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A AUTOSSABOTAGEM NOSSA DE CADA DIA

Quando, sem perceber, nos tornamos o principal obstáculo para a nossa felicidade

Por: Márcia Rezende

Vários são os sinais de que estamos sabotando nossos próprios sonhos, projetos e processos
de crescimento e realização.

Por instinto, todos nós queremos nos sentir bem, desejamos a felicidade, saúde, paz, sucesso.
No entanto, podemos nos tornar o principal obstáculo para alcançar o que mais desejamos. É o
famoso “tiro no pé”.

Mas quem seria louco o suficiente para atirar no próprio pé, literal ou figuradamente? Claro
que ninguém faria isso em sã consciência, no entanto, de maneira inconsciente, fazemos isso o
tempo todo.

Segundo o Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, autossabotagem “é um processo


inconsciente em que nos colocamos contra nossos próprios impulsos e pensamentos. Assim,
como resultado, adquirimos comportamentos para nos punir e não chegar ao sucesso que
almejamos. Trata-se de ir contra ao sucesso pelo qual tanto nos esforçamos e lutamos.”

É um transtorno psicológico que vai além de um sentimento de frustração diante de algo que
deu errado ou da mudança de planos diante de situações adversas. A autossabotagem
patológica é um padrão de comportamento que se repete em várias ou todas as áreas da vida.

Procrastinação, vícios destrutivos, sentir-se sempre incapaz ou sem merecimento e ser


dominado pelo medo de errar são alguns dos principais exemplos que caracterizam a
autossabotagem que, em muitos casos, exige a ajuda profissional de um terapeuta para a
superação do transtorno.

Mas e o que dizer daqueles “hábitos de estimação” que também podem ser extremamente
danosos para o nosso bem estar físico e emocional?

Isso mesmo, todas nós, vez ou outra, acabamos nos acomodando e mantendo práticas que
sabemos serem altamente prejudiciais para a nossa saúde física, emocional, espiritual ou
social.

Veja quais destes hábitos você tem mantido em sua rotina e o quê é possível mudar para
quebrar este ciclo de autodestruição em que corremos, corremos e permanecemos no mesmo
lugar.

1. Má alimentação – Você já ouviu falar que o intestino é o nosso segundo cérebro? Pois
é. Nossa alimentação é responsável não só pela nutrição do físico, também pela maior
parte de toda a regulamentação hormonal. Condimentos, sal, açúcar, industrializados,
embutidos e fast-foods são os grandes responsáveis por uma qualidade de vida ruim.

Além de diversas doenças, uma dieta desregrada também é a responsável pelo mau
humor, falta de motivação, raciocínio lento, irritabilidade, dores crônicas, problemas
de pele/cabelo/unha, e já é a principal causa de mortes em todo o mundo. Estudos
comprovam que uma em cada cinco mortes registradas no mundo está relacionada à
má alimentação.

Saber que determinado alimento faz mal e mesmo assim, insistir em mantê-lo na dieta
é contribuir para uma rápida degeneração celular. Em outras palavras: é dar um tiro no
pé, rs...

Então, como regra, vale a máxima “descascar mais e desembrulhar menos”.

2. Pouca hidratação – Somos água, isso mesmo, 60% do nosso corpo é composto por
água. Ela é também 80% do nosso cérebro. Por isso “quem não se hidrata, se mata”
afirma a medicina. A água é vital para o bom funcionamento geral do nosso corpo.

Além do óbvio, que é regular a temperatura corporal e manter os órgãos internos


ativos, a água permite a comunicação adequada entre as células e o bom
funcionamento dos nossos sistemas.

E podemos ir além da água ingerida e fazer dela uma aliada para o bem estar geral.
Quem não se sente bem numa praia, na margem de um rio, contemplando uma bela
cachoeira ou até mesmo num relaxante banho? A água limpa. Nos limpa por dentro e
por fora.

3. Distância da natureza – outro hábito autossabotador bem presente na vida urbana a


que a nossa geração foi submetida é o distanciamento da natureza. Pode parecer que
não, mas a cultura do asfalto tem contribuído enormemente para o nosso
desequilíbrio emocional.

Já foi comprovado cientificamente que o cheiro do mato possui grande poder de cura,
aumenta as moléculas anti câncer na corrente sanguínea, reduz o stress sobre o
sistema nervoso e ativa o sistema imunológico.

Cientes disso, muitos têm optado por abandonar os grandes centros e viver uma vida
mais simples no campo. Mas nem é preciso mudanças tão radicais. Tirar alguns
momentos por dia para uma caminhada em meio à natureza, pisar na areia, tocar uma
árvore, cultivar plantas dentro de casa, tomar sol, brincar com animais de estimação e
até mesmo olhar fotos e vídeos do campo já trazem enormes benefícios. E,
frequentemente, incluir passeios a parques e bosques na agenda vai fazer seu
organismo agradecer.

David Strayer e outros professores de psicologia na Universidade do Utah (EUA)


comprovaram, através de um estudo, que passar pelo menos quatro dias na natureza
sem tecnologias aumenta a criatividade em até 50%. O que nos leva para o nosso
próximo hábito de autossabotagem.

4. Excesso de eletrônicos – Estamos cada vez mais conectados. Se esta já era uma
realidade antes da pandemia causada pelo Covid-19, que obrigou o planeta a ficar de
quarentena, preso em nossas casas e nos comunicando com o exterior apenas através
da Internet, quanto mais depois dela.
A tecnologia exerce um papel fundamental em nossa sociedade, mas o uso
indiscriminado de aparelhos - conectados ou não à internet - tem causado ou
potencializado sérios danos à nossa saúde física, relacional e psicológica.

As telas possuem um efeito viciante que, como qualquer vício, exige sempre mais para
satisfazer a dependência criada. Além disso, o excesso de tempo na frente de
eletrônicos produz também: síndrome do pensamento acelerado, má qualidade do
sono, isolamento social, irritabilidade, danos visuais, stress auditivo, stress muscular e
articular, danos à pele (causada pela luz artificial dos aparelhos), etc.

Para parar de se autossabotar, fique atenta para não se tornar dependente dos
aparatos digitais. Estipule horários para o uso de celulares, jogos, filmes, redes sociais,
etc. e diminua as atividades pelo menos duas horas antes de deitar à noite. Faça o
teste e veja a diferença.

5. Sedentarismo – Embora poucos admitam, a preguiça é uma mosquinha insistente que


teima em pousar em muitas pessoas. Manter-se na zona de conforto, se esforçar o
mínimo possível, evitar fadiga e adiar tarefas são hábitos que incorporamos por
comodidade e nos impedem de sair de onde estamos. E não estou me referindo
apenas a atividades físicas.

Crescer dói. Evoluir dói. Sair da zona de conforto dói. Por isso, muitas vezes parece ser
mais fácil ficar onde estamos. Mas não se iluda, pois quando paramos de crescer, o
resultado não é permanecer no mesmo lugar, mas decrescer.

O corpo precisa de movimento. Como diz o antigo ditado: “águas paradas não movem
moinhos”. Se quisermos colher, vamos precisar plantar e plantar dá trabalho mesmo.

A atividade física regular tem inúmeros benefícios, não preciso alistar aqui. E a sua
ausência gera uma série de graves consequências a curto, médio e longo prazo. Saber
disso e continuar sedentária é, sem dúvida, se autossabotar. Então, descubra algo que
lhe dê prazer e seja viável dentro da sua rotina e mexa-se!!!

Exercite também o cérebro: boas leituras, cursos, um novo idioma, novas habilidades,
são exemplos de atividades que mantém nossa mente ativa.

6. Ativismo – Se, por um lado, a falta de atividade é prejudicial, o excesso também é. O


vício em trabalho ou em exercício físico/mental causa um stress cumulativo que, cedo
ou tarde, fará seu organismo “implodir”.

O repouso é tão importante quanto o exercício, e o segredo está em encontrar o


equilíbrio. A necessidade de se sentir produtivo o tempo todo ou cobrar-se em
demasia por resultados, são sintomas de que algo não está bem e precisa ser
investigado.

Sobrecarregar a máquina causa pane no sistema. Então, invista num sono de


qualidade, programe seu dia de descanso semanal, tire férias e separe momentos
diários para relaxar e ficar consigo mesma.
7. Pensamentos destrutivos – Psicologicamente falando, uma experiência ruim costuma
marcar muito mais profundamente nossas emoções que uma experiência boa. E o
fluxo normal dos nossos pensamentos passa justamente por essas experiências ruins.
Por isso passamos tanto tempo remoendo pensamentos negativos, lembranças ruins,
pressuposições, suposições...

O problema é que, se permitirmos que a nossa mente passe a maior parte do tempo
pensando em coisas ruins e remoendo sentimentos negativos, isso irá refletir
diretamente em nossa saúde mental, emocional e até física.

Aprender a gerenciar os próprios pensamentos, trocando a murmuração pela gratidão,


e valorizando o que se tem em vez de lamentar o que não se tem, traz leveza para o
dia e nos ajuda a encarar os obstáculos com mais objetividade e ânimo.

Poderíamos colocar vários outros hábitos que caracterizam atos de autossabotagem, mas creio
que estes já são suficientes pra fazermos uma análise de nós mesmos e verificar o que
podemos mudar ou melhorar para podermos agir como parceiros de nós mesmos,
contribuindo para a nossa realização pessoal e para o bem comum, e não nos tornando pedra
de tropeço nesta jornada.

Finalmente, seja gentil consigo mesma – ninguém é perfeito. Temos dias bons e dias ruins. E o
fracasso faz parte da jornada de todo ser humano. Cultive o bom humor.

E aí, você se identificou com algum dos exemplos de autossabotagem que demos aqui?
Lembrou de algum outro que não foi citado? Deixe sua mensagem aqui nos comentários e
conte-nos a sua experiência.

Márcia Rezende

Graduação em Teologia e Educação Religiosa, e Pós-Graduação (Doctor of Ministry) com


especialização em Bíblia e em Ciências da Religião. Atualmente mora em Marília/SP.

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