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Doenças no Sistema de plantio direto

O SPD é a forma de manejo conservacionista que envolve todas as técnicas


recomendadas para aumentar a produtividade, conservando ou melhorando
continuamente o ambiente. Fundamenta-se em três premissas básicas: não revolvimento
do solo, formação de palha e rotação de culturas.

O SPD aumenta a ocorrência de doenças pois cria condições favoráveis à


sobrevivência e multiplicação dos fitopatógenos necrotróficos (que se alimentam de
tecidos mortos – agentes causais de manchas foliares e podridões radiculares) nos restos
culturais deixados no solo, é de se esperar um aumento da incidência de doenças.
Entretanto, no SPD ocorre a adoção da rotação de culturas, e esta tem grande
importância na sustentabilidade desse sistema, em geral não se observa o aumento da
ocorrência de doenças quando a rotação é adotada, utilizando espécies não hospedeiras.
Por outro lado, caso se tente fazer o plantio direto em monocultura, todas as doenças
causadas por parasitas necrotróficos aumentam de intensidade.

Do ponto de vista fitopatológico, a sustentabilidade do SPD sustenta-se em três


técnicas integradas de manejo: utilização de sementes sadias e tratadas com fungicidas;
uso de cultivares resistentes e adoção da rotação de culturas. Considerando a
possibilidade de não se dispor de cultivares resistentes a várias doenças de importância
econômica, e também ao fato de que nem sempre uma cultivar resistente a uma doença
é a mais aceita sob o ponto de vista agronômico, a falta de cultivares resistentes não
deve ser fator limitante para a adoção do SPD. Mas, a utilização de sementes sadias e
tratadas com fungicidas e a adoção da rotação de culturas devem ser obrigatórios no
SPD. Com isto, evita-se a introdução de patógenos em campos de cultivo instalados
neste sistema, bem como a sua reintrodução em áreas cultivadas em SPD nas quais a
doença já ocorreu, mas, em função da adoção de práticas eficientes de controle (rotação
de culturas, por exemplo), ficou livre da mesma, uma vez que não há restos culturais
infectados servindo como fonte de inóculo.

A maioria das doenças de importância econômica que ocorrem nas culturas


normalmente empregadas no SPD é causada por patógenos que podem ser transmitidos
pelas sementes. Conforme comentado anteriormente, o tratamento das sementes com
fungicidas, mais do que necessário, é obrigatório no SPD. A adoção desta prática é
recomendada para evitar que as sementes introduzam os parasitas necrotróficos na
lavoura. No entanto, o mesmo só será eficiente nos campos em que a lavoura é cultivada
em rotação de culturas, ou seja, onde não há resto cultural infectado e servindo como
fonte de inóculo. 

Do ponto de vista da sustentabilidade da agricultura, são inegáveis os inúmeros


benefícios da adoção do SPD. Entretanto, considerando a extensão territorial do Brasil,
deve-se admitir que as condições edafoclimáticas são totalmente diferentes de uma
região para outra, contribuindo grandemente para a diferenciação dos problemas
fitossanitários.Isto quer dizer que doenças que são importantes numa região poderão não
ser em outra. Desta forma, torna-se oportuno deixar claro que o SPD não é a solução
definitiva para todos os problemas fitossanitários. Entretanto, deve-se sempre ter em
mente que independentemente da região onde o SPD será adotado, torna-se obrigatória
a adoção da rotação de culturas juntamente com a utilização de sementes sadias e
tratadas com fungicidas, como maneira de viabilizá-lo. Desta forma, espera-se que pela
prática do manejo integrado a sustentabilidade econômica e ecológica seja alcançada.

Entre as doenças que incidem sobre a soja, o mofo-branco (Sclerotinia


sclerotiorum (Lib) de Bary), também conhecido como podridão-de-esclerotínia, tem se
destacado como uma das mais graves. O patógeno sobrevive no solo por meio de
estruturas de resistência chamadas de escleródios. De acordo com GORGEM (et al
2009)o uso de cobertura vegetal com palhada de Brachiaria ruziziensis, da aplicação de
Trichoderma harzianum 1306 é eficiente para o controle do mofo branco, quando a soja
é instalada em logo após feito o manejo estudado.

A irrigação é essencial para o cultivo do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) para o


cultivo do feijoeiro de sequeiro e o de inverno. Quando se tem temperatura amena e a
umidade, favorece o desenvolvimento de Sclerotinia sclerotiorumy, causador do mofo-
branco do feijoeiro. A umidade do solo, fornecida pela chuva ou irrigação, é um fator
essencial para o desenvolvimento da doença. Para que a germinação carpogênica ocorra,
os escleródios devem receber luz suficiente ( Phillips, 1987), Uma das maneiras de se
restringir a luz para os escleródios é cobrir o solo com material palhoso. Segundo
NAPOLEÃO (et al, 2005) a intensidade da doença, a produção de escleródios e a
formação de apotécios foram menores no sistema de plantio direto do que no
convencional. Finalmente, em ambos os experimentos foi detectado cerca de quatro
vezes mais escleródios no resíduo da trilhadora no plantio convencional que no plantio
direto, mostrando que a produção de inóculo para as safras subseqüentes no plantio
convencional é muito maior que no direto.

A utilização de palha como cobertura de solo pode resultar no aumento ou na


redução da incidência de doenças na cultura, uma vez que isso depende do manejo da
produção. Neto e Blum (2010), ao compararem o feijão produzido com adição de palha
de milheto e o produzido sem palhada e com adubo químico, concluíram que houve
redução na severidade da doença podridão do colo (Sclerotium rolfsii) em feijoeiro.

Além disso, também há uma redução no desenvolvimento de doenças nas


culturas e menores danos causados pelas mesmas ao se trabalhar com plantio direto e
rotação de cultura, ao invés da monocultura. Casa et al. (2011), ao avaliar a incidência
de podridões radiculares em feijoeiros, no Rio Grande do Sul, apresentou dados que
mostram que os danos no rendimento de grãos são baixos ao se trabalhar em área de
plantio direto com rotação de culturas com milho no verão e trigo no inverno, devido ao
sistema de rotação e sucessão de culturas utilizando cereais.

Em um sistema de plantio direto, a rotação de culturas mantém na superfície de


plantio os restos culturais das espécies utilizadas no sistema. Contudo, esses restos
culturais contribuem para a disseminação de fitopatógenos de cereais, sobretudo de
inverno. Dentre tais patógenos, destacam-se as manchas foliares do trigo Drechslera
tritici-repentis (Died), a mancha marrom, causada por Bipolaris sorokiniana (Sacc.), e
a septoriose, causada por Stagonospora nodorum (Berk) (REIS, 1994).

Prestes et al., 2003, avaliaram os efeitos de práticas culturais na incidência de


manchas foliares, causadas por Drechslera tritici-repentis, Bipolaris sorokiniana e
Stagonospora nodorum, e no rendimento de grãos de trigo. Comparando quatro
sistemas de manejo de solo, dentre eles o plantio direto, cultivo mínimo e preparo
convencional com arado de discos + grade de discose preparo convencional do solo com
arado de aivecas + grade de discos) e três sistemas de rotação de culturas.

A ocorrência de manchas foliares de trigo foi mais elevada sob monocultura e


sob plantio direto do que nos sistemas de rotação de culturas. Tal rotação, viabilizou o
plantio direto, em relação ao controle de manchas foliares, e assegurando a estabilidade
do rendimento de grãos de trigo.

Silva & Prabhu (2004), avaliaram o progresso da brusone (Pyricularia grisea) e o


conteúdo de clorofila nas folhas de arroz de terras altas, no sistema de plantio direto e
convencional.

Esta doença é responsável por danos consideráveis em sistemas de plantio


direto, reduzindo a área foliar verde e a atividade fotossintética do tecido afetado,
sobretudo em áreas onde não é realizado o controle químico.

Entretanto, as taxas de progresso da brusone nos dois sistemas foram


semelhantes, contudo foi possível notar uma relação linear, positiva e significativa entre
o conteúdo de clorofila e a severidade de brusone nas folhas.

Segundo Valle (et al 1997), as principais espécies de gramíneas forrageiras


(andropogon, braquiária, braquiarão, Tanzânia) mostraram eficiente no controle do
nematoide Heterodera glycines. Na rotação de cultura com a soja, as espécies de
braquiárias se mostraram eficiente no controle do nematoide, as forrageiras seria uma
boa opção para a rotação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASA, R.T. et al. Podridão radicular em feijão no sistema plantio direto. Revista de
Ciências Agroveterinárias, Lages, v.10, n.1, p. 37-43, 2011.

NETO, J.V.P.; BLUM, L.E.B. Adição de palha de milheto ao solo para redução da
podridão do colo em feijoeiro. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 40, n. 3,
p. 354-361, jul./set. 2010.

GORGEM, C. A.; NETO A.N.S.; CARNEIRO, L.C. Controle do mofo-branco com


palhada e Trichoderma harzianum 1306 em soja. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.44,
n.12, p.1583-1590, dez. 2009

PHILLIPS, A.J.L. Carpogenic germination of sclerotia of Sclerotinia sclerotiorum: a


review. Phytophylactica 19:279-283. 1987.

NAPOLEÃO, R.; ADALBERTO C. CAFÉ FILHO; NASSER, L. C. B. Intensidade do


Mofo-Branco do Feijoeiro em Plantio Convencional e Direto sob Diferentes Lâminas
d’Água. Revista Fitopatologia Brasileira 30:374-379. 2005.

PRESTES, A. M; SANTOS, H. P; REIS, E. M. Práticas culturais e incidência de


manchas foliares em trigo. Pesq. agropec. bras., Brasília, v. 37, n. 6, p. 791-797, jun.
2002

SILVA, G, B; PRABHU. Progresso da Brusone nas folhas no plantio direto e


convencional de Arrroz de Terras Altas. Fitopatol. bras. 29 (3), maio – jun 2004

VALLE, L. A. C.; FERRAZ, S.; DIAS, W. P. Controle do Nematóide de Cisto da Soja,


Heterodera glycines Ichinohe, com Gramíneas Forrageiras. Universidade Federal de
Viçosa, Departamento de Fitopatologia, publicado 27/01/97.

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