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UNIDADES DE ENSINO POTENCIALMENTE SIGNIFICATIVAS NA

ALFABETIZAÇÃO

Elaine Cristina da Silva Moreira


elainemoreira2012@gmail.com

RESUMO

Autores, a exemplo Viecheneski e Carletto (2011), têm pesquisado sobre o


ensino de Ciências nos anos iniciais, constatando que, ou é deixado de lado,
pois se prioriza o ensino de Língua Portuguesa e Matemática, ou se caracteriza
enquanto um ensino voltado à memorização. Com intuito de refletir o processo
de ensino e aprendizagem de conhecimentos Científicos nos anos iniciais, ao
mesmo apresentar uma proposta metodológica que coadune com os princípios
da teoria de Aprendizagem Significativa de Ausubel (1980), cujo enfoque é a
significativa apreensão e compreensão de conhecimentos, será proposto neste
minicurso o trabalho com as Unidades de Ensino Potencialmente Significativa
de Moreira (2012). Segundo Moreira (2012, p. 45) as UEPS "são sequências de
ensino fundamentadas teoricamente, voltadas para a aprendizagem
significativa, não mecânica, que podem estimular a pesquisa aplicada em
ensino, aquela voltada diretamente à sala de aula". Este minicurso é aberta aos
educadores da Educação Básica, principalmente professores dos anos iniciais
do ensino fundamental. Com carga horária de oito (8) horas, este minicurso se
propõe a abordar os seguintes conteúdos: Aprendizagem Significativa; Ensino
de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental; Unidades de Ensino
Potencialmente Significativas - UEPS. A proposição deste minicurso, tem como
pretensão despertar o olhar dos educadores para importância de se conhecer e
considerar o conhecimento que o aprendiz já possui sobre o material a ser
ensinado; Instigá-los a considerar a UEPS como proposta metodológica para o
planejamento de ensino em Ciências; e também desestabilizá-los quanto ao
conceito de aprendizagem significativa, que comumente é atrelado a uma
concepção vulgar do termo, que pouco tem em comum com o conceito
proposto por Ausubel em sua teoria de aprendizagem. Diante da necessidade
de continuarmos aprendendo sempre, espera-se sobremaneira que as
reflexões propostas nesses momentos despertem nos participantes o desejo de
conhecer mais e a inquietação para fazê-lo.

Palavras chaves: Unidades de Ensino Potencialmente Significativas;


Aprendizagem Significativa; ensino e aprendizagem
ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS NA ALFABETIZAÇÃO

O como ensinar é um tema constante de discussões entre os


profissionais e pesquisadores da educação, no entanto, nem sempre
respaldados por uma teoria explícita de aprendizagem. O número crescente de
crianças e adolescentes que "passam" anos na escola e apresentam um baixo
nível de proficiência1 coloca a nós educadores o desafio de refletirmos sobre o
modo como o ensino e aprendizagem tem se dado no interior das escolas.
Quando o assunto é o Ensino de Ciências nos anos iniciais, a realidade
é ainda mais delicada. Alguns autores, a exemplo Viecheneski e Carletto
(2011), têm pesquisado sobre o ensino de Ciências nos anos iniciais,
constatando que, ou é deixado de lado, pois se prioriza o ensino de Língua
Portuguesa e Matemática, ou se caracteriza enquanto um ensino voltado à
memorização.

[...] Se conseguíssemos diminuir a ansiedade que produz nos


professores e nos alunos a aprendizagem da leitura-escrita no
início da educação primária, poderíamos trabalhar conteúdos
tão importantes como estes, especialmente os relacionados às
ciências. E isto pode fazer-se, vinculando uns conteúdos aos
outros, de forma que se complementem e não se mantenham
isolados, nem compitam pelo mesmo espaço curricular
(LLEDÓ, 1994 apud NIGRO e AZEVEDO, 2011, p. 706).

Com intuito de refletir o processo de ensino e aprendizagem de


conhecimentos Científicos nos anos iniciais, ao mesmo apresentar uma
proposta metodológica que coadune com os princípios da teoria de
Aprendizagem Significativa de Ausubel (1980), cujo enfoque é a significativa
apreensão e compreensão de conhecimentos, será proposto neste minicurso o
trabalho com as Unidades de Ensino Potencialmente Significativa de Moreira
(2012).
A necessidade de pensar e agir com conhecimentos cada vez mais
plurais e interdisciplinares, traz à educação o desafio de adotar estratégias
metodológicas desafiadoras, que ultrapasse a simples exposição de fatos a um

1
ver resultados Anresc (avaliação nacional do rendimento escolar) e ANA (Avaliação Nacional
da Alfabetização), disponível em portal.inep.gov.br, acesso dia 29 de setembro de 2014.
aprendiz passivo, que por sua vez, produz a aprendizagem mecânica. Nesse
sentido, conhecer os pressupostos da teoria significativa que subjaz as UEPS,
enquanto estratégia para o planejamento das aulas de Ciências, configura-se
num importante empreendimento rumo a aprendizagem significativa dos
educadores e educandos.

MARCO TEÓRICO

Segundo Ausubel (1980) o fator isolado mais importante para que


ocorra a aprendizagem significativa é o que o aprendiza já sabe. "Descubra o
que ele sabe e baseie nisso os seus ensinamentos" (AUSUBEL, 1980, prefácio,
p. ix).
A aprendizagem significativa para Ausubel, ocorre quanto o novo
conhecimento é relacionado de maneira substantiva (não literal) e não arbitrária
a algum aspecto da estrutura cognitiva do aprendiz. Não muda-se apenas a
quantidade de conhecimento, mas a qualidade do mesmo, pois tanto o
conhecimento novo, quanto o já existente, se influenciam mutuamente
(AUSUBEL, 1980; MOREIRA, 2011).
A aprendizagem mecânica, ao contrário, ocorre quando esse novo
conhecimento é retido de modo arbitrário, sem relação com outros
conhecimentos já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Isso pode
ocorrer porque o aprendiz não dispunha de subçunsores disponíveis ou porque
não houve a predisposição para relacionar de modo substantivo e não arbitrário
o novo conhecimento a sua estrutura cognitiva. Desse feito, Ausubel (1980)
aponta duas condições para que a aprendizagem significativa ocorra:

A aprendizagem significativa pressupõe que o aluno manifeste


uma disposição para a aprendizagem significativa - ou seja,
uma disposição para relacionar, de forma não arbitrária e
substantiva, o novo material à sua estrutura cognitiva - e que o
material aprendido seja potencialmente significativo -
principalmente incorporável à sua estrutura de conhecimento
através de uma relação não arbitrária e não literal (AUSUBEL,
1980, p. 34)
Resumidamente os princípios da aprendizagem significativa apontam
que:
- o mais importante fator da aprendizagem é o que o aprendiz já sabe;
- é necessário a pré disposição pelo aprendiz para aprender, ou seja,
relacionar o novo conhecimento a sua estrutura cognitiva e não apenas
memorizar informações;
- A aprendizagem é facilitada quando os aspectos mais gerais e
inclusivos são apresentados a priori, para que posteriormente sejam
diferenciados (Diferenciação Progressiva) e novamente reconciliados
(Reconciliação integrativa)
- o material2 de estudo a ser apresentado ao educando precisa ser
aprendível (Material Potencialmente Significativo), ou seja, precisa ser
relacionável a estrutura cognitiva do aprendiz;
- Quando o aprendiz não dispõe de subsunçores, ou seja,
conhecimentos prévios necessários para que os novos conhecimentos sejam
ancorados, é possível utilizar-se dos organizadores prévios, que são segundo
Moreira (2011, p. 163) "materiais introdutórios apresentados antes do material
a ser aprendido em si", cujo objetivo é a construção de subsunçores, que
servirão de ponte para o novo conhecimento.
- a avaliação é contínua e processual, busca-se evidências de que o
novo conhecimento foi aprendido significativamente. Com intuito de evitar a
"simulação da aprendizagem significativa", Moreira (2011, p. 164) parafrasendo
Ausubel afirma que a saída "é formular questões e problemas de uma maneira
nova e não familiar, que requeira máxima transformação do conhecimento
adquirido".
As Unidades de Ensino Potencialmente Significativa é proposta por
Moreira (2012) tendo como pressupostos os princípios da Teoria da
Aprendizagem Significativa de Ausubel (1980), enquanto caminho facilitador
para a promoção da aprendizagem significativa. Segundo Moreira (2012, p. 45)
as UEPS "são sequências de ensino fundamentadas teoricamente, voltadas
para a aprendizagem significativa, não mecânica, que podem estimular a
pesquisa aplicada em ensino, aquela voltada diretamente à sala de aula".

2
Material para Ausubel é o conhecimento que se quer ensinar, pode ser uma unidade de
ensino, um conteúdo, um conceito ou até mesmo uma rede de conceitos.
Moreira (2012) propõe as seguintes etapas para a elaboração de uma
UEPS:
1º Definir Tópico Específico do que se propões ensinar - conhecimento
declarativo;
2º Proposição de situações problemas que levem o aluno a externalizar
o que sabem sobre a matéria de Ensino. Ex: Mapas, questionamento,
tempestade de ideais;
3º Proposição de Situações-problema em nível bem introdutório, levando
em conta o conhecimento prévio - vídeos, problemas do cotidiano, que
instiguem a necessidade de modelá-los mentalmente;
4º Apresentação do conhecimento a ser ensinado levando em conta a
diferenciação progressiva, ou seja, partindo dos aspectos mais geral e
inclusivo do conhecimento, para os menos inclusivos e específicos;
5º Retomar aspectos mais gerais e inclusivos - reconciliação integrativa;
6º Dar segmento ao processo de diferenciação progressiva numa
perspectiva integradora (vídeo, texto), novas situações problemas em níveis
mais alto de complexidade;
7º Avaliação - a qual deve ser contínua e processual, através da
observação e registro de evidências de aprendizagem. O que envolve a
avaliação diagnóstica (para conhecer o que o aprendiza já sabe sobre o
material a ser ensinado), a avaliação somativa (apanhado de testes, desafios,
trabalhos e situações problemas desenvolvidas), e a formativa (observações e
registros) desse processo realizados tanto pelo professor, quanto pelo
educando (autoavaliação), num processo contínuo de dialogo e negociação de
significados;
8º Avaliação da UEPS - que será considerada exitosa se a avaliação de
desempenho dos alunos/professores fornecer evidências da aprendizagem
significativa.

METODOLOGIA

Este minicurso é aberta aos educadores da Educação Básica,


principalmente professores dos anos iniciais do ensino fundamental.
Com carga horária de oito (8) horas, este minicurso se propõe a abordar
os seguintes conteúdos:
- Aprendizagem Significativa;
- Ensino de Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental;
- Unidades de Ensino Potencialmente Significativas - UEPS.
A Sequência Metodológica da oficina se orientou nas etapas propostas
por Moreira (2012) para a elaboração de uma UEPS. Depois de delimitar o
assunto, tema a ser ensinado, neste caso, as "Unidades de Ensino
Potencialmente Significativa", e conhecer seus princípios norteadores (1º
momento), planejamos apresentá-las a partir das seguintes etapas:
- No 2º momento, buscando evidências do que os participantes já sabem
sobre a teoria da aprendizagem significativa de Ausubel e as Unidades de
Ensino Potencialmente Significativa de Moreira, será solicitado aos
participantes, enquanto situação problema, que relatem situações ocorridas
em sua trajetória enquanto discente ou docente, que considerem significativas,
justificando o porque de suas respostas;
- No 3º momento será apresentado algumas situações problema em
nível bem introdutório, levando em conta o conhecimento prévio, para se
refletir quais os fatores necessários para considerarmos uma aprendizagem
significativa. Para tanto utilizaremos o vídeo "cidade dos homens" e um relato
de experiência de sala de aula (BRASIL, 2012);
- Posteriormente, no 4º momento será apresentado em slides e textos
síntese da teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel, cujo os princípios
sustentam as UEPS, proposta metodológica de Moreira (2012), levando em
conta a diferenciação progressiva, ou seja, partindo dos aspectos mais gerais
e inclusivos para os menos inclusivos e específicos;
- 5º momento - Retornaremos nos aspectos mais gerais e inclusivos,
destacando ser esta uma proposta metodológica, não a única, a qual se
destaca, por ser esta fundamentada na teoria da aprendizagem significativa de
Ausubel;
- Continuando a seguir o processo de diferenciação progressiva numa
perspectiva integradora, no 6º momento, considerando a necessidade de
propor novas situações problemas em níveis mais alto de complexidade, será
proposta a elaboração de uma UEPS;
- No 7º momento, discutiremos os critérios para a Avaliação da UEPS,
destacando que essa precisa ocorrer ao longo de sua implementação, através
da observação e registro de evidências de aprendizagem. Para tanto, precisa
envolver também (mas não só) uma avaliação somativa, considerando alguns
instrumentos como questionários, provas, trabalhos, mapas conceituais, como
evidências desse processo. Considera o erro como importante recurso para
recursividade, ou seja, dialogar e ponderar os fatores que podem estar
interferindo para que a aprendizagem ocorra. E valorizando a autoavaliação
como importante momento para o desenvolvimento da autonomia, propiciando
ao aprendiz refletir sobre seu processo de aprendizagem, externalizando as
dificuldades e facilidades que encontrou no processo. Desse modo,
possibilitando ao educando conquista sua autonomia, e assim, aprender a
aprender (NOVAK, 1996);
- O 8º momento será destinado a Avaliação da UEPS. Que será
considerada exitosa se as UEPS planejadas pelos cursistas, relatos e a
avaliação do grupo evidenciarem a aprendizagem significativa.

RESULTADOS ESPERADOS

A proposição deste minicurso, tem como pretensão despertar o olhar


dos educadores para importância de se conhecer e considerar o conhecimento
que o aprendiz já possui sobre o material a ser ensinado. Instigá-los a
considerar a UEPS como proposta metodológica para o planejamento de
ensino em Ciências. E também desestabilizá-los quanto ao conceito de
aprendizagem significativa, que comumente é atrelado a uma concepção vulgar
do termo, que pouco tem em comum com o conceito proposto por Ausubel em
sua teoria de aprendizagem.
Diante da necessidade de continuarmos aprendendo sempre, espera-se
sobremaneira que as reflexões propostas nesses momentos despertem nos
participantes o desejo de conhecer mais e a inquietação para fazê-lo.
REFERÊNCIAS

AUSUBEL, David P, NOVAK, Joseph. D. e HANESIAN, Helen. Psicologia


educacional. Trad. de Eva Nick et al. Rio: Interamericana, 1980.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão


Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa :
alfabetização em foco : projetos didáticos e sequências didáticas em
diálogo com os diferentes componentes curriculares : ano 03, unidade 06
/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à
Gestão Educacional. -- Brasília : MEC, SEB, 2012.

MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de aprendizagem. 2ª ed. ampl. - São


Paulo; EPU, 2011.

_______________________. Unidades de Ensino Potencialmente


Significativas – UEPS. In: SILVA, M. G. L.; MOHR, A e ARAÚJO, M. F.
F.(Orgs.). Temas de ensino e formação de professores de ciência. Natal,
RN : EDUFRN, p. 45-72, 2012.

NIGRO, Rogério Gonçalves e AZEVEDO, Maria Nizete. Ensino de ciências


no fundamental 1: Perfil de um grupo de professores em Formação
continuada num contexto de Alfabetização Científica. Revistas Ciência &
Educação, v. 17, n. 3, p. 705-720, 2011. Disponível em
http://www2.fc.unesp.br/cienciaeeducacao/viewarticle.php?id=914, acesso 02
de dezembro de 2013.

NOVAK, Joseph D e GOWIN, D. Bob. Aprender a aprender. Tradução: Carla


Valadares. 1ª Ed. Plátano Edições Técnicas. Lisboa, 1996. (edição original
1984).

VIECHENESKI, Juliana Pinto e CARLETTO, Marcia Regina. Ensino de


Ciências e Alfabetização Científica nos anos iniciais do Ensino
Fundamental: um olhar sobre as escolas públicas de Carambeí. VIII
ENPEC – Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências.
Campinas: 2011. Disponível em
http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R0741-1.pdf, acesso: 02 de
dezembro de 2013.

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