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DIREITO CONSTITUCIONAL,

TRIBUTÁRIO e FINANCEIRO
Professor Rolando Valcir Spanholo
(@prof.valcir.spanholo.novo)
CASOS PRÁTICOS DA NOSSA REVISÃO MULTIDISCIPLINAR DE HOJE (20/03/21):

358) O Poder Constituinte Decorrente pode ampliar as hipóteses (previstas no art. 35 da CF/88) de
intervenção estadual em municípios?

359) É possível estabelecer a alteração territorial em unidade de conservação por meio de medida provisória?

360) A tese de legítima defesa da honra (em crimes de feminicídio) encontra óbice constitucional (dignidade
da pessoa humana, proteção da vida e igualdade de gênero)?

361) Lei federal de iniciativa parlamentar, motivada pela pandemia, pode impor proibição de reajuste e
aumento de despesas com pessoal de Estados e Municípios ou ela ofende o pacto federativo?

362) Invade a competência privativa da União para legislar sobre processo civil a lei estadual que estipula
competência exclusiva do procurador-geral do Estado para receber citações?

363) Testemunha convocada por CPI pode se recusar a comparecer quando suspeitar que pode passar a ser
também investigada?
CASOS PRÁTICOS DA NOSSA REVISÃO MULTIDISCIPLINAR DE HOJE (20/03/21):

364) Usurpa parte da competência do Poder Executivo para administrar bens públicos a norma estadual que
condiciona a cedência do uso gratuito de bens públicos do Estado à prévia autorização legislativa?

365) Incide imposto de renda sobre os juros de mora recebidos em virtude do atraso no pagamento de parcelas
remuneratórias?

366) A pretensão indenizatória de médico cooperado excluído indevidamente dos quadros da cooperativa prescreve
no prazo de 3 anos (mera reparação civil) ou de 10 anos (natureza contratual)?

367) Nas sociedades anônimas de capital fechado cujo capital social pertença a apenas dois acionistas, é possível
contabilizar o voto do acionista majoritário (controlador) para fins de aprovação das suas próprias contas de diretor?

368) Mesmo diante da Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização dos Documentos Públicos
Estrangeiros (Convenção da Apostila da Haia), a Justiça brasileira pode exigir prova da representação de mandatário
constituído por procuração pública outorgada no exterior?

369) A lei (Pacote Anticrime) que introduziu o acordo de não persecução penal, por ser mais benéfica, tem a força
retroativa sobre todos os processos ainda não transitados em julgado?
PROCESSO: (358) ADI 6717 - PB (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STF, Plenário, Min. Alexandre de Moraes, d. 08/03/2021.
Trata-se de ADI ajuizada pela PGR questionando dispositivos da Constituição da Paraíba que autorizavam a
CONTEXTUALIZAÇÃO intervenção do estado nos municípios quando confirmada prática de atos de corrupção e/ou improbidade no
FÁTICA: município e para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes. No entender do autor, o Poder Constituinte
Decorrente extrapolou os limites da sua competência ao criar hipóteses não previstas no art. 35 da CF/88.
QUESTÃO CENTRAL O Poder Constituinte Decorrente pode ampliar as hipóteses (previstas no art. 35 da CF/88) de intervenção
CONTROVERSA: estadual em municípios?
=> Constituição local não pode ampliar as hipóteses de intervenção estadual em municípios para situações não
previstas no art. 35 da CF/88?

=> no federalismo brasileiro, a intervenção de um ente federado em outro é ato excepcionalíssimo, restrito às
INFORMAÇÕES situações elencadas nos arts. 34 e 35 da CF;
LÍQUIDAS:
SISTEMA CONSTITUCIONAL DE CONTROLE DE CRISES:

=> Intervenção (CF, arts. 34 a 36), Estado de Sítio (CF, arts. 137 a 139) e Estado de Defesa (CF, art. 136);

=> têm por objeto as situações de crises colocam em risco a ordem constitucional;
PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> finalidade a manutenção ou o restabelecimento da normalidade constitucional;

=> Sistema de Freios e Contrapesos (quase sempre será necessária o agir de mais de um Poder);

=> O Presidente DECRETA (CF, art. 89, IX) o Estado de Defesa, o Estado de Sítio (exige autorização prévia do Congresso)
e a Intervenção Federal;

=> O Congresso AUTORIZA o Estado de SÍTIO e APROVA o Estado de DEFESA e a INTERVENÇÃO, bem como SUSPENDE
tais medidas (CF, art. 49, IV); Obs.: SÍTIO é mais grave que DEFESA (macete!);
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: INTERVENÇÃO:

=> FEDERALISMO COOPERATIVO brasileiro:

a) mais de um centro de poder, no âmbito do território (central e periféricos);

b) existência de unidades autônomas com atribuições próprias previstas em norma fundamental de vigência nacional,
sem possibilidade de alteração;

c) cada entidade tem sua própria fonte de renda;


PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> A intervenção é medida excepcional, de natureza política;

=> Afasta temporariamente a autonomia política de um determinado ente federativo (REGRA DE OURO DA
FEDERAÇÃO);

=> Hipóteses taxativas previstas nos art. 34 (União nos Estados e DF) e 35 (Estados nos Municípios) da CF;

=> Visa resguardar a unidade, viabilidade e estabilidade do próprio sistema federativo;

INFORMAÇÕES => Não se trata da supremacia de um ente sobre outro;


LÍQUIDAS:
=> Seria um ato coletivo de todos os Estados, através da União;

=> Competência é exclusiva do respectivo chefe do Executivo (CF, art. 84, X), que pode atuar de ofício ou mediante
provocação;

=> A forma da intervenção não é fixa (variará de acordo com o motivo);

=> A forma básica é o decreto;


PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> O procedimento ligado à fase antecedente ao decreto é que poderá sofrer variações;

=> Vedação à emenda do texto constitucional durante a sua vigência (CF, art. 60, §1º);

=> CARACTERÍSTICAS: a) excepcionalidade; b) temporariedade; c) restrição interpretativa;

=> PRESSUPOSTOS MATERIAIS (finalidades):

a) defesa do Estado, quando visa manter a integridade nacional ou repelir invasão estrangeira;
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: b) defesa do princípio federativo, quando busca repelir a invasão de uma unidade da Federação em outra, ou pôr termo
a grave comprometimento da ordem pública, ou ainda, garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades
da Federação;

c) defesa das finanças estaduais, quando destinada a reorganizar as finanças da unidade da Federação;

d) defesa da ordem constitucional, quando decretada com o fim de prover lei federal, ordem ou decisão judicial ou,
ainda, para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis (forma republicana, sistema representativo e
regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da administração pública direta e indireta;
aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção
e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde).
PROCESSO: ADI 6717 - PB

=> PRESSUPOSTOS FORMAIS:

a) decretação e a execução é competência privativa do Presidente da República;

b) o decreto deve especificar a amplitude, o prazo, as condições de execução e, se for o caso, nomear o interventor;

=> CLASSIFICAÇÃO:

INFORMAÇÕES a) ESPONTÂNEA, quando sua decretação depender apenas da ocorrência dos motivos que a autorizaram;
LÍQUIDAS:
b) SOLICITADA, quando a fim de garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação, sua
decretação depender de solicitação do Poder Legislativo ou Executivo coacto ou impedido; nesses casos, a decretação
da intervenção é considerada ato discricionário;

c) REQUISITADA, quando para sua decretação for necessária a requisição do Poder Judiciário; nesses casos, a
intervenção é ato vinculado.
PROCESSO: ADI 6717 - PB

=> CONTROLE DA INTERVENÇÃO:

a) POLÍTICO

=> Exercido pelo CONGRESSO NACIONAL;

=> É dispensado quando envolver as hipóteses de negativa de execução de lei federal, ordem ou decisão judicial ou
para assegurar a observância dos princípios constitucionais sensíveis;
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: => Quando cabível o controle político, o decreto será submetido ao CONGRESSO em 24 horas;

b) JUDICIAL

=> Exercido pelo STF;

=> Não pode ser utilizado para análise do mérito do ato de intervenção (cuja natureza é política);
PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> A intervenção OCORRERÁ:

a) integridade nacional;

b) invasão estrangeira ou de um Estado em outro;

c) garantir a ordem pública;

d) garantir o livre exercício dos Poderes nos Estados;


INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: e) garantir a execução de lei e das decisões judiciais;

f) reorganizar as finanças de Estados (que deixarem de repassar o ICMS dos Municípios e que deixarem de pagar a dívida
fundada por mais de 2 anos);

g) princípios sensíveis (república, representativo, democrático, humanos, prestação de contas, autonomia, repasses
educação e saúde);

=> A EC 45/04 revogou o inciso IV do art. 36 que definia ser do STJ a competência para examinar representação do PGR por
recusa à lei federal (agora também cabe ao STF);

=> INTERVENÇÃO pode ser PARCIAL (caso do RJ – apenas segurança pública);


PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> A intervenção, para garantir o livre exercício do Poder Legislativo de um estado-membro, depende de solicitação do
Poder coacto ao Presidente da República;

=> A AÇÃO INTERVENTIVA proposta pela PGR ou PGJ estadual só é cabível quando violados os PRINCÍPIOS SENSÍVEIS
(art. 34, VII, CF - forma republicana, sistema representativo, regime democrático, direitos humanos, autonomia
municipal, prestação de contas, percentuais de saúde e educação), mas DEPENDE de provimento do Judiciário (STF ou
TJ/TRF).

=> REPRESENTAÇÃO INTERVENTIVA também é chamada de ADIN INTERVENTIVA (modalidade de controle concentrado);
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: => Também depende de prévia manifestação judicial a hipótese de RECUSA À EXECUÇÃO DE LEI;

=> Nos demais casos, o pedido é encaminhado DIRETAMENTE ao Executivo;

=> A intervenção pela não execução de lei FEDERAL passa pelo PGR/STF antes do Presidente e não está sujeita a
aprovação do Congresso (CF, art. 36, III);

=> A intervenção por conta de coação contra um Poder deverá ser requerida ao Presidente e será, posteriormente,
submetida à apreciação do Congresso;

=> A coação ao Judiciário passará pelo STF;


PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> Na hipótese de descumprimento de decisão judicial, apenas o STF, o STJ e o TSE podem requisitar diretamente ao
Presidente;

=> Já, o TST e o STM precisam solicitar ao STF (que poderá negar) antes do envio ao Presidente;

=> A INTERVENÇÃO no Estado pelo descumprimento de ORDEM ou DECISÃO de TRIBUNAL ESTADUAL ou REGIONAL
depende de requisição do STF ao Presidente (não pode ser direta do próprio TJ/TRF);

=> A intervenção em MUNICÍPIO por desobediência a ordem ou decisão judicial estadual DEPENDE de requisição do
INFORMAÇÕES Presidente do TJ (endereçada ao Governador);
LÍQUIDAS:
=> O decreto de intervenção será submetido ao CONGRESSO em 24 horas, EXCETO: a) PRINCÍPIOS SENSÍVEIS; b)
DESCUMPRIMENTO DE LEI FEDERAL;
c) DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL;

=> Nos demais, a análise do DECRETO será feita em 24 horas (pode extraordinária);

=> Cabe ao PGR no caso de recusa ao cumprimento de lei FEDERAL e nos sensíveis (pede ao STF);

=> O descumprimento de decisão judicial precisa ser voluntário (há ressalva quando evidenciada dificuldade financeira
crônica);
PROCESSO: ADI 6717 - PB

=> Diante da natureza política, o Legislativo analisa o decreto com discricionariedade (podendo determinar a sua
suspensão);

=> O controle do Legislativo é posterior ao decreto (o controle jurisidicional do STF/TJ é precedente);

=> Como regra, as CONVOCAÇÕES EXTRAORDINÁRIAS exigem aprovação por MAIORIA ABSOLUTA (duas Casas), mas ela
é dispensada na hipótese de DECRETAÇÃO de INTERVENÇÃO e Estado de Defesa (também nos pedidos de
AUTORIZAÇÃO de Estado de Sítio e posse/compromisso Presidente e Vice).
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: => Tribunal de Contas não pode requerer diretamente a intervenção (ADI 2.631);

=> Ninguém perde o mandato/cargo em função da intervenção;

=> União apenas intervirá em Municípios localizados em Territórios (CF, art. 35, caput);

=> Distrito Federal não possui Municípios (CF, art. 32, caput);

=> Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de TJ que defere intervenção em Município (Súmula 637 do STF);
PROCESSO: ADI 6717 - PB
=> Nos casos do art. 34, VI (execução de lei FEDERAL, ordem ou decisão judicial) e VII (sensíveis), ou do art. 35, IV
(casos idênticos estaduais), não há a necessidade de submeter ao crivo do Legislativo e o decreto limitar-se-á a
suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade (a análise por
outro poder já foi feita, sendo dispensável a nomeação de interventor);

ALERTA DO VALCIR!
Cuidado! Não confundir:

a) PRINCÍPIOS SENSÍVEIS (art. 34, VII, CF - forma republicana, sistema representativo, regime democrático, direitos
INFORMAÇÕES humanos, autonomia municipal, prestação de contas, percentuais de saúde e educação); com
LÍQUIDAS:
b) CLÁUSULAS PÉTREAS (forma federativa, voto, direitos e garantias e separação dos Poderes).

1) Poderia a União ter intervido no município do Rio de Janeiro para garantir a realização dos Jogos Olímpicos?

2) Em que hipóteses o Distrito Federal poderá intervir em Municípios?

3) O TST pode requerer, diretamente ao Presidente, a INTERVENÇÃO pelo não cumprimento de DECISÃO TRABALHISTA ?

4) Qual o recurso cabível contra decisão de TJ que determina intervenção em Município?


PROCESSO: ADI 6717 - PB
Art. 34 (CF). A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
INFORMAÇÕES a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior;
LÍQUIDAS: b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde.

Art. 35 (CF). O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando:
I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada;
II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;
III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços
públicos de saúde;
IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual,
ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial.
PROCESSO: ADI 6717 - PB
Art. 36 (CF). A decretação da intervenção dependerá:

I - no caso do art. 34, IV (Poderes), de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou de requisição
do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário;

II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral;

III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na hipótese do art. 34, VII
(sensíveis), e no caso de recusa à execução de lei federal.
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: § 1º O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o
interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembléia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e
quatro horas.

§ 2º Se não estiver funcionando o Congresso Nacional ou a Assembléia Legislativa, far-se-á convocação extraordinária, no mesmo
prazo de vinte e quatro horas.

§ 3º Nos casos do art. 34, VI (execução de lei FEDERAL, ordem ou decisão judicial) e VII (sensíveis), ou do art. 35, IV (idênticos em
nível estadual), dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembléia Legislativa, o decreto limitar-se-á a
suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade.

§ 4º Cessados os motivos da intervenção, as autoridades afastadas de seus cargos a estes voltarão, salvo impedimento legal.
PROCESSO: (359) ADI 6553 – DF (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STF, Monocrática, Min. Alexandre de Moraes, d. 15/03/2021.
Por meio de ADI, o PSOL questionava a Lei 13.452/2017, originada do projeto de conversão da MP 758/2016, que
alterou os limites e excluiu cerca de 862 hectares do Parque Nacional do Jamanxim, localizado nos Municípios de
CONTEXTUALIZAÇÃO Itaituba e Trairão, estado do Pará. No entender do autor, a alteração de seus limites, com a destinação da área
FÁTICA: suprimida aos leitos e às faixas de domínio da Estrada de Ferro Ferrogão (EF-170) e da BR-163 por meio de MP
violaria, assim, as normas constitucionais que protegem o patrimônio cultural (art. 216) e, por afetarem direta e
indiretamente os povos indígenas da região, contrariaria a regra do art. 231. Por isso, defendia que para alteração
e supressão de áreas das unidades de conservação é necessária a promulgação de lei em sentido formal, não
sendo viável a Medida Provisória.
QUESTÃO CENTRAL É possível estabelecer a alteração territorial em unidade de conservação por meio de medida
CONTROVERSA: provisória?
=> Não é possível estabelecer a alteração territorial em unidade de conservação por meio de medida provisória,
sendo exigida lei em sentido formal (decisão monocrática);

INFORMAÇÕES => Na ADI 4714, o STF teria afastado o uso de MPs para modificar espaços territoriais de interesse
LÍQUIDAS: ambiental especialmente protegidos, diante do risco de irreversibilidade dos danos, na hipótese de não
conversão da MP pelo Congresso; Obs.: no caso, foi convertida e mesmo assim foi suspensa a eficácia.

=> MPs não são leis, mas tem força de lei;


PROCESSO: ADI 6553 – DF
Art. 62 (CF/88) . Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, COM FORÇA DE
LEI, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:


I - relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167,
§ 3º;
INFORMAÇÕES II - que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
LÍQUIDAS: III - reservada a lei complementar;
IV - já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do Presidente da
República.

§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só
produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.

§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em
lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o Congresso Nacional
disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes.

§ 4º O prazo a que se refere o § 3º contar-se-á da publicação da medida provisória, suspendendo-se durante os períodos de
recesso do Congresso Nacional.
PROCESSO: ADI 6553 – DF
(...)
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua
eficácia por decurso de prazo.

§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida
provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela
regidas.

§ 12. Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta manter-se-á integralmente em
vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto.
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: Art. 225 (CF). Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:


(...)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção; (Regulamento)

Art. 231 (CF). São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
PROCESSO: ADI 6553 – DF
=> Lei 9.925/00 (Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza):

Art. 22. As unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público.
§ 1o (VETADO)
§ 2o A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar
a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade, conforme se dispuser em regulamento.
(...)
§ 6o A ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo
proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os
INFORMAÇÕES procedimentos de consulta estabelecidos no § 2o deste artigo.
LÍQUIDAS:
§ 7o A desafetação ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica.

Art. 7o As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em dois grupos, com características específicas:
I - Unidades de Proteção Integral;

II - Unidades de Uso Sustentável.

§ 1o O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus
recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei.

§ 2o O objetivo básico das Unidades de Uso Sustentável é compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela
dos seus recursos naturais.
PROCESSO: ADI 6553 – DF

Art. 8o O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias de unidade
de conservação:
I - Estação Ecológica;
II - Reserva Biológica;
III - Parque Nacional;
IV - Monumento Natural;
V - Refúgio de Vida Silvestre.
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS:
Art. 14. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias de unidade de
conservação:
I - Área de Proteção Ambiental;
II - Área de Relevante Interesse Ecológico;
III - Floresta Nacional;
IV - Reserva Extrativista;
V - Reserva de Fauna;
VI – Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e
VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural.
PROCESSO: ADI 6553 – DF
Art. 11. O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de
grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o
desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com
a natureza e de turismo ecológico.

§ 1o O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em
seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei.
INFORMAÇÕES
§ 2o A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da
LÍQUIDAS:
unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas
em regulamento.

§ 3o A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da


unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas
em regulamento.

§ 4o As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas,
respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal.
PROCESSO: ADI 6553 – DF

Art. 55. As unidades de conservação e áreas protegidas criadas com base nas legislações anteriores e que não
pertençam às categorias previstas nesta Lei serão reavaliadas, no todo ou em parte, no prazo de até dois anos, com o
objetivo de definir sua destinação com base na categoria e função para as quais foram criadas, conforme o disposto no
regulamento desta Lei.

Obs.: caso da RENCA (criada no início da década de 80)

Art. 57. Os órgãos federais responsáveis pela execução das políticas ambiental e indigenista deverão instituir grupos de
trabalho para, no prazo de cento e oitenta dias a partir da vigência desta Lei, propor as diretrizes a serem adotadas com
INFORMAÇÕES vistas à regularização das eventuais superposições entre áreas indígenas e unidades de conservação.
LÍQUIDAS:
Art. 231 (CF/88) - São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.

§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para
suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
PROCESSO: ADI 6553 – DF

§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas
minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei.

§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional, em
caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após
INFORMAÇÕES deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
LÍQUIDAS:
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a
posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando
a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias
derivadas da ocupação de boa fé.
(...)

=> indigenato.
PROCESSO: (360) ADPF 779 - DF (acórdão ainda não divulgado) (23º SPOILER, julgado 331)

DADOS: STF, Plenário, Min. Dias Toffoli, d. 15/03/2021.

ADPF proposta por partido político, na qual sustenta a existência de violação a preceito fundamental na controvérsia
CONTEXTUALIZAÇÃO jurisprudencial instalada a partir da aplicação da tese da legítima defesa da honra em crimes contra a vida. Segundo o autor,
FÁTICA: os Tribunais de Justiça e o STJ ora validam, ora anulam vereditos do Tribunal do Júri em que se absolvem réus processados
pela prática de feminicídio com fundamento nessa tese. Dentre outras, pede liminar não apenas para reconhecer a
inconstitucionalidade dessa aplicação, como, também, para proibir que a própria defesa sustente, direta ou indiretamente, a
tese da legítima defesa da honra.
1) Divergência jurisprudencial entre Tribunais pode ser atacada por meio de ADPF, diante da sua natureza subsidiária?

2) A tese de legítima defesa da honra (em crimes de feminicídio) encontra óbice constitucional (dignidade da pessoa
QUESTÕES CENTRAIS humana, proteção da vida e igualdade de gênero)?
CONTROVERSAS:
3) Em caso positivo, então, haveria a superação da (igualmente constitucional) garantia da soberania dos veredictos
(legalidade mitigada etc.)?

4) Diante da garantia constitucional da ampla defesa, do contraditório, do direito de petição, do livre exercício da
advocacia etc., é constitucional PROIBIR que a defesa técnica invoque (direta ou indiretamente) a tese da legítima defesa
da honra em plenário?

5) Na hipótese de o magistrado cumprir a liminar deferida pelo Min. Toffoli e impedir a defesa técnica de sustentar em
plenário a referida tese, é possível invocar a nulidade da sessão com base no cerceamento do direito de defesa?
PROCESSO: ADPF 779 - DF
=> a legítima defesa da honra é inconstitucional, por contrariar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa
humana, da proteção à vida e da igualdade de gênero, devendo ser dado interpretação conforme a dispositivos do CP
e do CPP, de modo a excluir a legítima defesa da honra do âmbito do instituto da legítima defesa;

=> Acolhendo sugestão do ministro Gilmar Mendes, o voto de Toffoli determina que a defesa, a acusação, a autoridade
policial e o juízo não podem utilizar, direta ou indiretamente, o argumento da legítima defesa da honra (ou qualquer
argumento que induza à tese) nas fases pré-processual ou processual penais nem durante julgamento perante o
Tribunal do Júri, sob pena de nulidade do ato e do julgamento (na decisão liminar de fevereiro, o impedimento se
restringia a advogados de réus);

INFORMAÇÕES => A decisão restringiu o impedimento da utilização perante o Tribunal do Júri, facultando-se ao titular da acusação
LÍQUIDAS: recorrer;

=> A matéria sobre os limites da liberdade conferida aos jurados pelo artigo 483, parágrafo 2º, do CPP será objeto de
discussão pela Corte no julgamento do RE 1225185 (com repercussão geral)

=> artigo 28 do Código Penal define que a emoção ou a paixão não excluem a imputabilidade penal:

Art. 28 (CP) - Não excluem a imputabilidade penal:


I - a emoção ou a paixão;
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
PROCESSO: (361) ADI 6442-DF; ADI 6447-DF; ADI 6450-DF; ADI 6525-DF; (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STF, Plenário, Min. Alexandre de Moraes, d. 15/03/2021.
Por meio de ADIs, partidos questionavam pontos da LC 173/20 na parte em que prevê a suspensão do
pagamento das dívidas dos estados, do Distrito Federal e dos municípios com a União, o repasse de auxílio
financeiro federal, a autorização para renegociar dívidas contraídas com instituições financeiras, a proibição de
concessão de aumentos para servidores públicos até 31/12/21, o congelamento da contagem do tempo de
CONTEXTUALIZAÇÃO serviço para fins de adicionais, a vedação à criação de cargo, emprego ou função que implique aumento de
FÁTICA: despesa, a proibição do aumento de gastos com pessoal no final do mandato de gestores e a limitação a
realização de concursos públicos. Entre os argumentos, as legendas sustentavam que a norma, ao tratar do
regime jurídico de servidores públicos, não poderia ser de iniciativa parlamentar, mas do presidente da
República, e ofenderia o pacto federativo, a separação de poderes, a autonomia dos entes federados e as
garantias constitucionais da irredutibilidade de remuneração e do direito adquirido.
QUESTÃO CENTRAL Lei federal, de iniciativa parlamentar e motivada pela pandemia, pode impor proibição de reajuste e aumento de
CONTROVERSA: despesas com pessoal de Estados e Municípios ou ela ofende o pacto federativo?
=> STF considerou que a LC 173/20 versa sobre a organização financeira dos entes federativos e seus órgãos
INFORMAÇÕES (impondo medidas de prudência fiscal para o enfrentamento da pandemia aos cofres públicos) e não sobre o
LÍQUIDAS: regime jurídico dos servidores públicos, razão pela qual não estaria vinculada a iniciativa privativa do Chefe do
Poder Executivo e se amoldaria dentro do exercício da competência comum e concorrente (artigos 23, parágrafo
único, e 24, inciso I, da CF);
PROCESSO: ADI 6442-DF; ADI 6447-DF; ADI 6450-DF; ADI 6525-DF;
=> A realidade imposta pela pandemia e o “federalismo fiscal responsável” lastreiam à prudência fiscal imposta a
todos os entes da federação por meio da norma impugnada, não restando violado o “pacto federativo”;

=> não há violação da cláusula que impede a redução da remuneração dos servidores públicos nem ofensa ao direito
adquirido, pois a lei apenas proibiu, temporariamente, o aumento de despesas com pessoal, buscando a manutenção
do equilíbrio fiscal.

INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: Art. 23 (CF). É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.

Art. 24 (CF). Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
PROCESSO: (362) ADI 5773 - MG (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STF, Plenário, Min. Cármen Lúcia, d. 08/03/2021.
ADI ajuizada pela PGR questionava a inconstitucionalidade de Lei Estadual de Minas Gerais que confere
ao chefe da Procuradoria-Geral (o advogado-geral do estado) competência exclusiva para receber
citação inicial ou comunicação referente a ações ajuizadas contra o estado. De acordo com a PGR, as
CONTEXTUALIZAÇÃO regras do CPC estabelecem que a citação dos estados-membros deve ser realizada por meio de
FÁTICA: qualquer procurador do estado com atribuição para atuar na demanda. Para o autor da ação, não é
admissível que o Legislativo estadual delibere sobre temas relativos à validade de citação inicial para
processo contra a Fazenda Pública.
QUESTÃO CENTRAL Invade a competência privativa da União para legislar sobre processo civil a lei estadual que estipula
CONTROVERSA: competência exclusiva do procurador-geral do Estado para receber citações?
=> Por envolver regra de “procedimento administrativo”, estabelecida dentro da autonomia federativa
de auto-organização (e não processo civil), não invade a competência privativa da União a lei estadual
que estipula competência exclusiva do procurador-geral do Estado para receber citações;
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: Art. 242 (CPC) - A citação será pessoal, podendo, no entanto, ser feita na pessoa do representante legal ou do procurador do
réu, do executado ou do interessado.
(...)
§ 3º A citação da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de suas respectivas autarquias e fundações de
direito público será realizada perante o órgão de Advocacia Pública responsável por sua representação judicial.
PROCESSO: (363) RHC 133.829 – ES
DADOS: STJ, Quinta Turma, Min. Ribeiro Dantas, d. 04/03/2021.
TJES que confirmou a obrigatoriedade de um homem depor como testemunha em CPI instalada pela Assembleia
CONTEXTUALIZAÇÃO Legislativa. No HC, a defesa alegou que a CPI tem o propósito de investigar fatos totalmente diferentes daqueles
FÁTICA: que motivaram a sua instalação, o que caracterizaria desvio de finalidade. Além disso, argumentou que a
verdadeira intenção da CPI seria convocar o depoente como investigado, e não como testemunha – o que
justificaria a invocação do seu direito de não comparecer para depor.
QUESTÃO CENTRAL Testemunha convocada por CPI pode se recusar a comparecer quando suspeitar que pode passar a ser também
CONTROVERSA: investigada?
=> de acordo com precedentes do STJ e do STF, as pessoas convocadas como testemunhas por Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) têm o dever de comparecer e, com isso, prestar esclarecimentos e contribuir com
as investigações, pois tal recusa beneficia apenas aos formalmente investigados;
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: => as CPIs possuem poderes de investigação próprios das autoridades judiciais (CF/88, art. 58, §3º), dentre os
quais inquirir testemunhas mediante ordem;

=> Direito de não comparecer X direito ao silêncio X direito de não se autoincriminar;


PROCESSO: RHC 133.829 – ES

Art. 58 (CF). O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e
com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação.

(...)
INFORMAÇÕES § 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais,
LÍQUIDAS: além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a
apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério
Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.

Art. 206 (CPP). A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o
ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho
adotivo do acusado, salvo quando não for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas
circunstâncias.
PROCESSO: RHC 133.829 – ES
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS CORPUS. DEPOIMENTO EM COMISSÃO PARLAMENTAR DE
INQUÉRITO. DISPENSA DE COMPARECIMENTO. QUALIDADE DE TESTEMUNHA. DIREITO AO SILÊNCIO. DEVER DE
DEPOR. AGRAVO DESPROVIDO. 1. As Comissões Parlamentares de Inquérito possuem poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais, conforme previsão constitucional (art. 58, §3º, da CF). 2. Na instrução criminal,
dentre as provas passíveis de produção está a inquirição de pessoas que, de algum modo, possam contribuir para
a elucidação dos fatos. A essas pessoas dá-se o nome de testemunhas, as quais, nos termos do art. 206 do CPP,
EMENTA
não podem eximir-se da obrigação de depor. Ou seja, trata-se de um múnus público. 3. No caso concreto, mesmo
sem ostentar a qualidade de acusado, o Tribunal de Justiça estadual reconheceu ao ora agravante expressamente
o direito ao silêncio, desdobramento do princípio nemo tenetur se detegere. 4. Conforme precedentes deste
Superior Tribunal de Justiça, bem como da Suprema Corte, o direito de não comparecer para prestar
esclarecimentos relacionados a ilícitos restringe-se aos acusados, não podendo ser estendido às testemunhas. 5.
Agravo desprovido.
PROCESSO: (364) ADI 3594 - SC (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STF, Plenário, Min. Cármen Lúcia, d. 15/03/2021.
Por meio de ADI, o governador de Santa Catarina atacava dispositivo da Constituição estadual que
obriga a obtenção de prévia anuência legislativa a cessão gratuita do uso de imóvel pertencente
ao Estado. Dentre outras, sustentava que a regra usurpa parte da competência do Poder
CONTEXTUALIZAÇÃO
FÁTICA: Executivo e diminui seu campo de ação para administrar bens públicos com planejamento, além
de criar obstáculo para diversas políticas públicas que dependam da gestão estratégica e dos usos
céleres dos bens públicos. Também sustentava que seria da União a competência para definir
regras gerais sobre o uso de bens públicos.
QUESTÃO CENTRAL Usurpa parte da competência do Poder Executivo para administrar bens públicos a norma
CONTROVERSA: estadual que condiciona a cedência do uso gratuito de bens públicos do Estado à prévia
autorização legislativa?
=> Não usurpa parte da competência do Poder Executivo para administrar bens públicos a norma
INFORMAÇÕES estadual que condiciona a cedência do uso gratuito de bens públicos do Estado à prévia
LÍQUIDAS:
autorização legislativa; (prestígio ao controle)
PROCESSO: (365) RE 855091 – RS, Repercussão Geral, TEMA 808 (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STF, Plenário, Min. Dias Toffoli, d. 04/03/2021.
No caso dos autos, um médico contratado como celetista por um hospital em Porto Alegre/RS firmou acordo na Justiça do
Trabalho para o recebimento de parcelas salariais que haviam deixado de ser pagas. Entretanto, no pagamento, observou a
incidência de IRPF sobre a totalidade das verbas e ingressou com nova ação, desta vez para questionar a cobrança do imposto
CONTEXTUALIZAÇÃO sobre parcela que considera ser de natureza indenizatória. O RE foi interposto pela União contra decisão do TRF4 no sentido
da não recepção, pela CF/88, do parágrafo único do art. 16 da Lei 4.506/64, que classifica como rendimento de trabalho
FÁTICA:
assalariado os juros de mora e quaisquer outras indenizações pelo atraso no pagamento das remunerações, e declarou a
inconstitucionalidade parcial do § 1º do art. 3º da Lei 7.713/88 e do art. 43, II, § 1º, do CTN. Para o TRF-4, os valores não são
passíveis de incidência do IR por constituírem indenização pelo prejuízo resultante de atraso no pagamento de parcelas. No
STF, a União sustentava que a natureza indenizatória de uma parcela, por si só, não significa que o seu recebimento não
represente acréscimo financeiro e pedia o reconhecimento da compatibilidade dos dispositivos declarados inconstitucionais
com o art. 153, III, da CF, segundo o qual compete à União instituir imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza
(IR). Ressaltou, também, que o entendimento do TRF4 diverge do adotado pelo STJ em julgamento de recurso repetitivo.
QUESTÃO CENTRAL Incide imposto de renda sobre os juros de mora recebidos em virtude do atraso no pagamento de parcelas
CONTROVERSA: remuneratórias?
TEMA 808: “Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de
INFORMAÇÕES remuneração por exercício de emprego, cargo ou função".
LÍQUIDAS:
=> O atraso na remuneração gera danos emergentes ao credor, que pode inclusive buscar meios heterodoxos para
suportar a demora no pagamento de sua verba, como atrasar a satisfação das próprias despesas.
PROCESSO: RE 855091 - RS (Repercussão Geral Tema: 808)
Art. 43 (CTN). O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição
da disponibilidade econômica ou jurídica:
(...)
II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.
o
§ 1 A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade
da fonte, da origem e da forma de percepção.

Art. 3º (Lei 7.713/88) .O imposto incidirá sobre o rendimento bruto, sem qualquer dedução, ressalvado o disposto nos arts. 9º a 14
desta Lei.
INFORMAÇÕES
§ 1º Constituem rendimento bruto todo o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos, os alimentos e pensões
LÍQUIDAS: percebidos em dinheiro, e ainda os proventos de qualquer natureza, assim também entendidos os acréscimos patrimoniais não
correspondentes aos rendimentos declarados.

Art. 16 (Lei 4.506/64). Serão classificados como rendimentos do trabalho assalariado tôdas as espécies de remuneração por trabalho ou
serviços prestados no exercício dos empregos, cargos ou funções referidos no artigo 5º do Decreto-lei número 5.844, de 27 de setembro
de 1943, e no art. 16 da Lei número 4.357, de 16 de julho de 1964, tais como:
(...)

Parágrafo único. Serão também classificados como rendimentos de trabalho assalariado os juros de mora e quaisquer outras
indenizações pelo atraso no pagamento das remunerações previstas neste artigo.

Art. 153 (CF). Compete à União instituir impostos sobre:


III - renda e proventos de qualquer natureza;
PROCESSO: (366) REsp 1.494.482 – SP
DADOS: STJ, Terceira Turma, Min. Nancy Andrighi, d. 17/03/2021.
Médico cooperado da Unimed Santos Cooperativa de Trabalho Médico conseguiu reverter exclusão dos quadros
da cooperativa e, na sequência, ingressou com ação postulando indenização civil. Em 1ª instância, a ação foi
procedente para condenar a ré ao pagamento de R$ 681.531,90 por danos materiais e R$ 100 mil a título de
reparação pelos danos morais. Todavia, o TJSP declarou prescrita a pretensão indenizatória, sob o argumento de,
CONTEXTUALIZAÇÃO como a exclusão do profissional ocorreu em 26/06/00 e o pedido indenizatório foi proposto em 11/08/08, teria
FÁTICA: transcorrido o prazo de três anos previsto no art. 206, § 3º, V, do CCC/02. No recurso especial, o médico alegou a
existência de causa de impeditiva do prazo prescricional de sua pretensão indenizatória (a ação anterior na qual
discutiu a ilegalidade da exclusão), bem como que, diante da natureza contratual da relação, o prazo prescricional
seria decenal.
QUESTÃO CENTRAL A pretensão indenizatória de médico cooperado excluído indevidamente dos quadros da cooperativa prescreve
CONTROVERSA: no prazo de 3 anos (mera reparação civil) ou de 10 anos (natureza contratual)?
=> A pretensão indenizatória de médico cooperado excluído indevidamente dos quadros da cooperativa tem
natureza contratual e, por isso, prescreve no prazo de 10 anos (CC, art. 205) e não em 3 anos (mera reparação
civil – art. 206, §3º, V); Obs.: actio nata X causa impeditiva
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS: Art. 205 (CC/02). A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.

Art. 206 (CC/02). Prescreve:


(...)
§ 3º Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;
PROCESSO: REsp 1.494.482 - SP
CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. EXCLUSÃO ILEGAL DOS
QUADROS DE COOPERATIVA. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. TEORIA DA ACTIO NATA. EXISTÊNCIA DE CONDIÇÃO
IMPEDITIVA AO EXERCÍCIO DA PRETENSÃO INDENIZATÓRIA. 1. O propósito recursal consiste em determinar se
está prescrita a pretensão indenizatória fundada em exclusão ilegal dos quadros de cooperativa. 2. O critério para
a fixação do termo inicial do prazo prescricional como o momento da violação do direito subjetivo foi aprimorado
em sede jurisprudencial, com a adoção da teoria da actio nata, segundo a qual o prazo deve ter início a partir do
EMENTA
conhecimento, por parte da vítima, da violação ou da lesão ao direito subjetivo. 3. Não basta o efetivo
conhecimento da lesão a direito ou a interesse, pois é igualmente necessária a ausência de qualquer condição
que impeça o pleno exercício da pretensão. Precedentes desta Corte. Sendo assim, a pendência do julgamento
de ação declaração em que se discute a ilegalidade da conduta constitui empecilho ao início da fluência da
prescrição da pretensão indenizatória amparada nesse ato. 4. Ao aguardar o julgamento da ação declaratória
para propor a ação de indenização, a vítima exteriorizou sua confiança no Poder Judiciário, a qual foi elevada à
categoria de princípio no CPC/2015, em função de sua relevância. 5. Tratando-se de responsabilidade contratual,
este Tribunal consolidou o entendimento de que incide o prazo prescricional decenal previsto no art. 205 do
CC/02 e não o prazo trienal no art. 206, § 3º, V, do CC/02 (EREsp 1280825/RJ e EREsp 1281594/SP). 6. Recurso
especial conhecido e provido, por maioria.
PROCESSO: (367) REsp 1.692.803 – SP
DADOS: STJ, Terceira Turma, Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, d. 18/03/2021.
No recurso, a empresa alegou que não cabe a vedação do art. 115, §1º, da Lei 6.404/76 (Lei das
CONTEXTUALIZAÇÃO Sociedades Anônimas) quando os diretores são os únicos acionistas de sociedade anônima fechada.
FÁTICA: No caso, ressaltou, o sócio minoritário votou no sentido de não aprovar as contas, o que teria como
único objetivo causar danos à sociedade. Ainda segundo a empresa, se o voto do controlador e
acionista majoritário não puder ser computado, a situação da sociedade ficará comprometida, pois
estará submetida à vontade do único acionista votante.
QUESTÃO CENTRAL Nas sociedades anônimas de capital fechado cujo capital social pertença a apenas dois acionistas, é
CONTROVERSA: possível contabilizar o voto do acionista majoritário (controlador) para fins de aprovação das suas
próprias contas de diretor?
=> Por força do art. 115, §1º, da Lei das Sas (Lei 6.404/76), nas sociedades anônimas de capital
fechado cujo capital social pertença a apenas dois acionistas, não é possível contabilizar o voto do
acionista majoritário (controlador) para fins de aprovação das suas próprias contas de diretor;
INFORMAÇÕES
LÍQUIDAS:
=> embora a empresa contasse com apenas dois sócios (um deles com dois terços do capital social, na
função de administrador; e outro, que foi diretor financeiro durante parte do exercício das contas
apuradas, com um terço), a situação não possibilitava a aplicação da exceção prevista no art. 134, §
6º, da LSA;
PROCESSO: ADPF 781 – SP
Art. 115 (Lei 6.404/76). O acionista deve exercer o direito a voto no interesse da companhia; considerar-se-á abusivo o
voto exercido com o fim de causar dano à companhia ou a outros acionistas, ou de obter, para si ou para outrem,
vantagem a que não faz jus e de que resulte, ou possa resultar, prejuízo para a companhia ou para outros
acionistas.

§ 1º o acionista não poderá votar nas deliberações da assembléia-geral relativas ao laudo de avaliação de bens com
que concorrer para a formação do capital social e à aprovação de suas contas como administrador, nem em quaisquer
outras que puderem beneficiá-lo de modo particular, ou em que tiver interesse conflitante com o da companhia.

INFORMAÇÕES Art. 134 (Lei 6.404/76). Instalada a assembléia-geral, proceder-se-á, se requerida por qualquer acionista, à leitura dos
LÍQUIDAS: documentos referidos no artigo 133 e do parecer do conselho fiscal, se houver, os quais serão submetidos pela mesa à
discussão e votação.

§ 1° Os administradores da companhia, ou ao menos um deles, e o auditor independente, se houver, deverão estar


presentes à assembléia para atender a pedidos de esclarecimentos de acionistas, mas os administradores não poderão
votar, como acionistas ou procuradores, os documentos referidos neste artigo.
(...)
§ 6º As disposições do § 1º, segunda parte, não se aplicam quando, nas sociedades fechadas, os diretores forem os
únicos acionistas.
PROCESSO: REsp 1.814.944 – RN; REsp 1.814.945 – CE; REsp 1.816.353 – RO (Recurso Repetitivo Tema 1.036)
RECURSO ESPECIAL. DIREITO SOCIETÁRIO. SOCIEDADE ANÔNIMA FECHADA. DELIBERAÇÕES ASSEMBLEARES. ANULAÇÃO. ASSEMBLEIA
GERAL ORDINÁRIA. APROVAÇÃO DAS CONTAS. SÓCIO ADMINISTRADOR. IMPOSSIBILIDADE. MATÉRIA. ORDEM DO DIA. AUSÊNCIA.
VOTAÇÃO. SÚMULA 283/STF. DIVIDENDOS OBRIGATÓRIOS. NÃO DISTRIBUIÇÃO. SOCIEDADE. SITUAÇÃO FINANCEIRA. INCOMPATIBILIDADE.
ÔNUS DA PROVA. ACIONISTA PREJUDICADO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil
de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a definir se (i) incide na hipótese a exceção do artigo 134, § 6º,
da Lei nº 6.404/1976, de modo que o sócio administrador está autorizado a deliberar a respeito das contas da companhia, (ii) a matéria
relativa à remuneração do diretor da companhia deveria ter constado da ordem do dia, (iii) era indispensável a disponibilização do parecer do
Conselho Fiscal 30 (trinta) dias antes da realização da assembleia, e (iv) a retenção dos lucros somente é possível na hipótese em que a
companhia comprove a sua dificuldade financeira. 3. A aprovação das próprias contas é caso típico de conflito formal (ou impedimento de
EMENTA voto), sendo vedado ao acionista administrador proferir voto acerca da regularidade de suas contas. 4. Na hipótese, o fato de o único outro
sócio da sociedade anônima fechada ter ocupado cargo de administração em parte do exercício não altera a conclusão que o sócio
administrador não pode aprovar as próprias contas. 5. A ausência de impugnação de fundamento suficiente para manutenção do acórdão
recorrido enseja o não conhecimento do recurso no ponto, incidindo o disposto na Súmula nº 283/STF. 6. O sócio tem o direito subjetivo
haver para si parcela do lucro correspondente a sua participação societária (art. 109, I, da LSA). 7. A Lei das Sociedades Anônimas prevê
apenas duas situações em que é permitido o não pagamento do dividendo obrigatório ou seu pagamento em percentual menor do que o
previsto: quando houver deliberação da assembleia geral sem a oposição de qualquer acionista presente ou quando os órgãos de
administração informarem à assembleia geral que o dividendo obrigatório é incompatível com a situação econômica da companhia. 8. Cabe
ao acionista que se considerar prejudicado demonstrar que a decisão dos órgãos de administração de não distribuir os dividendos
obrigatórios está eivada de erro, é falsa ou fraudulenta. 9. A demonstração do dissídio jurisprudencial pressupõe a ocorrência de similitude
fática entre o acórdão atacado e os indicados como paradigmas. 10. Recurso especial de DIANA PAOLUCCI S.A. INDÚSTRIA E COMÉRCIO
conhecido e não provido. Recurso especial de STANISLAU RONALDO PAOLUCCI parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido.
PROCESSO: (368) REsp 1.845.712 – PR
DADOS: STJ, Terceira Turma, Min. Marco Aurélio Belizze, d. 18/03/2021.
Trata-se de recurso em que duas empresas estrangeiras pediam o reconhecimento da regularidade de sua
representação em ação cautelar, após o TJPR constatar defeito nas representações e determinar prazo para a
CONTEXTUALIZAÇÃO regularização. Como o prazo transcorreu em branco, a ação foi extinta sem resolução do mérito. As
FÁTICA: empresas argumentaram ao STJ que a representação foi formalizada por instrumento público de procuração
firmado em território americano, e em atendimento às disposições da Convenção de Haia (Convenção sobre
a Eliminação da Exigência de Legalização dos Documentos Públicos Estrangeiros - Convenção da Apostila da
Haia).
QUESTÃO CENTRAL Mesmo diante da Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização dos Documentos Públicos
CONTROVERSA: Estrangeiros (Convenção da Apostila da Haia), a Justiça brasileira pode exigir prova da representação de
mandatário constituído por procuração pública outorgada no exterior?
=> Mesmo diante da Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização dos Documentos Públicos
Estrangeiros (Convenção da Apostila da Haia), a Justiça brasileira pode exigir prova da representação de
INFORMAÇÕES mandatário constituído por procuração pública outorgada no exterior, quando surgir dúvida plausível
LÍQUIDAS: acerca da regularidade do documento apresentado;

=> em regra, a representação processual é exercida por gerente, representante ou administrador de sua
filial, agência ou sucursal instalada no Brasil (art. 12, VIII, do CPC/73, correspondente ao atual art. 75, X, do
CPC/2015);
PROCESSO: REsp 1.845.712 – PR

=> a Convenção da Apostila de Haia (internalizada pelo Decreto 8.660/16) dispensa que os
documentos estrangeiros sejam legalizados por agentes diplomáticos ou consulares brasileiros (art.
2º), bastando o Estado nacional com o atestado emitido pela autoridade competente no Estado de
origem (artigo 3º) acerca da veracidade da assinatura aposta em documento estrangeiro e da
qualidade em que o signatário atuou;

Art. 12 (CPC/73) . Serão representados em juízo, ativa e passivamente:


(...)
INFORMAÇÕES VI - as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores;
LÍQUIDAS: (...)
VIII - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal
aberta ou instalada no Brasil (art. 88, parágrafo único);

Art. 75 (CPC/15) . Serão representados em juízo, ativa e passivamente:


(...)
X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta
ou instalada no Brasil;
PROCESSO: REsp 1.845.712 – PR
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA. 1. ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ART.
9º E 11 DA LINDB. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. S ÚMULA N. 211/STJ. 2. REGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. PESSOAS
JURÍDICAS ESTRANGEIRAS. MANDATÁRIO CONSTITUÍDO POR PROCURAÇÃO PÚBLICA CONFECCIONADA NO EXTERIOR.
DESBUROCRATIZAÇÃO. RECONHECIMENTO DE MESMO VALOR ATRIBUÍDO ÀS PROCURAÇÕES NACIONAIS. 3. NECESSIDADE DE DOCUMENTOS
QUE COMPROVEM A EXISTÊNCIA DE PODERES DE REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO NO MOMENTO DE OUTORGA DA
PROCURAÇÃO PÚBLICA. EXIGIBILIDADE. 4. OPORTUNIDADE PARA SANAR O VÍCIO CONFERIDA. PRAZO TRANSCORRIDO IN ALBIS. 5. RECURSO
ESPECIAL DESPROVIDO. 1. (...).. 2. Em regra, a representação processual de pessoa jurídica estrangeira é exercida por gerente, representante
ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 12, VIII, do CPC/1973 e art. 75, X, do CPC/2015). Contudo,
inexistindo filial, agência ou sucursal, em território nacional, aplica-se a regra geral, a fim de ser a pessoa jurídica estrangeira representada
"por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores" (art. 12, VI, CPC/1973 e art. 75, VIII, CPC/2015). 3.
A ausência de exigência legal expressa para juntada dos atos constitutivos, não obsta a exigência judicial, quando imprescindível para
EMENTA
demonstrar a regular condição de representante legal, especialmente quando suscitada dúvida razoável pela parte contrária. 4. A outorga
de procuração pública perante oficial de notas em território nacional pressupõe, por força de lei, a comprovação da identidade, capacidade e
legitimidade dos signatários para a prática do ato (art. 215, § 1º, do CC/2002). 5. O reconhecimento de fé pública aos documentos lavrados
perante o notário e o registrador, conjugado à exigência prévia da comprovação da condição de representante legal, afastam a necessidade
de nova comprovação perante o Poder Judiciário, salvo se contestada a própria validade do ato cartorário. 6. A Convenção sobre a
Eliminação da Exigência de Legalização dos Documentos Públicos Estrangeiros - Convenção da Apostila da Haia, internalizada por meio do
Decreto n. 8.660/2016, desburocratizou as exigências para validade de documentos públicos oriundos de outros Estados signatários,
substituindo a legalização pela apostila e impondo à Justiça brasileira o reconhecimento desses documentos, atribuindo-lhes o mesmo valor
probatório legalmente previsto para os instrumentos públicos lavrados em território nacional. 7. Contudo, o valor probante desses
documentos não tem o condão de afastar as exigências legais de capacidade e legitimidade, de modo que não tendo sido exigida a
comprovação da condição de representante legal pela autoridade competente estrangeira, a regularidade da representação poderá ser
objeto de dúvida e, portanto, se sujeitar à necessidade de comprovação judicial. 8. Recurso especial desprovido.
PROCESSO: (369) HC 628.647 – SC (acórdão ainda não divulgado)
DADOS: STJ, Sexta Turma, Min. Laurita Vaz, d. 19/03/2021.
Por meio de HC, a Defensoria Pública de SC postulava que fosse oferecido o acordo de não
CONTEXTUALIZAÇÃO persecução penal a um homem preso em flagrante por portar armamentos e munições de uso
FÁTICA:
restrito, antes de a nova lei entrar em vigor. Para a defesa, a norma mais benéfica ao réu deveria
retroagir nos processos ainda não transitados em julgado. No caso o réu foi condenado a três
anos de reclusão no regime inicial aberto, bem como ao pagamento de dez dias-multa, e a pena
privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direito.
QUESTÃO CENTRAL A lei (Pacote Anticrime) que introduziu o acordo de não persecução penal, por ser mais benéfica,
CONTROVERSA: tem a força retroativa sobre todos os processos ainda não transitados em julgado?
=> Por ter natureza processual, e não de direito material, a lei (Pacote Anticrime) que introduziu
o acordo de não persecução penal, ainda que mais benéfica, não pode ser aplicada nos processos
INFORMAÇÕES
penais com denúncia já recebida;
LÍQUIDAS:

=> Teoria do isolamento dos atos processuais (uma vez iniciada a persecução penal em juízo, não
há como retroceder no andamento processual);
PROCESSO: HC 628.647 – SC
Art. 28-A (CCP). Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem
violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal,
desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente:

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo;

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime;

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a
dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
INFORMAÇÕES Penal);
LÍQUIDAS:
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a
entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a infração penal
imputada.
(...)
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de complementação das
investigações ou o oferecimento da denúncia.
(...)
§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo,
para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia.

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