a economia local. Além disso, a cidade se consolidava como net. Como contrapartida a HPE pagava um valor mensal fixo. A incubadora promoveu
grande centro no turismo de negócios, biotecnologia e informática. também diversos cursos e palestras sobre gestão e qualificação de empreendedores.

Na primeira década do século XXI, Belo Horizonte se consolidava no cenário Formada inicialmente por três sócios, a ideia era capitalizar a empresa a partir
nacional como um centro de inovação. Alguns dos investimentos recentes nes- da prestação de serviços para, em seguida, transformá-la em uma desenvolve-
ses setores seriam a implantação do Laboratório do Google para a América La- dora de produtos. Contudo, a iniciativa não obtinha o êxito pretendido, pois os
tina e do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, mais conhecido como BHTec, recursos financeiros e a penetração de mercado eram insuficientes.
um centro de pesquisa de 600 mil m2 construído, através de uma parceria da
Prefeitura, Governo de Minas e UFMG. A empresa não possuía uma área comercial estruturada, o que dificultava o
aporte de investimentos e o fechamento de novos negócios. Não havia, por
exemplo, um método sistematizado para se prospectar clientes. O contato era
Tudo começou no laboratório feito através dos próprios sócios. Por isso, muitas vezes, o nome das pessoas
era mais forte que o da própria empresa.
Braz Cardoso Filho acumulava o cargo de professor do Departamento de En-
genharia Elétrica da UFMG e coordenador do LAI – Laboratório de Aplicações As consultorias relacionavam-se ao desenvolvimento de produtos para tercei-
Industriais. Integravam também a sua equipe o estudante de doutorado, Sidel- ros. Além da prestação de serviços, a HPE auxiliava outras empresas na produ-
mo Silva e o pesquisador Manoel dos Santos. ção de equipamentos no setor de engenharia elétrica. Porém, os clientes não
consideravam o serviço como parte importante para o desenvolvimento do
Em suas atividades de pesquisa, os três identificaram o aumento gradativo nas produto e remuneravam a empresa por uma consultoria convencional, apesar
demandas por serviços na área de engenharia elétrica, pois uma quantidade do valor adicionado ao trabalho.
significativa de projetos chegava ao laboratório. Contudo, muitos pedidos não
eram atendidos em função dos procedimentos internos da universidade, que Os produtos, resultado do esforço conjunto da HPE e dos clientes, eram vendi-
tornavam lento o processo de contratação. dos por preços elevados, já que se tratava de tecnologias inovadoras. Um dos
clientes, por exemplo, na expectativa de vender 80 máquinas – desenvolvidas
Foi a percepção da carência por esse tipo de serviço que ocasionou o surgi- com o suporte da HPE – por ano, chegou a vender 100 máquinas por mês. Mas
mento da HPE. Criada em 2004, a empresa tinha como objetivo oferecer so- a empresa era remunerada somente pela consultoria, não recebendo royalties2
luções, como qualidade e utilização eficiente da energia, máquinas e aciona- pelos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento.
mentos elétricos e sistemas de geração. Palavra de origem inglesa que se refere a uma importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, processo de produção, marca,
2

entre outros, ou pelo autor de uma obra, para permitir seu uso ou comercialização.

92 93
Segundo os contratos estabelecidos no período, a tecnologia em desenvol- gerenciava a área comercial, ainda que ela não existisse formalmente na
vimento pertencia tão somente aos clientes, pois os acordos abrangiam a estrutura da HPE.
consultoria e a entrega dos produtos. Algumas tecnologias seguiram esse ca-
minho. O desenvolvimento da HPE não estava ligado ao produto na íntegra, No início de 2007, a empresa implantou sua área de vendas. Essa ação apri-
mas sim às suas partes principais. “Isso tinha que acabar, senão nos tornarí- morou a gestão dos contatos e a prospecção de clientes, tornando a HPE mais
amos empregados da empresa. E empregados mal-remunerados”, afirmou conhecida em seu setor. A marca da empresa se fortaleceu, e as vendas de pro-
um dos sócios. dutos e serviços passaram a não mais ser atribuída à figura dos sócios, como
ocorria anteriormente.
Thiago Milagres chegou a Belo Horizonte em 1999 para cursar Engenharia
Elétrica. Durante a graduação, foi aluno de Braz e participou das ativida- Thiago, em conjunto com os demais sócios, decidiu ampliar os investimentos
des do LAI. Após o término do seu mestrado, Thiago foi convidado por em pesquisa. A empresa foi departamentalizada e foram criados setores com
Braz para trabalhar na HPE. Ele aceitou o convite e no início de 2006, a delegação de tarefas e responsabilidades. Tal atitude deu mais equilíbrio e
Thiago propôs a Braz, Sidelmo e Manoel tornar-se sócio da empresa. Os organização ao trabalho.
fundadores analisaram a proposta e Thiago passou a integrar, então, o
quadro de proprietários da HPE. A graduação da HPE na Inova-UFMG ocorreu em setembro de 2007. Para
Thiago, a transição de empresa incubada para graduada foi um passo de-
O novo sócio realizou estágios durante a graduação, chegando a trabalhar na cisivo. Durante a incubação não houve preocupação em coletar informa-
Companhia Siderúrgica de Tubarão em 2004. Um ano após Thiago ingressar ções sobre o mercado. Apesar disso, os sócios verificaram que era coe-
no empreendimento, a HPE viria a passar por mudanças que definiriam seu rente terminar o período de incubação, tendo em vista a necessidade de
futuro. Interessados em transformar a situação do negócio, os sócios ques- mais espaço para suas atividades, pois a sala da empresa contava apenas
tionaram o motivo de desenvolver produtos para terceiros, se a HPE tinha com 12 m 2 .
competência para criá-los. No início de 2007, estava lançado o desafio: repo-
sicionar-se no mercado. No final de 2007, a HPE recorreu a uma consultoria sobre o seu sistema
tributário. A empresa aferiu prejuízos por não se adaptar à legislação vi-
gente. Enquadrada no regime do lucro presumido, os tributos eram calcu-
A reestruturação: da consultoria lados com base em um percentual sobre o valor das vendas, independen-
ao desenvolvimento de produtos temente da empresa operar com lucro ou não. A HPE passou a trabalhar
na tributação do lucro real. Nela, somente o lucro contábil apurado seria
Inicialmente, a HPE se especializou em produzir tecnologia para outras passível de tributação.
empresas. A mudança se refletiria na prestação de serviços, que a partir
de agora estava voltada para a consultoria sem o desenvolvimento de Em seu reposicionamento de mercado, as pequenas e médias empresas não
produtos. Os sócios pretendiam prestar serviços que abrissem caminhos estariam preparadas para receber os produtos da HPE, já que não possuíam
para a aquisição dos produtos da HPE pelos clientes, diferentemente do uma equipe de engenheiros voltada ao estudo de problemas industriais. “Os
que era feito. Esse reposicionamento visava tornar a empresa mais com- prejuízos ligados a esse tipo de fato não eram tão significativos, porque elas
petitiva e rentável. precisavam resolver outras questões”, avaliou Thiago.

Na alteração de foco, os próprios sócios foram os responsáveis por traçar


as novas diretrizes. Eles foram unânimes na decisão de mudar. Thiago

94 95
2008: surgem os novos produtos Nessa empreitada, a mensuração dos prejuízos passou a ser avaliada. “Em
um distúrbio, três unidades da Petrobras sofreram afundamento de tensão.
Minas Gerais sempre foi conhecida pela incidência de raios, principalmente Foram economizados 180 mil reais em um evento que durou segundos.
no período de chuvas, concentradas entre novembro e março. De acordo com Com o nosso produto, uma parada foi evitada. Seriam necessárias 72 horas
dados do professor José Osvaldo Saldanha sobre a incidência de descargas para reiniciar o processo”, contou Thiago. Se os aparelhos se desligassem,
atmosféricas no estado, a média era de oito descargas por ano, por quilômetro o prejuízo implicaria também no tempo de produção perdido até que os
quadrado. Belo Horizonte apresentava cerca de cinco mil descargas atmosfé- equipamentos voltassem a funcionar.
ricas anualmente.
Em outra empresa para qual a HPE já havia prestado serviços, por exemplo, os
Apesar de o Brasil não dispor de muitas pesquisas sobre a medição dos danos prejuízos chegavam a US$ 50 mil por hora quando a produção era interrompi-
decorrentes do afundamento de tensão, estudos apontavam que os prejuízos da. Essa mesma fábrica já havia contabilizado 84 paradas durante um ano.
causados pela incidência de descargas atmosféricas podiam chegar a 1 bilhão
de reais por ano no setor elétrico. No portfólio de clientes, destacavam-se grandes empresas nacionais e estran-
geiras. A HPE passou a comercializar o Pro Contact para a Companhia Vale do
Baseado nesses estudos, no início de 2008, a HPE finalizou seu primeiro Rio Doce, além de promover estudos para a aquisição de outros equipamen-
produto, o Pro Contact, um dispositivo para proteção de contatores 3, cuja tos. A Esab, empreendimento do ramo de soldagem e corte, tornou-se cliente
função era reduzir os problemas de variação da tensão na rede elétrica. da empresa através de uma consultoria para melhoria do desempenho de suas
Em linhas gerais, se a tensão normal estivesse em um patamar e, repenti- máquinas de solda. A Vallourec & Mannesmann, empresa de tubos de aço for-
namente, ocorressem quedas, o contator era desligado. Ao ser desativado, mada pela joint venture entre a francesa Vallourec e a alemã Mannesmann,
ele interrompia a produção da indústria. O Pro Contact impediria que os também integrou a carteira de clientes da HPE.
equipamentos se desligassem desnecessariamente.

Os distúrbios de tensão eram externos, provocados geralmente por queimadas, Proteção contra multas
quedas de postes ou descargas atmosféricas. Esses problemas afetavam os equi-
pamentos (motores, contatores, etc.) sensíveis à mudança na tensão. Nesses casos, Com as vendas do Pro Contact, produto sem concorrente similar, espera-
os aparelhos interpretavam a falta de energia e se desligavam, mesmo não ocor- va-se acumular capital para investir na empresa e realizar outros desen-
rendo queda, só uma redução momentânea de tensão. Os processos de produção volvimentos. “A ideia era montar um portfólio maior de soluções. Nós já
interrompidos poderiam levar horas até serem restabelecidos. tínhamos outro produto quase pronto, que foi desenvolvido com nossos
próprios recursos”, disse Thiago.
O Pro Contact foi desenvolvido em conjunto com a Petrobras. A parceria com a
estatal envolvia as unidades da Refinaria Gabriel Passos em Betim (MG), no Rio Outro produto da HPE, lançado em agosto de 2008, foi o Pro Factor, equi-
de Janeiro (RJ) e também em Manaus (AM). Em meados de 2008, a HPE venceu pamento com tecnologia nacional, utilizado para a correção do fator de
a licitação para o fornecimento de um sistema de contatores para a Petrobras. potência 4. As indústrias que excediam o fator de potência eram multadas
Foram fornecidas 58 unidades do Pro Contact para a Refinaria Duque de Ca- pela concessionária de energia. Algumas empresas recebiam multas de 200
xias (RJ) nos meses seguintes. A comercialização do produto se estendeu às mil reais em um único mês. O Pro Factor consistia em uma chave inserida
demais unidades da Petrobras. em um sistema maior que compensava o fator de potência impedindo que
as empresas fossem penalizadas.
Contator é uma chave que aciona ou desliga um motor. As indústrias, em geral, possuem motores que são ligados aos contatores. Estes, por sua vez,
3

chegam à rede elétrica externa. Fator de potência é a relação entre a potência ativa e a potência total numa instalação, durante um intervalo de tempo.
4

96 97
Existiam duas modalidades de energia: as energias ativas e reativas. Havia vá- própria, após se graduar. Em agosto de 2008, ela anunciou a mudança para
rios tipos de cargas (motores, fornos de indução, transformadores, etc.) que uma nova sede. Nos 400 m2 da empresa foram instalados espaços para ad-
só funcionavam com o uso de energia reativa. A Agência Nacional de Ener- ministração, área de novos projetos e laboratórios para testes na área de
gia Elétrica (Aneel) estabeleceu regras para o consumo da energia reativa. Seu qualidade da energia.
consumo excessivo causava multas para as empresas, pois a energia reativa
aumentava os custos de geração energética e reduzia a capacidade para aten- Ao todo, cinco clientes foram adicionados ao portfólio da HPE, que fechou
der a novos consumidores. contrato de distribuição do Pro Contact em parte de Minas Gerais e no Espíri-
to Santo. Em novembro de 2008, a empresa anunciou o aumento da rede de
Diversas indústrias necessitavam de energia reativa em máquinas como distribuidores do Pro Contact e do Pro Factor através da parceria com duas das
guindastes e soldas. O Pro Factor reduzia o consumo dessa energia, dimi- maiores empresas de automação industrial do país: a Ladder e a Intereng. Com
nuindo os custos para quem utilizava o produto. Essa tecnologia foi de- isso, a HPE passou a atuar também no sul de Minas Gerais, no Rio de Janeiro e
senvolvida a partir de um sistema já existente, aperfeiçoado pela HPE. Os no estado de São Paulo.
usuários da tecnologia deixavam de pagar multas devido ao uso exagerado
dessa energia, pois o produto corrigia o fator de potência de forma dinâmi-
ca, ao contrário de outros sistemas. Novos desafios

Em agosto de 2008 a empresa ganhou, em parceria com a SadeFem, empresa A ausência de concorrentes diretos na área de atuação da empresa foi decisivo
do segmento de infraestrutura energética, uma licitação da Efficientia/Cemig para que ela se fortalecesse. Contudo, os sócios previram a possibilidade da
para fornecer o módulo de correção de fator de potência, o Pro Factor. entrada de competidores, em função do crescimento do interesse de grandes
empresas pelo Pro Contact.
Em seu processo de reposicionamento, a HPE procurava parceiros para finan-
ciar projetos futuros, pois até então, ela desenvolvia seus produtos através de Thiago confiava na capacidade técnica da equipe e afirmou que a HPE estava
recursos próprios. Em meados de 2008, os sócios entraram em negociações preparada para migrar para outras tecnologias, caso produtos similares fos-
para estabelecer parceria com uma empresa de São Paulo para aumentar a sem lançados. “Nós não esperamos que esse produto fosse o carro-chefe da
distribuição e as vendas do novo produto. A empresa paulista possuía relações empresa. Aproveitamos a janela de oportunidade, uma vez que estávamos
comerciais com potenciais clientes para o Pro Factor. preparados para vendê-lo”, contou.

Um dos desafios da HPE era aperfeiçoar o processo de prospecção de clientes.


De 12 m para 400 m
2 2
Em geral, nas grandes indústrias, o primeiro contato era com os engenhei-
ros, para diagnosticar os problemas e apresentar a solução tecnológica. Para
A equipe da HPE passou de três para quatro sócios desde a fundação. Em 2008 aumentar o número de contratos, Thiago tinha como estratégia contatar os
sua equipe era formada por dois funcionários, quatro estagiários (três mes- responsáveis pelo setor financeiro, pois eles seriam mais facilmente sensibili-
trandos e um estudante de graduação) e aproximadamente dez pesquisado- zados pelos prejuízos de distúrbios, como o afundamento de tensão ou des-
res terceirizados. O desenvolvimento de produtos e os serviços de consultoria cargas atmosféricas.
tinham como fundamento a capacitação do corpo funcional.
Os sócios da HPE não pretendiam vender mais a tecnologia que desenvolviam.
O espaço físico da empresa também sofreu alterações. Os 12 m ocupados
2
Eles buscavam formas seguras que diminuíssem a repetição dos erros dos contra-
na incubação se transformaram em 60 m2 quando a HPE passou a ter sede tos anteriores, em que a empresa era remunerada abaixo das suas expectativas.

98 99
A procura por financiamento era outro obstáculo a ser superado. “Se houves- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
se capital, poderíamos desenvolver cinco novos produtos”, relatou Thiago. Ao
tentar financiamento em bancos, no valor de 100 mil reais, era exigido que a
empresa oferecesse o equivalente a 130 mil reais de garantias pela transação. HPE. Disponível em: <www.hpeonline.com.br>. Acesso em: 15 out. 2008 às
19:45.
Se soubesse das dificuldades de acesso ao crédito para as empresas nascen-
tes, ele afirmou que procuraria outras fontes de financiamento, já que seria IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 out. 2008 às 20:00.
importante ter quantidade considerável de recursos para investir em pesquisa
e desenvolvimento. PNUD. Disponível em: <www.pnud.org.br>. Acesso em: 15 out. 2008 às 21:00.

Thiago ressaltou a necessidade dos empresários ficarem atentos à organização SALDANHA, José Osvaldo. Descargas Atmosféricas. Disponível em: <www.
e às questões jurídicas da empresa, e aos aspectos relacionados à gestão em- eletrica.ufsj.edu.br/pub/eletrotecnica/aterramento/aulas>. Acesso em: 15 out.
presarial, sobretudo as nascentes. “Sempre houve no mercado, alguns que se 2008 às 21:05.
julgavam mais espertos e que queriam se aproveitar. Se tivéssemos buscado
orientação, não cometeríamos certos erros”, concluiu. Wikipedia, Belo Horizonte. Disponível em: <www.wikipedia.com.br>. Acesso
em: 15 out. 2008 às 21:30.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. D
 urante a mudança de foco do negócio, os sócios identificaram que as
grandes empresas seriam os clientes mais recomendados para seus produ-
tos. Que outras medidas você adotaria para ampliar a carteira de clientes?

2. A empresa não possuía área comercial na época de sua fundação. Qual a


importância desse setor nas empresas de base tecnológica?

3. T hiago Milagres destacou as dificuldades na obtenção de financiamento


para pequenas empresas. Quais seriam as alternativas para a ampliação de
investimentos?

100 101
Gestão tecnológica
de recursos hídricos:
uma solução que
veio da água
102 103
Segundo dados de 2000 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
tística, a cidade de Viçosa (MG) possuía o maior número relativo de douto-
res e mestres por mil habitantes no Brasil. Essa particularidade somada ao
fato de existirem quatro instituições de ensino superior no município, fazia
com que Viçosa demonstrasse seu potencial em produzir empresas de base
tecnológica.

Com foco na área tecnológica, o jovem administrador de empresas Sidiney


Cabral e sua amiga Renata Rigueira criaram em 2004 a Intec Consultoria e As-
sessoria Ltda. Inicialmente a ideia de Sidiney era potencializar a comercializa-
ção das tecnologias criadas em universidades e centros de pesquisas. Produtos
que muitas vezes permaneciam apenas como referência de relatórios, e que
teriam aplicabilidade na sociedade. Um exemplo disso, eram os softwares de-
Empresa
senvolvidos para pesquisas de campo e que poderiam ser transformados em
Intec Consultoria e Assessoria Ltda.
produtos e serviços.
Incubadora
Centev – Centro Tecnológico de A frente do empreendimento, buscava identificar inovações que pudessem ser
trabalhadas pela empresa. Mas em 2005 houve um fato que iria alterar o rumo
Desenvolvimento Regional de Viçosa
do negócio. O recebimento de uma proposta para atuar no campo da irrigação,
algo totalmente novo para ele. Sidiney percebeu que as ferramentas de gestão
Autoras
empresarial poderiam ser adaptadas para a gestão de recursos hídricos, pois
Ronise Suzuki de Oliveira, Amanda Castro de Souza
acreditava que os problemas técnicos nas empresas estavam vinculados à má
e Adriana Ferreira de Faria
administração desses recursos.

Orientadora
Diante desta nova possibilidade, Sidiney deparou-se com a seguinte ques-
Any Myuki Wakabayashi tão: arriscaria a estabilidade alcançada por sua empresa e mudaria de foco?
E como conduziria essa mudança transformando a oportunidade em ino-
vação tecnológica?

Os primeiros passos

A cidade de Viçosa, localizada na Zona da Mata Mineira, fica a 220 km de Belo


Horizonte e era considerada uma cidade universitária, cuja principal ativida-
de econômica girava em torno da educação. Essa vocação era justificada pela
presença de uma universidade pública, a UFV – Universidade Federal de Viço-
sa, e três instituições de ensino superior privadas, a FDV – Faculdade de Viçosa,
a Univiçosa e a Esuv – Escolas de Estudos Superiores.

104 105
De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Viçosa de 2008, o município Contudo, a Intec começou a ser malvista na academia devido à concorrência
possuía aproximadamente 80 mil habitantes, incluindo a população flutuante indireta com o Disque Tecnologia, um serviço da UFV que apoiava as empresas
composta principalmente por estudantes e professores que estudavam ou tra- na solução de problemas tecnológicos e na melhoria do seu processo produ-
balhavam nas instituições de ensino superior. Por esse motivo, a cidade trans- tivo. A imagem de competição dificultava a prospecção de produtos para co-
pirava conhecimento e pesquisa. mercialização. “A empresa ficava no zero a zero, o pouco que ganhava pagava
as despesas, que felizmente eram mínimas devido aos subsídios da incubado-
As pesquisas realizadas pelos professores das universidades geravam um ra”, explicou Sidiney.
grande número de artigos científicos publicados em revistas especializadas e
simpósios. Nesse cenário destacava-se a produção da UFV, avaliada em 2008 Em 2004, em um evento de integração promovido pela incubadora, teve início
pelo Ministério da Educação como a 3ª melhor universidade do país e primeira uma nova oportunidade para a Intec e para as outras empresas incubadas.
do Estado. O potencial científico da instituição e sua tradição em pesquisas “Esse evento foi fundamental. Eu e os outros empresários vimos que estáva-
aplicadas, colocava seu foco em solucionar problemas reais. Pesquisas sobre mos lado a lado e não potencializávamos nossas forças. Aquela história de que
doenças do café, desenvolvimento de processos biotecnológicos e de melho- juntos somos fortes”, contou Sidiney.
ramento genético traziam oportunidades de transferência de tecnologia da
academia para a sociedade. Apesar do volume de trabalhos científicos, o co- Sidiney percebeu que as competências das empresas possibilitavam oferecer
nhecimento não chegava ao mercado e pouco dos resultados das pesquisas serviços em forma de pacotes tecnológicos, uma espécie de portifólio com
era explorado comercialmente. soluções integradas. Assim, em 2004, surgiram os primeiros pacotes tecnoló-
gicos, nos quais a Intec oferecia serviços de diagnóstico setorial e estudos de
Foi nesse contexto que Sidiney Cabral, juntamente com sua colega de facul- viabilidade técnica e econômica para a bovinocultura, equinocultura e outros,
dade, Renata Rigueira, identificou o mercado de difusão e comercialização atuando principalmente na parte metodológica.
de tecnologia como uma promissora oportunidade de negócio. Em 2001,
elaboraram um plano de negócio e o submeteram a uma banca para ingres- As parcerias auxiliavam no crescimento da Intec, que, à época, assinou os primei-
sarem na Incubadora do Centev – Centro Tecnológico de Desenvolvimento ros grandes projetos de consultoria. A empresa mudou o foco de atuação de difu-
Regional de Viçosa. sora de tecnologias para consultoria em 2004, quando passou a trabalhar com ge-
omarketing, planejamento e gestão empresarial. Devido ao aumento de serviços,
A proposta era oferecer serviços na área de diagnóstico setorial e Estudos a presença da sócia Renata era cada vez mais necessária. Em 2004 ela assumiu as
de Viabilidade Técnica e Econômica (Evtec) utilizando como meio uma cen- tarefas administrativas, enquanto Sidiney prospectava clientes.
tral de telemarketing, onde dois funcionários contatavam potenciais clientes
para oferecer os serviços da empresa. Na execução dos trabalhos a empresa No mesmo ano, a empresa apresentou uma situação financeira favorável, pre-
empregava ferramentas como o geomarketing1, o behavior scoring2, o credit cisando se mudar para uma sala maior, pois havia contratado mais emprega-
scoring3 e o balanced scoring4. dos. De dois colaboradores passou para seis e de uma sala de 15m² para uma
de 27m². A empresa ainda tinha problemas de fluxo de caixa, devido a contas a
receber de projetos. Contudo, para Sidiney a situação era normal “era preciso
Geomarketing são estudos de mercado que permitem definir estratégias em relação a Ponto, Produto, Preço e Promoção que se adequem a cada território.
1
administrar e analisar essas situações”, relatou.
Behavior Scoring é um modelo estatístico fundamentado no comportamento histórico de clientes que permite à empresa conhecer melhor sua
2

carteira de clientes.
Credit Scoring ou decisões de créditos são levantamentos de situações passadas que, através de tratamento matemático, permitem encontrar um
3 A empresa foi reestruturada e a ideia inicial de difusão de tecnologias substitu-
modelo consistente que habilite a organização a tomar decisões de curto prazo.
ída pelos serviços de diagnóstico de cadeias produtivas e gestão empresarial.
Balanced Scoring é uma metodologia de gestão do negócio, dos serviços e da infraestrutura. Utilizam-se a TI (tecnologia da Informação) e os softwa-
4

res de ERP como soluções de apoio, relacionando-a à gerência de serviços e garantia de resultados. Os resultados positivos despertaram o interesse de um possível sócio que, em

106 107
2005, procurou a Intec, apresentando uma oportunidade para a empresa. Mas ram a prorrogação do período de incubação, assim seria possível criar bases
a proposta de sociedade resultava na mudança do foco do negócio para um mais sólidas para a graduação. Como estratégia, a empresa começou a partici-
segmento novo na área de recursos hídricos. Nas mãos de Sidiney estava a de- par de editais de fomento que permitissem a formação de carteira de projetos
cisão de arriscar mudar e de pensar em como conduzir a transição. tecnológicos voltada para a gestão de recursos hídricos.

O nicho de mercado de irrigação estava em expansão e carente de soluções. Isso


A mudança de foco possibilitou introduzir outros produtos e serviços e obter financiamento para mais
projetos em agências de fomento. Nesse contexto, no início de 2006, a empresa
A proposta foi feita pelo Sr. Antônio Alves Soares, professor da UFV que acreditava aprovou dois projetos no Programa de Apoio a Pesquisa em Empresas – Pappe da
no potencial da empresa para atuar no campo da irrigação, uma oportunidade Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – Fapemig, um para a
ainda não explorada pela Intec. “Era uma área nova para mim“, relembrou Sidiney. criação de um software para gestão da irrigação pelo método de pivôs centrais, e
Antônio procurou a empresa demonstrando seu interesse na sociedade. um para o tratamento e uso de água residuária doméstica.

A princípio, a ideia de Antônio era aplicar as ferramentas de gestão e os pa- Para os sócios Antônio Alves Soares e Sidiney Cabral, o sistema Perímetro re-
cotes de consultoria para áreas da Engenharia Agrícola e Ambiental, como presentou o primeiro passo para a modernização da gestão integrada dos pe-
a irrigação. O princípio dos serviços era o mesmo, só se diferenciava na rímetros irrigados, com vistas ao desenvolvimento sustentável. Ele foi o alicer-
aplicação. Com essas informações Sidiney analisou as vantagens e desvan- ce tecnológico que resultou em diversas soluções.
tagens e aceitou a sociedade.
Em outubro de 2006, dois projetos da empresa foram aprovados pelo Con-
Assim, em meados de 2005, Antônio organizou o Congresso Brasileiro de selho Estadual de Recursos Hídricos – CERH-MG, para o Fundo de Recupe-
Irrigação e Drenagem, em Juazeiro, e incentivou Sidiney a participar para ração, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas
compreender melhor a área. No evento, Sidiney percebeu que poderiam do Estado (FHIDRO). Os projetos faziam parte dos esforços de revitalização
desenvolver sistemas de gestão para perímetros irrigados. Para executar os da Bacia do Rio São Francisco e foram implementados no norte e noroes-
novos serviços era necessário investir em tecnologia da informação. Então, te de Minas Gerais, nas cidades de Janaúba e Paracatu, respectivamente,
a própria empresa começou a produzir suas ferramentas. Para desenvolver sendo realizados pela Intec tendo a Fundação Arthur Bernardes (Funarbe)
um software específico, os sócios buscaram apoio no Sebrae-MG – Serviço como gestora financeira.
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
Na cidade de Janaúba, o software foi implantado e ajustado de acordo com as
Através do Programa Sebrae de Consultoria Tecnológica – Sebraetec, a Intec características locais e a disposição do Distrito de Irrigação de Gorutuba, que
desenvolveu um conjunto de soluções integradas para a gestão de recursos possuía mais de 450 irrigantes beneficiados. Em Paracatu, o desafio foi geren-
hídricos e iniciou a consolidação da sua marca no mercado. ciar cerca de 180 pivôs de irrigação e orientar o planejamento do uso racional
da água. “Esse projeto foi um desafio. Quebramos vários paradigmas ao lidar
O desenvolvimento do software de perímetro irrigado exigia a participação de com a gestão de bacias hidrográficas”, comentou Sidiney.
especialistas. Para o trabalho contrataram o Dr. Brauliro Gonçalves Leal, pro-
fissional com experiência de mais de 10 anos na análise e desenvolvimento de Comprovada a competência na área, a Intec foi contratada para implantar o sistema
sistemas. Brauliro mais tarde se tornaria sócio da Intec. de gestão de perímetros irrigados em Jaíba (MG), um dos maiores perímetros irriga-
dos da América Latina. O software Perímetro foi implantado para atender uma área de
A mudança e o investimento no setor de tecnologia da informação demanda- mais de 10 hectares irrigados e que contava com aproximadamente 1.800 irrigantes.

108 109
Os projetos deram visibilidade à empresa e resultaram em negociações com Consolidação com o reúso
o Ministério da Integração; o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca; dos recursos hídricos
a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco; e com o Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura. À medida que o software para gestão de recursos hídricos se consolidava no
mercado, os sócios começaram a pensar em tecnologias para o reúso de água
Em 2007, no município de Mossoró, durante o Congresso Nacional de Irrigação e como uma alternativa para racionalização da utilização da mesma.
Drenagem, o professor Luiz Pereira da Universidade de Lisboa, segundo autor da
principal referência técnica de irrigação (FAO 56 da Organização das Nações Uni- Atentos às necessidades sociais, foi desenvolvido, com o apoio da UFV, o
das –ONU), destacou que “do que vi no Brasil, a única empresa a realizar pesquisas Sistema de Tratamento de Água Residuária Doméstica (Star). O Star foi a
que poderiam contribuir para o desenvolvimento do setor era a Intec”. primeira miniestação de tratamento de esgoto a utilizar um recurso natu-
ral renovável e não poluente para desinfetar a água residuária das casas: a
No mercado internacional a Intec participou, em dezembro de 2007, na Nicarágua, radiação do sol.
do último Iberoeka, uma iniciativa de cooperação multilateral, criada pelo Programa
Iberoamericano de Ciência y Tecnologia para el Desarrollo (Cyted). Após a Iberoeka, a Com o objetivo de disponibilizar outras soluções sustentáveis e economi-
empresa iniciou negociações nos continentes Africano e Europeu para constituir par- camente viáveis foi instituído um setor de Pesquisa, Desenvolvimento e
cerias comerciais que viabilizassem a inserção da Intec nesses mercados. Inovação. A área de P&D&I contava com uma equipe de quatro doutores,
uma mestranda e dois estagiários. Através desse departamento, a empresa
Em maio de 2008 a Intec firmou um contrato de cooperação com a Faculdad Nacional estabeleceu parcerias com a UFV, a Universidade do Semiárido, a Univer-
de Salud Pública Héctor Abad Gómez, da Colômbia. O objetivo da parceria foi promover sidade Estadual de Montes Claros e a Universidade Estadual do Maringá.
o intercâmbio e fornecer estágio a alunos colombianos na sede da empresa. A primeira Estas parcerias resultaram na aprovação de diversos projetos, conforme
vaga de estágio foi destinada ao estudo da eficiência da radiação solar no tratamento de demonstrado na Tabela 1:
águas residuárias domésticas, em comunidades rurais de baixa renda de Viçosa.
Tabela 1 – Relação de projetos aprovados
Para o diretor técnico da Intec, Rafael Oliveira Batista, a presença de estagiá-
rios estrangeiros era algo que poderia favorecer a divulgação e a inserção da Projeto Valor Financiadora
empresa no cenário internacional, além de possibilitar parcerias com institui- Desenvolvimento de tratamento biológico de R$ 115.256,00 Fapemig
ções de ensino estrangeiras. sistemas de irrigação por gotejamento utiliza-
dos na aplicação de águas residuárias.
Com o apoio do Sebrae-MG, a empresa implantou em junho de 2008 o Programa Sistema ecológico integrado para tratamento R$ 498.000,00 Fapemig
de Gestão da Qualidade. Através dessa iniciativa, a Intec organizou seus processos e de água residuária de suinocultura na Zona
passou a medir e controlar seus indicadores de desempenho. Além disso, a empresa da Mata Mineira.
tornou-se um lugar melhor para se trabalhar, primando por ações voltadas para a qua- Projeto de desenvolvimento de biofiltro para R$ 456.000,00 Capes/MEC/
lidade de vida, como melhorar o bem-estar e a interação dos funcionários. tratamento de esgoto doméstico em comuni- CNPq/MCT
dades rurais de baixa renda.
Ainda em 2008 a Intec foi contemplada com o edital da Fapemig 11/2008, que Sistema ecológico integrado para tratamento R$ 946.617,44 Finep –
se referia ao Programa de Mestres e Doutores. Rafael Oliveira Batista, doutor de água residuária de suinocultura na Zona Financiadora de
em Engenharia Agrícola, foi convidado a integrar-se à empresa. Sidiney conta- da Mata Mineira. Estudos e Projetos
va então com dois sócios – Antônio e Rafael. Fonte: dados da empresa

110 111
Isso trouxe novas perspectivas quanto à gestão de recursos hídricos, pois Desafios futuros
contribuía na produção ambientalmente responsável e socialmente justa. “O
grupo Intec surpreendeu com a disponibilização de três tecnologias que aten- Analisando a trajetória da empresa, Sidiney disse entender que o caminho do
diam às demandas comerciais, levando em conta a sustentabilidade ambien- sucesso passa pela definição de um foco, de metas e, sobretudo, da capaci-
tal”, afirmou o sócio Antônio Alves Soares. dade de motivar a equipe. Nesse sentido, disse que apesar de sua formação,
teve dificuldades para estabelecer uma visão de futuro compartilhada entre os
Com potencial para gerar inovação, a empresa contava com recursos supe- sócios. “Essas divergências se tornaram obstáculos para um desenvolvimento
riores a 2 milhões de reais para desenvolver soluções de gestão dos recur- mais rápido da empresa”, comentou.
sos hídricos e reúso da água. Possuía na sua carteira importantes clientes
como Ceplac/Petrobras, Governo do Estado de Minas, Secretaria do Meio Sidiney afirmou que se pudesse voltar no tempo, planejaria mais e não pro-
Ambiente e UFV. A empresa que começou com apenas dois colaborado- longaria tanto o prazo para ajustar a visão de futuro da empresa. Segundo ele
res e estava com uma equipe de 24 pessoas, ocupando uma área física de “para viabilizar a expansão de modo a possibilitar a internacionalização da In-
250m², em 2008. tec precisaríamos de mais investimentos. Para isso estávamos nos preparando
para nos tornar uma sociedade anônima. Essa mudança implicaria em ajustes
No Gráfico 1 pode ser observado o crescimento do faturamento da Intec. A conceituais e de gestão.”
partir do 3º ano a empresa começou a apresentar um aumento na receita.
Sidiney dividia as decisões estratégicas com o conselho diretor da empresa,
composto pelos três sócios. A gestão era participativa e compartilhada com
toda a equipe. Para ele, em função das diversas mudanças, ainda era neces-
sário ajustar o novo modelo de negócio tendo como desafios a consolidação
gráfico 1 – Evolução do faturamento da Intec
do setor de P&D&I com a meta de registrar quatro patentes por ano, além de
1800000 inserir esses produtos no mercado, sobretudo junto ao setor privado nacional
e internacional.
1600000

1400000
Como estratégia de expansão, Sidiney pretendia até o fim do ano de 2009,
1200000 instalar uma filial do Grupo Intec em Valença, no Estado da Bahia.
1000000
Receita A Intec fazia também parte do Programa Apex Brasil – Agência Brasileira de
800000
Ano Promoção de Exportações e Investimentos, reestruturado no Governo do
600000 presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que tinha por objetivo estimular as
400000 exportações brasileiras. No escopo desse programa, outro desafio da Intec
200000
seria formatar um sistema de franquias que facilitaria a difusão de suas tec-
nologias para outras empresas. As primerias discussões sobre as ações de
0
franquia seriam com empreendimentos de Aracajú.
1 2 3 4 5 6

Fonte: dados da empresa

112 113
Sidiney afirmou que ainda havia muito a ser feito: “agora seria o momento Referências Bibliográficas
de arregaçar as mangas e trabalhar, pois como dizia o ditado: o sucesso só
vem antes de trabalho no dicionário, por mera questão alfabética. Espero
que daqui a cinco anos tenhamos uma nova história para contar”, comple- CABRAL, S. Plano de Negócios Intec Empreendimentos Ltda. 2001. Apresenta-
tou Sidiney. do à Incubadora de Empresas Centev/UFV para seleção no programa de incu-
bação.

Questões para discussão Empresa Intec. Disponível em: <http://www.grupoIntec.com.br/grupo/pt/>. Aces-


so em 28 set. 2008 às 14:00.
1. Q
 uais características empreendedoras fizeram a diferença para o sucesso
da empresa? IBGE. Dados do IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em 28 set. 2008
às 15:15.
2. Q
 ual importância você atribui para a interação universidade–empresa no
processo de Inovação tecnológica? Justifique sua resposta. MARCONDES, J.M et all. A Universidade Federal de Viçosa no Século XX. Viçosa.
UFV 615. 2000.
3. O
 que você faria diferente de Sidiney para conduzir o processo de mudança
de foco da empresa? Prefeitura Municipal de Viçosa. Disponível em: <www.vicosa.mg.gov.br>. Aces-
so em 28 set. 2008 às 16:00.

RMI & Sebrae, Histórias de Sucesso. Empresas Graduadas das Incubadoras Mi-
neiras. Belo Horizonte. MG 2007.

Sebrae. Histórias de Sucesso. Coordenação e organização: Mara Veit. Belo Ho-


rizonte. Sebrae. 2003.

Intec revoluciona a gestão de recursos hídricos. Revista Locus – O ambiente da


Inovação brasileira – Anprotec – outubro/dezembro de 2006, ano XI – nº 47

Sebrae. Casos de sucesso. Disponível em: <www.sebraeminas.com.br/casosde-


sucesso>. Acesso em 28 set. 2008 às 17:15.

Universidade Federal de Viçosa – UFV. UFV em números. Disponível em: <www.


ufv.br>. Acesso em 28 set. 2008 às 18:00.

114 115
o IMPACTO DAS
MUDANÇAS
NOS SONHOS
116 117
A palavra informática é formada de duas outras palavras associadas a ela, a
primeira é informação e a segunda é automática. São esses termos que defi-
nem os principais objetivos dos computadores. O surgimento da informática
resultou em mudanças significativas para diversos setores, como o comércio,
a comunicação, os transportes, o entretenimento, a administração pública, os
sistemas de arquivamento, a saúde, a agricultura e a educação.

Ao se analisar os avanços tecnológicos e as transformações nesse setor era


necessário destacar o impacto provocado nos negócios. Como consequência
desse desenvolvimento, cresceu significativamente o número de empresas li-
gadas ao ramo da tecnologia.

Foi nesse contexto, que o jovem Marcelo Nunes Ferreira mudou-se da cidade
Empresa de São Paulo para alcançar uma vida melhor no interior do Estado de Minas
Neware Informática Gerais. Em 2002 montou em Bocaiuva uma pequena escola de informática,
que também prestava serviços nessa área. Entretanto, a empresa não apresen-
Incubadora tava grandes perspectivas de crescimento, pois o número de clientes com as
Incet – Incubadora de Base Tecnológica aulas havia se estabilizado.
de Montes Claros
Essa situação levou Marcelo em 2003 a pensar de que forma seria possível
AutorA aumentar o quadro de alunos e, consequentemente, o faturamento da escola,
Érica Ferreira da Silva possibilitando assim a ampliação da prestação de serviços em informática.

Orientador
Antônio Carlos Soares Pereira Bocaiuva, começo e recomeço

Constava na história de Bocaiuva que, por volta de 1710, os habitantes da fa-


zenda de Antônio Figueira encontraram uma imagem do Senhor do Bonfim e
acreditaram ser esse um fato sobrenatural. Em um ambiente de fé, o povoado
desenvolveu-se e tornou-se freguesia do Senhor do Bonfim. Em 1873, elevou-
se a Vila com o nome de Jequitaí e, em 1890, passou a cidade, vindo a se cha-
mar Bocaiuva.

Bocaiuva está localizada no Norte de Minas Gerais, possui uma área de 3.243
km2 e está distante 369 km da capital e 48 km de Montes Claros, cidade pólo
regional. Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em
2008 o município apresentava um contingente populacional de 46.306 habi-
tantes, sendo a população urbana largamente superior à rural.

118 119
Bocaiuva vinha expandindo sua economia e de acordo com o Cadastro de pessoas que pudessem compartilhar dos seus objetivos. Convidou para inte-
Empresas do IBGE – Cempre em 2000, as principais atividades industriais no grar o quadro societário da empresa Warley César Soares e Valdir Gomes dos
município eram a confecção de artigos do vestuário, móveis, produtos alimen- Santos. Ainda em 2002, os sócios elaboraram e inscreveram o projeto da nova
tícios e bebidas, cerâmicas, produtos químicos, produtos têxteis e a metalurgia empresa na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incet).
básica, setor onde estava instalada a maior empresa da cidade.
A Incet havia sido criada em 2000 pela FEMC e correspondia a um espaço físico,
Foi em Bocaiuva que Marcelo conheceu Alexsandra Sales com quem se casou com infraestrutura técnica e operacional associada, especialmente configurado
e teve uma filha. Durante algum tempo moraram em São Paulo, onde Marcelo para transformar ideias em produtos, processos ou serviços. Tratava-se de um nú-
trabalhou como prestador de serviços autônomos na área de informática. Mas cleo, que abrigava microempresas de base tecnológica ou gerencial. Esse projeto
a pressão do cotidiano e a baixa qualidade de vida levaram-no a mudar-se com surgiu da iniciativa de um grupo de professores da instituição com o apoio técnico
sua família. Aventurou-se por Camburiú, em Santa Catarina, mas não encon- da unidade de Montes Claros do Sebrae-MG – Serviço de Apoio às Micro e Peque-
trou condições para permanecer ali e decidiu viver em Bocaiuva, terra natal de nas Empresas de Minas Gerais.
sua esposa.
O projeto apresentado foi aprovado e logo em seguida teve início a etapa de
Ao se mudar para Bocaiuva a primeira oportunidade para Marcelo foi ser fun- pré-incubação. Com duração média de seis meses, essa fase consistia em forne-
cionário de uma empresa de informática. Não conseguindo se adaptar às con- cer apoio à elaboração de planos de negócios, por meio de orientação, treina-
dições de trabalho e remuneração oferecidas, tomou a decisão de ter seu pró- mento e consultoria, resultando no amadurecimento tecnológico e gerencial
prio negócio no segmento de informática. da oportunidade identificada. O objetivo final da pré-incubação era estimular
a inovação e a criação de empresas de base tecnológica, oferecendo apoio
Para iniciar o projeto, percebeu que era necessário retomar os estudos. O para o desenvolvimento da capacidade gerencial dos empreendedores.
mercado de informática encontrava-se em plena expansão, principalmente
nas atividades relacionadas ao hardware (componentes físicos para o pro- Nesse período tiveram a chance de estudar a viabilidade técnica, econômica
cessamento e armazenamento de informações) e ao software (programas e financeira do empreendimento. Entretanto a etapa de pré-incubação não
que determinam o que e como os equipamentos produzem determinado aconteceu nas instalações da Incet, mas sim em Bocaiuva. Dessa maneira, o
resultado). Contudo, em Bocaiuva, várias empresas do setor, devido à pre- negócio contava com o apoio da incubadora, porém não estava fisicamente
cariedade das condições de prestação de serviços, perdiam clientes para a em suas dependências, sendo considerada então uma empresa pré-incubada
cidade mais próxima, Montes Claros. associada. Em junho de 2002, nascia a Bio Soft Informática.

Em 2002, Marcelo matriculou-se no curso técnico de Informática oferecido Na época tudo que os sócios possuíam eram seus computadores particulares,
pela Fundação Educacional Montes Claros (FEMC). Criada em 1976, a FEMC ti- colocados à disposição da empresa, e a vontade de prosperar. Com esses pas-
nha como objetivo desenvolver os recursos humanos, operacionais e técnicos sos dados, apareceram os primeiros indícios de que estavam na direção certa.
necessários à implantação do Parque Industrial do Norte Mineiro. Para que a
população de Bocaiuva tivesse acesso à capacitação especializada e pudesse Apesar da qualidade nos serviços prestados, a atuação da empresa era similar a
se integrar à economia local, a prefeitura disponibilizava transporte aos estu- dos concorrentes. Portanto trabalharam para se destacar no município. Com ape-
dantes até Montes Claros, cidade onde estava localizada a Fundação. nas dois meses de existência, a Bio Soft já era autossustentável, mas sua estrutura
inadequada obrigando os sócios a investir mais recursos próprios e a redirecionar
Aproveitando a necessidade de aprimoramento profissional e para dar conti- toda a receita para o funcionamento da empresa. Assim ao final de 2002 os núme-
nuidade aos planos para implantação do negócio, Marcelo buscou identificar ros eram animadores para um negócio em fase inicial.

120 121
O apoio fornecido pela Incet, no planejamento e organização das atividades, A solução era vantajosa para os clientes, uma vez que oferecia aulas práticas e de fácil
contribuiu para a estabilidade momentânea da empresa. A grande demanda reposição. O método também oportunizava aos alunos escolherem o que iriam fazer,
de tempo fez com que um dos sócios, Valdir, optasse por se desligar do negó- o ritmo do curso e em quais dias frequentariam as aulas. Com essas características a
cio. Com sua saída, foi solicitado que a razão social da empresa fosse alterada. ferramenta representava a solução para os problemas da Neware, pois a partir dela
A procura por um outro nome fez com que, entre as inúmeras viagens para não mais perdiam clientes e poucos profissionais eram envolvidos nas tarefas. O resul-
o curso técnico a Montes Claros, os sócios remanescentes decidissem que a tado imediato foi o aumento da quantidade de matrículas.
empresa passaria a se chamar Neware Informática. O conceito seria de um ne-
gócio que oferecesse produtos novos na área. Essa estratégia aliada à qualidade dos serviços fez com que a Neware expandisse
sua rede de alunos e clientes. Os sócios adotaram medidas que fizeram com que
Em abril de 2003 a Neware Informática foi formalizada. A empresa apresen- a empresa agradasse seus clientes. “Durante esse tempo nunca abrimos mão da
tou uma dinâmica de funcionamento diferenciada, oferecendo cursos básicos, qualidade, do bom atendimento e de preços competitivos”, afirmou Marcelo. Essa
avançados e profissionalizantes de informática. filosofia de trabalho proporcionou um crescimento satisfatório da empresa e do
seu faturamento ano a ano conforme demonstrado no Gráfico 1.
Contudo, o esforço empreendido parecia não ser suficiente, pois após al-
guns meses a empresa estava estagnada e não conseguia ampliar o núme- Em 2005 a escola de informática aumentou o número de alunos em 100% no novo
ro de clientes. Marcelo se deparou com dificuldades para o fechamento de sistema, em relação ao método tradicional de ensino: professor x turma.
turmas, a escola contava com poucos alunos matriculados nos cursos e a
demanda por serviços especializados era cada vez menor. A dedicação da gráfico 1 – Evolução do faturamento anual
equipe às aulas comprometia o tempo disponível para os serviços de as-
sistência em informática. Com isso o esforço aumentou, mas a receita não R$ 250.000,00
2007
crescia na mesma proporção.
R$ 200.000,00 2006

2005
Parceria: uma das chaves para o sucesso R$ 150.000,00

R$ 100.000,00 2004
Nesse período Marcelo decidiu formular um conjunto de ações para reerguer a
empresa. Primeiramente foi construir um plano estratégico utilizando as con-
R$ 50.000,00 2003
sultorias oferecidas pela incubadora. Uma das medidas priorizadas nesse pla-
no foi aumentar a divulgação do negócio. 2002
R$ -

Marcelo identificou também que, além de melhorar a qualidade dos serviços, Fonte: dados fornecidos pelo empreendedor.
era imprescindível atuar de forma diferente. Após um intenso trabalho de pes-
quisa encontrou uma alternativa que poderia equacionar o problema. Em 2006, como estratégia de expansão dos negócios, implantaram uma Lan
House nas instalações da empresa, aumentando a arrecadação financeira. Ou-
Descobriu então um método de ensino audiovisual e interativo para ser utilizado tra medida adotada por Marcelo foi a popularização da tecnologia em todas
nas aulas de informática. O sistema apresentava uma metodologia que minimiza- as classes sociais, para que isso ocorresse criaram projetos de inclusão digital
va o esforço para a formação de turmas e diminuía os índices de inadimplência, para disponibilizar bolsas de estudos aos alunos carentes, por meio de parce-
possibilitando ainda a realização de matrículas a qualquer momento. rias com as entidades do terceiro setor e escolas públicas.

122 123
Em 2008 a empresa contava com 600 alunos ativos na escola de informática e expectativa era o investimento em infraestrutura, adquirindo equipamentos
os serviços eram realizados por uma equipe que, além dos sócios, contava com mais modernos e ampliando o espaço físico, o que permitiria a implantação de
cinco funcionários e quatro estagiários. uma escola de inglês. Dessa forma Marcelo acreditava que sua empresa pode-
ria avançar ainda mais regionalmente.

Lições aprendidas e expectativas futuras


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
Esses acontecimentos fizeram com que Marcelo e seu sócio percebessem a
importância do trabalho em equipe e o impacto desse aspecto nos resultados. 1. Q
 ual a importância das incubadoras para a criação e o desenvolvimento
Compreenderam que a motivação era um fator decisivo para o sucesso e ado- das pequenas empresas?
tavam medidas para manter uma boa convivência na empresa. Mas o principal
foi estar aberto às mudanças. Ele considerava a assessoria técnica uma forma 2. P roponha outras alternativas para que a Neware continue em um processo
do empresário sair do seu ambiente e enxergar a empresa pelos olhos de uma consistente de crescimento.
pessoa externa e, com isso, ver oportunidades antes não vistas. Além disso, é
preciso ousadia para propor modelos fora do tradicional, inovar e ainda buscar 3. Q
 ue tipo de oportunidades e ameaças são encontradas pelos empreende-
novas tecnologias mais produtivas e rentáveis. dores da área de informática?

Marcelo ainda destacava outros pontos de atenção neste processo de cresci-


mento, tais como o não detalhamento do planejamento antes da implanta- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ção da empresa, a incompatibilidade de interesse dos sócios e a capacidade
de readequação do planejamento diante das mudanças. Outro gargalo foi a Conheça a história de Bocaiuva. Disponível em: <http://www.vieirafazendas.
pré-incubação distante das dependências da Incet, dificultando o apoio dos com.br/quem_somos.php.> Acesso em 26 jun. 2008 às 18:48.
consultores e professores.
Informática e história da informática. Disponível em: <http://www.suapesqui-
Marcelo esclareceu o motivo da empresa ter crescido e destacou a definição sa.com/informatica/>. Acesso 11 nov. 08 – 15:16.
clara dos objetivos e a busca pela excelência em atendimento, somados a uma
estratégia de localização do ponto comercial. Municípios Mineiros. Disponível em: <http://www.almg.gov.br/index.asp?grup
o=estado&diretorio=munmg&arquivo=municipios&municipio=7307.> Acesso
Marcelo buscaria então novas conquistas e enfrentar novos desafios que é em 20 nov. 08 às 11:05.
manter a rota, os valores e princípios do negócio, as boas relações pessoais, e
ainda a política da satisfação de todos os envolvidos com a empresa: clientes, Prefeitura Municipal de Bocaiuva. Disponível em: <http://www.bocaiuva.
funcionários e fornecedores. mg.gov.br/localizacao.htm>. Acesso em 07 jul. 2008 às 20:40.

Os projetos futuros seriam a implantação de cursos profissionalizantes na área Visual mídia. Disponível em: <http://www.visualmidia.com.br/ver.php?aba=
de recursos humanos, técnico em contabilidade, hardware e AutoCAD. Essa 4&pagina=27> Acesso em 11 nov. 08 às 21:10.
ampliação faria com que as pessoas da região contassem com as condições
necessárias para se qualificar, sem precisar se locomover de Bocaiuva a Montes
Claros. Para isso precisaria contratar um número maior de funcionários. Outra

124 125
DAS CINZAS AO CÉU:
A TRAJETÓRIA
DA Plangeo

126 127
Localizada na Zona da Mata mineira, Juiz de Fora era considerada até 2008 a
quarta maior cidade do Estado e a 35ª do Brasil, segundo dados do IBGE – Ins-
tituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com uma população estimada de
520.612 habitantes. Marcada por seu pioneirismo, chegou a ser chamada de
Manchester Mineira1, sendo considerada no início do século XX uma das cida-
des mais industrializadas da América Latina.

O município foi marcado por eventos históricos, como a construção da primeira


via de transporte rodoviário do Brasil em 1896 por D. Pedro II, a rodovia União In-
dústria com 144 km de Juiz de Fora a Petrópolis, para encurtar a distância entre
a corte e a província de Minas. Outro marco responsável pelo desenvolvimento
da indústria local foi a inauguração, em 1889, da usina hidrelétrica de Marmelos,
a primeira de grande porte da América do Sul. Juiz de Fora também foi sede do
Empresa
primeiro curtume industrial e primeira escola de ensino superior de comércio
Plangeo – Planejamento e Geotecnologia Ltda.
do país, além da primeira cervejaria, primeira estação telefônica, primeiro grupo
Incubadora
escolar e primeiro transporte público do Estado.
Centro Regional de Inovação e
Foi nesse contexto caracterizado pelo pioneirismo que surgiu a Plangeo, em-
Transferência de Tecnologia / Critt – UFJF
preendimento criado em 1996 por três alunos do curso de Geografia da UFJF
- Universidade Federal de Juiz de Fora. Equipada apenas com um computador
Autores
e um scanner, a empresa tinha sua sede na garagem da casa de Júlio César de
Evandro Mendonça Fortuna e
Almeida Valério, um dos sócios e idealizador do empreendimento. Inicialmen-
Ursula Oliveira Chrispim de Mello
te o negócio prestava serviços cartográficos e geográficos para prefeituras,
mas também atendia a outros segmentos através da confecção de guias de
Orientador
ruas, mapeamento de propriedades rurais e cartografia digital.
Wellington Damasceno de Lima
Quando fundaram a Plangeo, os sócios dispunham de pouca informação sobre ges-
tão, somado a isso estava a falta de recursos financeiros. Entretanto, tinham bons co-
nhecimentos técnicos e o desejo de fazer com que suas carreiras ultrapassassem os
limites da academia. Após oito anos, marcados por poucos resultados comerciais, pro-
blemas administrativos e, principalmente, financeiros, Júlio se viu diante de diversos
desafios, chegando a pensar no fechamento da empresa. Nesse período de crise, os
demais sócios optaram em deixar o negócio para se dedicarem ao setor público.

No final de 2004, Júlio precisava descobrir como conseguir recursos financei-


ros que garantissem a continuidade da Plangeo já que, mesmo após alguns
anos de atividade, a empresa ainda não havia se tornado autossuficiente.
A alusão a Manchester, deve-se ao fato da cidade do Reino Unido, localizada no noroeste da Inglaterra ser considerada um grande centro industrial
1

e econômico, além de sediar muitas companhias no centro da cidade ou em seu parque industrial.

128 129
Inoculando o vírus do empreendedorismo Em 1996 apareceu a primeira oportunidade para concretizar o sonho de ter o negó-
cio próprio. Ao conversar com um colega de estágio na prefeitura de Juiz de Fora,
O vírus do empreendedorismo começou a ser inoculado em Júlio ainda na déca- Júlio viu entrar na sala o gerente de um banco da região que os surpreendeu dizendo
da de 1980. Foi o pai, homem de origem simples, que, em busca de alternativas precisar vender sua fazenda, mas que para isso seria necessário um mapa. Perguntou
para sustentar a família, representou sua principal inspiração. Como feirante, o aos estudantes se eles estariam dispostos a prestar esse tipo de serviço. Prontamente
pai, Júlio e um ajudante viajaram diversas vezes a fim de comprarem produtos responderam que sim e, no sábado seguinte, partiram para a fazenda munidos de
para a fabricação de vidros de pimenta malagueta que seriam vendidos no dia uma bússola e uma carta-topográfica. Passaram por dificuldades e foi preciso voltar
seguinte. Sobre a experiência, Júlio lembrou: “... eles ficavam horas com as mãos às escondidas para concluir o trabalho. Entregaram o mapa e receberam 240 reais de
em uma bacia d’água para passar o ardido da pimenta. Esse ardido nas mãos honorários, na época um valor satisfatório pelo trabalho executado.
significava, para mim, que não existia sucesso sem esforço e suor.”
Mais tarde Júlio propôs ao colega a abertura de uma empresa de serviços cartográficos,
Mesmo aprovado em um concurso público, o pai de Júlio não deixou de em- ideia bem recebida pelo amigo que chamou um terceiro colega de faculdade para compor
preender e começou a criar codornas, chegando a ter mais de 500 aves e duas a equipe. Um sócio ingressou com um computador, outro com um scanner e impressora
incubadoras. Júlio ajudava vigiando as incubadoras pela madrugada, pois se- e Júlio, o idealizador do negócio, cedeu a garagem de sua casa que anos antes abrigara o
gundo ele “... via literalmente nascer dinheiro de cada ovo”. Porém, o negócio ferro-velho do pai. Nascia assim a Plangeo – Planejamento e Geotecnologia Ltda.
foi abandonado, pois o retorno financeiro não correspondia ao trabalho des-
pendido na atividade. O primeiro serviço foi contratado por um ex-professor do curso de Geografia,
na época funcionário da prefeitura de Juiz de Fora, que precisava de um mapa
Em seguida, seu pai adquiriu um terreno vizinho à casa da família, montando de polarização2 da cidade. O trabalho foi realizado com êxito e remunerado na
então um ferro-velho que sua mãe batizou de Ferro-Velho Cigano. Mais tarde, época por 600 reais. Esse fato motivou os sócios a tomarem providências para
esse local viria a ser a primeira sede da Plangeo. Ao observar a criatividade e a formalização da empresa. Em maio de 1997, a Plangeo estava inscrita no CNPJ
dedicação do pai, Júlio decidiu que iria empreender e que não seguiria uma - Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas.
trajetória profissional convencional, como era comum na década de 1990.
Nesse mesmo ano ocorreu a mudança para uma nova sede, em uma casa alugada e
Como não queria fazer um curso superior tradicional, buscou uma área dife- consequentemente a necessidade de serem autossustentáveis. Ainda em 1997, a em-
rente, que oferecesse oportunidades e a possibilidade de uma atuação mais presa se organizou para visitar outras prefeituras para apresentar seus trabalhos e par-
ampla. Escolheu a graduação em Geografia, pois na sua concepção se asseme- ticipar de licitações. Apesar da oposição de um dos sócios às viagens para prospectar
lhava a cursos como o de Engenharia e oferecia aquilo que necessitava para negócios e participar de licitações – pois considerava um custo e não um investimento
sua formação profissional. para a empresa – os demais insistiam nessa estratégia, pois sabiam que essa era uma
ação importante para conseguir novos clientes.
Em 1993, ao ser aprovado no vestibular, estranhou o fato das pessoas se assus-
tarem com a área. Parentes e amigos não acreditavam que esse ramo viesse Em 1998, a Plangeo venceu sua primeira licitação e, segundo Júlio, “a falta de amadure-
a oferecer grandes perspectivas e vislumbravam somente o caminho da do- cimento falou mais alto no trabalho. Foi difícil a coordenação, e as dificuldades que vie-
cência. Contudo, o ato de lecionar não motivava Júlio, que não se imaginava ram daquela prefeitura abalaram o relacionamento entre os sócios”. Após esse serviço,
fechado em uma sala de aula. No início do curso, uma das professoras sempre um dos sócios se desligou e os dois proprietários remanescentes conduziram a empresa
repetia “quando vocês forem dar aula...”. Incomodado, Júlio levantou o braço com dificuldades, pois a inexperiência impedia uma gestão financeira eficaz.
e disse “... professora eu não vou dar aulas” e ela respondeu “os que falam que Mapa que, através de diversas variáveis, demonstra o nível (força) de atração que uma entidade (cidade, hospital, ponto-de-venda, etc.) exerce no
2

seu entorno. Por exemplo: Juiz de Fora possui aproximadamente 500.000 habitantes, só que polariza uma região de aproximadamente 2 milhões de
não darão aula são os primeiros a se tornarem professores”. habitantes. Isso devido aos serviços de saúde, educação, comércio que oferece.

130 131
Em 2000, o sócio remanescente foi aprovado em um mestrado e em um con- Júlio percebeu que um dos fatores que levara sua empresa àquela situa-
curso público, obrigando-o a se mudar para o Rio de Janeiro. Júlio sentiu um ção foi a falta de conhecimentos gerenciais. Reconheceu que fazer uso dos
grande desânimo, pois percebeu que a situação não era favorável. “Fui para a benefícios do processo de incubação poderia ser parte da solução para os
Plangeo e chorei. Tive a ideia, havia dado o nome à empresa, criado o logotipo problemas que enfrentava. Soube da existência de um edital para a sele-
e tudo estava se desfazendo. Não tinha como manter a empresa sozinho, pois ção de empresas e projetos para a incubadora da UFJF, e desejoso de apoio
os recursos financeiros eram escassos para sua manutenção”, disse. para dar continuidade a sua empresa inscreveu-se no curso de iniciação
empresarial, sendo então aprovado.
O Departamento de Estrada de Rodagem – DER de Minas Gerais passou a exi-
gir das prefeituras em 2000 a formulação de um Plano Rodoviário Municipal. Em 2004, o ingresso na incubadora de Base Tecnológica do Gênesis foca-
O Plano era condição para o município obter aprovação para o recebimento de da em TI 4 , representou uma nova fase para a Plangeo. Júlio foi indicado a
recursos financeiros do Estado. Esse fato fez com que as prefeituras contratas- participar do Empretec, seminário realizado pelo Sebrae-MG – Serviço de
sem a Plangeo para elaborar esse estudo. Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais que trabalhava as ca-
racterísticas empreendedoras do indivíduo. A participação no curso e a en-
Apesar do serviço ter apresentado resultados positivos junto às prefeituras, o trada na incubadora trouxeram novo ânimo a ele que, após receber capaci-
sócio de Júlio já havia se mudado para o Rio de Janeiro e as dificuldades de tações em plano de negócios, marketing, finanças e estratégia, dedicou-se
manter um modelo de trabalho a distância teve como consequência uma so- a reestruturar a empresa. A dinâmica da incubadora mostrou para Júlio um
brecarga para ele na execução das atividades. novo mundo. Até então, ele não havia se preocupado com fluxo de caixa e
planejamento, mas a partir daquele momento, essas ferramentas passaram
Em 2004, Júlio e seu sócio se reuniram para avaliar a empresa e decidiram que, se a fazer parte de sua rotina.
em quatro meses o retorno financeiro não fosse positivo, iriam fechá-la. Para seu
sócio isso era razoável, uma vez que tinha decidido seguir a carreira pública, mas Para executar seus novos planos, procurou reposicionar a empresa no merca-
para Júlio o fato significava que seu sonho estava em jogo. Como conseguir os do. Ao identificar oportunidades para inovar, decidiu desenvolver suas pró-
recursos financeiros para garantir a continuidade da Plangeo? A voz de sua profes- prias ferramentas de TI para imprimir diferencial nos serviços de geografia e
sora voltou em sua memória: “lugar de geógrafo era em sala de aula”. A realidade cartografia. Para isso seriam necessários investimentos consideráveis, entre-
era dura, mas as dificuldades financeiras pareciam não deixar outra opção. tanto, a empresa não contava com profissionais qualificados e, principalmen-
te, recursos financeiros.

Renascendo das cinzas Nesse mesmo ano, uma grande empresa florestal de Juiz de Fora abriu concor-
rência para a implantação de um “programa de fomento florestal na região da
Inconformado com a possibilidade de fechar a empresa em virtude das dificuldades fi- Zona da Mata Mineira” e necessitou de um estudo de localização de empreen-
nanceiras, Júlio viu a oportunidade de dar uma nova direção para a Plangeo quando, por dimentos rurais aptos para reflorestamento. Participando dessa concorrência
meio de um sonho, lembrou-se do projeto Gênesis — uma incubadora de empresas de e competindo com uma instituição de ensino e uma empresa de Belo Horizon-
Base Tecnológica da UFJF — onde atuou como professor substituto e ministrou aulas no te, a Plangeo venceu e foi contratada para a execução do serviço, fato que a
curso de Geografia. Não conhecendo muito sobre incubação de empresas, buscou infor- inseriu na área de bioenergia sólida, mais precisamente, no setor de plantio de
mações na internet e resolveu abraçar a oportunidade na esperança de dar continuidade eucalipto para produção de carvão.
ao sonho de empreender. Desta maneira, a Plangeo iniciou seu processo de reconstrução
assim como a Fênix3.
A Fênix é um pássaro da mitologia grega e egípcia que quando morria entrava em autocombustão e passado algum tempo renascia das próprias
3
Tecnologia da Informação, desenvolvimento de softwares e uso de programas de computador para execução de um serviço.
4

cinzas. Outra característica da Fênix é sua força que a faz transportar em vôo cargas muito pesadas.

132 133
Após seis meses na incubadora, na perspectiva de associar aos seus produtos A Plangeo contava com três colaboradores que atuavam exclusivamente nos tra-
cartográficos os benefícios da TI, Júlio decidiu ampliar a atuação da empresa balhos de geoprocessamento5, pesquisa de mercado, geomarketing6 e atendi-
por meio do desenvolvimento de softwares de geoprocessamento. O fatura- mento ao contrato de mapeamento de propriedades rurais para reflorestamento.
mento da Plangeo encontrava-se alicerçado em um único contrato de serviço Até então, para o que se propunha, o quadro funcional era suficiente e mantinha a
para uma empresa florestal que absorvia a maior parte da sua mão-de-obra e dinâmica operacional da empresa eficiente e as finanças equilibradas.
oferecia um bom retorno. As demais receitas provinham de pequenos contra-
tos, de caráter eventual que, juntos, não alcançavam 10%. Foi instituída então a área de TI, para a qual o novo sócio contratou mais um
técnico e um estagiário. Para que a parte de TI fosse constituída e os novos
Pensando em criar novas fontes de receita, Júlio retomou a criação de dois produtos desenvolvidos, Júlio deu seguimento ao atendimento dos contratos,
produtos idealizados por ele no final da década de 90 e até então não testa- responsabilizando-se por manter as operações da empresa, de modo a arcar
dos. Esses produtos eram inovadores, porém a Plangeo não possuía compe- financeiramente com o novo setor até que ele desse o retorno esperado.
tência técnica nem financeira para desenvolvê-los. O primeiro era um site de
mapas que permitiria às pessoas se localizarem em uma cidade e conhecerem Passado alguns meses, o número de empregados havia duplicado e o investi-
as principais referências em seu entorno. O mapa poderia ser personalizado mento no novo setor exigia da empresa cada vez mais capital. Após dois anos,
e enviado por e-mail ou impresso para distribuição a pessoas de interesse do um dos produtos da empresa, o iMapas – sistema para localização geográfica
usuário como, por exemplo, convidados que precisassem saber a localização de ruas da cidade encontrava-se finalizado e pronto para ser comercializado.
de uma granja onde seria feito um churrasco ou o mapa indicativo do local
onde seria a inauguração de uma nova concessionária. No entanto, ao contrário do que Júlio esperava, o produto, que deveria des-
pertar atenção e gerar venda de espaço publicitário e patrocínios, em sites
O segundo projeto era um site para apoio a ações de marketing, que poderia interessados nos mapas, não apresentou retorno financeiro. Por outro lado,
ser utilizado por empresas como banco de dados para estudo de localização para manutenção das atividades e dos compromissos, o setor de Tecnologia
de abertura de novas agências, ao Sebrae e a consultores para conhecer a me- da Informação continuava a absorver os recursos da empresa.
lhor localização para instalação de uma determinada empresa e também ao
setor público permitindo um melhor planejamento urbano. Ainda em 2006, não bastasse o baixo faturamento e o alto custo operacional com
o setor de TI, a empresa passou por uma nova crise. Na época, o cliente responsá-
O desenvolvimento de tais produtos demandava a incorporação da TI como uma vel por 90% do faturamento, diminuiu os pedidos para mapeamento de fazendas
área estratégica. Assim, ainda em 2004, Júlio tentou uma parceria com uma em- com áreas de reflorestamento, o que causou grande impacto no fluxo de caixa.
presa da mesma incubadora onde era residente, mas devido a demandas internas
em outros projetos, a proposta não foi adiante. A partir daí, a ideia passou a ser a A essa altura, a empresa se encontrava financeiramente comprometida e os pro-
criação de um setor de TI dentro da Plangeo para o desenvolvimento das novas jetos de TI não conseguiam ser comercializados. Esses projetos, embora com bom
soluções, pois era preciso criar programas e base de dados integrados a ferramen- potencial, quando prontos, não eram trabalhados para alavancar novos contratos.
tas de geoprocessamento que fossem acessíveis a usuários leigos. Sem uma estratégia comercial bem definida pelo responsável da área de TI, os
projetos encontravam suporte para o seu desenvolvimento técnico, mas nenhum
Tomada a decisão, não demorou a identificar um profissional de TI cuja com- planejamento para sua prospecção comercial. Assim, as atividades de geoproces-
petência se mostrava alinhada aos seus objetivos. Pensando na viabilização de samento e cartografia representavam 90% da receita e a TI, com apenas um con-
suas ideias e entusiasmado com as perspectivas que esse profissional traria, trato, não oferecia contrapartida suficiente para cobrir suas próprias despesas.
Júlio, após algumas negociações resolveu, ao invés de contratá-lo, torná-lo só- Técnica que utiliza recursos computacionais para o tratamento, organização e apresentação de informações geradas por sensoriamento remoto. Tem
5

larga aplicação no ordenamento físico territorial e, nos últimos tempos, vem sendo um importante mecanismo na evolução das análises cartográfi-
cio, cedendo 40% de participação no capital da empresa. cas, bem como, dos recursos naturais; dos transportes; da energia e do planejamento urbano.
O Geomarketing, ou Marketing Geográfico, é uma abordagem ao Marketing que permite a adaptação do Marketing-mix ao modo como o Mercado se
6

organiza no espaço, ou seja, permite a análise das variáveis relevantes para o Marketing através da visualização desses dados em mapas geográficos.

134 135
O tempo passava e o setor de TI continuava sem oferecer resultados financei- Preocupado em restabelecer as contas da Plangeo, Júlio iniciou uma série de
ros. As demais atividades, coordenadas por Júlio, continuavam financiando a ações, partindo por avaliar que os produtos desenvolvidos pela TI e que os
estrutura do setor de TI, que consumia cada vez mais recursos, enquanto, ao serviços por ela oferecidos não teriam um retorno razoável sem uma reformu-
mesmo tempo, as áreas mapeadas para o cliente de bioenergia diminuíam. lação comercial e maiores investimentos em tecnologia.

O prolongamento da necessidade dos investimentos em TI somado à crise com Assim, resolveu paralisar provisoriamente os projetos de TI e enxugar o quadro
o grande cliente afetou a estabilidade financeira da empresa. As receitas men- de empregados. Além disso, tomou outras medidas para sanar os focos cen-
sais, provenientes dos mapeamentos de propriedades rurais, ficavam cada vez trais dos problemas. Em primeiro lugar, chamou seu pai, já aposentado, para
menores e os demais serviços não sustentavam suas atividades. A folha de gerenciar a equipe de campo que mapeava as propriedades.
pagamento dilatada comprometia 60% do faturamento.
Em seguida, colocou sua esposa no controle financeiro da empresa. Esta
No final de 2006, a situação financeira tornou-se insustentável. A comunicação atitude permitiu que tivesse mais tempo para pensar no negócio. Logo
entre os sócios, prejudicada pelo desalinhamento de interesses, tornou-se difícil. após, desligou os estagiários e funcionários vinculados ao ex-sócio, refi-
Júlio com 60% das cotas da empresa já não detinha o poder de decisão indepen- nanciou os passivos com os credores e parcelou os impostos atrasados.
dente, pois seu sócio sempre o questionava. Com o agravamento da situação, em Obteve sucesso na disputa judicial travada com o antigo sócio e decidiu
2007, a sociedade se rompeu, aparentemente de forma consensual. intensificar a busca de novos contratos.

Com a saída do sócio e com um grande passivo acumulado, Júlio mais uma vez Superadas as dificuldades financeiras iniciais, Júlio reconheceu a necessidade
se viu frente ao desafio de reerguer a empresa ou ter de fechá-la. A análise da de desenvolver o planejamento estratégico e o mapeamento dos processos in-
Plangeo mostrou uma situação delicada envolvendo problemas que poderiam ternos. Com o objetivo de imprimir segurança e profissionalismo ao trabalho,
afetar ainda mais a sua saúde financeira, pois as receitas não eram mais sufi- contratou uma empresa de consultoria.
cientes para cobrir os custos, além da dependência de faturamento ser prove-
niente em sua maior parte de um único grande cliente. Com o acompanhamento dos serviços de consultoria identificou os pontos
fortes e fracos da empresa, verificando a fragilidade da Plangeo em con-
Os principais produtos criados no setor de TI possuíam custo de manu- centrar a maior parte de suas atividades e receitas em um único grande
tenção elevado e baixo retorno, sua inoperância gerou acúmulo de mão- cliente. Entretanto, diferentemente da vez anterior e assessorado por pro-
de-obra ociosa e grande consumo de recursos. Além disso, a sociedade fissionais, Júlio ao invés de investir em novos produtos e setores, optou por
foi desfeita e parte da infraestrutura tornara-se objeto de disputa judicial manter o foco nos produtos e serviços tradicionais, atacando as atividades
entre os antigos sócios. comerciais para captar clientes.

Sem recursos para investir na reestruturação da empresa, mas abastecido dos Focou a empresa em mapeamentos cartográficos e geoprocessamento para o
conhecimentos adquiridos no processo de incubação, que durou de 2004 a setor de bioenergia, pois possuía contrato com uma grande empresa de reflo-
2007, Júlio, que tinha dividido a gestão com o sócio reassumiu o controle da restamento e a solução era buscar novos clientes nesse mesmo segmento.
Plangeo onde estabeleceu as diretrizes para sua recuperação. Empenhado,
analisou os gargalos e conversou com funcionários antigos de sua confiança Como lidava com grandes empresas, concentrou esforços a fim de preparar a
e com o gerente da incubadora. Após muita reflexão, decidiu promover um Plangeo na busca de certificações e, aos poucos, não só obteve novos traba-
downsizing7 na empresa. lhos como também estabeleceu um novo contrato, agora melhor negociado
Termo usado para designar o processo de redução no tamanho da empresa, especialmente no número de empregados e no número de níveis
7 com o antigo cliente.
hierárquicos na estrutura organizacional.

136 137
Com as finanças sob controle, Júlio, após um período conturbado entre 2007 e uma estrutura mais enxuta, a empresa diminuiu sua vulnerabilidade financei-
2008, conseguiu restabelecer a trajetória ascendente da Plangeo. Com gastos ra, adquirindo fôlego para suportar possíveis rompimentos de contrato.
elevados devido à locação de equipamentos de alta precisão (GPS 8) usados no
mapeamento das fazendas, o faturamento da Plangeo, que na fase crítica da Por outro lado, a continuidade das ações planejadas, possibilitou a rees-
empresa alcançou a preocupante faixa de 75 mil reais anuais, saltou em 2007 truturação e a ampliação do setor de TI. As estratégias de marketing para
para 300 mil reais, conforme demonstrado no Gráfico 1. os próximos anos permitiriam projeções para um aumento nas receitas da
empresa e sua sustentabilidade.
Para 2008, previu-se atingir a marca próxima aos 700 mil reais, o que represen-
taria um crescimento de 210% superior a melhor fase já vivida pela empresa.
gráfico 1 – Evolução do faturamento da Plangeo
Mantendo o vôo da fênix
300.000,00
300.000,00 A Plangeo formou uma carteira de clientes composta por corporações como a
Votorantim Metais, ArcelorMittal Florestas, Cia. Brasileira de Carbureto de Cálcio. A
250.000,00
220.000,00 empresa também encontrava-se em negociação com um grupo europeu de bio-
200.000,00 combustíveis que implantaria nos próximos anos uma usina no país.
(R$)

150.000,00
125.000,00 Internamente a empresa deu início em 2008 à formulação do seu planejamen-
100.000,00 to estratégico. Em fase de revisão, começavam a ser trabalhados a visão da
75.000,00 empresa, a análise do ambiente interno e externo, pontos fortes e fracos, bem
50.000,00
0,00 como as projeções financeiras . Os processos internos estavam sendo mapea-
0,00 S1 dos para capacitar a empresa a buscar a certificação.
2004 (ano da 2005 2006 2007 Até o
incubação) 1º semestre
Fonte: dados da empresa de 2008 Outro ponto que teria continuidade era o investimento nos colaboradores. No
começo a Plangeo contou com empregados recém-formados que eram capa-
citados pela empresa. Entretanto, apesar do aprendizado rápido ter sido im-
Tendo sido graduada na incubadora da UFJF em agosto de 2007, a Plangeo portante para o negócio, Júlio acreditava que precisaria contar não só com
possuía, em 2008, uma sede montada em um Condomínio de Empresas situa- novos talentos, mas também com profissionais de mercado experientes.
do em Matias Barbosa, município vizinho a Juiz de Fora. Oito novos colabora-
dores de áreas distintas foram contratados para compor a equipe. O setor de No médio e longo prazo, a Plangeo esperava até 2015 participar de projetos no
TI foi reativado, planejado e estruturado para atender às demandas internas na exterior e abrir escritórios em outras regiões do Brasil. Em seus planos estava
elaboração e execução de seus serviços. incluído atender ao setor público, desenvolvendo projetos de inteligência ge-
ográfica para prefeituras, governos estaduais e federal.
Júlio continuou investindo em uma gestão profissional. A missão, visão, valores
e as diretrizes estratégicas foram definidos e incorporados ao negócio. A Plan- Para Júlio, a vivência em uma incubadora possibilitou o conhecimento e o uso de
geo estabeleceu com outros clientes do setor de bioenergia sólida mais dois ferramentas de gestão, fato que contribuiu para o crescimento e amadurecimento
contratos de mapeamento geográfico de áreas para plantio, cuja participação da empresa. Outra lição era que as pessoas deviam acreditar em si e perseguir
na receita superou o conjunto das demais. Com o restabelecimento do foco e seus sonhos. Júlio aprendeu com seus erros ao invés de lamentá-los: “se as coisas
O termo GPS quer dizer Global Positioning System. Trata-se de um instrumento de navegação por satélite, criado para fins militares, que recebe os sinais
8 não tivessem acontecido dessa forma, não seria a pessoa que sou”, relatou.
enviados por satélite e, a partir do tempo que demora para a chegada desses sinais, determina onde a pessoa ou aquele lugar que ela busca está.

138 139
Júlio reconheceu ter cometido erros, como, por exemplo, achar que necessitava REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de um sócio, confundir passividade com respeito e não tomar atitudes imediatas
para evitar problemas futuros. Entretanto, alegrava-se em saber que também teve Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.
muitos acertos, pois sempre investiu em seus sonhos, pautou-se pela honestidade ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 4 nov. 2008 às 14:00.
e justiça e apoiando-se na família nos momentos mais difíceis.
LACOMBE, Francisco; HEILBORN Gilberto. Administração: princípios e tendên-
cias. São Paulo: Saraiva, 2006.
QUESTõES PARA DISCUSSÂO
MACHADO, Márcia Valéria Cota. Inovação e associativismo na capital brasileira
1. N
 a sua opinião, qual foi a medida mais importante tomada pelo empre- da bucha vegetal. Histórias de sucesso. Brasília: Sebrae, 2007.
sário para que a Plangeo superasse as diversas crises financeiras pelas
quais passou? Plangeo Planejamento e Geotecnologia. Disponível em: <http://www.plangeo.
com.br>. Acesso em: 4 nov. 2008 às 14:30.
2. S endo a questão financeira um dos maiores problemas das micro e peque-
nas empresas, qual aprendizado podemos obter com o caso Plangeo para Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais.
evitar que outros empreendedores passem por problemas semelhantes? Disponível em: <http://www.sebraemg.com.br/Geral/Default.aspx>. Acesso
em: 4 nov. 2008 às 16:00.
3. B aseando-se
nos fatos e dados apresentados, a Plangeo encontra-se no
caminho certo para a sustentabilidade? Justifique sua resposta. Universidade Federal da Paraíba. Sensoriamento Remoto e Classificação de Ima-
gens. Departamento de Estatística CCEN – UFPB, João Pessoa, Nov. 2008. Dis-
4. Aempresa deveria retornar com o setor de TI abrindo novas frentes de ponível em <http://www.de.ufpb.br/~ronei/procimagem/procimagem.htm>.
serviços? Ou deveria manter seu foco em serviços de geoprocessamento e Acesso em: 4 nov. 2008 às 19:00.
usar o setor de TI somente como apoio para o desenvolvimento da ativida-
de final? Por quê? Webventure. Saiba tudo sobre o que é e para que serve o GPS. Disponível em:
<http://www.zone.com.br/rafting/index.php?destino_comum=equipamentos_
mostra&id_noticias=1635>. Acesso em: 4 nov. 2008 às 20:00.

WIKIPÉDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_prin-


cipal>. Acesso em: 4 nov. 2008 às 21:00.

140 141
UMA TRAJETÓRIA
NOS CAMINHOS
DA TECNOLOGIA
142 143
Situada em uma região onde se alternam montanhas e vales que formam a ba-
cia do Sapucaí, Santa Rita do Sapucaí é um município que está compreendido
em uma área de 321 km2, com aproximadamente 34.246 habitantes, segundo
dados de 2008 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A história do município estava vinculada à agricultura e à pecuária, principal-


mente café e leite, que até os anos 80 eram as principais fontes de renda da
região. Mas também pela projeção de suas escolas, indústrias e agropecuária.

A criação de escolas de formação profissional no município, em nível médio


e superior, a partir da articulação entre uma decisão política individual e a
capacidade educacional instalada, atraiu indústrias e determinou uma taxa de
crescimento industrial.
Empresa
Sanders do Brasil
Com o crescente desenvolvimento tecnológico do município e o consequente
Incubadora
aumento da demanda por produtos eletrônicos, novas empresas de pequeno
Inatel – Instituto Nacional porte foram surgindo e, no início do anos 90, um conjunto significativo de em-
presas participava da economia local.
de Telecomunicações
Várias instituições foram criadas para organizar e dar apoio a pequenas empre-
Autoras
sas que surgiam, entre elas, centros empresariais, associações e a incubadora
Camila Joanita Silva de Jesus e
de empresas do Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações através do
Kelen Aparecida Rosa
Programa de Incubação de Empresas e Projetos, designando um espaço físico
conveniente e bem equipado para abrigar as empresas.
Orientador
Jadilson Ferreira Borges Foi nesse ambiente propício ao empreendedorismo que, em julho de 2003,
Alexander Coelho e Virgílio Coelho criaram a Sanders do Brasil, empresa volta-
da para fabricação e desenvolvimento de equipamentos médicos e odontoló-
gicos, fruto do programa de incubadoras de empresas do Inatel.

No ano da abertura da empresa, os empresários identificaram o produto a


ser desenvolvido, possuíam conhecimento técnico dessa tecnologia, mas
faltava-lhes o recurso financeiro para pesquisa e implantação do projeto. A
empresa encontrava-se descapitalizada e os sócios precisariam definir qual
a solução a ser traçada para conseguir recursos suficientes para continuar
com a empresa.

144 145
A história e a realidade tecnológica Eletrônica, o município possuía mais de 125 empresas de base tecnológica,
gerando mais de 7 mil empregos diretos e produção de mais de 5 mil tipos
Localizada a 430 km da capital mineira, Santa Rita, conhecida como Vale da de produtos, exportados para diversos países, com destaque para as áreas
Eletrônica, teve sua trilha tecnológica iniciada por Luzia Rennó Moreira, mais de eletrônica, informática, automação industrial, equipamentos industriais
conhecida como Sinhá Moreira, que trouxe a ideia de implantar uma escola e serviços em tecnologia.
técnica de eletrônica no município. Na época, foi considerada uma sonhadora,
pois não existiam escolas técnicas no Brasil. A região possui uma grande representatividade no contexto econômico,
em função de um mercado interno favorável. Em 2007, a indústria mineira
O sonho se transformaria em realidade em 1958, quando um amigo de Si- obteve um crescimento de 7,99%, decorrente da elevação do seu fatura-
nhá Moreira, o presidente Juscelino Kubitschek, também mineiro, instituiu mento em 17,98%, proveniente da região sul do estado, conforme pesquisa
no país o ensino médio profissionalizante, possibilitando que a ideia saísse de indicadores da Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas
do papel. Gerais. Então, a Sanders do Brasil encontrou um ambiente propício para
começar suas atividades.
Sinhá Moreira fundou no mesmo ano a Escola Técnica de Eletrônica Francisco
Moreira da Costa, que se tornou exemplo de empreendedorismo para outros
municípios. A cidade de Santa Rita do Sapucaí ficou conhecida como Vale da O caminho dos empreendedores
Eletrônica, o Vale do Silício Brasileiro.
Alexander Coelho era pesquisador de produtos tecnologicamente inovado-
Pioneira, a Escola Técnica de Eletrônica - ETE foi por alguns anos a única res, mestre em Processamento de Sinais Digitais, engenheiro elétrico, técnico
fornecedora de mão-de-obra especializada em eletrônica do país. Poste- em eletrônica pela ETE, e seu sócio e também irmão Virgílio Coelho, tinha sua
riormente, foram implantadas duas entidades tecnológicas de nível supe- formação de engenheiro elétrico, pós-graduado em Engenharia Biomédica,
rior, o Inatel, fundado em 1965, e a FAI - Faculdade de Administração e técnico em eletrônica, ambos formados pela própria instituição que apoiou o
Informática em 1971. Ao longo dos anos, o instituto consolidou sua marca projeto da empresa.
no ensino de Engenharia de Telecomunicações, sempre incentivado pelo
exemplo de Sinhá Moreira. A história do Alexander e de sua empresa começou com o retorno à sua cidade
Santa Rita do Sapucaí, após alguns anos em São Paulo trabalhando em grande
Nos anos 80 uma incubadora nasceu dentro do próprio Inatel. As empresas multinacional japonesa.
encontraram ali as condições necessárias para se desenvolver, desde linhas de
financiamento até o intercâmbio com universidades locais, além do acesso à Em sua cidade natal não via perspectiva de emprego, então, Alexander decidiu
mão-de-obra formada pela escola técnica. retomar os estudos com o objetivo de lecionar na região, focando no conheci-
mento adquirido quando trabalhava em São Paulo. A proposta era atuar como
Privilegiada por estar localizada entre os três grandes centros econômicos e professor de uma das universidades da região, tendo em vista o reconheci-
comerciais do Brasil, sendo eles São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, mento e a remuneração em ascensão da profissão.
Santa Rita do Sapucaí transformou-se em um pólo da indústria eletrônica, de
telecomunicações e de informática. O primeiro passo para lecionar era conseguir o diploma de mestre. Sem
condições de custear o mestrado, em janeiro de 2003, participou do pro-
De acordo com dados do IBGE/2007 e informações do Sindvel – Sindicato cesso seletivo do Inatel para uma bolsa de estudos de mestrado em tele-
das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da comunicações.

146 147
Em fevereiro de 2003, o resultado do processo foi anunciado. Alexander foi um A busca pela autossustentação
dos candidatos aprovados para o mestrado. O regresso à cidade natal começa- e fortalecimento no mercado
va a trazer bons frutos.
A Empresa Sanders do Brasil surgiu diante da necessidade de desenvolver
Com o retorno à universidade, novas oportunidades surgiram. Alexander sem- equipamentos médicos e odontológicos de alta tecnologia, os produtos eram
pre almejou ter o próprio negócio, mas quando pensava na complexidade da voltados também para a área laboratorial e de veterinária. Essa necessidade
ideia, resistia. foi detectada ao elaborar o plano de negócios, e a empresa poderia não só
atender à região, como também a todo o país.
Atualizando-se sobre os produtos e capacitações da universidade, chegou ao
seu conhecimento o programa de incubação de empresas. Motivado pelo ir- O primeiro produto desenvolvido foi a lavadora ultrassônica, equipamento
mão, que futuramente seria seu sócio, e pela família, a vontade de abrir a em- que possibilitava a higienização de materiais, otimizando os recursos huma-
presa a ganhou força. nos, protegendo o operador, reduzindo os gastos com produtos químicos e
o tempo para a assepsia dos instrumentos. A tecnologia consistia em trans-
A próxima etapa era a elaboração de um plano de negócios que incluía a formar a energia elétrica em energia mecânica, provocando dentro de uma
escolha do ramo, a sua aceitação no mercado e a viabilidade técnica e fi- solução líquida um fenômeno chamado de cavitação que permitia a limpeza
nanceira. Alexander optou em focar na sua especialização de mestrado e, homogênea de lugares onde o acesso seria humanamente impossível.
dentro das possibilidades de aplicação, se enquadrava no ramo de equipa-
mentos odontológicos, pois tratava-se de uma área que demandava baixa Em função do capital escasso, o processo de desenvolvimento da lavadora ul-
produção, não precisando de muitos funcionários e a empresa poderia alo- trassônica excedeu o tempo previsto.
jar no espaço da incubadora.
O programa de incubação disponibilizava infraestrutura e suporte técnico, mas
Com a ideia amadurecida, em maio de 2003, deu início à construção do plano não era suficiente frente à necessidade de lançar no mercado um equipamen-
de negócios para pleitear a vaga de empresa incubada. Em junho de 2003, foi to de qualidade. A empresa ainda incubada no Inatel, requereu um alto capital
apresentado o plano de negócios estruturado e com um projeto para a primei- de investimento em pesquisas e aquisição de componentes eletrônicos, em
ra empresa de equipamentos médico-hospitalares na região. sua maioria importados.

Ainda em junho, a proposta foi aprovada e surgia a Sanders do Brasil trazendo Inicialmente, para levantamento do capital e para que os sócios se mantives-
várias possibilidades, não apenas com a base tecnológica que adquirira para sem, Alexander e Virgílio optaram em desempenhar outras atividades. Ale-
ingressar na Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel, mas também com xander, ainda cursando o mestrado, conseguiu uma vaga para ministrar aulas
a possibilidade de usar o nome em outros empreendimentos futuros. A ideia no instituto e Virgílio, cursando a graduação em Engenharia Elétrica passou a
dos empresários era, se necessário, aplicar o nome da Sanders em produtos trabalhar como desenvolvedor de software e hardware para a empresa JFL –
em outro segmento. Equipamentos Eletrônicos Indústria e Comércio Ltda.

A empresa de base tecnológica iniciou suas atividades em 4 de julho de As atividades desenvolvidas paralelamente sustentavam os sócios e possibi-
2003. A escassez de recursos financeiros para o desenvolvimento dos pro- litava que todo o recurso financeiro pudesse ser revertido em pesquisa e de-
dutos e alocação de mão-de-obra capacitada era o principal obstáculo a senvolvimento para a empresa. Por outro lado, sacrificava o andamento do
ser ultrapassado. projeto, pois os sócios não podiam se empenhar integralmente.

148 149
A consequência foi o atraso para o lançamento do primeiro produto, que também O primeiro produto oriundo dessa parceria foi o aparelho Fotopolimerizador,
foi decorrente da postura dos empresários em apresentar um equipamento com desenvolvido em 2005 e utilizado nos consultórios odontológicos nas restau-
um alto desempenho técnico e apelo mercadológico internacional. rações diretas, resinas, clareamentos dentais entre outras funções. O Fotopoli-
merizador foi baseado em um processo inovador, bem como na diferenciação
Durante o processo, outros imprevistos surgiram. Os empreendedores não imagi- do mercado, no atendimento de normas internacionais, na substituição do
navam enfrentar tanta burocracia das instituições regulamentadoras, como a An- equipamento importado e com registro da Anvisa.
visa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, para a liberação do Alvará Sanitário
e para a licença de funcionamento e registro dos produtos. Sem o licenciamento a
empresa ficava impossibilitada de comercializar o equipamento. Necessidade de expansão

A dependência do registro da Anvisa em seu produto, restringiu em pelo me- As consequências do aumento de produção foram sentidas rapidamente pelos
nos um ano a comercialização para grandes laboratórios e clínicas. Esses con- sócios. A primeira foi a necessidade de aumentar o espaço para comportar a
tratempos, acarretaram num retorno financeiro tardio, entretanto, os sócios produção, assim, ao final do segundo semestre de 2005, a Sanders, recém-
não desistiram em nenhum momento. graduada na incubadora, mudou-se para a rua Adelino Carneiro Pinto, nº 56,
edifício The Beatles, em andar alugado, aumentando seu espaço físico e me-
A partir do lançamento do primeiro produto, a empresa começou a se firmar e os lhorando as condições de produção.
proprietários passaram a ter uma retirada mínima. Nesse período, como a empre-
sa era pequena e não havia capital para contratar funcionários, toda a estrutura Outro fruto do crescimento produtivo da Sanders foi a parceria com grandes
administrativa e operacional era desempenhada pelos sócios. indústrias no ramo hospitalar no desenvolvimento de estruturas eletrônicas
para equipamentos. O crescimento trouxe outra vez à empresa problemas
No primeiro bimestre de 2005, o crescimento da empresa era perceptível, as com instalações. A produção em 2006 excedeu o espaço físico, acarretando na
vendas em 2004 superaram as expectativas e, para o ano seguinte, as proje- locação de mais salas no prédio onde estava instalada.
ções eram ainda maiores. Em virtude da crescente demanda, a empresa preci-
saria ampliar a sua produção, e consequentemente o quadro de funcionários. Em 2007, a empresa possuía seis linhas de produção, sendo elas, o equipamen-
to de profilaxia (higienização) , Fotopolimerizadores, Auto Claves, Lavadoras
Foram contratados para a produção dois técnicos com formação em eletrôni- Ultrassônicas, Radiômetros e acessórios diversos, totalizando em seu portifólio
ca, possibilitando que os sócios se empenhassem no controle de qualidade e 11 produtos. Foram contratados mais quatro funcionários, que atuariam no se-
na administração da empresa. tor de produção, montagem e assistência técnica, sendo um responsável pelo
marketing, suporte e atendimento.

Aprimorando processos A demanda consumia a produção, exigindo ainda mais da empresa. No entan-
to, a mão-de-obra disponível na região era focada para a produção, existindo,
Em setembro de 2005, após uma estagnação nas vendas, os empresários constataram assim, a dificuldade para encontrar profissionais capacitados para o desenvol-
a necessidade de ampliação de mercado através da criação de novos produtos. Para vimento de novos produtos.
investir na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, Alexander buscou o apoio
do Sebrae-MG (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais), por
meio do Sebraetec1 – Programa Sebrae de Consultoria Tecnológica.
Ação do Sebrae que tem por objetivo promover a melhoria e a Inovação de processos e produtos de micro e pequenas empresas, prioritariamente inseridos
1

em arranjos produtivos locais, por meio de serviços de consultoria tecnológica prestados por entidades executoras, visando à incorporação de progresso
técnico e ao aumento da competitividade dos pequenos negócios.

150 151
Os resultados gráfico 2 – crescimento em percentual por ano

Desde o início da graduação na incubadora, a Sanders vinha mostrando resul- 50%


50%
tados, o primeiro deles foi o tempo recorde de permanência na incubadora,
45%
75% do tempo médio das outras empresas.
40%
35%
Em janeiro de 2008, a empresa contava com uma estrutura de nove funcioná- 30%
30%
rios (conforme demonstrado no Gráfico 1), e 400 representantes distribuídos
25%
em todo o território nacional, onde sua maior cobertura está localizada na 20%
20%
região Sul e Sudeste.
15%
10%
10%
5%
gráfico 1 – Evolução do número de empregados
0%
2005 2006 2007 2008

10 Fonte: dados da empresa


9
8
8
7
6 Refletindo sobre o futuro
4
4
3
2 Alexander refletiu que, como iniciou o negócio sem recursos financeiros sufi-
2
cientes para sua manutenção, não sentiu a necessidade de definir estratégias.
0 A partir da experiência percebeu que a ausência do planejamento poderia ter
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 ocasionado o insucesso da empresa.

Fonte: dados da empresa Ressaltou também que muitas foram as lições aprendidas durante a trajetória
da empresa e que o apoio da incubadora foi fundamental para o seu cres-
cimento, pois proporcionou-lhe suporte, além de inúmeras consultorias em
Sua estrutura comercial cobria todo o território nacional e estava construindo gestão, desenvolvimento e comercialização.
laços com países do Mercosul, reduzindo a necessidade de importação, e ain-
da oferecendo preços mais acessíveis. O maior desafio enfrentado foi a falta de recursos para a manutenção da em-
presa e, mesmo com o acesso a financiamento e investimento, não foi uma
Outro fator que demonstrava o crescimento da empresa era o aumento do fa- opção desejada por achar um risco grande.
turamento (conforme Gráfico 2). Em 2008 o faturamento era cinco vezes maior
que o valor do investimento no primeiro ano de atividades. Muitos eram os desafios para 2009, como a necessidade de implementar um
processo de qualidade e obter a certificação ISO 9000, processo já iniciado em
2008 com a implantação do BPF – Boas Práticas de Fabricação, programa de
padronização de processos voltado para a área de saúde.

152 153
Como era frequente na empresa a cultura do lançamento de produtos inova- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
dores em um curto período, estava previsto para 2009 o lançamento de mais
três produtos. Com isso, Alexander apostava no aumento de participação no LÍLIAN, Fontes. Sinhá Moreira: uma mulher à frente do seu tempo. Rio de Janei-
mercado nacional e internacional. Outro projeto em andamento seria a cons- ro: Gryphus, 2007.
trução de uma sede própria para a empresa nos próximos anos.
Diagnóstico do Arranjo Produtivo da Indústria Eletrônica de Santa Rita do Sa-
Ainda com o objetivo de ampliar o mercado e aumentar a produtividade, a pucaí – Belo Horizonte: Fiemg / IEL-MG/ SINDIVEL, 2004.
Sanders continuaria exercendo a sua política de inovação tecnológica, plei-
teando ingressar um projeto no Pappe – Programa de Apoio à Pesquisa em Sindvel – Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Simila-
Empresa com o auxílio das ações de fortalecimento do APL – Arranjo Produtivo res do Vale da Eletrônica. Disponível em: <www.fiemg.com.br/sindicatos/sind-
Local através do Sebrae-MG e do Sindvel. vel/>. Acesso em 28 out. 2008 às 17:30.

Fiemg. Disponível em: <www.fiemg.org.br>. Acesso em 28 out. 2008 às 18:30.


QUESTÕES PARA DISCUSSÃO
Inatel. Disponível em: <www.inatel.br>. Acesso em 28 out. 2008 às 19:30.
1. Q
 ue outras opções seriam possíveis para que a empresa pudesse ter mais
capital de giro? IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em 28 out. 2008 às 20:00.

2. B aseado na experiência da Sanders do Brasil, que cuidados devem tomar Câmara de Santa Rita do Sapucaí. Disponível em: <www.camarasrs.mg.gov.
empreendedores da área tecnológica? br>. Acesso em 28 out. 2008 às 21:00.

3. Q
 uais outros canais de distribuição ou novos mercados poderiam ser utili-
zados pela empresa?

154 155
Personalização
de produtos:
um diferencial
de mercado

156 157
No centro da tecnologia

Santa Rita do Sapucaí é um município do sul do Estado de Minas Gerais que


tinha vocação para gerar tecnologia e indústrias de base eletroeletrônicas.
Apelidada de Vale da Eletrônica, uma alusão ao Vale do Silício na Califórnia,
Santa Rita mudou sua vocação a partir do princípio dos anos de 1980, quando
as primeiras indústrias de tecnologia ali se instalaram.

A cidade era um dos centros cafeicultores do Sul de Minas. A economia da região


era baseada na produção de café. O fenômeno santa-ritense deu-se por causa do
surgimento de duas importantes escolas onde germinaram os primeiros empresá-
rios do Vale: a ETE-FMC – Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa
e o Inatel – Instituto Nacional de Telecomunicações.
Empresa
Seek Fontes Chaveadas Nesse cenário nasceu a empresa Seek Tecnologia, fundada pelo empresário
Fabiano de Oliveira Addor, ex-aluno da ETE. A Seek foi fundada em 13 de mar-
Incubadora
ço de 2005 e tinha como objetivo inicial produzir fontes de alimentação cha-
Inatel – Instituto Nacional veadas para outras empresas do Vale da Eletrônica. Alexandre de Souza foi
de Telecomunicações convidado meses depois por Fabiano Addor para fazer parte da empresa como
sócio e muito relutou antes da aceitar o convite.
Autor
Evandro Carvalho da Silva Entendia ele que fontes chaveadas eram muito comuns em Santa Rita do Sa-
pucaí. Entraria numa empresa que fabricava algo que muitas já fabricavam?
Orientador Porque investiria seu tempo e conhecimento numa empresa que não fazia um
Wellington Damasceno de Lima produto diferenciado? Que argumentos utilizar para vender um produto simi-
lar no Vale da Eletrônica?

O nascimento do Vale

Santa Rita do Sapucaí foi fundada em meados do século XIX por um casal
de imigrantes portugueses, chamados Manoel e Genoveva da Fonseca. O
lugar viria a ser décadas mais tarde um dos principais pólos de produção
cafeeira do país, importante propulsor da economia do Brasil na primeira
metade do século XX.

O desenvolvimento político e econômico de Santa Rita e de sua aristocracia


era evidente, a ponto de eleger um vice-presidente da República, Delfim Mo-

158 159
reira, que assumiria o posto de chefe de Estado entre novembro de 1918 e A ETE mudou a vida de Alexandre de Souza. O sólido aprendizado dos padres
julho de 1919 após a morte do presidente Rodrigues Alves. jesuítas (fundadores da Escola ao lado de Sinhá Moreira) o credenciou à po-
sição de técnico em eletrônica e candidato a uma das concorridas vagas do
Desta aristocracia nasceu Maria Luiza Rennó Moreira ou Sinhá Moreira, como Inatel. O aprendizado proporcionou a Alexandre uma visão empresarial, de
era mais conhecida. Sinhá Moreira foi responsável pela fundação em 1958, da que poderia trabalhar por conta própria.
primeira escola de eletrônica da América Latina, a ETE-FMC – Escola Técnica de
Eletrônica Cel. Francisco Moreira da Costa. A escola levava o nome do pai de Com essa visão, Alexandre vislumbrou, em um anúncio sobre cogumelos do
Sinhá e pretendia dar uma chance de estudos aos jovens santa-ritenses. sol, em uma revista especializada, a possibilidade de iniciar um negócio. En-
tendia que plantar esse tipo de cogumelo seria rentável, pois até então nunca
Anos mais tarde, em 1965, foi fundado o Inatel – Instituto Nacional de Teleco- ninguém os havia plantado em Santa Rita do Sapucaí. Ficou cerca de um ano
municações, que oferecia o curso de Engenharia Elétrica com ênfase em tele- cultivando e vendendo cogumelos do sol. Não tomou prejuízo, mas o dinheiro
comunicações. Em 1971 foi criada a FAI – Faculdade de Administração e Infor- ganho serviu apenas para cobrir o investimento dos equipamentos.
mática, propiciando assim, juntamente com ETE e Inatel, as condições mínimas
necessárias para que a outrora cidade de economia baseada na cafeicultura Mudando radicalmente de segmento, em abril de 1999, resolveu apostar em
converte-se nos anos de 1980 no Vale da Eletrônica. um outro negócio: a produção de dispositivos eletrônicos. Mas o resultado
não foi como o esperado. Assim, após dois negócios malsucedidos, desmotiva-
Em 1985, a Prefeitura Municipal de Santa Rita do Sapucaí, por intermédio do, Alexandre recebeu uma nova proposta de sociedade de um aluno formado
do prefeito à época, oficializou o codinome Vale da Eletrônica, além de na ETE. O nome dele era Fabiano Oliveira Addor.
criar um programa oficial de incentivo aos novos empreendimentos volta-
dos para soluções tecnológicas e inovação. Centenas de empresas de base Em julho de 2005, Fabiano Addor convidou Alexandre de Souza para fazer par-
tecnológica nasceram desde então nesse Vale, entre elas a Seek Tecnolo- te da sociedade da sua empresa, chamada Seek Tecnologia. Fabiano buscava
gia, no ano de 2005. um novo sócio, já que o que estava na sociedade saíra. Ele conheceu Alexan-
dre na Sense Eletrônica onde trabalharam juntos entre 2000 e 2003, além claro
de serem formados nas salas de aula da ETE.
O começo
Além da amizade, outro fator foi decisivo na escolha de Addor: Alexandre in-
Em meio à cronologia e desenvolvimento do Vale da Eletrônica, em 1976 nas- gressara no Inatel em 2003. Ter Alexandre como sócio facilitaria o acesso da
ceu em Santa Rita do Sapucaí o menino Alexandre de Souza. Primogênito do Empresa Seek a uma das vagas da Incubadora de Empresas e Projetos do Ina-
casal Francisco Raimundo de Souza e Luzia de Fátima Souza – ambos santa- tel, já que o edital exigia pelo menos que um aluno ou ex-aluno da escola
ritenses. Alexandre teria ainda outras três irmãs. Já no primário, aluno de es- fizesse parte da constituição societária da empresa.
cola pública, chamava a atenção dos professores por causa do interesse pela
matemática e pela sua capacidade de comunicação. Alexandre de Souza consultou seus pais. Depois de fracassar com os negócios
dos dispositivos eletrônicos, ficou receoso com a nova proposta. Ainda mais
Aos 14 anos ingressou na ETE com uma bolsa de estudos. O pai, que trabalhava para uma empresa que fabricava fontes de alimentação de energia chaveadas,
numa extinta indústria de alarmes, não tinha condições de arcar com o ônus produto muito comum no Vale da Eletrônica.
de uma escola particular e disse para Alexandre que ele deveria ser um dos
melhores no processo de seleção em 1991. Estudou o bastante para conseguir “Eu conhecia o Fabiano do tempo em que trabalhávamos juntos. Sabia que era
a bolsa de estudo almejada. uma pessoa honesta e inteligente. Mas fiquei com medo assim mesmo, por

160 161
dois motivos. Primeiro, achava a fonte de alimentação que a Seek fabricava, rádio. Em setembro de 2005, em uma conversa com Fabiano Addor, o empre-
comum. Segundo, porque eu já tinha um histórico de prejuízos. Mesmo assim, sário queixava-se de não encontrar fontes de energia para seus equipamentos
tentei, depois de meus pais me convencerem que seria possível. Essa seria mi- – as que encontrou eram padronizadas. Nenhum dos modelos se adequava
nha a minha última tentativa”, disse Alexandre. aos seus propósitos. A Seek resolveu então apostar no diferencial para atender
a clientes como a Biquad.
Alexandre aceitou a proposta e em junho de 2005, a Seek Tecnologia, que
mais tarde passaria a se chamar Seek Fontes Chaveadas, contava com seu A Seek Fontes Chaveadas propôs a fabricação de um pequeno lote exclusi-
mais novo sócio que, desde o primeiro momento, pensava em como dife- vo para a Biquad, produtos feitos sob medida e personalizados para suprir
renciar no mercado as fontes de alimentação de energia chaveadas produ- as suas necessidades. Ainda em 2005, a Seek recebeu novas encomendas,
zidas pela empresa. cada qual com suas especificidades. Alexandre percebeu o filão de merca-
do que poderia ser explorado e descobriu o diferencial que tanto buscava
– fontes de alimentação customizadas que atendiam a demandas únicas
As fontes chaveadas dos clientes.

Uma fonte chaveada (em inglês switched-mode power supply – SMPS), era
uma unidade de fonte de alimentação eletrônica incorporada a um regulador Ingressando na Incubadora de Empresas
chaveado, ou seja, um circuito controlador interno que chaveava a corrente
de energia, ligando e desligando rapidamente, de forma a manter uma tensão Em setembro de 2005, a Seek Fontes Chaveadas ingressou no programa de in-
de saída estabilizada. Reguladores chaveados eram utilizados para substitui- cubação da Incubadora de Empresas e Projetos do Inatel. A vaga foi disputada
ção de reguladores lineares mais simples, quando requeria-se uma eficiência com outros cinco projetos. Para Alexandre de Souza, era a segunda vez que
maior, menor tamanho e maior leveza. tentava ingressar na incubadora.

Geralmente, os fabricantes de fontes chaveadas produziam lotes padroniza- Nesse mesmo mês, a Seek fechou seu primeiro negócio significativo. A
dos (fontes com capacidade para 60 watts, por exemplo) para atender grandes Biquad encomendou em torno de 30 fontes de 48 watts, todas com três
encomendas de indústrias de aparelhos celulares. A questão da Seek era jus- tensões distintas de saída. Estas fontes foram utilizadas na fabricação de
tamente como buscar soluções inovadoras em seus produtos para concorrer processadores de áudio.
com os grandes fabricantes.
Ainda em 2005, a Seek fechou um novo contrato. A Sanders, empresa especia-
As empresas do Vale da Eletrônica, em sua maioria de pequeno porte, ne- lizada em equipamentos eletrônicos odontológicos, encomendou cerca de 40
cessitavam de fontes de alimentação de energia para seus produtos (im- peças. As fontes fornecidas eram de cinco watts, e nada similar no mercado
pressoras fiscais, câmeras de circuito fechado, notebooks, transmissores existia até então. Em outubro, a Seek concluiu seu primeiro grande negócio.
de TV digital ou FM, etc.). O problema dessas empresas era que as fontes Uma concessionária da Telemar encomendou mil unidades para um modem
padronizadas ou não se adequavam às suas necessidades (voltagem dife- ADSL. A Seek encerrou o ano com um faturamento de 40 mil reais.
rente) ou, mesmo as que se adequavam, só poderiam ser adquiridas em
grandes lotes. Os benefícios da Incubadora foram sentidos em 2006, a começar pelo custo
fixo de operação da Seek. A empresa arcava, fora do ambiente da Incubadora,
O primeiro empresário a se queixar do problema foi Carlos André Salvador, da com um ônus de operação da ordem de 900 reais por mês. Já dentro do progra-
Biquad, fabricante de equipamentos de áudio para estúdios de emissoras de ma de incubação, este custo era de 90 reais/mês.

162 163
A incubadora do Inatel forneceu à Seek a estrutura necessária para sua Em fevereiro de 2008, fora do ambiente da incubadora, a Seek iniciou suas
operação. A empresa de Alexandre e Fabiano tinha acesso a uma linha atividades em sua nova sede. No mesmo mês, o sócio Fabiano Addor passou a
telefônica, telefax, internet, um office-boy, móveis, etc. Equipamentos se dedicar integralmente ao negócio, desligando-se de uma grande empresa
eletrônicos caros, como osciloscópios ou multímetros, também eram dis- santa-ritense onde atuava como projetista. Este fato contribuiu para alavancar
ponibilizados. a área de pesquisa e desenvolvimento da empresa, pois Fabiano seria o res-
ponsável pela concepção de novos produtos.
A Seek Fontes Chaveadas participou em 2006 da Feira Industrial do Vale da
Eletrônica (Fivel). Os custos da feira (um estande custava em torno de 3 mil re- Em maio, Alexandre de Souza fez uma visita técnica à Fiat Automóveis em Be-
ais) foram pagos pela incubadora. Nessa ocasião, a empresa prospectou novos tim (MG), ocasião na qual ampliou sua rede de contatos. Entre fevereiro e julho,
negócios e fez contatos importantes. Fabiano e Alexandre participaram de uma consultoria nas áreas de gestão e
marketing, realizada pela União Européia em parceria com o Inatel. Alexandre
Para a empresa Engeworks, a Seek desenvolveu um projeto para uma fon- participou ao longo do ano também de outra consultoria na área comercial.
te de 48 watts, que foi acoplada em impressoras fiscais. A empresa fatu- Em 2008 a empresa faturou 680 mil reais e já empregava 12 funcionários, con-
rou nos royalties das 20 mil peças fabricadas e nos testes que fez. Este forme demonstrado na tabela 1.
contrato, o mais importante de 2006, foi selado em junho. A Seek faturou
90 mil reais e já empregava cinco profissionais ao final de seu segundo
Tabela 1 – Evolução dos resultados
ano de existência.

Em 2007 foi o último ano da Seek Fontes Chaveadas sob o apoio da Incuba- Evolução Seek Fontes Chaveadas
dora de Empresas. Em junho, Alexandre participou de um curso com temas 2005 2006 2007 2008
voltados para importação e exportação. O treinamento foi realizado no Inatel Faturamento bruto (R$) 40 mil 90 mil 300 mil 680 mil
e elaborado pela Finep – Financiadora de Estudos e Projetos, órgão ligado ao Postos de trabalho 2 5 7 12
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia. O público era executivos de peque-
nas empresas. Fonte: dados da empresa

No mês de agosto, a Seek fechou um contrato com a empresa Teclar, também


do Vale da Eletrônica. A encomenda previa a fabricação de 996 fontes chave- Novos patamares
adas, cada qual com 500 watts de potência. Dois meses depois, Alexandre de
Souza participou de uma missão técnica em Santiago no Chile. A viagem foi Alexandre de Souza procurou aprender com os erros anteriores. Segundo ele,
custeada pela Sectes – Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino a estratégia de se associar com Fabiano Addor, um exímio profissional no de-
Superior de Minas Gerais, Sindvel – Sindicato das Indústrias do Vale da Eletrô- senvolvimento de produtos, foi um acerto. Já o próprio Alexandre, por sua vez,
nica e RMI – Rede Mineira de Inovação. era responsável por fechar e acompanhar os contratos da empresa.

Em dezembro de 2007, a empresa obteve um faturamento de aproximadamen- As fontes da Seek eram reconhecidas por sua qualidade em todo o Vale da
te 300 mil reais. Após dois anos, a Seek graduou-se e despediu-se da incuba- Eletrônica, o que contribuiu para a formação de uma sólida carteira de clien-
dora do Inatel, já empregando sete profissionais. tes. De certa forma, as fontes personalizadas geravam uma dependência nas
empresas face às características peculiares de cada fonte, o que facilitava a
fidelização dos clientes.

164 165
Um fator determinante para os resultados da Seek foi o fato de estar inserida REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
no cluster1 de eletroeletrônica de Santa Rita do Sapucaí. O arranjo permitia
que as empresas nele constituídas fornecessem entre si peças ou equipamen- DIAS, Cyro de Luna. Crônica das casas demolidas. Rio de Janeiro: Editora
tos para a fabricação de produtos. As fontes da Seek estavam presentes em Gabinete. 1992.
pelo menos 70% dos equipamentos produzidos no Vale da Eletrônica. Além
disso, a empresa tinha clientes em São Paulo, Campinas, São José dos Campos, FONTES, Lílian. Sinhá Moreira – Uma mulher à frente de seu tempo. Rio de
Bragança Paulista e Belo Horizonte. Janeiro: Editora Gryphus. 2007.

Projetando um futuro próximo, a Seek Fontes Chaveadas pretendia elevar GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. São Paulo: Editora Paz
a capacidade de produção a novos patamares. De acordo com Alexandre e Terra. 1969.
de Souza, a empresa tinha capacidade para fabricar 20 mil peças por mês.
As metas anuais de faturamento já ultrapassavam 1 milhão de reais o que Seek Fontes Chaveadas. Disponível em: <www.seek.ind.br>. Acessado em 21
permitiria uma linha de produção com o dobro dos 12 postos de trabalho nov. 2008 às 21:00.
alcançados em 2008.
Wikipedia. Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acessado em 21 nov. 2008
Outro projeto que a empresa pretendia implantar era a certificação dos seus às 21:30.
produtos com o selo de qualidade ISO 9000, para isso os processos seriam re-
vistos e os colaboradores da empresa sensibilizados. Apontador. Disponível em: <www.apontador.com.br>. Acessado em 21 nov.
2008 às 23:30.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

1. Q
 uais os pontos positivos e quais os riscos de se operar com a personaliza-
ção de produtos para os clientes?

2. N
 a sua opinião, quais cuidados devem ser tomados ao se aceitar um novo
sócio ou parceiro?

3. Q
 ue outras estratégias ou benefícios podem ser obtidos por empresas in-
seridas em um cluster (arranjo produtivo)?

Concentração de empresas e de instituições dedicadas a um mesmo negócio, com múltiplas relações entre elas e com outros agentes da indústria, unidas
1

por características comuns e complementariedades.

166 167
METODOLOGIA DO PROJETO
DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

Objetivo do Estudo de Caso do Sebrae.

O Projeto desenvolvendo casos de sucesso foi iniciado em 2002 como um di-


recionamento estratégico do Sistema Sebrae, visando a atender aos seguintes
objetivos:

1. G
 erarum processo de produção de conhecimento dentro do Sistema
Sebrae, visando a utilizá-lo como uma das ferramentas para obtenção
de resultados.

2. S ensibilizar os colaboradores sobre a importância da produção de casos,


contribuindo para o sucesso de gestão do conhecimento institucional.

3. R eplicar os casos no Sebrae e junto aos parceiros e instituições de ensino


superior, visando à participação de empresários, empreendedores a alu-
nos, por meio da analise se situações reais de pequenos empreendimentos
brasileiros.

4. D
 ivulgar para a sociedade em geral as experiências bem-sucedidas na ge-
ração de emprego e renda, por meio da publicação do material em livro e
no site do Sebrae – www.sebrae.com.br.

Para se construir casos como ferramenta para fins de ensino didaticamen-


te estruturado, é necessário atender a alguns requisitos-chave. O caso de
ensino deve apresentar uma boa história, com a qual o leitor possa iden-
tificar a sua realidade e se envolver, além de apresentar uma boa questão
de negócio, ou seja, uma situação em que haja a necessidade de se tomar
uma importante decisão. Não se pode perder de vista que o caso é um
veículo para ensinar conceitos e experiências empreendedoras por meio
da simulação de uma situação real. Nesse sentido, a situação deverá ser
narrada com maior neutralidade possível em relação aos fatos acontecidos.
Atendendo a todas as premissas acima, foi elaborada pelo Sebrae a meto-
dologia desenvolvendo Casos de Sucesso, disponível no site da instituição
www.sebrae.com.br, link Casos de Sucesso.

169
A partir de 2004, o Sebrae adotou a Gestão Estratégica Orientada para Resul- UTILIZAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO
tados (Geor), que tem como objetivo alavancar, a curto prazo, a capacidade DO Sebrae PARA FINS DIDÁTICOS
do Sistema Sebrae e de seus parceiros de produzir, medir e comunicar be-
nefícios relevantes para a sociedade e para as micro e pequenas empresas. Orientação para instrutor/professor
Dessa forma, o objetivo principal do projeto Casos de Sucesso passou a
atender a demanda de conhecimento dos projetos voltados para o públi- No caso de sucesso do Sebrae, o texto apresenta, a exemplo do método Har-
co-alvo da instituição. vard, os principais aspectos que envolvem um dilema vivido pelo empreende-
dor/ protagonista da história. A diferença entre os métodos - Estudo de caso
Foi desenvolvido um conjunto de ações visando ao fortalecimento da gestão e Caso de Sucesso - é que no Casos de Sucesso do Sebrae é apresentado o
do Conhecimento no Sistema Sebrae, tendo o Caso de Sucesso como um de desfecho do dilema. O leitor é informado sobre a decisão que efetivamente
seus principais instrumentos. Destacam-se as seguintes iniciativas: foi tomada pelo protagonista, os detalhes das suas ações e como se deu a sua
implementação. Com isso, o instrutor/professor tem em mãos um instrumento
Metodologia para elaboração do caso de sucesso: a metodologia Desen- completo - Estudo de Caso - que permite estudar a solução adotada, discutir
volvimento Casos de Sucesso foi criada como objetivo de garantir a qualidade outras alternativas possíveis e refletir sobre os desafios futuros.
do conteúdo e nivelar a formação didática dos escritores, responsáveis pela
descrição dos estudos de caso em todo o país, e dos seus orientadores acadê- O Estudo de Caso possibilita ao instrutor/professor:
micos. A metodologia do Sebrae é uma adaptação do consagrado método de
ensino adotado na Harvard Business School. • Utilizar o estudo de caso como ferramenta de ensino e implementar em mé-
todo participativo, gerando mais interesse nos empreendedores e alunos;
Disseminação do caso de sucesso: com o objetivo de ampliar o acesso
aos estudos de caso, utilizando as melhores práticas adotadas em peque- • Analisar e criticar um caso real do mundo dos negócios, focado nas melhores
nos negócios brasileiros, o Sebrae disponibiliza no site www.sebrae.com. práticas adotadas nos pequenos negócios brasileiros - ensinar pelo exemplo
br, link Casos de Sucesso, todas as informações referentes aos estudos e -, e facilitar o aprendizado e o relacionamento entre os conceitos teóricos
conteúdos do Projeto. apresentados nas disciplinas com prática empresarial;

Utilização do caso de sucesso: a partir do novo modelo de gestão adota- • Apresentar


a sistemática de utilização de casos no processo de ensino -
do pela Instituição, os estudos de caso estão sendo utilizados como uma aprendizagem com orientações para o instrutor/professor e para o empre-
ferramenta de ensino, que serve de exemplo em capacitações, e na difusão endedor/aluno.
de conhecimento junto a empreendedores e comunidades, visando à ob-
tenção de resultados. Para isso, foram elaborados procedimentos didáticos
com intuito de obter o melhor resultado na aplicação dos estudos de caso Os 10 passos do ensino para utilizar os estudos de caso para fins didáticos são:
junto ao público-alvo.

1º passo – É fundamental que o instrutor:

• F amiliarize-se com os materiais: conheça os casos dos livros, o site do Sebrae


( www.sebrae.com.br) e os vídeos, quando houver.

170 171
• S eja instrutor e participante ao mesmo tempo. Cada caso é uma experiência 5º passo – A dinâmica em sala de aula: formando grupos
nova para o instrutor e para a turma.
• Reserve a primeira parte da aula para a dinâmica dos pequenos grupos e a
• T enha habilidade para conduzir a dinâmica, incentivando os participantes última parte para a realização de um fórum de debates com toda a turma.
para o debate.
• Os pequenos grupos serão formados de acordo com as conveniências dos
• S iga o método (como técnica), mas não abdique da sua experiência e criati- participantes.
vidade.
• O número ideal do pequeno grupo é de, no máximo, cinco participantes.

2º passo – Preparando-se para o caso: • Opcionalmente, cada pequeno grupo deverá produzir um relatório do tra-
balho realizado.
• A técnica consiste em construir e trabalhar relacionamentos entre as diversas
situações do caso com os conceitos teóricos estudados. • Após a formação dos pequenos grupos, solicite que os grupos escolham um
relator da discussão.
• S ituações são encontradas em parágrafos, em uma frase ou, até, em um con-
junto frases, seqüenciais, retiradas do caso.
6º passo – A dinâmica em sala de aula:
interagindo com os grupos
3º passo – Preparando uma aula com o caso:
• Circule entre os grupos, estimulado a discussão e dirimindo dúvidas.
•D
 e posse do caso, identifique, com um marca-texto, todas as situações rela-
cionadas com os conceitos estudados na disciplina ou capacitação. • Ao término do tempo da discussão em grupo, dissolva os grupos e peça-os
que voltem a seus lugares originais para a segunda parte da aula.
•D
 isponibilize o caso para os participantes no início das aulas.
• Os relatórios produzidos pelos participantes devem ser recolhidos para aná-
lise do instrutor e futuros comentários, se assim desejar.
4º passo – Preparando os participantes para o caso:

• E xplique para os participantes toda a dinâmica a ser realizada. 7º passo – A dinâmica em sala de aula: organizando o debate

•O
 riente e explique aos participantes como deverão construir os relaciona- • Enfatize para toda a turma que um debate organizado é fundamental para
mentos entre os conceitos teóricos e as situações encontradas no caso. aprender com o caso.

• Dê exemplos simples de como você construiu alguns relacionamentos. • É nesse momento que você, como mediador, deverá permitir que os participan-
tes confrontem seus diferentes pontos de vista acerca do caso. Lembre-se que
• C obre dos participantes as tarefas que eles deverão realizar com o caso. deve-se evitar “achismos”; os pontos de vista devem ser fundamentados.

172 173
8º passo – A dinâmica em sala de aula: conduzindo o debate REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Inicie os debates com perguntas que associem conceitos estudados com si- MARIANO, Sandra R. H. ; MAYER, Verônica Feder. Histórias de Sucesso. Guia
tuações do caso. Passo a Passo. Metodologia para a produção de casos e práticas do Sebrae.
Brasília. Edição Sebrae, 2006.
•M
 otive os participantes ao debate, estimulando-os a comentar as opiniões
dos colegas. VEIT, Mara Regina. Guia Passo a Passo - Metodologia para desenvolvimento
dos casos de sucesso do Sebrae. Edição Sebrae, 2003.
•O
 debate tem por finalidade: a identificação de conceitos, a reconstrução de
conceitos, a identificação de novos conceitos, a análise e crítica dos fatos e Sebrae MG. Disponível em: www.sebraemg.com.br/casosdesucesso. Acessado
dos atores do caso, assim como as conseqüências das suas decisões. em 20 nov. 2008 às 20:00.

9º passo – A dinâmica em sala de aula: postura pós-debate

• É normal que os participantes perguntem a sua opinião. Não as negue, mas


enfatize que necessariamente não há apenas esta solução para o caso.

•N
 ão se preocupe em encontrar respostas definitivas, e sim as fundamenta-
das nos conceitos estudados.

10º passo – Para ensinar e aprender

•O
 sucesso de uma aula com o estudo do caso depende fundamentalmente
de dois fatores:

• P reparação dos participantes/alunos;

• P reparação do instrutor/professor.

Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Sebrae Nacional

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