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Tecnologias
Poupa-Terra
2021
Samuel Filipe Pelicano Telhado
Guy de Capdeville
Editores Técnicos
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Tecnologias
Poupa-Terra
2021

Samuel Filipe Pelicano e Telhado


Guy de Capdeville
Editores Técnicos

Embrapa
Brasília, DF
2021
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Parque Estação Biológica (PqEB)
Av. W3 Norte (Final)
CEP 70770-901 Brasília, DF
Fone: (61) 3448-4433
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Responsável pelo conteúdo Responsável pela edição


Diretoria-Executiva de Secretaria-Geral
Pesquisa e Desenvolvimento
Coordenação editorial
Alexandre Aires de Freitas
Heloiza Dias da Silva
Nilda Maria da Cunha Sette

Supervisão editorial
Wyviane Carlos Lima Vidal

Revisão de texto
Ana Maranhão Nogueira
Francisca Elijani do Nascimento
Maria Cristina Ramos Jubé

Normalização bibliográfica
Iara Del Fiaco Rocha
Rejane Maria de Oliveira (CRB-1/2913)

Projeto gráfico, diagramação


e tratamento das ilustrações
Carlos Eduardo Felice Barbeiro

Capa
Paula Cristina Rodrigues Franco

Fotos da capa
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AdobeStock_243600765

1ª edição
Publicação digital - PDF (2021)

Todos os direitos reservados


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei n° 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa

Tecnologias poupa-terra 2021 / Samuel Filipe Pelicano e Telhado, Guy de Capdeville,


editores técnicos. – Brasília, DF : Embrapa, 2021.
PDF (162 p.) : il. color.

ISBN 978-65-86056-09-9

1. Produtividade. 2. Tecnologia agrícola. I. Telhado, Samuel Filipe Pelicano e,


editor técnico. II. Capdeville, Guy de, editor técnico. III. Autores.

CDD 630

Iara Del Fiaco Rocha (CRB-1/2169) © Embrapa, 2021


Autores
Andrea Alves do Egito Dirceu João Duarte Talamini
Médica-veterinária, doutora em Ciências Biológicas Engenheiro-agrônomo, doutor em Economia Rural,
(Biologia Molecular), pesquisadora da Embrapa Gado de pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Concórdia, SC
Corte, Campo Grande, MS
Domingo Haroldo Rudolfo Conrado Reinhardt
Arlene Maria Gomes de Oliveira Engenheiro-agrônomo, doutor em Biologia Vegetal,
Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia (Ciência pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz
do Solo), pesquisadora da Embrapa Mandioca e das Almas, BA
Fruticultura, Cruz das Almas, BA
Eduardo Augusto Girardi
Áurea Fabiana Apolinário de Albuquerque Gerum Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia
Economista, doutora em Economia Agrícola, pesquisadora (Fitotecnia), pesquisador da Embrapa Mandioca e
da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA Fruticultura, Cruz das Almas, BA
Adeney de Freitas Bueno Eduardo Sanches Stuchi
Engenheiro-agrônomo, doutor em Entomologia, Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia
pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR (Produção Vegetal), pesquisador da Embrapa Mandioca
e Fruticultura, Cruz das Almas, BA
Adilson de Oliveira Junior
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Solos Emerson Borghi
e Nutrição de Plantas), pesquisador da Embrapa Soja, Engenheiro-agrônomo, doutor em Produção Vegetal,
Londrina, PR pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
Alvadi Antônio Balbinot Junior Fabiana Villa Alves
Engenheiro-agrônomo, doutor em Produção Vegetal, Zootecnista, doutora em Ciência Animal e Pastagens,
pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR coordenadora-geral de mudanças do clima e
agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Álvaro Vilela de Resende Abastecimento, Brasília, DF
Engenheiro-agrônomo, doutor em Solos e Nutrição de
Plantas, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Flábio Ribeiro de Araújo
Lagoas, MG Médico-veterinário, doutor em Imunologia, pesquisador
da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS
Antônio Fernando Guerra
Engenheiro agrícola, doutor em Engenharia de Guy de Capdeville
Irrigação, pesquisador da Embrapa Café, Brasília, DF Engenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia
pesquisador da Embrapa, Diretoria-Executiva de
Carlos Alberto Arrabal Arias Pesquisa e Desenvolvimento, Brasília, DF
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Genética
e Melhoramento de Plantas), pesquisador da Embrapa Ivenio Rubens de Oliveira
Soja, Londrina, PR Engenheiro-agrônomo, doutor em Produção Vegetal,
pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
Cesar de Castro
Engenheiro-agrônomo, doutor em Solos e Nutrição de Jamilsen de Freitas Santos
Plantas, pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR Economista, mestre em Economia, analista da Embrapa
Café, Brasília, DF
Claudine Dinali Santos Seixas
Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia Jason de Oliveira Duarte
(Fitopatologia), pesquisadora da Embrapa Soja, Economista, Ph.D. em Economia Agrícola, pesquisador da
Londrina, PR Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
Davi José Bungenstab Jean Carlos Porto Vilas Boas Souza
Médico-veterinário, doutor em Ciências Agrárias, Jornalista, doutor em Conhecimento, Tecnologia e
pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Campo Inovação, analista da Embrapa Suínos e Aves, Suínos e
Grande, MS Aves, Concordia, SC
Décio Karam João Batista Catto
Engenheiro-agrônomo, Ph.D. em Ciência das Plantas Médico-veterinário, doutor em Ciências Veterinárias,
Daninhas, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Campo
Lagoas, MG Grande, MS
Décio Luiz Gazzoni João Ricardo Ferreira de Lima
Engenheiro-agrônomo, mestre em Entomologia, Economista, doutor em Economia Aplicada, pesquisador
pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR da Embrapa Semiárido, Petrolina, PE
Jony Eishi Yuri Marco Antonio Nogueira
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Solos
(Fitotecnia), pesquisador da Embrapa Semiárido, e Nutrição de Plantas), pesquisador da Embrapa Soja,
Petrolina, PE Londrina, PR
José da Silva Souza Miguel Marques Gontijo Neto
Engenheiro-agrônomo, mestre em Economia Rural, Engenheiro-agrônomo, doutor em Zootecnia,
pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
das Almas, BA
Omar Cruz Rocha
José Eduardo Borges de Carvalho Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia,
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Solos pesquisador da Embrapa Café, Brasília, DF
e Nutrição de Plantas), pesquisador da Embrapa
Osmar Conte
Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA
Engenheiro-agrônomo, doutor em Ciências do Solo,
José Miguel Silveira pesquisador da Embrapa Soja, Londrina, PR
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia,
Patrícia Coelho de Souza Leão
Produção Vegetal e Fitotecnia, pesquisador da Embrapa
Engenheira-agronôma, doutora em Genética e
Soja, Londrina, PR
Melhoramento, pesquisadora da Embrapa Semiárido,
Katia Regina Evaristo de Jesus Petrolina, PE
Bióloga, doutora em Biotecnologia, pesquisadora da Roberto dos Santos Trindade
Embrapa, Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento, Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e
Brasília, DF Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa
Liv Soares Severino Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia, Roberto Giolo de Almeida
Pesquisador da Embrapa Algodão, Campina Grande, PB Engenheiro-agrônomo, doutor em Zootecnia,
Lucas Tadeu Ferreira pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Campo
Jornalista e Relações Públicas, mestre em Comunicação, Grande, MS
analista da Embrapa Café, Brasília, DF Rodrigo Amorim Barbosa
Lucimara Chiari Engenheiro-agrônomo, doutor em Zootecnia,
Bióloga, doutora em Genética e Melhoramento, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Campo
pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS
Grande, MS Rodrigo da Costa Gomes
Luiz Augusto Lopes Serrano Zootecnista, doutor em Zootecnia, pesquisador da
Engenheiro-agrônomo, doutor em Produção Vegetal, Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS
pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Rubens Augusto de Miranda
Fortaleza, CE Economista, doutor em Administração, pesquisador da
Marcelo do Amaral Santana Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
Administrador, pós-graduado em Economia Financeira Samuel Filipe Pelicano e Telhado
e Análise de Investimentos, analista da Embrapa Engenheiro-agrônomo, mestre em Agronomia
Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA (Fitotecnia), analista da Embrapa, Diretoria-Executiva
de Pesquisa e Desenvolvimento, Brasília, DF
Marcelo Hiroshi Hirakuri
Graduado em Ciência da Computação, mestre em Sidney Netto Parentoni
Ciência da Computação, analista da Embrapa Soja, Engenheiro-agrônomo, doutor em Genética e
Londrina, PR Melhoramento de Plantas, pesquisador da Embrapa
Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG
Maria Aparecida do Carmo Mouco
Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia Simone Martins Mendes
(Horticultura), pesquisadora da Embrapa Semiárido, Engenheira-agrônoma, doutora em Entomologia,
Petrolina, PE pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo, Sete Lagoas,
MG
Maria Auxiliadora Coelho de Lima
Engenheira-agrônoma, doutora em Agronomia Tiago Cardoso da Costa-Lima
(Fitotecnia), pesquisadora da Embrapa Semiárido, Biológo, doutor em Entomologia, pesquisador da
Petrolina, PE Embrapa Semiárido, Petrolina, PE
Maurício Antonio Coelho Filho Walter dos Santos Soares Filho
Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Irrigação Engenheiro-agrônomo, doutor em Agronomia (Genética
e Drenagem), pesquisador da Embrapa Mandioca e e Melhoramento de Plantas), pesquisador da Embrapa
Fruticultura, Cruz das Almas, BA Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, BA
Apresentação

Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) para a década de 2050 indicam
claramente que, nos próximos 30 anos, a humanidade necessitará aumentar sua
produção em 70% para alimentar o planeta. O agronegócio brasileiro, fundamental nesse
processo, vem, entretanto, sofrendo críticas que desacreditam a sua sustentabilidade.
Nesse contexto, com o objetivo de colaborar para desmistificar a afirmação de que a
agricultura brasileira não é sustentável, produzimos este documento evidenciando que
a agricultura brasileira é construída sobre bases científicas.
A adoção de um considerável número de tecnologias em várias frentes do processo
produtivo tem permitido produzir altos volumes, com alta qualidade, de forma
sustentável sob todos os aspectos, além de permitir que as florestas do País sejam
protegidas tanto nas propriedades agropecuárias quanto em áreas nativas. A capacidade
tecnológica para fazer gestão territorial, manejo integrado de pragas e doenças,
utilizar sistemas integrados de produção que prolongam a vida dos solos, entre outros
aspectos são os fatores garantidores do sucesso da agricultura brasileira. Assim, com
as informações contidas neste documento, fica evidente que, devido à adoção de
tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e parceiros, garante-se à agricultura um efeito
Poupa-Terra nas mais diversas cadeias do agro brasileiro. Os dados aqui apresentados
são de grande valor, já que foram obtidos ao longo de décadas, o que trás robustez aos
resultados divulgados neste documento.
Esperamos que as informações aqui disponibilizadas possam contribuir para desmistificar
equívocos e, de forma ampla e objetiva, evidenciar que, devido ao uso da ciência em
suporte à agricultura brasileira, o País é e será sustentável de forma ambiental, social e
econômica, além de um dos principais atores da agropecuária mundial para as próximas
décadas.

Guy de Capdeville
Diretor-Executivo de Pesquisa e Desenvolvimento
Sumário

11 Capítulo 1
Estratégias e tecnologias poupa-terra e seus
impactos para a agricultura brasileira

19 Capítulo 2
Desenvolvimento e sustentabilidade
na fruticultura de exportação

43 Capítulo 3
Menos área cultivada, mais tecnologia na
fruticultura de Exportação - Uva, manga e melão

51 Capítulo 4
Sustentabilidade e produtividade nos
sistemas agrícolas de algodão

63 Capítulo 5
Cafés do Brasil - Pesquisa, sustentabilidade e inovação

77 Capítulo 6
Aumento de produtividade e rentabilidade
de milho com intensificação tecnológica

113 Capítulo 7
Liderança e recordes de produtividade
de soja com base em tecnologia e
sistemas intensivos de uso da terra

141 Capítulo 8
Pecuária de corte - Otimização do uso da terra
e adoção da intensificação sustentável

157 Capítulo 9
Avanço tecnológico e sustentável das
cadeias de frangos de corte e de suínos
11

Foto: Valentin Rossanov (iStock)

Capítulo 1

Estratégias e
tecnologias
poupa-terra e
seus impactos na
agricultura brasileira

Katia Regina Evaristo de Jesus


Samuel Filipe Pelicano e Telhado
Guy de Capdeville
12 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Os solos tropicais têm uma característica Do ponto de vista da sustentabilidade


desafiadora para a agricultura. São solos da agricultura, o conceito poderia ser
naturalmente ácidos e, consequente- sumarizado como a possibilidade de os
mente, têm baixa fertilidade, o que impli- sistemas agrícolas em manterem sua
ca correções e reposições constantes de produção no longo prazo, sem depleção
nutrientes para garantir patamares altos sensível dos recursos que lhes dão ori-
na produção agrícola. A Embrapa tem gem, como a biodiversidade, a fertilidade
direcionado cada vez mais esforços de do solo e os recursos hídricos. Do ponto
pesquisa para o desenvolvimento de no-
de vista prático, a gestão adequada dos
vas tecnologias, práticas e processos que
recursos disponíveis pode ser o ponto de
possibilitem o aumento da produtivida-
partida para equacionar a sustentabili-
de com sustentabilidade, considerando o
dade na perspectiva ambiental e social,
uso de recursos biológicos para a produ-
ção de alimentos e outros produtos. com relação à geração de bioenergia e
à segurança alimentar (Manning et al.,
Práticas conservacionistas, como o plan- 2015; Kline et al., 2017).
tio direto, o manejo e a conservação do
solo e dos recursos hídricos podem ser Este documento versa sobre tecnologias
caracterizadas como práticas poupa-ter- poupa-terra, entendidas como aquelas
ra, uma vez que aumentam a produtivi- tecnologias adotadas pelo setor produti-
dade de modo sustentável. Além disso, vo, sejam de baixo ou de alto custo, que
têm potencial de reverter os impactos permitem incrementos sustentáveis na
negativos de ações que empregam prá- produção total em uma mesma área, e
ticas que empobrecem o solo, como é o graças ao seu uso evita-se a abertura de
caso do cultivo continuado com utiliza- novas áreas para produção agropecuária.
ção de arado e grade, o não uso de terra- Dessa forma, caso essas tecnologias não
ços, entre outras. estivessem em uso, seria preciso dedicar
Apesar da dificuldade de estabelecer um mais áreas à agropecuária para a neces-
consenso sobre o conceito de sustenta- sária produção de alimentos e energia,
bilidade, o desenvolvimento sustentável, o que conduziria a possíveis impactos
de modo geral, tem sido compreendido ambientais negativos. Assim, as tecnolo-
pela característica de utilizar recursos gias poupa-terra contribuem sobrema-
que atendam às necessidades do pre- neira para a sustentabilidade ambiental,
sente, sem comprometer a capacidade econômica e social da agropecuária
das gerações futuras em atender suas brasileira.
próprias necessidades, conforme cita-
do no Relatório Brundtland (Comissão O Brasil já conta com uma série de sistemas
Mundial Sobre Meio Ambiente e e tecnologias sustentáveis que podem
Desenvolvimento, 1998). Esse conceito ser considerados estratégias poupa-terra
integra os três vetores da sustentabilida- em franca adoção. A seguir, destacam-se
de: ambiental, econômico e social. algumas delas.
Foto: Gabriel Rezende Faria

Capítulo 1 Estratégias e tecnologias poupa-terra e seus impactos na agricultura brasileira

13

Integração lavoura- privados e empresas do ramo do agrone-


gócio. A Rede foi constituída para apoiar
-pecuária-floresta e estimular a adoção de tecnologias de
O sistema integração lavoura-pecuá- integração lavoura-pecuária-floresta por
ria-floresta (ILPF) consiste em uma es- produtores rurais, como estratégia única
tratégia que combina na mesma área a de ampliar a produção sustentável na
produção pecuária, agrícola e florestal, agricultura brasileira (Embrapa, 2020).
com benefícios mútuos para cada uma O censo agrícola de 2017 indicou uma
delas, para o produtor, que diversifica a área de 13,86 milhões de hectares de sis-
sua fonte de lucro no tempo, e também temas agroflorestais no Brasil1. Cálculos
para o solo, devido à diversificação da matemáticos estimam que, em 2020, a
produção, sem exaurir o recurso com área desses sistemas atingiu entre 15,07
uma única espécie ou tipo de produção. e 17,42 milhões de hectares no País
Implica benefícios e impactos positivos (Polidoro et al., 2020).
tanto para o meio ambiente quanto para
o produtor agrícola.
Sistema plantio direto
A integração lavoura-pecuária é a mo-
dalidade mais utilizada, ocupando 83% O sistema plantio direto é uma forma de
dessa área. A demanda por madeira para manejo conservacionista que consiste
serraria e biomassa, aliada ao ganho de em práticas que preconizam a manu-
peso de animais devido ao conforto tenção da cobertura do solo, por meio
térmico proporcionado pela sombra da manutenção dos restos de colheita,
das árvores, tem ampliado a adoção de
palhas e restos culturais. Implicam dimi-
sistemas silvipastoris e agrossilvipastoris.
nuição da compactação do solo, redu-
A Embrapa desenvolve pesquisas com ção da erosão e do assoreamento dos
sistemas de integração há 30 anos.
Fruto disso é a Rede ILPF – formada pela 1
Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/
Embrapa e por cooperativas, bancos pesquisa/24/0.
14 Tecnologias Poupa-Terra 2021

recursos hídricos. Essa cobertura protege O emprego da FBN implica redução da


a superfície do solo, diminui a taxa de necessidade de adubação química nitro-
evaporação com consequente aumento genada, com consequente diminuição
do armazenamento de água do solo e no custo da produção agrícola e redução
manutenção da temperatura na camada dos impactos ambientais negativos, uma
superficial, favorecendo o crescimento vez que reduz a contaminação dos ma-
de organismos no solo e, com isso, o au- nanciais (rios, lagos e lençóis freáticos).
mento da matéria orgânica. Resulta em
Consiste, portanto, no processo que
aumento da produtividade dos cultivos
(Heckler; Salton, 2002). É uma das práti- converte o nitrogênio do ar em formas
cas comumente empregadas e que au- que podem ser utilizadas pelas plantas.
mentam a sustentabilidade da produção Importante fonte de nitrogênio da agri-
agrícola no Brasil. cultura brasileira, a FBN tem melhorado
propriedades do solo, resultando em
maior produtividade, menor impacto am-
Fixação biológica biental e maior economia. Há tendência
de nitrogênio de intensificação do uso de FBN para ou-
A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é tras culturas além da soja, nomeadamente
realizada por bactérias presentes no solo avançando para gramíneas, como milho e
ou adicionadas por meio da prática da outras, e para recuperação de áreas de-
inoculação. A FBN foi escolhida como um gradadas, redução da emissão de GEE e
dos pilares do Plano ABC – Agricultura diminuição de riscos de contaminação.
de Baixa Emissão de Carbono, lançado
em 2010 pelo Ministério da Agricultura, Bactérias permitem
Pecuária e Abastecimento, que foi insti-
às plantas aumentar o
tuído para incentivar o uso de técnicas
sustentáveis na agricultura, visando à uso de fósforo do solo
redução da emissão dos gases de efeito A Embrapa tem pesquisado alguma
estufa (GEE). solução para equacionar e diminuir a
dependência da agricultura brasileira da
importação do fósforo e recentemente
Foto: amenic181 (iStock)

identificou duas bactérias capazes de


solubilizar o fósforo do solo (Embrapa,
2020), o que resultou no primeiro inocu-
lante biológico para absorção de fósforo
do Brasil. Resultados da sua aplicação evi-
denciaram aumento na produtividade de
grãos. Além disso, sua aplicação poderá,
em tese, diminuir os possíveis impactos
ambientais negativos resultantes da sua
Capítulo 1 Estratégias e tecnologias poupa-terra e seus impactos na agricultura brasileira

aplicação, tais como as emissões de dió- 15

Foto: Galeanu Mihai (iStock)


xido de carbono (CO2) na atmosfera.

Emprego de bioinsumos
em substituição aos
insumos não renováveis
A agricultura sustentável no Brasil de-
pende de práticas que promovem o uso
da biodiversidade e dos processos bioló-
gicos naturais na produção agropecuária.
Nesse contexto, o interesse e os investi-
mentos na descoberta de novos bioin-
sumos têm se tornado cada vez maiores.
Entre os bioinsumos mais utilizados, Agricultura de Baixa
destacam-se os inoculantes (que promo- Emissão de Carbono
vem a fixação de nitrogênio nas plantas),
os agentes biológicos para o controle de O Plano Setorial de Mitigação e de
pragas (insetos, fungos, vírus e bactérias), Adaptação às Mudanças Climáticas para a
entre outros, os quais utilizam a biodiver- Consolidação de uma Economia de Baixa
sidade para proporcionar ferramentas de Emissão de Carbono na Agricultura ou
manejo mais equilibradas e sustentáveis. Plano ABC tem por objetivo estimular e
O lançamento do Programa Nacional de monitorar a adoção de práticas agrícolas
Bioinsumos2 em maio de 2020 (Brasil, que reduzam emissões e gerem resiliên-
2020) tende a impulsionar o uso de recur- cia sem comprometer a produtividade e
sos biológicos na agropecuária e tem por o crescimento do setor.
objetivo aproveitar o potencial da biodi- As práticas a seguir tendem a diminuir
versidade brasileira para reduzir a depen- as emissões de gases de efeito estufa e a
dência dos produtores rurais em relação tornar a produção agrícola mais susten-
aos insumos importados e ampliar oferta tável e viável nos próximos anos.
de matéria-prima para o setor. Estima-se
1) Recuperação de pastagens degradadas.
que, com esse programa, a área agrope-
cuária com uso de recursos biológicos 2) Integração lavoura-pecuária-floresta
aumente em 13%3. (ILPF) e sistemas agroflorestais (SAFs).
3) Sistema plantio direto (SPD).
2
Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/
assuntos/inovacao/bioinsumos. 4) Fixação biológica de nitrogênio (FBN).
3
Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/
assuntos/noticias/programa-nacional-de-bioinsu- 5) Florestas plantadas.
mos-e-lancado-e-vai-impulsionar-uso-de-recursos-
-biologicos-na-agropecuaria-brasileira. 6) Tratamento de dejetos animais.
16 Tecnologias Poupa-Terra 2021

7) Adaptação às mudanças climáticas. para que o agricultor acesse recursos


do Programa de Garantia de Atividade
PronaSolos Agropecuária (Proagro) e do Programa
de Subvenção ao Prêmio do Seguro
O Programa Nacional de Solos do Brasil Rural (PSR).
(PronaSolos) (Brasil, 2019) pretende ma-
O programa passa por revisões anuais e
pear o território nacional e gerar dados
esses dados são publicados em portarias
com diferentes graus de detalhamento,
no Diário Oficial da União.
a fim de subsidiar políticas públicas,
auxiliar a gestão territorial, embasar a
agricultura de precisão e apoiar decisões Agricultura de precisão
de concessão do crédito agrícola, entre
muitas outras aplicações. É coordenado A agricultura de precisão consiste em um
pela Embrapa em parceria com o Mapa conjunto de ferramentas e tecnologias
e o Ministério do Meio Ambiente. Poderá que possibilita ao produtor conhecer
permitir melhor aproveitamento do solo, toda a área para cultivo de maneira mais
além de contribuir para maiores produti- completa e pode ajudar a aumentar o
vidades e, em consequência, para o efei- rendimento. As tecnologias empregadas
to poupa-terra. têm por objetivo criar e empregar técni-
cas de manejo da variabilidade espacial
e temporal das culturas, com emprego
Zoneamento Agrícola de tecnologias portadoras de futuro,
de Risco Climático tais como internet das coisas, Big Data,
O Zoneamento Agrícola de Risco Analytics, robótica, entre outras, cujo
Climático4 (Zarc) é uma política pública potencial pode levar o Brasil para a agri-
do Mapa executada pela Embrapa. Sua cultura do futuro.
finalidade é melhorar a qualidade e a Hoje existe o Sistema de Inteligência
disponibilidade de dados e informações Territorial Estratégica da Macrologística
sobre os mais variados riscos agroclimá- Agropecuária Brasileira, que reúne, em
ticos no Brasil. Trata-se de uma ferramen- base georreferenciada, dados sobre a
ta fundamental para apoiar o produtor produção agropecuária, a armazenagem
rural no planejamento das atividades e os caminhos da safra. Com esse siste-
agrícolas que considera a variabilidade ma, é possível extrair informações fun-
do clima, as características do solo e as
damentais para o planejamento estraté-
características ecofisiológicas da cultura,
gico do governo e do setor produtivo e,
contribuindo para as decisões do produ-
consequentemente, diminuir custos de
tor. Também é obrigatório seu uso
produção, otimizando áreas de plantio
4
O Programa Zarc é regido pelo Decreto nº 9.841/2019
para garantir o uso racional dos recursos
(Brasil, 2019). naturais, em especial o solo.
Capítulo 1 Estratégias e tecnologias poupa-terra e seus impactos... 17
Foto: Smederevac (iStock)

Referências EMBRAPA. Secretaria de Desenvolvimento


Institucional. Balanço social 2019. 23. ed. Brasília,
BRASIL. Decreto nº 10.375, de 26 de maio de 2020. DF, 2020. 66 p. Disponível em: http://ainfo.cnptia.
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Bioinsumos. Diário Oficial da União: seção 1, ed. HECKLER, J. C.; SALTON, J. C. Palha: fundamento
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www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.375- Agropecuária Oeste, 2002. 26 p. (Embrapa
de-26-de-maio-de-2020-258706480. Acesso em: Agropecuária Oeste. Coleção sistema plantio
10 out. 2020. direto, 7). Disponível em: http://ainfo.cnptia.
embrapa.br/digital/bitstream/item/38756/1/
BRASIL. Decreto nº 9.841 de 18 de junho de COL20027.pdf. Acesso em: 10 out. 2020.
2019. Dispõe sobre o Programa Nacional de
KLINE, K. L.; MSANGI, S.; DALE, V. H.; WOODS, J.;
Zoneamento Agrícola de Risco Climático.
SOUZA, G. M.; OSSEWEIJER, P.; LANCY, J. S.; HILBERT,
Diário Oficial da União: seção 1, p. 4, 19
J. A.; JOHNSON, F. X.; MCDONNELL, P. C.; MUGERA,
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Acesso em: 10 out. 2020.
MANNING, P.; TAYLOR, G.; HANLEY, M. E. Bioenergy,
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E food production and biodiversity – an unlikely
DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. alliance? GCB-Bioenergy, v. 7, n. 4, p. 570-576,
Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1998. July 2015. DOI 10.1111/gcbb.12173.
18 Tecnologias Poupa-Terra 2021

POLIDORO, J. C.; FREITAS, P. L. de; technologies based on the principles of


BHERING, S. B.; CARVALHO JUNIOR, W. de; conservation agriculture in the control of
RODRIGUES, R. A. R.; BENITES, V. de; ANJOS, soil erosion in Brazil. Land Degradation &
L. H. C. dos; PEREIRA, M. G.; RIBEIRO, J. L. Development, Apr. 21, 2020. DOI 10.22541/
The impact of plans, policies, practices and au.158750264.42640167.
19

Foto: Afrânio Montenegro

Capítulo 2

Desenvolvimento
e sustentabilidade
na fruticultura
de exportação

Domingo Haroldo Rudolfo Conrado Reinhardt


Maria Auxiliadora Coelho de Lima
Luiz Augusto Lopes Serrano
José da Silva Souza
Marcelo do Amaral Santana
Eduardo Sanches Stuchi
Eduardo Augusto Girardi
Arlene Maria Gomes de Oliveira
Áurea Fabiana Apolinário de Albuquerque Gerum
Maurício Antonio Coelho Filho
José Eduardo Borges de Carvalho
Walter dos Santos Soares Filho
20 Tecnologias Poupa-Terra 2021

A fruticultura brasileira de exportação de Tabela 1. Mão de obra direta empregada em


2016 na produção das principais frutas frescas
frutas frescas e de sucos, com base em de exportação no Brasil.
ciência, organização e políticas públicas,
Cultura Quantidade (¹)
tem apresentado um desenvolvimento
Manga 96.941
expressivo ao longo das últimas 3 déca-
das. Avanços tecnológicos nas fases de Melão 34.749

produção e pós-colheita determinaram Uva ²( )


261.314
ganhos elevados em produtividade, Limão 31.519
qualidade e sustentabilidade socioeco- Mamão 60.744
nômica e ambiental, com destaque para Melancia 165.471
os efeitos poupa-terra e para a economia Maçã 56.515
no uso de recursos naturais. Banana 476.806
Total 1.184.059

Dados resumidos do setor ¹ Números apresentados pelo relatório com base nos da-
( )

dos do IBGE de 2016.


² Números relativos à produção da uva de mesa.
( )

As frutas são cultivadas em praticamente Fonte: Relatório Cenário Hortifruti Brasil (2018).

todos os países do mundo. Segundo da-


dos da Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e a Agricultura (FAO, A fruticultura brasileira, que está presen-
te em todos os estados da Federação e
2019), a produção mundial de frutas atin-
no Distrito Federal, pode ser dividida
giu o volume de 929,6 milhões de tone-
em duas categorias: frutas temporárias
ladas, obtidos em cerca de 80,4 milhões
e frutas permanentes. Predominam, no
de hectares somente em 2018. O Brasil
entanto, as frutas permanentes, que, em
é o terceiro maior produtor de frutas, 2018, participaram com 92,0% e 87,1%,
com 42,4 milhões de toneladas (4,6% da área colhida e da produção, respecti-
do total) em 2,5 milhões de hectares, vamente. Já as frutas tropicais/subtropi-
atrás da China (25,9%) e da Índia (11,9%). cais representaram, em 2018, 94,4% da
Em 2018, estima-se que seu valor de pro- área colhida e 92,4% da produção. Nas
dução gerado foi de 33,5 bilhões de reais, macrorregiões do Brasil, a participação na
e que, para cada hectare cultivado, duas produção nacional em 2018 foi a seguin-
pessoas são empregadas nesse segmento te: Sudeste (51,6%), Nordeste (25,2%),
agrícola, ou seja, 5 milhões de empregos Sul (13,7%), Norte (7,1%) e Centro-Oeste
no País são oferecidos no agronegócio (2,5%).
fruticultor, indicador o qual enfatiza sua As exportações brasileiras de frutas
importância socioeconômica. A Tabela 1 frescas (incluindo nozes e castanhas),
apresenta os últimos dados oficiais rela- em 2019, ultrapassaram o montante de
cionados ao emprego de mão de obra 1 bilhão de dólares. Em comparação com
direta na produção das principais frutas os demais produtos do agronegócio, as
frescas de exportação. exportações de frutas frescas ficaram em
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 21

12º lugar, representando 1,04% da pauta Tabela 3. Exportações brasileiras de frutas


frescas ou secas em 2019.
brasileira de exportações. Na Tabela 2,
observa-se que, na distribuição do item, Fruta fresca
Valor (US$) (%)
as frutas participaram com 777,3 milhões ou seca
de dólares (77%). Manga 221.801.185 28,5
Melão 160.307.786 20,6
Uva 93.459.500 12,0
Tabela 2. Exportações brasileiras de frutas,
nozes, castanhas, conservas e preparações de Limão e lima 90.923.279 11,7
frutas em 2019.
Mamão 47.270.134 6,1
Frutas Valor (US$) (%) Melancia 43.857.711 5,6
Frutas 777.332.539 77,0 Maçã 42.508.683 5,5
Nozes e Banana 24.559.299 3,2
162.003.073 16,0
castanhas
Outras 52.644.962 6,8
Conservas e
preparações Total 777.332.539 100,0
70.978.174 7,0
de frutas Fonte: Brasil (2019).
(excl. sucos)
Total 1.010.313.786 100,0
Foto: Cláudio Bezerra

Fonte: Brasil (2019).

Considerando apenas o item frutas, o


Brasil exportou, em 2019, mais de 20 tipos,
com concentração em oito delas (93,2%)
(Tabela 3). Dessas, mangas, melões, uvas,
mamões e melancias são originados, prin-
cipalmente, da região Nordeste. Os limões
têm como origem as regiões Sudeste e
Nordeste. As maçãs provêm da região
Sul, enquanto as bananas, das regiões Sul
e Nordeste. É grande a participação da
região Nordeste, principalmente nos perí-
metros irrigados, que tem água e elevada maior participação foi da castanha-de-caju,
taxa de insolação, favorecendo a qualida- com US$ 121.200.000,00 (74,8%).
de das frutas produzidas nessa região.
Com relação aos destinos do item frutas
Quanto ao item nozes e castanhas, os tipos (incluindo nozes e castanhas), cerca de
mais exportados foram castanha-de-caju 67% foram comercializadas na União
e castanha-do-pará, que, juntas, contribuí- Europeia, seguida dos Estados Unidos, do
ram com US$ 142.280.791,00, o que corres- Canadá e da Argentina, que, juntos, im-
ponde a 87,8% do total do item. Em 2019, a portaram cerca de 20% do total do item.
22 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Michael Luenen (Pixabay)

Considerando apenas as nozes e casta- nacional, com participações estaduais


nhas, os Estados Unidos (36,8%), a União de 77,5%, 5,6% e 4,6%, respectivamente.
Europeia (25,9%) e o Canadá (10,0%) fo- Em seguida, vem a região Nordeste, com
ram os mais importantes destinos. participação de 6,7%. Em 2018, a cultura
A produção das principais frutas frescas da laranja gerou um valor de produção
de exportação pode ser observada na de 9,5 bilhões de reais, situando-se em
Tabela 4. Embora a banana apresente a sétimo lugar no agronegócio brasilei-
maior área colhida e produção, possui a ro, atrás apenas da soja, da cana-de-
menor participação nas exportações des- -açúcar, do milho, do café, do algodão e
se rol de frutas. da mandioca.

O Brasil é o maior produtor e exportador Em 2019, o Brasil exportou 2,1 bilhões


de suco de laranja no mundo. Em 2019, o de dólares em sucos, com participação
Brasil produziu 17.614.270 t de laranja em de 2,18% na pauta de exportação agrí-
608.243 ha colhidos, com uma produtivi- cola (9º lugar). É expressiva a hegemonia
dade média de 29 t ha-1. O cinturão citrí- dos sucos de laranja, com 1,9 bilhão de
cola envolvendo regiões dos estados de dólares, representando 90,50% do total.
São Paulo, de Minas Gerais e do Paraná, Quanto aos demais sucos exportados,
foi responsável por 87,7% da produção merecem destaque: água de coco, sucos

Tabela 4. Produção brasileira das principais frutas frescas de exportação em 2018.

Cultura Área colhida (ha) Produção (t) Produtividade (t ha-1)


Manga 65.646 1.319.296 20,10
Melão 23.324 581.478 24,93
Uva 74.472 1.591.986 21,38
Limão 52.784 1.481.322 28,06
Mamão 27.250 1.060.392 38,91
Melancia 101.975 2.240.796 21,97
Maçã 33.029 1.195.007 36,18
Banana 449.284 6.752.171 15,03
Fonte: IBGE (2019).
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 23

de maçã, acerola, abacaxi, uva e maracujá. Comparações com a


Com relação ao destino, a União Europeia
forma de produção
é o principal comprador (68,60%), segui-
da pelos Estados Unidos (16,70%), pelo
em outros países
Japão (5,30%) e pela China (3,80%). A fruticultura brasileira se diferencia por
ser conduzida, em grande parte, em
As projeções atuais para a demanda de
condições de sequeiro, com viabilidade
frutas nos próximos anos apontam cres-
econômica e com adequação ambien-
cimento tanto nos mercados externo
tal. No entanto, parcela significativa das
como interno. O mercado interno perma-
frutas frescas de exportação é produzida
nece como principal destino da produ- na região semiárida, o que exige o uso
ção brasileira e, mesmo com melhorias da irrigação. Parcela considerável da
tecnológicas em toda a cadeia de produ- fruticultura brasileira é alicerçada na pe-
ção para exportação, esse cenário deve quena produção e na agricultura familiar,
se manter por muitos anos. A Tabela 5 a exemplo da produção de castanhas-de-
apresenta a média da participação da -caju na região semiárida, em condições
quantidade exportada das principais fru- de sequeiro, com foco no abastecimento
teiras de exportação na produção total de minifábricas que colocam seus pro-
relativa ao triênio de 2016 a 2018. dutos, em grande parte, no mercado

Tabela 5. Valores aproximados da participação das exportações brasileiras na produção interna das
principais frutas de exportação, de 2016 a 2018.

Participação das
Cultura Produção (t) Exportação (t)
exportações (%)
Manga 1.167.845 168.092 14,50
Melão 573.069 218.653 38,27
Uva 1.482.920 38.383 2,61
Limão 1.336.596 95.214 7,16
Mamão 1.138.606 39.901 3,55
Melancia 2.213.946 69.650 3,15
Maçã 1.186.011 52.360 4,36
Banana 6.654.116 57.095 0,86
Fonte: Comex Stat (2019) e IBGE (2019).
Foto: pixel2013 (Pixabay)
24 Tecnologias Poupa-Terra 2021

interno, mas cada vez mais exploram o Tecnologias sustentáveis


mercado externo de fair trade.
empregadas nas cadeias
Ao contrário do que ocorre em muitos
A fruticultura brasileira de exportação
países, a fruticultura brasileira é uma ati-
não utiliza organismos geneticamente
vidade muito diversificada em seus usos
modificados (OGMs) nem antibióticos.
e destinos, além de um amplo mercado
Todas as variedades cultivadas têm sua
interno à disposição. Um exemplo é a
origem em melhoramento genético tra-
cultura do caju, na qual os maiores con-
dicional, sem manipulação artificial de
correntes internacionais se concentram
genes. É dessa forma que a matriz de cul-
apenas na castanha, enquanto no Brasil tivares tem sido diversificada e ampliada
uma gama de produtos é explorada, des- para todas as principais fruteiras.
de o pseudofruto (pedúnculo) para pol-
pas, doces, cajuína, o caju completo para
Manejo da cultura
o mercado de mesa (in natura) e o líquido
da castanha de caju (LCC) para indústria O modelo de produção integrada (PI)
de revestimentos, tintas e antioxidantes. de banana, caju, citros, mamão, manga,
A fruticultura brasileira conta com gran- melão, uva e maçã, como base para a
produção sustentável e adequação aos
de adoção de inovações tecnológicas
programas de certificação requeridos pe-
para ganhos de produtividade e susten-
los importadores tem sido consolidado.
tabilidade, em áreas de genética varietal,
As normas da PI, orientadas pelo Ministério
produção de mudas em ambiente pro-
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
tegido, manejo da fertilidade e práticas
(Mapa) (Brasil, 2001), apresentam requisi-
conservacionistas de solo e água, mane-
tos condizentes ou mesmo mais rigorosos
jo integrado de pragas e doenças, entre
que as do GLOBALG.A.P., considerado re-
outras.
ferencial global para as boas práticas agrí-
A fruticultura brasileira usa menos agro- colas. A PI permite a produção rastreável
químicos, sobretudo defensivos agrí- de alimentos seguros, sem contaminantes
colas. Um exemplo disso, é a estimativa químicos e biológicos, com sustentabili-
que, em São Paulo, se utiliza cerca de 65% dade econômica, social e ambiental.
menos ingrediente ativo por hectare em O conjunto de técnicas de indução floral
pomares cítricos, devido a menores do- tem sido aprimorado, envolvendo impo-
ses e volumes de aplicação, em compa- sição de estresse hídrico, podas inteligen-
ração com pomares na Flórida e outros tes e manejo fisiológico, permitindo uma
países da América Latina, que também oferta de frutas brasileiras para os merca-
tem o huanglongbing (HLB) como prin- dos ao longo de todo ano, com redução
cipal ameaça fitossanitária (Associação de períodos de entressafra, contribuindo
Nacional dos Exportadores de Sucos para a sustentabilidade socioeconômica
Cítricos, 2019). da atividade.
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 25

Ademais, o uso de instrumentos e es-

Foto: Ulrike Leon (Pixabay)


tratégias de agricultura de precisão tem
avançado, a exemplo de imagens aéreas
para diagnóstico e manejo especializado
em vinhedos.

Manejo da cobertura do solo


As boas práticas agrícolas contam com
práticas conservacionistas do solo, so-
bretudo a utilização de cobertura ve-
getal natural do solo mantida pelo roço
manual e mecanizado, a cobertura ver-
de por meio de espécies leguminosas e
gramíneas, bem como cobertura morta.
Práticas essas que visam à conservação
e ao enriquecimento da microbiota do
solo, à redução de perdas de água por
lixiviação, à redução da temperatura
do solo, à preservação da umidade por
mais tempo, entre outros benefícios.
Ademais, a cobertura do solo contribui
para uma importante imobilização de
carbono. Já os herbicidas pré-emergen-
tes não são permitidos na PI. Na agricul-
tura familiar, e em pequenos pomares,
é frequente o cultivo consorciado de
frutas com outras culturas de menor
porte e ciclo mais curto, para diversificar
a produção e fazer uso sustentável dos
recursos naturais.
Além das coberturas vegetais, outras
técnicas são usadas para o controle de
plantas invasoras, a exemplo do uso de
manta agrotêxtil na cultura do meloeiro
até a fase de polinização, acarretando
como benefícios adicionais a ausência de
pulverização com inseticidas e a econo-
mia no uso de água.
26 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Manejo de água e nutrientes Pesquisas da Embrapa e de outras ins-


tituições brasileiras (Santos et al., 2016;
A fruticultura de exportação no Brasil tem Silveira et al., 2020), testando a irrigação
aprimorado o manejo de nutrientes das com déficit controlado, envolvendo o
plantas, incluindo a aplicação de ferramen- suprimento parcial do sistema radicular
tas como Sistema Integrado de Diagnose das fruteiras, mostraram que é possível o
e Recomendação (Dris) para interpreta- uso de lâminas de água menores que as
ção dos resultados de análise foliar, com usualmente recomendadas. Assim, essa
acentuado aumento da sua eficiência ao tecnologia poupadora de água vem sen-
ajustar doses, formas e parcelamento das do implementada em várias regiões.
aplicações. Além disso, tem sido crescente É cada vez mais comum o uso de variá-
a substituição de fontes minerais e sintéti- veis climáticas obtidas em tempo real,
cas por adubos naturais e orgânicos, com por estações agrometeorológicas, para
efeitos benéficos sobre aspectos físicos e manejo da irrigação e obtenção de indi-
biológicos do solo. cadores de risco de doenças.
A recomendação de adubação é pautada
em critérios como diminuição dos custos Manejo integrado de
de produção e dos riscos de contami- pragas e doenças
nação, prevenindo salinização do solo e
contaminação de mananciais. Da mes- A incidência de pragas e doenças é
ma forma, o uso racional da água tem monitorada, e medidas de controle são
recebido atenção especial com foco na aplicadas apenas quando níveis críticos
sustentabilidade ambiental e econômica dos agentes são atingidos. Esse cuidado-
da fruticultura. Uma parte expressiva do so monitoramento fez surgir uma nova
cultivo de frutas é realizado sem o con- função nos pomares, a do pragueiro, um
curso da irrigação. No caso do cinturão colaborador treinado e dedicado à iden-
citrícola (São Paulo, sudoeste e oeste de tificação, à quantificação e ao controle de
Minas Gerais, ou Triangulo Mineiro) ape- pragas.
nas 30% da área tem esse suprimento O uso de defensivos agrícolas é minimi-
hídrico suplementar. zado e, quando necessário, é baseado em
Sistemas de irrigação mais eficientes, ingredientes ativos legalizados para cada
com menor uso de água, têm sido desen- cultura nas normas nacionais e interna-
volvidos e aplicados em todas as regiões cionais, com atenção especial às exigên-
produtoras de frutas, a exemplo de siste- cias dos países importadores. As aplica-
mas de irrigação localizados e fertirriga- ções são realizadas com equipamentos
ção adotados nos sistemas de produção e maquinários modernos ajustados para
de manga, melancia, melão e uva, permi- volumes de calda adequados a cada pra-
tindo maior eficiência no uso de água e ga-alvo, o que leva a reduções importan-
uso racional de nutrientes. tes na quantidade de calda aplicada.
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 27

O controle biológico clássico mediante brasileira, com uma série de sucessos


liberação de inimigos naturais é ampla- já alcançados. A Empresa Brasileira de
mente utilizado no manejo integrado Pesquisa Agropecuária (Embrapa) con-
de pragas-chave, a exemplo das mos- duz programas de melhoramento gené-
cas-das-frutas e tem sido inserido nas tico que tem gerado novas variedades
estratégias de controle de um número de banana, caju, citros, mamão, manga,
cada vez maior de pragas e doenças por uva e outras fruteiras, com tolerância ou
meio da aplicação de fungos entomopa- resistência a pragas e doenças muito se-
togênicos (Beauveria e Metarhizium) para veras, a exemplo da sigatoka-negra, siga-
o controle de mosca-branca, mosca-mi- toka-amarela e fusariose da bananeira, a
nadora, moscas-das-frutas, cochonilhas, resinose do cajueiro, o cancro e a gomo-
coleópeteros, ácaros e cigarrinhas; de se-cítrica, o oídio do melão, o míldio da
biofungicidas à base de Trichoderma uva, a fusariose do abacaxi, entre outras.
para o controle da fitóftora e de outros
fungos do solo; e de bactérias como Manejo pós-colheita
Bacillus e Baculovirus no controle de
lagartas e com efeitos sobre nematoi- Na fruticultura de exportação são apli-
des. Ácaros-praga têm sido combatidos cados os sistemas Boas Práticas de
com óleo vegetal e a liberação de ácaros Fabricação e Análise de Perigos e Pontos
predadores produzidos em biofábricas. Críticos de Controle, importantes meca-
Óleos essenciais, como o de Melaleuca nismos de controle de qualidade dos pro-
alternifolia, tem sido usado para preven- dutos ofertados aos mercados. É restrito
ção e controle de doenças pós-colheita e o uso de agentes químicos de controle
mofo causado por fungos oportunistas. fitossanitário pós-colheita, excetuan-
do-se situação tecnicamente justificada
Práticas de controle cultural e manejo
e aceita pelos sistemas de certificação
preventivo são enfatizadas incluindo:
internacionais.
poda de limpeza e proteção das áreas
podadas contra infecções; desinfestação Na fruticultura brasileira é assegurada a
de ferramentas; eliminação de plantas redução de estresse das frutas median-
ou partes infectadas; remoção de ma- te seu manejo racional na colheita, no
terial infectado; prevenção a estresses e transporte e no embalamento, sendo
molhamento das plantas; e controle de o beneficiamento realizado em espaço
vetores de doenças. com ventilação e luminosidade adequa-
das, na maioria das vezes em packing
Aplicativos têm sido desenvolvidos para
houses climatizados e, quando os países
facilitar a identificação de pragas e doen-
de destinos exigem, é realizado o trata-
ças de fruteiras, a exemplo do aplicativo
mento quarentenário hidrotérmico para
Uzum para a cultura da videira.
controle de moscas-das-frutas em man-
É intensa a busca por controle genéti- ga e mamão, e o tratamento a frio em
co das principais pragas na fruticultura uva. Desse modo, é comum a aplicação
28 Tecnologias Poupa-Terra 2021

de tecnologias de resfriamento rápido, o aeroporto requer o uso de sensores de


armazenamento refrigerado e a manu- forma a informar se as condições da car-
tenção da cadeia de frio no transporte ga atendem às recomendações técnicas
e distribuição das frutas de exportação. de refrigeração para cada tipo de fruta.
É obrigatória a desinfecção, bem como é Nessa fase, são priorizadas as menores
frequente a utilização de equipamento distâncias terrestres possíveis. Porém,
gerador de ozônio em câmaras frias e no caso de transporte marítimo, que é
contêineres, visando ao controle de fun- o predominante, a operacionalização de
gos causadores de mofo. recebimento e despacho das cargas nos
No seu conjunto, as tecnologias susten- portos e os custos associados, muitas ve-
táveis empregadas nessas cadeias, aten- zes, interferem nessa decisão.
dem a, pelo menos, três dos Objetivos O monitoramento remoto se mantém
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) durante o trânsito para o exterior e até
propostos pela Organização das Nações a liberação da carga para as unidades de
Unidas (ONU) (Nações Unidas, 2012) e distribuição em cada país. As empresas
acordados por várias nações: Acabar com de maior porte e com maior experiência
a fome, alcançar a segurança alimentar e em exportação de frutas frescas mantêm
melhoria da nutrição e promover a agricul- equipes em cidades portuárias no ex-
tura sustentável (ODS 2); Promover o cres- terior, a fim de analisar as condições de
cimento econômico sustentado, inclusivo recebimento, a qualidade do produto,
e sustentável, emprego pleno e produtivo a amostragem realizada pelos importa-
e trabalho decente para todas e todos dores para análise do atendimento aos
(ODS 8); e Assegurar padrões de produção limites de resíduos praticados, entre ou-
e de consumo sustentáveis (ODS 12). tros aspectos associados às certificações.
É crescente o volume de exportação de
Aspectos logísticos que frutas brasileiras pelo modal aéreo. No
caso do mamão, essa via representou
geram sustentabilidade cerca de 88% das exportações entre 2011
na cadeia de produção e 2018, permitindo a oferta de frutas de
melhor qualidade aos consumidores.
Os processos de monitoramento da
qualidade e da eficiência das técnicas As principais processadoras de laran-
adotadas ao longo da cadeia permitem ja se concentram a menos de 500 km
aferir o atendimento às normas que re- do porto de exportação em Santos, SP.
gem as relações de comercialização para O suco de laranja é transportado a granel,
os grupos importadores e identificar em caminhões-tanque, até o porto por
problemas precocemente. Nos processos via rodoviária, o que diminui o número
internos, específicos da fase de produ- de viagens necessárias quando se com-
ção, o controle é local. Porém, o moni- para com o transporte feito em tambores
toramento a partir da saída da carga em de 200 L (forma clássica). O transporte
contêineres refrigerados para o porto ou marítimo se dá em navios sucoleiros
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 29

especialmente desenvolvidos para este disso, pode ser destacado que, no cin-
fim, modalidade que também reduz o turão citrícola, os produtores conservam
número de viagens. cerca de 180 mil hectares de vegetação
nativa em suas propriedades para cerca
de 460 mil hectares cultivados com laran-
Outras informações
ja. Pelo menos 80 mil hectares de citros
relevantes são certificados pela Rainforest Alliance,
A produção orgânica de frutas tem sido certificação também comum nas produ-
fomentada por políticas públicas que ções de manga, uva e melão.
contribuem para o seu crescimento em A busca do aprimoramento do nível tec-
taxas anuais elevadas. Atendendo essa nológico na fruticultura depende muito
demanda, a Embrapa tem executado da participação de recursos humanos
programa específico de pesquisa e bem preparados. Nesse contexto, a fruti-
disponibilizado sistemas orgânicos de cultura conta com o apoio de importantes
produção para várias fruteiras (banana, órgãos de capacitação, assistência técni-
manga, abacaxi, maracujá). Essa é mais ca e extensão rural, nos maiores polos de
uma contribuição para a oferta de frutas produção de frutas, incluindo o Centro
saudáveis, sem o uso de agroquímicos. de Fruticultura do Serviço Nacional de
É evidente a existência de uma consciên- Aprendizagem Rural (Senar) em Juazeiro,
cia crescente da importância da preser- BA, localizado no principal polo exporta-
vação ambiental entre os fruticultores e dor de frutas frescas do Brasil.
a consequente observância das rigorosas O Brasil investe muito em pesquisa agrí-
normas emanadas do Código Florestal cola, o que também se aplica à fruticul-
Brasileiro (Brasil, 2012). Como exemplo tura. Grandes esforços vêm sendo feitos
Foto: Rogerio Rogeriombda (Pixabay)
30 Tecnologias Poupa-Terra 2021

para ajustes tecnológicos que promovam As cadeias produtivas das principais fru-
Foto: Eduardo Girardi

aumento de produtividade, com melho- tas brasileiras exportadas contam com


ria da qualidade das frutas, em sistemas uma boa rede de integração de institui-
de cultivo cada vez mais sustentáveis do ções gestoras, em especial associações
ponto de vista ambiental. Um exemplo de exportadores, como Abrafrutas,
Brapex para o mamão; Frutas do Vale do
disso, são as estratégias adotadas para
Rio São Francisco (Valexport), Banana
o controle ou a convivência com o HLB,
no Norte de Minas Gerais (Abanorte),
a doença mais severa da citricultura CitrusBR, Sindicaju, além de apoiadoras
mundial. Uma das estratégias tem sido (órgãos de pesquisa e assistencia técnica
o aumento acentuado da densidade de federais e estaduais, Fundecitrus, Senar),
plantio, que pode compensar a perda de com o Mapa e outros ministérios perti-
plantas doentes. Novos porta-enxertos nentes. Essa integração facilita a supera-
que determinam menor porte da planta ção conjunta de desafios à abertura e à
cítrica, com maior produção de frutos por manutenção de mercados externos para
volume de copa e de frutos com maior as frutas brasileiras, inclusive barreiras fi-
tossanitárias. Um exemplo é o programa
teor de açucares, desenvolvidos pela
Systems Approach que permitiu acesso
Embrapa, estão sendo introduzidos na
do mamão brasileiro ao mercado dos
citricultura nacional. Muitos desses no- Estados Unidos, ao integrar práticas na
vos porta-enxertos cítricos apresentam pré- e pós-colheita, levando em conta
elevada tolerância à seca, representando fatores biológicos, físicos e operacionais,
auxílio precioso na adaptação da cultura para garantir que os frutos estejam livres
às mudanças climáticas em curso. de moscas-das-frutas (Ceratitis capitata).
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 31

Efeito poupa-terra Vários exemplos da contribuição de


tecnologias geradas para as condições
A evolução tecnológica na fruticultura brasileiras e adotadas pelos sistemas de
brasileira ao longo das últimas décadas produção de frutas, com destaque para
resultou na elevação expressiva da pro- aquelas de importância para o segmento
dutividade. A comparação das produ- exportador, podem ser citados. A maioria
tividades das principais frutas exporta- delas amparada pela adoção do sistema
das, obtidas em 1990 e 2018 (Tabela 6), de produção integrada (Zambolim et al.,
mostra um aumento geral de 64% da
2009). Algumas são especificadas a seguir
produtividade em volume por hectare,
em decorrência de sua contribuição para
com acréscimos variando entre 11% e
melhores desempenhos por unidade de
137% nas diferentes cadeias produtivas.
área produzida, superando a prática de
Essa elevação da produtividade média
ocupação de áreas extensivas para se
representou, em 2018, um efeito poupa-
atingir produções desejáveis.
-terra de 944.491 ha, o que corresponde
a cerca de 30% da área cultivada com Os vários programas de melhoramento
fruteiras no País, estimada em cerca de genético desenvolvidos por instituições
2,5 milhões de hectares. brasileiras de ciência e tecnologia avan-
Observando especificamente as frutas çaram na disponibilização de cultivares
cítricas, que ocupam a primeira posição com alto desempenho produtivo e, em
em área cultivada, produção e exporta- alguns casos, resistentes a estresses bió-
ção, principalmente sob a forma de suco, ticos ou abióticos. A Embrapa coordena
na fruticultura brasileira, houve aumento programas de melhoramento genético
de produtividade em 84,8% para laranja de frutas que lideram os rankings de
e de 82% para a lima ácida ‘Tahiti’, com produção e exportação no País, como
um efeito poupa-terra de 542.936 ha, o banana, citros, mamão, manga, melão e
que corresponde a 84,8% da área cultiva- uva. Várias cultivares e híbridos lançados
da com essas frutas em 2018 (Tabela 6). estão disponíveis no mercado, alguns
As tecnologias citadas na seção dos quais incorporados à cadeia produti-
Tecnologias sustentáveis empregadas va. Um exemplo é a boa aceitação e altas
nas cadeias atendem aos preceitos de produtividades, com custo de produção
sustentabilidade nos seus segmentos relativamente menor, das cultivares de
ambiental, econômico e social, repercu- videira BRS Vitória e BRS Ísis, em parti-
tindo em maior eficiência de uso das áreas cular a primeira (Maia et al., 2014). Com
agricultáveis. Por conseguinte, tem-se a área de produção estável na principal
maiores produções por unidade, redu- região produtora e exportadora de uvas
zindo a demanda por abertura de novas para mesa do País, nos últimos 2 anos,
áreas de cultivo, o que contribui para a o crescimento das cultivares citadas se
manutenção de espaços preservados nas baseou em substituição de algumas das
diferentes regiões frutícolas do País. tradicionalmente adotadas.
32

Tabela 6. Estimativa de poupa-terra devido ao aumento da produtividade na fruticultura brasileira, com foco nas principais frutas de exportação.

Produtividade Produtividade Aumento de Produção Área plantada Área plantada Área poupada
Fruta em 1990 em 2018 produtividade em 2018 em 1990 em 2018 em 2018
(t ha-1) (t ha-1) (%) (t) (ha) (ha) (ha)

Laranja 15,35 28,37 84,8 16.713.000 1.088.795 589.139 499.656


Banana 11,51 15,03 30,5 6.752.000 586.620 449.284 137.336
Melancia 13,03 21,97 68,6 2.240.796 171.972 101.975 69.997
Manga 10,66 20,10 88,5 1.319.296 123.761 65.646 58.115
Limão 15,42 28,06 82,0 1.481.322 96.064 52.784 43.280
Uva 13,72 21,38 55,8 1.591.986 116.034 74.472 41.562
Maçã 18,25 36,18 98,2 1.195.007 65.480 33.029 32.451
Melão 10,52 24,93 137,0 581.478 55.274 23.324 31.950
Tangerina 14,72 19,01 29,1 996.872 67.722 52.450 15.272
Abacaxi 33,28 37,04 11,2 2.650.479 79.641 70.553 9.088
Mamão 32,10 38,10 18,7 1.060.392 33.034 27.250 5.784
Média 64,0 Total 944.491(1)
(1)
A área poupada devido ao aumento da produtividade dessas 11 fruteiras corresponde a cerca de 38% da área cultivada com fruteiras no Brasil, ou seja, de cerca de 2,5 milhões de
hectares.
Fonte: dados de IBGE (2019).
Tecnologias Poupa-Terra 2021
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 33

A tecnologia de manejo da floração para

Foto: Eduardo Girardi


produção em período diferente do estí-
mulo natural das plantas é um exemplo
de ganhos de produtividade na fruticul-
tura (Albuquerque et al., 2002). O alcance
e o crescimento da manga brasileira no
mercado externo, com a consequente
contribuição em geração de divisas para
o País, têm nessa tecnologia um dos ele-
mentos viabilizadores.
Várias práticas e estratégias de manejo in-
seridos na fruticultura atendem aos desa-
fios da produção mais eficiente e integrada
ao ambiente. Nessa perspectiva, o manejo
integrado de pragas e doenças incorpora
cada vez mais agentes de controle bioló-
gico na produção frutícola. Alguns exem-
plos incluem fungos entomopatogênicos,
como Beauveria bassiana e Metarhizium
anisoplae, e inimigos naturais para pragas
como a mosca-minadora (Leal et al., 2018;
Costa-Lima et al., 2019). Bactérias têm
sido ferramentas importantes e têm sido
multiplicadas nas propriedades rurais, em
algumas cadeias, a exemplo de mangicul-
tura e viticultura.
De forma mais direta, uma importante
estratégia de cultivo que reduz o uso
de terras é o adensamento de plantio.
O conceito de cultivos intensificados tem
no adensamento uma de suas bases.
As vantagens para a fruticultura incluem
produções maiores e mais precoces, me-
lhoria na qualidade dos frutos, redução
de custos e possibilidade de mecaniza-
ção de parte dos tratos culturais (Tripathi
et al., 2020). A estratégia é incrementada
com o uso de porta-enxertos e cultivares
copa de menor porte, bem como de mé-
todos de controle da altura das plantas,
34 Tecnologias Poupa-Terra 2021

seja por práticas mecânicas ou por meio podem reduzir os custos com adubação.
de reguladores vegetais. Várias cadeias Os autores ressaltaram que, condições
da fruticultura nacional se beneficiam propícias ao uso de coquetéis vegetais,
desse tipo de manejo, seja por meio de ao longo do tempo, devem aumentar a
uma prática especifica seja por um con- eficiência dos cultivos do meloeiro, im-
junto delas, apresentando ganhos em
pactando positivamente a ciclagem de
uso eficiente de terra, água, nutrientes e
nutrientes e a adição de nitrogênio, além
radiação solar. A cajucultura e a mangi-
do estímulo à biota do solo.
cultura são exemplos importantes.
No que se refere ao manejo do solo, as No cultivo da mangueira, o uso de adu-
práticas adotadas na fruticultura con- bos verdes como cultivos intercalares,
templam o uso de mulching. A técnica independente da sua composição, adi-
é considerada poupadora de água e de ciona nutrientes ao solo, proporcionando
solo, contribuindo para uma produção aumentos de produtividade. A qualidade
sustentável. Segundo Kaur e Bons (2017), química do solo, em relação aos teores
traz benefícios à conservação da umida- de fósforo, matéria orgânica e nitrogênio
de do solo, permite maior eficiência no também é beneficiada (Brandão et al.,
uso de água, ameniza a temperatura do 2017).
solo, suprime o crescimento de plantas
invasoras, melhora as propriedades físi- No caso específico da citricultura, podem
cas, químicas e biológicas do solo, além ser destacadas as seguintes inovações
de prevenir perdas por erosão. Dessa tecnológicas que contribuíram para o
forma, os efeitos conjuntos resultam em grande avanço produtivo com efeito
melhores condições para crescimento, poupa-terra:
produção e qualidade das frutas.
1) Desenvolvimento e uso de novos por-
Alguns estudos também quantifica- ta-enxertos que determinaram maior
ram os benefícios decorrentes do uso precocidade, resistência a diversas
de coquetéis vegetais em sistemas de doenças e maior produção de frutos
produção, como os de meloeiro e da
por volume de copa e com suco de
mangueira. De forma geral, a produção
melhor qualidade.
de matéria vegetal da parte aérea e o
acúmulo de nutrientes aumentam com 2) Adoção de novas variedades-copa e
o uso de coquetéis vegetais, em relação clones mais produtivos de varieda-
à vegetação espontânea (Giongo et al., des-copa tradicionais, e que produ-
2017). O sistema radicular dos coquetéis zem suco de maior qualidade.
vegetais adiciona maiores quantidades
de matéria vegetal e nutrientes ao solo, 3) Maior densidade de plantio associada
quando comparado à vegetação espon- com uso de porta-enxertos ananican-
tânea. A ciclagem de nutrientes e adição tes ou semianicantes e/ou com podas
de nitrogênio por meio de leguminosas inteligentes (Figura 1).
Capítulo 2 Desenvolvimento e sustentabilidade na fruticultura de exportação 35

Figura 1. Densidade de plantio de laranja nos pomares por ano de plantio no Brasil.
Fonte: Tree inventory... (2020).

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36 Tecnologias Poupa-Terra 2021

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43

Foto: Marco Mazucotelli (Pixabay)

Capítulo 3

Menos área
cultivada, mais
tecnologia na
fruticultura de
exportação
Uva, manga e melão

João Ricardo Ferreira de Lima


Jony Eishi Yuri
Maria Aparecida do Carmo Mouco
Patrícia Coelho de Souza Leão
Tiago Cardoso da Costa-Lima
44 Tecnologias Poupa-Terra 2021

O Nordeste do Brasil é um polo produtor incremento de produtividade ocasiona-


e exportador de frutas, sendo suas prin- do por adoção de diferentes tecnologias
cipais culturas a manga, o melão e a uva. e práticas agropecuárias, mencionadas a
Isso é possível com o uso de irrigação e seguir.
de muita tecnologia. Com a possibilida-
de de produzir durante todos os meses
do ano, o polo abastece o mercado in-
Práticas poupa-terra
terno e externo, principalmente a União na produção de uva
Europeia e os Estados Unidos. Contudo, a
A produção de uvas de mesa para ex-
competição com outros países é grande
portação no Submédio do Vale do São
e crescente a cada ano. A vantagem das
frutas brasileiras é que se tem consegui- Francisco está concentrada em cultiva-
do aumentar bastante a produtividade res de uvas sem sementes. Nos últimos
por hectare sem ser necessário aumentar 15 anos, a principal tecnologia responsá-
as áreas dos estabelecimentos, contri- vel por grandes mudanças no sistema de
buindo, assim, para poupar terra. produção e na rentabilidade econômica
da uva envolveram a genética e o melho-
ramento de plantas, com a introdução e
Contextualização rápida substituição de cultivares, como
Thompson Seedless, Sugraone e Crimson
Em 2020, segundo o Comexstat (2021), o
Seedless por novas cultivares de uvas
Brasil exportou cerca de 1,03 bilhão de to-
sem sementes públicas e privadas, de-
neladas de frutas, quantidade a qual tem
senvolvidas pela Embrapa e por empre-
crescido a cada ano, assim como as recei-
sas privadas de melhoramento genético
tas de exportação. As principais frutas ex-
estrangeiras. As cultivares tradicionais
portadas pelo Brasil são mangas, melões
e uvas, que, em 2020, representaram 53% alcançavam produtividades médias de
do volume total de frutas exportadas pelo
País. Os principais destinos da exportação Foto: Paulo Lanzetta

são a União Europeia e os Estados Unidos;


contudo, crescem as exportações para o
Leste Europeu e para a Ásia.
Mangas, uvas e melões são exportados
durante todos os meses do ano, pois
são produzidos de forma irrigada no
Semiárido brasileiro. Porém, os maiores
volumes ocorrem entre os meses de
agosto a dezembro para a manga, entre
setembro e fevereiro para os melões e
entre setembro e dezembro para as uvas.
O Brasil, por sua vez, se destaca na evolu-
ção das estratégias poupa-terra para es-
sas três culturas, pois conta com elevado
Capítulo 3 Menos área cultivada, mais tecnologia na fruticultura de exportação... 45

25 t ha-1 com apenas uma safra anual, fertilidade de gemas e produtividades


associadas a características negativas médias de 50 t ha-1 ano-1 a 60 t ha-1 ano-1
como baixa fertilidade de gemas, susceti- (Leão; Lima, 2016). A oferta de novas culti-
bilidade a doenças e rachadura de bagas vares como BRS Vitória consolidou o con-
durante a colheita no período de chuvas, sumo de uvas sem sementes no País e re-
aumentando os riscos da atividade e ele- duziu os volumes importados no primeiro
vando os custos de produção. semestre do ano, especialmente do Chile.
Por conseguinte, as cultivares de uvas De janeiro a junho de 2019, foram comer-
sem sementes introduzidas nesta última cializadas na Companhia de Entrepostos
década se caracterizam pela alta fertilida- e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp)
de de gemas que permitem alcançar pro- 6,5 mil toneladas de uvas sem sementes
dutividades médias de 50 t ha-1, distribuí- brasileiras, enquanto as importadas fo-
das em duas safras anuais. Além disso, as ram apenas 1,1 mil toneladas (Soprana,
novas cultivares agregam outras caracte- 2019).
rísticas positivas, como menor exigência Desse modo, ao longo da última década,
em manejo da copa e dos cachos, menor apesar da significativa substituição de
utilização de reguladores de crescimento cultivares de uvas de mesa importadas
para aumentar o tamanho das bagas, pelas nacionais, não houve ampliação sig-
e melhoria na qualidade da uva, como nificativa das áreas cultivadas. Os volumes
sabor diferenciado permitindo alcançar produzidos na região, segundo o Instituto
nichos de mercado. Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE,
Um exemplo de sucesso do melhora- 2021), passaram de 232,8 mil toneladas
mento genético de videira na Embrapa em 2004 para 551,3 mil toneladas em
foi a cultivar BRS Vitória (Maia et al., 2014), 2019, ou seja, um incremento de quase
que, adaptando-se às condições tropi- 120%, enquanto a área cultivada, que,
cais semiáridas do Submédio do Vale em 2019, foi de 10.092 ha, aumentou
do São Francisco, destacou-se pela alta 30% nesse mesmo período (Figura 1).

Figura 1. Área e rendimento de uva cultivada no Semiárido brasileiro de 2004 a 2019.


Fonte: IBGE (2021).
46 Tecnologias Poupa-Terra 2021

O aumento de volumes produzidos em 2004 a 2018), na região do Semiárido, ob-


menor área cultivada foi possível pela uti- serva-se uma evolução na área cultivada
lização de cultivares de uvas sem semen- em 52% e incremento no rendimento de
tes produtivas e adaptadas à produção de frutos correspondente a 41%, o que per-
duas safras por ano que, associadas a ou- mitiu aumento de 110% no volume de
tras tecnologias adotadas no sistema de frutos produzidos no período, conforme
produção, permitiram aumentar a produ- pode ser observado na Figura 2.
tividade e assegurar a qualidade da uva.
Ao se avaliar a área total no Brasil de
Entre essas tecnologias, destaca-se a re-
plantio de mangueira, houve uma redu-
dução do espaçamento entre plantas, au-
ção de 3,3% de 2004 a 2019, apesar de a
mentando em até duas vezes a densidade
produção ter crescido 15%, em razão do
de plantas por hectare. O adensamento
rendimento de frutos por hectare, que
de plantas foi associado com a formação
teve um aumento de 19%. Nos últimos
da copa com braço ou cordão duplo, tipo
de formação esse que se tornou comum 15 anos, o incremento na produção de
especialmente com a cultivar BRS Vitória e manga é devido principalmente ao cul-
com as demais cultivares da Embrapa. tivo da mangueira em áreas nas regiões
Nordeste e norte de Minas, que se carac-
terizam pela irrigação e pela utilização de
Práticas poupa-terra na técnicas de poda para orientar a formação
produção de manga de plantas. Destacam-se também as altas
densidades de plantio, com aumento em
O cultivo da mangueira no País tem
até 10 vezes do número de plantas por
grande importância na economia, prin-
hectare ao se compararem com os primei-
cipalmente pela geração de empregos e
ros plantios na região Sudeste.
de divisas, via receitas de exportação. No
levantamento feito para avaliar o desem- Atualmente, os cultivos de manguei-
penho da mangicultura em 15 anos (de ras demonstram elevado nível técnico:

Figura 2. Evolução da área colhida e da produtividade média de manga cultivada no


Semiárido brasileiro, de 2004 a 2019.
Fonte: IBGE (2021).
Capítulo 3 Menos área cultivada, mais tecnologia na fruticultura de exportação... 47
Foto: Shuterbug75 (Pixabay)

tecnologias são adotadas para manejar por mais de 50% da produção e da ex-
a floração, visando à produção em mo- portação desses frutos, seguido pelos
mentos adequados à comercialização; as estados do Ceará, de Pernambuco e da
adubações são orientadas por constante Bahia. Esses estados se destacam em ra-
monitoramento de amostras do solo e zão das condições edafoclimáticas para
de vegetal para repor minerais de acordo o cultivo serem privilegiadas, com clima
com as demandas diferenciadas para cada seco e temperaturas elevadas, ideais para
fase fenológica do cultivo; e o manejo fi- o desenvolvimento da cultura.
tossanitário de doenças e pragas seguem Por tratar-se de uma fruta apreciada
critérios de controle integrado, com ado- mundialmente e, portanto, com o au-
ção de produtos registrados e com menor mento crescente da demanda ao longo
impacto ambiental. No Semiárido brasi- dos últimos 20 anos, pode-se observar
leiro, encontram-se as áreas com man- uma grande evolução tanto da área cul-
gueira responsáveis por mais de 90% da tivada como, principalmente, da produti-
produção destinada à exportação, e onde vidade. Em meados dos anos 1990, a área
são desenvolvidas e utilizadas tecnologias ocupada com a cultura do meloeiro era
diferenciadas que permitem o sucesso do de aproximadamente 10 mil hectares, e a
agronegócio da mangicultura no País. produtividade era em torno de 14 t ha-1
(IBGE, 2021) (Figura 3). Em 2019, a pro-
dutividade cresceu mais que a área plan-
Práticas poupa-terra na tada: a área no Semiárido ultrapassou os
produção de melão 17 mil hectares, isto é, um crescimento
de aproximadamente 70%, e a produtivi-
Em 2019, de acordo com o IBGE (2021), fo-
dade saltou para uma média de 29 t ha-1
ram colhidas 490.175 t de frutos de melão
no Semiárido brasileiro. Desse montante, (IBGE, 2021), um aumento de mais de
aproximadamente 250 mil toneladas fo- 100%. As práticas agrícolas poupa-
ram exportadas, gerando uma receita de -terra, no entanto, garantiram aumento
mais de 159 milhões de dólares em 2019. na produtividade da fruta sem expansão
Em 2020, houve uma pequena queda, e da área cultivada, pois, se fosse mantida
a região exportou em torno de 237 mil a produtividade do final dos anos 1990,
toneladas de melão, gerando cerca atualmente, seriam necessários 33,4 mil
147 milhões de dólares de receita. O Rio hectares para se chegar ao volume pro-
Grande do Norte tem sido o grande pro- duzido em 2018, ou seja, 19.134 ha a
dutor nacional de melão, respondendo mais. Assim, o aumento da produtividade
48 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Figura 3. Evolução da área colhida e da produtividade média de melão cultivado no


Semiárido brasileiro, de 1995 a 2019.
Fonte: IBGE (2021).

acarreta uma série de benefícios, entre • Aplicação de cobertura de solo


os quais maior renda para o produtor e (mulching).
maior eficiência no uso da água, de fer-
tilizantes e de defensivos, além de, con- • Uso de manta agrotêxtil na parte aérea.
sequentemente, uma maior eficiência no • Aumento da densidade de plantio.
uso da terra, minimizando os impactos
do desmatamento de novas áreas. • Aprimoramento do manejo integrado
de pragas e doenças.
De maneira geral, entre os principais fa-
tores para o aumento da produtividade • Mecanização para implementação de
destacam-se: mulching, manta agrotêxtil e auxílio na
• Introdução de sementes híbridas. colheita.

• Adequação no preparo de solo. • Maior qualificação da mão de obra.


• Uso de análise de solo para recomen- • Grande parte desses resultados são
dação de adubação. oriundos de pesquisa agropecuária do
• Utilização de sistema de irrigação loca- setor público e privado, que refletem
lizada (gotejamento) possibilitando a no elevado aumento de produtividade
fertirrigação. das culturas.
Foto: Andrea Füzesi (Freeimages)
Capítulo 3 Menos área cultivada, mais tecnologia na fruticultura de exportação... 49

Perspectivas Semiárido, 2016. 6 p. (Embrapa Semiárido.


Comunicado técnico, 168).
As três culturas abordadas no capítulo MAIA, J. D. G.; RITSCHEL, P.; CAMARGO, U. A.;
(uva, manga e melão) demonstram uma SOUZA, R. T. de; FAJARDO, T. V. M.; NAVES, R. de
L.; GIRARDI, C. L. ‘BRS Vitória’ – a novel seedless
tendência de continuidade de investi- table grape cultivar exhibiting special flavor and
mento em tecnologias que permitam o tolerance to downy mildew (Plasmopara viticola).
aumento de produtividade. Da mesma Crop Breeding and Applied Biotechnology, v.
14, n. 3, p. 204-206, Oct. 2014.
forma, destaca-se a adoção de estraté-
DOI 10.1590/1984-70332014.
gias de manejo que garantam uma maior
SOPRANA, P. Uva sem semente da Embrapa
sustentabilidade aos cultivos, a exemplo desbanca produto importado. Folha de São
do aumento do uso do controle biológi- Paulo, 26 out. 2019. Disponível em: https://
co de pragas e doenças. www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/10/uva-
sem-semente-da-embrapa-desbanca-produto-
importado.shtml. Acesso em: 10 nov. 2019.
Referências
COMEXSTAT. Sistema de Estatísticas do Comércio Literatura recomendada
Exterior. Exportação e importação geral.
Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/ MOUCO, M. A. do C. (ed.). Cultivo de mangueira.
geral. Acesso em: 2 mar. 2021. 3. ed. Petrolina: Embrapa Semiárido, 2015.
(Embrapa Semiárido. Sistemas de produção, 3).
IBGE. Sistema IBGE de Recuperação Automática –
SIDRA. Pesquisa Produção Agrícola Municipal VIEIRA FILHO, J. E. R. Efeito poupa-terra e
PAM – 2019: tabelas. Rio de Janeiro, 2021. ganhos de produção no setor agropecuário
Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/ brasileiro. Brasília, DF: Ipea, abr. 2018. 41 p. (Ipea.
pam/tabelas. Acesso em: 2 mar. 2021. Textos para discussão, 2386).
LEÃO, P. C. de S.; LIMA, M. A. C. de. Uva de mesa VILELA, L.; MARTHA JUNIOR, G. B.; MARCHÃO, R. L.
sem sementes ‘BRS Vitória’: comportamento Integração lavoura-pecuária-floresta: alternativa
agronômico e qualidade dos frutos no Submédio para intensificação do uso da terra. Revista UFG,
do Vale do São Francisco. Petrolina: Embrapa v. 13, n. 13, p. 92-99, dez. 2012.
51

Foto: KarynneGrabovski (Pixabay)

Capítulo 4

Sustentabilidade e
produtividade nos
sistemas agrícolas
de algodão

Liv Soares Severino


52 Tecnologias Poupa-Terra 2021

O desenvolvimento e a adoção de tecno- Esse crescimento deu-se graças ao im-


logias apropriadas para o cultivo de algo- pressionante aumento na produtividade:
dão em ambiente tropical resultou em um que era de somente 140 kg ha-1 de fibra na
grande aumento da produtividade. Assim, década de 1970 e aumentou para cerca de
verificou-se o aumento da produção com 1.730 kg ha-1 na média das últimas cinco
redução da área plantada. Para produzir safras, ou seja, um aumento de 1.100%.
a mesma quantidade de algodão com as As baixas produtividades da agricultura
produtividades da década de 1970, seria brasileira eram recorrentes, pois utiliza-
necessário cultivar 20 milhões de hecta- va-se um modelo agrícola copiado de
res; atualmente, para se produzir a mesma regiões temperadas, e, portanto, inapro-
quantidade, é necessário somente 1,5 mi- priado para o ambiente tropical. Como no
lhão de hectares, em razão da adoção de País os problemas com doenças, pragas
novas tecnologias e meios de produção. e plantas daninhas são muito mais vigo-
rosos, a aplicação do modelo temperado
Evolução da produtividade não permitia a intensificação dos cultivos
no ambiente tropical brasileiro. Assim, o
de algodão no Brasil aumento de produtividade da agricultu-
Entre 1976 e 2020, a produção de al- ra brasileira apenas ocorreu quando se
godão aumentou de 0,6 milhão de to- conseguiu desenvolver um modelo apro-
neladas para 2,5 milhões de toneladas priado ao ambiente tropical.
de fibra, enquanto a área plantada foi No modelo de produção em ambiente
reduzida de 4,1 milhões de hectares tropical desenvolvido no Brasil, a alta
para 1,7 milhão de hectares (Figura 1). produtividade de algodão depende da

Figura 1. Dados históricos da área plantada e da produtividade de algodão no Brasil


entre 1976 e 2019.
Fonte: Conab (2021).
Capítulo 4 Sustentabilidade e produtividade nos sistemas agrícolas de algodão 53

adequada combinação de vários com- 1.100 kg ha-1 na região semiárida do Ceará


ponentes, entre os quais se destacam: e da Bahia; e 2.300 kg ha-1 nos estados de
(i) as características genéticas das cultiva- Goiás e Minas Gerais, que hoje são gran-
res plantadas; (ii) o domínio da química des produtores de algodão. As principais
dos solos tropicais e seu manejo; e (iii) o variedades de algodão da época eram
Sistema Plantio Direto com contínua co- IAC 18, SL 7-1, BR-1 e ALLEN 333/57, as
bertura do solo e sequência de cultivos quais atualmente são consideradas ob-
que combinem características neces-
soletas e, então, não são mais cultivadas.
sárias para o equilíbrio do sistema. Por
conseguinte, em cada componente do No ano de 2017, a produtividade média
sistema, foram empregadas tecnologias de algodão em caroço do Brasil foi de
desenvolvidas ao longo de décadas de 3.000 kg ha-1, ao passo que, nos ensaios
pesquisa científica. de avaliação de cultivares, as melhores
variedades atingiram produtividade
Melhoramento genético de 6.300 kg ha-1 (Pedrosa et al., 2019).
de cultivares de algodão Já entre 1976 e 2017, o melhoramento ge-
nético contribuiu de forma relevante para
Para avaliar a produtividade e a adapta- a agricultura, desenvolvendo cultivares
ção das principais variedades de algo- de algodão mais produtivas, geradas em
dão nas mais diversas localidades, são programas de melhoramento genético
realizados estudos denominados Ensaio diversificados, tais como Embrapa, IMAmt,
Nacional de Cultivares, que são conduzi- Bayer, Monsanto e TMG. Suassuna et al.
dos em pequenas parcelas experimentais
(2020), por sua vez, descrevem os avan-
e com adoção das melhores práticas agrí-
ços tecnológicos que foram obtidos em
colas disponíveis. A produtividade em ex-
30 anos de melhoramento genético do
perimentos, no entanto, é sempre maior
que nas lavouras comerciais, mas, mesmo algodoeiro no Brasil e reportam produti-
assim, são importantes para demonstrar vidades de algumas variedades atingindo
qual é o potencial produtivo naquele 7.600 kg ha-1 em condições experimen-
momento. Dessa forma, os aumentos de tais. Outro fator muito importante foi que
produtividade ocorrem à medida que os as novas variedades de algodão foram
produtores adotam as variedades que se selecionadas não somente para aumentar
mostraram mais produtivas e as tecnolo- a produtividade, mas também para resistir
gias que foram recomendadas. a uma numerosa lista de doenças e pragas
No Ensaio Nacional de Cultivares con- tropicais, para potencializar as caracterís-
duzido em 1978 (Freire; Moreira, 1982), ticas necessárias à colheita mecanizada e
enquanto a produtividade média do para melhorar a qualidade da fibra. Sem
Brasil ainda era de 300 kg ha-1 de al- essas melhorias, não teria sido possível a
godão em caroço, as parcelas experi- intensificação dos cultivos e os aumentos
mentais atingiam produtividades de de produtividade observados.
54 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Fabiano Pierina

Manejo da fertilidade O conhecimento para manejo da fer-


tilidade do solo tropical para lavouras
do solo
de algodão de alta produtividade foi
Em relato do ano de 1984, o uso de ferti- sendo construído passo a passo ao lon-
lizantes nas lavouras de algodão do Brasil go de décadas. Os solos do Cerrado,
atingia, em média, somente 9% da quan- onde ocorreu a expansão da produ-
tidade que deveria ser utilizada, porém os ção de algodão, eram extremamente
resultados experimentais demonstravam pobres em fósforo e muito ácidos.
que a produtividade de algodão poderia Os estudos, entretanto, foram demons-
aumentar até 70% apenas pela fertilização trando os efeitos da correção da acidez
na dose correta com nutrientes limitantes sobre a produtividade (Amedee; Peech,
(Carvalho et al., 1984). Para os padrões da 1976), aperfeiçoando os métodos de me-
época, o aumento de produtividade era dição da acidez e do fósforo e introduzin-
relevante, mas nos valores das referências do outras características da química do
atuais, seria considerado extremamente solo que precisavam ser consideradas
baixo. O documento cita um exemplo de (Quaggio et al., 1985; Montgomery, 1988;
aumento de produtividade de 410 kg ha-1 Pereira et al., 1989). Ao mesmo tempo,
para 625 kg ha-1 de algodão com o forne- foi se estruturando uma ampla rede de
cimento de 75 kg ha-1 de fósforo (Carvalho laboratórios para análise da fertilidade
et al., 1984). do solo, o que possibilitou que o número
Capítulo 4 Sustentabilidade e produtividade nos sistemas agrícolas de algodão 55

de análises de solo feitas no Brasil tripli- por vários anos (monocultivo). O revolvi-
casse entre 1972 e 1989 (Raij et al., 1994). mento do solo é uma prática amplamen-
As doses de fertilizantes foram otimi- te adotada em regiões frias para destruir
zadas para as condições de cultivo do as plantas daninhas e para apressar o
Cerrado e para as variedades modernas aquecimento do solo, favorecendo assim
de algodão (Borin et al., 2017). a germinação das sementes. No entanto,
Os relatos mais atualizados demons- nos solos tropicais, essa prática induz a
tram claramente que as tecnologias uma rápida degradação, causando con-
para manejo da fertilidade do solo no sequências, como redução da matéria
Cerrado foram capazes de superar os orgânica, formação de uma camada com-
principais desafios tecnológicos que ha- pactada que impede o crescimento das
via nos primórdios do desenvolvimento raízes, o escoamento da água ao invés da
desse sistema de produção. As maiores infiltração e a intensa erosão (perda de
produtividades de algodão no estado solo), além de aumentar a incidência de
de Mato Grosso são obtidas em solos plantas daninhas (Lal, 2015).
que adotam sistemas conservacionistas
Na década de 1970, os estados do Ceará
para mantê-los com alto teor de matéria
orgânica (Santos et al., 2020). Os solos, e do Paraná eram dois polos de produção
que inicialmente tinham acidez extrema, de algodão no Brasil. Em 1976, consul-
estão todos dentro de uma faixa próxima taram-se as recomendações técnicas
da neutralidade (pH médio de 6,03 nas recebidas pelos produtores de algodão
áreas cultivadas com algodão). Dessa daqueles dois estados (Sistemas..., 1976a,
forma, são relatados picos de produtivi- 1976b), e observou-se que não havia su-
dade, atingindo 6.255 kg ha-1 de algodão gestões sobre a importância da rotação
em caroço em lavouras comerciais nas de culturas ou da matéria orgânica do
áreas com manejo mais eficiente, o que solo, e se fazia forte incentivo às práticas
demonstra que ainda há significativo tradicionais de aração e gradagem do
espaço para aumento da produtividade solo. A meta de produtividade de algo-
(Santos et al., 2020). dão no Paraná era de 1.750 kg ha-1 para
produtores que dispunham de mecaniza-
ção e de 1.560 kg ha-1 para os produtores
Sistema Plantio Direto
que utilizavam apenas tração animal
O modelo de agricultura predominante (Sistemas..., 1976b). Para o Ceará, a meta
no Brasil anteriormente havia sido co- era a produtividade de 1.200 kg ha-1 junto
piado da Europa e Estados Unidos, com aos produtores de maior nível tecnológi-
algumas poucas adaptações. Por sua vez, co e de 600 kg ha-1 para os produtores
dois elementos desse modelo se mostra- de baixo nível tecnológico (Sistemas...,
ram inadequados para a agricultura tro- 1976a). Salienta-se que, em ambos os es-
pical: a prática de revolvimento do solo tados, as metas lançadas eram desafiado-
antes do plantio (aração e gradagem) e ras, pois a produtividade média nacional
o plantio de uma espécie na mesma área em 1976 era de somente 430 kg ha-1 de
56 Tecnologias Poupa-Terra 2021

algodão em caroço (Conab, 2021). Para foram sendo aceitas e adotadas por parte
conservar os solos, aplicava-se apenas dos produtores (Wiles; Hayward, 1981;
técnicas como plantio em curvas de nível Seguy; Bouzinac, 1998; Seguy et al., 1999;
e construção de terraços, sem questionar Balota et al., 2004; Loss et al., 2012; Souza
a pesada movimentação do solo ou a co- et al., 2018).
bertura do solo.
O conjunto de tecnologias que se con-
No modelo agrícola predominante na vencionou chamar de Sistema Plantio
região Semiárida, havia um pouco de Direto (há muitas variações de nomes e
diversificação devido ao eventual consór- formas de adoção) tem três principais ca-
cio do algodão com culturas alimentares racterísticas: o não revolvimento do solo,
(feijão-caupi e milho) e com a bovinocul- a contínua cobertura do solo com restos
tura, também considerada um elemento vegetais e a rotação de culturas. O desafio
de diversificação (Moreira et al., 1989). científico de desenvolver as técnicas agrí-
Esse sistema de cultivo manteve-se viável colas que permitem o efetivo funciona-
por muitas décadas, possivelmente por mento desse sistema, entretanto, ainda
não incluir o revolvimento do solo, mas está em andamento. Mas, justifica-se sua
tinha produtividades muito baixas, já que larga adoção em razão de suas vantagens
não incluia aporte de nutrientes, avanços econômicas e ambientais. Demonstrou-
genéticos e mecanização. se que a matéria orgânica do solo e as
reservas de importantes nutrientes não
Quando a agricultura brasileira começou
se exaurem com a intensificação do culti-
a se expandir com base em monoculturas
vo quando o sistema inclui a rotação com
(pouca diversidade) e intensa manipula-
uma espécie (milho ou algum capim)
ção do solo, por um lado, houve sucesso
capaz de produzir grande quantidade de
no aumento da produtividade, mas, por
palha (Lammel et al., 2017). A cobertura
outro, foi se constatando que os solos se
do solo também presta o importante
degradavam rapidamente, com aumento
serviço de inibir as plantas daninhas e,
da erosão, formação de camada compac-
consequentemente, reduzir o uso de her-
tada, redução dos nutrientes e vários ou-
bicidas (Ferreira et al., 2018).
tros problemas (Hernani; Fabricio, 1999),
o que também estava sendo observado Em um estudo com 9 anos de duração,
em outras regiões de agricultura intensi- Ferreira et al. (2020) confirmaram que
va no mundo (Lal, 2015). A partir dessas a adição de uma cultura para produção
constatações, iniciou-se o desenvolvi- de palha na sequência de culturas em
mento de um novo modelo de produção rotação não apenas melhorou a pro-
agrícola que, no lugar do revolvimento dutividade do sistema, mas também
do solo, aplicou o aumento da sua cober- aumentou a matéria orgânica do solo,
tura com palha, evitando a erosão. Assim, níveis esses de aumento do carbono
conforme as evidências científicas dos no solo que ajudam a mitigar o efeito
benefícios variados das práticas conser- estufa. Atualmente, os sistemas de pro-
vacionistas foram se acumulando, essas dução de algodão do estado de Mato
Capítulo 4 Sustentabilidade e produtividade nos sistemas agrícolas de algodão 57

Grosso incluem rotação em áreas rele- neste documento consideram somente


vantes com uma extensa lista de culturas: os números isolados da cultura do algo-
milheto (Pennisetum glaucum), soja dão, isto é, se for considerado o aumento
(Glycine max), milho (Zea mays), caupi de produtividade do sistema, seriam de-
(Vigna unguiculata), crotalária (Crotalaria monstrados ganhos muito maiores.
spp.) e braquiária (Brachiaria spp.) (Santos
et al., 2020). Confirmou-se, portanto, que
as produtividades de algodão foram Sustentabilidade da
muito maiores nos sistemas que incluem cadeia produtiva do
rotação de culturas e cobertura do solo. algodão no Brasil
O Sistema Plantio Direto teve um outro
O Brasil é o quarto maior produtor
importante benefício para o aumento
mundial de algodão e o segundo maior
da produtividade: não revolver o solo
exportador dessa fibra. A estimativa
evita a evaporação e perda de parte da
para a safra a ser colhida em 2021 é de
água acumulada no solo, além de evitar
1,4 milhão de hectares, com produção de
as operações de aração e gradagem,
2,5 milhões de toneladas de pluma e uma
que demoram vários dias. Dessa forma,
produtividade média de 1.743 kg ha-1 de
o plantio pode ser feito imediatamente
pluma.
após o início das chuvas ou da colhei-
ta antecessora, pois o solo permanece O Brasil possui a maior produtividade
continuamente sob cultivo e tem melhor mundial de algodão em sequeiro. Dessa
eficiência de aproveitamento da água. forma, com esta alta produtividade, a
Esses detalhes são fundamentais para produção de algodão no Brasil pode
o plantio de dois cultivos na mesma se expandir ainda mais com a explora-
estação chuvosa. Ressalta-se aqui que ção de uma área reduzida, minimizan-
os ganhos de produtividade discutidos do o impacto ambiental da atividade.
Foto: Edna Santos
58 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Adicionalmente, os agricultores brasilei- do Brasil represente apenas 10% da pro-


ros seguem uma legislação ambiental dução mundial, ela corresponde a 30%
avançada, por meio da qual preservam da oferta mundial de algodão certificado
grande parte de suas propriedades como pelo BCI.
áreas de reserva legal e de preservação
ambiental, incluindo margens de rios,
Estratégias e tecnologias
nascentes e montanhas.
poupa-terra na produção
Cerca de 80% da produção de algodão
de algodão no Brasil
no Brasil é certificada pelos programas
Algodão Brasileiro Responsável e Better As cultivares de algodão plantadas no
Cotton Initiative (BCI), os quais atestam Brasil passaram por um longo e rigoro-
que a produção é feita respeitando cri- so processo de melhoramento genético
térios ambientais, sociais e econômicos. para selecionar variedades resistentes
Para conseguir essa certificação, os pro- a uma ampla lista de pragas e doenças
dutores precisam atender a diversas exi- (bactérias, fungos, vírus e nematoides).
gências, tais como preservar nascentes Essa resistência genética permite, por
e margens de rios, conservar o solo e a exemplo, reduzir as quantidades de in-
biodiversidade, seguir rigorosamente a seticidas para controle do inseto pulgão
legislação trabalhista e as convenções (o qual transmite viroses para as quais
internacionais de proteção aos trabalha- algumas variedades já se tornaram resis-
dores (não utilizar trabalho infantil nem tentes, como a doença azul e o mosaico
escravo, prover condições de trabalho da nervura), dispensa o uso de produtos
dignas e sem qualquer discriminação, para o controle da bactéria causadora da
etc.) e respeitar contratos. Essa certifica- mancha-angular e de fungicidas para o
ção abre as portas do produto brasileiro controle da mancha de alternária e reduz
para mercados exigentes em critérios de o seu uso no manejo da doença ramu-
preservação do meio ambiente e da so- lária. A resistência genética ao nematoi-
ciedade. Embora a produção de algodão de-das-galhas também é uma conquista
considerável na superação de problemas
Foto: Fabiano Pierina

fitossanitários no cultivo de algodão.


Ademais, a produção de algodão no
Brasil se insere em um sistema de rotação
de culturas que inclui soja e milho. Existe
uma área significativa em que esse siste-
ma evoluiu para também inserir muitas
outras espécies, tais como capim-bra-
quiária, bovinos, milheto, sorgo e várias
outras culturas em rotação (feijões e
pulse crops, amendoim, trigo, gergelim,
grão-de-bico, mamona, crotalária, etc.).
Capítulo 4 Sustentabilidade e produtividade nos sistemas agrícolas de algodão 59

Essa alta biodiversidade é um dos pilares algodão e o acúmulo de carbono no solo,


para a sustentabilidade da agricultura entre outras características importantes.
tropical, propiciando maior eficiência de
Os resultados comprovaram que o
aproveitamento dos fertilizantes, melho-
Sistema Plantio Direto do algodoeiro,
ria no manejo de plantas daninhas e re-
integrado ao esquema de rotação com
dução da incidência de pragas e doenças.
milho, soja e capim-braquiária ruziziensis,
Estudos demonstraram que, somente
aumentou em 58% o teor de carbono
com a escolha adequada das plantas de
orgânico do solo de Cerrado, na camada
cobertura, a produtividade da lavoura
até 5 cm de profundidade, quando com-
aumentou 14%, além de propiciar outros
parado com o monocultivo de algodão
grandes benefícios ambientais, como
com preparo do solo de forma conven-
proteção do solo, melhor eficiência de
cional, no qual não houve aumento do
aproveitamento da água da chuva e
teor de matéria orgânica. Considerando a
redução da população de nematoides
profundidade de 40 cm, que é a sugestão
(Ferreira et al., 2020).
da proposta 4p1000, o aumento do teor
Além de todos os benefícios citados, o de carbono em 9 anos foi de 17%, taxa
sistema de produção adotado no Brasil 4 vezes maior que a preconizada na pro-
também contribui significativamente posta apresentada na COP21.
no combate às mudanças climáticas.
Vale destacar que esse sequestro de car-
Por exemplo, na 21ª Conferência das
bono é atingido ao mesmo tempo em
Nações Unidas sobre as Mudanças
que a produtividade aumenta (158 kg ha-1
Climáticas (COP21 - Paris, 2015) foi lan-
a mais de fibra a cada ano). Além disso,
çada a proposta “4 por mil”1 que consiste
o produtor de algodão tem vários outros
em aumentar, nos solos cultivados do
benefícios, como a melhor retenção de
planeta, o teor de carbono orgânico à
água e nutrientes, além de maior estabi-
taxa de 0,4% ao ano, e, ao longo de algu-
lidade e resiliência da produção quando
mas décadas, compensar grande parte
ocorrem períodos sem chuvas. Este é
do carbono que é lançado à atmosfera
mais um exemplo com embasamento
por outros meios. Estudos de longo
científico da contribuição que a agricul-
prazo conduzidos pela Embrapa dão
tura brasileira pode oferecer ao grande
sustentação científica à proposta 4p1000
desafio de mitigação do aquecimento
e demonstram como sua implantação é
global, e subsidia o Plano Setorial de
viável no Brasil. O estudo foi conduzido
Mitigação e de Adaptação às Mudanças
continuamente por 9 anos, comparando
Climáticas para a Consolidação de uma
diferentes formas de manejo do solo e
Economia de Baixa Emissão de Carbono
rotação de culturas, com a inclusão de
na Agricultura (Plano ABC – Agricultura
gramíneas para a produção de palha, e
de Baixa Emissão de Carbono).
seus efeitos sobre a produtividade do
Dessa forma, variadas tecnologias mais
1
Disponível em: www.4p1000.org amigáveis ao meio ambiente estão
60 Tecnologias Poupa-Terra 2021

sendo adotadas pelos produtores de Referências


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Capítulo 4 Sustentabilidade e produtividade nos sistemas agrícolas de algodão 61

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62 Tecnologias Poupa-Terra 2021

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63

Foto: Alexandra (Pixabay)

Capítulo 5

Cafés do Brasil
Pesquisa,
sustentabilidade
e inovação

Antonio Fernando Guerra


Jamilsen de Freitas Santos
Lucas Tadeu Ferreira
Omar Cruz Rocha
64 Tecnologias Poupa-Terra 2021

O empenho inovador de cafeicultores, (IBGE, 2019). As  lavouras produtoras de


por meio da adoção de boas práticas e café estão presentes nas cinco regiões
tecnologias desenvolvidas por institui- geográficas, em 16 estados da Federação,
ções de ensino, pesquisa e extensão, nos quais existem 1.448 municípios que
notadamente aquelas integrantes do produzem café, o que corresponde a
Consórcio Pesquisa Café1, coordenado aproximadamente 26% dos municípios
pela Embrapa Café, contribuiu para a brasileiros. A  produção brasileira, em
performance altamente positiva dos 2020, correspondeu a 2,162  milhões
Cafés do Brasil, que, entre outros desta- de hectares, área que inclui as espécies
ques, triplicou seu volume de produção arábica e conilon. Desse total, 276  mil
com redução de 20% da respectiva área, hectares (13%) estão em formação e
ou seja, aproximadamente 500 mil hecta- 1,885 milhão de hectares (87%) em
res, que equivalem a quase duas vezes a produção (Acompanhamento da Safra
área de Luxemburgo. Esse desempenho Brasileira [de] Café, 2021). Assim, a produ-
reforçou a liderança brasileira na cafei- ção de café foi de 63,08 milhões de sacas
cultura mundial, em consonância com os de 60  kg em 2020, com produtividade
aspectos econômico, social e ambiental média de 33,48 sacas por hectare, o que
da sustentabilidade. aponta aumento de 20% da produção
com relação ao ano anterior em decor-
Dados do setor cafeeiro rência, principalmente, da bienalidade
do café arábica, fenômeno fisiológico
e conjuntura atual do cafeeiro que alterna maior produção
O Brasil tem-se notabilizado como o maior numa safra com menor na seguinte. Em
produtor, exportador e segundo maior 2019, o volume de café produzido no
consumidor de café em âmbito mundial, Brasil foi de 49,31 milhões de sacas, com
há várias décadas. O  País possui aproxi- produtividade média de 27,20 sacas por
madamente 264  mil estabelecimentos hectare (Acompanhamento da Safra
produtores de café, dos quais  78% são Brasileira [de] Café, 2019).
considerados da cafeicultura familiar Como o Consórcio Pesquisa Café, coor-
denado pela Embrapa Café, foi criado há
1
O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento
do Café (CBP&D/Café), nome síntese Consórcio Pesqui- pouco mais de 20 anos, se for estabelecida
sa Café, foi criado por meio do Termo de Constituição uma comparação dos dados de 1997 com
(Brasil, 1997) cujo Conselho Diretor é constituído pelos
dirigentes máximos das seguintes instituições: Empresa os da cafeicultura brasileira de 2020, verifi-
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Empre- ca-se a seguinte evolução do setor cafeeiro
sa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig);
Instituto Agronômico de Campinas (IAC); Instituto brasileiro de 1997 a 2020: a área produtiva
Agronômico do Paraná (Iapar); Instituto Capixaba de era de 2,4 milhões de hectares e a produ-
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper);
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
ção de 18,9 milhões de sacas de 60 kg, com
(Mapa); Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado produtividade de 8,0 sacas ha-1, em 1997,
do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (Uesb); Universidade Federal de
de acordo com o Informe Estatístico do
Lavras (Ufla); e Universidade Federal de Viçosa (UFV). Café, Brasil (2013). Com base nos números
Capítulo 5 Cafés do Brasil: pesquisa, sustentabilidade e inovação 65

apresentados, constata-se que, passados Consórcio Pesquisa Café, o qual passou


23 anos, a produção triplicou com a re- a ser coordenado pela Embrapa Café
dução de mais de 20% da respectiva área, em 1999, com o objetivo de formular,
o que corresponde a aproximadamente propor, coordenar e orientar estratégias
500 mil hectares, em média. Tal área, em e ações de geração, desenvolvimento e
termos comparativos, equivale a qua- transferência de tecnologia de café, bem
se duas vezes a área de Luxemburgo. como promover e apoiar atividades de
Além disso, destaca-se que o Valor Bruto pesquisa e desenvolvimento e inovação
da Produção (VBP) do café, que foi de a serem desenvolvidas por Unidades
R$ 20,3 bilhões em 1997, atingiu R$ 36 bi- Descentralizadas da Embrapa, organiza-
lhões em 2020 (Embrapa, 2021). ções integrantes do Consórcio Pesquisa
Café e outras do Sistema Nacional de
Em âmbito mundial, de acordo com a
Pesquisa Agropecuária (SNPA).
Organização Internacional do Café (OIC),
em 1997, a produção foi de 99,9 milhões
de sacas de 60 kg, e o Brasil participou
com 19% desse mercado (Organização
Internacional do Café, 2021). Em 2020,
como a produção mundial foi de 171 mi-
lhões de sacas e a brasileira de 63,1 mi-
lhões de sacas, nossa participação no
mercado mundial subiu para quase 37%,
com redução de aproximadamente 20%
da área de cultivo. Em 1997, o Brasil ex-
portou 16,7 milhões de sacas e, em 2020,
o País contabilizou 44,5 milhões de sacas
exportadas (Conselho dos Exportadores
de Café do Brasil, 2020). Com relação ao
consumo interno brasileiro nesse mesmo
período, nosso país passou de 11,5 mi-
lhões de sacas para 21 milhões de sacas,
de acordo com a Associação Brasileira da
Indústria de Café (2021). Tais números
são ilustrados na Figura 1.
Para implementar o Programa Nacional
de Pesquisa e Desenvolvimento do Café
(PNP&D/Café), instituído em 1997 pelo
(ex) Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC)
e Ministério da Agricultura, Pecuária Figura 1. Evolução do setor cafeeiro brasileiro,
e Abastecimento (Mapa), foi criado o nos anos 1997, 2019 e 2020.
66 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Nesse contexto, várias tecnologias de- A despeito de a área ocupada pelas la-
Foto: Rafael Rocha

senvolvidas no âmbito do consórcio per- vouras de café ser pouco significativa em


mitiram, ao longo das últimas 2 décadas, relação à área explorada com atividades
aumentar a produção dos Cafés do Brasil agrícolas, os Cafés do Brasil contribuem
com a redução da área ocupada com o expressivamente para o agronegócio
cultivo de café. Como o Brasil é o quinto brasileiro tanto no aspecto econômico
maior país do planeta, com uma área total quanto social. Além disso, é possível veri-
de 851,57 milhões de hectares, essa di- ficar que a área ocupada pela cafeicultura
mensão territorial permite-lhe que explore brasileira teve redução de aproximada-
sua área com pastagens, cultivo de lavou- mente 17% nas últimas 2 décadas. Ainda
ras e florestas plantadas em 255,47 mi- assim, nos últimos 20 anos (2001−2020),
lhões de hectares, o equivalente a 30% o volume produzido de café teve acrés-
do território nacional. E, ainda, mantenha cimo de aproximadamente 200% em de-
um alto índice de preservação ambiental, corrência de aumento da produtividade
uma vez que o total da área com florestas das lavouras, conforme demonstrado nos
preservadas no Brasil é de 562,03 milhões números apresentados anteriormente
de hectares, ou seja, 66% do total de (Brasil, 2013; Acompanhamento da Safra
seu território, segundo Miranda (2017). Brasileira [de] Café, 2021).
No caso específico da cafeicultura, a área
em produção corresponde a 1,88 milhão Tecnologias e seu
de hectares, número que representa ape-
efeito poupa-terra
nas 0,73% da citada área explorada em
2019, dados do Cadastro Ambiental Rural O aumento verificado na produção e pro-
(CAR) analisados por estudo da Embrapa dutividade que possibilitou o incremento
Gestão Territorial (Miranda, 2017). da safra dos Cafés do Brasil, mesmo com
Capítulo 5 Cafés do Brasil: pesquisa, sustentabilidade e inovação 67

redução de área ocupada pelas lavouras, com o melhoramento da planta, mas


pode ser atribuído principalmente às tec- também para o desenvolvimento de
nologias desenvolvidas por instituições novas tecnologias de manejo da lavoura,
de ensino, pesquisa e extensão, notada- pois é possível saber se a planta tem ou
mente aquelas integrantes do Consórcio não resistência a certo fator químico ou
Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa biológico e saber qual o momento certo
Café, e, também, pela adoção dessas tec- de fornecer fertilizantes para otimizar o
nologias e boas práticas agrícolas pelos desenvolvimento dos cafeeiros, além de
cafeicultores. Nesse contexto, valem-se outras informações. Vejamos, a seguir,
um relato sucinto dos principais avanços
destacar algumas inovações tecnoló-
das pesquisas com o genoma do café
gicas, inclusive o sequenciamento do
desenvolvido pelo Consórcio Pesquisa
genoma do café, que muito contribuíram
Café: mais de 33 mil genes de expressão
para essa trajetória da cafeicultura brasi- identificados (citados anteriormente);
leira nas 2 últimas décadas. plataforma para diversos estudos (Coffea
arabica): qualidade − aroma, sabor, corpo,
Sequenciamento do acidez e outras características desejáveis;
genoma do café estresse abiótico: tolerância à seca e a
temperaturas elevadas; estresse biótico:
O Projeto Genoma Café, iniciado em ferrugem, bicho-mineiro, nematoides e
2002, no âmbito do Consórcio Pesquisa cercosporiose, entre outros. Além disso,
Café, sequenciou mais de 33 mil genes a genômica do café permitiu ainda de-
da planta. Dessa forma, grande parte senvolver programas de melhoramento
das sequências obtidas foi depositada genético com uso de genotipagem em
em um banco de dados internacional de escala genômica, com o objetivo de pre-
informações biotecnológicas, o National ver o potencial da planta no campo no
Center for Biotechnology Information início de seu desenvolvimento, com as
(NCBI)2. Nesse banco de dados, serão seguintes vantagens: redução de custo;
disponibilizadas as sequências dos ge- redução de tempo para se gerar novas
nes que foram expressos − Expressed cultivares/variedades; maior eficiência
Sequence Tags (EST) − nos tecidos retira- no desenvolvimento da cafeicultura bra-
dos do café, nas suas fases de desenvol- sileira, sem necessidade de incorporação
vimento ou no momento em que esses de novas áreas para manutenção da pro-
tecidos respondiam aos estresses bióti- dução nacional de café.
cos ou abióticos. Por meio desses genes
EST, é possível remontar a molécula de Cultivares mais produtivas
RNA, ou seja, a cópia do DNA (cDNA)
da planta que se expressa no momento O desenvolvimento permanente de
dos estresses. O  genoma do café não é cultivares de cafeeiros que tenham vá-
importante, apenas, para as pesquisas rios atributos positivos de interesse dos
produtores rurais e do mercado, entre os
2
Disponível em: www.ncbi.nlm.nih.gov. quais, maior produtividade, tolerância e
68 Tecnologias Poupa-Terra 2021

resistência a pragas e doenças, e que ge- de produtividade devido às intempéries


rem grãos de alta qualidade e sejam mais climáticas sazonais. Dessa forma, esse
adaptados às condições climáticas das avanço tecnológico possibilitou o desen-
diferentes regiões cafeeiras do País, tem volvimento de genótipos mais produtivos,
sido uma tarefa exitosa e incansável dos o que permite a redução de área de lavou-
diferentes programas de melhoramento ras para o mesmo volume de produção.
genético desenvolvidos pelas instituições
que pesquisam café há várias décadas
no Brasil. Nesse sentido, como exemplo, Plantio do cafeeiro em sistema
podem ser citadas diversas cultivares su- de produção em renque com
periores desenvolvidas por instituições maior população de plantas
do Consórcio Pesquisa Café, portadoras
desses atributos positivos, tais como: Pesquisas com diferentes arranjos de
IAC Catuaí SH3, IAC Obatã 4739, IAC 125 plantas por hectare, posicionamento e
RN, MGS Epamig Ametista, MGS Epamig disposição de plantas na cova, bem como
1194, IAPAR IPR 106, IAPAR IPR 107, número de hastes ortotrópicas, foram
Acauã, Bemtevi, Aranãs, Asabranca, fundamentais para o estabelecimento
Siriema AS 1, Arara, Siriema VC4, IAPAR do plantio em renque. Esse sistema per-
IPR 103, Araponga MG, Catiguá MG 1 e mitiu maximizar a eficiência produtiva
MG 2, Paraíso MG H 419-1, Marilândia ES
das plantas, pois anteriormente a grande
8143, Conilon BRS Ouro Preto, Jequitibá
maioria das áreas de cafezais utilizavam
Incaper 8122, Diamante Incaper 8112 e
Centenária Incaper 8132. Esses genótipos espaçamento do tipo quadrado, na base
apresentam alta rusticidade, e demandam de aproximadamente 3 m x 3 m, com plan-
menor uso de insumos, notadamente, tio de 3 a 4 mudas por cova e menos de
defensivos agrícolas na condução das la- 800 covas por hectare. Nas últimas déca-
vouras e redução de perdas significativas das, verificou-se que, com as novas culti-
vares disponibilizadas, é possível reduzir
Foto: Couleur (Pixabay)

mais a distância entre plantas na linha, para


0,5 m a 0,7 m, com aumentos significa-
tivos de produtividade, especialmente
nas safras iniciais. Assim, atualmente, o
sistema de produção compreende stand
variável com 6.300 a 8.000 plantas por
hectare. Vale ressaltar que esse sistema
de plantio em renque reduz a produção
anual por planta, porém, aumenta a pro-
dução por unidade de área, o que contri-
bui para um menor efeito da bienalidade
de produção das lavouras e promove a
estabilidade da produção brasileira.
Capítulo 5 Cafés do Brasil: pesquisa, sustentabilidade e inovação 69

Adequação da fertilidade

Foto: Rafael Rocha


e nutrição do cafeeiro
Pesquisas realizadas pelo consórcio so-
bre a dosagem dos nutrientes essenciais
para o desenvolvimento do cafeeiro − ni-
trogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cál-
cio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), ferro
(Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), boro (B)
e cobre (Cu) − demonstraram que tais
produtos são essenciais para o incremen-
to da produtividade da lavoura (Ribeiro
et  al., 1999; Guerra et  al., 2005; Prezotti
et  al., 2007). Com os avanços obtidos, é
possível suprir as necessidades da planta
de acordo com o estado fenológico da
cultura no campo: florada e expansão
dos frutos, granação dos frutos e matu-
ração dos frutos. O manejo da fertilidade
do solo está estreitamente relacionado
com a produtividade das plantas, desde
que os demais fatores de produção este-
jam adequados às exigências das cultu-
ras. O  cafeeiro tem como característica
grande exportação de nutrientes do solo,
necessitando de adequada aplicação de
corretivos e fertilizantes para alcançar
altas produtividades. Em geral, necessi-
tam para o ciclo de vida de 16 nutrientes,
sendo três − carbono (C), hidrogênio (H)
e oxigênio (O) − vindos do ar e da água,
que compõem aproximadamente 95%
do total do peso de uma planta, e os 13
restantes divididos em macronutrientes
(N, P, K, Ca, Mg e S) e micronutrientes (Fe,
Mn, Zn, Cu, B, cloro − Cl e molibdênio −
Mo). Como os solos tropicais, via de regra,
são caracterizados pela baixa fertilidade,
a nutrição da planta com esses nutrien-
tes deve ser feita de modo equilibrado
para suprir suas necessidades, tanto para
70 Tecnologias Poupa-Terra 2021

otimizar o desenvolvimento dos frutos condições de sequeiro, com redução no


da carga pendente, quanto para o de- uso de insumos e mão de obra (Guerra
senvolvimento de novos ramos e gemas et  al., 2005). Essas técnicas relacionadas
destinadas à próxima safra. Os resultados ao manejo de irrigação potencializam o
mais recentes indicam que a nutrição dos uso de áreas menores sem perdas na pro-
cafeeiros, quando realizada no momento dução nacional de café. Nesse sentido, as
adequado e em quantidades compatíveis áreas irrigadas são responsáveis por 30%
com a demanda de cada lavoura, poten- da produção nacional de café, graças às
cializa o pleno desenvolvimento vegeta- grandes vantagens do cultivo irrigado
tivo e reprodutivo aumentando, em mé- comparado com o cultivo de sequeiro.
dia, 15% da produtividade e permitindo
a colheita de maior percentual de frutos Estresse hídrico controlado
com potencial para produção de cafés
de qualidade superior. Esse aumento de O cafeeiro apresenta desenvolvimento
produtividade reduz, significativamente, peculiar, pois as fases de crescimento ve-
a necessidade de expansão de áreas para getativo e reprodutivo ocorrem simulta-
atender as demandas atuais crescentes neamente. Na região do Cerrado, quando
de cafés commodities e superiores. o cafeeiro é irrigado durante todo o ano,
as plantas não apresentam períodos de
acentuada redução nas taxas de cres-
Manejo de irrigação do cafeeiro cimento, ocorrendo o aparecimento e
A adoção da irrigação aumenta expressi- desenvolvimento de novos nós ao longo
vamente a produtividade das lavouras de de todo o ano. Nessa situação, podem
café, e, nas últimas décadas, essa prática ocorrer de três a quatro florações, de-
tem sido cada vez mais difundida. Além pendendo das variações climáticas, com
a consequente desuniformidade de ma-
disso, a irrigação viabiliza a produção de
turação no momento da colheita, sendo
café em áreas que não eram aptas para
possível colher no máximo 35% de frutos
esse cultivo. Estima-se que, atualmente, a
no estádio de desenvolvimento deno-
cafeicultura irrigada no Brasil representa
minado cereja, próprio para a produção
quase 300 mil hectares, pouco mais de
de cafés especiais. O  estresse hídrico
12% do parque cafeeiro, de acordo com controlado é uma técnica que expõe os
Fenicafé (2020). Contudo, os ganhos cafeeiros irrigados a um deficit hídrico
com essa técnica podem ser anulados no período de menor demanda hídrica
diante do uso inadequado dos recursos dos cafeeiros, conduzindo-os, após o
hídricos por contribuir para a ocorrência retorno das irrigações, a sincronização
de impactos ambientais significativos. do florescimento, o qual ocorre de forma
Nesse sentido, as tecnologias desen- concentrada e com consequente unifor-
volvidas pelo consórcio resultaram na mização na maturação dos grãos de café
otimização do uso dos recursos hídricos no momento da colheita. Essa técnica
com ganhos de produtividade de 25%, contribui para redução em 33% dos cus-
quando comparados ao cultivo em tos de água e energia e para elevação da
Capítulo 5 Cafés do Brasil: pesquisa, sustentabilidade e inovação 71

produtividade em torno de 10% e, tam- Esse aumento pode ser atribuído à con-
bém, da qualidade a partir da obtenção versão de macroporos em microporos de
de melhor enchimento dos grãos (Guerra baixa retenção (Mib) devido à ação agre-
et  al., 2005). Esses ganhos contribuem gante do sistema radicular da braquiária
para reduzir a abertura de novas áreas de que, quando associada à oferta hídrica
produção. regular, proporciona aumento na amplitu-
de da curva de retenção na faixa de tensão
Braquiária como planta correspondente à água prontamente dis-
de cobertura ponível (APD). Dessa forma, a braquiária
como planta de cobertura, associada às
O sistema de produção de café com uso demais tecnologias mencionadas, aumen-
de braquiária nas entrelinhas, tecnologia ta a produtividade do cafeeiro e favorece
também desenvolvida pelo consórcio, é
uma solução prática de adoção
simples que requer baixo investi-
Foto: Ana Labate

mento e contribui expressivamen-


te para aumentar a produtividade
dos cafeeiros, evitar erosão do solo,
adicionar carbono e nitrogênio,
reciclar nutrientes, melhorar a qua-
lidade físico-hídrica desse solo e
favorecer a estabilidade estrutural
do solo. Essa solução tecnológica
consiste basicamente no cultivo da
braquiária (Brachiaria decumbens)
como planta de cobertura nas en-
trelinhas dos cafeeiros, irrigados ou
de sequeiro, em regiões com oferta
hídrica regular e tem associação
com boas práticas inerentes a esse
cultivo, tais como o seu respectivo
manejo cultural, nutrição equilibrada e, se os atributos químicos e físico-hídricos do
for o caso, manejo da água de irrigação solo, o que melhora a estrutura do solo e a
com adoção do estresse hídrico controla- sua capacidade em armazenar água. Além
do. O sistema de manejo das entrelinhas disso, esse modelo de produção favorece
do cafeeiro com a braquiária como plan- o estoque de carbono nas camadas su-
ta de cobertura promove, na camada perficiais do solo, enquanto a braquiária
de 0,0 a 0,2 m, alterações nos atributos favorece os atributos físicos do solo rela-
físico-hídricos do solo, resultando no cionados à disponibilidade de água para
aumento de 18% a 20% na água pronta- o cafeeiro. Portanto, o cafeeiro, em razão
mente disponível do solo (Rocha, 2014). da sua longevidade, pode armazenar
72 Tecnologias Poupa-Terra 2021

carbono por muitos anos, e, quando asso- mais de 20% e, ainda, reduz a necessidade
ciado à braquiária, além de atender a prin- de mão de obra. A poda do cafeeiro das
cipal premissa do protocolo de Quioto, re- espécies arábica e canéfora compreende
lacionada aos projetos de mecanismo de a eliminação parcial da parte aérea da
desenvolvimento limpo (MDL), de reduzir planta após a colheita. Essa prática ocor-
o CO2 da atmosfera, pode contribuir para re, geralmente, no período de agosto a
o desenvolvimento sustentável da cafei- outubro e tem como principais objetivos
cultura nacional por dar sustentabilidade a renovação por indução de ramos pro-
produtiva e ambiental e, assim, reduzir a dutivos de plantas depauperadas pela
pressão por expansão de área. idade, por lesões causadas por fenôme-
nos climáticos e/ou pela incidência de
Sistemas de poda pragas e doenças. A poda também pode
programar com eficiência a condução e
Os sistemas de poda dos cafeeiros pos- a produção de cafeeiros em sistemas de
sibilitaram combinar diferentes tecnolo- lavouras adensadas, além de reduzir a
gias que contribuem para melhorar o vi- incidência de pragas e doenças, facilitan-
gor das lavouras a fim de que elas atinjam do o seu controle. Ademais permite mais
o máximo potencial produtivo. O princi- luminosidade e arejamento dos cafeeiros
pal ganho dessa prática tecnológica é a em lavouras com fechamento, melhora
manutenção do potencial produtivo das a arquitetura das plantas por renovação
plantas ao longo do tempo, uma vez que e ajuste da estrutura da copa, reduz a
a produção dos cafeeiros ocorre em ra- altura e partes laterais das plantas para
mos novos. A condução adequada das la- facilitar os tratos culturais e a colheita
vouras por sistema combinado de podas nos próximos anos. Assim, o cafeicultor
pode incrementar sua produtividade em tem aumento da vida útil de produção

Foto: Elias Shariff Falla Mardini (Pixabay)


Capítulo 5 Cafés do Brasil: pesquisa, sustentabilidade e inovação 73

dos cafeeiros, com vigor e produtividade, agroquímicos. Essas tecnologias, quan-


sem necessidade de novos plantios para do bem utilizadas, contribuem para a
manutenção do seu volume de produção. expressão do potencial produtivo das
lavouras sem a necessidade de abertura
de novas áreas de produção.
Manejo de pragas e doenças
A incidência de pragas e doenças no Protocolo para
cafeeiro podem causar expressivos micropropagação
prejuízos nas lavouras cafeeiras. Nesse
contexto, vale destacar algumas pragas O protocolo para micropropagação é
de importância econômica que atacam empregado na clonagem do café arábica
as plantas de café e têm sido objeto com características agronômicas supe-
de pesquisas no âmbito do Consórcio riores, que permitem aumento da pro-
Pesquisa Café, tais como a broca-do-café dutividade e melhoria da qualidade do
− Hypothenemus hampei (Coleoptera: produto. Nesse caso, a produção de hí-
Scolitidae); bicho-mineiro − Perileucoptera bridos superiores, por meio da clonagem
coffeella (Lepidoptera: Lyonetiidae); ácaro- do cafeeiro, reduz o tempo necessário
-vermelho − Oligonychus ilicis (Acari: ao melhoramento genético do cafeeiro,
Tetranychidae); cigarrinhas (Hemiptera: permite a produção de mudas em larga
Cicadellidae), entre outras. escala de plantas, com múltiplas caracte-
Com relação às doenças do cafeeiro, as rísticas desejáveis. Essa tecnologia contri-
pesquisas têm se concentrado nas se- bui para redução de área em função de
guintes: ferrugem do cafeeiro (Hemileia uma maior uniformidade das plantas su-
vastatrix), cercosporiose (Cercospora periores com maior potencial produtivo.
coffeicola), manchas de phoma (Phoma
spp.), mancha de ascochyta (Ascochyta Jardins clonais de Coffea
spp.), mancha-areolada (Pseudomonas canephora superadensados
syringae garcae), nematoide-das-galhas com arqueamento constante
(Meloidogyne) e mancha anular do ca-
feeiro (Coffee ringspot virus – CoRSV). Esta forma de condução de jardins clo-
Para mitigar esse problema, o Consórcio nais visa reduzir o tempo necessário para
Pesquisa Café tem intensificado o de- a obtenção de estaquinhas para produ-
senvolvimento de tecnologias para o ção de mudas e possibilita a produção
monitoramento e controle de pragas e de mudas de genótipos superiores des-
doenças na cafeicultura. Nesse sentido, tinadas à renovação do parque cafeeiro.
o manejo integrado de pragas e doenças Pelo sistema tradicional de produção de
da cultura do café contribui na manuten- mudas, em 36  meses pode-se produzir
ção de altas produtividades e qualidade até 2  milhões de mudas por hectare.
de frutos dos cafeeiros, e reduz o custo Com a tecnologia de sistema superaden-
de produção e os potenciais impactos sado, desenvolvida pelo consórcio, nesse
negativos da aplicação excessiva de mesmo período, podem-se produzir até
74 Tecnologias Poupa-Terra 2021

7  milhões de mudas por hectare. Além ACOMPANHAMENTO DA SAFRA


BRASILEIRA [DE] CAFÉ: safra 2021: primeiro
disso, outros benefícios também podem
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component/k2/item/download/34932_ rea7.pdf. Acesso em: 24 fev. 2021.
77

Foto: Riteshman (Pixabay)

Capítulo 6

Aumento de
produtividade
e rentabilidade
de milho com
intensificação
tecnológica

Rubens Augusto de Miranda


Emerson Borghi
Décio Karam
Miguel Marques Gontijo Neto
Roberto dos Santos Trindade
Álvaro Vilela de Resende
Ivenio Rubens de Oliveira
Sidney Netto Parentoni
Simone Martins Mendes
Jason de Oliveira Duarte
78 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Nas três últimas décadas, a produção genética e biotecnologia, a construção


de milho no Brasil quadruplicou, fato de fertilidade do solo e melhorias nos
que permitiu ao País superar a marca de tratos culturais para o controle de plan-
100 milhões de toneladas pela primeira tas daninhas, insetos-praga e doenças.
vez. Nesse processo, a produtividade teve A expansão da cultura do milho em sis-
um papel mais determinante para o au- temas de cultivo, sem a necessidade de
mento de produção do que os acréscimos abertura de novas áreas, estabeleceu o
de área plantada, porque o aumento da Brasil como um dos principais produtores
produtividade tem demandado menor mundiais do cereal, e tal ação foi feita res-
quantidade de terra para incrementar a peitando o meio ambiente, otimizando o
oferta de milho, resultando no efeito que uso de recursos naturais e contribuindo
se convencionou chamar de poupa-terra. com as principais políticas públicas e
• Em 30 anos, a produção aumentou metas conservacionistas hoje vigentes
359%. Essa ampliação acentuada da no Brasil e no mundo, com destaque
produção se deve ao acréscimo da para os Objetivos de Desenvolvimento
produtividade média, que passou Sustentável (ODS). Nesse sentido, desta-
de 1.841  kg  ha-1 em 1989/1990 para cam-se as contribuições para:
5.520 kg ha-1 em 2019/2020 (aumento • ODS 2 (Acabar com a fome, alcançar
de 200%) e uma maior área plantada, a segurança alimentar e melhoria da
que passou de 12,1 milhões de hecta- nutrição e promover a agricultura
res para 18,5 milhões de hectares (au- sustentável);
mento de 53%) no referido período. • ODS 13 (Tomar medidas urgentes para
• Para se produzir os 102,142 milhões combater a mudança climática e seus
de toneladas de milho colhido em impactos); e
2019/2020 com a produtividade média • ODS 15 (Proteger, recuperar e promo-
vigente em 1989/1990 seriam neces- ver o uso sustentável dos ecossistemas
sários 55,5 milhões de hectares. Assim, terrestres, gerir de forma sustentável
apesar do aumento da área plantada, as florestas, combater a desertificação,
18,5  milhões de hectares, foram pou- deter e reverter a degradação da terra e
pados 37  milhões de hectares pelos deter a perda de biodiversidade).
ganhos de produtividade.
A adoção e difusão de novas tecnologias Contextualização
e práticas agrícolas impactaram a produ- A trajetória milenar do milho está profun-
tividade ao superar diversos desafios para damente entrelaçada com a história da
viabilizar o plantio do milho em sucessão humanidade. De sua origem no México
a outras culturas, com destaque para o há 9 mil anos aos dias atuais, o cereal an-
sistema plantio direto (SPD), avanços na gariou o status de cultura agrícola mais
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 79
Foto: Fernando Valicente

importante do mundo. Para justificar 570 milhões de hectares, enquanto nas


tal afirmação, basta olhar o ano agrícola atuais condições tal produção ocorreu
2019/2020, quando a produção mundial em apenas 192,5 milhões de hectares.
de milho grão totalizou 1,11 bilhão de O aumento da produtividade tem de-
toneladas (United States, 2020). O cereal mandado menor quantidade de terra
é a única cultura agrícola mundial que para incrementar a oferta de milho ao
produz anualmente mais de 1 bilhão de mercado, resultando no efeito que se
toneladas, marca que só foi possível al- convencionou chamar de poupa-ter-
cançar por sua importância em diversas ra. Dentre as consequências do efeito
cadeias produtivas, da produção de ali- poupa-terra, destacam-se a liberação do
mentos a combustíveis. solo para outras atividades e menor pres-
O patamar produtivo atual da cultura do são sobre o desmatamento para abertura
milho foi viabilizado com a adoção de de novas áreas de produção.
novas tecnologias e práticas agrícolas. Nos últimos anos, alguns estudos pro-
Há 60 anos, na safra 1960/1961, o mundo curaram mensurar o efeito poupa-terra
colheu 205 milhões de toneladas de mi- na agropecuária brasileira. Vieira Filho
lho grão. Para tanto, o cereal foi cultivado (2016) calculou o efeito na pecuária em
em 105,6 milhões de hectares com uma 324,7 milhões de hectares no período de
produtividade média de 1.942  kg ha-1 1990 a 2015 e na agricultura em 18,6 mi-
(FAO, 2020). Para se obter a safra mun- lhões de hectares, mas no período mais
dial de milho em 2019/2020 com o nível curto entre 2010 e 2015. Em um maior
tecnológico vigente, no início da década horizonte de tempo, Martha Júnior et al.
de 1960, seriam necessários mais de (2012) estimaram o efeito poupa-terra
80 Tecnologias Poupa-Terra 2021

na pecuária em 525 milhões de hectares início do povoamento do interior do País


entre 1950 e 2006. Nesse contexto, o (Prado Júnior, 1990). Mais recentemente,
presente documento tem por objetivo nas últimas décadas, o milho adquiriu
discutir o desenvolvimento da cultura novo papel na expansão das fronteiras
do milho no Brasil e as principais contri- agrícolas, ao ser produzido em sistema
buições tecnológicas e de práticas agrí- no qual o cereal é plantado em sucessão
colas que proporcionaram a esta cultura à soja, dando sustentação a produção da
estar inserida no contexto para o efeito oleaginosa.
poupa-terra.
A Figura 1 ilustra a evolução da produção
de milho no Brasil no decorrer do século
Evolução da produção 20 e início do século 21. Consegue-se
de milho no Brasil visualizar quatro fases da produção de
milho no Brasil durante esse período de
Historicamente, o milho teve um papel
120 anos.
importante na ocupação do território
brasileiro. No Brasil colonial, o cereal foi Na primeira fase, englobando a República
uma das culturas indígenas que evoluiu Velha (1889−1930) ao início do Estado
como atividade de subsistência, durante Novo (1937−1946), a produção de milho
o ciclo do açúcar, no fornecimento de for- passou por um período de estagnação.
ragem à pecuária, setor fundamental no A despeito da falta de evolução, a cultura

Figura 1. Evolução da produção de milho no Brasil, de 1900 a 2020.


Fonte: Conab (2020c) e Ipeadata (2020).
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 81

já demonstrava certa relevância, com Revolução Verde, nas décadas de 1960 e


safras de grãos superiores a 3 milhões de 1970, impactou consideravelmente não
toneladas, e posicionando o milho como apenas a produção agrícola brasileira,
uma das principais culturas agrícolas do mas a produção mundial de forma geral.
País.
Após o pico de produção no início da
A segunda fase é representada pelo década de 1970, a cultura do milho no
primeiro grande ciclo de crescimento País passou por um período de retração
da cultura do milho no Brasil. As  três e só voltaria a superar a marca de 30 mi-
décadas que separam o início do Estado lhões na safra 1991/1992. A terceira fase
Novo a meados do Milagre Econômico é representada pela redução sistemáti-
(1969−1973), a produção de milho cres- ca da produção brasileira de milho até
ceu 500%, passando de 5 milhões de meados da década de 1980. A  principal
toneladas em 1936/1937 para 30,2  mi- razão dessa retração é a ascensão da soja,
lhões de toneladas em 1970/1971. Esse que passou a ocupar áreas do cereal na
crescimento da produção brasileira de região Sul, então celeiro da produção de
milho é explicado tanto pelo aumento grãos do País. A  competição com a soja
da área plantada (acréscimo de 172% no pelo plantio no verão, durante o período
período) como pelo aumento da produti- chuvoso e quente, inicialmente estagnou
vidade (acréscimo de 121% no período) a área plantada e a produtividade do mi-
decorrente da adoção de novas tecnolo- lho, ao empurrar o cereal para áreas mar-
gias e práticas culturais. ginais, mas engendrou a grande revolu-
ção da produção do cereal nas últimas
Nesse ciclo de crescimento da produção,
3 décadas, alterando a geografia e época
é importante destacar a mecanização,
de plantio da cultura (Miranda, 2020).
a tecnologia de sementes e a chamada
Revolução Verde. No período, o número Ao final da década de 1980, começou a
de tratores nos estabelecimentos agro- ganhar relevância o milho plantado ex-
pecuários brasileiros aumentou conside- temporaneamente, em fevereiro ou mar-
ravelmente, saltando de 3.380 unidades ço, quase sempre em sucessão à soja. Esse
em 1940 para 165.870 unidades em milho de inverno, ou segunda safra, pas-
1970, acréscimo de 4.807% (IBGE, 2018). sou a ser popularmente conhecido como
O  avanço da tecnologia de sementes milho safrinha. Nas décadas seguintes,
pode ser ilustrado pelo lançamento do a produção do milho safrinha cresceu
primeiro milho híbrido comercial do consideravelmente, a ponto de relegar o
Brasil, pela Agroceres, em 1945. Nas déca- milho de verão (semeado durante a pri-
das seguintes, a tecnologia de sementes mavera/verão) a um segundo plano. Na
híbridas iria se tornar padrão e constituiu safra 2019/2020, a primeira safra (verão)
um elemento fundamental do desen- de milho respondeu por apenas 25,1% da
volvimento da cultura no País. A  disse- produção total recorde de 102,1 milhões
minação de novas práticas agrícolas e o de toneladas (Acompanhamento da Safra
uso intensivo de insumos no escopo da Brasileira [de] Grãos, 2020). A safrinha de
82 Tecnologias Poupa-Terra 2021

milho é a grande marca desse segundo veio na sequência. A Figura 3 demonstra


ciclo de crescimento da cultura, ao mu- a evolução da produção de milho no
dar a lógica e a estrutura da produção do País por região. Constata-se a evolução
cereal no Brasil. na região Centro-Oeste, tornando-se
a principal região produtora de milho
A Figura 2 ilustra a trajetória de produção
do País, com destaque para o estado
do milho na primeira e segunda safra nos
do Mato Grosso substituindo o Paraná
últimos 30 anos. É possível visualizar que
como grande estado produtor. Na safra
o cultivo no verão permaneceu estagna-
2019/2020, o Mato Grosso respondeu
do, até mesmo com redução nos últimos
por 33,3% da produção de milho no País,
anos, e é o milho safrinha que explica o
com 34 milhões de toneladas colhidas,
crescimento da produção do cereal no
quantidade quase três vezes superior à
País.
colheita paranaense. No Centro-Oeste, o
A soja não apenas induziu a mudança milho é produzido predominantemente
temporal de plantio da maior parte da em sucessão à soja, garantindo maior
produção de milho no País, mas também rentabilidade ao produtor, além também
alterou a geografia da cultura. Na esteira de proporcionar a sustentabilidade do
do avanço da soja na fronteira agrícola, sistema plantio direto (SPD) no bioma
principalmente no Centro-Oeste, o milho Cerrado.

Figura 2. Evolução da produção na primeira e segunda safra de milho no Brasil,


1989/1990 a 2019/2020.
Fonte: Conab (2020a, 2020b, 2020c).
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 83

Figura 3. Evolução da produção brasileira de milho por região, 1989/1990 a 2019/2020.


Fonte: Conab (2020a, 2020b, 2020c).

As contribuições Para se produzir os 102,142 milhões de to-


neladas de milho colhido em 2019/2020
tecnológicas para o
com a produtividade média vigente em
efeito poupa-terra 1989/1990 seriam necessários 55,5 mi-
Segundo os dados da Companhia Nacional lhões de hectares. Em decorrência do au-
de Abastecimento − Conab (2020a, mento de produtividade, foi possível pro-
2020b, 2020c), entre as safras 1989/1990 duzir o montante da safra 2019/2020 em
e 2019/2020, a produção de milho no 18,5 milhões de hectares, em sucessão à
Brasil passou de 22.258 mil toneladas soja. Assim, apesar do aumento da área
para 102.142 mil toneladas (Figura 2). Em plantada, foram poupados 37 milhões de
30 anos, a produção aumentou 359%. Essa hectares pelos ganhos de produtividade.
ampliação acentuada da produção se deve O aumento da área plantada de milho
ao acréscimo da produtividade média, que não significou uma necessidade de mais
passou de 1.841 kg ha-1 em 1989/1990 terras, pois a segunda safra de milho em
para 5.520 kg ha-1 em 2019/2020 (aumento rotação com a soja impulsionou a inten-
de 200%) e uma maior área plantada, que sificação do uso do solo. Em 1989/1990,
passou de 12,1 milhões de hectares para a área plantada total com milho grão,
18,5 milhões de hectares (aumento de 12,1 milhões de hectares, era predomi-
53%) no referido período. nantemente de cultivo no verão, 95,7%
84 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Foto: Gustavo Porpino de Araujo


do total, com muitas áreas subutilizadas ocorreu via intensificação do uso do solo
no inverno, após a colheita. Na safra pela viabilização do cultivo soja-milho.
2019/2020, o milho grão no verão foi Essa particularidade da cultura do milho
cultivado em apenas 4,2 milhões de hec- em poder ser cultivada em diferentes
tares, sendo os demais 14,3 milhões de épocas do ano de forma economica-
hectares plantados na segunda ou mes- mente viável, resultando em múltiplas
mo na terceira safra em sucessão a outras safras, confere um dinamismo adicional à
culturas. Fica evidente que, analisando os cultura em termos de efeito poupa-terra,
dados históricos, o crescimento significa- pois ele não é explicado somente pela
tivo da produção de milho no Brasil foi produtividade. Ao longo das últimas dé-
evidenciado pela tecnologia disponível cadas, a adoção e difusão de novas tec-
aos produtores brasileiros, aumentando nologias e práticas agrícolas impactaram
a oferta de soja e milho na mesma área a produtividade e viabilizaram o plantio
cultivada. Nos últimos 30 anos, a produ- do milho em sucessão a outras culturas,
ção de milho grão quase quintuplicou, e em especial a soja, resultando no efeito
a área de milho verão diminuiu dois ter- poupa-terra, dentre os quais destacam-
ços. Nesse sentido, um efeito poupa-terra -se o SPD, a genética e biotecnologia, a
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 85

construção de fertilidade do solo e os lhe confere uma decomposição lenta na


avanços nos tratos culturais para o con- superfície do solo. Em muitas regiões
trole de plantas daninhas, insetos-praga produtoras, essa palha sobre o solo
e doenças. permanece até o cultivo da soja do ano
agrícola seguinte, diminuindo a presença
Sistema Plantio Direto de plantas daninhas e reduzindo a perda
de solo pelo processo erosivo provoca-
Entre as práticas conservacionistas que do pela chuva. Além disso, as raízes de
conciliam produtividade e conservação milho, que ocupam grande volume em
de recursos naturais, o SPD é adotado em profundidade no solo, formam canais na-
aproximadamente 35 milhões de hectares turais que permitem maior infiltração de
no Brasil (Federação Brasileira de Plantio água e, por meio de sua decomposição,
Direto e Irrigação, 2020). Para as condi- aumentam a ação de microrganismos be-
ções tropicais, esse sistema de cultivo néficos, proporcionando melhorias das
baseia-se em três princípios agrícolas: condições físicas, químicas e biológicas
não revolvimento do solo com imple- do solo e, consequentemente, aumen-
mentos agrícolas, cobertura do solo com tando progressivamente a produtividade
resíduos vegetais (palha) o maior período das culturas ao longo do tempo de ado-
de tempo possível, e rotação de culturas ção do SPD (Borghi et al., 2019).
(Blanco-Canqui; Ruis, 2018). Entre as cultu-
No Brasil Central, o milho semeado após
ras agrícolas que garantem a versatilidade
a soja (cultivo conhecido como milho
do SPD nos diferentes biomas brasileiros,
safrinha) garante o avanço do SPD em
o milho é considerado estratégico para a
muitos estados brasileiros. O  cultivo
sustentabilidade dessa técnica, uma vez
soja/milho safrinha foi estabelecido gra-
que apresenta características importantes
ças aos avanços tecnológicos nas duas
como a ampla adaptabilidade e estabili-
culturas, permitindo reduzir o ciclo da
dade produtiva mesmo em cultivos ou-
soja e, na sequência, garantir o plantio
tonais, pois permite finalidades múltiplas
do milho em SPD. Kappes (2013) relatou
para cultivos em rotação ou sucessão à
que o melhoramento da soja ao longo
soja e, ainda, é consorciado com outras
das últimas décadas, buscando a preco-
espécies vegetais como nas modalidades
cidade aliada ao hábito de crescimento
de cultivos em integração lavoura-pecuá-
indeterminado na soja, provocou, tam-
ria-floresta (ILPF) (Borghi et al., 2013).
bém, uma antecipação na época de se-
A escolha do milho para compor um sis- meio da soja em quase 50 dias, quando
tema de rotação de culturas para o SPD comparada à época de 1985/1990. Em
se deve a muitas razões. Pertencente à 30 anos, graças aos avanços tecnoló-
família Poaceae, o milho tem grande ca- gicos para essas duas culturas, a área
pacidade de produção de palha, acima cultivada de milho safrinha saltou de
de 13 t ha-1 (Resende et al., 2016) e de 256 mil hectares na safra 1989/1990
alta relação carbono/nitrogênio, o que para 13,73 milhões de hectares na safra
86 Tecnologias Poupa-Terra 2021

2019/2020. Com pesquisas adaptati- respectivamente, 54% e 61% da área de


vas nas regiões produtoras, técnicos soja da safra 2019/2020. Outros estados,
capacitados e o produtor empregando como São Paulo, Rondônia e Tocantins,
as melhores práticas agrícolas visando que vêm aumentando a área cultivada
potencializar a produção e otimizar os com soja nos últimos anos, também ado-
recursos naturais disponíveis, a produ- tam o milho na sequência, consolidando
tividade de milho safrinha, consideran- o aumento expressivo de área do SPD no
do essa mesma série histórica, passou Brasil pelo o binômio soja/milho. Nestes
de 966 kg ha-1 em 1989/1990 para estados, esse cultivo sequenciado já re-
5.454 kg ha-1 em 2019/2020. presenta 48%, 58% e 23% da área cultiva-
da com soja, respectivamente (Tabela 1).
De acordo com Contini et al. (2019), o
milho cultivado em rotação, sucessão e A Tabela 2 demonstra uma análise
consórcio, graças à ampla plasticidade da área cultivada e da produtividade
e adaptabilidade dos cultivares dispo- das duas culturas na última década,
níveis no mercado, apresenta produtivi- também a partir dos dados da Conab
dades na safrinha iguais ou superiores (2020c, 2020d). Nesse período, enquan-
à época de cultivo no verão. Graças a to a área cultivada com soja cresceu 63%
essa amplitude de possi-
bilidades, o milho safrinha Tabela 1. Área cultivada de soja e de milho segunda safra nos
principais estados produtores dessas culturas no Brasil, na safra
representa a viabilidade 2019/2020.
econômica para adoção
Área cultivada (mil hectares)
do SPD pelos produtores
Região/UF Milho
brasileiros (Miranda et Soja (a) segunda b/a
al., 2011). Dados de área safra (b)
cultivada que compõem o Brasil 36.949,0 13.735,8 37%
relatório de acompanha- Centro-Oeste 16.640,1 8.926,2 54%
mento de safra elaborado Mato Grosso 10.004,1 5.414,4 54%
pela Conab, em agosto de Mato Grosso do Sul 3.016,4 1.840,0 61%
2020, demonstram que Goiás 3.545,1 1.633,7 46%
37% da área cultivada de Distrito Federal 74,5 38,1 51%
soja no Brasil recebeu o Sul 12.085,1 2.259,2 19%
milho na sequência. A  re- Paraná 5.502,7 2.259,2 41%
gião Centro-Oeste adota Sudeste 2.757,1 973,6 35%
esse sistema de cultivo em Minas Gerais 1.647,3 442,8 27%
maior proporção (54%), e São Paulo 1.109,8 530,8 48%
os estados de Mato Grosso Norte 2.110,0 531,2 25%
e Mato Grosso do Sul são Rondônia 348,4 186,0 53%
os maiores produtores des- Tocantins 1.078,0 240,7 22%
sa sequência soja/milho Pará 607,4 101,1 17%
em SPD, representando, Fonte: Conab (2020c, 2020d).
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 87

Tabela 2. Evolução de área (milhões de hec- toneladas, graças à rotação soja/milho


tares), de produtividade (kg ha-1) e percentual
de crescimento das culturas da soja e do milho em SPD.
safrinha entre os anos agrícolas 2009/2010 a
2019/2020. Como política pública, o SPD faz par-
te do Plano Setorial de Mitigação e de
Produtividade
Área
(kg ha-1)
Adaptação às Mudanças Climáticas para
Soja a Consolidação de uma Economia de
2009/2010 18,1 2.671
Baixa Emissão de Carbono na Agricultura
2019/2020 29,5 3.466
(Plano ABC). Desde 2011, o Plano ABC
Crescimento (%) 63 30
incentiva produtores para adesão de
tecnologias produtivas sustentáveis e
Milho
comprovadamente eficientes na mitiga-
2009/2010 4,9 4.164
ção dos gases de efeito estufa. De acordo
2019/2020 13,7 5.454
com a nota informativa elaborada em
Crescimento (%) 280 30
2018 pela Coordenação de Agropecuária
Fonte: Dados obtidos da série histórica disponível pela
Conab, Acompanhamento da Safra Brasileira [de] Grãos Conservacionista, Florestas Plantadas e
(2020).
Mudanças Climáticas sobre a adoção e
mitigação de gases de efeito estufa pelas
(incremento de 11,5 milhões de hecta- tecnologias do Plano ABC, foi demons-
res na área cultivada), o milho safrinha trado que, entre 2010 e 2016, o SPD ex-
aumentou em maior proporção de área pandiu em 9,97 milhões de hectares, cor-
cultivada (280%), porém, somente em respondendo a 125% da meta proposta
8,8 milhões de hectares. A  produtivi- pelo governo para aumento da área
dade das culturas, considerando essa cultivada com essa tecnologia no País
mesma série de dados, cresceu de forma até 2020 (8 milhões de hectares). Nesse
homogênea, 30% para ambas. Assim, é mesmo período, de acordo com a série
possível inferir que a área cultivada com histórica da Conab, a área de milho safri-
milho safrinha expandiu em maior pro- nha aumentou 5,29 milhões de hectares,
porção considerando a última década, acompanhando o avanço da soja. Assim,
porém, esse aumento foi proveniente do considerando os dados do relatório e a
avanço no cultivo da soja. Embora a ex- área expandida de cultivo de milho safri-
pansão da leguminosa esteja em maior nha no período de 2010 a 2016, pode-se
evolução pela possibilidade de cultivo observar que, com a tecnologia do SPD
sob áreas de pastagens degradadas no por meio do cultivo do milho semeado
bioma Cerrado, o cultivo do milho no após a soja, esse sistema de rotação pode
outono/inverno, semeado imediata- ter contribuído com 66% da meta pro-
mente (ou simultaneamente) à colheita posta na política nacional do Plano ABC.
da soja, consolidou a intensificação pro- Considerando o potencial de mitigação
dutiva no Cerrado com essas culturas, anual proposto no Plano ABC para o
resultando no aumento no volume de SPD (1,83 Mg CO2 equivalente ha-1 ano-1)
milho produzido em 54,3 milhões de (Plano..., 2012) e o período de 2010 a 2016,
88 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Gisele Rosso

o SPD foi responsável pela mitigação de Borghi et al. (2019), fatores como os des-
18,25 milhões Mg CO2 equivalente, critos acima tornam o milho indispen-
e, deste total, o cultivo do milho sa- sável para a intensificação sustentável
frinha contribuiu com 9,6 milhões da agricultura brasileira, possibilitando
Mg CO2 equivalente1. aumentar a oferta de alimentos em
áreas já ocupadas pela agricultura, com
O milho é a segunda cultura produtora sistemas produtivos cada vez mais inten-
de grãos no Brasil, atrás apenas da soja. sivos, resilientes e otimizando o uso dos
Assim, com a possibilidade de cultivo em recursos naturais disponíveis (Resende
safrinha, a rotação soja/milho safrinha et al., 2019).
aumentou o rendimento econômico
do produtor na mesma área, tornando Contribuições da intensificação
este sistema sustentável. De acordo com tecnológica da cultura do
milho nas áreas de genética
1
O cálculo efetuado, neste documento, refere-se ape-
nas a uma estimativa, com o objetivo de evidenciar e biotecnologia para o
uma contribuição pelo cultivo do milho safrinha, efeito poupa-terra
tendo como referência o valor de mitigação proposto
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abasteci-
mento (Mapa) para o SPD. Para maior assertividade Para atender a demanda mundial por ali-
sobre a contribuição do milho safrinha, novos estudos mentos e biocombustíveis nas próximas
devem ser conduzidos para conhecer o valor real de
mitigação, considerando exclusivamente o sistema
décadas, será necessário duplicar os ren-
soja/milho. dimentos de culturas como milho, arroz,
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 89

trigo e soja (Ronald, 2011; Alexandratos; em 1976 para 185 sacas ha-1 em 2009, com
Bruinsma, 2012; FAO, 2012). Os aumentos um ganho médio de 2 sacas ha-1 ano-1.
de produtividade de milho no mundo Essas mudanças decorreram de estra-
ocorrem a uma taxa de 1,6% ao ano, e é tégias de substituição de cultivares no
necessário que essa taxa se eleve a 2,4% Brasil, passando de híbridos duplos na
para garantir as demandas globais pre- década de 1970, para híbridos triplos nas
vistas para 2050 (Ray et al., 2013). décadas de 1980 e 1990. A partir de 2000,
Estudos para avaliar os ganhos em produ- predominam no País os híbridos simples
tividade obtidos para a cultura do milho e transgênicos que permitem a máxima
nos EUA nos últimos 50 anos indicaram expressão da heterose. Esta última carac-
que 48% desses ganhos foram por causa terística é definida como o aumento em
do melhoramento genético e 52% por produção ou vigor nas progênies a partir
mudança nas práticas de manejo da cul- do intercruzamento entre indivíduos con-
tura (Duvick, 2005). Esses estudos mos- trastantes, possibilitando obter cultivares
traram, ainda, que o ganho em produti- mais produtivas, resistentes a estresses e
vidade na cultura do milho foi em razão, de manejo facilitado (Shull, 1908; Hallauer;
principalmente, da melhoria de caracte- Carena, 2009; Tang et al., 2010).
rísticas que promove maior eficiência na Cabe destacar, no Brasil, o grande im-
produção de grãos e maior resistência pacto das mudanças em programas de
aos estresses bióticos e abióticos. melhoramento de milho decorrentes do
O progresso genético obtido pelo melho- advento da produção de milho segunda
ramento de milho no Brasil foi estudado safra, conhecido como milho safrinha,
por Von Pinho et al. (2016). Verificou-se implantado principalmente numa mes-
que entre 1976 e 2015 a produtividade ma área em sucessão às lavouras de
de grãos da cultura aumentou 331% soja. Figueiredo et al. (2015) relatam os
(de 1.632 kg ha-1 para 5.396 kg ha-1) e que efeitos da interação genótipo x ambiente
esse aumento em produtividade foi o quando os mesmos híbridos eram utili-
maior responsável para que a produção zados em condições de primeira safra e
nacional passasse de 19,3 milhões de to- de safrinha. O  melhoramento genético
neladas para 84,3  milhões de toneladas direcionado para seleção de cultivares de
nesse período. Um dos principais fatores milho para a segunda safra tem focado
para explicar esse aumento em produtivi- em características como maior preco-
dade do milho no Brasil foi a disponibili- cidade (ciclo mais curto permite que a
zação de novos híbridos mais produtivos cultura aproveite o final da estação chu-
em conjunto com os ajustes realizados no vosa após a colheita da soja), dry down
sistema de produção. Oliveira (2013) com- (secagem rápida que permite antecipar a
pilou dados de produtividade oriundos colheita), stay green (planta continua ver-
de propriedades consideradas de médio de e fotossintetizando enquanto os grãos
a alto investimento, observando uma ele- secam), maior tolerância a acamamento
vação da produtividade de 120 sacas ha-1 e quebramento (para permitir colheita
90 Tecnologias Poupa-Terra 2021

mecânica) e maior resistência a doenças. que, na safra 2018/2019, cerca de 90% da


Isso permitiu que os novos híbridos para área cultivada de milho correspondeu a
cultivo em segunda safra mostrassem cultivares geneticamente modificadas
maior adaptabilidade (produzir bem em (Isaaa, 2018). De 166 cultivares de milho
diferentes regiões) e estabilidade de pro- disponíveis para comercialização na
dução (menores variações na produção safra 2018/2019, 123 eram portadoras
em diferentes épocas e anos). de eventos transgênicos (Pereira Filho;
Borghi, 2020). Esses dados atestam a
Dentre as tecnologias que permitiram
aceitação dessa tecnologia por parte do
uma maior intensificação da produção
agricultor e a resposta do mercado de
de milho no País está a adoção da trans- sementes a essa demanda.
genia. O uso de lavouras com resistência
ao glifosato possibilitou o controle de Estudo de 2018, conduzido pela
plantas daninhas em grandes áreas com Agroconsult e o Conselho de Informa-
um aumento na janela de aplicação do ções sobre Biotecnologia (CIB), intitulado
herbicida na cultura, permitindo realizar- Impactos econômicos e socioambientais da
-se a dessecação da área antes do plantio. tecnologia de resistência a insetos no Brasil:
análise histórica, perspectivas e desafios
A segunda grande intervenção tecnoló-
futuros (Impactos..., 2018), analisou o
gica da biotecnologia em milho foi o con-
impacto econômico da adoção da trans-
trole de insetos que, associado ao manejo
genia nas culturas de soja, milho e algo-
integrado de pragas, foi fator fundamental
dão no período de 2010 a 2018. A receita
para a obtenção de melhores resultados.
adicional das três culturas somadas foi de
Com a liberação dos primeiros eventos R$ 25,1 bilhões. Esse resultado é oriundo
transgênicos para a cultura do milho no de uma produção adicional com o uso
País a partir do ano de 2007, a dinâmica da tecnologia organismo geneticamente
na cadeia produtiva se alterou a tal ponto modificado (OGM) de controle de insetos

Foto: Fernando Valicente


Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 91

da ordem de 55,4 milhões de toneladas visando aumentar os efeitos de hetero-


de grãos, sendo 4,55 milhões de tonela- se para ganhos genéticos na cultura.
das de soja, 50,8 milhões de toneladas • Aplicação de fenotipagem em larga
de milho e 46 mil toneladas de algodão. escala, como uso de drones e câmeras
Em relação a custos, constatou-se a ocor- hiperespectrais para avaliação do de-
rência de um investimento adicional de senvolvimento de cultivos.
R$ 3,6 bilhões, com os gastos em semen-
tes transgênicas, superando a economia • Aplicação de estratégias para relacio-
com a redução de defensivos. Isso resultou nar de forma mais fidedigna o fenótipo
em R$ 21,5 bilhões de lucros agregados e com o genótipo, o que inclui o uso de
R$ 17,5 bilhões em relação ao milho. O es- técnicas para genotipagem e/ou se-
tudo ressalta ainda que parte expressiva quenciamento de genomas.
dos benefícios atribuídos à tecnologia de • Busca de estratégias que possibilitem
resistência a insetos pode ser analisada a redução do tempo para desenvol-
sob o ponto de vista ambiental. De acordo vimento de novas cultivares, como
com as estimativas, houve uma retirada aumento dos ciclos/ano de avaliação/
de 2,6 milhões de toneladas de CO2 equi- avanço de cultivares, a seleção assistida
valente da atmosfera, com a redução de para acelerar a introgressão de caracte-
112 mil toneladas de inseticida, 144  mi- res, o uso de tecnologia de duplo-ha-
lhões de litros de combustível e redução de ploides, e o resgate de embrião dentre
área plantada no período de 2013 a 2018. outras estratégias.
Ademais, o estudo da Agroconsult/CIB
• Uso de transgenia e/ou edição de ge-
(Impactos..., 2018) é um projeção até
nomas para obtenção de cultivares
2027/2028, mensurando benefícios agre-
com características de interesse de for-
gados da ordem de 107,1 milhões de to-
ma mais direcionada e assertiva.
neladas, R$ 70,5 bilhões em faturamento,
redução total dos custos em R$ 15,8 bi-
lhões e R$ 86,3 bilhões em lucros totais. Fertilidade do solo e sua
Essas informações desagregadas para relação com a intensificação
a cultura do milho foram estimadas em sustentável da cultura do milho
86,1 milhões de toneladas, R$ 40,4 bilhões
A maior parte da superfície agricultável
em faturamento, redução total dos custos
do Brasil é composta por solos muito
em R$ 3,2 bilhões e R$ 86,3 bilhões em lu-
intemperizados, oxídicos e naturalmen-
cros totais. Em termos de tecnologias por-
te desprovidos de reservas abundantes
tadoras de futuro para avanço da genética
de nutrientes. Por isso, a construção
de milho no Brasil, percebe-se cada vez
química da fertilidade constitui a etapa
mais a importância de tecnologias como:
inicial e a base indispensável para que a
• Introgressão de germoplasma elite, intensificação de uso das terras seja bem
principalmente de origem temperada sucedida. Como resultado de pesquisas
em combinação com material tropical, iniciadas há mais de 50 anos, já estão
92 Tecnologias Poupa-Terra 2021

bem estabelecidas e razoavelmente dis- manejo cultural e de adubações, é possí-


seminadas as práticas envolvendo a uti- vel produzir satisfatoriamente com ajustes
lização de corretivos e fertilizantes para para redução das doses de fertilizantes
que solos ácidos e nutricionalmente de- nas adubações de manutenção, a exem-
ficitários possam se tornar aptos a supor- plo dos adubos fosfatados, cujas taxas de
tar atividades de produção agropecuária aproveitamento podem aproximar-se de
rentáveis. 100% no SPD (Sousa et al., 2016), condição
de eficiência muito superior às reportadas
Onde a terra é cultivada de forma tecni-
até então.
ficada, com lavouras há mais tempo, o
efeito residual das adubações sucessivas Historicamente, o desempenho da agri-
promove o incremento gradual das reser- cultura brasileira tem mantido estreita
vas de nutrientes no sistema. Como con- e direta relação com a utilização de
sequência desse processo, consolida-se adubos. Ao longo das últimas 5  déca-
uma tendência de aumento de áreas em das, a produção e a produtividade das
que a disponibilidade atual de nutrientes principais culturas vêm aumentando, em
já se encontra acima dos níveis críticos, paralelo com o crescimento no consumo
caracterizando os solos de fertilidade de fertilizantes. Entre 2000 e 2015, o uso
construída. Para as lavouras nessa con- de fertilizantes cresceu 87%, convergin-
dição, emergem oportunidades de uso do no significativo aumento de 150% na
mais racional de fertilizantes, sem perda produção de grãos, no mesmo período
de rendimento das culturas, mantendo a (Embrapa, 2018). Ao constituir um dos fa-
fertilidade do solo e aumentando a ren- tores que promovem a elevação do ren-
tabilidade ao produtor (Resende et al., dimento por área, a adubação tem contri-
2019). buído para reduzir a pressão de abertura
de novas terras para uso agrícola no País
A consolidação do uso de sistemas con-
(Lopes; Guilherme, 2007). Portanto, como
servacionistas de manejo, como o SPD
a expansão de área cultivada vem ocor-
com diversificação de espécies, é outo
rendo em proporção bem menor do que
fator que tem favorecido a melhoria da
os acréscimos na demanda de fertilizan-
fertilidade. Essa vantagem decorre da pre-
tes, fica claro que esse investimento na
venção de perdas por processos erosivos e
manutenção da fertilidade dos solos é
por indisponibilização de nutrientes, mas,
uma das tecnologias de produção agro-
sobretudo, pela conservação da matéria
pecuária que contribuem para o efeito
orgânica do solo, incrementando o po-
poupa-terra no Brasil.
tencial produtivo das lavouras e, por con-
sequência, o efeito poupa-terra. Dados O milho ocupa a segunda posição em
da Embrapa Cerrados comprovaram que área cultivada, após a soja, e o consumo
o SPD consolidado possibilita produtivi- de nutrientes nessas duas culturas cor-
dade de milho 6% maior que no sistema responde a mais de 50% dos fertilizantes
de preparo convencional do solo (Sousa aplicados aos solos brasileiros atualmen-
et al., 2016). Conforme o histórico de te. Na esteira dos avanços tecnológicos,
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 93

as estatísticas do uso de fertilizantes no ganhos de eficiência produtiva decor-


Brasil confirmam que a cultura do milho rentes do desenvolvimento e aplicação
evoluiu quanto à eficiência produtiva, em das tecnologias de cultivo, do que pelo
que os crescentes ganhos de rendimento aumento da área plantada.
por área ocorreram paralelamente a uma
menor dependência de fornecimento de Tratos culturais
nutrientes.
Comparando as entregas de fertilizan- O manejo de plantas daninhas
tes NPK no ano de 2008 com a média
dos anos de 2013 a 2016, verifica-se um As plantas daninhas deveriam ser con-
aumento de cerca de 27% no consumo sideradas o principal problema para a
global da cultura no período (Figura 4). agricultura mundial, uma vez que a or-
Já a correspondente quantidade aplicada ganização ambiental da Nova Zelândia
por hectare de milho cultivado teve um (Land Care of New Zealand) estima as per-
incremento menor, de 17%, enquanto a das mundiais ocasionadas pelas plantas
relação de consumo de NPK para cada daninhas na ordem de 95 bilhões de dó-
tonelada de grãos produzida apresentou lares por ano, e 78% deste valor é perdido
decréscimo de 13% no mesmo período nos países em desenvolvimento (FAO,
(Figura 5). Portanto, esses indicadores 2009). As perdas estimadas pelas plantas
reforçam a percepção de que a crescente daninhas, em porcentagem de redução
produção de milho ao longo da série his- do rendimento, estão entre 5% e 10% em
tórica se concretizou, muito mais pelos países desenvolvidos e de 20% a 30% em

Figura 4. Evolução do consumo global de fertilizantes NPK na cultura do milho no


Brasil, no período de 2008 a 2016.
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2010, 2014, 2018).
94 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Figura 5. Evolução da taxa de aplicação de NPK por hectare e da relação consumo de


fertilizante/produção de grãos na cultura do milho no Brasil, no período de 2008 a
2016.
Fonte: Adaptado de Cunha et al. (2010, 2014, 2018).

países em desenvolvimento (FAO, 2006). estimadas mundialmente, em 2001 a


Já para Oerke (2006), o potencial de perda 2003, entre 5% e 19%, sendo o menor
por plantas daninhas é de 34%, enquanto valor encontrado na Europa e o maior
a perda média atual está na casa de 10%, índice encontrado na África. Entretanto,
isto em razão do uso de tecnologias para o potencial médio de perda pode chegar
o controle dessas plantas. Considerando a 40% (Oerke, 2006).
a perda de 10% como certa, pode-se di- O efeito ocasionado pelas plantas da-
zer que, nas últimas três safras, o Brasil ninhas pode ser classificado de duas
pode ter deixado de colher mais de maneiras:
50 milhões de toneladas de grãos em fun-
ção da presença de plantas daninhas no 1) Direto, ocasionado pela interferên-
campo. Contudo, no cenário mais otimis- cia no quantitativo da redução da
ta, considerando que as perdas nacionais produtividade
estão entre as mais baixas no mundo, o 2) Indireto, em que ocorre a depreciação
Brasil deixou de produzir por volta de da qualidade dos grãos colhidos no
12 milhões de toneladas de grãos na sa- momento da comercialização.
fra 2019/2020.
Com a introdução de tecnologias que
As reduções na produtividade do milho propiciaram o agricultor manejar as
pelo efeito das plantas daninhas foram plantas daninhas de maneira mais
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 95

econômica e prática, cita-se a intro- diretamente no retorno financeiro al-


gressão de genes tolerantes a plantas mejado pelos produtores. Em casos ex-
daninhas. Atualmente, a eficácia do ma- tremos, o custo para o controle torna-se
nejo de plantas daninhas por meio da inviável levando ao abandono de lavou-
aplicação de boas práticas agrícolas tem ras, o que, por si só, pode representar um
reduzido os custos de produção no siste- aumento no foco de pragas para toda a
ma soja/milho sem degradação do meio região onde tal situação ocorrer.
ambiente, embora possam ser vistos Não é possível ignorar o fato de que,
casos pontuais de infestação de plantas no Brasil, a principal safra de milho é a
daninhas de difícil controle e da presença segunda (safrinha), a qual ocorre em pe-
de espécie que apresenta resistência a ríodos do ano com maiores riscos climá-
herbicidas. ticos, como o estresse hídrico. Essas con-
Tecnologias como o uso de herbicidas dições climáticas favorecem a ocorrência
na dessecação de plantas, sejam elas de pragas importantes que têm causado
daninhas ou de cobertura, visando à im- grandes prejuízos, como a cigarrinha-
plantação do SPD, contribuíram com o -do-milho (Dalbulus maidis), inseto-vetor
de patógenos responsáveis pelo enfeza-
sucesso da rotação e/ou sucessão de cul-
mento do milho, cujas perdas podem re-
turas, beneficiando assim os produtores
presentar 80% da safra dependendo do
e o meio ambiente. Isso propiciou a não
clima e da cultivar utilizada. Outro inseto
abertura de novas áreas para o cultivo de
importante na cultura da segunda safra é
milho. A  rotação soja/milho ocupa 74%
o percevejo barriga-verde (Diceraeu ssp.),
da área de milho no Brasil, o que só foi
sobretudo para lavouras de milho cultiva-
possível com uso de tecnologias, em es-
das após a soja, onde esse inseto também
pecial, o manejo de plantas daninhas.
é praga. Esse inseto reduz o potencial
produtivo da lavoura quando seu ata-
Manejo integrado de pragas que ocorre na fase inicial do cultivo, pois
Quando se usa corretamente as tecnolo- succiona a seiva da planta nova, introduz
gias para o manejo integrado de pragas toxinas que causam o sintoma conhecido
(MIP) do milho, observamos o efeito como encharutamento da planta, que
fica suprimida na lavoura. Já a lagarta-do-
poupa-terra a partir da manutenção dos
-cartucho (Spodoptera frugiperda) ocorre
ganhos em produtividade alcançados
em todas as regiões onde se cultiva milho
nas últimas décadas, incluindo diferentes
no País, na primeira e na segunda safra.
tecnologias nas mais diversas áreas, a Suas injúrias causam danos econômicos
exemplo da genética (milho Bt). O  con- desde a germinação da lavoura e gran-
trole de pragas é uma questão crucial na des infestações podem reduzir o estande
produção, pois, se não for bem conduzido final de plantas na lavoura e ainda ser
e utilizar os métodos corretos, pode cau- porta de entrada para fungos e micoto-
sar perda de boa parte dos investimentos xinas, que também trazem prejuízos. No
financeiros na lavoura, o que interferirá entanto, o maior problema causado pelo
96 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Fábio Gomes da Silva

ataque da lagarta-do-cartucho é mesmo regiões de cultivo; desse total, 131 apre-


na fase vegetativa, em que causa des- sentam tecnologias transgênicas. Esse
folhas nas lavouras e reduz o potencial grande percentual de adoção da tecno-
produtivo. Esses insetos-praga têm sido logia deve-se, sobretudo, às vantagens
manejados tanto com o uso de tecno- de utilização. Em um estudo de impacto
logias transgênicas Bt incorporadas às global do uso de plantas geneticamente
cultivares (voltada principalmente para o modificadas, entre 1996 e 2005, sobre os
controle de lagartas como a Spodoptera), ganhos econômicos dos agricultores, foi
quanto pelo uso de inseticidas químicos, demonstrado que houve ganhos eco-
muito embora nos últimos anos tenha nômicos significativos para o agricultor,
sido crescente a adoção de inseticidas com um total acumulado favorável de
biológicos. 27 bilhões de dólares, comparado ao
que seria ganho se a tecnologia Bt não
Em 2020, a área cultivada com milhos fosse adotada (Brookes; Barfoot, 2006).
transgênicos representou 93% da área to- Além dos ganhos econômicos, tem-se a
tal cultivada com o cereal (Galvão, 2019; redução na aplicação de inseticidas, prin-
Conab, 2020c). Pereira Filho e Borghi cipalmente daqueles de amplo espectro
(2020) identificaram 196 novas cultivares (Munkvold et al., 1999; Dowd et al., 2000;
de milho para diferentes finalidades e Giles et al., 2000; Huang et al., 2002; Colli,
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 97

2011). No Brasil, além dos benefícios su- para manutenção da produtividade.


pracitados, a facilidade nos tratos cultu- Nesse contexto, a Empresa Brasileira
rais e a melhoria da logística no campo de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
são citados como principais vantagens as Organizações Estaduais de Pesquisa
dessa tecnologia. Como uma desvanta- Agropecuária (Oepas), fundações e uni-
gem dela, pode-se citar o crescente regis- versidades, além da iniciativa privada,
tro de resistência da lagarta-do-cartucho trabalham para suprir o mercado com
às tecnologias Bt. técnicas e tecnologias de maior efetivida-
Os insetos-praga podem impactar a pro- de e menor custo. O uso de boas práticas
dução das lavouras de milho por meio agrícolas e a adoção do MIP, na condução
da redução de estande, redução da ca- das lavouras de milho como estratégia de
pacidade produtiva das plantas, redução monitoramento, podem contribuir para
da qualidade e inviabilização das partes otimização das ferramentas de controle,
comercializadas da cultura. Os  danos às mantendo a produtividade, ao mesmo
estruturas comercializadas influenciam tempo em que promovem a sustentabi-
diretamente nas produtividades das lidade do agroecossistema e ajudam a
culturas (Pereira et al., 2000; Giolo et al., manter as áreas produtivas ao longo do
2006). Nesse sentido, medidas de contro- tempo.
le são adotadas com intuito de minimizar
tais perdas. Atualmente, existe tendência Novas tecnologias para
da adoção de medidas de controle com
incrementar a produtividade
menor impacto ao ambiente. Contudo,
independente de qual tecnologia se do milho sem necessidade
adote para o controle de pragas, não se de abertura de novas áreas
pode negar que elas representam uma
boa fatia no custo de produção. Apenas Zoneamento agrícola
os inseticidas chegaram a representar de risco climático
5,69% do custo de produção. Se forem
considerados todos os agrotóxicos uti- Os fatores climáticos determinam a pro-
lizados durante o ciclo do milho, estes dutividade agrícola. As  adversidades
podem representar 16,6% do custo de climáticas como seca, excesso hídrico,
produção da cultura, na safra 2019/2020 geada, granizo e chuva na colheita são
(Conab, 2019). Estima-se que sejam gas- responsáveis por altas taxas de perdas em
tos, anualmente, no Brasil, algo em torno cada região do Brasil. Essas perdas signifi-
de US$ 60 milhões em inseticidas para o cam redução na produção e na renda do
manejo das principais pragas do milho, agricultor, levando-o a acrescentar mais
sem contar custos relativos ao uso das área na sua produção nas safras seguin-
tecnologias Bt, que já vêm embutido no tes. Segundo o Banco Mundial, o Brasil
custo da semente. perde, anualmente, mais de R$ 11 bi-
Minimizar o potencial destrutivo dos in- lhões, cerca de 1% do produto interno
setos-praga nas lavouras é fundamental bruto (PIB) agrícola, em valores de 2015,
98 Tecnologias Poupa-Terra 2021

com riscos advindos de intempéries cli- grãos no mercado e, consequentemente,


máticas (Arias et al., 2015). menor pressão por abertura de novas
áreas, atuando como efeito poupa-terra.
A fim de reduzir os riscos de frustações
de safra, o zoneamento agrícola de risco É importante salientar que o Zarc é um
climático (Zarc), instrumento de políticas elemento fundamental para o aumento
agrícolas e gestão de risco aplicado aos da área plantada de milho na segunda
programas de crédito agrícola e seguro safra, em sucessão a outras culturas. A re-
de safra do Ministério da Agricultura, visão das informações contidas no Zarc
Pecuária e Abastecimento (Mapa), foi de- possibilita a expansão do cultivo visando
senvolvido com o objetivo de minimizar à redução de perdas e aumentando a
perdas nas lavouras causadas por even- viabilidade do cultivo de milho em deter-
tos climáticos adversos. minadas regiões, haja vista as condições
restritivas para safrinha de milho no Rio
O Zarc identifica áreas ou regiões com
Grande do Sul e Santa Catarina (em razão
condições edafoclimáticas satisfatórias
do risco de geadas), ou mesmo as defi-
ao desenvolvimento das culturas e as ciências hídricas em épocas cruciais ao
épocas de menor risco para o cultivo, o desenvolvimento do milho no outono/
que assegura o melhor aproveitamen- inverno na região Centro-Oeste.
to das suas potencialidades genéticas
e apresenta ganhos de produtividade
Sistema Antecipe − Cultivo
aliados às reduções de perdas (Santos; intercalar do milho nas
Martins, 2016). No caso do milho e do entrelinhas da soja
consórcio milho+braquiária, o Zarc indi-
ca datas ou períodos de plantio/semea- Em termos de impactos futuros de no-
dura para a cultura nas 1ª e 2ª safras, vas tecnologias que contribuirão para o
considerando as características do clima, efeito poupa-terra, a Embrapa Milho e
dos tipos de solos e ciclos das cultivares Sorgo desenvolveu um sistema de pro-
dução que envolve o plantio mecanizado
recomendadas para cada município do
da cultura do milho nas entrelinhas da
Brasil, de forma a evitar que adversidades
soja, a partir do estádio de desenvol-
climáticas coincidam com as fases mais
vimento R5 da leguminosa, segundo a
sensíveis da cultura, minimizando as per-
escala de desenvolvimento proposta por
das agrícolas.
Fehr e Caviness (1977), citados por Farias
A adoção pelos agricultores das jane- et  al. (2007). Esse sistema, denominado
las de plantio indicadas pelo Zarc tem Antecipe (entrada com processo pra re-
possibilitado maiores produtividades e gistro de marca), é inovador e disruptivo
rentabilidade no cultivo do milho e de- para a agricultura brasileira, planejado
mais culturas, aumentando a produção a partir de um conhecimento adquirido
nacional. Com a ampliação das datas de por mais de 13 anos de pesquisas visan-
plantio e oportunidades de expansão em do à implantação da cultura do milho nas
áreas já cultivadas, há maior oferta de regiões agrícolas onde a safrinha ainda
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 99

não foi plenamente estabelecida. Essa em produtividade do milho safrinha na


estratégia de produção agrícola favorece sequência.
o estabelecimento precoce da cultura do
O início dos trabalhos foi realizado na
milho, com redução de riscos de perda de
Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas,
produtividade na safrinha, possibilitando
MG. Diversos profissionais especializados
o plantio de milho em regiões com restri-
de diferentes áreas de conhecimento e
ções climáticas desfavoráveis a partir do
especialização profissional em máquinas
final do período do verão e início de outo-
agrícolas desenvolveram um protótipo
no, bem como provável redução no custo
de semeadora-adubadora inexistente no
com a exclusão da dessecação da cultura
mercado brasileiro, buscando realizar a
da soja, já que o plantio do milho é feito
operação mecanizada juntamente com
na entrelinha da oleaginosa antes de sua
a adubação de plantio nas entrelinhas
colheita. Com o Antecipe, será possível
da soja, sem que haja danos mecânicos,
antecipar a plantio do milho safrinha em
amassamento, perda de área foliar ou
até 20 dias em determinadas regiões do
outro prejuízo que comprometa a pro-
País, a partir dos resultados obtidos em
dutividade da oleaginosa (pedido de
pesquisas realizadas em algumas regiões
patente BR 10 2020 009566 8, referente a
do bioma Cerrado descritos detalhada-
protótipo de semeadora-adubadora pra
mente em Karam et al. (2020). Além disso,
uso no sistema intercalar).
pode ser utilizado nas regiões com maior
experiência em safrinha, permitindo o Um destaque do sistema é o fato do
uso de cultivares de soja de ciclo mais plantio de milho ocorrer nas entreli-
longo, notadamente mais produtivas nhas da soja de maneira sincronizada,
que as cultivares precoces, sem prejuízo de forma que, no momento da colheita

Foto: Décio Karam


100 Tecnologias Poupa-Terra 2021

da oleaginosa, as plantas de milho este- • Possibilita aumento de produtividade


jam em desenvolvimento vegetativo na de milho safrinha por meio de melho-
área, até estádio V5. O processo de corte res práticas de tratos culturais.
da planta de milho pela colhedora não
• Permite redução no custo com a ope-
acarreta em prejuízo no seu desenvol-
ração de dessecação das plantas dani-
vimento, uma vez que o seu meristema
nhas pós-colheita da cultura da soja.
(ponto de crescimento) se encontra abai-
xo da superfície do solo, possibilitando
uma plena recuperação fisiológica da O papel do milho
planta de milho em condições de campo nas transformações
(Magalhães; Durães, 2006). Assim, após
da pecuária
a passagem da colhedora retirando da
área a cultura oleaginosa, as folhas rema- Segundo Martha Júnior et al. (2012),
nescentes do milho serão responsáveis existe uma crítica recorrente de alguns
pela retomada do potencial produtivo da setores de que a produção de carne bo-
cultura. vina no Brasil é caracterizada pela baixa
Essa estratégia de cultivo promove ganhos produtividade e que só seria economica-
consideráveis nos sistemas de sucessão e/ mente viável por meio da expansão da
ou rotação soja/milho, uma vez que: área de pastagem. Contudo, segundo os
autores, esse é um quadro desatualizado
• Favorece o estabelecimento preco-
da pecuária de corte brasileira, sendo
ce da cultura do milho com redução
mais representativo do período de 1950
de riscos de frustração por perda de
a 1975, quando os ganhos de produti-
produtividade.
vidade foram de apenas 0,28% ao ano.
• Possibilita o plantio de milho em re- Segundo o estudo, a situação mudou
giões com restrições climáticas desfa- consideravelmente nas últimas décadas.
voráveis a partir do final do período do No período de 1975 a 1996, os aumentos
verão e início de outono. de produtividade foram de 3,62% ao ano,
• Permitirá o cultivo do milho em regiões enquanto, no período de 1996 a 2006, o
onde o Zarc limita o cultivo desta cultu- acréscimo anual foi de 6,64%.
ra na época de outono. Sem tais ganhos de produtividade, para
• Possibilita redução no custo com a ope- atender os níveis de produção de carne
ração de dessecação da cultura da soja bovina em 2006 com a produtividade de
pois, com o Antecipe, não será necessá- 1950, seria necessária uma área adicional
ria a dessecação da soja utilizando um de pastagem de 525 milhões de hecta-
herbicida de contato para antecipar res. Tal área seria 25% maior que o bioma
a colheita da oleaginosa e permitir o da Amazônia. Somente para o período
plantio de milho safrinha dentro da de 1996 a 2006, os ganhos de produti-
época ideal. vidade da pecuária de corte pouparam
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 101

73 milhões de hectares da Amazônia


(Martha Júnior et al., 2012).
Apesar do claro avanço na produtivida-
de da pecuária de corte, ainda há um
longo caminho a percorrer para que o
País se equipare à eficiência produtiva
da pecuária intensiva dos EUA, que são
o maior produtor mundial de carne bo-
vina, segundo a Associação Brasileira
das Indústrias Exportadoras de Carnes −
Abiec (2020). Em 2019 esse país produziu
12,3 milhões de toneladas equivalente
carcaça (TEC) de carne bovina a partir de
um rebanho efetivo de 94,5 milhões de
cabeças. Os  EUA produzem mais carne
com menos cabeças em decorrência de
uma pecuária mais intensificada com um
maior uso da prática de confinamento.
No confinamento, a terminação dos bo-
vinos de corte é realizada em um período
muito mais curto do que no sistema so-
mente a pasto. Ao se produzir mais arro-
bas em menor tempo, o pecuarista libera
a terra para a agricultura. Assim, sistemas
intensivos pecuários também possuem
um amplo efeito poupa-terra.
Nos sistemas de confinamento, a cultu-
ra do milho tem papel fundamental na
alimentação do rebanho, seja utilizada
como forragem (silagem) ou via subpro-
dutos de outras atividades, como o Dried
Foto: Diego Leite (Pixabay)

Distillers Grains (DDG) − Grãos Secos por


Destilação. O  DDG é um subproduto da
moagem úmida do milho para a produ-
ção de etanol e, devido ao alto teor de
102 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Gisele Rosso

proteína, é um substituto do farelo de milho no Brasil, o DDG pode se tornar um


soja na composição de rações, consti- elemento-chave para a transformação da
tuindo um produto de grande valor para pecuária no País (Olson; Capehart, 2019).
a pecuária. O crescimento da prática de confinamento
Segundo pesquisadores do o Departa- no Brasil tem dado uma contribuição sig-
mento de Agricultura dos Estados Unidos nificativa no aumento da produtividade
(Usda), o DDG se estabeleceu como um da pecuária de corte. Segundo o anuário
mercado de grande valor. A produção de da pecuária brasileira produzido pela FNP
etanol nos EUA consumiu 37% do milho Consultoria & Comércio (1999), em 1991
colhido no País em 2017/2018, resul- um efetivo de 785 mil cabeças de gado foi
tando na produção de 38,5 milhões de terminados em confinamento. Dados re-
toneladas de DDG. Além de abastecer o centes fornecidos pela Abiec (2020) apon-
grande mercado da pecuária doméstica, tam que o número de bovinos confinados
o DDG é cada vez mais comercializado no Brasil em 2019 atingiu a marca de 6,09
internacionalmente. Em 2017/2018, os milhões de cabeças, um aumento de qua-
EUA exportaram 12  milhões de tonela- se oito vezes no período 1991–2019.
das de DDG para países com pecuária Os dados censitários do Instituto
em expansão, como México, Tailândia e Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
Vietnã. Com as expectativas de cresci- 2017) em relação à área de pastagens no
mento da produção de etanol a partir do Brasil dão um indicativo do investimento
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 103

na pecuária nas últimas décadas. Nesse hectares em 2005 para 15 milhões em


levantamento, a área de pastagens em 2018, sendo que mais de 80% dessa área
1970 e 2017 foram, respectivamente, de utilizou a modalidade ILP.
154 milhões e 160  milhões de hectares, Na ILP, áreas de pecuária com baixa
mas há uma diferença qualitativa nesses produtividade e pastagens degradadas
números. Em 1970, as pastagens cultiva- são recuperadas com lavouras de grãos.
das representavam 19% da área total de Nesse ponto, destacam-se o milho e a soja
pastagens, enquanto, em 2017, esse per- que, além de aumentarem a capacidade
centual subiu para 70%. Como resultado de suporte do pasto, também fornecem
disso, a taxa de lotação (área/cabeças)2 alimentos ao rebanho sob confinamento,
passou de 1,96 para 0,92 no período, in- reduzindo os custos de suplementação
dicando uma menor utilização de terras e a necessidade de aquisição de fontes
por cabeça de gado. Parte desse resulta- energéticas externas à propriedade.
do pode ser atribuído ao fato da ativida- Segundo Martha Júnior e Vilela (2009),
de extrativista da pecuária sem uso das o efeito poupa-terra advindo de ganhos
tecnologias disponíveis para aumento da de produtividade na integração lavoura-
oferta de forragem. -pecuária, em particular o componente
de pecuária, é tido como um fator-chave
Uma estratégia de produção que tem con- para permitir a expansão da produção de
tribuído para a transformação da pecuária alimentos e de biocombustíveis no País,
brasileira é a chamada ILPF, que integra com mínima pressão sobre a vegetação
diferentes sistemas produtivos dentro de nativa.
uma mesma área. Esses diferentes siste-
mas produtivos integrados otimizam o
uso da terra e podem ser articulados em Integração Lavoura-Pecuária
quatro modalidades: integração lavoura- Frente ao desafio de ampliação da pro-
-pecuária-floresta (ILPF); integração lavou- dução de alimentos e fibra via aumentos
ra-pecuária (ILP); integração pecuária-flo- na produtividade, a utilização das cultu-
resta (IPF); e integração lavoura-floresta ras de milho em sistemas de produção
(ILF). Segundo a Associação Rede ILPF com ILP tem se mostrado extremamente
(Rede ILPF, 2020), a área estimada de viável do ponto de vista agronômico,
adoção de ILPF saltou de 1,87 milhão de econômico e ambiental, contribuindo
ainda para o processo de construção da
2
Usualmente a literatura trata a taxa de lotação como
uma razão número de cabeças por unidade de área fertilidade dos solos e para a intensifica-
(hectares) (Martha Júnior; Vilela, 2009; Martha Júnior ção sustentável de sistemas de produção
et al., 2012; Vieira Filho, 2018). Contudo, o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Censo convencionais. Esse modelo de explora-
Agropecuário (IBGE, 2018), trata esse indicador como ção apresenta diversas vantagens, tais
uma razão área por cabeças. Pode-se dizer que a
definição da literatura é mais intuitiva e alinhada como: melhoria das propriedades físicas,
com o termo taxa de lotação, mas, como o presente químicas e biológicas do solo; quebra de
documento utilizou a informação do IBGE do Censo
Agropecuário, optou-se pelo uso dessa abordagem ao
ciclos de doenças; redução da infestação
analisar a informação. de insetos-praga e de plantas daninhas;
104 Tecnologias Poupa-Terra 2021

e redução no custo de recuperação e re- (Pereira Filho; Borghi, 2020), possibili-


novação de pastagens (Vilela et al., 2011). tando o cultivo desse cereal de Norte a
Sul do País e a boa disponibilidade de
Na maior parte do Brasil, onde a pecuária
herbicidas graminicidas pós-emergentes
está embasada em áreas de pastagens,
seletivos ao milho. Esses fatores permi-
existe a necessidade de conservação de
tem obter-se resultados excelentes com
forragens/alimentos, principalmente para
o consórcio milho + capim.
as épocas secas do ano, em que, por falta
de água ou baixas temperaturas, as espé- Outro aspecto da ILP tem sido a utiliza-
cies de capins presentes não produzem ção de culturas anuais empregadas com
forragem suficiente para alimentação do sucesso em rotação, consorciação e/ou
rebanho. Nesses sistemas de produção, sucessão com forrageiras tropicais pere-
com a utilização do milho pode-se obter nes em áreas visando à recuperação ou
grande produção de alimentos na pro- renovação das pastagens (Salton et  al.,
priedade rural. 2013; Gontijo Neto et  al., 2018). Nesse
sentido, os sistemas de consorciações
Nesse processo de intensificação susten- de culturas anuais, especialmente milho,
tável no âmbito da ILP, a cultura do milho com forrageiras tropicais perenes têm se
se destaca como estratégica por causa apresentado bastante viáveis do ponto
das inúmeras aplicações que esse cereal de vista agronômico e, principalmente,
tem dentro da propriedade agrícola, quer econômico (Gontijo Neto et al., 2018).
seja na alimentação animal na forma de Assim, tecnologias como os sistemas
grãos ou de forragem verde ou conserva- indiretos de recuperação/renovação de
da (silagem), na alimentação humana ou pastagens com base na consorciação
na geração de receita mediante a comer- de espécies vegetais são utilizadas por
cialização da produção excedente. produtores rurais da região do Cerrado
Nesse consórcio, a principal cultura utili- desde o início da década de 1980, com
zada na ILP tem sido o milho (Zea mays destaque para o Sistema Barreirão
(Oliveira et al., 1996). Com ele foi possível
L.), seja em função de sua versatilidade
recuperar ou reformar imensas áreas com
(produção de grãos ou forragem) ou pela
pastagens degradadas, especialmente no
sua competitividade no consórcio em vir-
Brasil Central. Ainda hoje ele é usado com
tude do rápido crescimento inicial e por-
essa finalidade, servindo como prepara-
te alto, o que facilita a competição com ção inicial para implantação de sistemas
os outros componentes (ex.: pastagem integrados de produção. Posteriormente,
plantada) e, no caso da colheita de grãos, para áreas onde se poderia utilizar o
permite que seja feita a colheita mecani- SPD, foi desenvolvido o Sistema Santa
zada (Borghi; Crusciol, 2007; Santos et al., Fé (Kluthcouski et al., 2000), que se fun-
2011; Borghi et al., 2012, 2013; Pariz et al., damenta na semeadura consorciada de
2016). Soma-se a isso a existência de um culturas de grãos, especialmente o milho,
grande número de cultivares comerciais com as principais espécies de forrageiras
adaptadas às diferentes regiões do Brasil tropicais, principalmente as dos gêneros
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 105

Urochloa (Syn. Brachiaria) e Megathirsus tem ainda viabilizado a produção pecuária


(Syn. Panicum). Mais recentemente, foi em áreas agrícolas, aumentado os índices
desenvolvido o Sistema Santa Brígida, de produtividade em empreendimentos
com a inclusão de leguminosas consor- pecuários, com consequente ampliação
ciadas ao milho (Oliveira et  al., 2010). do período de utilização dos fatores de
Nesse sistema, a cultura anual apresenta produção (Figura 6) e levado a uma re-
grande performance de desenvolvimen- dução da pressão por abertura de novas
to inicial e exerce alta competição sobre áreas. Assim, além da produção de grãos
as forrageiras, evitando, assim, redução de alto valor energético, a ILP, por meio da
significativa na produtividade de grãos. consorciação do milho com capins, pode
incrementar a produção de forragem na
Nas diversas regiões do Brasil, a realização propriedade, seja com a produção de si-
das semeaduras de milho em consórcio lagem ou corte verde. Isso tem sido feito
com forrageiras tropicais perenes, tanto na pelo semeio consorciado dessas culturas
safra quanto na segunda safra (safrinha), com forrageiras tropicais perenes e tem
tem contribuído significativamente no permitido elevar a capacidade de suporte
aumento da oferta de milho por meio da das áreas de pastagens recuperadas (após
intensificação do uso da mesma área. Ela a cultura), disponibilizando essas áreas,

Figura 6. Intensificação na utilização dos fatores de produção em função da utilização


da consorciação e sucessão de atividades.
Fonte: Vilela et al. (2016).
106 Tecnologias Poupa-Terra 2021

com uma pastagem de ótima qualidade intrínseco da cultura, é um elemento


nutricional, para pastejo no período crítico fundamental dentro dos sistemas agro-
do ano (seca). pecuários do País que contribuem para o
A integração de atividades agrícolas e pe- chamado efeito poupa-terra.
cuárias, alcançadas de forma prática pela Além das iniciativas focadas no meio
sucessão e consorciação do cultivo do
ambiente, a Organização das Nações
milho com capins, pode, assim, ampliar
Unidas (ONU) também tem realizado
para 92% o tempo de utilização de áreas
ações para angariar esforços em prol
agrícolas com atividades com retorno
econômico direto, e, nos casos em que do desenvolvimento humano. A  cúpu-
a área seja utilizada como pastagem na la da ONU, em 2000, estabeleceu oito
safra seguinte, esse tempo de utilização objetivos internacionais de desenvolvi-
chega a 100% durante o ano. mento para o ano de 2015, conhecidos
como Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM). Em 2015, deram conti-
Perspectivas
nuidade a iniciativa e trabalharam com
A Conferência de Estocolmo, realizada os governos, a sociedade civil e outros
em 1972, deu início a uma discussão mais parceiros para estabelecer uma nova
ampla dos impactos negativos da ação agenda de desenvolvimento pós-2015.
humana sobre o meio ambiente. Contudo, Nesse contexto, foi estabelecida a cha-
foi com a presença maciça de autoridades mada Agenda 2030, com 17  Objetivos
de estados na Rio-92 que os países ao de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
redor do mundo deram um indicativo de e 169 metas (Brasil, 2020).
que a degradação ambiental passaria a se
tornar, em algum momento nas décadas A cadeia do milho e o efeito poupa-ter-
vindouras, uma questão prioritária. ra oriundo da adoção de tecnologias e
práticas agrícolas também têm contribui-
Em decorrência da grande extensão flo-
ções aos ODS. Nesse sentido, destaca-se
restal e o desmatamento para a abertura
a contribuição ao ODS 2 (Acabar com
de novas áreas para a atividade econômi-
a fome, alcançar a segurança alimentar
ca, o Brasil tem sido colocado no centro
dos holofotes da questão ambiental. e melhoria da nutrição e promover a
O  uso das imagens de satélites pelo agricultura sustentável); ODS 13 (Tomar
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais medidas urgentes para combater a mu-
(Inpe), a partir de 2004, permitiu ao País dança climática e seus impactos) e ODS
dimensionar e monitorar o problema. 15 (Proteger, recuperar e promover o uso
Nesse contexto, estratégias e políticas sustentável dos ecossistemas terrestres,
públicas que favoreçam a ocorrência do gerir de forma sustentável as florestas,
efeito poupa-terra devem ser incentiva- combater a desertificação, deter e rever-
das e divulgadas para o grande público. ter a degradação da terra e deter a perda
A  cultura do milho, pelo dinamismo de biodiversidade).
Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 107

Por fim, cabe ressaltar que várias das tec- item/download/32838_87577d7fa2076bdc97b


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Capítulo 6 Aumento de produtividade e rentabilidade de milho... 111

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113

Foto: Gabriel Rezende Faria

Capítulo 7

Liderança e recordes
de produtividade
de soja com base
em tecnologia e
sistemas intensivos
de uso da terra

Décio Luiz Gazzoni


Marcelo Hiroshi Hirakuri
Alvadi Antônio Balbinot Junior
Carlos Alberto Arrabal Arias
Adilson de Oliveira Junior
Cesar de Castro
Osmar Conte
Marco Antonio Nogueira
Adeney de Freitas Bueno
Claudine Dinali Santos Seixas
José Miguel Silveira
114 Tecnologias Poupa-Terra 2021

A soja é a principal cultura agrícola 68,5 milhões de hectares. O  destaque


do Brasil, com o maior Valor Bruto de é a cultura da soja, cuja área teve uma
Produção (VBP) e a liderança nas expor- expansão de 4,1% em relação à safra
tações do agronegócio. Devido a uma 2019/2020, passando de 36,9 milhões
ampla intensificação, que integra várias de hectares para 38,5 milhões de hecta-
tecnologias poupadoras de área, a produ- res, enquanto a produção cresceu 4,3%,
tividade da oleaginosa cresceu a uma taxa saltando de 124,8 para 135,5 milhões de
geométrica anual de 1,9%, que gerou um toneladas. Entre as safras 2016/2017 e
efeito poupa-terra de 71 milhões de hec- 2020/2021, a soja brasileira apresentou
tares desde o início da década de 1960. produtividade superior a 3.400 kg ha-1,
Aliado a isso, a intensificação dos mode- sendo que, na safra 2020/2021, a mé-
los de produção proporcionou um efeito dia estimada é de 3.523 kg ha-1, 4,25%
poupa-terra adicional de 15 milhões de superior à média da safra 2019/2020,
hectares. O Brasil se tornou o maior pro- de 3.379 kg ha-1 (Acompanhamento
dutor mundial, ocupando apenas 4,5% da Safra Brasileira [de] Grãos, 2021).
do seu território para o cultivo da soja.
O  fluxo de capital da sojicultura tem Em 2020, as exportações de soja em
permitido o desenvolvimento de uma grão do Brasil superaram a marca de
pujante cadeia produtiva, com impactos 82,9 milhões de toneladas, sendo supe-
socioeconômicos em diversas regiões do rior à quantidade exportada em 2019, de
País. Primeiramente, a produção sojícola 74,1 milhões de toneladas (Brasil, 2021).
tem atraído organizações e promovido o Mesmo com o avanço das exportações,
crescimento econômico de polos produti- o esmagamento pode continuar sua
vos. Integrada a essa evolução no campo trajetória ascendente, como apontou
econômico está a geração de milhões de o prognóstico da Associação Brasileira
empregos distribuídos por todo o País. das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove),
A geração de riqueza e o maior fluxo de de dezembro de 2020, que indica um
processamento de 45,5 milhões de to-
pessoas, por sua vez, atraem negócios em
neladas de soja no ano, valor 4,7% supe-
outros setores, como serviços, comércio e
rior ao total esmagado em 2019 (quase
indústria, e, muitas vezes, também propi-
43,5 milhões de toneladas). Isso demons-
ciam a melhoria de serviços básicos pres-
tra a força dos mercados associados aos
tados à população e da qualidade de vida
produtos derivados da soja, especial-
das pessoas.
mente as carnes e os biocombustíveis
(Abiove, 2021).
Introdução
O número total de empregos gerados
De acordo com a Companhia Nacional de pela cadeia produtiva da soja entre os
Abastecimento (Conab), o Brasil deverá anos 2000 e 2014 passou de 2.352.839
atingir, na safra 2020/2021, mais um recor- para 3.758.773 (Montoya et al., 2017).
de na produção de grãos, ultrapassando Em âmbito nacional, essa parcela de em-
273,8 milhões de toneladas, em cerca de pregos representa 3,0% em 2000 e 3,6%
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 115

em 2014. Já no agronegócio, a participa- internacional. A outra, viável e desejável,


ção da cadeia produtiva da soja é mais é a expansão vertical da produção, seja
relevante e com significativa ascensão por aumento de produtividade ou por
no período, isso porque representava intensificação da agricultura, com o uso
7,8% em 2000 e atingiu 12,1% em 2014 da mesma área para diversos cultivos/
(Montoya et al., 2017). Se for projetado criações no mesmo ciclo agrícola.
um aumento de empregos proporcio-
nal ao aumento da produção de soja no Produtividade
Brasil em 2016 até a safra atual, estima-se
que o setor seria responsável por apro- Sob o ponto de vista conceitual, é impor-
ximadamente 4,7 milhões de postos de tante ter em mente a equação simplifica-
trabalho. da de produtividade:

Prod = PG – {[EB + EAB + (EB × EAB)]}


Formas de expansão
da produção de soja em que Prod é produtividade de um cul-
tivo em um determinado local e ano, PG
Há duas formas de evitar a expansão hori- é o potencial genético de produtividade
zontal da produção de soja no Brasil. Uma de uma cultivar, variedade, híbrido de
delas, meramente teórica, é estagnar o uma espécie cultivada, na ausência de
aumento da produção. O que é absoluta- estresses, EB representa os estresses bió-
mente inviável do ponto de vista prático, ticos (presença de pragas em níveis que
pois depende de sinais de mercado, de afetam a cultura; deficiência quantitativa
demanda e oferta de produtos agrícolas, ou qualitativa de organismos benéficos) e
tanto no mercado doméstico, quanto EAB, os estresses abióticos (temperatura

Foto: A line Macedo


116 Tecnologias Poupa-Terra 2021

inadequada, excesso ou falta de chuvas, (por feromônios, armadilhas luminosas


acidez do solo, deficiência de macro e ou alimentares); o controle biológico
micronutrientes no solo, compactação, (parasitoides, predadores, doenças de
perfil de solo inadequado, entre outros). pragas); o controle químico ou as novas
ferramentas, como o RNA interferente
Pela análise da equação, é possível vis-
(RNAi), entre outras.
lumbrar duas formas de aumentar a
produtividade. A primeira delas é pelo Quanto a estresses abióticos, as adver-
aumento do potencial genético de uma sidades climáticas podem ser mitigadas
espécie cultivada, o que é obtido por por tecnologias adequadas. Por exemplo,
meio do melhoramento genético, seja a deficiência hídrica, principal estresse
ele clássico ou utilizando as novas ferra- abiótico da soja no Brasil, pode ser miti-
mentas biotecnológicas. Além disso, exis- gada em larga escala com a cobertura de
te uma reação diferencial de cultivares solo por palhada em Sistema de Plantio
em relação a estresses (bióticos ou abió- Direto; eliminação de camadas compac-
ticos). Um mesmo background genético tadas superficiais; manutenção de perfil
de alto potencial produtivo pode receber de solo profundo, poroso, aerado, com
características interessantes para enfren- proporção adequada de matéria orgâni-
tamento de estresses. Um exemplo é a re- ca, alta capacidade de retenção de água
sistência de cultivares de soja a doenças e possibilidade de penetração de raízes a
que podem causar elevados prejuízos. grandes profundidades.
A segunda forma é a supressão ou miti- A Tabela 1 apresenta as taxas geométri-
gação dos estresses. No caso de estresses cas de incremento da produtividade de
bióticos, o exemplo clássico é o estudo da soja no Brasil, mensuradas por décadas
relação entre a presença e a intensidade e pelo período total, entre 1960 e 2020.
de infestação de uma determinada praga Verifica-se que o ganho mais expressivo
e a redução de produtividade decorren- de produtividade ocorreu na década
te, que é a base do estabelecimento dos 1990–1999 e que, nos últimos 60 anos, o
níveis de danos ou níveis de ação para
controle. A partir dessa definição, e dis-
pondo de metodologias adequadas de Tabela 1. Taxas geométricas da evolução da
área e da produtividade da soja no Brasil.
monitoramento, é possível desenvolver
diversas formas de controle de pragas. Safra Área Produtividade
Nesse sentido, incluem-se o melhora- 1960–1969 1,159 1,004
mento genético clássico (resistência ou 1970–1979 1,226 1,009
tolerância); o melhoramento com ferra- 1980–1989 1,037 1,015
mentas de engenharia genética, com a 1990–1999 1,014 1,036
introdução de genes exóticos; o escape
2000–2009 1,053 1,011
(época de semeadura ou locais de culti-
2010–2020 1,051 1,012
vo); o manejo de espécies que sejam hos-
1960–2020 1,091 1,019
pedeiros intermediários; o controle físico
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 117

Brasil apresentou taxa geométrica anual (6 mil produtores na safra 2019/2020), a


de incremento de produtividade de soja fim de verificar a produtividade obtida,
de 1,9%, o que é altamente expressivo, e a rentabilidade auferida e a ecoeficiên-
que permite dobrar a produtividade de cia dos produtores com a produtividade
uma cultura a cada 37 anos. mais elevada, em cada região geográfica
do Brasil.
Na Figura 1, apresenta-se o quanto foi
efetivamente poupado de área agrícola Do ponto de vista do mercado interna-
por ganhos de produtividade de soja no cional, cada vez fica mais transparente
Brasil, de acordo com os dados levanta- que não basta produzir, é necessário ser
dos pela Conab. Observa-se que, se fosse sustentável. Para tanto, o Cesb utiliza
mantida a mesma produtividade obser- a metodologia da ecoeficiência, que é
vada no início do cultivo de soja no Brasil, medida por um algoritmo ponderado
a área que seria necessária para obter a e normalizado que leva em considera-
mesma produção na safra 2019/1920 ção os seguintes critérios: impactos nas
seria 195% superior à área atual. Nesses mudanças climáticas, consumo de água,
termos, o efeito poupa área em função eutrofização de água doce, eutrofização
do aumento de produtividade de soja marinha, acidificação, esgotamento de
desde a década de 1960 foi de, aproxima- recursos minerais e fósseis, depleção da
damente, 71 milhões de hectares (Mha). camada de ozônio, formação de ozônio
fotoquímico, toxicidade humana e con-
Desde a safra 2008/2009, o Comitê
versão e uso da terra.
Estratégico Soja Brasil (Cesb) realiza,
anualmente, o Desafio de Máxima A Tabela 2 apresenta a produtividade
Produtividade de Soja. Seu objetivo é ob- obtida pelos dez produtores de soja
ter informações dos produtores inscritos brasileiros com mais alta produtividade

Figura 1. Área efetivamente cultivada, comparativamente com a área poupada, caso a


produtividade se mantivesse constante ao longo do período.
Fonte: Conab (2020).
118

Tabela 2.  Produtividade de soja (kg ha-1) obtida pelos dez produtores com produtividade mais elevada, nas edições do Desafio de Máxima
Produtividade, do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), comparada com a produtividade média brasileira. 

Safras
Colocação
média  2008/ 2009/ 2010/ 2011/ 2012/ 2013/ 2014/ 2015/ 2016/ 2017/ 2018/ 2019/
Média
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
1º 4.968 6.504 6.036 6.522 6.630 7.038 8.508 7.204 8.946 7.621 7.433 7.129 7.045
2º 4.896 5.526 6.030 6.186 6.582 6.594 7.632 6.891 7.332 6.782 7.410 7.118 6.582
3º 4.878 5.310 5.976 6.156 6.570 6.570 7.608 6.619 6.636 6.554 7.274 7.008 6.430
4º 4.848 5.238 5.940 5.928 6.186 6.534 7.374 6.554 6.498 6.537 7.179 7.001 6.318
5º 4.836 5.154 5.922 5.562 6.168 6.480 7.302 6.548 6.384 6.391 7.106 7.001 6.238
6º 4.590 5.082 5.712 5.436 6.132 6.432 6.804 6.422 6.348 6.389 7.043 6.986 6.115
7º 4.536 5.028 5.598 5.394 6.126 6.384 6.798 6.306 6.288 6.381 7.034 6.870 6.062
8º 4.470 5.004 5.454 5.394 5.994 6.282 6.744 6.227 6.270 6.360 7.016 6.828 6.004
9º 4.374 4.998 5.340 5.358 5.958 6.198 6.624 6.066 6.228 6.337 6.852 6.732 5.922
10º 4.260 4.992 5.250 5.334 5.910 6.174 6.618 6.005 6.156 6.264 6.827 6.716 5.875
Média (A) 4.666 5.284 5.726 5.727 6.226 6.469 7.201 6.484 6.709 6.562 7.117 6.939 6.259
Conab (B) 2.629 2.927 3.115 2.651 2.938 2.856 3.025 2.878 3.392 3.507 3.337 3.379 3.379
A/B (%) 78 80 84 116 112 125 140 122 100 99 112 114 107
A: média dos dez primeiros colocados no Desafio; B:média Conab para a mesma safra.
Fonte: Comitê Estratégico Soja Brasil (2020) e Conab (2020).
Tecnologias Poupa-Terra 2021
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 119

(independentemente de região), de

Tabela 3. Produtividade de soja (kg ha-1) dos 100 produtores mais bem posicionados no Desafio de Máxima Produtividade, do Comitê Estratégico

Média

73,2%
5.288
3.053
acordo com o Desafio Cesb de Máxima
Produtividade de Soja, comparados com
a produtividade média calculada pela

86,6%
2019/

6.305
3.379
2020
Conab, para a mesma safra. Chama a
atenção nessa tabela que, na média dos
últimos 12 anos, os dez produtores mais

84,9%
2018/

6.172
3.337
2019
bem colocados no desafio, produzem
107% acima da média brasileira, aferida

70,0%
2017/

5.961
3.507
2018
pela Conab.
Na Tabela 3, são apresentadas as médias

68,3%
2016/
de produtividade de soja dos produtores

5.708
3.392
2017
colocados entre a 1ª e a 100ª posições, no
Desafio Cesb de Máxima Produtividade,

94,0%
2015/

5.584
2.878
2016
comparados com a produtividade média
dos sojicultores brasileiros, de acordo
com a Conab. Na média dos últimos

87,9%
2014/

5.685
3.025
2015
12 anos, esses produtores obtiveram Safra
índices 75% superiores àqueles obtidos

82,0%
2013/

5.199
2.856
pelo conjunto de produtores brasileiros, 2014
de acordo com a Conab.
Soja Brasil (Cesb), comparada com a produtividade média brasileira.

O exposto acima ilustra dois aspectos


72,2%
2012/

5.060
2.938
2013

que merecem ser analisados. O  primeiro


deles é que o Brasil dispõe de tecnologia
61,6%
2011/

4.285
2.651
2012

de produção de soja que permite aumen-


tar expressivamente a produtividade da
cultura, com tecnologias já disponíveis
37,3%
2010/

Fonte: Comitê Estratégico Soja Brasil (2020) e Conab (2020).


4.278
3.115
2011

ao produtor. O  segundo aspecto é um


enorme desafio, que embute uma grande
55,3%
2009/

4.547
2.927

oportunidade. A tecnologia está disponí-


2010

vel, porém não é integralmente utilizada


pelos produtores de soja. A  solução está
77,5%
2008/

4.666
2.629
2009

na adoção ampla e massificada, fruto de


processos de transferência de tecnologia
lastreada em assistência técnica, e com su-
porte de políticas públicas de incentivo ao
Produtividade

Brasil (kg ha )
Cesb (kg ha-1)
-1

incremento da produtividade sustentável,


como forma de reduzir a expansão da fron-
A/B (%)

teira agrícola do País. Em outras palavras,


a soja brasileira experimentou aumentos
120 Tecnologias Poupa-Terra 2021

extraordinários de produtividade, mas há O exemplo mais impactante da intensi-


tecnologia para aumentar mais. ficação da agricultura envolve a produ-
ção de soja na safra e milho na segunda
safra. Em muitas regiões brasileiras, há
Intensificação da agricultura
possibilidade de ter soja na safra, milho
A intensificação da agricultura, represen- consorciado com capim na segunda safra
tada por cultivos sucessivos na mesma e uma terceira safra representada pelo
área, no mesmo ciclo agrícola, é uma das pastejo do capim nos meses de agosto
e setembro, popularmente chamada de
estratégias importantes para conter a ex-
terceira safra de carne. As séries históricas
pansão horizontal da produção. Esse sis-
mostram avanços anuais na sucessão de
tema de produção somente é possível em cultivos dentro do mesmo ciclo agrícola,
regiões tropicais e subtropicais, onde não geralmente com a soja sendo o primei-
há restrição térmica para o cultivo, embora ro cultivo (semeada a partir de final de
possa haver restrição hídrica, contornável setembro), seguida por milho, algodão,
pelo uso de tecnologias apropriadas, tais feijão comum, feijão-caupi, entre outros
como zoneamento agroclimático, Sistema cultivos.
Plantio Direto bem conduzido, uso de A Figura 2 ilustra a evolução da área com
espécies e cultivares mais tolerantes ao cultivo de milho no Brasil, distribuída
deficit hídrico e irrigação. entre a primeira e a segunda safra (após

Figura 2. Área cultivada com milho nas primeira e segunda safras e percentual da área
da segunda safra sobre a área total cultivada com milho.
Fonte: Conab (2020).
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 121

a colheita da soja). Percebe-se o avanço da agricultura, pois esta guarda relação


contínuo do cultivo da segunda safra em estreita com a rentabilidade do ciclo agrí-
relação à primeira, representado pelo cola e rentabilidade está estreitamente
percentual da área de segunda safra so- associada com produtividade.
bre a primeira safra. Na safra 2020/2021,
Em relação ao algodão, do total de
foram cultivados 14,8 Mha em segunda
1.413.100 ha cultivados na safra
safra versus 4,3 Mha em primeira safra.
2020/2021, cerca de 1 Mha (70%) ocorreu
Ou seja, esses 14,8 Mha claramente
representam área poupada, evitando em segunda safra, após a colheita da soja.
expansão da fronteira agrícola, com pro- Assim, apenas com as culturas do milho
vável desmatamento. e do algodão, a poupança pela intensifi-
cação da agricultura, na safra 2019/2020,
A Figura 3 apresenta a evolução com- equivaleu a 15,8 Mha. Considerando ou-
parativa da produtividade de cada uma
tros cultivos, a área poupada em função
das safras, demonstrando o aprendiza-
da intensificação de uso de áreas agríco-
do do agricultor ao longo do tempo, de
las gira em torno de 16 Mha.
forma que, desde a década 2000–2010,
as produtividades entre as duas safras Efeito poupa área: 71 Mha (aumento da
são equivalentes. A equivalência de pro- produtividade de soja desde a década
dutividade é fundamental para a conti- de 1960) + 15,8 Mha (intensificação dos
nuidade da expansão da intensificação modelos de produção) = 86,8 Mha.

Figura 3. Produtividade de milho da primeira e segunda safras e percentual da produ-


tividade da segunda safra em relação à primeira safra.
Fonte: Conab (2020).
122 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Descrição de tecnologias Pecuária e Abastecimento (Mapa), em


1996, o zoneamento agrícola de risco
poupadoras de área climático (Zarc), como um instrumento
A seguir são apresentadas as principais de política pública para a diminuição de
tecnologias que permitiram o aumento perdas na agricultura causadas por fato-
da produtividade de soja no Brasil e a res climáticos.
intensificação dos modelos de produção, O Zarc, além de considerar os riscos de
tendo como consequência direta a redu- ocorrência de adversidades climáticos,
ção da demanda de abertura de áreas na- também avalia a necessidade ambiental
tivas para cultivo da soja. Enfatiza-se que de cada cultura agrícola, em termos de
é complexo determinar a contribuição fisiologia, ciclo, e outros fatores consi-
isolada de cada tecnologia no aumento derados importantes (Farias et al., 2001).
de produtividade ou na intensificação Além disso, são levados em conta os
dos modelos de produção, uma vez que tipos de solo quanto à capacidade de ar-
os efeitos das interações das tecnologias mazenamento de água. Nesse contexto,
que determinam tais ganhos. Um exem- a observância das disposições do Zarc,
plo é a sinergia entre o melhoramento ge- além de ser um grande indutor do uso
nético da soja e o Sistema Plantio Direto de tecnologias, permite reduzir o risco hí-
para viabilizar a sucessão soja/milho drico e manter elevadas produtividades
segunda safra. Adicionalmente, há várias com maior estabilidade, diminuindo a
tecnologias que contribuíram para o au- demanda de área e disciplinando a ocu-
mento da produtividade da oleaginosa e, pação de diversas outras.
ao mesmo tempo, para a intensificação
dos modelos de produção, como, por Melhoramento genético
exemplo, a integração lavoura-pecuária.
Continuamente são desenvolvidas cul-
tivares de soja com maior potencial
Zoneamento agrícola produtivo, que incorporam ganhos de
de risco climático produtividade ao longo do tempo. Isso
foi conciliado com a redução do ciclo de
Um estudo da Embrapa, com base nos da-
desenvolvimento das cultivares e à maior
dos do Programa de Garantia da Atividade
flexibilidade na época de semeadura. Em
Agropecuária (Proagro), verificou que
outras palavras, o melhoramento gené-
mais de 90% das perdas de safra em cultu-
tico da oleaginosa contribuiu decisiva-
ras de grãos ocorriam por deficit ou exces- mente no aumento da produtividade da
so hídrico. Para os estados do Sul do País, cultura e na intensificação dos modelos
também ficou evidenciada a importância de produção, pois permitiu a semea-
do fator térmico, principalmente devido dura antecipada e a redução do tempo
à grande probabilidade de ocorrência de em que a cultura permanece no campo,
geadas. A partir dessas constatações, foi oportunizando a inserção de outras
instituído pelo Ministério da Agricultura, culturas no mesmo ciclo agrícola, como
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 123

milho, algodão e sorgo, por exemplo. Na última década, merece destaque o


Atualmente, não há trabalhos consisten- grande avanço na obtenção de culti-
tes no Brasil para estimar os ganhos ge- vares de soja com resistência ao fungo
néticos alcançados nas últimas décadas, Phakopsora pachyrhizi, que ocasiona a
considerando diferentes regiões e gru- ferrugem-asiática da soja, a principal
pos de maturidade relativa das cultivares. doença da cultura. Atualmente há vá-
Entretanto, apenas a expansão do po- rias cultivares de soja no mercado que
tencial genético não é um objetivo apresentam resistência à essa doença,
isolado, também foram obtidos avan- sobretudo com genes Rpp. A Embrapa
ços importantes acerca da resistência apresenta cultivares com essa caracterís-
genética aos seguintes patógenos cau- tica, as quais são comercialmente deno-
sadores de doenças de soja: mancha minadas de “Shield”.
olho-de-rã (Cercospora sojina); pústula Também foram desenvolvidas cultivares
bacteriana (Xanthomonas axonopodis incorporando resistência aos nematoi-
pv. glycines); cancro da haste (Diaporthe des, como o nematoide do cisto da soja
aspalathi); podridão radicular de fitóftora (Heterodera glycines); nematoides de ga-
(Phytophthora sojae); oídio (Microsphaera lha (Meloidogyne incognita e Meloidogyne
diffusa); podridão parda da haste
javanica); nematoide das lesões radi-
(Cadophora gregata); vírus do mosaico
culares (Pratylenchus brachyurus); e o
comum (Common mosaic virus – SMV);
nematoide reniforme (Rotylenchulus
vírus da necrose da haste (Cowpea mild
reniformis). Em muitas regiões, o uso de
mottle  virus – CPMMV); mancha-alvo
cultivares com resistência a nematoides
(Corynespora cassiicola) entre outras.
é decisivo para tornar a cultura viável em
Importante frisar que o programa de
termos econômicos.
melhoramento da soja da Embrapa atua
fortemente na resistência genética a es- Com relação à resistência aos insetos-
sas doenças. -praga, atualmente há vasto portfólio de
Foto: Євген Литвиненко (Pixabay)
124 Tecnologias Poupa-Terra 2021

cultivares com resistência a diversas la- relevante para o alcance de altas produ-
gartas que são desfolhadoras da cultura, tividades, associada à redução de proble-
por meio da introdução de genes da bac- mas fitossanitários. O uso de semeadoras
téria Bacillus thuringiensis (cultivares Bt). com alta precisão de distribuição dos fer-
Adicionalmente, a Embrapa dispõe de tilizantes e sementes promove adequada
uma plataforma exclusiva, que confere instalação da lavoura, com maiores chan-
tolerância aos percevejos que atacam a ces de obtenção de altas produtividades.
soja, conhecida como tecnologia “Block”, Para o estabelecimento de uma lavoura
lastreada em melhoramento genético de soja com a população de plantas ade-
clássico. quada, é fundamental a utilização de se-
Em relação às plantas daninhas, há várias mentes com alto vigor e de semeadoras
cultivares no mercado com gene de tole- com alta precisão. Sementes de alto vigor
rância ao glifosato, que permitiu controle resultam na produção de plantas de alto
mais efetivo da maioria das espécies de desempenho agronômico, aumentando
plantas daninhas, além de facilitar con- a produtividade, tanto por planta quanto
trole. Nesse contexto, o melhoramento da lavoura. Pesquisas comprovam que o
genético também teve grande contribui- uso de sementes com alto vigor promove
ção na redução de estresses bióticos na ganhos de produtividade superiores a
cultura. 9%, comparativamente a sementes com
baixo vigor (Scheeren et al., 2010).
Tecnologias de semeadura
e qualidade de sementes Análise química de
solo e de tecido
O uso de arranjo espacial de plantas ade-
quado para cada cultivar de soja é im- No Brasil, a maioria dos solos são ácidos e
portante para maximizar a produtividade de baixa fertilidade natural e a adubação
de grãos (Balbinot Junior et al., 2018). criteriosa é a principal ferramenta para o
O arranjo espacial é definido basicamente aumento da produtividade da soja. Para
pela densidade de plantas, espaçamento tanto, a adubação deve ser realizada a
entre as fileiras e uniformidade de dis- partir de critérios técnicos que permitam
tribuição das plantas nas fileiras. A faixa avaliar corretamente a fertilidade do
de espaçamento que tem demonstrado solo e propiciem o uso eficiente dos fer-
melhores resultados é de 0,4 m a 0,6 m. tilizantes, um insumo caro e em grande
Algumas cultivares requerem alta densi- parte importado, para o atendimento das
dade populacional, por exemplo, 400 mil necessidades nutricionais das plantas e
plantas por hectare, ao passo que outras a máxima eficiência econômica para o
necessitam de baixas populações, como produtor.
150 mil plantas (Ferreira et al., 2020). A avaliação da fertilidade do solo ba-
O ajuste correto da densidade para cada seia-se na identificação de fatores nu-
cultivar, região e época de semeadura é tricionais que limitam a obtenção de
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 125

altas produtividades, por meio da análise Com base nos resultados de análises, as
química de solo, podendo ser comple- recomendações de adubação baseiam-se
mentada pela diagnose foliar. A  análise nas classes de disponibilidades dos nu-
química do solo é a principal ferramenta trientes, indicadas pelas faixas de teores
de avaliação da fertilidade e possibilita a determinados na análise de solo e de
tomada de decisão para a prática da cala- tecido, determinadas em estudos de cali-
gem e para a recomendação da adubação.
bração e de resposta à adubação (Oliveira
A análise foliar é uma possibilidade com-
Junior et al., 2010a).
plementar à interpretação das análises de
solo e capaz de identificar as deficiências Com relação ao potássio (K), nutriente ro-
ou excessos de nutrientes que estariam tineiramente envolvido no aparecimento
comprometendo a alta produti-
vidade da soja. A partir da análi-
Foto: A line Macedo

se de folhas, é possível verificar


se as plantas estão absorvendo
adequadamente os nutrientes à
sua disposição no solo.
A coleta criteriosa de amostras
de solo, independentemente do
aparecimento de sintomas nas
plantas, a análise cuidadosa e a
interpretação precisa dos resul-
tados é um dos primeiros passos
para a possível correção de pro-
blemas de fertilidade do solo e o
atendimento das necessidades
nutricionais da soja, possibilitan-
do a expressão do potencial produtivo da de problemas nutricionais e redução da
cultura. produtividade, estudos especiais foram
focados especificamente no problema.
Estudos desenvolvidos pela Embrapa Em média, a soja demanda entre 20 kg e
Soja indicam os teores adequados de nu- 25 kg de potássio (K2O) para cada tonela-
trientes no solo e nas folhas, permitindo da de grãos (Oliveira Junior et al., 2020).
a identificação precisa de possíveis de- Sem o manejo adequado da adubação,
sequilíbrios nutricionais ou correção da há redução dos estoques do nutriente
fertilidade. Com base nesses valores, fo-
no solo e, consequentemente, ocorre a
ram desenvolvidas tabelas de recomen-
redução das produtividades das culturas
dação de corretivos e fertilizantes que
na área.
possibilitam não só corrigir os possíveis
problemas, como também aumentar a Para auxiliar na identificação da deficiên-
produtividade, com sustentabilidade. cia de potássio nas plantas de soja, foi
126 Tecnologias Poupa-Terra 2021

desenvolvido o método Fast-K (Oliveira o que poupa a abertura de novas áreas


Junior et al., 2019), que permite avaliar com vegetação nativa.
rapidamente, em condições de campo,
o deficit de suprimento de potássio, per- Sistema Plantio Direto
mitindo a correção do problema antes
A utilização do Sistema Plantio Direto
que afete a produtividade. A  vantagem (SPD) preconiza a sustentabilidade dos sis-
dessa tecnologia em comparação com a temas produtivos, desde seu surgimento
análise de folhas é a forma mais expedita no Brasil, no início da década de 1970. Está
e precisa para identificação do problema embasado na redução de mobilização do
em condições de campo e possibilidade solo, principalmente pela eliminação de
de correção ainda durante a safra. preparos primários, na cobertura perma-
nente do solo por culturas ou resíduos
Outra ferramenta poderosa, além das vegetais e na rotação de culturas (Moraes
tabelas de interpretação de teores de et al., 2017). A agricultura intensificada com
nutrientes nas folhas e do Fast K, é o foco na produção de grãos tem reduzido o
Diagnosis and Recomendation Integrated uso da rotação e favorecido a sucessão de
System (Dris), regionalizado1, que avalia cultivos, o que não é ideal. Mas surgiram
não somente se a concentração adequa- formas alternativas para incrementar a
da dos nutrientes, mas também o equilí- diversificação de espécies cultivadas, sem
brio nutricional entre eles. Dessa forma, abrir mão das culturas comerciais, por meio
identifica os nutrientes que afetam mais de consórcios de espécies de cobertura de
a produtividade, por deficiência ou ex- solo com culturas de interesse comercial
cesso e, então, monta estratégias de e o cultivo de plantas de cobertura nos
adubação mais eficientes, considerando períodos não ocupados pelas culturas co-
o alto valor dos fertilizantes no custo de merciais. Dessa forma, o SPD contribui para
produção, além do potencial de perdas manutenção da capacidade produtiva dos
ou contaminação do ambiente. solos ao longo dos anos, principalmente
pelo incremento do carbono orgânico do
Portanto, a adequado diagnóstico da fer- solo (matéria orgânica). A matéria orgânica
tilidade do solo e do estado nutricional é responsável por diversas relações quími-
das plantas de soja possibilita tanto o au- cas, físicas e biológicas do solo, garantindo
mento da produtividade em condições fertilidade sob o aspecto nutricional de
em que o teor do nutriente está baixo, plantas, armazenamento de água no solo
quanto a manutenção de altos patama- e suprimento dos cultivos por meio dos
res produtivos em condições em que o efeitos em estruturação do solo, e eleva-
teor do nutriente está adequado ou alto, da atividade e diversidade microbiana no
levando, em ambos os casos, a maior efi- solo, que também favorece a produção de
ciência vertical do sistema de produção, grãos. No início da adoção do SPD, as pro-
dutividades de soja eram equiparáveis ao
1
Disponível em: www.embrapa.br/soja/dris. preparo convencional, mas destacava-se
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 127

nos aspectos con- a sustentabilidade


servacionistas; con- produtiva, gerando
s e q u e n t e m e n t e, economia de corre-
após cerca de 6 anos tivos, fertilizantes e
de adoção, a pro- operações de pre-
dutividade da soja paro de solo, alta-
em SPD passa a ser mente dispendiosas
superior (Franchini com consumo de
et al., 2012). Esses combustíveis fós-
autores verificaram seis e emissões de
que, após 20 anos dióxido de carbono.
de condução do SPD, a produtividade da Além disso, reduz expressivamente os cus-
soja foi cerca de 50% superior ao preparo tos de produção, especialmente por con-
convencional. Ou seja, o SPD é uma tec- sumir menor quantidade de combustíveis.
nologia essencial para a obtenção de altas
Outro grande benefício advindo da ado-
produtividades de soja no Brasil, tanto na
ção do SPD no Brasil foi a possibilidade
porção subtropical quanto na tropical.
de intensificação dos modelos de pro-
O SPD é o sistema de manejo do solo dução. Em grande parte das áreas pro-
dominante para a produção de grãos no dutoras de grãos, a segunda safra só foi
Brasil, ocupando quase 70% da área culti- oportunizada por causa das facilitações
vada com grãos e mais de 90% da área da operacionais geradas em ambiente de
soja (Gazzoni; Dall’Agnol, 2018). De acor- SPD. Nesse contexto, é possível colher
do com a Federação Brasileira de Plantio e semear uma mesma área de forma
Direto na Palha (Febrapd), são mais de concomitante. A realização de semea-
33 milhões de hectares que adotam dura sobre solo não preparado amplia o
essa forma de manejo. A  ausência de tempo hábil em termos de umidade de
revolvimento de solo por preparos e a solo, além de ter eliminado as operações
manutenção de cobertura vegetal sobre de preparo de solo que antecediam a se-
o solo corroboram com as práticas de meadura de uma nova safra. Tomando-se
conservação de solo. O SPD é um sistema como referência as duas principais cultu-
de cultivo fundamental para viabilizar o ras no Brasil atualmente – soja e milho –,
cultivo em regiões tropicais e subtropicais, a primeira é cultivada predominante-
permitindo a intensificação do cultivo e mente na safra principal, e o milho na
boas condições para o desenvolvimento segunda safra, que atualmente responde
das culturas, com um mínimo de degra- por 75% da produção nacional. O amplo
dação do solo. Dessa forma, alavancou a crescimento da segunda safra com milho
agricultura brasileira, principalmente nas deu-se graças às facilitações criadas pelo
últimas quatro décadas. Reduziram-se SPD em termos de operacionalização do
consideravelmente os problemas de ero- sistema de produção. Nesse contexto, o
são em solos agrícolas, contribuindo para SPD tem contribuído para a obtenção
128 Tecnologias Poupa-Terra 2021

de altas produtividades de soja e para a A ILP pressupõe o crescimento verticali-


intensificação dos modelos de produção, zado da produção nacional de soja, ou-
reduzindo a pressão de abertura de no- tros grãos e produtos de origem animal.
vas áreas. Isso porque promove otimização do uso
da terra e dos recursos necessários às
Integração Lavoura-Pecuária plantas – água, luz e nutrientes (Balbinot
Junior et al., 2009). Mas a integração
A Integração Lavoura-Pecuária (ILP) é de atividades traz outros benefícios ao
uma estratégia de produção que integra ambiente, a começar pelo aumento na
culturas anuais e a pecuária, no mesmo diversidade de espécies cultivadas no
espaço, em consórcio, sucessão ou ro- sistema de produção, e dessa forma
tação, e busca potencializar a sinergia oportuniza a presença de resíduos sobre
entre os componentes pecuária e lavoura o solo ou plantas vivas por mais tempo
(Balbinot Junior et al., 2009). Sistemas ao longo do ano. A presença de animais
integrados de produção como a ILP pro- pastejando, atuando como elemento ci-
movem maior diversificação de cultivos clador de nutrientes e energia, aumenta
no ambiente ao mesmo tempo em que a atividade de biológica no solo, o que é
intensificam as atividades agrícolas numa altamente desejável. Sistemas integrados
mesma área. Entre os objetivos desse sis- com bom manejo promovem acúmulo
tema estão: recuperar a capacidade pro- de matéria orgânica no solo, fator funda-
dutiva do solo; intensificar o uso da terra; mental para elevação da produtividade
reduzir a demanda de terra adicional; dos cultivos, ao mesmo tempo em que
disponibilizar alternativas de produção contribui para redução nas emissões
para agricultura de baixo carbono; con- de dióxido de carbono para atmosfera
tribuir para diminuir o desmatamento e (Cordeiro et al., 2015).
melhorar o nível tecnológico e gerencial Na sequência alternada de ocupação
de técnicos, produtores e colaboradores. do solo, podem ser utilizadas espécies
Foto: Gabriel Rezende Faria
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 129

forrageiras que promovem a melhoria do da soja, resultando em uma adoção esti-


perfil do solo e fazem parte do sistema mada entre 60% a 90%, dependendo da
ILP. Esse sistema, além de outros bene- região. A inoculação com Bradyrhizobium
fícios, aumenta a produtividade da soja. spp. resulta em um ganho de produti-
A biomassa das plantas – raízes e resíduos vidade médio de 8% e a coinoculação
– gera um ambiente favorável à atividade (Bradyrhizobium spp. + Azospirillum
da biota do solo (macro e microrganis- brasilense) possibilita incremento de
mos), que, por sua vez, juntamente com 16% em relação à ausência de inocula-
o sistema radicular das plantas, produ- ção (Hungria et al., 2013a). Esses valores
toras de grãos ou forrageiras, promove também foram observados em áreas de
a estruturação do solo, dando origem a produção em parceria com a Empresa
bioporos e agregados, que consequente- Paranaense de Assistência Técnica e
mente melhoram o armazenamento de Extensão Rural (Emater-PR) (Nogueira
água, gerando um ambiente favorável às et al., 2018; Prando et al., 2019). Esse
trocas gasosas e suprimento de nutrien- aumento representa mais produção na
tes, aumentando a capacidade produtiva mesma área, utilizando tecnologias bio-
do solo (Cecagno et al., 2016). A sinergia lógicas, de baixo custo e sem impacto
entre a ILP e o SPD tem contribuído deci- ambiental negativo.
sivamente para a obtenção de altas pro- Considerando a área de soja em 2017, a
dutividades de soja e intensificação dos produtividade média de grãos e as emis-
modelos de produção no Brasil. sões de gases de efeito estufa (GEE) que
seriam necessárias para a síntese e uso de
Fixação biológica de nitrogênio, fertilizantes nitrogenados minerais, 62 Mt
microrganismos promotores de de CO2 equivalente deixaram de ser lan-
crescimento e solubilizadores çados na atmosfera (Hungria; Nogueira,
de fosfatos do solo 2019). A  substituição de fertilizantes
pela fixação biológica de N diminui não
A produção brasileira de soja utiliza apenas as emissões de GEE, mas também
inoculação com bactérias fixadoras de a contaminação ambiental de águas
nitrogênio (rizóbios), dispensando o uso correntes e subterrâneas com nitritos e
de fertilizante nitrogenado mineral. Esse nitratos (Hungria; Mendes, 2015), geran-
é o mais bem-sucedido caso no mundo do uma economia de, aproximadamente,
de uso de microrganismos na agricultura R$ 65 bilhões para os produtores agríco-
(Hungria; Mendes, 2015). O comércio de las brasileiros.
inoculantes aumentou de cerca de 23 mi-
Recentemente, a Embrapa lançou o
lhões de doses em 2010 para 78 milhões
produto BiomaPhos, contendo as cepas
de doses em 2018, mais do que o aumen-
BRM 119  (Bacillus megaterium)  e BRM
to de área ocupada com a cultura da soja.
2084 (Bacillus subtilis), duas bactérias ca-
A maior parte dos inoculantes produzi- pazes de aumentar a disponibilidade de
dos no Brasil – 87,5% – é usada na cultura fósforo às plantas por meio da produção
130 Tecnologias Poupa-Terra 2021

de ácidos orgânicos que mobilizam fós- o controle de plantas daninhas nas la-
foro a partir de formas precipitadas em vouras de soja e contribuiu muito para
minerais, e fitatos, que mobilizam fósforo reduzir perdas de produtividade em fun-
da matéria orgânica (Sousa et al., 2020). ção desse estresse biótico. Entretanto, o
Essa é outra tecnologia baseada em mi- uso prolongado e frequente do glifosato
crorganismos promotores de crescimen- ao longo dos anos provocou a seleção de
to que auxilia no aumento da produtivi- biótipos de plantas daninhas resistentes
dade, diminuindo a pressão de abertura a esse herbicida, caso das buvas (Conyza
de áreas novas. spp.), capim-amargoso e azevém (Lolium
multiflorum), entre outros. Para contornar
o problema e para evitar o desenvolvi-
Manejo de plantas daninhas
mento de novos casos de resistência, a
As plantas daninhas se constituem em Embrapa orienta os produtores para o
importante estresse biótico na cultura da manejo adequado do controle de plantas
soja. Por exemplo, apenas 4 plantas m-2 invasoras, envolvendo o uso de diferen-
de capim-amargoso (Digitaria insularis) tes técnicas culturais e preventivas, bem
reduzem em 25% a produtividade de como a alternância de herbicidas e de
grãos (Gazziero et al., 2019). Nas últimas material genético resistente a herbicidas.
quatro décadas, foram desenvolvidas Essas medidas são fundamentais para
e difundidas várias práticas de manejo proteger o potencial produtivo da cultu-
preventivo, cultural e químico de plantas ra da soja e para o uso de sistemas inten-
daninhas em modelos de produção que sivos, sem que haja problemas sérios de
envolvem a cultura da soja. Uma das infestação de plantas daninhas e de resi-
principais estratégias é semear a soja em dual de herbicidas que comprometam as
Sistema Plantio Direto com alta quanti- culturas subsequentes.
dade de palha, a qual inibe a emergência
de uma série de plantas daninhas foto- Manejo de insetos-praga
blásticas positivas (Balbinot Junior et al.,
A cultura da soja é atacada por diversas
2008). Essa estratégia, juntamente com
espécies de pragas, que, quando não
medidas preventivas para que novas es-
controladas apropriadamente, podem
pécies de invasoras não infestarem áreas
reduzir drasticamente ou até inviabili-
controladas, têm elevado impacto no
zar a sua produção (Bueno et al., 2012).
manejo racional de plantas daninhas.
Assim, o Manejo Integrado de Pragas
No Brasil, atualmente cerca de 95% da da Soja (MIP-Soja) é a tecnologia desen-
área de soja é cultivada com soja re- volvida pela Embrapa Soja, em parceria
sistente ao herbicida glifosato (RR ou com diferentes universidades e insti-
RR2), o que permite controlar as plantas tuições de pesquisa (como o Instituto
daninhas com o uso de um herbicida de Desenvolvimento Rural do Paraná,
não seletivo, com amplo espectro de IDR-PR, por exemplo), com o principal
controle. Essa estratégia facilitou muito objetivo de produzir de forma a não
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 131

impor danos ao meio ambiente ou a sua produção sustentável de alimentos, pro-


biodiversidade, assim como não reduzir a tegendo as culturas contra pragas e, ao
qualidade ou o valor econômico da soja mesmo tempo, mantendo a qualidade
produzida (Torres; Bueno, 2018; Bueno ambiental por meio de práticas de ges-
et al., 2021). A tecnologia MIP-Soja se tão integrada e ecologicamente correta
fundamenta em três pilares que são: das lavouras (Bueno et al., 2021). Sendo
1) O monitoramento das pragas, seus assim, o MIP-Soja proporciona altas pro-
danos e seus inimigos naturais; 2) Os ní- dutividades, com reduções no impacto
veis de danos das pragas; e 3) O uso de ambiental e nos custos de produção, pois
diferentes estratégias de manejo. Sendo gera economia de até 50% com insetici-
assim, essa tecnologia, quando adotada das (Conte et al., 2019a).
corretamente, permite reduzir as perdas
No Brasil, o estudo e desenvolvimento
de produtividade causada por pragas
dessa tecnologia deu-se no final dos anos
com um uso racional de inseticidas, as-
1960 e início dos anos 1970 (Bueno et al.,
sociados a outras ferramentas de manejo
2021) e fortaleceu-se com a fundação
como o controle biológico ou o uso de
da Embrapa Soja em 1975, sua principal
cultivares de soja mais resistentes (Bueno
incentivadora. Estudos e pesquisas perió-
et al., 2021). Com a aplicação do MIP-Soja
dicas são mantidas na instituição visando
é possível evitar a ocorrência de estresses
ao desenvolvimento de novas ferramen-
bióticos causados pelas pragas, elimi-
tas de manejo além da constante atuali-
nando a restrição decorrente dos danos
zação do MIP-Soja como um todo frente
desses insetos daninhos. Isso preserva
às características dos sistemas produtivos
a expressão do potencial produtivo da
e às mudanças no panorama de pragas
cultura, reduzindo a demanda por áreas
nas lavouras.
adicionais de cultivo para manter a mes-
ma produção.
Manejo de doenças
A soja e o milho representam cerca
de 85% da produção de grãos no País. Entre os principais fatores que limitam a
A soja é geralmente cultivada como pri- obtenção de altos rendimentos em soja
meira safra no verão, seguida de milho estão as doenças (Hartman et al., 2015).
como segunda safra no outono/inverno A importância econômica de cada doen-
e, eventualmente, trigo como a terceira ça varia de ano para ano e de região para
safra. O uso intensivo da área, que tam- região, dependendo principalmente das
bém garante maior produção, favorece condições climáticas de cada safra, mas
a multiplicação de pragas polífagas e há várias doenças que podem inviabilizar
torna-se somente viável econômica e a cultura da soja, caso medidas de ma-
ambientalmente graças não só a adoção nejo não sejam adotadas (Godoy et al.,
do MIP-Soja, mas a todo esse sistema 2016a). O controle das doenças por meio
produtivo. Portanto, essa tecnologia é da resistência genética é a forma mais efi-
um componente-chave para obter uma ciente e econômica existente. Entretanto,
132 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Ken Ritchie (Pixabay)

para um grande número delas, não exis- et al., 2016b); f ) manter fertilidade de solo
tem cultivares resistentes ou o número é adequada, o que propicia plantas menos
limitado (Godoy et al., 2015). Portanto, a sensíveis a doenças (Oliveira Junior et al.,
convivência econômica com as doenças 2010b); g) o tratamento de sementes é
depende da ação de vários fatores de um recomendado para evitar a disseminação
sistema integrado de manejo da cultura. de doenças para novas áreas de cultivo e
As recomendações para manejar ade- garantir a emergência em caso de verani-
quadamente as doenças da soja incluem: co após a semeadura (Godoy et al., 2016a;
a) rotação de cultura, para reduzir a po- Costamilan et al., 2017); e h) Quando
pulação de patógenos que sobrevivem necessário utilizar fungicidas, de acordo
de uma safra para outra em restos de com o histórico da lavoura e monitora-
cultura (Almeida et al., 2001; Debiasi mento realizado desde a emergência da
et al., 2016; Acharva et al., 2020); b) evitar soja (Godoy et al., 2016b). A adoção inte-
compactação do solo para promover o grada dessas estratégias de manejo vem
bom desenvolvimento das raízes e di- assegurando adequada proteção à soja
minuir o acúmulo de água em períodos brasileira, permitindo a obtenção de altas
chuvosos (Torres et al., 2010); c) eliminar produtividades.
plantas de soja voluntárias e não cultivar
soja na entressafra (vazio sanitário), com Avanços na mecanização
o objetivo de reduzir a população do da semeadura à colheita
fungo da ferrugem-asiática (Godoy et al.,
2016b); d) utilizar cultivares resistentes às Nas últimas quatro décadas, houve
doenças que ocorrem no local de cultivo aprimoramentos expressivos nas se-
e sementes certificadas, de procedência meadoras, pulverizadores e colhedoras,
segura (Costamilan et al., 2017); e) utilizar permitindo adequada instalação da la-
cultivares precoces, no início da época voura, controle fitossanitário eficiente e
recomendada para cada região (Godoy reduções nas perdas de colheita. Esses
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 133

avanços impactam diretamente na pro- grãos esteja dentro da amplitude ideal, e


dutividade da soja. O aumento da ca- que a colheita seja realizada em períodos
pacidade operacional também facilita a mais secos, facilitando o desempenho
condução de modelos intensificados de da colhedora. As plantas de soja devem
produção, por permitir efetuar a colheita estar desprovidas de folhas ou caules
e a semeadura com alta rapidez. verdes, assim como não deve haver a pre-
sença de plantas invasoras vegetando na
No que tange às perdas na colheita, o
área a ser colhida. Finalmente, existe uma
Programa de Redução das Perdas de Grãos
faixa de velocidade de operação que re-
na Colheita de Soja (PRPGCS), da Embrapa
presenta o melhor benefício/custo, pois
Soja, é uma ação institucional que incen-
fora dessa faixa diminui o desempenho
tiva a realização do monitoramento das
da colhedora ou aumenta as perdas na
perdas de grãos de soja que ocorrem
lavoura.
durante o processo de colheita, usando
a inovação tecnológica conhecida como O resultado mais recente da importância
“Copo Medidor de Perdas da Embrapa”. da aferição das perdas na colheita de
Por meio dessa ferramenta, é possível soja foi obtido pela Emater, ao realizar
aferir quanto da produção não está sendo um levantamento na safra 2018/2019
recolhida pela colhedora e determinar se (Conte et al., 2019b), em que obteve o
as perdas totais situam-se até um nível índice médio de perdas de 1,2 saco por
máximo de tolerância de um (1) saco de hectare. É um valor que está levemente
60 kg ha-1, acima do qual é considerado acima do nível de tolerância estabelecido
como desperdício e que, salvo causas con- pela Embrapa Soja – e que representa um
dicionantes incontroláveis principalmente desperdício de 10,2 kg ha-1 de soja; pode
de clima, na maioria das vezes poderia ser parecer insignificante, mas, quando mul-
evitado. tiplicados pelos 5,4 milhões de hectares
semeados no Paraná na safra 2018/2019,
O produtor deve assegurar treinamento
chegam-se a quase 925 mil sacas de soja.
permanente e qualificado dos operado-
res de suas colhedoras, ou das máquinas
alugadas. Em ambos os casos, é impor- Outras informações
tante que a manutenção dos equipa- importantes no contexto
mentos tenha sido realizada em tempo da cadeia produtiva da soja
hábil, de forma adequada, conforme as
recomendações dos fabricantes e por
profissionais especializados. Logística
À época da colheita, é importante moni- Destaca-se a integração dos modais de
torar as áreas e avaliar as perdas durante transporte, uma vez que a produção
as operações, o que permite corrigir a precisa ser transportada do local de pro-
tempo as não conformidades. Também dução até o seu destino, seja uma indús-
se deve atentar para que a umidade dos tria doméstica ou portos exportadores.
134 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Ressalta-se o avanço das exportações de central do País, especialmente no Mato


soja pelos portos do Norte e Nordeste, en- Grosso do Sul.
tre os quais: Porto de Itaqui, no Maranhão;
Porto de Vila do Conde, no Pará; Porto de Valor da produção primária
Salvador, na Bahia; Porto de Manaus, no
Amazonas, e Porto de Santarém, no Pará. Na década atual, observa-se que a soja ge-
rou uma remuneração maior que a gerada
Um avanço é a recente conclusão do
por outros cultivos de primeira safra, em
asfaltamento da BR-163, que permite es-
grande parte dos anos, razão que propor-
coar a produção de grãos das principais
cionou a expansão da sua área. Enfatiza-se
regiões produtoras do País, localizadas
que o desenvolvimento tecnológico tem
no Centro-Oeste, sobretudo no estado
sido vital, pois permitiu a introdução da
do Mato Grosso, via Miritituba (distrito
do município de Itaituba, PA) e Santarém, cultura em regiões com condições edafo-
com menores custos, tempo de transpor- climáticas diferentes daquelas observadas
te e risco de acidentes. nas áreas tradicionais de cultivo. Neste
cenário, o Valor Bruto da Produção (VBP)
Outros avanços importantes residem no de soja do Brasil, estimado em junho
transporte ferroviário, especialmente no pelo Mapa, é superior a R$ 173,5 bilhões,
que diz respeito às ferrovias Norte-Sul e 19,8% superior ao VBP alcançado em 2019
Leste-Oeste. A  conclusão de trechos no
(R$ 144,9 bilhões). A  soja, como o prin-
Matopiba nos últimos anos e a política de
cipal produto de exportação brasileira,
concessão adotada pelo governo federal
movimentou US$ 26,328 bilhões, valor
permitirão reduzir o custo de transporte
US$ 6,727 inferior ao observado em 2018,
e aumentar a eficiência no escoamento
reflexo da diminuição das importações
dos grãos.
pela China, em decorrência da gripe suína.
Entre os avanços logísticos projetados
para os próximos anos, que terão impacto
Cadeia produtiva
na logística do agronegócio, podem ser
dinâmica e moderna
destacados: (1) o derrocamento do Pedral
do Lourenço, no estado do Pará, que Em função do avanço da cultura, grandes
permitirá a navegabilidade da Hidrovia empresas mundiais implantaram suas
Araguaia-Tocantins; (2) a construção da fábricas ou centro de negócios no Brasil,
ponte entre Porto Murtinho (Mato Grosso como indústrias de maquinário, fertili-
do Sul) e Carmelo Peralta (Paraguai), es- zantes e agrotóxicos a montante, e de
sencial para a Rota Bioceânica, a qual foca comercialização e industrialização de soja,
a viabilização de um corredor rodoviário a jusante. O desenvolvimento da cadeia
até o Oceano Pacífico. A primeira obra produtiva da soja estimulou outras cadeias
impulsionará a agricultura dos estados lo- produtivas, como milho, algodão feijão-
calizados mais ao Centro e Norte do Brasil, -caupi e sorgo, culturas que ampliaram sua
enquanto a segunda obra incentivará o área de segunda safra, em sucessão à soja.
avanço da produção agrícola na região Também foram estimuladas as cadeias
Capítulo 7 Liderança e recordes de produtividade de soja com base em tecnologia e sistemas... 135

produtivas animais, como aves, suínos, na balança comercial brasileira têm, na


bovinos e peixes, para as quais a oleagino- receita cambial da soja, o baluarte que
sa é matéria-prima essencial na sua dieta. permite contrabalançar importações de
A soja também tem sido importante para outros setores e o deficit da balança de
a sustentabilidade de outros cultivos, sen- serviços. Em 2019, a soja foi responsável
do adotada na renovação de canaviais e por 14% das exportações brasileiras e
rotação com espécies regionais, como o 43% das exportações do agronegócio,
arroz no Rio Grande do Sul e o capim (para além do seu superavit comercial (US$
semente) no norte de Minas Gerais. 32,5 bilhões) responder por mais de 60%
do saldo comercial brasileiro, que alcan-
Agregação de valor em çou mais de US$ 48 bilhões, conforme
carnes e outros alimentos dados do Comex Stat, de julho de 2020.

São mais de dois mil usos da soja.


Classe média rural e
Dificilmente passamos um dia sem ter
contato com algum produto que conte-
agricultura familiar
nha soja. Atualmente, é possível encon- Conforme o Censo Agropecuário, mais de
trar num supermercado perto de 250 pro- 60% dos estabelecimentos produtores
dutos alimentícios que contêm soja. de soja têm até 50 ha e mais de 90% até
Nesse contexto, todo cidadão consume 500 ha. Dito de outro modo, a sojicultura
diariamente a soja, seja na forma de ali- brasileira é conduzida majoritariamente
mentos ou de outros produtos que le- por pequenos e médios produtores fa-
vam o grão. Isso cria uma alta demanda miliares e, conforme painéis realizados
de soja, produzida largamente no Brasil. pela Embrapa, a cultura tem sido primor-
Nesse contexto, os hábitos da sociedade dial para a formatação e manutenção de
ditaram a direção da pesquisa em soja, uma classe média rural, impulsionando
guiando a pesquisa agrícola nos parâme- o desenvolvimento socioeconômico da
tros associados à cultura (por exemplo: agricultura brasileira.
teor de proteína), assim como o desen-
volvimento de produtos à base de soja A soja tem contribuído para a qualidade
(por exemplo: alimentos, pneus, tintas, de vida de municípios produtores, o que
cosméticos). pode ser verificado em indicadores como
o Índice Firjan de Desenvolvimento
Municipal (IFDM). Como exemplo,
Liderança nas exportações
Lucas do Rio Verde (MT) e Luís Eduardo
A partir dos anos 2000, ano a ano, a soja Magalhães (BA), municípios cuja econo-
foi se consolidando como a principal mia é impulsionada pela soja, são aqueles
cadeia produtiva brasileira exportadora, que alcançaram o maior IFDM em seus
descolando das demais cadeias produti- respectivos estados. Além disso, no Mato
vas (carnes, sucroalcooleira, café e flores- Grosso, nove dos dez municípios com
tal). Os  seguidos recordes de superavit maior IFDM, são importantes produtores
136 Tecnologias Poupa-Terra 2021

de soja, alguns destes contando com in- https://abiove.org.br/estatisticas. Acesso em: 4


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141

Foto: punkfurunfo (Pixabay)

Capítulo 8

Pecuária de corte
Otimização do uso
da terra e adoção da
intensificação sustentável

Lucimara Chiari
Rodrigo da Costa Gomes
Davi José Bungenstab
Andrea Alves do Egito
João Batista Catto
Flábio Ribeiro de Araujo
Fabiana Villa Alves
Roberto Giolo de Almeida
Rodrigo Amorim Barbosa
142 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Na pecuária de corte brasileira, a intensi- agrícola, e um dos caminhos para isso é o


ficação sustentável visa otimizar o uso da crescimento ordenado e, de certa forma,
terra, fazendo com que as áreas utilizadas verticalizado, por exemplo, intensifican-
atinjam, do ponto de vista econômico- do-se as atividades já desenvolvidas nas
-ambiental, seu ponto ideal de produção, áreas em uso para minimizar a necessida-
exercendo o efeito conhecido como pou- de de abertura de novas áreas. Em países
pa-terra. Para tanto, existem várias tecno- industrializados, contrariamente, a inten-
logias empregadas na produção de carne sificação está ligada ao uso, muitas vezes
bovina que, comprovadamente, levam excessivo, de insumos industrializados
a um aumento substancial em diversos que geram externalidades negativas,
índices zootécnicos, que são os melhores principalmente sobre o meio ambiente.
indicadores de melhoria da eficiência dos Especificamente na pecuária de corte
sistemas de produção de carne. Vale des- brasileira, a intensificação sustentável
tacar que, independentemente do tipo visa otimizar o uso da terra, fazendo com
específico de sistema de produção e das que as áreas utilizadas atinjam, do ponto
tecnologias adotadas, o uso e incremento de vista econômico-ambiental, seu pon-
dessas é sempre positivo em termos de to ideal de produção. Isso não significa
efeito poupa-terra e, consequentemente, necessariamente maior uso de insumos,
de aumento da sustentabilidade dos sis- mas sim uma melhor combinação dos
temas de produção, o que nos leva a crer fatores bióticos e abióticos, com melhor
que o Brasil pode até dobrar sua produ- utilização de tecnologias que favorecem
ção total de carne bovina nas próximas a produtividade, tanto do solo quanto
décadas sem a necessidade técnica de se dos animais. Também não implica em
abrir novas áreas. perda de bem-estar animal, ou qualquer
outro prejuízo à biodiversidade.
Uso da terra e
intensificação sustentável A evolução da pecuária
de corte no Brasil:
A evolução do setor agropecuário ine-
vitavelmente leva a mudanças no uso
uma visão geral
da terra, seja qual for o lugar do mundo. A pecuária é a única atividade presente
A quantidade, a qualidade e a velocidade em todos os municípios brasileiros, sen-
dessa mudança, todavia, é variável. Além do que, em mais da metade dos municí-
disso, esses fatores podem ter conse- pios de alguns estados, essa é a principal
quências positivas ou negativas, depen- atividade econômica. Mesmo ocupando
dendo da conjuntura socioeconômica da grande parte do País, ainda há espaço
região e de sua orientação para o desen- para seu crescimento, sem que necessa-
volvimento sustentável. Atualmente, paí- riamente se avance sobre áreas floresta-
ses em desenvolvimento, como o Brasil, das, o que é mais difícil de ser feito em ou-
buscam maior sustentabilidade no setor tros países da América Latina e também
Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 143

Foto: Breno Lobato


na Austrália, África e Ásia. Em alguns De 2004 a 2019, o número de abates
casos, como nos sistemas em integração de bovinos, de acordo com o Instituto
do tipo silvipastoril (pecuária-floresta) e Brasileiro de Geografia e Estatística
agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-flo- (IBGE), aumentou em aproximadamente
resta) tem-se, inclusive, a recomposição 25%, passando de 25,94 milhões para
da paisagem com introdução de árvores 32,45 milhões2, indicando um aumen-
nativas ou exóticas, com reconhecidas to no desfrute, tendo em vista que, no
vantagens ambientais, econômicas e mesmo período, o rebanho bovino bra-
sociais, incluindo serviços ecossistêmicos sileiro apresentou ligeiro aumento, de
como fixação de carbono e bem-estar 4,5%, passando de 204,51 milhões para
213,68 milhões de cabeças (ABIEC, 2020).
animal, entre outros.
Quanto ao peso total produzido de car-
Além disso, desde 2004, o Brasil destaca- caças, de 2004 a 2019, houve aumento
-se como maior player mundial no setor em 39%, de 5.906 milhões de toneladas
de carnes, passando a exportar mais de para 8.219 milhões de toneladas3, sendo
1 milhão de toneladas de carne bovina. que o peso por carcaça aumentou de
Esse primado foi mantido na década 228 kg para 253 kg durante o mesmo
seguinte, atingindo seu ápice em 2019, período, indicando uma melhoria na efi-
com 1,86 milhão de toneladas1 expor- ciência de produção de carne no País.
tadas, responsável por cerca de 20% do É preciso considerar que todo esse au-
faturamento dos frigoríficos. Ademais, mento se deu sem que fosse necessário
nos últimos 10 anos, de 2009 a 2019, a aumentar a área de pastagens. Dados
participação da pecuária de corte no PIB oficiais, no período abrangente entre os
total do Brasil passou de 7,8% para 8,5%, Censos Agropecuários de 2006 e 2017,
sendo que, em 2019, o Brasil exportou comprovam que a área total com pasta-
carne para 154 países, 53 países a mais gens no Brasil praticamente não foi al-
que no ano anterior, de acordo com a terada, de 160 milhões de hectares para
Abiec (2020).
2
Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1092.
1
Disponível em: http://abiec.com.br/exportacoes. 3
Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1092.
144 Tecnologias Poupa-Terra 2021

159 milhões de hectares. Sendo que hou- levando em conta os quesitos principais
ve um aumento relativo nas áreas com dos sistemas produtivos brasileiros, a
pastagens plantadas (+10%) em detri- saber:
mento das áreas com pastagens naturais • Melhoramento genético animal e bio-
(-18%) (IBGE, 2006, 2017), o qual indica técnicas reprodutivas.
um maior investimento em tecnologia,
com perspectiva de que parte das áreas • Melhoramento, manejo e recuperação
de pastagens.
com pastagens naturais tenham sido
incorporadas a níveis de produtividade • Suplementação alimentar a pasto e
mais elevados. confinamento.
Outro indicativo da melhoria na eficiên- • Controle de doenças e parasitoses.
cia de produção de carne no Brasil pode • Sistemas integrados de produção.
ser observado a partir de dados da Abiec
O uso e aperfeiçoamento constante
(2020), em que a porcentagem de bois
dessas tecnologias comprovadamente
(exceto touros) terminados com mais de
levam a aumento substancial em diver-
36 meses, no total de machos, no período
sos índices zootécnicos, que são no caso
de 2004 a 2019, diminuiu de 34,2% para
os melhores indicadores de melhoria da
5,9%. Isso reforça o aumento na utiliza-
eficiência dos sistemas de produção de
ção de tecnologias que aceleram o ciclo
carne, que em última análise culminam
produtivo, favorecendo a precocidade e
no indicador – quantidade de carne
seus benefícios, como maior qualidade produzida por hectare por ano com que
de carne. Destacam-se a recuperação de nível de impacto. É importante já aqui
pastagens degradadas, uso de sistemas ressaltar que, por tratar-se de sistemas
em integração, confinamento e semicon- extensivos em geral aquém de seu po-
finamento a pasto, adubação de pasta- tencial produtivo, o aumento da eficiên-
gens, suplementação animal, uso de for- cia dos sistemas de produção de carne
rageiras adaptadas, uso de raças bovinas não necessariamente significa aumento
tolerantes ao calor e uso de boas práticas no impacto ambiental, muito pelo con-
agropecuárias, dentre outras. trário, como no caso de pastagens de-
gradadas, a recuperação delas aumenta
O efeito poupa-terra da sobremaneira sua produtividade e as
tira de uma situação de emissoras de ga-
pecuária de corte brasileira ses de efeito estufa para uma excelente
Várias são as tecnologias empregadas na fonte de sequestro e fixação de carbono
produção de carne bovina, cujos impac- no solo.
tos estimados otimizam o uso da terra, Portanto, os principais índices aqui
exercendo o efeito conhecido como pou- considerados foram: taxa de lotação
pa-terra. Para facilitar a descrição e en- das pastagens, redução na idade de
tendimento, essas podem ser agrupadas abate dos bovinos ou sua entrada em
Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 145

reprodução, especialmente no caso de Estimativas de efeito


fêmeas, aumento da fertilidade, au-
poupa-terra de tecnologias
mento no peso à desmama, redução
na mortalidade e aumento no peso de
empregadas na pecuária
carcaça do animal abatido. Para fins de de corte brasileira
cálculo da área de terra “poupada” pela
melhoria de produtividade proporcio- Melhoramento genético bovino
nado por cada tecnologia, a análise e biotécnicas reprodutivas
baseou-se em índices de produtividade
de 3 ou 4 décadas passadas, quando se O rebanho bovino brasileiro passou por
iniciou de fato a expansão da fronteira reconhecida evolução genética devido ao
agrícola brasileira, conforme sumariza- avanço das técnicas e dos programas de
do na Tabela 1. melhoramento genético. O pioneiro deles
foi o Programa de Melhoramento Genético
Ao final deste capítulo, está brevemen- de Bovinos de Corte (Geneplus), lidera-
te apresentado o caso de Mato Grosso do pela Embrapa, Associação Nacional
do Sul, considerado o estado pioneiro de Criadores e Pesquisadores (ANCP) e
no passado com relação à expansão da Associação Brasileira dos Criadores de
fronteira agrícola, quanto no presente Zebu (ABCZ) (Ferraz; Felício, 2010). Mais
na adoção de tecnologias poupa-ter- recentemente, os programas começaram
ra. A análise das mudanças de uso da a empregar inclusive técnicas mais avan-
terra, considerando todo o território çadas de avaliação genética utilizando
do estado, juntamente com os dados dados genômicos associados a fenótipos.
de produção de carne, provam que Além disso, deve-se destacar o aumento
a intensificação da pecuária de corte no uso de cruzamento industrial a partir
permite a disponibilização de espaço de matrizes zebuínas (Nelore e anelora-
para outras atividades agrícolas e até das) e touros de raças taurinas e compos-
mesmo o aumento das áreas de pre- tas. O impacto da melhoria genética pode
servação natural, sem prejuízo para a ser medido, por exemplo, pelo aumento
produção de carne. no peso de carcaça ao abate, pela redução

Tabela 1. Índices de produtividade da pecuária de corte brasileira no início da expansão da fronteira


agrícola.

Ano
Indicador Unidade Valor Referência
referência
kg de equivalente carcaça Martha Junior et al.
Produtividade 11,97 1970
por hectare ao ano (2012)
Peso de carcaça Thiago e Costa
kg 225,00 1983
de machos (1983)
146 Tecnologias Poupa-Terra 2021

na idade ao abate e à primeira reprodução demandaria o equivalente a 2,49 milhões


e pelo aumento na fertilidade. Em uma de hectares adicionais por ano, se levada
avaliação com base nos ganhos em peso em conta a produtividade que era obtida
à desmama, Rosa et al. (2016) estimaram no ano de 1970, adotado como referência
que o uso de touros melhoradores pode para esta análise.
elevar em 15,26 kg o peso à desmama No contexto da reprodução de bovinos,
de criatórios comerciais, o que pode sig- a inseminação artificial (IA) é uma técnica
nificar um incremento de mais de 10% já essencial para a melhoria genética do
nessa fase do ciclo produtivo, em que o rebanho, seja por seleção ou por cruza-
animal não completou ainda 1 ano. Em mento industrial. O  incremento dessa
1970, não existiam programas de melho- tecnologia com o uso de inseminação ar-
ramento genético de bovinos no Brasil. tificial em tempo fixo facilitou o manejo
dos sistemas de produção, facili-
tando seu uso, e sendo de gran-
Foto: Breno Lobato
de influência para sua expansão
tanto no passado recente quanto
no futuro. O impacto da IA, além
de melhoria da qualidade gené-
tica e uniformidade dos lotes de
animais, com impacto direto no
manejo e comercialização, tem
grande influência na melhoria
de desempenho das progênies
decorrentes de seu uso, além de
possíveis benefícios sobre índices
de fertilidade. Segundo Asbia
(2020), 16% das matrizes de corte
são atualmente inseminadas no
Considerando que a produção de touros Brasil, evoluindo 6 pontos percentuais
melhoradores seja na ordem de 200 mil e desde 2012. De acordo com Baruselli
que estes sejam acasalados com 6 milhões (2020), o índice de aumento de empre-
de vacas por ano, com taxa de desmama go da inseminação artificial é elevado,
média de 65%, espera-se a produção saindo de 3,4 milhões em 2002 para
de 3,9 milhões de bezerros melhorados, 9,7 milhões de matrizes de corte insemi-
com a produção adicional de 59,5 mil nadas. Estima-se ainda que a insemina-
toneladas de peso vivo já na desmama, o ção artificial possa atualmente ser utiliza-
que é equivalente a 29,8 mil toneladas de da em 10,2 milhões de matrizes de corte,
carcaça. Essa quantidade de carcaça pro- elevando a produção de bezerros em 8%,
porcionada pelo melhoramento genético equivalente 816 mil bezerros por ano
para aumento da produção de peso vivo (Baruselli et al., 2019). Estima-se ainda
Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 147

que o peso de carcaça ao abate seja ele- potencial genético de ganho de peso dos
vado em 15 kg nos bezerros oriundos de animais e não apenas da maior oferta de
inseminação artificial, perfazendo uma um melhor alimento.
produção adicional de 12,2 mil toneladas
de carcaça. Considerando a produtivi- Melhoramento, manejo e
dade na década de 1970, relatada por
recuperação de pastagens
Martha Junior et al. (2012), a inseminação
artificial mostrou ser capaz de poupar A partir da década de 1970, com o desen-
1,02 milhão de hectares por ano. volvimento de cultivares de forrageiras
Deve-se destacar, mais uma vez, que as mais produtivas e resistentes a pragas e
tecnologias que melhoram os índices doenças para pastagens, as propriedades
finais dos sistemas de pecuária têm inte- elevaram sua capacidade de lotação,
ração estreita entre si e efeito sinergético aumentando o rebanho em relação à
evidente, porém difícil de se dissociar mesma área, ou reduzindo a área para
umas das outras. Neste caso, por exem- um mesmo rebanho. Além disso, ganhos
plo, é difícil de estimar o efeito poupa- significativos aconteceram na produti-
-terra do melhoramento genético dos vidade animal. Um relato de como os
rebanhos isoladamente. Todas as melho- índices foram transformados na época
rias de índices que levam ao efeito pou- da implantação de pastagens cultivadas
pa-terra, das melhorias das pastagens às no Brasil foi dado por Lima et al. (1979).
tecnologias de natureza nutricional, por Em pesquisa na Embrapa Gado de Corte,
exemplo, contam com a melhoria gené- avaliando o efeito da pastagem cultivada
tica dos rebanhos. A alta produtividade sobre a idade à primeira reprodução de
em confinamento, que leva a uma maior fêmeas zebuínas, os autores relataram
produção de carcaça por hectare e à re- que o uso de pastagem cultivada por si
dução da necessidade de áreas produti- só permitiu adiantar a idade ao primeiro
vas, também é resultado da melhoria do parto em 1 ano.
Foto: Gabriel Rezende Faria
148 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Utilizando dados do IBGE, Martha Junior em sistemas de produção a pasto, com


et al. (2012) relataram que a taxa de lota- estimativa de que mais de 95% da car-
ção saiu de 0,51 cabeça por hectare em ne produzida nesse tipo de sistema,
1970 para 1,08 cabeça por hectare em considerando o ciclo do nascimento ao
2006. Abiec (2020) reporta taxa de lota- abate. Entretanto, a evolução no uso de
ção, em 2019, de 1,31 cabeça por hecta- pastagens também passou pela solução
re, o que equivale a uma lotação 257% de alguns problemas de ordem nutricio-
maior que aquela de 50 anos atrás. Vale nal pelo desenvolvimento e difusão do
ressaltar que os incrementos obtidos uso de práticas como a suplementação
em produtividade nas últimas décadas mineral, suplementação proteica e pro-
foram, também, fruto da melhoria de téc- teico-energética, terminação intensiva a
nicas de manejo das pastagens e do solo. pasto e confinamento. Todas essas foram
Considerando-se um rebanho de 213,70 técnicas inovadoras para seu tempo que
milhões de cabeças e a taxa de lotação lograram suprir carências nutricionais
que existia em 1970, a área necessária das próprias plantas e dos solos brasilei-
hoje para o rebanho em tal cenário seria ros, além da conhecida estacionalidade
de 418,98 milhões de hectares, ao passo forrageira, ou seja, a redução de cresci-
que, na realidade, hoje a atividade ocupa mento e a perda da qualidade nutricional
apenas 162,53 milhões de hectares, ou dos pastos na época da seca.
seja, uma redução de 256,50 milhões de
Sobre a suplementação mineral, tendo
hectares.
seu advento na década de 1970, estudos
Nesse contexto, descontando-se o núme- mostraram que sua adoção leva a aumen-
ro de animais terminados intensivamen- to de 36% na taxa de desmama, de 30 kg
te em confinamento e a pasto e conside- no peso à desmama e em 38,9 kg no ga-
rando os cálculos a seguir, a terminação nho de peso por ano (McDowell, 1999).
intensiva em confinamento e a pasto Levando em consideração que o último
juntos podem ter um efeito poupa-terra indicador pode ser considerado como
de 85,7 milhões de hectares. Com isso, o o peso adicional ao abate de animais
efeito poupa-terra final do uso de pasta- jovens, que o número de animais abati-
gens cultivadas no Brasil pode chegar a dos considerados jovens em 2019 foi de
180 milhões de hectares. 5,2 milhões de cabeças4 e que apenas
50% do rebanho de recria e engorda re-
Suplementação alimentar a ceba suplementação mineral, a produção
pasto e produção confinada adicional em carcaça pode se equivaler a
50,5 mil toneladas de carcaça. Esse nú-
Com o melhoramento genético, o desen- mero equivale a poupar 4,22 milhões de
volvimento de cultivares forrageiras mais hectares de terra por ano apenas com
produtivas e a ampla disseminação das essa simples técnica, considerando-se
pastagens cultivadas no Brasil, a pecuária
nacional definitivamente se sustentou 4
Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1092.
Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 149

como sempre a referência de produtivi- sobre seu uso. Entretanto, pela facilidade
dade da década de 1970. Tendo em vista de sua adoção, é razoável afirmar que o
que o aumento na taxa de desmama, número de animais terminados nessa es-
citado por McDowell (1999), seja de 22 tratégia seja de pelo menos 50% daquele
pontos percentuais, que a suplementa- referente à técnica de confinamento, ou
ção mineral ocorra em 50% do rebanho seja, 3 milhões de cabeças.
de cria (número conservador) e que o Os confinamentos de bovinos de corte
abate de novilhos em 2019 foi de 1,57 no Brasil têm uma peculiaridade interes-
milhão, a demanda adicional de matrizes sante quando comparados a outros paí-
necessárias para a produção de bezerros ses. Nos sistemas brasileiros, os animais
para suprir o referido número de abates permanecem confinados em média ape-
seria de 1,47 milhão. Considerando a nas os últimos 90 dias antecedentes ao
lotação de 1,06 unidade animal por hec- abate, com ganho de peso ao longo do
tare (ABIEC, 2020), a suplementação mi- período de aproximadamente 1,4 quilo-
neral pode estar poupando ainda outros grama por animal por dia (Oliveira; Millen,
1,39 milhão de hectares, num total de 2014), sendo que aproximadamente 65%
5,61 milhões de hectares por ano. do ganho de peso se realize em carcaça,
Com o intuito de reduzir os efeitos da sa- num total de 81,9 kg de carcaça produ-
zonalidade forrageira, duas práticas têm zidas por animal. Além dos aspectos de
aumentado sua adoção: a terminação em bem-estar animal e baixa utilização de
confinamento e a terminação intensiva a insumos industrializados externos, uma
pasto. De acordo com Abiec (2020), 6,09 vez que os confinamentos são normal-
milhões de animais abatidos em 2019 mente realizados no período seco do
foram terminados em con- ano, sua produtividade deve
finamento. Isso representa ser comparada com a expec-
uma evolução de mais de tativa de ganho de peso de
4 milhões de cabeças quan- animais exclusivamente a
do comparados a 2001 pasto recebendo suplemento
(2,06 milhões), período mais mineral. Nesse cenário, espe-
antigo coberto por aquela ra-se ganho de 0,10 kg dia-1
publicação. Infelizmente, e a produtividade em 90 dias
não é possível precisar o seria de 5,85 kg de carcaça.
número de animais confina- Em termos de efeito poupa-
dos na década de 1970, mas -terra dos confinamentos,
acredita-se que o número considerando-se uma lota-
deve ser abaixo de 500 mil ção de aproximadamente
Foto: Vanderley Porfírio da Silva

animais por ano. Já a ter- 500 animais por hectare e


minação intensiva a pasto consumo diário de 25 kg de
é relativamente recente no uma dieta composta de volu-
Brasil e não há estatísticas moso, milho e soja, estima-se
150 Tecnologias Poupa-Terra 2021

que a área necessária para o ciclo de en- Quanto à terminação intensiva a pasto,
gorda confinada seja de 0,17 hectare por assim como o confinamento, ela permite
cabeça – com base em produtividade de reduzir a idade de abate em até 6 me-
grãos descrita por Acompanhamento da ses, ou mesmo aumentar a produção de
Safra Brasileira [de] Grãos (2019). Já para carcaça no mesmo período de termina-
a engorda a pasto com suplementação ção. Trata-se do fornecimento de ração
mineral, a necessidade de área seria concentrada em níveis entre 1,5% e 2,0%
de 0,76 hectare por cabeça com base do peso corporal, em lotações de 4 a
10 animais por hectare. Em uma aborda-
na taxa de lotação média estimada de
gem conservadora, considerando-se uma
1,31 cabeça por hectare (ABIEC, 2020).
lotação de 4 animais por hectare e consu-
Considerando-se que 6,09 milhões de ca-
mo diário de 8 kg de ração composta de
beças confinadas produziriam 498,8 mil
milho e soja, estima-se que a área necessá-
toneladas de carcaça com a demanda ria para o ciclo de engorda na terminação
de 1,04 milhão de hectares, o mesmo intensiva a pasto seja de 0,39 hectare por
rebanho no cenário a pasto demandaria cabeça – com base em produtividade de
65,10 milhões de hectares para produzir grãos descrita por Acompanhamento da
a mesma quantidade de carcaça. Sendo Safra Brasileira [de] Grãos (2019). Já para
assim, a terminação em confinamento é a engorda a pasto com suplementação
capaz de exercer um efeito poupa-terra mineral, a necessidade de área seria de
de 64 milhões de hectares por ano. 0,76 hectare por cabeça com base na

Foto: Luiz Antonio Dias Leal/Pixabay


Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 151

taxa de lotação média estimada de permitindo análises nesta abordagem.


1,31 cabeça por hectare (ABIEC, 2020). O controle estratégico de helmintos é um
Considerando-se que 3 milhões de ca- exemplo de tecnologia desenvolvida na
beças em terminação intensiva a pasto década de 1970 e amplamente emprega-
produziriam 175,5 mil toneladas de car- da atualmente. Definindo a frequência e
caça com a demanda de 1,16 milhão de o melhor período de uso de anti-helmín-
hectares, o mesmo rebanho no cenário ticos, o controle conhecido como 5-7-9
a pasto com sal mineral demandaria (números referentes aos meses de aplica-
22,9 milhões de hectares para produzir ção do anti-helmíntico no Brasil Central)
a mesma quantidade de carcaça. Sendo (Bianchin et al., 1995) é capaz de aumen-
assim, a terminação intensiva a pasto é tar o ganho de peso individual em até
capaz de exercer um efeito poupa-terra 42 kg ano-1 em bovinos de recria e engor-
de 21,7 milhões de hectares por ano. da até os 24 meses de idade. Para a es-
timativa do efeito poupa-terra dessa tec-
Controle de doenças nologia, considerou-se o abate em 2019
e parasitoses de 5,2 milhões de novilhos e novilhas,
animais jovens aos quais é recomendado
Além dos aspectos de melhoramento ge- o emprego do controle estratégico de
nético, reprodução e nutrição, a sanidade helmintos, um ganho adicional de 20 kg
dos rebanhos tem influência muito signi- de peso de carcaça e uma estimativa con-
ficativa na melhoria dos índices zootécni- servadora de adoção de 50% da tecnolo-
cos que culminam no efeito poupa-terra. gia. Nesse cálculo, o controle estratégico
Além do fato de se evitar perdas por bai- de helmintos proporcionaria uma pro-
xo desempenho causadas por doenças dução adicional de carcaça de 52 mil to-
e parasitoses, é importante notar que neladas. Considerando a produtividade
rebanhos mais produtivos também são por hectare da década de 1970 descrita
mais suscetíveis a esses fatores, de certa por Martha Junior et al. (2012), o efeito
forma aumentando proporcionalmente a poupa-terra seria então equivalente a
importância desse aspecto conforme se 4,3 milhões de hectares.
aumenta o desempenho animal.
O Programa Nacional de Controle e
O avanço no controle de doenças de Erradicação da Brucelose e da Tuberculose
bovinos é, sem dúvida, uma das grandes Animal (PNCEBT) foi instituído em 2001
conquistas para o aumento da produti- pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
vidade da carne bovina brasileira, assim e Abastecimento (Mapa) para diminuir a
como da ampliação do mercado con- prevalência daquelas doenças. Estima-se
sumidor interno e externo. Apesar de que a implantação do programa de vaci-
nem todos os avanços serem facilmente nação da brucelose levou à redução da
quantificáveis em termos de impacto na prevalência de rebanhos infectados em
questão de uso da terra, alguns têm cla- Minas Gerais, Rondônia, Mato Grosso e
ro benefício sobre desempenho animal, Mato Grosso do Sul em 43% em média,
152 Tecnologias Poupa-Terra 2021
Foto: Breno Lobato

em um prazo de 10 anos (Ferreira Neto totais contratados pelo Pano ABC foram
et al., 2016). Com base nas estimativas de 1,81 bilhão de reais, 1,55 bilhão de
de perdas econômicas realizadas por reais e 1,63 bilhão de reais, respectiva-
Santos et al. (2013) e considerando ape- mente, sendo 61%, 48% e 38% desses
nas os quatro estados citados, estima-se recursos desembolsados com a recupera-
terem sido evitadas perdas de 24,6 mil ção de pastagens; e de 7%, 6% e 6% com
toneladas de carcaça o que, compara- sistemas de integração, respectivamente
do à produtividade da década de 1970, (Observatório ABC, 2018, 2019).
equivaleria a um efeito poupa-terra de A partir de então, o uso de sistemas em
2,06 milhões de hectares. Obviamente, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta
considerando que as doenças em ques- (ILPF) para produção de carne, grãos e
tão também são questões de saúde pú- madeira tornou-se realidade no Brasil.
blica, há um imenso impacto do PNCEBT Entre suas vantagens, estão a intensifica-
que não se pode medir pela abordagem ção sustentável do uso da terra, a diver-
do efeito poupa-terra. sificação da produção, a conservação do
solo, o melhor uso dos recursos naturais
Sistemas integrados e dos insumos, a redução da pressão
pela abertura de novas áreas (efeito
de produção
poupa-terra), o maior bem-estar animal,
Em 2010, o Brasil foi pioneiro na propo- o sequestro de carbono, a mitigação das
sição do Plano de Agricultura de Baixa emissões de gases, dentre outras.
Emissão de Carbono (Plano ABC). Em sua Com a adoção de sistemas de integração
segunda fase (2020–2030), tem estimu- em suas diferentes combinações, o pro-
lado o uso de tecnologias melhoradas dutor obtém um produto adicional na
relacionadas à pecuária de corte, como mesma área de terras previamente ocu-
a recuperação de pastagens e sistemas pada com sistemas tradicionais, incluindo
de integração. Nas safras 2016/2017, madeira, grãos e carne bovina na mesma
2017/2018 e 2018/2019, os recursos área. Dependendo da configuração desses
Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 153

sistemas, que pode variar bastante, estima- consumidores e pontos de exportação,


-se que o efeito poupa-terra seja de 30% a outras atividades do agronegócio têm
50% nas áreas ocupadas por sistemas de se expandido em Mato Grosso do Sul,
integração, podendo atingir cifras próxi- influenciando especialmente os preços
mas de 75% dependendo do potencial da terra e levando consequentemente a
produtivo da área e do nível de intensifica- alterações em seu uso e ocupação.
ção adotado. Considerando levantamento
As atividades tradicionais no estado
realizado pela Associação Rede ILPF (ILPF...,
têm mostrado sinais de ajustar-se às
2016), estima-se uma área de 11,5 milhões
diferentes aptidões de cada região, con-
de hectares com os diversos tipos de siste-
forme os recursos disponíveis, especial-
mas de integração, sendo 83% com inte-
mente relacionados com solos e clima.
gração lavoura-pecuária (ILP) ou sistemas
Naturalmente, a cadeia da pecuária de
agropastoris, 9% com integração lavoura-
corte como um todo e os estabelecimen-
-pecuária-floresta (ILPF) ou sistemas agros-
tos rurais, individualmente, são levados
silvipastoris, e 7% com integração pecuá-
a promover as respectivas alterações em
ria-floresta (IPF) ou sistemas silvipastoris,
seus sistemas produtivos para continua-
sendo 1% com integração lavoura-floresta
rem competitivos.
(ILF) ou sistemas silviagrícolas, que não
envolvem a pecuária. Desta forma, numa Para se analisar com mais detalhes essa
estimativa mais conservadora, os sistemas dinâmica no uso da terra que se percebe
integrados seriam capazes de impor um em Mato Grosso do Sul e que pode fu-
efeito poupa-terra na ordem de 3,45 mi- turamente se repetir em outras regiões
lhões de hectares. do País e até de outras partes do globo
com condições similares, foi realizado
Estudo de caso: melhoria estudo considerando as microrregiões
geográficas do estado, com as mudanças
da eficiência no uso de uso da terra ocorridas nas mesmas en-
da terra no estado de tre 2010 e 2014. Foram utilizados dados
Mato Grosso do Sul do Sistema de Informações Geográficas
do Agronegócio de Mato Grosso do Sul
A região Centro-Norte do Brasil é onde
(Siga/MS), organizado pela Associação
atualmente ocorrem as maiores mu-
dos Produtores de Soja e Milho de Mato
danças no uso da terra no Brasil. Nesse
Grosso do Sul (Aprosoja/MS) e Sistema
contexto, o estado de Mato Grosso do Sul
Famasul.
pode ser considerado um bom “termô-
metro” de como essas mudanças tendem A Figura 1, que agrega as principais ati-
a ocorrer. A pecuária de corte extensiva é vidades agrícolas na região, evidencia
uma de suas principais atividades econô- que o crescimento da produção de grãos,
micas do estado. Devido especialmente à cana-de-açúcar e florestas comerciais,
sua proximidade com as regiões Sudeste essencialmente de eucaliptos, ocorreu
e Sul, onde estão os maiores centros sobre áreas de pastagens.
154 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Figura 1. Mudanças nos principais usos da terra em Mato Grosso do Sul, entre 2010 e
2014.
Fonte: Bungenstab et al. (2014).

Com um aumento de quase 1 milhão de números, enquanto o rebanho estadual


hectares, a área total com cultivos passou teve uma redução de mais de 1 milhão de
de 2,77 milhões para 3,74 milhões de hec- cabeças, o número de animais abatidos
tares entre 2010 e 2014. Já a área de pas- teve um aumento de mais de 60 mil cabe-
tagens, que cobria 61% da área total do ças. Esses números evidenciam a tendên-
estado em 2010, baixou de 21,82 milhões cia de aumento na eficiência produtiva
para 20,03 milhões de hectares no perío- do rebanho bovino de corte do estado,
especialmente relacionada com redução
do. O setor florestal teve um crescimento
na idade de abate dos animais. Isso ocorre
de 106%. Ao mesmo tempo, nota-se um
naturalmente devido à necessidade de se
outro aspecto muito interessante do pon-
otimizar o uso da terra.
to de vista ambiental: a área total de rema-
nescentes de vegetação nativa aumentou A análise detalhada dos dados permite
em mais de meio milhão de hectares. também verificar que especialmente o
setor florestal expandiu-se na região leste
O avanço dos cultivos ocorrido sobre áreas do estado, de solos menos férteis, tra-
de pastagens levou à redução no total dicionalmente ocupados pela pecuária.
do rebanho de bovinos em Mato Grosso O rebanho nessa região, consequente-
do Sul. Porém essa mudança ocorreu em mente, também sofreu reduções, porém
graus variáveis conforme a região do es- essas não foram tão drásticas como nas
tado e sua aptidão agrícola. Ao se analisar regiões de solos mais férteis. E o mais
detalhadamente os dados do rebanho e importante, essas reduções de rebanho
volumes de abate, observou-se que, ao não ocorreram nas mesmas proporções
mesmo tempo em que houve uma redu- de redução de áreas de pastagens, con-
ção constante no contingente de bovi- siderando-se a lotação animal média por
nos, o número de animais destinados ao hectare. Isso demonstra que o pecuarista
abate aumentou nos últimos 4 anos. Em está disposto a promover melhorias em
Capítulo 8 Pecuária de corte: otimização do uso da terra e adoção da intensificação sustentável 155

seu sistema de produção para continuar regional, mas de fato implementar siste-
na atividade. mas de produção agroindustriais basea-
Esse é um aspecto muito importante dos na intensificação sustentável.
da análise realizada, pois se percebe aí
um grande potencial para expansão de Perspectivas
sistemas de integração, especialmente
de pecuária-floresta, mas também de Independentemente do tipo específico
lavoura-pecuária-floresta. de sistema de produção e das tecnolo-
gias adotadas, o uso e incremento destas
Os sistemas de integração lavoura-pe-
é sempre positivo em termos de efeito
cuária têm de certa forma a facilidade de
poupa-terra e, consequentemente, de au-
produzir duas commodities de simples
mento da sustentabilidade dos sistemas.
comercialização, no caso, carne e grãos.
Por outro lado, os sistemas que incorpo- As análises realizadas neste documento
ram o componente florestal demandam não esgotam as tecnologias capazes de
muita atenção prévia para o aspecto da serem avaliadas e também não se pro-
venda do produto florestal, especialmen- põem a ser plenamente precisas, já que há
te para questões de logística de colheita uma conhecida interface e interação entre
e transporte até a unidade processadora. tecnologias, o que é difícil de delimitar. De
qualquer maneira, tendo-se consciência
As condições, portanto, são mais favorá-
dos progressos já obtidos, como eviden-
veis para o desenvolvimento de sistemas
ciado pelos números aqui apresentados, e
integrados nessas áreas onde já existe
com a gama de tecnologias disponíveis e
uma infraestrutura regional do setor flo-
em desenvolvimento, tem-se a convicção
restal. Isso facilitaria tanto a implementa-
ção desses sistemas, como no caso de ter- de que é possível continuar aumentando
ceirização do plantio das árvores, quanto a produtividade dos sistemas pecuários
asseguraria a destinação ideal e remune- brasileiros, quiçá até dobrando sua produ-
ração satisfatória de seus produtos. ção total nas próximas décadas sem a ne-
cessidade técnica de se abrir novas áreas
Tecnologias vêm sendo desenvolvidas e
para se atingir esses números.
disponibilizadas especificamente para sis-
temas integrados de produção. Da mesma
forma, existe incentivo governamental Referências
com linhas de crédito específicas para ABIEC. Associação Brasileira de Indústrias
isso. Portanto, em regiões com as caracte- Exportadoras de Carne. Beef report – perfil da
rísticas similares às de Mato Grosso do Sul, pecuária no Brasil. Brasília, DF, 2020. Disponível
o diálogo e a parceria entre pecuaristas e em: http://abiec.com.br/publicacoes/beef-
report-2020. Acesso em: 26 fev. 2021.
produtores de grãos, mas especialmente
com o setor florestal, poderá trazer re- ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA [DE]
GRÃOS: safra 2018/19: quarto levantamento, v.
sultados excelentes para todas as partes 6, n. 4, p. 1-126, jan. 2019. Disponível em: https://
envolvidas. Dessa forma será possível não www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/
apenas promover o desenvolvimento boletim-da-safra-de-graos/item/down load/2
156 Tecnologias Poupa-Terra 2021

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157

Foto: Lucas Scherer

Capítulo 9

Avanço tecnológico
e sustentável das
cadeias de frangos
de corte e de suínos

Dirceu João Duarte Talamini


Jean Carlos Porto Vilas Boas Souza
158 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Os contínuos avanços tecnológicos in- 4,2 milhões e 1,01 milhão de toneladas,


troduzidos pelas cadeias produtivas de respectivamente (Brasil, 2021).
frangos de corte e suínos nas últimas dé-
Com a geração de 4,2 milhões de em-
cadas evitaram a demanda por adicionais
pregos diretos e indiretos, os efeitos
2,55 milhões de hectares para a produ-
sociais das cadeias produtivas de suínos
ção de milho e soja no Brasil. Essa área é
e frangos de corte são notáveis (ABPA...,
equivalente aos territórios do Chipre e do
2020). Com os sistemas integrados e
estado norte-americano de Connecticut
independentes de produção, as ativida-
somados. Também significa 4,6% dos
des envolvem mais de 100 mil famílias
55,4 milhões de hectares que o milho
na produção primária (Guimarães et al.,
e a soja ocupam na safra 2020/2021 no
2017). São inúmeros pequenos municí-
Brasil (Conab, 2021). A estimativa de área
pios no País cuja atividade econômica
poupada pela avicultura de corte e suino-
depende do pleno funcionamento de
cultura tem por base os ganhos de con-
plantas frigoríficas instaladas em cada
versão alimentar conquistados ao longo
região (Mapeamento..., 2016).
do tempo.
Os benefícios sociais da avicultura e da
suinocultura não se limitam aos empre-
Contextualização gos e a renda gerados nos municípios
As cadeias produtivas de frangos de corte onde ocorrem a produção primária e
e de suínos têm sido expoentes das gran- a agroindustrialização (Santos Filho,
2012; Santos Filho et al., 2015). Ambas
des transformações que levaram o Brasil
são motrizes de desenvolvimento para
a uma posição de destaque no mundo
regiões inteiras ou estados, impactan-
como produtor de alimentos (Chaddad,
do nos setores de serviços, transporte e
2016). Além de contribuírem de maneira
comércio. Além disso, o clima favorável,
significativa para a melhoria da qualida-
os investimentos em fontes energéti-
de de vida no País pela disponibilização
cas renováveis e a qualidade das ins-
de proteína animal de qualidade e com
talações produtivas permitem ao Brasil
preço acessível, as duas cadeias contri- produzir carne de frango com nível de
buíram para questões de interesse como emissão de dióxido de carbono (CO2)
a da preservação do solo (ABPA..., 2020; 45% inferior ao frango produzido no
Embrapa Suínos e Aves, 2021). Em 2020, Reino Unido e 50% menor que o pro-
o Brasil posicionou-se como o terceiro duzido pela avicultura francesa (United
maior produtor mundial de carne de Kingdom, 2021). Ademais, quase toda
frango, com 14,2 milhões de toneladas, a produção de carne de aves e suínos
e como o maior exportador mundial, é feita fora do bioma Amazônico – as
com 4,2 milhões de toneladas. Na carne regiões Sul e Sudeste respondem por
de suínos, o País ocupa a quarta posição mais de 80% da produção (Produção...,
como produtor e como exportador, com 2014).
Capítulo 9 Avanço tecnológico e sustentável das cadeias de frangos de corte... 159

Progresso tecnológico

Foto: Lucas Scherer


contínuo da avicultura
e da suinocultura e a
economia no uso de áreas
de cultivo de milho e soja
O contínuo investimento em desenvolvi-
mento tecnológico é um dos pilares que
explicam por que a avicultura de corte e
a suinocultura brasileiras se posicionaram
entre as melhores do mundo (Souza et al.,
2011). A partir dos anos 1970, empresas,
produtores, instituições de pesquisa como
a Embrapa e órgãos de governo trabalha-
ram em sinergia para desenvolver solu-
ções locais ou adaptar novidades desen-
volvidas em outras partes do mundo para
a realidade local (Talamini et al., 2014).
O resultado desse esforço conjunto é que
o Brasil apresenta uma das produções de
frangos e de suínos mais eficientes do
mundo (Mapeamento..., 2016).
Um dos indicadores que melhor expres-
sam o desenvolvimento tecnológico das
duas atividades é a conversão alimentar
(Fischer et al., 2019). De forma resumida,
conversão alimentar é a quantidade de A conversão alimentar também é a cha-
ração que um animal precisa consumir ve para entender como a avicultura e a
para cada quilo de peso que ele ganha. suinocultura se relacionam com o uso do
A conversão alimentar é reveladora por- solo. Os frangos e os suínos consomem
que ela, à medida que avança, reflete grandes quantidades de milho e de farelo
de soja em suas dietas, absorvendo gran-
ganhos tecnológicos alcançados em di-
de parte da produção brasileira desses
ferentes áreas. Ou seja, a conversão é o
cereais. Isso significa que quanto melhor
resultado direto dos progressos obtidos for a relação entre ração consumida e o
ao longo dos anos em vários segmen- ganho de peso dos animais, menor será a
tos, como o melhoramento genético, pressão que essas atividades exercem na
nutrição, sanidade animal, manejo e expansão das áreas para a produção de
ambiência. milho e soja.
160 Tecnologias Poupa-Terra 2021

Cerca de 1,55 milhão de 1.551.056,40 ha de terra para entregar


as mesmas 16,4 milhões de toneladas de
de hectares poupados peso vivo de frango produzidas em 2020.
na avicultura de corte Essa área é equivalente à incorporação no
A Tabela 1 compara a conversão alimentar plantio de três vezes o tamanho do Distrito
Federal, caso a avicultura de corte não ti-
média alcançada pela produção comercial
vesse alcançado o nível tecnológico atual.
de frango de corte brasileira nos anos de
1975 e 2020. Em 1975 o frango precisava
de 2,1 kg de ração para ganhar um quilo Economia de mais de
de peso vivo. Em 2020, esse mesmo quilo um milhão de hectares
de peso foi obtido com 1,7 kg de ração.
Considerando a produtividade atual do
na suinocultura
milho e soja no País, caso o desenvolvi- A Tabela 2 compara a conversão alimen-
mento tecnológico não tivesse dotado os tar média da suinocultura comercial bra-
frangos de maior capacidade de conver- sileira dos anos de 1975 e 2020. Em 1975,
são de ração em ganho de peso, a avicul- o suíno consumia em média 3,5 kg de
tura de corte demandaria um adicional ração para ganhar um quilo de peso vivo,

Tabela 1. Estimava da economia na área de cultivo de milho e soja


devido à melhoria da conversão alimentar na avicultura de corte.

Item 1975 2020 O


progresso
Produção frangos peso vivo (1.000 t) 679,8 16.452,1
tecnológico
Participação produção mundial (%) 2,7 14,1 da avicultura de
corte evita o
Exportação peso vivo (1.000 t) 4,2 4.843,1 uso de...
Participação exportação mundial (%) 0,5 35
Conversão alimentar (kg) 2,1 1,7 1,55
Peso final frango (kg) 1,75 2,7 milhão de
hectares no
Ração consumida (1.000 t) 1.427,5 27.979,1 Brasil
Economia de ração (1.000 t) 6.581,2 Essa área
Consumo de milho (1.000 t) 999,2 19.579,1 equivale ao
território do
Economia de milho (1.000 t) 4.606,8 estado norte-
-americano de
Produtividade 2019/2020 (kg ha-1) 5.529 Connecticut.
Milho: hectares poupados 833.212,8
Consumo de soja (1.000 t) 535,3 10.488,8
Economia de soja (1.000 t) 2.467,9
Produtividade 2019/2020 (kg ha ) -1
3.438
Soja: hectares poupados 717.843,6
Fonte: Patrício (2011), Brasil (2021), Conab (2021) e FAO (2021).
Capítulo 9 Avanço tecnológico e sustentável das cadeias de frangos de corte... 161

Tabela 2. Estimava da economia na área de cultivo de milho e soja


devido à melhoria da conversão alimentar na suinocultura.

Item 1975 2020 O


Produção suínos peso vivo (1.000 t) 972,8 5.373,8 progresso
tecnológico
Participação produção mundial (%) 2,7 4,1 da suinocultura
evita o uso
Exportação peso vivo (1.000 t) 50 1.021,0 de...
Participação exportação mundial (%)
Conversão alimentar (kg)
0,5
3,5
11,1
2,6
1
milhão de
Peso final suíno (kg) 100 120 hectares no
Brasil
Ração consumida (1.000 t) 3.404,8 13.971,9
Essa
Economia de ração (1.000 t) 4.836,4 área
equivale ao
Consumo de milho (1.000 t) 2.553,6 10.478,9 território de
Economia de milho (1.000 t) 3.627,3 um país como
o Chipre.
Produtividade 2019/2020 (kg ha ) -1
5.529
Milho: hectares poupados 656.055,6
Consumo de soja (1.000 t) 851,2 3.493,0
Economia de soja (1.000 t) 1.209,1
Produtividade 2019/2020 (kg ha ) -1
3.438
Soja: hectares poupados 351.690,1
Fonte: Barbosa et al. (1988), Brasil (2021), Conab (2021) e FAO (2021).

enquanto, em 2020, esse consumo foi de um adicional de 1.007.745,70 ha de terra


2,6 kg de ração. Considerando a produti- para produzir as 5,3 milhões de tonela-
vidade atual do milho e da soja no Brasil, das de suínos em 2020. Isso significa uma
caso a tecnologia não dotasse os suínos economia de cultivo de área correspon-
de maior capacidade de transformar ra- dente a duas vezes o tamanho do Distrito
ção em peso vivo, a atividade demandaria Federal.
Foto: Griska Niewiadomski (Pixabay)
162 Tecnologias Poupa-Terra 2021

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164 Tecnologias Poupa-Terra 2021

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