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TEORIA DA PERCEPÇÃO

VISUAL
AULA 6

Prof. André Luiz Pinto dos Santos


CONVERSA INICIAL

Abstracionismo e percepção visual

Olá! Nesta aula, o foco é o abstracionismo e como se relaciona com a


percepção visual. No primeiro tema, é feita uma breve apresentação da arte
abstrata e suas principais características. No segundo tema, são tratados o
movimento cubista e o surrealista como exemplos de arte do início do século XX,
para que no terceiro abordemos o processo de percepção visual do
abstracionismo, aproveitando também para apresentar o aspecto simbólico da
percepção.
No quarto tema você vai conhecer a Op Art, um exemplo de movimento
artístico que explora a arte abstrata e na qual também é possível reconhecer
conceitos da percepção visual na maioria das obras. Para finalizar, no último
tema discorremos sobre as ilusões de ótica e como ocorrem, levando em
consideração o processo de percepção visual já apresentado anteriormente.
Bons estudos!

TEMA 1 – ARTE ABSTRATA

No início do século XX, surgiu a arte abstrata ou abstracionismo. Para o


artista desse movimento, o que interessa são os elementos formais, ou seja, o
ponto, a linha, o plano, a forma, a cor e a textura; não há mais o interesse na
representação do mundo. Se o artista expressionista já havia rompido em partes
a representação do mundo, embora ainda usasse esse mundo como fonte de
inspiração, o artista abstracionista recorre aos elementos que subsidiam a
linguagem da pintura ou do desenho para representação gráfica de suas obras.

A estética do abstracionismo se constrói na relação direta do artista


com a obra e na construção de significados que esse diálogo provoca
no espectador. No caso de Kandinsky, em seus improvisos (Improviso
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sensação, uma sensação necessariamente ligada à estética no sentido
de ela ser, também, a percepção pelos sentidos. O abstracionismo nos
afeta pois opera na desilusão; buscamos o figurativo e encontramos
gigantes figuras negras em nuances de azul. A obra não está acabada,
pois ela dialoga com o interior do artista, que é apresentado no exterior
da obra e, então, é ressignificado pelo interior do espectador. Nessa
dança, produz-se uma obra que abrange todo um emaranhado de
sensações, visto que, de interiores e de exteriores, sempre estaremos
presos em nossos universos particulares, buscando formas, sejam elas
figurativas ou abstratas.

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Conforme o que explica Fortuna (2006), Kandinsky é tido como um dos
precursores do abstracionismo, com obras como Primeira Aquarela Abstrata
(1910) e outras obras como a da Figura 1.

Figura 1 − Arte abstrata de Wassily Kandinsky

Créditos: Anton.F/Shutterstock.

Nesse caso, é a cor falando pela cor, a linha falando pela linha, o formato
falando pelo formato, e não mais um conjunto de elementos formais agrupados
para simular algo que está no mundo real. A produção artística no
abstracionismo não tenta simular algo que está no mundo real; ao contrário,
produz uma arte que é concreta, ou seja, a cor simplesmente está na tela, não
simula algo que está fora dela.

Se a arte, nela mesma, é uma interface da comunicação, a arte


abstrata é uma interface especial da comunicação, porque obriga
criadores e fruidores a realfabetizarem-se visualmente e a
familiarizarem-se com uma inusitada articulação ótica. Educa, também
peculiarmente, para o aguçamento dos sentidos, para um mental mais
elaborado, para uma maneira de ver a própria arte, para uma forma de,
mais amplamente, visualizar e pensar o mundo, de uma vez que na
arte abstrata os reconhecimentos da realidade são inexistentes e
inessenciais. É um meio de expressão e comunicação que se pode
considerar exótico, sobretudo quando de seu surgimento em 1910 por
Wassily Kandinsky. (Fortuna, 2006)

Embora seja chamada de arte abstrata, ela é muito mais concreta do que
aquela produzida em movimentos como realismo, neoclassicismo e romantismo,

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que precisam de um grau de abstração mental para ser consideradas
verdadeiras. A arte do impressionismo, por exemplo, requer um observador ativo
que queira entender que manchas coloridas de tonalidades diferentes de verde
representam uma árvore. “O receptor necessita, portanto, desenvolver repertório
específico para entender e interpretar esta ordem lógica. Assim, a comunicação
acontecerá dentro de cunho científico e não somente emocional como sempre
se estabelece com a arte e, principalmente, com a arte abstrata” (Fortuna, 2006).
O artista abstracionista não tem interesse de representar a árvore, e sim
a própria mancha em tonalidades de verde. Não é mais a árvore que lhe
interessa, assim como também não é aquilo que está fora, mas o uso dos
elementos formais em suas obras artísticas. Sobre a percepção artística:

Para integrar o caso da percepção artística [...] rememoremos que um


dos princípios da Psicologia Gestalt estabelece que a percepção tende
naturalmente para a simplificação das formas, que rearranja numa
totalidade coerente (que resume os princípios da simplicidade, da boa
Gestalt e a lei da pregnância). Quando olhamos para um determinado
padrão visual (mais ou menos complexo, mais ou menos articulado),
somos levados a percepcioná-lo de tal modo que nos pareça simples,
articulado, objetivo e inteligível. Sobre o princípio da simplicidade,
escreveu Rudolf Arnheim que é através dele que “certas formas ou
cores se fundem em unidades ou se separam, porque algumas coisas
parecem planas, enquanto outras têm volume e profundidade;
possibilitou-nos entender a base lógica da inteireza e do ser
incompleto, o todo e a parte, a solidez da transparência, o movimento
e a imobilidade. […] Contudo, neste ponto é necessário saber que a
tendência à simplicidade por si só não pode fazer justiça ao que vemos;
ela nos leva a descrições unilaterais. (Gonçalves, 2018)

São exemplos de movimentos que buscaram o rompimento com os


antigos valores estéticos o cubismo e o surrealismo, sobre os quais trataremos
no próximo tema.

TEMA 2 – CUBISMO E SURREALISMO

O movimento chamado cubismo tinha como princípio um novo arranjo de


produção gráfica. Até aquele momento a pintura era representada como se fosse
uma janela que dá visibilidade a um espaço. No entanto, com o cubismo e com
o abstracionismo, a obra de arte passou a ser representada em termos de
superfície.
A pintura, nesse movimento, não tentava reproduzir nada que estivesse
fora do quadro. O cubismo mostrava essas limitações do suporte, e interessava
aos artistas do cubismo uma representação diferenciada em relação aos
movimentos anteriores.
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Figura 2 − Temas de vinho no estilo do cubismo; garrafas, copos e uvas sobre
a mesa

Créditos: Hare Krishna/Shutterstock.

Os artistas cubistas fazem combinações extremas, a ponto de


desmaterializar completamente a figura do mundo das coisas; para alcançar
esse objetivo, simplificam a cor, suprimem-na, pois, com tons de cinza, é como
se já estivessem mais longe da representação do mundo real. Eles criam uma
nova realidade. Os artistas sobrepõem planos, agregam materiais na superfície
do quadro, e isso faz com que haja uma nova percepção de representação
gráfica.
No começo do século XX, por volta de 1920, surgiu o surrealismo, que
começou a entender que nem o mundo nem o sentimento estão no centro de
interesse na representação gráfica, mas sim o que está no subconsciente do
indivíduo. O artista recorre a informações obtidas em seu subconsciente. O que
fundamentou esse movimento foram as pesquisas do psicanalista Sigmund
Freud.

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Figura 3 − Ilustração de uma das obras de Salvador Dalí

Créditos: kumachenkova/Shutterstock.

O mundo dos sonhos passa a ser uma possibilidade de representação.


Salvador Dalí é um dos representantes do surrealismo (Figura 3) ao explorar de
forma vindoura o surrealismo. Essas propostas não teriam como tentar ser um
equivalente para o mundo real; bem ao contrário, as combinações só serão
possíveis de serem interpretadas a partir da aceitação de que o subconsciente
é capaz de gerar uma realidade própria, uma realidade típica do sujeito, do seu
repertório e da sua vivência.

TEMA 3 – PERCEPÇÃO DE OBRAS ABSTRATAS

A arte representa o mundo, e, por consequência, é possível representar


uma mesma imagem de diversas maneiras. De um lado, o artista escolhe seu
modo de representar o mundo, definindo seu estilo artístico e sua técnica; de
outro, o público faz leituras e interpretações diferentes ao apreciar a obra de arte
daquele artista com base em sua percepção visual e em seu gosto. Assim, há,
por exemplo, pessoas que preferem as pinturas figurativas e não gostam das
abstratas.
Essa mudança do gosto nos revela que, na produção artística, cada obra
de arte é criada em função de um contexto histórico e social. Nesse sentido, a
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leitura e a percepção de uma obra produzida no renascimento diferem tanto da
recepção da arte abstrata quanto da pintura da escola da pop art. Devemos ter
em mente que os artistas, para representar o mundo e criar suas obras, recorrem
aos elementos da linguagem visual, considerando as possibilidades técnicas e
os materiais que o momento histórico e social permite, de modo a desenvolver
um estilo artístico próprio.
Na busca de um estilo próprio, o conhecimento da linguagem visual e de
sua gramática é essencial a diferentes profissionais que utilizam a criatividade
em seu trabalho. Nesse sentido, o processo de criação e seus recursos técnicos
e visuais possibilitam diversos caminhos e escolhas tanto para os artistas quanto
para os profissionais que desejam fazer uso dos fundamentos da linguagem
visual a fim de elaborar uma mensagem visual e comunicá-la de modo eficaz.
Dondis (2000, p. 85) classifica a anatomia da mensagem visual em três
níveis: o representacional, o abstrato e o simbólico. O domínio de cada um deles
resulta no grau da chamada inteligência visual. O primeiro nível é o
representacional, e podemos dizer que a mensagem visual é concreta e real e
que seu entendimento se baseia na experiência do cotidiano visual. O segundo
nível é o abstrato, que trata da mensagem visual pura, cuja compreensão está
condicionada ao estudo dos elementos que a constituem. O terceiro é o nível
simbólico, em que a mensagem visual é formada por sistemas de símbolos e seu
entendimento associa a forma e o conteúdo da imagem em questão (Dondis,
2000).
De acordo com Dondis (2000), o nível mais elementar é o
representacional, e o mais complexo, o abstrato. A composição representacional
trata de modelos concretos e reais, ao passo que a composição abstrata valoriza
a gramática visual e seus elementos básicos: o ponto, a linha e o plano. Nesse
nível do desenvolvimento do alfabetismo visual, o mais importante não é o tema,
mas a mensagem visual pura, ou seja, a subestrutura da composição.
A diferença entre o representacional e o abstrato também é apresentada
por Wong (2001) em seus estudos sobre a forma. Para esse autor, temos dois
tipos de formas: as figurativas e as abstratas. "Uma forma figurativa pode ser
apresentada com realismo fotográfico ou com algum grau de abstração −
contanto que não seja tão abstrata a ponto de tornar o tema irreconhecível. Se
o tema não pode ser identificado, a forma é não figurativa" (Wong, 2001).

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Para discutirmos o nível simbólico, podemos dizer que essas obras são
reais e simbólicas: reais porque reconhecemos que as imagens são figurativas;
e simbólicas porque buscamos o significado da obra não apenas pelo seu
aspecto formal, como fizemos na pintura abstrata de Kandinsky.

Com sua propensão para criar símbolos, o homem transforma


inconscientemente objetos ou formas em símbolos (conferindo-lhes
assim enorme importância psicológica) e lhes dá expressão, tanto na
religião quanto nas artes visuais. A interligada história da religião e da
arte, que remonta aos tempos pré-históricos, é o registro deixado por
nossos antepassados dos símbolos que tiveram especial significação
para eles e que, de alguma forma, os emocionaram. Mesmo hoje em
dia, como mostram a pintura e a escultura modernas, continua a existir
viva interação entre religião e arte. (Jaffé, 1964, p. 232)

Conforme o que foi exposto, existe uma grande capacidade de o homem


criar símbolos, até inconscientemente, dando uma importância psicológica, em
especial nas artes visuais. A respeito do conceito de símbolo na arte, Busnardo
Filho (2007) considera que não se trata de uma realidade concreta, mas uma
verdade psíquica que transcende a consciência. É tido como o nível
“intermediário entre a percepção da realidade e as representações psíquicas da
própria realidade; portanto, pode-se dizer que a função simbólica é uma função
mediadora e transformadora”.
Há registros de símbolos deixados desde a pré-história que auxiliam a
construir a história da humanidade. Atualmente o simbolismo das artes visuais,
por exemplo, pinturas e esculturas se relacionam com a religião e história, dando
significados e estimulando emoções e sentimentos para quem observa. De
acordo com Furlanetto (2012, p. 49-50):

[...] a arte constrói a realidade de maneira específica, com suas


próprias perspectivas e valores, engendrando conhecimento em uma
perspectiva que se distingue da ciência, da linguagem, da religião, do
mito, da história, uma compreensão profunda e essencial da realidade
conformada pela experiência estética. Na interação com os símbolos,
o indivíduo lança mão de processos não apenas racionais, mas
também emocionais. São as instâncias do pensar, sentir e agir que
conjuntamente, ao se depararem com a multiplicidade simbólica
existente no mundo, interpretam e significam esses elementos.

Uma das principais características do simbolismo nas artes visuais é a


sua ligação com o mundo material com o espiritual, assim como também o
misticismo. Furlanetto (2012, p. 50) afirma que “enquanto arte, ciência,
linguagem, mito e religião, o homem se expressa e sistematiza simbolicamente
seu conhecimento de mundo”. Uma das inspirações para os pintores simbolistas
eram as temáticas com teor moralizante e relacionadas com religião, morte ou

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pecado. O subjetivismo, a musicalidade e o transcendentalismo são algumas das
características presentes nesse movimento.
Como exemplo de artistas plásticos simbolistas, destacamos Paul
Gauguin e Odilon Redon, cujas obras estão retratadas nas Figuras 4 e 5.

Figura 4 − Pintura de Paul Gauguin

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Figura 5 − Pintura de Odilon Redon

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

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Jaffé (1964) acreditava que um dos objetivos do artista, por meio do
simbolismo, seria para “expressão à sua visão interior do homem, ao segundo
plano espiritual da vida e do mundo”. Dessa forma, o simbolismo apresenta uma
maior atitude de expressão espiritual do que o aspecto estético. O simbolismo é
considerado também um dos precursores do surrealismo e do expressionismo.
Portanto, podemos concluir que, em grau de dificuldade, o nível
representacional é mais fácil, já o abstrato é mais difícil. Por outro lado,
comparando os três níveis, observamos que o simbólico depende dos outros
dois, o que significa que a leitura de uma obra de arte classificada como
simbólica não separa a forma (imagem figurativa ou abstrata) do seu conteúdo
(personagens ou produtos divulgados pela mídia), portanto sua compreensão
depende do valor histórico e cultural da imagem como um todo, em função da
época em que foi produzida pelo artista. Para alcançar esses objetivos era
necessário que os artistas tivessem domínio e conhecimento a respeito dos
elementos básicos da linguagem visual.

TEMA 4 – OP ART

O movimento Op Art surgiu nos anos de 1950 e usa formas geométricas


e cores para causar efeitos óticos, recorrendo a cores contrastantes que causam
esses efeitos óticos. O termo Op Art é uma abreviação de Optical Art (ou arte
ótica) e é uma vertente de arte abstrata, ganhando certa popularidade. Sobre
sua origem e características, Manaia (2019) considera que:

A exposição “The Responsive Eye” (1965) realizada no MoMa trouxe a


projeção e o reconhecimento à Op art, por parte do público e da
comunicação social. O termo começou a ser usado, devido a um cargo
na revista Time em Outubro de 1964. Pela mesma altura da exposição
“The Responsive Eye”, a Pop art estava em ascensão e atraía muita
das atenções internacionais (WADE, 1978). A Op art, não se reduz
meramente aos efeitos óticos, envolve igualmente o corpo, que sente
e responde aos estímulos visuais. “The Responsive Eye” aponta para
uma natureza sensível, reação, resposta e percepção do espectador.
A emergência da popularidade da Op art poderia ser vista, como a
convergência das preocupações contemporâneas relativamente ao
futuro da ciência e tecnologia da década de 60. Uma das principais
funções da arte é a de fornecer imagens próprias à sociedade, esta
função começava então a ser desempenhada pela ciência e tecnologia
e também pela Op art, no sendo de que a arte passava a comunicar de
uma forma científica. Alguns artistas da Op art negaram a sua ligação
com a ciência e tecnologia, como Bridget Riley, pois pensavam-na
como um lugar de percepção e de experiência própria. A Op art é vista
como uma arte abstrata (sem assuntos reconhecíveis) onde os efeitos
óticos são a representação de algo e o corpo é o lugar onde se dá a
experiência.

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O movimento Op Art foi baseado nas Teorias das Cores, na fisiologia e da
psicologia das percepções. Trabalha com estímulos visuais e princípios
científicos, compartilhando uma estética dos elementos óticos para causar no
observador ilusões de ótica, além de se diferenciar dos outros estilos modernos,
podendo o observador participar e se envolver mais ativamente com suas obras.
Conforme ressalta Manaia (2019) vários conceitos da Gestalt, por exemplo, são
aplicados ao Op Art.

A psicologia da Gestalt foi desenvolvida de modo a perceber o


funcionamento da nossa percepção, enquanto ato visual. O todo é
maior que a soma das partes é um dos princípios básicos da Gestalt.
O olho humano percebe um objeto como um todo antes de perceber
as suas partes individuais. Segundo os psicólogos da Gestalt, as leis
de organização perceptiva, são as seguintes: proximidade,
semelhança, destino comum, continuidade, clausura ou fechamento,
tamanho relativo, simetria e pregnância (GLEITMAN, FRIDLUND, &
REISBERG, 2003). De uma forma geral, as leis da Gestalt aplicam-se
a toda a percepção visual e foram muito usadas pelos artistas da Op
art.

Sabe-se que a Op Art é marcada pelo fenômeno da persistência retiniana,


do qual imagens tendem a permanecer na retina milésimos de segundo antes de
desaparecer, contribuindo para a realização de ilusões de ótica e a visualização
de objetos 3D, fazendo com que as obras pareçam vibrar, tremer ou piscar. Na
Figura 6, podemos conferir um exemplo desse movimento artístico.

Figura 6 – Exemplo de Op Art

Créditos: cenk art/Shutterstock.

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O Op Art é um estilo interessante, com uma proposta diferente, buscando
uma interação com a visão do observador. Muitos afirmam que sua contribuição
foi maior para a ciência do que para as artes.

TEMA 5 – ILUSÕES DE ÓTICA

A percepção nos permite interpretar e organizar as impressões sensoriais


que se dão por meio de nossos sentidos, damos forma a essas impressões,
atribuindo significado a elas. A ilusão de ótica pode ser de caráter cognitivo (usa
como base nosso conhecimento de mundo para nos confundir) e fisiológico (está
diretamente ligada aos nervos óticos). Sobre esses conceitos, Avancini (2013)
explica:

Existem dois tipos de respostas para tentar explicar esta ilusão, teorias
cognitivas e teorias fisiológicas. As primeiras atribuem a ilusão à má
aplicação dos conhecimentos e estratégias, enquanto as segundas
defendem que as ilusões são consequência de perturbações nos
canais de informação ou nas unidades funcionais que manipulam
sinais no sistema visual. No entanto, nenhuma explica completamente
como a ilusão ocorre. Aquela que explica a ilusão pela via cognitiva
recebeu suporte de estudos no campo da neurologia realizados na
década passada, que demonstraram, por meio da análise de imagens
por ressonância magnética, a ativação do córtex occipital lateral e o
córtex parietal posterior na construção da percepção da ilusão. De
acordo com essas pesquisas, as duas áreas interagem na produção
da ilusão de ótica. A primeira seria ativada por meio do reflexo do
processamento de integração da figura, o que resulta do agrupamento
dos segmentos de reta que a compõem. Essa região do córtex occipital
lateral também pode estar envolvida na formação da representação do
comprimento dos estímulos (as retas). Já o córtex parietal posterior
seria ativado pelo processamento da representação espacial desses
estímulos. A limitação dessa abordagem, porém, é não explicar como
pessoas cegas ou com baixa visão são suscetíveis à ilusão de Müller-
Lyer em testes táteis. A explicação fisiológica, por sua vez, atribui a
percepção de que uma reta é maior do que a outra ao fato de que as
setas atrairiam o olho para além da reta, dando a impressão de que
uma é maior e a outra é menor.

A ilusão de ótica não está ligada apenas aos nossos olhos. Como já foi
apresentado, a informação visual é absorvida quando a luz atinge a retina, sendo
transmitida para o nervo ótico, e depois o cérebro vai interpretar a mensagem. O
cérebro então é responsável por extrair dados brutos sobre os comprimentos de
ondas de luz e desvendar os padrões usando a memória, e para dar sentido às
imagens. Como os olhos transmitem uma enorme quantidade de informações ao
cérebro, e requer muito poder cerebral para processar tudo, este cria "atalhos"
para entender o que está sendo visto, fazendo suposições sobre algo em vez de
realmente "ver" como realmente é. É isso que faz com que sejam criadas as

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ilusões de ótica. As sombras, a perspectiva e a cor dão algumas das pistas que
o cérebro usa para tomar decisões a respeito do que está sendo enxergado.

Tudo o que vemos, cheiramos, ouvimos, sentimos ou pensamos é


resultado da atividade dos neurônios em nosso cérebro. As células
nervosas reúnem as informações obtidas por meio dos sentidos, da
atividade intelectual e da memória, criando uma grande simulação do
mundo ao nosso redor. No entanto, nem sempre essa simulação
corresponde à realidade tal como ela é mensurada e definida pelos
instrumentos da ciência física. Quando isso ocorre – ou seja, quando a
percepção deixa de corresponder à realidade – surge uma ilusão.
(Avancini, 2013)
Um exemplo de ilusão de ótica são as imagens estáticas que dão ideia de
movimento, conforme a apresentada na Figura 7.

Figura 7 – Ilusão de ótica de movimento

Crédito: Andrey Korshenkov/Shutterstock.

Observando a imagem que acabamos de ver, parece que ela está se


movimentando. Essa ilusão de movimento é causada pelo fenômeno de
persistência da retina. Algumas cores conseguem um tempo de estímulo na
retina mais prolongado, e pequenos movimentos oculares naturais fazem uma
pessoa crer que a imagem estática pode se mexer.

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Agora veja o caso da Figura 8, a seguir. A imagem, por conta das cores e
formas utilizadas, causa a ilusão de ótica transmitir duas impressões diferentes:
a de um cálice preto e a de duas faces de perfil (ao se focar a cor branca).

Figura 8 – Ilusão de ótica − contraste

Créditos: luma_art/Shutterstock.

Dessa forma, é possível observar que as ilusões de óticas acontecem por


diferentes perspectivas de um mesmo objeto ou por distintas formas adjacentes
ao nosso campo de visão que podem confundir o nosso cérebro. A luminosidade,
as sombras e as cores também são capazes de causar confusão.

NA PRÁTICA

Baseado na produção de colagens de Pablo Picasso, principalmente


aquelas que exploram como temática as guitarras − “violões”, elabore uma
proposta autoral que traga elementos influenciados pelo movimento cubista.

FINALIZANDO

Nesta aula, focamos o abstracionismo e como este se relaciona com a


percepção visual. Apresentamos brevemente a arte abstrata e suas principais
características. Também abordamos o movimento cubista e surrealista, como

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exemplos de arte do início do século XX. Na sequência, nosso foco se voltou
para o processo de percepção visual aplicado ao abstracionismo, e nesse
contexto tratamos do aspecto simbólico da percepção.
Conhecemos ainda um pouco da produção inserida no Op Art, movimento
artístico que explorou a arte abstrata, e reconhecemos conceitos da percepção
visual na maioria das obras. Por fim, aprendemos sobre as ilusões de ótica e
como ocorrem, levando em conta o processo de percepção visual já apresentado
anteriormente.

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REFERÊNCIAS

AVANCINI, M. M. Ver para crer ou crer para ver? O que as ilusões de ótica dizem
sobre nossa percepção. ComCiência, Campinas, n. 153, 10 nov. 2013.

DONDIS, D. A. A sintaxe da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

FORTUNA, M. Arte abstrata: uma comunicação peculiar. Os audiovisuais a


serviço do abstracionismo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, 29., Brasília, 6-9 set. 2006. Anais... São Paulo: Intercom,
2006.

FURLANETTO, B. H. A arte como forma simbólica. Revista Científica FAP, v.


9, p. 36-50, jan./jun. 2012.

GONÇALVES, C. A. Para uma introdução à Psicologia da Arte − As formas e


os sujeitos. Lisboa: Edições 70, 2018.

JAFFÉ, A. O simbolismo nas artes plásticas. O homem e seus símbolos, v.


2, p. 312-367, 1964.

KANDINSKY, W. Ponto e linha sobre plano: contribuição à análise dos


elementos da pintura. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

MANAIA, J. P. M. A. Op art: origens, enquadramento e os seus fenómenos da


percepção visual. Revista Convergências, 2019.

SCHIEFERDECKER, A.; LIMA, F. C. Ver e olhar: teorias da percepção visual.


Curitiba: Intersaberes, 2021.

SILVA, M. V. A busca do sensível: impressões visuais, improvisações artísticas


e composições históricas. 108 f. Dissertação (Mestrado em História) −
Universidade Federal de Goiás, Catalão, 2019.

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