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Ilustração de João

Victor Batista Veloso


com intervenção de
Carlus Campos
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10
Ilustração de João
Victor Batista Veloso
com intervenção de
Carlus Campos

PROMOÇÃO
DA CIDADANIA
E DEFESA DOS
DIREITOS HUMANOS
PARA A POPULAÇÃO
LGBTQIA+
Cláudia Maria Inácio Costa
Cin Falchi

APOIO REALIZAÇÃO

III
Copyright©2021 Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência Luciana Dummar
Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo
Gerência Geral Marcos Tardin
Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto
Análise de Projetos Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis

SECRETARIA DE PROTEÇÃO SOCIAL, JUSTIÇA, CIDADANIA, MULHERES E DIREITOS HUMANOS (SPS)


Secretária de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS Socorro França
Coordenação Técnica PROARES III SPS Maria de Fátima Lourenço Magalhães
Gerência Técnica do PROARES III Anete Morel Gonzaga
Gerência de Fortalecimento Institucional do PROARES III Selma Maria Salvino Lôbo

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Gerência Pedagógica Viviane Pereira
Coordenação de Cursos Marisa Ferreira
Design Educacional Joel Lima
Front-End Isabela Marques

CURSO PROTEÇÃO SOCIAL: PROGRAMA INTEGRADO DE EDUCOMUNICAÇÃO


Concepção e Coordenação Geral Cliff Villar
Coordenação de Conteúdo Ana Lourdes Leitão
Revisão Daniela Nogueira
Projeto Gráfico, Edição de Design e Coordenação de Marketing Andrea Araujo
Design Mariana Araujo, Miqueias Mesquita e Kamilla Damasceno
Arte-terapia Joana Barroso
Ilustrações Ana Luiza Travassos de Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva, Antônia Travassos de Oliveira
Carvalho, Bárbara Vazzoler Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi Bogea Caldas, Fernanda Vitória
de Almeida Matos, Francisco Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João Vazzoler Villar, João Victor Batista
Veloso, Júlia Nogueira de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia
Alease Lima Oliphant, Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira, Mariana Negreiros Lobo, Mariana
Vazzoler Villar, Mateus Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes, Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira
da Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro Gomes Bezerra, com intervenção de Carlus Campos

Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga

Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade
de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha
e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD


P967 Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação / vários autores; organizado por Ana
Lourdes Maia Leitão; vários ilustradores. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p. : il.; 26cm x 30cm. – (Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação ; 12v.)
Inclui bibliografia e apêndice/anexo.
ISBN: 978-65-86094-76-3 (Coleção)
ISBN: 978-65-86094-84-8 (Fascículo 10)
1. Direitos Humanos. 2. Políticas Públicas. 3. Assistência Social. 4. Drogas. 5. Igualdade Racial.
6. Segurança Alimentar e Nutricional. 7. Proteção à Vida. 8. Direito das Mulheres. 9. População
LGBTQIA+. 10. Pessoas com deficiência. I. Leitão, Ana Lourdes Maia. II. Título. III. Série.
2021-1549 CDD 341.4
CDU 341.4
Todos os direitos desta edição reservados à:
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Índice para catálogo sistemático: CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Direitos Humanos 341.4 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
Direitos Humanos 341.4 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br
Ilustração de Júlia
Nogueira de Holanda
com intervenção de
Carlus Campos

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 148

2 PROMOÇÃO DA CIDADANIA E DEFESA DOS


149
DIREITOS HUMANOS PARA A POPULAÇÃO LGBTQIA+

3 POPULAÇÃO LGBTQIA+ E SAÚDE NO BRASIL


150
DIREITOS HUMANOS E A LGBTFOBIA

4 POPULAÇÃO LGBTQIA+ E MERCADO DE TRABALHO 156

5 DOS DOCUMENTOS OFICIAIS ÀS FRENTES DE AÇÕES 157

REFERÊNCIAS 159
Ilustração de Júlia
Nogueira de Holanda
com intervenção de
Carlus Campos

o foco e a força motriz para a busca por


garantia de direitos para tais sujeitos. Por-
tanto, a sigla utilizada hoje para fins de no-
menclatura é a LGBTQIA+, que representa
um movimento político e social que busca

1
fomentar a garantia dos direitos funda-
mentais de cada cidadão e cidadã, respei-
tando e reconhecendo a diversidade em
torno das orientações sexuais, afetivas e
identidades de gêneros.
Este fascículo se divide, então, em

INTRODUÇÃO pontos fundamentais e históricos para a

A
luta LGBTQIA+, iniciando com a discussão
o falarmos sobre população É importante apresentar já aqui o sobre as políticas de saúde, pensando-a
LGBTQIA+ no Brasil, muitas porquê da várias letras e significados como um Direito Humano básico e sendo
questões nos são tensionadas, das siglas. Desde que os movimentos este o ponto de partida histórico da or-
especialmente no campo da ci- começaram a tomar forma e organizar-se, ganização política das populações LGB-
dadania e direitos humanos. Ao contrário houve uma prevalência das nomenclaturas TQIA+. Em seguida, trataremos sobre os
do que o senso comum muitas vezes apre- gays e lésbicas, já mais organizados direitos e a LGBTfobia no Brasil, elemento
goa, a luta por direitos por parte desta po- politicamente. Contudo, outras represen- importante para compreendermos a vio-
pulação é um capítulo longo e de muitos tações foram se formando, organizando lência e o acesso aos direitos fundamen-
anos na nossa história, tendo seu marco e somando forças ao movimento. Não tais de cidadania da população LGBTQIA+.
nas décadas de 1960 e 1970, não por aca- há de se romantizar e pensar que houve Em consonância ao acesso aos direitos,
so, décadas marcadas por movimentos consenso desde o princípio, mas, desde a será tratado sobre a configuração do mer-
que reivindicavam a ampliação dos direi- década de 1990, há um esforço para que o cado de trabalho para a população LGBT-
tos sociais e civis de populações até então movimento represente toda a diversidade QIA+ e, em seguida, os documentos legais
excluídas do conceito de cidadania. que existe nele, sendo essa diversidade que balizam as ações e luta por direitos.

148 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


2
PROMOÇÃO DA
CIDADANIA E DEFESA DOS
DIREITOS HUMANOS PARA Ilustração de Júlia

A POPULAÇÃO LGBTQIA+
Nogueira de Holanda
com intervenção de

O
Carlus Campos

contexto de lutas da popula-


ção LGBTQIA+ aqui no Brasil
seguiu uma onda que se ar-
refeceu com um marco histó-
rico, necessário para se pensar as lutas
e construção de movimentos dessa po-
pulação, que é Stonewall ou a Revolta
de Stonewall, que merece um momento
para sua explicação.
Stonewall Inn, era um bar de Nova Ior-
que frequentado, principalmente, por tra-
vestis, gays afeminados, lésbicas masculi-
nas, michês, drags, negros e LGBTs pobres
(QUINALHA, 2019). Representavam, dessa
forma, um conjunto da população excluí-
acusação, foram presos e violentados movimentos já existiam, especialmente
da dos direitos de cidadania nos Estados
pela polícia. Desta revolta espontânea, os de homens gays. As lutas feministas,
Unidos e em todo o mundo. Estamos fa-
causada pela ação de um ente do estado luta do movimento negro, juventudes
lando de 1969, período em que iniciava o
que não reconhecia a cidadania daqueles e as lutas por liberdade sexual, que se
arrefecimento das lutas da população ne-
sujeitos, explodiram manifestações em construíam desde a década de 1950, são
gra americana em busca da conquista por
prol das liberdades e direitos das pessoas marcos importantes para a organização
reconhecimento de seus direitos civis e
LGBTs1. No entanto, Stonewall não é o iní- de tais movimentos.
políticos. Após uma violenta ação da polí-
cio do movimento LGBT; as associações e Em termos de organização política, po-
cia direcionada aos frequentadores deste
demos apontar como o grande momento
bar, como reação, eclode-se uma revolta 1 Neste momento histórico, a sigla utilizada ainda
era a que dava conta de gays, lésbicas e travestis; as décadas de 1970 e 1980, por causa de
espontânea, protagonizada pelos sujeitos portanto, a escrita se organizará a partir dos usos um fato importante ligado à saúde pública:
que iam àquele bar e que, sem qualquer históricos das siglas.

Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 149


a epidemia da aids2. Tendo esta epidemia
uma marca do preconceito (pois todos
a associavam a uma “doença de gays”),
organizar-se politicamente era necessário
para garantir acesso ao direito à saúde e à
própria vida. Tal movimentação se faz em
torno da negação de um direito humano
básico ao ser humano: a vida. Desse modo,
podemos compreender a epidemia tanto
do ponto de vista biológico como “uma
construção social” (MISKOLCI, 2017). A
aids passa por um processo de construção
cultural, em que se faz atrelada ao com-
portamento sexual imprimido por certos
indivíduos, pois passa a ser reconhecida

3
como uma doença sexualmente transmis-
sível (DST)3, colocando no foco grupos de
indivíduos que não seguiam a ordem sexu-
al historicamente vigente. Nesse sentido,
as construções sobre a doença, a forma
como a sociedade a encarou (encara) e
mitos construídos em torno das suas vi-
vências e formas de contágio acabam por
nutrir uma “resposta conservadora à Re- POPULAÇÃO
LGBTQIA+ E SAÚDE
volução Sexual” (MISKOLCI, 2017) em cur-
so tanto no Brasil como em todo o mundo.
Podemos afirmar, então, que a aids foi
um elemento que catalisou as lutas dos
NO BRASIL
N
movimentos gays, lésbicos e de travestis
(especialmente), como forma de se con- a análise documental da legislação brasileira sobre a
trapor à investida conservadora contra tais área saúde e legislações do Brasil, no que diz respeito
grupos, que tinham na resistência política às políticas públicas para LGBTQIA+, podemos observar
a via para denúncia contra os ataques aos que o cenário legal do Sistema Único de Saúde (SUS)
seus direitos fundamentais de existência. está mais bem ancorado em decretos, planos e políticas nortea-
2 Termos referenciados a partir dos documentos da
doras de ações que visem à promoção e às estratégias para que
UNAIDS, 2017. tal promoção possa ser implementada, do que a área do trabalho,
3 Atualmente a nomenclatura e sigla utilizadas são: In- enquanto empregabilidade, por exemplo.
fecções Sexualmente Transmissíveis – IST. Tal denomi-
nação passou a ser utilizada a partir de 2016, quando Por mais que haja a interconexão das áreas para que possa exis-
da publicação do Decreto nº 8.901/2016 publicada no tir o acesso integral e pleno à cidadania e defesa dos direitos hu-
Diário Oficial da União em 11.11.2016, em que orienta
a substituição e apresenta a justificativa de que o ‘D’ manos, é importante ressaltar que cada área de atuação é formada
(doença) se refere a sintomas e sinais perceptíveis no por especificidades que carecem de ações próprias para a manu-
indivíduo, ao passo que ‘I’ (infecções) podem ser assin-
tomáticas ou manter-se por períodos assintomáticos,
tenção e o acesso de grupos heterogênicos, o que faz com que as
porém possíveis de serem transmitidas. práticas precisem ser pensadas a partir de suas especificidades.

150 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


ocorrendo para que o acesso e a manu-
tenção das práticas da saúde sejam ofer-
tados e oferecidos. Mas tais práticas per-
manecem em um local de aprendizagem
e desenvolvimento no Brasil.
No que diz respeito a marcos legais,
temos em 2006 uma primeira inserção no
SUS que evidencia a busca por um aten-
dimento mais humanizado. Nesse ano, a
Carta dos direitos dos usuários de saúde in-
troduziu o direito ao uso do nome social
Ilustração de Beatriz
Vazzoler Villar com para travestis e transexuais, e essa movi-
intervenção de mentação resultou na Portaria nº 1.802
Carlus Campos de 2009, no artigo 4 inciso I. Uma ação
como essa respeita a dignidade humana
e colabora para o acesso em maior escala
da população trans na área da saúde.
Outro documento que ampara e busca
Também é importante ressaltar esse colaborar com a disseminação dos aten-
ponto nevrálgico, pois, quando evidencia- dimentos para essa população é o que
mos as ações voltadas para a população institui o processo transexualizador, for-
LGBTQIA+, não estamos procurando ou mulado em 2008 e ampliado e redefinido
gerando privilégios em detrimento a ou- em 2013 a partir da portaria 2803/2013.
tras populações. Ao contrário, quando go- Nessa portaria procedimentos como
vernamentalmente as especificidades são hormonização, cirurgias de modificação
acolhidas, o que temos é um cenário de corporal e genital e o acompanhamento
acesso e manutenção de políticas públi- multiprofissional tornam-se acesso per-
cas para todos os públicos possíveis, ob- mitido para toda a população trans, e
servando as distintas ofertas necessárias não apenas para mulheres trans, como
para que haja, efetivamente, promoção estava previsto em 2008. Assim, abarca
dos serviços de maneira a atender a maior homens trans, mulheres trans e travestis,
promoção de serviços com ampliação aumentando sua oferta à saúde.
quantitativa e qualitativa, privilegiando Vale ressaltar que tais procedimentos
um atendimento humanizado da deman- ainda não são ofertados em todos os es-
da pública, visando a uma qualidade sem- tados brasileiros, podendo ser encontra-
pre maior nesses atendimentos. dos apenas nas cidades de Porto Alegre,
Pensando a partir dessa linha de racio- Goiânia, Recife, São Paulo e Rio de Ja-
cínio, o SUS explana, a partir de sua Polí- neiro. O mais alarmante é que, para ter o
tica Nacional de Saúde Integral de LGBT acesso efetivo a tal processo, há uma fila
uma caminhada em prol de valorizar e de espera de mais de dez anos.
amparar a população que se encontra in- Em 2012 é redigido o Plano Operati-
clusa nesse grupo. Temos, portanto, uma vo da Política Nacional de Saúde Integral,
ampla documentação que foi revisitada com gerência e revisitação programada
e reformulada durante anos para que os de 2012 a 2015. Esse primeiro plano já de-
atendimentos e acesso possam estar em limita estratégias para gestões em todos
consonância com o cenário atual popu- os âmbitos, federal, estadual, municipal e
lacional e suas demandas. No entanto, Distrito Federal, e traz em seu norte a ne-
essa afirmativa documental não implica, cessidade de uma articulação intra e inter-
necessariamente, acesso real e amplo. setorial na transversalidade para o desen-
Também não significa que não haja ações volvimento de tais políticas públicas.

Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 151


Desse Plano Operativo é construída, em
2013, a Política Nacional de Saúde Integral
de LGBT, pelo Ministério da Saúde, com a
organização da Secretaria de Gestão Es-
tratégica e Participativa. Esse documento
evidencia mais uma grande conquista das
movimentações sociais, já que elas são as
norteadoras e balizadoras para que tais po-
líticas possam vir a se concretizar em ações e bissexuais, por exemplo, não eram, ne-
necessárias para o acesso e o atendimento cessariamente, atendidas em suas especi-
da população LGBTQIA+. É essa política que ficidades, e não eram contabilizadas para
vai expressar e agir para que todas as estra- fins estatísticos. Não havendo o aporte
tégias predefinidas anteriormente possam estatístico nacional, há uma maior difi-
ser efetivamente implementadas, fiscaliza- culdade e possibilidade de estratégias a
das e, se necessário, repensadas. serem desenhadas assim como de planos
Mais uma vez, é importante evidenciar serem efetivamente concretizados. Essa
que muitas vezes os documentos cami- questão, até hoje, é uma luta que os mo-
nham com maior agilidade que as ações. vimentos sociais LGBTQIA+ realizam, com
Nesse sentido, por mais que tenhamos, já um olhar em especial às movimentações de profissionais da área até a estimulação
em 2013, uma ampla documentação a res- trans, em busca das demandas que solici- e o fortalecimento da população LGBT nos
peito do acesso e atendimentos a popula- tam acesso e atendimento. espaços de participação popular e de edu-
ção LGBTQIA+, ainda se faz necessária uma Em continuidade à Política Nacional cação para o controle social.
atenção muito pontual para essa mesma de Saúde Integral de LGBT, em 2017, a Atualmente o Brasil também tem três
população que não consegue encontrar partir da Resolução n.º 26 de setembro, focos preventivos para crianças e adoles-
uma acolhida tão ampla, na prática. há a inserção do II Plano Operativo da Po- cente entre 3 e 17 anos que sejam LGB-
No que se refere à demanda de atendi- lítica Nacional de Saúde LGBT. Esse Plano TQIA+, estando contidos apenas nas regi-
mento, é fundamental pensar nos proces- é composto por cinco eixos que contam ões Sul e Sudeste, especificamente em São
sos formativos de profissionais, para além com as importâncias para que haja aces- Paulo, Campinas e Porto Alegre. Em terri-
dos espaços físicos necessários para tal so, promoção, educação, mobilização e tório nacional há também 14 ambulatórios
fim. A população LGBTQIA+, durante sua monitoramento das ações necessárias LGBT, que estão em Curitiba, Belém, Belo
historicidade de existência no Brasil, sem- para que o atendimento seja pleno. Tam- Horizonte, Brasília, Campo Grande, Floria-
pre foi realocada para outras demandas bém tem nove estratégias para que haja nópolis, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa,
de atendimento. Pessoas lésbicas, gays desde o aperfeiçoamento e qualificação Lagarto, Recife, Ribeirão Preto, São Paulo e

152 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


ção educacional que tenha como meta
aportar profissionais da área da saúde
com um olhar mais próximo e acolher as
necessidades básicas dessa população.
Todas essas documentações também
precisam estar mais próximas das ações
realizadas pelos governos vigentes, para
que as políticas públicas transversais pos-
Niterói. Às pessoas que não se encontrem sam ter uma participação mais objetiva e
nesses grandes polos é oferecido um ser- clara nas deliberações de verbas públicas
viço de tratamento fora de domicílio. Esse para programas de atendimentos básicos
número de ambulatórios, dada a extensão voltados para a preservação das vidas LGB-
territorial nacional, ainda é muito baixo e TQIA+, já que, atualmente, é uma das popu-
por se encontrarem em grandes centros lações mais violentadas socialmente.
populacionais, se por um lado viabilizam Por não haver contabilização oficial de
a possibilidade de acesso a uma parcela dados que componham a população LGB-
maior da população, por outro retardam TQIA+, a geração de políticas para preven-
Ilustração de João
Vazzoler Villar com a possibilidade de acesso a uma grande ção da saúde mental, por exemplo, fica
intervenção de parcela da população LGBTQIA+, que se muita debilitada e inconstante. No que diz
Carlus Campos encontra vulnerável em cidades menores, respeito à orientação sexual, muitas pes-
com repasses e verbas mais restritas. soas deixam de compor um quadro mais
Ações como o Conselho Estadual de verdadeiro, pois são contabilizadas ape-
Combate à Discriminação LGBT do estado nas como pessoas cisgêneras4, não haven-
do Ceará são um exemplo claro das mo- do o cuidado em ressaltar a importância
vimentações sociais em busca de conso- de saúde para os espectros de sexualida-
nância participativa para com o governo, des possíveis de serem vividos. No que diz
para que haja a expansão de acesso para respeito à população trans e travesti, não
a população LGBTQIA+, mas também para há nacionalmente essa contabilização as
que haja a possibilidade educacional da identidades de gênero composta no es-
população brasileira contra as discrimi- pectro identitário. Logo, ações de políti-
nações com essa mesma população. Esse cas públicas ficam pouco ancoradas nas
Conselho visa monitorar, fiscalizar e avaliar realidades do cenário social das pessoas
a execução de políticas públicas para a po- trans, gerando uma onerosa e lenta ação
pulação LGBT e é uma conquista histórica de acesso ao sistema.
de movimentos sociais cearenses que efe- Levando em consideração que a popu-
tivam, por meio da paridade de represen- lação LGBTQIA+ brasileira, mesmo havendo
tantes do Poder Público Estadual do Ceará leis protetivas, ainda é alvo de uma quan-
com representantes da sociedade civil, um tidade muito alta de violências e discrimi-
órgão que é consultivo e deliberativo. nações, compondo o ranking de país que
Como ressaltado anteriormente, é im- mais assassina pessoas trans, por exemplo,
prescindível que as demandas LGBTQIA+ é mais do que importante que a área da
sejam contabilizadas oficialmente para saúde esteja não apenas atenta, mas pron-
que a saúde integral dessa população ta para o atendimento dessa população,
possa ser efetivamente atendida. Portan- que carece de uma atenção primária mais
to, para além do levantamento oficial de consolidada e especializada, para que seja
demanda, dadas as multiplicidades de vi- garantida a preservação da vida, direito e
vências e possibilidades de experiências desejo fundamental no território brasileiro.
que estão contidas nessa grande sigla, é 4 O termo cisgênero se reporta ao indivíduo que se
evidente a necessidade de uma promo- identifica com o seu gênero biológico.

Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 153


DIREITOS HUMANOSE A LGBTFOBIA
Ao tratarmos de populações excluídas, fa- mas uma ação intersetorial, que requer
lamos, ao mesmo tempo, de resultados de planejamento e ações em vários âmbitos
construções de imagens de determinados das políticas públicas, articulando educa-
indivíduos e conjuntos de indivíduos que ção, assistência social, saúde, segurança
são construídas e alimentadas por grande pública e demais políticas de estado. En-
parcela da população, inclusive o próprio tende-se LGBTfobia como
Estado. Tal exclusão se reflete diretamente (...) os crimes e manifestações múltiplas de
nas ações (ou inexistência delas) e políti- ódio e preconceito a todo e qualquer sujeito
cas públicas voltadas a populações espe- gay, lésbica, bissexual, travesti e transexual
que escapa a norma sexista e heteronorma-
cíficas historicamente excluídas.
tiva estruturada na sociedade, de forma que
Em se tratando da população LGB- referir-se apenas como homofobia, invisibili-
TQIA+, há um vácuo no que concerne às zaria as particularidades da lesbofobia, bifo-
garantias de direitos, à criação e à efetiva- bia e transfobia que embora se diferenciem
ção de políticas públicas e, principalmen- na nomenclatura, é semelhante no papel
te, à garantia do direito humano essencial: opressivo de conduzir estes sujeitos à situa-
ções de violência e violações enquanto pes-
a vida. Percebemos isso ao nos reportar- soas portadoras de direitos sociais garantidos
mos aos dados que deveriam alimentar de bem estar e acessos sociais (PONTES et. al
as informações sobre as violências contra apud LEMOS, 2017)
esse público e que deveriam balizar as
Tramitava na Câmara Federal há um
políticas de enfrentamento à LGBTfobia
tempo a PLC 122/06 que tentava incluir
no Brasil. Somente em 2019, o Anuário
à Lei 7.716 a homotransfobia ou simples-
Brasileiro de Segurança Pública5 passa a
mente LGBTfobia, como crime análogo
divulgar, pela primeira vez, em seu levan-
ao racismo. Tal lei tenta trazer ao campo
tamento nacional publicado anualmente,
jurídico uma ferramenta de proteção e
os dados oficiais sobre a violência contra
uma retratação por parte do Estado em
a população LGBTQIA+. Tais dados são
relação a formas legais de proteção à po-
fornecidos pelas Secretarias da Seguran-
pulação LBGTQIA+, excluída e invisibiliza-
ça Pública e mostram o quão desarticula-
da dentro das ações de proteção e garan-
das ainda estão tais informações. Vários
tia dos direitos fundamentais do cidadão.
estados não forneceram dados, como o
Somente em 2019 e após decisão do
estado do Ceará. Isso mostra não só uma
Superior Tribunal Federal (STF), a Lei de
falta de interesse em publicizar dados
Injúria Racial passou a incluir também a
como também o descaso com informa-
LGBTfobia como crime de racismo. Dessa
ções que são importantes para justificar e
forma, a lei fundamenta e deve proteger
organizar o foco de políticas públicas de
esta população contra toda e qualquer
combate e prevenção à LGBTfobia. Aten-
forma de injúria e discriminação que Ilustração de
tamos aqui para a questão de que não se
atente contra sua integralidade. Ainda de Luanna Madureira
trata de uma política pública específica, Marques com
acordo com o último Anuário Brasileiro intervenção de
5 O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é uma de Segurança Pública, os registros de cri- Carlus Campos
publicação organizada pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública. mes contra a população LGBTQIA+, entre

154 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


importante: o caráter misógino da violên-
cia contra pessoas trans no Brasil. Há de
se atentar que tais dados são frutos de
um período em que teve início a realida-
de de pandemia no Brasil e no mundo. A
violência cometida contra pessoas trans
mostrou-se em maior número e mais se-
vera durante a pandemia.
Devido às subnotificações e à não di-
vulgação de dados por parte dos estados,
há a falsa impressão de uma queda desses
números em 2019; porém o Dossiê 2020 da
Antra alerta para o aumento exponencial
os anos de 2018 e 2019, sendo o último dos casos de violência em 2020 e para a
ano já com a vigência da nova lei, ainda falta de ações específicas de enfrentamen-
mostram a dificuldade em se fazer cum- to à violência contra este tipo de violência.
prir a lei de injúria racial como reconheci- O que se observa no Brasil, nos últimos
mento de proteção contra a LGBTfobia+. anos, é um desmonte das já escassas polí-
Como já exposto, nem todos os estados ticas voltadas para a população LGBTQIA+.
da federação divulgaram seus dados, o Data de 2001 a criação do Conselho Nacio-
que torna ainda mais difícil a análise da nal de Combate à Discriminação (CNCD),
situação em todo o território nacional. que se vinculava ao Ministério da Justiça e
Por causa da falta de dados e estatísti- era meio de reivindicação e construção de
cas sobre a violência contra a população políticas públicas voltadas para esta popu-
LGBTQIA+, mais especificamente contra a lação. Se comparado a outros movimen-
população trans brasileira, a Associação tos sociais (como negros e mulheres), o
Nacional de Travestis e Transexuais (An- movimento LGBTQIA+ conquista de forma
tra) passa a divulgar, a partir de 2017, um tardia algumas pautas que são inclusas na
dossiê anual sobre as mortes de travestis versão construída em 2002 do Programa
e transexuais no Brasil. É um documento Nacional de Direitos Humanos (PNDH-
mais completo sobre esses dados e fruto 2). Dentre as 518 ações previstas nesta
dos movimentos sociais de proteção a tra- segunda versão da PNDH, apenas cinco
vestis e transexuais brasileiros. De acordo se referiam à orientação sexual como ga-
com o Dossiê de 2020, o Brasil é o país em rantia do direito à liberdade, opinião e ex-
primeiro lugar no ranking mundial de as- pressão e mais dez ações sobre a garantia
sassinatos de pessoas trans no mundo. Os do direito à igualdade de gays, lésbicas,
dados colhidos para o dossiê são frutos de travestis, transexuais e bissexuais (GLTTB).
pesquisa sobre notícias e notificações de As questões relativas ao direito à saúde e a
assassinatos de pessoas trans no país. Tal eliminação da discriminação institucional
metodologia se justifica pela dificuldade da população LGBTQIA+ passam a incluir a
de notificação por parte das secretarias da terceira versão no PNDH (PNDH 3).
Segurança Pública dos estados, assegu- Em relação aos dados estatísticos e
rando que há uma ampla subnotificação às estratégias legais e políticas públicas
de tais casos de violência. Ainda de acor- específicas à população LGBTQIA+, perce-
do com o Dossiê 2020, foram registradas bemos no Brasil uma imensa lacuna, além
184 notícias de mortes de pessoas trans, da dificuldade de execução das poucas
lançadas no mapa dos assassinatos de vias legais já existentes, o que nos leva a
2020. A partir do levantamento feito pela afirmar que há uma forte tendência a des-
Antra, desses 184 assassinatos, 175 foram cumprir preceitos básicos dos direitos fun-
de pessoas que expressavam o gênero fe- damentais do cidadão quando se trata de
minino, o que aponta outra questão muito populações específicas como a LGBTQIA+.

Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 155


Ilustração de
Maria Júlia Sousa
de Oliveira com
intervenção de
Carlus Campos

É também importante ressaltar que


mercado de trabalho não expressa o
conceito trabalho, mas está muito mais
próximo da tangenciação de empregos e
atividades remuneradas. Isso implica evi-
denciar um primeiro recorte indispensável
para que qualquer análise nessa perspec-
tiva possa vir a ser cuidadosamente ob-
servada. Portanto, quando anunciamos
trabalho, estamos evidenciando a força
de trabalho de uma pessoa possível de
ser implementada, por exemplo, em um
emprego e/ou atividade remunerada, mas
não apenas. O sociólogo Karl Marx, a partir
da relação dialética entre classes, eviden-
cia a produção material como resultante
de tal dialética a partir da força de traba-
lho da classe proletária, necessária para a
preservação da classe burguesa e para a
manutenção básica da própria existência.

4 Neste momento, nossa análise não


busca aprofundar-se nas fundamentações
teóricas das amplitudes de conceitos e
suas aplicabilidades, mas faz-se impor-
tante ressaltar tais implicações para futu-

POPULAÇÃO LGBTQIA+ E
ras análises e para que não haja generali-
zações superficiais a partir dos dados que
fundamentarão a leitura que se segue.

MERCADO DE TRABALHO Assim, quando pretendemos realizar

Q
uma explanação a respeito de promo-
uando falamos em mercado de cado de trabalho” como mantenedor de ção de cidadania e defesa dos direitos
trabalho, não estamos falando possibilidades formativas, de saúde, de humanos, é imprescindível apontar que
apenas de uma atividade que manutenção básica da vida, enfim. Dada o recorte utilizado a partir da população
será realizada durante um pe- a importância do consumo e expectativa LGBTQIA+ está contido em todas as esfe-
ríodo de tempo para obtenção de vida, o mercado de trabalho, tão cita- ras possíveis de análises estruturais, tan-
de renda. Essa leitura de mer- do e anunciado como vilão ou salvador da to no que diz respeito à força de trabalho
cado de trabalho pode ocorrer dentro dos pátria, precisa ser não apenas observado, quanto em sua utilização para empregos
lares e pela própria vida. No entanto, para mas fomentado, com um olhar atento e e/ou atividades remuneradas. Isso impli-
que realizemos uma análise com maior com ações práticas para que sua impor- ca afirmar que evidenciar dados, mar-
amplitude e expressividade nacional, faz- tância seja concreta e funcional, na vida cos legais e ações efetivas de promoção
-se necessário visualizar o nicho “mer- de qualquer indivíduo ou sujeito social. de cidadania são parte indispensável da

156 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


5
própria atividade de promoção e de di-
reitos humanos, pois aborda trajetórias,
obstáculos e transformações – tanto que
DOS DOCUMENTOS
ocorreram como as que ainda precisam
ocorrer para que as desigualdades sejam OFICIAIS ÀS FRENTES
DE AÇÕES
sempre objetos e ações de superação e/
ou transformações sociais.

D
Para este momento, portanto, serão uti-
lizados dados da Coqual, grupo que se au- os documentos federais que de”. Dessas dez ações que estão entre os
tointitula uma consultoria de populações mais se destacam para a pro- pontos 240 e 249, existe no ponto 245 um
subrepresentadas no local de trabalho; moção da cidadania dos grupos primeiro momento que pode ser interpre-
dados do Transemprego, o maior portal de que implicam as vulnerabilida- tado como voltado para o mercado de tra-
vagas e currículos para pessoas trans do des mais recorrentes no Brasil, encontra- balho. Esse ponto anuncia a necessidade
Brasil; e os documentos federais balizado- mos o PNDH. Esse documento é composto de “estimular a formulação, implementa-
res para a construção de políticas públicas por três momentos históricos e de registro ção e avaliação de políticas públicas para
na área dos direitos humanos: o Programa distintos e, ao mesmo tempo, complemen- a promoção social e econômica da comu-
Nacional de Direitos Humanos (PNDH) II e tares. É necessário evidenciar que as po- nidade GLTTB”. (BRASIL, 2002, p.51)
III, respectivamente de 2002 e 2009. Essas líticas públicas no Brasil podem e devem Essa comunidade é muito ampla e,
referências são abrangentes e expressam perpassar as três esferas possíveis de rea- para cada segmento representado nas
dados e propostas amplas que podem ser lização, que, por mais que interligadas, são letras expressas, há importâncias, possi-
utilizadas, posteriormente, para um olhar também autônomas para a apropriação bilidades, leituras sociais e econômicas
mais criterioso e objetivo nos diversos ter- dos programas e planos balizadores distintas. No entanto, por ser um docu-
ritórios que o Brasil contempla. governamentais. Isso significa dizer que os mento de amplitude macro, nota-se a in-
governos estaduais e municipais, mesmo terligação dessa população múltipla em
estando abaixo hierarquicamente do um nicho único de assistência e direitos
governo federal, são contidos de autonomia legalmente estabelecidos.
não apenas para propor política inclusiva Para além desse detalhe crucial das
ou promocional própria, desde que não multiplicidades da população LGBTQIA+,
fira as esferas superiores, como também sigla atualmente aceita e disseminada
para criar, a partir de programas e planos entre os movimentos sociais do país, há
federais, um modus operandi próprio, da- de ser ressaltada a alocação dessa popu-
das as diversidades amplas cultural, social lação a partir das violências que a aco-
e econômica que o Brasil expressa ter. mete. Essa questão fica evidente quando,
Assim sendo, quando analisamos o no mesmo documento, temos os outros
PNDH II (2002), podemos notar que há um nove pontos ressaltando a importância
espaço reservado para a população GLT- da promoção de estímulos a campanha
TB, sigla oficializada na época, que com- de conscientização e sensibilização de
porta dez ações que buscam, dentro das profissionais de diversas áreas, a criação
especificidades expressas, uma exclusivi- de atendimentos especializados em vio-
dade no olhar atento para essa população lência e discriminação, e de levantamen-
alocada em “garantia do direito à igualda- to de dados sobre violências e discrimi-

Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 157


nações ocorridas contra essa população. Tais documentos não deixam de ser não fazem uso de políticas sobre discri-
Assim sendo, sobra-lhe apenas um único uma promoção à cidadania, visto que minação de gênero em suas empresas,
ponto de possibilidade de implementa- os dados dessa população ainda não levando em consideração que 75 países
ção de políticas públicas para a economia compõem integralmente as pesquisas observados nessa pesquisa criminali-
da população GLTTB, neste momento. populacionais do território brasileiro. zam condutas sexuais realizadas por
Em 2009 o PNDH III realiza nova inser- Entretanto, é necessário ressaltar a im- pessoas do mesmo sexo.
ção governamental e no objetivo estraté- portância de cada governo em caminhar O Brasil, nessa mesma pesquisa,
gico V temos a garantia do respeito à livre sempre em busca não exclusivamente de está entre os países aliados de LGBT por
orientação sexual e identidade de gênero. obtenção de dados, mas de ações efeti- conter leis protetivas a esta população,
Nesse documento, já podemos visualizar vas que promovam a defesa dos direitos como também é o caso da África do Sul,
ações programáticas subdividas por áreas humanos de forma ampla e factual. do Reino Unido e dos Estados Unidos,
responsáveis por ação. De maneira bem Ainda de maneira ampla, podemos vi- por exemplo. No entanto, um dado sal-
objetiva, no decreto n7.037 da Casa Civil sualizar o trabalho internacional realiza- ta aos olhos quando percorremos um
subdivide-se em Eixos Orientadores e Di- do pela Coqual a partir de um infográfico pouco mais o documento. Na tabela a
retrizes para cada eixo. O objetivo estraté- que reforça alguns dados importantes seguir é possível vermos as implicações
gico citado está na Diretriz 9 – Combate às para a população global LGBT, sigla uti- diretas na vida de trabalhadores/as
desigualdades estruturais, contido no Eixo lizada em suas pesquisas. Nesse infográ- LGBT, no que diz respeito às suas iden-
Orientador II do mesmo decreto. O item h fico podemos visualizar os dados de que tidades, nas empresas que serviram de
desse objetivo é o que tangencia e eviden- 75% dos empregadores/as analisados fundamento para esse estudo.
cia o mercado de trabalho. Nele lê-se
Realizar relatório periódico de acom-
panhamento das políticas contra dis-
criminação à população LGBT, que con-
tenha, entre outras, informações sobre
inclusão no mercado de trabalho, assis-
tência à saúde integral, número de viola-
ções registradas e apuradas, recorrências
de violações, dados populacionais, de
renda e conjugais.
Nesse sentido, os documentos que
de alguma maneira são marcos para a
população LGBTQIA+ no Brasil ainda es-
tão na busca por levantamento de dados
que concretizem essa população como
atuante no mercado de trabalho e ativi-
dades remuneráveis.

Ilustração de
Carlus Campos

158 | Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Como podemos visualizar, buscan-
do a especificidade do Brasil, vemos um
Atualmente, o projeto administra 22.537
usuáries, mantém parceria com 715 empre- Referências
dado expressivo no que diz respeito aos sas no território nacional e, no período de BRASIL. Anuário Brasileiro de Segurança Pública
empregados/as. De acordo com o gráfico, um ano, colaborou para o emprego de 794 2020. Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
49% dos/as empregados/as analisados/ profissionais trans. No site há também da- Disponível em: <https://forumseguranca.org.
br/wp-content/uploads/2021/02/anuario-2020-
as estão de alguma forma assistidos/as dos sobre a escolaridade des usuáries, gê-
final-100221.pdf>
em suas vidas profissionais e, ainda as- nero e cor/raça, visto que toda essa discus-
BRASIL. Ministério da Saúde. POLÍTICA
sim, minimizam suas identidades LGBT, são não se faz sem a interseccionalidade NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DE LÉSBICAS,
por algum motivo. Há também 61% que estar presente e ser pedra basilar. GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS.
não evidenciam suas identidades LGBT O que evidenciamos, portanto, é que, Brasília-DF. 2010. Disponível em: http://
no ambiente de trabalho. ao falarmos e buscarmos a promoção da www.abglt.org.br/docs/PoliticaNacional_
Há importância na visualização desses cidadania e defesa dos direitos humanos SaudeIntegral_LGBT.pdf. Acesso em: 19 de
março de 2017.
dados, pois eles entram em acordo com para a população LGBTQIA+, por mais que
as ações que o PNDH III, por exemplo, tenhamos a validação legal das ações para BENEVIDES, Bruna G., NOGUEIRA, Sayonara
Naider Bonfim (Orgs.). Dossiê dos assassinatos
evidencia como necessárias levando em promoção e direitos, muitas vezes esse pa- e da violência contra travestis e transexuais
consideração o Combate às desigualdades pel ainda é realizado em demasia por gru- brasileiras em 2020. São Paulo: Expressão
estruturais. Em todos os mercados ana- pos de base social, que carecem de apoios Popular, ANTRA, IBTE, 2021. Disponível em:
lisados nessa pesquisa, as pessoas LGBT governamentais para a manutenção de suas <https://antrabrasil.org/assassinatos/>
ou estão “no armário” ou evidenciadas a propostas. Nesse sentido, governamental- MISKOLCI, Richard. Teoria Queer: um
partir das políticas de proteção/inclusão. mente é imprescindível que marcos legais aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte:
Por fim, para que possamos verificar se tornem, concretamente, investimentos Autêntica Editora, 2017.
uma ação propositiva advinda de um mo- nas estruturas de proteção social e nas es- PONTES et al. LGBTfobia no bairro
Benfica: violência e políticas públicas
vimento social no Brasil, podemos obser- truturas de educação econômica e práticas
em foco. VIII Jornada Internacional
var o trabalho realizado no Transempre- de inclusão para essa população no Brasil, Políticas Públicas. 2017. Disponível em:
go, um projeto social idealizado a partir perpassando por seus estados e municípios. <http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/
das observações advindas, primeiramen- Por ser uma população múltipla e que joinpp2017/pdfs/eixo6/lgbtfobianobairro
te, pela preocupação no enfoque da edu- comporta uma multiplicidade identitária, benficaviolenciaepoliticaspublicasemf>
cação e informação para a sociedade para além dos documentos federais, es- QUINALHA, Renan. O mito fundador de
brasileira como um todo, mas que, após tados e municípios precisam se atentar Stonewall. In.: Revista Cult, Edição 246. 2019.
Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/
o surgimento da Associação Brasileira de aos levantamentos de dados da popula-
home/o-mito-fundador-de-stonewall/>
Transgêneros (Abrat), funda o Transem- ção LGBTQIA+ para que assim possam,
UNAIDS. Guia de Terminologia do UNAIDS. 2017.
prego com a prerrogativa da importância efetivamente, realizar um trabalho conci- Disponível em: <https://unaids.org.br/wp-
da manutenção das vidas trans no mer- so e coeso com a realidade de cada terri- content/uploads/2017/10/WEB_2017_07_12_
cado de trabalho formal brasileiro. tório, visando dessa forma à abertura de GuiaTerminologia_UNAIDS.pdf?=e7c8b3c974>
possibilidades de trabalhos formais que
incluam, cada vez mais, essa mesma po-
pulação em busca de condições da manu-
tenção de uma vida passível de ser vivida,
que implica menos violência e mais opor-
tunidades profissionais.

Curso Proteção Social: Programa Integrado de Educomunicação | 159


Autores Ilustradores (as)
Desenhos originais das crianças Ana Luiza Travassos de
Cláudia Maria Inácio Costa Oliveira Carvalho, Anny Rammyli Nascimento da Silva,
Tem graduação em Serviço Social pela Universidade Antônia Travassos de Oliveira Carvalho, Bárbara Vazzoler
Estadual do Ceará e mestrado em Políticas Públicas e Villar, Beatriz Vazzoler Villar, Bernardo Saraiva Pinheiro, Davi
Sociedade também pela Uece. É doutoranda no programa Bogea Caldas, Fernanda Vitória de Almeida Matos, Francisco
de pós-graduação em Sociologia na Universidade Federal do Mateus Braga da Silva, Guilherme Araújo Carvalho, João
Ceará (UFC), onde colabora como pesquisadora no Núcleo Vazzoler Villar, João Victor Batista Veloso, Júlia Nogueira
de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividades - de Holanda, Luanna Madureira Marques, Lucas Mesquita
NUSS. Esteve como pesquisadora colaboradora do Núcleo de Mororó, Lucas Sobreira de Araújo, Maia Alease Lima Oliphant,
Pesquisas Sociais da Uece-Nupes e pesquisadora membro Maria Clara Negreiros Lobo, Maria Júlia Sousa de Oliveira,
do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Mariana Negreiros Lobo, Mariana Vazzoler Villar, Mateus
Gênero e Família Nuafro/Uece. Atua como professora Saldanha Félix, Maurício Rafael Cipriano Gomes,
substituta do curso de Serviço Social da Universidade Rafaela Microni Santos, Thalita Sophia Moreira da
Estadual do Ceará. Foi servidora pública, ocupando o Silva, Yasmin Microni Santos, Yasmin Monteiro
cargo de Assistente Social na prefeitura de Caucaia-CE. Gomes Bezerra, que participaram da Oficina de
Suas pesquisas têm foco na grande área de Sociologia, Ilustração com Joana Brasileiro Barroso, com
com ênfase em Sociologia da Juventude, relacionando intervenção artística de Carlus Campos.
às questões de gênero, sexualidade, cidadania e políticas
públicas. É produtora, apresentadora e cocriadora do
podcast de divulgação científica feminista Elas Pesquisam.

Cin Falchi
É Doutor pela Unesp-Marília em Filosofia da Educação,
professor da rede pública do estado de São Paulo e professor
de Educação Infantil da rede municipal de Marília. É Doutor
em Filosofia da Educação pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp-Marília. Tem
graduação em Filosofia (bacharel - 2010 / licenciatura-2011)
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
– Unesp-Marília e graduação em Pedagogia pelo Instituto
Superior de Educação Alvorada Plus (2015). É Mestre pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho –
Unesp-Marília, na área de Educação, com ênfase em Filosofia
da Educação. Tem experiência na área de Filosofia e Filosofia
da Educação, atuando principalmente nos seguintes
temas: filosofia da educação, erótica e sexualidades,
questões de gênero na Filosofia da Diferença.

Ilustração de Júlia
Nogueira de Holanda
com intervenção de
Carlus Campos

APOIO REALIZAÇÃO

III

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