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Uma das principais características da pintura do Renascimento, ao lado do estudo

anatômico, foi a introdução da perspectiva (ou perspectiva isométrica). O princípio


da perspectiva acrescentou a noção de profundidade às telas, o que proporcionou uma
melhor disposição dos objetos representados, fossem eles pessoas, paisagens ou
construções, como igrejas e demais edifícios. Essa técnica chegou à perfeição com o
trabalho de pintores como Rafael e Leonardo Da Vinci. Entretanto, o principal
precursor da técnica da perspectiva foi Piero della Francesca.
A data de nascimento de Piero della Francesca é inexata, pois há autores que
indicam o ano de 1412, outros, o ano de 1415; e outros, ainda, o ano de 1420.
Estipula-se que tenha morrido em 1492, de modo que sua produção como artista
alcançou boa parte do século XV ou, como dizem os historiadores do Renascimento
Artístico Italiano, o Quattrocento. O século XV marcou a transição da Idade Média
para Idade Moderna, e a Europa passou por variadas experiências que a introduziram,
de fato, na modernidade.
O desenvolvimento das cidades (burgos), que havia se intensificado a partir do
século XIV, contribuiu para o aperfeiçoamento das artes nas cidades italianas, como
Florença. O classicismo (isto é, o resgaste das formas clássicas desenvolvidas nas
antigas civilizações grega e romana) tornou-se predominante a partir da imitação
dos modelos clássicos mesclados com as temáticas judaico-cristãs. Em meio a esse
contexto, Piero della Francesca foi um dos primeiros a estabelecer os padrões da
relação entre forma e conteúdo na pintura.
A excepcionalidade de Piero está tanto na experimentação dos tons de cor quanto na
aplicação da perspectiva. Em uma de suas obras mais aclamadas, O Flagelo de Cristo,
isso fica evidente.

Em O Flagelo de Cristo, vê-se as figuras humanas nitidamente dispostas no


enquadramento da pintura. A aplicação da perspectiva auxiliou Piero a colocar três
pessoas em primeiro plano e cinco no segundo plano. Ao fundo, vê-se a cena que dá
título ao quadro: Cristo sendo flagelado por um carrasco. A noção de profundidade é
produzida pelas linhas tanto do chão quanto dos prédios e colunas, que começam no
primeiro plano e seguem para o fundo. A proporção entre as pessoas (em tamanho
maior), no primeiro plano e, em tamanho menor, no segundo plano, também segue a
mesma regra.
As cores vivas, tanto das vestimentas quanto da paisagem ao fundo e da estrutura
dos prédios, também foi um grande diferencial que Piero trouxe para a pintura. A
aplicação da cor e os primeiros experimentos mais sofisticados com luz e sombra
foram marcantes e tiveram importância seminal nos séculos seguintes.
O principal estudioso da obra artística de Piero, responsável por dar uma
interpretação orgânica ao seu conjunto de pinturas, foi o italiano Roberto Longhi,
com sua obra “Piero della Francesca”, publicada em 1927.

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