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Ilustração de João
Victor Batista Veloso
com intervenção de
Carlus Campos
PROMOÇÃO
DA CIDADANIA
E DEFESA DOS
DIREITOS HUMANOS
PARA A POPULAÇÃO
LGBTQIA+
Cláudia Maria Inácio Costa
Cin Falchi
APOIO REALIZAÇÃO
III
Copyright©2021 Fundação Demócrito Rocha
Este curso é parte integrante do Curso de Capacitação sob o tema PROTEÇÃO SOCIAL na modalidade
de Educação a Distância (EaD), em decorrência do Contrato celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha
e a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos - SPS , sob o nº 143/20.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 148
REFERÊNCIAS 159
Ilustração de Júlia
Nogueira de Holanda
com intervenção de
Carlus Campos
1
fomentar a garantia dos direitos funda-
mentais de cada cidadão e cidadã, respei-
tando e reconhecendo a diversidade em
torno das orientações sexuais, afetivas e
identidades de gêneros.
Este fascículo se divide, então, em
A
luta LGBTQIA+, iniciando com a discussão
o falarmos sobre população É importante apresentar já aqui o sobre as políticas de saúde, pensando-a
LGBTQIA+ no Brasil, muitas porquê da várias letras e significados como um Direito Humano básico e sendo
questões nos são tensionadas, das siglas. Desde que os movimentos este o ponto de partida histórico da or-
especialmente no campo da ci- começaram a tomar forma e organizar-se, ganização política das populações LGB-
dadania e direitos humanos. Ao contrário houve uma prevalência das nomenclaturas TQIA+. Em seguida, trataremos sobre os
do que o senso comum muitas vezes apre- gays e lésbicas, já mais organizados direitos e a LGBTfobia no Brasil, elemento
goa, a luta por direitos por parte desta po- politicamente. Contudo, outras represen- importante para compreendermos a vio-
pulação é um capítulo longo e de muitos tações foram se formando, organizando lência e o acesso aos direitos fundamen-
anos na nossa história, tendo seu marco e somando forças ao movimento. Não tais de cidadania da população LGBTQIA+.
nas décadas de 1960 e 1970, não por aca- há de se romantizar e pensar que houve Em consonância ao acesso aos direitos,
so, décadas marcadas por movimentos consenso desde o princípio, mas, desde a será tratado sobre a configuração do mer-
que reivindicavam a ampliação dos direi- década de 1990, há um esforço para que o cado de trabalho para a população LGBT-
tos sociais e civis de populações até então movimento represente toda a diversidade QIA+ e, em seguida, os documentos legais
excluídas do conceito de cidadania. que existe nele, sendo essa diversidade que balizam as ações e luta por direitos.
A POPULAÇÃO LGBTQIA+
Nogueira de Holanda
com intervenção de
O
Carlus Campos
3
como uma doença sexualmente transmis-
sível (DST)3, colocando no foco grupos de
indivíduos que não seguiam a ordem sexu-
al historicamente vigente. Nesse sentido,
as construções sobre a doença, a forma
como a sociedade a encarou (encara) e
mitos construídos em torno das suas vi-
vências e formas de contágio acabam por
nutrir uma “resposta conservadora à Re- POPULAÇÃO
LGBTQIA+ E SAÚDE
volução Sexual” (MISKOLCI, 2017) em cur-
so tanto no Brasil como em todo o mundo.
Podemos afirmar, então, que a aids foi
um elemento que catalisou as lutas dos
NO BRASIL
N
movimentos gays, lésbicos e de travestis
(especialmente), como forma de se con- a análise documental da legislação brasileira sobre a
trapor à investida conservadora contra tais área saúde e legislações do Brasil, no que diz respeito
grupos, que tinham na resistência política às políticas públicas para LGBTQIA+, podemos observar
a via para denúncia contra os ataques aos que o cenário legal do Sistema Único de Saúde (SUS)
seus direitos fundamentais de existência. está mais bem ancorado em decretos, planos e políticas nortea-
2 Termos referenciados a partir dos documentos da
doras de ações que visem à promoção e às estratégias para que
UNAIDS, 2017. tal promoção possa ser implementada, do que a área do trabalho,
3 Atualmente a nomenclatura e sigla utilizadas são: In- enquanto empregabilidade, por exemplo.
fecções Sexualmente Transmissíveis – IST. Tal denomi-
nação passou a ser utilizada a partir de 2016, quando Por mais que haja a interconexão das áreas para que possa exis-
da publicação do Decreto nº 8.901/2016 publicada no tir o acesso integral e pleno à cidadania e defesa dos direitos hu-
Diário Oficial da União em 11.11.2016, em que orienta
a substituição e apresenta a justificativa de que o ‘D’ manos, é importante ressaltar que cada área de atuação é formada
(doença) se refere a sintomas e sinais perceptíveis no por especificidades que carecem de ações próprias para a manu-
indivíduo, ao passo que ‘I’ (infecções) podem ser assin-
tomáticas ou manter-se por períodos assintomáticos,
tenção e o acesso de grupos heterogênicos, o que faz com que as
porém possíveis de serem transmitidas. práticas precisem ser pensadas a partir de suas especificidades.
POPULAÇÃO LGBTQIA+ E
ras análises e para que não haja generali-
zações superficiais a partir dos dados que
fundamentarão a leitura que se segue.
Q
uma explanação a respeito de promo-
uando falamos em mercado de cado de trabalho” como mantenedor de ção de cidadania e defesa dos direitos
trabalho, não estamos falando possibilidades formativas, de saúde, de humanos, é imprescindível apontar que
apenas de uma atividade que manutenção básica da vida, enfim. Dada o recorte utilizado a partir da população
será realizada durante um pe- a importância do consumo e expectativa LGBTQIA+ está contido em todas as esfe-
ríodo de tempo para obtenção de vida, o mercado de trabalho, tão cita- ras possíveis de análises estruturais, tan-
de renda. Essa leitura de mer- do e anunciado como vilão ou salvador da to no que diz respeito à força de trabalho
cado de trabalho pode ocorrer dentro dos pátria, precisa ser não apenas observado, quanto em sua utilização para empregos
lares e pela própria vida. No entanto, para mas fomentado, com um olhar atento e e/ou atividades remuneradas. Isso impli-
que realizemos uma análise com maior com ações práticas para que sua impor- ca afirmar que evidenciar dados, mar-
amplitude e expressividade nacional, faz- tância seja concreta e funcional, na vida cos legais e ações efetivas de promoção
-se necessário visualizar o nicho “mer- de qualquer indivíduo ou sujeito social. de cidadania são parte indispensável da
D
Para este momento, portanto, serão uti-
lizados dados da Coqual, grupo que se au- os documentos federais que de”. Dessas dez ações que estão entre os
tointitula uma consultoria de populações mais se destacam para a pro- pontos 240 e 249, existe no ponto 245 um
subrepresentadas no local de trabalho; moção da cidadania dos grupos primeiro momento que pode ser interpre-
dados do Transemprego, o maior portal de que implicam as vulnerabilida- tado como voltado para o mercado de tra-
vagas e currículos para pessoas trans do des mais recorrentes no Brasil, encontra- balho. Esse ponto anuncia a necessidade
Brasil; e os documentos federais balizado- mos o PNDH. Esse documento é composto de “estimular a formulação, implementa-
res para a construção de políticas públicas por três momentos históricos e de registro ção e avaliação de políticas públicas para
na área dos direitos humanos: o Programa distintos e, ao mesmo tempo, complemen- a promoção social e econômica da comu-
Nacional de Direitos Humanos (PNDH) II e tares. É necessário evidenciar que as po- nidade GLTTB”. (BRASIL, 2002, p.51)
III, respectivamente de 2002 e 2009. Essas líticas públicas no Brasil podem e devem Essa comunidade é muito ampla e,
referências são abrangentes e expressam perpassar as três esferas possíveis de rea- para cada segmento representado nas
dados e propostas amplas que podem ser lização, que, por mais que interligadas, são letras expressas, há importâncias, possi-
utilizadas, posteriormente, para um olhar também autônomas para a apropriação bilidades, leituras sociais e econômicas
mais criterioso e objetivo nos diversos ter- dos programas e planos balizadores distintas. No entanto, por ser um docu-
ritórios que o Brasil contempla. governamentais. Isso significa dizer que os mento de amplitude macro, nota-se a in-
governos estaduais e municipais, mesmo terligação dessa população múltipla em
estando abaixo hierarquicamente do um nicho único de assistência e direitos
governo federal, são contidos de autonomia legalmente estabelecidos.
não apenas para propor política inclusiva Para além desse detalhe crucial das
ou promocional própria, desde que não multiplicidades da população LGBTQIA+,
fira as esferas superiores, como também sigla atualmente aceita e disseminada
para criar, a partir de programas e planos entre os movimentos sociais do país, há
federais, um modus operandi próprio, da- de ser ressaltada a alocação dessa popu-
das as diversidades amplas cultural, social lação a partir das violências que a aco-
e econômica que o Brasil expressa ter. mete. Essa questão fica evidente quando,
Assim sendo, quando analisamos o no mesmo documento, temos os outros
PNDH II (2002), podemos notar que há um nove pontos ressaltando a importância
espaço reservado para a população GLT- da promoção de estímulos a campanha
TB, sigla oficializada na época, que com- de conscientização e sensibilização de
porta dez ações que buscam, dentro das profissionais de diversas áreas, a criação
especificidades expressas, uma exclusivi- de atendimentos especializados em vio-
dade no olhar atento para essa população lência e discriminação, e de levantamen-
alocada em “garantia do direito à igualda- to de dados sobre violências e discrimi-
Ilustração de
Carlus Campos
Cin Falchi
É Doutor pela Unesp-Marília em Filosofia da Educação,
professor da rede pública do estado de São Paulo e professor
de Educação Infantil da rede municipal de Marília. É Doutor
em Filosofia da Educação pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp-Marília. Tem
graduação em Filosofia (bacharel - 2010 / licenciatura-2011)
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
– Unesp-Marília e graduação em Pedagogia pelo Instituto
Superior de Educação Alvorada Plus (2015). É Mestre pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho –
Unesp-Marília, na área de Educação, com ênfase em Filosofia
da Educação. Tem experiência na área de Filosofia e Filosofia
da Educação, atuando principalmente nos seguintes
temas: filosofia da educação, erótica e sexualidades,
questões de gênero na Filosofia da Diferença.
Ilustração de Júlia
Nogueira de Holanda
com intervenção de
Carlus Campos
APOIO REALIZAÇÃO
III