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Os primeiros
anos da escola
joão luis alves
(1926 - 1929)
1a Edição
Rio de Janeiro
2018
Governador do Estado do Rio de Janeiro Luis Fernando de Souza
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Instituição mais antiga do Departamento Geral de Ações
Socioeducativas (Novo DEGASE), a Escola João Luiz Alves é
uma unidade que atende adolescentes do sexo masculino em
cumprimento de Medida Socioeducativa de Internação.
Prevista como “Escola de Reforma”, através do artigo 74
do decreto 16.272 de 20 de dezembro de 1923 (Regulamento de
Proteção e Assistência aos Menores Abandonados e Delinquentes),
denominada “Escola João Luiz Alves”, por resolução do decreto
17.172 de 30 de dezembro de 1925. O primeiro Regulamento foi
apresentado através do decreto 17.508 de 04 de novembro de
1926. A Escola João Luiz Alves teve sua inauguração, segundo
os jornais da época, em 11 de novembro de 1926, surgindo como
uma seção da antiga Escola XV de Novembro. A instituição foi
criada com a incumbência de recuperar pelo “trabalho, educação e
instrução”, adolescentes em situação de delinquência que fossem
julgados pelo Juiz de Menores. Foi, portanto, a primeira escola
criada na cidade do Rio de Janeiro para atender, exclusivamente,
adolescentes infratores.
O nome da instituição é uma homenagem a João Luiz Alves
(1870-1925), Ministro da Justiça e Negócios Interiores do governo
do presidente Artur Bernardes. O local de sua instalação foi
previsto pelo Decreto 4.983A, de 30 de dezembro de 1925, em
seu artigo quarto, que estabelecia funcionamento da escola na
Ilha do Governador, em terrenos da antiga Fazenda de São Bento
onde se localizava a Colônia de Alienados.
Conhecida pela sigla EJLA, a escola passou por vários
momentos em sua longa história. Inicialmente criada como
“Seção de Reforma” da Escola XV de Novembro, assumiu, depois
da inauguração, administração independente. Com a criação
do Serviço de Assistência ao Menor (SAM), através do decreto
3799, de 05.11.1941, a Escola João Luiz Alves passou a integrar
essa nova estrutura. Posteriormente, a escola foi incorporada à
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), criada
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no ano de 1964 em substituição ao SAM, que sofrera grandes
críticas da opinião pública. A referida Fundação existiu durante
pouco mais de vinte anos, sendo, então, extinta e transformada
em Centro Brasileiro da Infância e Adolescência (CBIA) em 1990,
passando a Escola João Luiz Alves a integrá-la.
A promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), em 1990, inaugurou uma nova conjuntura para as
políticas públicas da infância e adolescência no Brasil. A
responsabilidade de atendimento às crianças e adolescentes
abandonados e infratores passou a cargo dos municípios e
estados. Foi neste contexto que surgiu o Departamento Geral
de Ações Socioeducativas (DEGASE) no ano de 1993 (Decreto
Estadual 18493 de 26.01.93), criado para atender adolescentes em
conflito com a lei no estado do Rio de Janeiro. A instituição, no
entanto, só começou a funcionar no ano seguinte. As instituições
vinculadas ao CBIA (extinta em 1995), a exemplo da Escola João
Luiz Alves, tiveram de passar por um processo de transição para
se adaptar a este novo contexto.
O texto a seguir procurou destacar alguns dos momentos
da Escola João Luiz Alves entre o ano de sua fundação, em 1926,
até o ano de 1929. Neste sentido, a partir da análise de alguns
jornais de época, abordo sobre o modo como a EJLA foi noticiada
pela imprensa do período aqui considerado (1926 a 1929).
Por fim, optei também por apresentar análise do
depoimento de um egresso da Escola João Luiz Alves. A
entrevista foi realizada, por mim, no ano de 2012, quando
exercia a função de Coordenador Adjunto do Centro de
Memória da Fundação Estadual de Apoio à Escola Técnica
(CEMEF/FAETEC). Obviamente que o entrevistado fora
interno da EJLA em época posterior a que se baseou o texto em
questão, no entanto, achei por bem destacar as lembranças que
ele teve da EJLA, pois, qualquer que seja a época, a experiência
da privação da liberdade será sempre algo marcante na vida de
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uma pessoa. Além disto, a partir do seu depoimento, foi possível
apresentar algumas considerações sobre as diferenças entre os
dois momentos da Escola.
Aderaldo Pereira dos Santos
Integrante do Centro de Documentação e Memória do
DEGASE (CEDOM/DEGASE)
Professor de História do DEGASE
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SUMÁRIO
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1923, que tratou sobre a “assistência e proteção dos menores
abandonados e delinquentes”. Vamos nos ater também à análise
do livro referente à folha de pagamento da escola do ano 1928,
documento disponível no Arquivo Nacional. Esse documento
nos permite visualizar, por exemplo, quais os profissionais
que exerceram função na referida escola. Confrontar o que o
Regimento propunha, em termos dos funcionários necessários
para o funcionamento da escola, com o documento que informa
aqueles que efetivamente receberam salários pelo trabalho,
possibilita ter um parâmetro para se pensar sobre o que de fato
foi realizado em comparação ao que fora projetado através do
Regulamento oficial.
Antes de apresentar uma análise do primeiro Regulamento
da Escola João Luiz Alves, convém tratar de dois decretos surgidos
no ano de 1925: o primeiro, Decreto 17.172, de 30 de dezembro
de 1925, que resolveu nomear a Escola de Reforma como Escola
João Luiz Alves, em homenagem ao anterior Ministro da Justiça e
Negócios Interiores do Presidente Arthur Bernardes; o segundo,
o Decreto 4.983-A, de 30 de dezembro de 1925, o qual estabeleceu
complementos às leis referentes à “assistência e proteção aos
menores abandonados e delinquentes”. No art. 4º deste decreto,
constam as decisões sobre a administração independente que a
escola teria, assim como o lugar da sua localização:
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O artigo 74, referido acima, como vimos anteriormente,
apresentava a proposta de criação de uma Escola de Reforma
que seria anexa à Escola XV de Novembro. O decreto de 30 de
dezembro veio, portanto, alterar esta proposição e estabelecendo
a independência da futura Escola de Reforma.
O art. 5º quinto deste mesmo decreto, por sua vez, autoriza
o governo “a confiar a associações civis de sua escolha a direção
e administração dos institutos disciplinares, regidos pelo decreto
n. 16272, de 20 de dezembro, sitos no Distrito Federal, excetuada
a Escola 15 de Novembro” (Art. 5º. Item IV do decreto 4.983-A
de 30.12.1925).
Sendo assim, com exceção da Escola XV de Novembro que
permaneceu sob o controle administrativo do Estado, as demais
instituições que prestavam atendimento à infância desamparada
no Distrito Federal poderiam ser administradas por particulares.
Essa é uma questão importante, porque criava a condição
para que o governo tivesse certo descompromisso com a
administração direta da instituição, o que, por sua vez, recaia
sobre a questão financeira da escola.
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O Regulamento da
Escola João Luiz Alves de 04.11.1926
O Regulamento é constituído dos “Títulos I e II”. O
primeiro diz respeito à “Criação e Organização” da escola, sendo
formado por quatro capítulos. O segundo trata “Dos alunos
durante sua estadia na escola”, em que constam também quatro
capítulos. O Regulamento, como um todo, tem 100 artigos. Não
temos a intenção de proceder à análise de todos os artigos do
Regulamento em questão, destacaremos, no entanto, aqueles
que considerarmos pertinentes, de modo a esclarecer o sistema
educacional e disciplinar proposto à escola pelo Governo Federal
da época.
No Capítulo I, seis artigos estabeleciam os aspectos referentes
às finalidades da escola, sua denominação e estrutura básica das
turmas. Os artigos 2º, 3º e 4º destacam-se por apresentarem os
fundamentos iniciais da estrutura da escola.
O artigo 2º informava a que público a escola se destinava:
Art. 2º. Essa escola destina-se a receber, para regenerar pelo trabalho,
educação e instrução, os menores do sexo masculino, de mais de 14 e
menos de 18 anos de idade, que forem julgados pelo juiz de menores, e por
este mandados internar. (Decreto nº 17.508 de 4 de novembro de 1926).
Art. 4º. Cada turma ficará sob a regência de um professor, que tratará
paternalmente os menores, morando com estes, partilhando de seus
trabalhos e divertimentos, ocupando-se de sua educação individual,
incutindo-lhes os princípios e sentimentos de moral necessários à sua
regeneração, observando cuidadosamente em cada um seus vícios,
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tendências e virtudes, os efeitos da educação que recebem, e o mais que
seja digno de atenção, anotando suas observações em livro especial.
(Decreto nº 17.508 de 4 de novembro de 1926).
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Em relação ao Capítulo II do Regulamento, serão
destacados os artigos 7°, 8° e 9°, cada um destes é constituído
por parágrafos que evidenciam alguns dos fundamentos pelos
quais as autoridades da época pensaram o formato pedagógico
da escola. Quais foram estas autoridades? Quais objetivos
pretendiam? Que debates ocorreram até se chegar ao formato de
Regulamento proposto? São algumas das questões que não serão
trabalhadas aqui devido ao limite do texto, mas que precisam
estar no horizonte do pesquisador, pois nos remetem ao aspecto
destacado por Faria Filho de se tomar o documento em questão
não apenas como “fonte”, mas também como “objeto”.
O artigo 7º, que abre o capítulo e que informa o tipo de
educação que seria oferecida aos internos, é constituído por
quatro parágrafos bastante esclarecedores quanto à proposta
pedagógica da escola, vejamos:
Art. 7º. Aos menores será ministrada educação física, moral, profissional
e literária.§ 1º A educação física compreenderá a higiene, a ginástica,
os exercícios militares, os jogos desportivos e todos os exercícios
próprios para o desenvolvimento e robustecimento do organismo.§ 2º
A educação moral será dada pelo ensino da moral prática, abrangendo
os deveres do homem para consigo, a família, a escola, a oficina, a
sociedade e a Pátria. Serão facultadas aos internados as práticas da
religião de cada um compatível com o regime escolar.§ 3º A educação
profissional consistirá na aprendizagem de uma arte ou de um ofício,
adequado à idade, força e capacidade dos menores e às condições do
estabelecimento. Na escolha da profissão a adoptar o diretor atenderá
à informação do médico, procedência urbana ou rural do menor, sua
inclinação à aprendizagem adquirida anteriormente ao internamento,
e ao provável destino.§ 4º A educação literária constará do ensino
primário obrigatório. (Decreto nº 17.508 de 4 de novembro de 1926).
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de Azevedo (1894-1974)2. A obsessão pelo “higienismo”, o apelo
constante à “ginástica”, tendo como parâmetro os “exercícios
militares” em busca de se atingir o “robustamento do organismo”,
aspectos sinalizados no primeiro parágrafo, eram ideais muitos
divulgados pelos entusiastas da eugenia, tendo a frente o médico
Renato Ferraz Kehl (1889-1974).
Ao se considerar o parágrafo segundo, percebe-se também
a influência dos ideais eugênicos na proposta pedagógica
apresentada. A ênfase nas ideias de “família”, “sociedade”,
“escola”, “trabalho” e “pátria” são questões constantes tratadas
pelos divulgadores do movimento eugênico no Brasil. Este
movimento foi tão forte que chegou a ser incluída a proposta da
educação eugênica nos debates sobre o projeto da Constituição
de 1934. Por sua vez, o Regulamento apresenta evidências de
que na década de 1920 tais questões já se colocavam no universo
da cultura política da época. Mais do que parte da plataforma de
eugenistas, tais preocupações se inseriam no próprio contexto de
modernizar a sociedade a partir da escola (PAULILO e SILVA, 2012).
O parágrafo terceiro, por sua vez, além de tocar no tema da
“educação profissional”, que será mais fundamentada no artigo
oitavo, evidencia o poder do saber médico como um definidor do
futuro que o interno teria em termos de aprendizado de oficio.
O quarto parágrafo, que estabelecia a obrigatoriedade
do “ensino primário”, proposição que já aparecia na Lei 16.272
de 1923, define este ensino como sendo “educação literária”,
não confundir, entretanto, esta expressão como se referindo
apenas à literatura, veremos, no artigo nono, que o programa
da “educação literária” consistia nos respectivos conteúdos de
diversas disciplinas referentes ao ensino primário da época.
Antes de tratarmos do artigo nono, porém, vejamos o oitavo:
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o fito de lucro ou renda para o Estado, de preferência a formação do
operário, antes que a renda da produção.§ 1º. A aprendizagem de
um ofício ou arte compreenderá vários graus. A passagem de um
grau a outro será baseada sobre aptidões devidamente comprovadas
individualmente.§ 2º. Notas dos chefes de oficina estabelecerão no
fim de cada mês a marcha dos progressos de cada aprendiz.§ 3º. Os
alunos, cuja formação for acabada, passarão a «operários».§ 4º. Além
da aprendizagem prática, os alunos receberão ensino teórico, devendo
ser dada, ao menos, uma lição diária.§ 5º. O produto líquido da
venda de artefatos e dos trabalhos de campo realizados pelos alunos
será dividido em três partes iguais: uma será aplicada à compra de
matérias primas e às despesas da casa; outra a prêmios e gratificações
aos menores, que se distinguirem por sua assiduidade e perícia
no trabalho, por seu estudo e aplicação, por seu comportamento e
regeneração moral e a terceira constituirá um pecúlio dos menores, que
será depositado trimestralmente em cadernetas da Caixa Econômica, e
lhes será entregue à saída do estabelecimento. (Decreto nº 17.508 de 4
de novembro de 1926).
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seja, tornar-se-ia um “operário”. Não confundir, no entanto, esta
definição como sendo apenas relativa às oficinas propriamente
relacionadas a atividades da indústria, pois veremos que
muitas das oficinas oferecidas destinavam-se a preparar futuros
trabalhadores do campo.
O quarto parágrafo sugere uma reflexão quanto à relação
entre teoria e prática dentro da proposta pedagógica da escola.
Como se tratava de um ensino considerado “primário”, o peso
da “prática” sobrepõe-se ao da “teoria”, ao ponto de se ter a
necessidade de estabelecer que a teoria devesse ser trabalhada
pelo menos numa “lição diária”, como se, com esta observação,
houvesse o desejo de impedir que ocorresse, na prática, a ausência
total de um ensino teórico.
No quinto parágrafo do artigo 8°, observam-se aspectos
relacionados ao modo como o poder público compreendia
algumas das questões financeiras que estavam inseridas na
proposta pedagógica da escola, que, inclusive, já fora apontada na
lei relativa à “assistência de proteção dos menores abandonados
e delinquentes” (Lei 16.272 de 20 de dezembro de 1923).
Em primeiro lugar, a informação de que as oficinas
oferecidas não seriam apenas espaços para o aprendizado prático
do ofício, mas também lugar de produção de mercadorias,
chamadas, no parágrafo em questão, de “artefatos” e “trabalhos
de campo”. O produto adquirido pela venda das mercadorias
seria dividido em “três partes iguais”, utilizadas, por um lado,
para dar conta “das despesas da casa” e “compra de matérias-
primas” que seriam utilizadas no aprendizado das oficinas. Com
isso, observa-se o quanto o Estado buscou uma estratégia de se
utilizar do próprio trabalho dos internos para suprir gastos com
o funcionamento da Escola.
Em segundo lugar, a outra parte da venda dos produtos
seria usada para “comprar” ou servir como mecanismo de
incentivo, para que o interno viesse a assumir compromisso de
vir atingir um dos principais objetivos da escola, ou seja, a sua
“regeneração moral”.
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Por fim, a proposta de ficar uma parte da venda voltada
para uma poupança, depositada na Caixa Econômica Federal,
que o interno receberia no momento de saída da escola. Resta
saber qual foi a dimensão, pelo menos em linhas gerais, deste
tipo de proposição.
O artigo nono esclarecia o programa do que o Regulamento
definia como “ensino literário”, formado por “leitura, escrita,
aritmética elementar, o sistema legal dos pesos e medidas,
desenho, noções elementares de gramática, história e geografia
do Brasil”. Portanto, o tal programa era, na verdade, o que
correspondia ao ensino primário.
Ainda constam neste artigo dois parágrafos. O primeiro
informava sobre a obrigatoriedade de ir à escola e o segundo
estabelecia a divisão dos alunos em três classes: “os analfabetos
e os que sabem imperfeitamente ler, escrever e contar” e as
outras duas seriam formadas de acordo com o nível dos demais
alunos. É importante destacar o aspecto que informava sobre a
obrigatoriedade de frequência à escola, isto em um Regulamento
de 4 de novembro de 1926, portanto, anterior à publicação
do próprio Código de Menores da época, publicado em 1 de
dezembro do mesmo ano. Cabe ressaltar, por sua vez, que este
aspecto de ensino primário obrigatório já constava no parágrafo
quarto do artigo 80 da Lei 16. 272 de 20.12.1923 (Regulamento
da Assistência e Proteção aos Menores Abandonados e
Delinquentes), referente aos artigos sobre o funcionamento
dos “Institutos Disciplinares” (Capítulo IV) e os artigos que
formavam o referido Código foram acrescidos à Lei de 1923.
Aos alunos internados que já tivessem o curso primário
era dada a orientação de receberem “estudos e trabalhos” de
acordo com as conveniências e decisões do professor e diretor da
instituição (artigo 10). Os que se destacassem pela “inteligência
e aplicação” poderiam servir como monitores (artigo 11). Os
demais artigos do capítulo em questão tratavam do “Regime
Disciplinar” que estabelecia, como era de se esperar, orientação
pautada em rígida disciplina.
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Outro aspecto interessante que aparece no Regulamento de
1926 da Escola João Luiz Alves diz respeito ao que constava no
Capítulo III, denominado de “Classificação Moral”. Constituído
por quinze artigos, esse capítulo apresentou procedimentos
voltados a por em prática estratégia meritória pautada na
progressão por “graus”, de modo a classificar os grupos de alunos
atribuindo-lhes “pontuação” e “qualificação” que permitia
dividi-los em “Melhores”, “Bons”, “Em prova” e “Punição”
(artigos 17 e 18). Além disso, havia a preocupação de identificar e
recompensar a “classificação moral” que a escola fazia de acordo
com o que era estabelecido no artigo 31 do Regulamento:
Art. 31. Aos alunos da secção dos «Bons» e dos «Melhores» serão
concedidos sinais distintivos e recompensas especiais, que o Regimento
interno da Escola determinará; os das secções de «Prova» e «Punição» não
usarão distintivo algum. ( Decreto nº 17.508 de 4 de novembro de 1926).
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1 amanuense.
1 almoxarife.
1 médico.
1 farmacêutico.
1 dentista.
1 inspetor-geral.
4 inspetores.
4 professores primários.
1 agrônomo.
4 mestres de oficinas.
1 mestre de desenho.
1 mestre de música.
1 mestre de ginástica.
1 porteiro.
1 despenseiro.
1 enfermeiro.
1 roupeiro.
8 guardas.
4 serventes.
8 lavadeiras-engomadeiras.
1 cozinheiro.
1 ajudante de cozinheiro.
2 jardineiros.
2 chacareiros.
1 cocheiro.
1 ajudante de cocheiro.
1 carreiro.
1 capineiro.
Parágrafo único. Haverá também um mestre de pedreiro ou de pintor,
conforme as exigências dos serviços. ( Decreto nº 17.508 de 4 de
novembro de 1926).
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Figura 3 – Foto da capa do Livro da Folha de Pagamento da
EJLA que se encontra no Arquivo Nacional.
Fonte: Acervo CEDOM
Cargo Quantitativo
Diretor 1
Escriturário 1
Amanuense 1
Almoxarife 1
Médico 1
Farmacêutico 1
Dentista 1
Inspetor Geral 1
Inspetor 4
Professor Primário 4
Agrimensor 1
Porteiro 1
22
Despenseiro 1
Roupeiro 1
Mestre de Desenho Não consta
Mestre de Música 1
Mestre de Ginástica Não consta
Mestre de Oficina 2
Enfermeiro 1
Guarda 8
Servente 8
Cozinheiro 1
Ajudante de Cozinheiro 1
Lavadeira 8
Jardineiro 2
Chacareiro 2
Cocheiro 1
Ajudante de Cocheiro 1
Carreiro 1
Capineiro 1
Total 62
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à previsão de pedreiro ou pintor, apresentada no parágrafo único
do artigo 32, não há nenhuma referência na folha de pagamento.
Tanto o Regulamento da Escola João Luiz Alves, analisado
parcialmente nas páginas anteriores, quanto o Livro da Folha de
Pagamento da escola do ano de 1928 são documentos oficiais,
trabalhados aqui de modo a permitir a análise inicial do projeto
de criação daquela que foi a primeira escola fundada para
atender adolescentes infratores no Rio de Janeiro, na época,
Distrito Federal do país. A seguir, outro tipo de fonte histórica
será investigada: alguns jornais, revistas e periódicos da época,
disponibilizados através da Hemeroteca da Biblioteca Nacional,
com o intuito de compreender de que modo a Escola João Luiz
Alves apareceu na imprensa escrita da antiga capital do Brasil.
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A Escola João Luiz Alves nas páginas
da imprensa carioca (1926 a 1929).
Muitas foram as notícias de jornais, periódicos e revistas
que informaram algo referente à Escola João Luiz Alves.
Perante um número tão grande de notícias de diversos órgãos
de comunicação da época, vamos aqui destacar algumas que
achamos pertinentes, no sentido de possibilitar o entendimento
do tipo de impacto que a EJLA produziu na imprensa escrita
durante a República Velha, entre os anos de 1926 a 1929.
Gostaríamos de informar aos interessados pelo tema
que a pesquisa feita na Hemeroteca da Biblioteca Nacional foi
transformada em tabelas, em que constam informações resumidas
das notícias, como: nome do jornal, título da manchete e síntese
da matéria. As referidas tabelas vão em anexo para melhor
visualização do assunto em questão. As notícias veiculadas são
de tipos variados, desde informações de órgão oficias (decretos
assinados, pagamentos do Tesouro, atos do Ministro da Justiça,
pagamentos de folha de funcionários, designações, concorrências,
nomeações, e exonerações do Ministério da Justiça) até aquelas
tratando sobre denúncias de maus tratos, reflexões a respeito
do problema da delinqüência, irregularidades na escola,
notícias sobre obras, visitas de autoridades, atos e julgamentos
de adolescentes infratores, notícias sobre eventos ocorridos na
escola e outras mais.
Deste amplo universo de notícias, optou-se por apresentar
separadamente cada órgão de comunicação. Falaremos no geral
sobre as matérias destacadas e de algumas destas apresentaremos
uma análise mais detalhada, de modo a fornecer informação
sobre a opinião pública da época relacionada à temática da
escola em questão e à delinquência juvenil. Não trataremos aqui
de notícias de cunho informativo dos órgãos oficiais (decretos
assinados, pagamentos do Tesouro, atos do Ministro da Justiça,
pagamentos de folha de funcionários, designações, concorrências,
nomeações, e exonerações do Ministério da Justiça). Daremos
prioridade àquelas referentes à temática política e social.
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Jornal Gazeta de Notícias
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Com o título “O Senhor Ministro da Justiça na Escola de
Reforma”, a matéria divulgada em 09.02.1926 informou que
“o edifício principal da futura escola, os pavilhões laterais de
oficinas e a Capela” passaram por uma “completa restauração”.
Todos esses espaços foram visitados pelo Ministro e demais
convidados, assim como os “terrenos adjacentes, destinados
aos trabalhos agrícolas e exercícios dos internados”. O ministro
também determinou, segundo o jornal, imediatas providências
“para que no mais curto prazo possível a Escola João Luiz Alves”
tivesse sua instalação definitiva. A conclusão da matéria foi feita
de modo a exaltar esta iniciativa do governo: “Com essa mudança
o governo dará integral cumprimento ao que dispõe a lei que
rege a assistência aos menores delinquentes, proporcionando-
lhes um instituto reformatório, organizado de modo a facilitar
a sua reabilitação pelo trabalho, pelo estudo e pelo regime a que
serão sujeitos”.
A outra notícia sobre a nova visita do Ministro, em
companhia do Diretor da Escola XV, Dr. Lemos Britto, trás a
informação de que a Escola João Luiz Alves seria “inaugurada no
dia 12 outubro próximo”, fato não ocorrido, pois a inauguração
ocorreu, segundo os jornais da época, em 11.11. 1926.
Do ano de 1927, destacamos cinco matérias divulgadas
pelo jornal Gazeta de Notícias. A Escola João Luiz Alves já tinha
sido inaugurada e estava sob a direção do Dr. Mário Dias. Em
2 de janeiro, foi noticiada a festa da passagem do ano de 1926
para 1927. A matéria informou que o diretor da Escola e o Juiz de
Menores, Dr. Mello Mattos, foram figuras centrais para o sucesso
da mesma. Se o ano de 1927 iniciou-se com a divulgação da festa
do Ano Novo, as notícias seguintes não foram tão agradáveis,
sobretudo, porque trataram de escândalos e irregularidades em
que o próprio diretor Mário Dias encontrava-se no centro das
denúncias.
O Dr. Mário Dias que, segundo uma matéria de 05.03.27,
era delegado de Polícia no interior do Estado, esteve nas páginas
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do Gazeta de Notícias nos dias 05, 25 e 31 de março, além de em
4 de agosto. Ele foi acusado, através de denúncia anônima, de
ter batido, no início do ano, em um interno de nome Manoel que
teria assassinado um quitandeiro na rua do Rezende. Manuel, por
sua vez, fugiu da Escola João Luiz Alves, mas foi capturado pelo
Diretor da Escola no mesmo dia. Depois deste fato, a denúncia
foi feita ao Juiz de Menores que abriu inquérito administrativo
contra o diretor.
O Gazeta de Notícias fez, então, uma série de reportagens
em que se colocou na defesa do Diretor Mario Dias que, segundo
o jornal, contrariara os interesses de grupos de funcionários da
EJLA que desejavam a sua saída. A direção da EJLA foi, então,
substituída, segundo o jornal, por “um ex-caixeiro viajante que
era amigo íntimo do Ministro Vianna do Castelo”, o, até então,
Ministro da Justiça do governo do presidente Washington Luiz.
O jornal deixa a entender que o fato repercutiu e que o
juiz Mello Mattos esteve mais inclinado em dar ouvidos aos
acusadores do que ao acusado. Compararemos os pontos de
vistas de outros jornais sobre este episódio mais a frente. É
importante citar que, de acordo com o jornal, o eminente jurista
Evaristo de Morais foi o advogado de defesa do Dr. Mário Dias.
Do ano de 1928, duas matérias foram selecionadas. Uma
de 28 de março (também reproduzida em 30 de março) e outra
de 16 de novembro. A primeira tratando da visita do Juiz de
Menores da época, o Dr. Cândido Lobo, a segunda sobre a
palestra realizada pelo jurista Evaristo de Morais no auditório
da Escola João Luiz Alves. Em relação a esta palestra, feita por
um dos principais analistas da problemática da infância infratora
da época, a matéria do jornal não se aprofundou no conteúdo
tratado pelo jurista na palestra, destacando apenas que o mesmo
buscou incutir no “celebro dos menores as mais elevadas noções
de moral e patriotismo”. Cabe lembrar também que a palestra
ocorreu um dia depois da data de comemoração da Proclamação
da República e que o jurista buscou tratar do tema com os
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presentes (funcionários, professores e alunos). Com relação à
matéria da visita do Juiz, por sua vez, há um trecho que cabe um
ligeiro comentário.
Com o título “A Escola João Luiz Alves – O juiz Dr. Cândido
Lobo, visitou ontem, a escola para menores delinquentes”, a
matéria se inicia informando que o então Juiz de Menores Dr.
Cândido Lobo foi acompanhado do “Dr. Bueno de Andrade,
médico do Abrigo de Menores, do Sr. Brandão, funcionário do
Juízo e representantes da imprensa.”. O que denota a preocupação
de fazer da visita algo que tivesse repercussão junto à opinião
púbica, sobretudo, pela mesma ter sido feita com a presença de
representantes de órgãos de comunicação.
O diretor da Escola era o Sr. Luiz Nogueira da Gama que,
como era de se esperar, fez as honras da casa, segundo o jornal,
cercadas de “gentilezas”. Em seguida, o conteúdo da matéria se
voltou para emitir um ponto de vista a respeito da instituição e
do público atendido: “A escola João Luiz Alves, para menores
delinquentes, funciona há ano e meio, sob a jurisdição do Juízo
de Menores, e é um instituto de tão elevados desígnios, que
forma com o ‘Abrigo de Menores’, o recolhimento próprio para
a parte da raça, sendo constituída de crianças já contaminadas
pelo vírus da criminalidade.”.
Mais uma vez nos deparamos com visões da época que
expressavam pontos de vistas preconceituosos em relação aos
“chamados menores”. Por um lado, o pensamento de definir
o “lugar próprio” daquela “parte da raça” de “crianças” que
tinham sido contaminadas por uma “doença”, ou seja, o “vírus
da criminalidade”. Por outro, a definição de que este lugar seria
o da “internação” em instituições disciplinares.
O uso do termo “raça” também não é gratuito. Não
esqueçamos que estamos numa época marcada por uma
conjuntura em que o debate racial era muito presente. Seja
através das discussões sobre “eugenia”, “embranquecimento
da população”, “regeneração” e “males da miscigenação”. Seja
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através da visão explícita de “racismo científico” que legitimou
ideologicamente a ocupação da África pelos europeus. Ao falar
em “parte da raça”, o jornal se referia à maioria de crianças e
adolescentes negros que estavam internados nestas instituições.
Muitos nem eram infratores, como no caso dos que se encontravam
no Abrigo para Menores Abandonados, mas não houve nenhuma
preocupação de fazer essa distinção, porque para muitos da
época, todos eles eram definidos como “menores”, termo síntese
cunhado para classificar os filhos das classes mais empobrecidas
da sociedade (RIZZINI, 1993).
Jornal O Paiz
30
ter organização especial e distinta sob a denominação de Escola João
Luiz Alves, que lhe foi dada em virtude de recente decreto executivo.
(O Paiz, edição 15184-15185, 18.05.1926, p. 02).
31
(O Paiz) noticiou, em dia 21 de maio de 1926, a visita do Dr.
Lemos Britto às instalações da Escola de Reforma, através de uma
matéria cujo título foi “Assistência aos Menores”. O conteúdo
desta matéria, além de tratar da expectativa positiva no tocante
à criação da escola para “menores delinquentes”, apresentou
esclarecimento das questões levantadas no parágrafo anterior:
Vai ser felizmente criada, pelo Sr. Ministro da justiça e com o concurso
do juiz de menores, uma escola para os infelizes menores delinquentes.
§ Já há bastante tempo que, um grupo de educadores se bate junto do
Sr. Presidente da República, para a criação dessa casa regeneradora,
que seria a Escola de Menores Delinquentes. § O Sr. ministro da justiça,
afinal, conseguiu os meios necessários para a realidade dessa obra. §
Ontem, na propriedade da União, sita à Ilha do Governador, e onde
se vai instalar a Escola João Luiz Alves, para menores delinquentes,
esteve o Dr. Lemos Britto, diretor da Escola Quinze de Novembro e da
Seção de Reforma, subordinada àquela até que o governo instale o novo
estabelecimento e lhe dê direção autônoma.§ O Dr.Lemos Britto, partiu
do Cais Phroux, em lancha especial, às 8 horas da manhã, levando
em sua companhia o Dr. Sylvio de Sá Freire, médico da Escola 15 de
Novembro. § Ali visitou todo o edifício e suas dependências, devendo
apresentar hoje, ao Sr. Dr. Affonso Penna Junior, Ministro da Justiça,
as sugestões e as bases para a organização do importante serviço que o
atual governo deseja deixar condignamente instalado. ( O Paiz, edição
15188-1, 21.05.1926, p. 02).
32
como a matéria informou, coube ao diretor da Escola XV de
Novembro apresentar relatório com “as sugestões e as bases
para a organização” da nova escola, evidenciando que o jurista
Dr. Lemos Britto foi pessoa muito influente no que diz respeito
ao projeto da EJLA.
Lemos Britto pensou em fazer da EJLA “estabelecimento
modelar”, idealizando-a como uma instituição educativa “sem
muros e grades” (RIZZINI, 2005, p.18). O jurista teve, inclusive,
de enfrentar oposição a projeto deste tipo por aqueles que tinham
o “temor das evasões”, mas segundo o próprio Britto, “nos dois
primeiros anos de funcionamento da Escola não houve fugas ou
motins” (RIZZINI, 2005, p.18). Apesar desta fala positiva do Dr.
Lemos Britto, destacada por Irma Rizzini, em relação aos dois
primeiros anos da Escola, há notícias que vão noutra direção,
ou seja, denúncias de que os internos passaram fome e também
escândalos e demissão do primeiro diretor da Escola, o senhor
Mario Dias, como veremos adiante.
A pesquisadora Irma Rizzini, por sua vez, nos informou
também que “o sonho de Lemos Britto sofreu derrocada em 1941,
quando a Escola foi transferida para um pavilhão construído nas
terras da Escola XV de Novembro” (p.18). Não há explicação
oficial dos motivos desta transferência, de acordo com Rizzini,
entretanto, ela afirmou que “pode-se deduzir que fugas e
rebeliões motivaram a transformação do estabelecimento em
escola primária” (2005, p.18).
Irma Rizzini está se referindo à decisão das autoridades,
no início da década de 1940, de transferir o atendimento aos
“menores infratores” para o denominado “Pavilhão Anchieta”
que funcionava no bairro de Quintino onde se localizava a Escola
XV de Novembro. Além disso, fica aqui o registro importante
fornecido pela pesquisadora que, na época em questão, a Escola
João Luiz Alves transformou-se “em escola primária”.
Do ano de 1927, selecionamos matéria divulgada pelo
jornal O Paiz referente à visita do Ministro da Justiça e outras
33
autoridades da época à Escola João Luiz Alves, ocorrida em
15 de junho do respectivo ano. A notícia informou que a visita
do ministro da justiça fora acompanhada do Juiz de Menores,
Dr. Mello Mattos, apresentando a informação de que a Escola
encontrava-se em “novas obras de conservação e adaptação”.
De acordo com a matéria, as autoridades inspecionaram
as dependências da Escola e ficaram impressionadas com “a
boa ordem e higiene encontradas em todos os departamentos
daquele estabelecimento penitenciário”. Essa passagem é
interessante, porque a surpresa de encontrar em “boa ordem” e
com a devida “higiene” o espaço da Escola, talvez se deva ao fato
de que esta não era a regra no que tangia as instituições similares
da época. Se bem que, quase sempre, visitas de autoridades são
informadas com antecedência, o que possibilita à administração
do lugar visitado preparar esta “boa impressão”.
Torna-se também interessante o uso do termo “penitenciário”
para definir o espaço da Escola, o que denota que por mais que
se tentasse qualificar a instituição como um espaço educacional,
a visão que imperava nos órgãos da imprensa e, possivelmente,
na opinião púbica era de que se tratava de um espaço prisional.
De 1928 não selecionamos notícias importantes deste
jornal, mas no ano seguinte, em 1929, duas merecem destaques.
A primeira foi em 07 de dezembro e se refere à visita do Ministro
da Justiça, desta vez, ao Instituto Sete de Setembro. Este
Instituto, anteriormente conhecido como Abrigo de Menores,
funcionava em São Cristóvão e se constituía na instituição que
abrigava “menores” de diversas idades, desde os abandonados,
os que viviam nas ruas e também os infratores que aguardavam
sentença do juiz. Chegou a funcionar nesta instituição um
Laboratório de Biologia, criado na década de 1930, vinculado ao
Juizado de Menores, que buscava por em prática os chamados
“métodos científicos” da época voltados para o atendimento à
infância.
Tais métodos tinham a pretensão de classificar e identificar
34
os menores, de modo a constatar os graus de periculosidade e
inteligência de cada um (PINHEIRO, 1985, p. 121). Na década de
1940, o Instituto Sete de Setembro foi transformado em Serviço
de Assistência a Menores (SAM). Era, portanto, uma instituição
importante de assistência à “infância desvalida”. Neste sentido,
achamos pertinente analisar a referida matéria, pois a mesma
apresenta um quadro de como se encontrava a instituição que na
época funcionava também como “internação provisória” para os
“menores infratores” que recebessem como sentença a internação
na Escola João Luiz Alves. O título era: “O Sr. Ministro da justiça
visitou o Instituto 7 de Setembro”. Veremos a seguir, na intera, o
seu conteúdo e depois faremos análise de alguns trechos:
35
Pimenta. § Depois de se informar com o diretor quanto às necessidades
materiais de que ainda se ressente o Instituto, e ao meio de as resolver,
o Sr. Ministro retirou-se, declarando-se agradavelmente impressionado
com o que vira no estabelecimento, após a nomeação do Dr. Amaral
Pimenta para aquele cargo. ( O Paiz, edição 16484-1, 07.12.1929, p. 05).
36
nova instituição em algo que viesse a contribuir para a “formação
cívica” dos menores ali internados. Poderíamos supor que o alvo
da mudança foi outro. Enquanto Instituto, a nova instituição
poderia transformar-se em um órgão que prestasse serviço
auxiliar ao Juizado de Menores, o que de fato passou a ocorrer a
partir da década de 1930, abrigando, por exemplo, o Laboratório
de Biologia Infantil. A própria matéria jornalística que está sendo
analisada indica um problema existente no Instituto Sete de
Setembro, também enfrentado no tempo em que este se chamava
Abrigo de Menores, ou seja, o problema da superlotação, como
veremos adiante.
Continuando, então, a análise, o segundo parágrafo
aponta para uma prática comum nos institutos disciplinares da
época: a disciplina militar, através da formação do “batalhão
do instituto”. Em seguida, o terceiro parágrafo volta a falar na
questão da “disciplina” e cita outro aspecto bastante tratado nos
estabelecimentos para a infância: o tema da “higiene”, um dos
pontos mais debatidos na conjuntura da sociedade da época.
Do quarto ao sexto parágrafos, o texto da notícia toca no
aspecto do contingente, tanto no que tange ao quantitativo
quanto à variedade das idades daqueles que se encontravam
ali internado. É evidente a preocupação com a lotação, apesar
da matéria não enfatizar isto como problema. Mas se a lotação
máxima, de acordo com o jornal, era de “350 menores”, e,
segundo o respectivo órgão da imprensa, a instituição estava
com um quantitativo de 570, que tenderia “a aumentar”, isto era
ou não era de fato um problema preocupante? Certamente e, no
caso, não apenas para o próprio Instituto Sete de Setembro, mas
também para a Escola João Luiz Alves, pois é informado que “120
delinquentes” aguardavam sentença judicial. O outro aspecto
problemático sinalizado é a situação da presença no mesmo
espaço de crianças tão pequenas, “muitas de 4, 5 e 2 anos”, com
jovens de “idade superior a 16 e 17 anos”.
37
Chegamos ao sétimo parágrafo que toca num assunto
por demais criticado, pelo fato de se tornar prática corriqueira
em instituições disciplinares: o método de usar “os castigos
corporais” para obter-se a tão almejada “disciplina perfeita”.
Segundo a matéria, apesar da “variedade de tamanhos e idades”,
os castigos não foram necessários, o que deixa nas entrelinhas a
percepção de que, sendo necessários, eles ocorreriam.
O penúltimo parágrafo da matéria, finalmente, diz algo
a respeito da educação escolar, ao informar que “quatro novas
salas de aulas” foram criadas no referido Instituto e que as
mesmas estavam “providas de mobiliário e material didático”.
Resta saber , num universo de 570 internos, quantos tiveram
acesso a esse recurso, previsto como direito nas leis da época.
O parágrafo final deixa a entender que, apesar da “agradável
impressão” que tivera o digníssimo ministro, o Instituto Sete de
Setembro ressentia ainda de “necessidades materiais”, talvez, de
grandes necessidades materiais.
A segunda matéria noticiada pelo jornal O Paiz destacada
aqui foi divulgada em 28 de dezembro de 1929 com o título
“Menores delinquentes postos em liberdade vigiada”. Ela trata
da decisão do Juiz Mello Mattos de por em “liberdade vigiada”,
nas vésperas do Natal, “cinco menores delinquentes que estavam
cumprindo sentença na Escola João Luiz Alves.” A matéria se
inicia discorrendo sobre os objetivos da “escola de reforma”,
ou seja, “a regeneração” do “menor delinquente” através do
“trabalho, instrução e educação”. Depois justifica o porquê da
existência do “instituto da liberdade vigiada”, que fora concebida
no sentido de observar “durante certo tempo” se o interno tinha
de fato condições de “voltar à vida ordinária da sociedade”. Em
seguida esclarece a própria definição deste preceito que fora
previsto no Código de Menores (1927). Vejamos, neste ponto, o
texto do jornal: “ Consiste a liberdade vigiada em ficar o menor em
companhia e sob a responsabilidade dos pais, tutor ou guarda, ou
aos cuidados de um patronato, e sob a vigilância do juiz, de acordo
com os preceitos dos artigos 92 a 99 do Código de Menores”.
38
Seria importante uma pesquisa que pudesse dimensionar
o uso e a eficácia deste benefício, que pode ser visto como uma
espécie de “ideia-mãe” do que veio a ser previsto no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA-1990) como “Liberdade
Assistida”. Ressalve-se de que o termo “assistida” sugere que o
adolescente receba algum tipo de assistência para conseguir voltar
a se integrar à vida sócia, enquanto “vigiada” indica que o mesmo
permaneceria sob a vigilância dos “olhos da lei”, ou seja, do juiz.
Jornal do Brasil
39
regulamento, e os crimes ou contravenções por eles perpetrados; II-
inquirir e examinar e estado físico, mental e moral dos menores que
comparecerem a juízo, e, ao mesmo tempo, a situação social, moral e
econômica dos pais, tutores e responsáveis por sua guarda; III - ordenar
as medidas concernentes ao tratamento, colocação, guarda, vigilância
e educação dos menores abandonados ou delinquentes; IV - decretar a
suspensão ou a perda do pátrio poder ou a destituição da tutela e nomear
tutores; V - praticar todos os atos de jurisdição voluntária tendentes à
proteção e assistência aos menores; VI - impor e executar as multas a
que se refere este regulamento; VII- fiscalizar os estabelecimentos de
preservação e de reforma, e quaisquer outros em que se achem menores
sob sua jurisdição, tomando as providências que lhe parecerem
necessárias; VIII - exercer as demais atribuições pertencentes aos juízes
de direito e compreensivas na sua jurisdição privativa; IX - cumprir e
fazer cumprir as disposições deste regulamento, aplicando nos casos
omissos as disposições de outras leis, que forem aplicáveis às causas
civis e criminais da sua competência; X - organizar uma estatística
anual e um relatório documentado do movimento do juiz, que remeterá
ao Ministro da Justiça. (Decreto 16.272 de 20 de dezembro de 1923).
40
“quantos menores pode comportar o edifício da escola?”. O
juiz, então, respondeu: “duzentos no mínimo”. Não deixa de ser
surpreendente o parâmetro do juiz que, ao invés de responder
sobre o que de fato lhe foi perguntado (o máximo de alunos os
quais a escola comportava), respondeu sobre o mínimo, deixando-
nos a possibilidade de entender que, em relação ao número
máximo de internos, poderia ser o tanto quanto fosse necessário.
Fica também o registro de que, tomando por base a realidade
atual da EJLA, duzentos já seria um número preocupante.
A pergunta seguinte foi feita pelo jornalista de modo a
relacionar o quantitativo mínimo estabelecido pelo juiz ao
número de menores que estariam na Casa de Detenção: “Na
Casa de Detenção acham-se menores nesse número para serem
internados na nova escola?”. O juiz Mello Mattos deu, então, a
seguinte resposta:
41
de menores nessas condições?”. O juiz mais uma vez surpreendeu
ao responder que preferiu deixar em liberdade aqueles que
aguardavam o resultado da sentença. Vejamos o que ele disse:
42
A entrevista prosseguiu apresentando a preocupação
do jornalista em saber quando a EJLA teria lotação completa,
uma vez que o juiz respondera que aceleraria o julgamento dos
processos contra os menores. O jornalista, então, perguntou-
lhe: “Acha que dentro de pouco tempo a Escola terá a lotação
completa?”. Vejamos a resposta do Dr. Mello Mattos:
43
aqueles que desafiavam a ordem, o aprisionamento era a opção
mais imediata, o que fazia crescer a lotação das instituições
prisionais e aquelas, como a Escola João Luiz Alves, que foram
concebidas para por em prática um “regime educacional”.
Neste sentido, o Dr. Mello Mattos era um entusiasta da
proposta pedagógica da EJLA. Quando o jornalista lhe perguntou
se os sentenciados seriam submetidos ao “regime prisional”, a
resposta do juiz foi peremptória:
44
O juiz não é perseguidor do menor, porém, pai, mestre, amigo e
médico espiritual. Por isso ele tem o arbítrio de diminuir a pena e
soltar o menor, se este fica curado, isto é, moralmente regenerado antes
de terminar o tempo da internação; ou em caso contrário, prorrogar
esta até ao máximo legal, se dentro do prazo marcado da sentença o
menor delinquente não se mostrar regenerado. § E com estes informes,
despedimo-nos do íntegro magistrado, que qual o juiz Magnaud, le
bom juge, orgulho da França e exemplo do mundo inteiro, vai servindo
a Justiça, amparando o menor que delinque, mas, sempre elemento,
moderado e conciliador. (Jornal do Brasil, edição 00270-1, 12.11.1926, p. 06).
45
da chamada “infância desvalida”. Cada vez mais se buscou a
criação de instituições com o intuito de, através de uma política
de internação, resolver a “questão do menor”. Vejamos como é
apresentada a introdução do conteúdo da matéria:
Mas abismo chama abismo, forma geral dessa outra verdade mais certa:
função pública atrai função pública. Já no primeiro ano ampliaram os
aparelhos pertencentes ao maquinismo geral. Depois, prosseguiu o
esforço de ampliação, sem se deter, até chegar ao Código de Menores
que, sob o pretexto de consolidação, inova uma infinidade de relações
jurídicas, entregues ao Código Civil e ao Código Penal. E num simples
decreto do Executivo, não só se impõem essas novidades, como se
autoriza a criação de lugares. Vemos ai que o Juizado de Menores, com
três anos de vida, superintende um conjunto de repartições, onde se
pagam mais de duzentas pessoas, num total próximo de mil contos de
réis para a despesa em ordenados e gratificações. Compreendem-se aí,
além do Juízo de Menores, com vinte e cinco funcionários, o Abrigo
de Menores, a Escola João Luiz Alves e a Escola Quinze de Novembro.
Acima de todos, como uma espécie de ministro, o Juiz de Menores,
46
cheio de incumbências, umas administrativas, outras judiciais. Essas
funções serão enormes. Envolvem uma enorme parte processual, com
o julgamento dos delinquentes, que vimos excederem de duzentos no
primeiro ano. Há atribuições de assistência aos desamparados, encargo
realmente digno de Hércules, pelo número de crianças que vão bater
às portas do Juízo de Menores. Além dessas funções, o Código outorga
ainda muitas outras, quer administrativas, na direção desse enorme
maquinismo, quer policiais, na execução de vários dispositivos do
decreto. (Jornal do Brasil, edição 00311-3, 30.12.1927, p. 05).
47
Jornal A Manhã
48
Já no título da matéria é passada a ideia de que a Escola
João Luiz Alves, para onde seriam levados os “menores
delinquentes” da Casa de Detenção, era entendida como um
“novo estabelecimento penal”. Esta mesma ideia é também
transmitida ao final da notícia, quando informa que “os menores
receberão a educação baseada nos métodos penais que a nova
lei estabeleceu”. Ideias assim eram recorrentes na imprensa da
época, como vimos anteriormente. O fato de ser infrator era
entendido, por boa parte daqueles que escreviam as matérias de
jornais da época, como sendo alguém que merecia um tratamento
penal, mesmo tratando-se de menor de idade. Por tal razão, nas
notícias referentes à EJLA, era comum associá-la a mais um tipo
de estabelecimento penal.
Outro aspecto a considerar diz respeito à questão de
gênero. Mesmo sabendo que o quantitativo em relação aos
meninos era bem inferior, e, talvez, também por isso, a atenção
dada às meninas consideradas “delinquentes” pela justiça era
diferenciada. A notícia informou que quatro meninas infratoras
seriam internadas na Escola Alfredo Pinto que depois se
protagonizou como estabelecimento voltado para a formação
de auxiliares de enfermagem. Entretanto, ficou evidente que as
jovens, envolvidas em casos mais graves, permaneciam na própria
Casa de Detenção, e, como não havia estabelecimento específico
para atender ao sexo feminino, quando se tornavam maiores
de idade, tinham que cumprir a pena na Casa de Detenção,
em “promiscuidade” com os detentos do sexo masculino. Tal
realidade propiciava situações como a noticiada pela matéria: o
fato da jovem interna engravidar, estando dentro da instituição,
para não falar de outras situações mais graves enfrentadas por
essas meninas .
O aspecto da questão racial também aparece sinalizado
na matéria. O uso de expressões como “crioulinha” e “pretinho”
evidencia certo preconceito racial ao tratar das pessoas a quem
se referem esses nomes, ou seja, a menina negra que teria
assassinado a patroa, e o seu filho, nascido na Casa de Detenção.
49
Se, ao invés de negra, a menina fosse branca, dificilmente a
expressão “branquinha” apareceria no texto. Nesse sentido, é
bom frisar que se, até nos dias de hoje, o preconceito racial e o
racismo são fenômenos ainda presentes na sociedade brasileira,
imagina numa época em que boa parte da intelectualidade e da
opinião pública debatia teorias raciais, como “racismo científico”,
“eugenia” e “miscigenação”.
A segunda matéria foi publicada em 23 de setembro de
1927, numa coluna do jornal intitulada “Liberdade de Opinião”.
Vejamos o que foi divulgado:
50
Outro aspecto que aparece na notícia é a referência à falta de
verba para o Juizado de Menores que fazia com que o juiz Mello
Mattos ficasse a “mendigar restos de comida”. Há também na
matéria a sinalização de algo importante: “as crianças brasileiras
estão sem colégio e sem pão”. Fome e falta de escolas públicas
faziam parte do conjunto de problemas para os quais o poder
público deveria apresentar à sociedade soluções, no entanto, tais
problemas não faziam parte da pauta de prioridade dos governos
da República Velha, que, como já dissemos em outro momento
(C MARA e SANTOS, 2013), via a “questão social” como “caso
de polícia”.
Ao final da matéria, há a afirmação de que “essa história
de assistência à infância é chantagem grossa” que mereceria um
“exame longo e pertinaz”. Fica evidente que se, por um lado,
muitas críticas feitas tinham sentido e razão de ser, por outro,
não era apresentada solução alguma para as inúmeras crianças
pobres e abandonadas que viviam pelas ruas.
Jornal A Noite
51
o edifício. § Foram restauradas e transformadas as antigas ruínas,
reformou-se, totalmente, o serviço de luz, água e esgotos, instalaram-
se oficinas de marceneiro, carpinteiro, ferreiro e sapateiro, com
maquinismos modernos; o prédio foi totalmente remodelado na
sua parte interna, instalando-se os compartimentos apropriados ao
funcionamento da Escola. Construíram-se dormitórios, com capacidade
para 150 menores e um grande refeitório, com capacidade para 200.( A
Noite, Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1926, p. 8).
52
Em seguida, a notícia explicou o significado da “Escola de
Reforma” e informou a respeito de “menores sentenciados” que
aguardavam transferência para a respectiva escola:
53
Jornal A Rua
Sobre esse fato recebemos hoje, a visita dos Srs. Euclydes Braga e
Álvaro Pinto Cidade, que nos declararam terem sido demitidos da
referida escola, porque não quiseram prestar falsas declarações contra o
diretor Dr. Mario Dias. § Acrescentaram eles que ultimamente, a carne
fornecida para alimentação dos menores e empregados subalternos
é toda podre, e isso tem enfermado alguns menores com infecção
intestinal. . ( A Rua, Rio de Janeiro, 7 de abril de 1927, p. 1).
54
Dois ex-funcionários se colocaram como testemunhas
trazendo à tona outra denúncia também muito séria em relação
à possível alimentação estragada que estaria “enfermando
alguns menores com infecção intestinal”. Nesse ponto surge
uma dúvida: a princípio, pelo modo como foi intitulada a notícia,
parecia ser a falta de comida a causa da fome, mas, com esta
outra denúncia, ficou a ideia de que o fato da comida estar podre
poderia ser o que estaria ocasionando a situação de fome, já que
ninguém come para passar mal e ficar doente. Mas a denúncia
não parou por aí:
55
Guiana Francesa (Cidade de Oiapoque). O presídio fora criado
pelo presidente Artur Bernardes e para lá foram enviados
diversos tipos de presos como sindicalistas, anarquistas, militares
rebelados (tenentistas), menores abandonados, suspeitos de
conspiração e criminosos comuns (BRITO, 2008). Esse presídio
ficou conhecido na época pela forma cruel no tratamento dado
aos aprisionados, submetidos a torturas diárias que fizeram
com muitos morressem em suas dependências. A violência no
presídio era tanta que teve de ser fechado, durando apenas dois
anos. Comparar uma escola ao presídio de Clevelândia era por
demais estarrecedor.
No início da matéria, o jornal procurou justificar sua atitude
em relação à denúncia feita em 7 de abril:
Eis a carta que recebemos dos infelizes da ‘Escola João Luiz Alves:
Escola João Luiz Alves – 8.4.927. – Exmo. Sr. redator d’A RUA – Cordiais
saudações.§ Tendo-nos chegado ao conhecimento a denúncia por
56
vós recebida de que aqui na ‘Escola João Luiz Alves’ nós os menores
delinquentes estávamos passando o regime da fome, resolvemos não
só vos afirmar ser verídica a denúncia, como também pedir-vos, como
defensor dos pequeninos, que advogue a nossa causa junto ao ‘Ministro
da Justiça’, pois com a atual Diretoria isto aqui deixou de ser escola
para ser a Clevelândia – o que não se dava quando era nosso diretor o
Dr. Mario Dias. § Sem mais lhe agradecemos a publicação desta e como
prova de fé assinamos – Seguem-se diversas assinaturas de alunos. ( A
Rua, Rio de Janeiro, 11 de abril de 1927, p. 3).
57
O que será agora analisado diz respeito, primeiramente, a
uma fotografia divulgada na Revista FON FON no ano de 1928.
Como vemos acima, é uma foto tirada na escadaria de entrada da
Escola João Luiz Alves que, apesar das obras feitas durante seus
oitenta e oito anos de existência, ainda mantém, na atualidade, o
padrão que aparece na fotografia, pelo menos no recorte que foi
feito. Na imagem em si, em primeiro plano, aparecem, vestidos
de terno, autoridades da época em visita à escola, entre elas, o Dr.
Cândido Lobo, juiz de menores interino, como informa a legenda
logo abaixo da foto. Ao fundo, funcionários da instituição, vestidos
com seus respectivos uniformes. A maioria dos fotografados é
composta de pessoas brancas e todas são homens. Até aí tudo
leva a crer que é apenas uma foto divulgando a visita do juiz de
menores à Escola João Luiz Alves.
A fotografia em questão foi acompanhada de uma matéria
apresentada logo abaixo. À primeira vista, tem-se a impressão de
que o texto da matéria estivesse relacionado à foto, mas a matéria
trata de outro assunto. Ela faz comentários a um telegrama
vindo da “Oceania”. Optamos em apresentá-la juntamente
com a fotografia, não só porque a boa reprodução faz com que
seja possível lê-lo, mas também para que fosse visualizada a
montagem feita pela revista.
Ao ler o texto da matéria, para saber se dizia alguma coisa
sobre a Escola João Luiz Alves, eis a surpresa: nada tinha a ver com
a escola. O conteúdo apresentado era no mínimo curioso, pois,
além de expressar forte preconceito para com os presidiários,
fazia referência ao temível presídio de Clevelândia, já tratado na
análise da matéria do jornal anterior, A Rua. Uma questão vem
logo à cabeça: por que um conteúdo deste tipo logo abaixo de uma
fotografia da Escola João Luiz Alves? Haveria algum propósito
da Revista de passar uma mensagem subliminar associada à
escola? Questões de difíceis respostas. Para se entender melhor,
convém analisar o conteúdo da matéria.
58
Ela começa informando a respeito de um telegrama da
Oceania sobre o ocorrido na Ilha de Tulagi, arquipélago de
Salomão, dizendo o que acontecera com trinta e sete presos
“os quais foram condenados àquele degredo por terem, no ano
passado, em Smarayo, assassinado alguns funcionários da polícia
britânica.” De acordo com a matéria, “desses 37 criminosos,
onze já morreram na prisão e vinte seis se acham gravemente
enfermos, devido a uma epidemia”. O que causou surpresa foi
o que aparece no trecho final da matéria, pois, além de revelar o
que seria talvez o ponto de vista da Revista pelo ocorrido com
os presos, ainda sugeriu que o presídio em questão mudasse o
nome para Clevelândia:
59
Jornal A Crítica
60
propósito foi registrar vários aspectos da vida do agora porteiro
da “Escola de Reforma”, as matérias tocaram em assuntos
espinhosos como o cotidiano da vida de um presidiário. Para
realizar as entrevistas, o jornalista teve de dirigir-se várias vezes
à EJLA, revelando também informações sobre a mesma. Veremos
a seguir partes de um trecho da primeira reportagem cujo título
foi “Rocca será inocente?”, divulgada em 01.12.1929. A matéria
foi apresentada em forma de relato em que o jornalista começa
relatando o encontro que teve com o filho de Eugênio:
61
início do dia, impossível seria abordarmos Eugenio Rocca sobre o
assunto que nos levava à sua presença. ( Crítica, Rio de Janeiro, 1º de
dezembro de 1929, p. 1).
62
conhecer de que modo o presidiário era tratado no início do
século XX.
Em outra reportagem publicada em 13 de dezembro de
1929, o jornalista Walter Prestes procurou saber o que o diretor
da Escola João Luiz Alves, Sr. Luis Nogueira Gama, achava da
publicação da entrevista com Eugenio Rocca: “não lhe causa
desprazer qualquer referência a essa casa de educação em meio
da reportagem que ora se publica?”, perguntou o jornalista. A
resposta do diretor da Escola João Luiz Alves foi categórica:
“Absolutamente. Pode ficar certo de que quando se procurava
emprego para o Sr. Rocca e se cogitava de colocá-lo num
estabelecimento público, houve um diretor de repartição que
teve prazer em recebê-lo. Fui eu.”.
Jornal O Imparcial
63
e da Adolescência, com que colaborei no 1º. Congresso da Infância,
então reunido em Buenos Aires. (O Imparcial, 27 de dezembro de 1928,
Editorial, p. 6).
64
devida execução, e, entre estas, as que se referiam aos “menores
delinquentes”:
Não é de pasmar que tal coisa aconteça, porquanto se sabe que, com
muito menos, seria possível, por exemplo, remover obstáculos opostos
ao regular funcionamento da ‘Escola João Luiz Alves’, do Abrigo de
Menores, do Hospício Nacional, etc., e, no entanto, vão ficando sem
realização os alvitres e sugestões dos respectivos diretores e sem
satisfação a boa vontade do Ministério do qual dependem as citadas
instituições... (O Imparcial, 27 de dezembro de 1928, Editorial, p. 6).
65
Jornal Correio da Manhã
66
Em seguida, Evaristo de Morais citou a campanha em
prol de uma legislação menorista ocorrida na década de 1920,
fazendo referência ao surgimento do Juizado de Menores e da
proposta de uma Escola de Reforma que viria a ser, como já
vimos anteriormente, a Escola João Luiz Alves:
67
Chega-se ao ponto em que Evaristo de Morais exaltou o
trabalho realizado na EJLA, na gestão de Nogueira da Gama,
apesar do que “ela ainda carece”. Ele pontuou os procedimentos do
diretor da Escola como positivos, desenvolvendo um trabalho que
conseguia transformar em “um dos melhores alunos” jovem interno
que “fora condenado como autor de ruidoso e bárbaro crime”:
68
não temos devidamente organizados, e tão essenciais são, tanto para
menores como para adultos, quando egressos das Escolas de reforma e
das penitenciárias. . (Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 23 de janeiro de
1929, Edição 10446-1, p. 4).
69
Cumpre notar que o mesmo acontece, frequentemente, com alguns
adultos, cuja regeneração somente não se verifica pela pertinaz, estúpida
e, não raro, interesseira perseguição de maus auxiliares da Polícia.
Casos há que revoltam os espíritos mais calmos e mais acomodados às
iniquidades sociais. (Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 23 de janeiro
de 1929, Edição 10446-1, p. 4).
70
Memórias de um egresso da
Escola João Luiz Alves
A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido,
ela está em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do
esquecimento, inconsciente de suas deformações sucessivas, vulnerável
a todos os usos e manipulações, susceptível de longas latências e de
repentinas revitalizações.
PIERRE NORA.
71
com o irmão mais velho, segundo suas lembranças, até os 13
anos, tempo este confirmado através da cópia do seu prontuário
apresentado no momento da entrevista e que foi conseguido
por ele no Arquivo Nacional. Entre quatorze e quinze anos, ele
foi novamente transferido, desta vez, para uma escola agrícola
chamada “Rodolfo Fux”, localizava em “Sacra Família”, próximo
das cidades de Paracambi e Rodeios. Depois, aos dezesseis anos,
ele foi para o Instituto Getúlio Vargas que ele também chamou
de “Cidade dos Meninos”, em Caxias. Quando fez dezoito anos,
foi desligado da FUNABEM, passando a viver por conta própria.
A entrevista é muito extensa, assim, destacaremos alguns
aspectos, de modo a contribuir para que verifiquemos as lembranças
referentes, sobretudo, ao período em que esteve na Escola João
Luiz Alves. O primeiro fato que J.S. pontuou no que diz respeito a
uma característica comum às in stituições da FUNABEM em que
ele passou como interno, foi no tocante à disciplina:
72
dito que não seria uma mudança muito boa. Os garotos ficaram
confusos, pois outra pessoa dissera o contrário. O fato é que a
transferência ocorreu:
Aí, todo mundo chorando, não querendo ir, mas depois chegou uma
pessoa e disse que lá era muito bom, lá tem tudo, uma escola que vocês
vão ter tudo de rico, aí tudo bem, entramos no ônibus e fomos embora,
disse ele. (Acervo CEMEF/FAETEC).
73
O relato de J.S. destacou uma possível diferença entre
uma instituição privada, como a em que estava anteriormente,
e a instituição “do governo”, no caso a escola para a qual foi
transferido. Ele deixou evidente que a segunda era “bem melhor”
do que a primeira e que aos poucos foi se acostumando com a
rotina da escola. Nosso entrevistado também nos revelou que
podia sair aos finais de semana para ficar com familiares. Neste
sentido, é importante frisar a diferença entre a Escola João Luiz
Alves na época da sua fundação em 1926 e a da época em que
J.S. foi aluno. Como vimos, no decorrer deste texto, a Escola João
Luiz Alves foi criada para atender, especificamente, adolescentes
infratores julgados pelo Juiz de Menores. Sendo assim, não havia,
para os internos, o benefício de sair aos finais de semana para
ficar com a família. J.S. não era infrator, foi internado por ser
pobre, a iniciativa que partiu da própria família. Nesta época, a
escola não atendia infratores que, no caso, eram encaminhados
para o Instituto Padre Severino. J.S. tinha a possibilidade de sair
aos finais de semana pelo fato de ser um aluno interno e não um
infrator que recebera sentença da justiça.
Perguntado sobre o que aconteceria, se não voltasse para
a escola após o final de semana em que estivesse com a família,
J.S. relatou que “eles iam buscar a gente em casa”. Na sequência,
contou o tipo de punição que havia quando o interno descumpria
as ordens estabelecidas:
Tinha a punição assim, tinha castigo, não tinha solitária não, mas tinha
aquele castigo mão pra trás, ficava em pé, mão pra trás assim, sem se
mexer, ai o inspetor ficava sentado olhando, ai ficava uma hora, duas
horas, até quando saia fora do eixo, ficava de castigo. Ai eles formavam
um pelotão de castigo, ai aos poucos eles iam falando, fulano vai dormir,
sicrano, ai ia liberando aos poucos, tudo de acordo com o inspetor, ai
ia liberando até o último ir dormir. A gente acordava muito cedo, fazer
física isso, depois tomar banho, café, arrumar a cama, ai cada um ia
estudar, se estudasse de tarde ia pro trabalho, se estudava de manhã ia
pro trabalho de tarde, eu estudava sempre de tarde. (Acervo CEMEF/
FAETEC).
74
O procedimento de punir quem contrariasse as regras
era algo que se manteve presente na realidade vivida pelo
adolescente internado em várias épocas. O aspecto, por exemplo,
da “solitária” que J.S. nos disse não existir na época em fora
estudante da Escola João Luiz Alves, estava, inclusive, presente
no primeiro Regulamento da Escola. Aliás, este tem sido uns dos
principais problemas das instituições de deste tipo, que muitas
vezes exageram na dose punitiva, causando, algumas vezes,
situações irreparáveis para o interno que submetido a maus-
tratos.
J.S. nos contou também sobre as lembranças do seu processo
escolar. Mais uma vez associou o aprendizado na escola a uma
formação militar. O interessante também foi o fato de sinalizar,
ao mesmo tempo em que falava de como era o ensino, para o
aspecto de que havia na instituição psicólogos para cuidar da
“depressão” dos alunos:
75
função do fato de ter de lidar com a privação de liberdade e com
toda a “dificuldade familiar”; as atividades de desconcentração
como forma de compensar a lembrança triste que surgia na
memória. Em relação à imagem de tristeza que lhe veio à cabeça,
observamos que este aspecto também esteve presente nas
expressões utilizadas por alguns dos jornalistas que escreveram
sobre os alunos da Escola João Luiz Alves, na década de 1920.
Termos como “aqueles infelizes”, de “olhares sombrios”, por
exemplo, eram usados para qualificar os internos. O fato é que,
tanto na década de 1920, quanto na época de J.S., o público em
questão tinha pelo menos uma característica comum: tratavam-se
de crianças e adolescentes pobres, e, a maioria de negros. Quanto
a este aspecto racial, J.S. nos revelou que a temática também era
trabalhada de alguma forma na escola. Ele nos disse sobre uma
professora que ficava ensaiando com os alunos apresentações a
respeito da cultura afro-brasileira:
Quando eu fiz 12 anos, passo a ser aluno aprendiz, eu fui para a cozinha.
Me chamaram pra ir para a cozinha, porque eu era um cara muito forte,
aí a garota falou: ‘- você vai ficar aqui, pra lavar panela, pra quando os
alunos vir com as bandejas sujas jogar fora e botar na água quente, e
botar pra lavar.’ Então a vida ali foi assim, trabalhar na cozinha mesmo.
(...) também pegava pessoas pra arrumar o pátio, o quintal, o pátio
geral, e eu fiquei fixo na cozinha, fiquei fixo até ser transferido. (Acervo
CEMEF/FAETEC).
76
Pelo que J.S nos contou, não havia propriamente um
aprendizado de ofício, mas sim o uso do trabalho dos internos em
atividades para manutenção da escola. Sendo assim, sua tarefa
foi “aprender” a lavar pratos, garfos, louças, panelas e todas as
atividades que permitissem colocar a cozinha em funcionamento.
Outros iam para a horta ou limpar o pátio e os demais espaços da
escola. Havia também quem ficava como “monitor”, ajudando os
inspetores, geralmente, os “mais velhos”. Ele lembrou, também,
que, quando era necessário “construir um pavilhão”, a garotada
ia ajudar o “mestre de pedreiro”. Quase cinquenta anos depois de
criada a EJLA, a lógica do chamado “ensino de ofício” mantinha
a característica de, na prática, usar o trabalho do interno para
suprir as necessidades da escola no que tange ao funcionamento
da sua rotina. Em outra passagem, ele voltou a falar da sua rotina
de trabalho na escola:
Não. Rebelião nunca teve, parece que eles faziam um negócio no sistema
que não tinha condições de fazer rebelião, tinha gente que ajudava,
como tinha lá, um pedreiro, parece que ele virou mendigo, todo mundo
levava comida pra ele lá, a gente passava mais a ajudar as pessoas,
tá entendendo, ajudar realmente, ai rebelião nunca teve não, ali não.
(...) engraçado eles faziam um sistema, que quando você está desde
77
pequeno, né, você não sente, você vai levando, se a criança entre lá um
pouco maiorzinho, já entendendo, e vindo de rua, lá dentro ele vai ficar
uma pessoa revoltada, então, devido eu ter ido desde pequeno, bebê,
eu não sentia muito esse negócio assim de, eu saber agora, você abre
a internet, pá pá pá, FUNABEM, ai você sabe que alguns apanhavam,
essas coisas, poxa, nunca vi isso, engraçado, só se foi depois que eu saí,
que talvez foi ficando difícil, depois os militares largaram o poder né?
Ai de repente pode ter sido isso, que eu passei minha vida todinha na
escola no regime militar. (Acervo CEMEF/FAETEC).
78
Os funcionários, é aquele negócio, tinha uns caxias, e outros legais.
Com quem eu trabalhei foram todos legais, tanto na cozinha quanto
na padaria, e os inspetores, tinha um que não gostava de mim não, no
futebol a gente dava olé, esse negócio todo (...). Da João Luiz Alves tem
o seu Josias, que trabalhava sabe aonde? Lá no Saara. Seu Josias, não
sei se trabalha lá ainda, era segurança(...) Tinha o seu Artur que foi
diretor lá, já faleceu, tinha a Dra. Lúcia, que teve uma vez que eu estava
bagunçando lá, aí ela deu uma tapa assim em mim. Engraçado, quando
estavam distribuindo assim os presentes, ela é que me deu o presente,
acabou me dando um beijo aqui, aonde ela bateu, engraçado né. Tinha
uma que era, como era o nome daquela cantora? Era o nome daquela
cantora, Regina, era professora Regina. Engraçado naquela época ela
parecia todinha com a Elis Regina. (Acervo CEMEF/FAETEC).
Lá na Sacra Família o alojamento era direto, aqui (na João Luiz Alves)
acho que era dividido (...) você entrava e tinha as camas, aí depois tinha
outro bloco, era aquela cama de altos e baixos, eram uns quinze (por
alojamento) (...). O banheiro era coletivo, o banheiro geralmente era
aquele de pastilha e cheio de chuveiro, água fria e a escova de dente.
Cada um tinha um painel lá e a gente atendia por número, se não
me engano na João Luiz Alves meu número era 135. (...) Quando era
evento, assim, externo, muita gente, assim, chamava pelo nome, mas
79
quando era, assim, interno, era por número, tá entendendo? Todo lugar
tinha número, na roupa, onde você botava sua pasta de dentes, nas
roupas, tá entendendo? Cama tinha número, até pra dar uma saída,
quando minha mãe me buscava tinha número, por nome, mais número.
(Acervo CEMEF/FAETEC).
80
É aquele negócio que eu falei pra você, quando você vem desde pequeno,
você vem num tempo assim que você não sente, a mesma coisa a criança
com o pai e a mãe vai crescendo ali, aí a mãe tem que falar ‘oh, teu pai
tá ali’, aí a criança vai se adaptando, tudo vai se adaptando dentro de
casa. Então, quando você vem desde bebê destes lugares, você vai se
adaptando; agora, quem chega depois, um pouco grande, fica assim
meio perdido, porque a pessoa não tem assim como, eu até achei legal,
não tenho nada assim para dizer, só que no final... E agora é que você
está vendo alguns furos, assim, eles eram pra ter feito isso, pra fazer
aquilo, eles eram pra te aproveitar melhor a sua saída da escola, é o que
eles não fizeram muito (...). Eu queria mais que o governo deixasse pra
gente certas coisas que ele esqueceu no passado (...). O governo poderia
olhar mais para os ex-alunos, porque o governo está ligando muito
pra esse tal de exilados, dando dinheiro pra eles, não sei o quê, mas a
gente, ex-aluno, nós ficamos na escola estudando, trabalhando, então
muitos não tiveram muita sorte assim. E outra, quando os ex-alunos,
muitos conseguiram, vir a ser funcionário, muitos conseguiram, mas
teve outros como eu, no meu caso, que não fiquei sabendo de nada,
agora estou vendo pelas leis que as pessoas eram funcionários pelos
decretos da época, e eu acho que o governo pode olhar melhor pelos ex-
alunos, os antigos principalmente, pra ver quem tá bem, quem não está,
encaixar aonde, no meu caso, no meu caso agora estou tentando esse
negócio de funcionalismo, porque você na época era um funcionário, a
gente não sabia, mas a gente era. (Acervo CEMEF/FAETEC).
81
Considerações Finais
82
Neste texto, procurou-se tratar de alguns aspectos da
história do atendimento à infância pobre e abandonada no Brasil,
de modo a situar este processo que, desde os tempos coloniais,
passando pelo Império e a chamada República Velha (época
em que a EJLA surgiu), deu forma às políticas públicas para a
infância. Neste sentido, buscou-se também tratar do impacto que
a Lei de Ventre Livre exerceu sobre as respectivas políticas.
Vários atores sociais fizeram parte deste processo.
Instituições religiosas, instituições da sociedade civil, instituições
criadas pelo Estado, religiosos, médicos, juristas, psicólogos,
sociólogos, profissionais do serviço social e educadores foram
protagonistas na tentativa de encontrar soluções que muitas
vezes esbarravam na falta de vontade política dos governantes
de priorizarem esta demanda social.
Durante a República Velha propriamente dita, contexto em
que surgiu a Escola João Luiz Alves, o Estado foi cada vez mais
buscando institucionalizar a chamada “infância desvalida”. Só
para citar alguns exemplos, no Rio de Janeiro, além da Escola
João Luiz Alves, já haviam criado a Escola XV de Novembro e o
Abrigo de Menores, que depois se transformou em Instituto Sete
de Setembro. Instituições que careciam de recursos financeiros
para dar conta dos seus objetivos e que sofriam com um problema
cada vez mais frequente: a superlotação.
Neste cenário um tanto quanto sombrio, buscou-se destacar
o modelo de organização da Escola XV de Novembro que foi
uma espécie de “instituição-mãe” do que veio a ser depois a
Escola João Luiz Alves. A diferença básica entre as duas foi o fato
de a segunda ter surgido para atender a um público específico:
“os menores delinquentes” que fossem julgados pelo Juizado de
Menores.
A partir da análise do seu primeiro Regulamento, procurou-
se investigar como a Escola João Luiz Alves foi concebida em
termos de objetivos e funcionamento, destacando-se os aspectos
mais característicos da sua proposta pedagógica.
83
Para entender de modo a criação da EJLA repercutiu na
imprensa da época, foram feitas, com base no banco de dados da
Hemeroteca da Biblioteca Nacional, análises de algumas matérias
jornalísticas, dentre as muitas divulgadas pela imprensa do
período, tomando-se como critério notícias que citassem o nome
da EJLA. Sendo assim, vários assuntos e temas apareceram,
alguns como denúncias de problemas que ocorreram na Escola,
outros com reflexões sobre o problema da delinquência juvenil e
de demais instituições correlatas.
Considerando importante o registro da memória de um
ex-interno da Escola João Luiz Alves, mesmo que a internação
tenha ocorrida em época diferente daquela que o texto trata,
foram analisadas e descritas as lembranças de J. S., de modo
a demonstrar, a partir da fonte oral, o processo de vida deste
egresso da Escola. A entrevista de J.S. revelou passagens
importantes que ajudam a compreender a dimensão, às vezes
desprezada, da vivência e experiência das pessoas.
Espera-se, assim, com o referido texto, ter contribuído para
trazer a público alguns aspectos dos primeiros tempos da Escola
João Luiz Alves, escola que se mantém até hoje com o mesmo
nome, que tem na verdade uma longa história nestes seus oitenta
e oito anos e que foi o lugar em que entrei pela primeira vez para
exercer minha função de professor de História no DEGASE.
84
Referências Bibliográficas
85
- DECRETO 17.172 de 30 de dezembro de 1925 (denominação
da Escola de Reforma em “Escola João Luiz Alves”);
86
racial no Brasil (1917-1945). São Paulo: Editora UNESP, 2006;
87
JORNAIS E REVISTA/Hemeroteca da Biblioteca Nacional:
- A Crítica (1928 , 01.12.1929 e 13.12.1929);
- A Manhã (30.11.1926 e 23.09.1927);
- A Noite (11.11.1926);
- A Rua (07.04.1927 e 11.04.1927);
- Correio da Manhã (23.01.1929);
- Gazeta de Notícias (09.02.1926, 09.09.1926, 02.01.1927,
05.03.1927, 25.03.1927, 31.03.1927, 04.08.1927,
28.03.1928, 16.11.1928);
- Jornal do Brasil (12.11.1926 e 30.12.1927);
- O Imparcial (03.03.1927 e 27.12.1928);
- O Paiz (18.05.1926, 21.05.1926, 15.06.1927, 07.12.1929,
28.12.1929);
- Revista Fon Fon (1928);
88
MÜLLER, Tânia Mara Pedroso & Wagner Marques
Pereira. “Infância abandonada: os meninos infelizes do Brasil”.
In: Infância Tutelada e Educação: história, política e legislação.
Organizadores: Luiz Cavalieri Bazílio, Maria de Lourdes Sá
Earp, Patrícia Anido Noronha. Rio de Janeiro: Ravil, 1998.
89
- O século perdido. Raízes históricas das políticas públicas
para a infância no Brasil. Rio de Janeiro: Santa Úrsula/Amais,
1997.
90
Anexos
91
Diário Carioca, 26/10/28 Homicidio involuntário O infrator foi condenado
por atropelamento de a um ano de internação
automóvel praticado por na EJLA
um menor
Diário Carioca, 28/12/29 Menores Delinquentes O artigo explica o sentido
postos em liberdade da internação e dos
cuidados que devem ser
observados na medida da
liberdade vigiada
Diário Carioca, 27/12/28 A proposito do ensino Artigo levantando as
technico profissional vantagens e os proble-
mas enfrentados para a
implantação das medidas
socioeducativas
O Imparcial, 01/05/27 Visitas officiaes Visita de ministros e do
juiz de menores a JLA,
e relatam que os alunos
estão satisfeitos com o
regime disciplinar e a
alimentação.
O Imparcial, 03/08/27 Na Escola João Luiz Alves “Ao ministro do Interior,
o seu colega da Viação
comunicou que autorizará
a colocação e telefone na
Escola João Luiz Alves,
se o ministério de que S.
Ex. é o titular fornecer o
material necessario [...]
O Paiz, 02/06/27 Reclamações Reclamações quanto a
falta de estrutura (telefo-
ne) na EJLA
O Paiz, 31/08/28 Escola João Luiz Alves Visita do ministro da
justiça a EJLA
O Paiz, 28/11/28 Ministro João Luiz Alves Sobre quem irá compare-
cer a cerimônia da inau-
guração do mausoléu.
O Paiz, 29/11/28 A inauguração, hoje, do “Realiza-se hoje, ás 10 ho-
mausoléo ao ministro João ras, no cemiterio de São
Luiz Alves João Baptista, a inaugura-
ção do mausoléo manda-
do erigir pelos Estados do
RJ, RS, MG, AM, BA e ES,
a memoria do Dr. João
Luiz Alves”
92
O Paiz, 28/12/29 Menores Delinquentes Sobre a função da interna-
postos em liberdade ção e uma explicação so-
privada bre o que seria a liberdade
privada
Correio da Manhã, Verba dos Reptis Os menores internos con-
14/04/27 seguiram fazer chegar a
imprensa suas queixas
Correio da Manhã, sem A Febre Amarella Entrevista com um
data médico sobre a epide-
mia de febre na Ilha do
Governador
Correio da Manhã, Homicidio Involuntario Notícias sobre o acidente
26/10/28 por Automovel, praticado no ano anterior onde um
por um menor menor de 15 anos, diri-
gindo, matou um menor
de 9 anos. O infrator foi
punido tendo que perma-
necer internado um ano
na EJLA, mas entrou com
recurso e cumpriu a pena
em liberdade vigiada.
Correio da Manhã, A Reeducação de Menores Sobre a atenção da Justiça
23/01/29 Delinquentes e uma “gaf- em acolher da melhor for-
fe” policial ma possível os menores
infratores. Elogios acerca
do trabalho executado na
EJLA.
Crítica, 01/12/29; Rocca Será Inocente? Reportagem de cobertura
03/12/29; 07/12/29; do caso Rocca
13/12/29; XX/12/29
Crítica, 05/04/1930 O Pacto da Morte Notícia sobre um crime de
vingança que acabou com
o infrator sendo encami-
nhado para EJLA
Crítica, 08/04/30 O Sinistro Achado da Sobre o misterioso crime
Ponta da Mãe Maria ocorrido na Ilha e as
Revella Um Assassinato dificuldades de comuni-
cação e falhas estruturais
da EJLA
Gazeta de Notícias, O sr. Ministro da Justiça Visita do ministro a futura
09/02/26 na E. de Reforma EJLA
93
Gazeta de Notícias, Escola João Luiz Alves: A O ministro da Justiça de-
18/05/26 Sua Instalação termina que seja entregue
o edifício para a instalação
da EJLA
Gazeta de Notícias, Assistencia aos Menores Sobre a visita do diretor
21/05/26 da escola 15 de Novembro
ao espaço em que será
instalada a EJLA
Gazeta de Notícias, A Escola de Menores Sobre a visita do ministro
02/09/26 Delinquentes da Justiça às obras da
EJLA
Gazeta de Notícias, Os menores delinquentes Sobre as festas ocorridas
02/01/27 da EJLA e as festas de na EJLA
Ano Novo
Gazeta de Notícias, O Natal dos menores Sobre as festas ocorridas
04/01/27 delinquentes na EJLA
Gazeta de Notícias, O Escandalo da Escola As verdadeiras causas
05/03/27 João Luiz Alves do inquérito no Juizo
de Menores – Novos
Esclarecimentos – A pas-
sagem do Dr. Mario Dias
pela polícia
Gazeta de Notícias, A Escola João Luiz Alves, “Está provado que a
25/03/27 novamente em foco anarchia daquelle estabe-
lecimento não pôde ser
attribuida ao seu diretor
effectivo que se acha afas-
tado do cargo”
Gazeta de Notícias, A Escola João Luiz Alves “É espantoso o que se está
27/03/27 passando em torno da
premeditada demissão do
seu diretor effectivo. Dr.
Mario Dias.”
Gazeta de Notícias, A Escola João Luiz Alves “Um ex-caixeiro viajante,
31/03/27 amigo intimo do minis-
tro Vianna de Castello,
pratica violências contra o
diretor effectivo daquelle
estabelecimento – Praças
de polícia impedem a en-
trada do Dr. Mário dias,
no edifício da Escola!”
94
Gazeta de Notícias, A Escola João Luiz Alves “Continuam as graves ir-
08/04/27 regularidades verificadas
naquelle estabelecimento
de ensino – O inquerito
administrativo do Juizo
de Menores.”
Gazeta de Notícias, A Escola João Luiz Alves Visita e impressões do
28/03/28 ministro da justiça à EJLA
Gazeta de Notícias, Uma palestra do Dr.
16/11/28 Evaristo de Moraes na
EJLA
Gazeta de Notícias, Homicidio Involuntario Noticia do mesmo caso
26/11/28 por atropelamento de presente em “Correio da
automovel praticado por Manhã, 26/10/28”
um menor
A Esquerda, 01/02/28 Para que server o criterio “Mais um automovel para
do duodecimo? Os gastos o diretor da ‘Escola João
continuam a ser feitos do Luiz Alves’”
mesmo modo...
A Rua, 07/04/27 Os menores delinquentes Relata que o diretor Mario
estão soffrendo os hor- dias foi afastado supos-
rores da fome. Enquanto tamente por espancar
que os dirigentes da EJLA menores. Seu substituto é
vivem a tripa fôrra acusado de deixar funcio-
nários e detentos passan-
do fome.
A Rua, 11/04/27 Como se confirma uma Matéria que transcreve
denuncia de “A Rua”: uma carta dos detentos
como os meninos da EJLA confirmando as acusações
chegam a baptizal-a com dos maus tratos dados aos
o nome de Cievelandia! menores na EJLA
O Malho, 12/05/28 Como está organizada Matéria mostrando as
nossa Policia Militar obrigações da Policia
Militar, entre elas, a as-
sistência À EJLA e outros
prédios públicos
95
II - PESQUISA DE PERÍODICOS DIGITALIZADOS NA
BIBLIOTECA NACIONAL
Palavra-chave: Escola João Luiz Alves
Década: 1920-1929
Notícias institucionais e burocráticas.
JORNAL MANCHETE NOTÍCIA/RESUMO
A Manhã, 1925, 1928, Decretos Assinados Designação de
14/09/28, 07/03/28, funcionários,
24/03/28, 06/04/29, transferências, demissões,
25/07/29 nomeações, etc.
A Manhã, 1925 O Regulamento da Escola
J. L. Alves
A Manhã, 30/11/26 Os menores Delinquentes Foram transferidos da
Detenção para os novos
estabelecimentos penaes
A Manhã, 16/08/1927 Informações Dia 23 – Escriptorio de
Commerciaes/ Obras do Ministerio
Concorrencias da Justiça e Negocios
Annunciadas Interiores para obras e
concertos na EJLA, na Ilha
do Governador
A Manhã, 05/03/1927, Pagamentos do Thesouro Anúncio de folhas de
07/03/28 07/11/28, pagamentos
07/12/28, 04/07/29
A Manhã, 01/11/1928 Actos do Ministro da Designação de inspetor
Justiça geral, interino, por conta
das férias do funcionário
efetivo; além de outras
licenças concedidas a
outros funcionários
A Manhã, 17/09/29 Polícia Militar por dentro Matéria sobre os
e por fora problemas enfrentados
no interior da polícia.
Menciona o contingente
policial a serviço da EJLA
96
A Manhã, 29/05/29 Mais uma conferência do O dr. Luiz Paixão,
Dr. Luiz Paixão realisou mais uma
conferencia sobre a
fabre amarela, na Ilha
do Governador. Essa
ultima palestra, teve logar
na EJLA, tendo a ella
comparecido consideravel
assistência, inclusive
alumnos e professores
A noite,04/03/27, Pagamentos Pagamentos de folha de
06/08/25, 06/03/28, funcionários
06/11/28, 06/12/28,
04/07/29, 03/07/29,
03/09/29, 05/12/29
A Noite, 11/11/26 Foi hoje inaugurada, na Sobre a inauguração e as
Ilha do Governador, a modificações estruturais
EJLA para receber a nova
instituição
A Noite, 09/05/29, Nomeações Designações, nomeações,
09/07/29, 24/07/29, e exonerações, no M. da
19/03/29, 05/04/29, Justiça
Jornal do Brasil, Decretos Assinados Nomeações, designações...
05/11/26; 06/11/26;
04/12/28; 10/05/29
Jornal do Brasil, 07/06/27 Pagamentos Pagamento de folha de
funcionários
Jornal do Brasil, Concorrências Dia 23 – Escriptorio de
17/08/27; 19/08/27; Obras do Ministerio
20/08/27; 23/08/27 da Justiça e Negocios
Interiores para obras e
consertos na escola João
Luiz Alves, na Ilha do
Governador
Jornal do Brasil, Concorrências Dia 2 – Escola João
27/03/28 Luiz Alves, para o
fornecimento de diversos
artigos
Diário Carioca, 07/11/28; Pagamento Pagamento da folha de
07/12/28; 05/02/29/ funcionários
Diário Carioca, Decretos assinados Licenças, nomeações,
12/09/28; 14/09/28; exonerações...
17/01/29; 01/03/29;
09/03/29; 03/08/29;
04/10/29; 23/01/29;
25/07/29;
97
Diário Carioca, 29/03/29 O novo inspetor da Escola “Por portaria de hontem,
João Luiz Alves do ministro da justiça, foi
nomeado Roberto Pires
de Lima para exercer,
interinamente, o cargo de
inspetor geral da Escola
de Reforma João Luiz
Alves”
O Imparcial, 03/03/27 Inquerito na “Escola João Foi afastado da direção o
Luiz Alves” Dr. Mario Dias
O Imparcial, 04/11/26; Decretos assinados Licenças, nomeações,
17/06/27; 23/09/27; exonerações
09/03/29; 04/12/28;
23/01/29
O Imparcial, 07/10/27; Pagamento Pagamento de folha de
05/01/28 funcionários
O Imparcial, 12/11/26 Um estabelecimento “Foi, hontem, inaugurada,
destinado á regeneração na Ilha do Governador, a
dos menores delinquentes Escola de Reforma João
Luiz Alves”
O Paiz, 31/12/25; Decretos assinados Nomeações, exonerações,
03/03/27; 06/04/27; licenças...
11/05/27; 28/05/27;
12/06/27; 11/07/27;
22/07/27; 07/03/28;
24/03/28; 23/07/28;
28/07/28; 29/07/28;
17/09/28 20/04/29;
09/08/28; 04/10/28;
09/11/28; 19/11/28;
04/12/28; 24/04/29;
17/07/29; 04/10/29;
22/12/29
O Paiz, 06/06/27; Pagamentos Pagamentos da folha de
07/08/27; 07/05/28; funcionários
07/07/28; 06/10/28;
07/11/28; 04/04/29;
04/07/29; 04/08/29;
04/09/29; 06/10/29
06/12/29
O Paiz, 17/05/26 Escola João Luiz Alves Sobre a entrega do
edifício XV de Novembro
para EJLA e sobre a
transformação para
receber a nova escola
98
O Paiz, 08/02/26 Ministério da Justiça Sobre a visita do ministro
ao local do futuro local a
ser instalada a EJLA
O paiz, 20/05/26 Escola João Luiz Alves Diretor da escola XV
de Novembro irá tomar
posse da propriedade que
virá a ser a EJLA
99
Correio da Manhã, A escola de reforma de
11/11/26 menores delinquentes
será inaugurada hoje
Correio da Manhã, Concorrências Dia 23 – Escriptorio de
12/08/27; 13/08/27; Anunciadas Obras do MInisterio
23/02/28 da Justiça e Negocios
Interiores, para obras e
concertos na EJLA
Correio da Manhã, Pagamentos Pagamento da folha de
05/03/27; 07/04/27; funcionários
07/09/27; 07/07/27;
07/08/27; 07/12/27;
07/02/28; 08/05/28;
06/07/28; 07/09/28;
06/10/28
Correio da Manhã, Escola João Luiz Alves Suspensão do Expediente
19/08/28 e nomeação de uma
comissão para prestar
homenagem no grande
“az” Italiano Carlo Del
Preto
Crítica, 05/02/29; Pagamentos Pagamento da folha de
05/03/29; 03/06/29; funcionários
Gazeta de Notícias, Decretos Assinados Nomeações, licenças,
31/12/25; 14/11/26; exonerações, etc...
31/12/26; 12/02/27/;
27/04/27; 11/05/27;
07/03/28; 17/06/27;
27/10/27; 17/03/28;
06/04/28; 20/05/28;
29/08/28; 04/09/28;
14/09/28; 04/10/28;
17/01/29; 23/01/29;
14/02/29; 19/03/29;
06/04/29; 17/07/29;
25/07/29; 20/10/29;
22/12/29
Gazeta de Notícias, Pagamentos Pagamento da folha de
07/05/27; 07/10/27; funcionários
08/11/27; 05/01/28;
06/07/28; 06/11/28;
07/12/28
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Gazeta de Notícias, A EJLA tem novo diretor “[...] designou o inspetor
01/11/28 interino geral interino da
EJLA Carlos Nobrega
Guimarães de Almeida
para substituir o diretor
interino, da mesma escola,
Luis Nogueira da Gama,
a quem foram concedidos
15 dias de férias, de
acordo com a lei.”
Gazeta de Notícias, Fallecimentos Faleceu o inspetor geral
24/03/29 da EJLA, Nobrega
Guimarães de Almeida
A Esquerda, 07/02/28; Pagamentos Pagamento da folha de
07/03/28 funcionários
A Esquerda, 09/08/28 Decretos Assinados Nomeação de funcionário
O Pharol, 04/01/26 À memoria do Dr. João “Rio – O governo
Luiz Alves resolveu dar a secção de
reforma da Escola 15 de
Novembro o nome de
Escola João Luiz Alves em
homenagem a memoria
do saudoso ministro, que
tão bons serviços prestou
ao paiz.”
A Rua, 23/08/27 Concorrencias “Dia 23 – Escriptorio
annunciadas de Obras do Ministerio
da Justiça e negócios
interiores para obras e
concertos na EJLA.
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