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Neste sugere que o ensino, seja lá do que for, é sempre o ensino de uma visão do
objeto e de uma relação com ele. Isto vale para o nosso objeto: a língua; e
mais ainda para os fenômenos aos quais nos dedicamos aqui: o texto, os
gêneros e a compreensão.
Em primeiro lugar, isto é assim porque o trabalho com texto não tem um limite
superior ou inferior para exploração de qualquer tipo de problema linguístico,
desde que na categoria texto se incluam tanto os falados como os escritos.
Mas o problema não reside só nas formas de acesso ao texto e sim nas formas
de sua apresentação. Quanto a essa inadequação, sabe-se que os textos
escolares, sobretudo nas primeiras séries, padecem de problemas de organiza
ção linguística e informacional. Por vezes, eles carecem de coesão, formando
Assim, a resposta pode ser dada na medida em que se postula que a escola não
ensina língua, mas usos da língua e formas não corriqueiras de comunicação
escrita e oral. O núcleo do trabalho será com a língua no contexto da
compreensão, produção e análise textual.
O falante de urna língua deve fazer-se entender e não explicar o que está
fazendo com a língua.
Embora não seja necessário, é sempre fundamental explicar com que noção
de língua se trabalha, quando se opera com categorias tais como texto ou
discurso, já que disto dependerão muitas das posições adotadas.
Em todos os casos, observa-se que discurso é visto como uma prática e não
como um objeto ou um artefato empírico. Parece que esta noção de prática é
o que permitirá levar em conta os fenômenos extralinguísticos para não cair no
subjetivismo.
A língua pode ser vista — e foi vista — de vários ângulos teóricos, mas nós
adotaremos uma posição bem definida para o trabalho com a produção textual
na perspectiva sociointerativa.
Assim, a postura geral aqui adotada pode ser caracterizada como textual-
discursiva na perspectiva sociointerativa, isto é, consideramos o texto em seu
aspecto tanto organizacional interno como seu funcionamento sob o ponto de
vista enunciativo.
Uma das tendências mais comuns na linguística do século XX, até recentemente
— típica do estruturalismo —, foi centrar-se no estudo do código, isto é, na
análise de propriedades imanentes ao sistema de signos da língua. Trata va-se
do que podemos chamar de uma linguística do significante. Assim, surgiram os
conhecidos níveis de análise linguística, tais como o fonológico
Portanto, vamos admitir que a língua é uma atividade interativa, social e mental
que estrutura nosso conhecimento e permite que nosso conhecimento seja
estruturado. Enquanto fenômeno empírico, a língua não é um sistema abstrato
e homogêneo.
Pode-se admitir, ainda, que a língua é uma atividade cognitiva. Pois ela não é
simplesmente um instrumento para reproduzir ou representar ideias (pois a
língua é muito mais do que um espelho da realidade). A língua é tam bém muito
mais do que um veículo de informações. A
Em suma, pode-se dizer que o sujeito não é nem assujeitado nem totalmente
individual e consciente, mas produto de uma clivagem da relação entre linguagem
e história. Em não sendo totalmente livre, nem determinado por alguma
exterioridade, o sujeito se constitui na relação com o outro e, como lembra
Possenti, citado acima, o sujeito não é a única fonte do sentido, pois ele se
inscreve na história e na língua.
O texto pode ser tido como um tecido estruturado, uma entidade significa tiva, uma
entidade de comunicação e um artefato sociohistórico. De certo modo, pode-se
afirmar que o texto é uma (re)construção do mundo e não uma simples refração ou
reflexo
Sob um ponto de vista mais técnico, a LT pode ser definida como o estu do das
operações linguísticas, discursivas e cognitivas reguladoras e controladoras
da produção, construção e processamento de textos escritos ou orais em
contextos naturais de uso.
A questão à qual devemos responder é: como e onde situar o texto nos estudos
linguísticos, já que as definições de texto não fazem alusão a nenhum dos níveis
linguísticos de análise? O texto está no nível do sistema ou é simplesmente um
fenômeno do funcionamento do sistema? Aqui, as posições teóricas têm variado.
Segundo Ferdinand de Saussure [1916], por exemplo, a frase não é uma unidade
da langue e sim da parole (do uso, da fala); Noam Chomsky [1965] e [1986], por
sua vez, já tem na frase a unidade básica da língua (mas sua preocupação se
volta para a competência linguística ideal e abstrata e não para a frase em
uso). A Chomsky, como vimos, não interessa o desempenho.
Na operação com a língua, lidamos mais do que com um simples uso de regras,
sejam elas de sequenciação ou outras quaisquer. O que aqui está em ação é
um conjunto de sistemas ou subsistemas que permitem às pessoas
interagirem por escrito ou pela fala, escolhendo e especificando sentidos me -
diante a linguagem que usam. Uma das tendências atuais é a de não distinguir
de forma rígida entre texto e discurso, pois se trata de frisar mais as relações
entre ambos e considerá-los como aspectos complementares da atividade
enunciativa. Trata-se de "reiterar a articulação entre o plano discursivo e
textual".
Isso implica afirmar que os textos são, na realidade, os objetos empíricos aos
quais temos acesso direto como o "plano dos observáveis", na visão de Culioli.
Enquanto unidades empíricas, os textos seriam "produções linguísticas atestadas
que realizam uma função comunicativa e se inserem numa prática social".
Parece claro que o contexto pode ser visto como uma rede de textos que
dialogam tanto de modo negociado como conflituoso. Contrato e conflito
fazem parte dos movimentos da produção de sentido.