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DIÁLOGOS

Suicídio e eutanásia
Enquanto a vida humana for considerada inestimável e
insubstituível, deve-se agir de forma deliberada para protegê-la
POR DAISAKU IKEDA | 09 NOV 2017
Trechos do diálogo entre o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, e o historiador britânico, Dr. Arnold Toynbee. Ambos debateram

amplamente sobre assuntos polêmicos.

Dr. Daisaku Ikeda: O senhor concorda que o suicídio é contrário à dignidade básica da vida?

Dr. Arnold Toynbee: Acho que privar outra pessoa da vida é o maior mal. A decisão de extinguir ou não a própria vida deve, na minha
opinião, caber ao julgamento ponderado de cada indivíduo. Analogamente, aprovar um ato suicida pode depender das circunstâncias
particulares de cada caso. Se uma pessoa não está compos mentis, acho que dever ser impedido de cometer suicídio, desde que a
prevenção seja possível. Mesmo que esteja no seu juízo perfeito (compos mentis), deve-se impedir o suicídio, quando isso for possível,
se ela parece agir por impulso, como reação a uma dificuldade que faz a vida parecer-lhes insuportável no momento, mas que, no

julgamento de outras pessoas, poderia ser removida se o desesperado for impedido de acabar com a vida.

Dr. Daisaku Ikeda: Considero prazer e dor complementares no sentido lógico, e no mesmo nível no sentido ético. Acho que a pessoa

deve ser advertida para não sacrificar a vida por amor ao prazer (como às vezes acontece no abuso de narcóticos) nem para escapar da
dor.

Toynbee: Defino a eutanásia como matar um ser humano não para puni-lo nem para proteger dele outras pessoas, mas como um ato

de compaixão. A pessoa, em seu juízo perfeito, talvez queria morrer e pode pedir a alguém que o mate porque julga insuportável
continuar viva. A doença ou a incapacitação podem tornar-se intoleráveis, ou ele talvez creia que é incompatível com a própria

dignidade humana ser um fardo para outras pessoas, ou ainda, esteja recebendo atenção e cuidados médicos especializados que, na
sua opinião, poderiam ser aplicados em benefício de outros pacientes. Deve ser rejeitado o pedido dessa pessoa para que acabem com

a sua vida? Acho que não.


Ikeda: Se concordamos que a eutanásia deve ser admitida em certas condições, é convincente a sua sugestão sobre a maneira de
decidi-la. Contudo, não posso concordar com a interrupção da vida por meios físicos, químicos ou quaisquer outros meios externos.
Se as pessoas vierem a considerar a eutanásia plenamente aceitável, não é possível, por exemplo, que os velhos, que, por motivo de
doença vivem recolhidos ao leito e dependem do cuidado de terceiros pelos quais nada mais podem fazer em troca, venham a sentir-
se culpados simplesmente pelo fato de continuarem vivos? Em caso como esse, reconhecer a eutanásia como uma forma de
compaixão poderia corromper toda a sociedade. Prazer e dor não têm valor moral intrínseco, ao passo que a vida tem uma dignidade
para a qual não há similar. Por isso, nem prazer nem dor podem pesar tanto na balança do julgamento como a dignidade da vida.

Toynbee: De acordo com a doutrina cristã, o ser humano que comete suicídio pratica uma ofensa contra Deus. Ele usurpa
prerrogativas de Deus. Só Deus tem o direito de decidir em que momento o ser humano deve morrer. Não acredito na existência de

um Deus com características humanas.

Ikeda: A interpretação budista é inteiramente outra. Segundo nossa maneira de pensar, é a força maior da vida que merece reverência,
não uma divindade antropomórfica. Consequentemente, em consonância com a dignidade da vida, é errado a pessoa matar, mas é
bom prolongar a vida por qualquer período possível, desde que essa ação não envolva sacrifício para outros seres humanos. Posso

supor que os cristãos, até certo ponto, pelo menos, concordavam em que é errado tirar a vida — não importa de quem —, mas não é

errado prolongá-la? Claro que é impossível fornecer prova objetiva da continuidade ininterrupta da vida. Em consequência, atitudes
em relação à eutanásia e ao suicídio, a partir dessa premissa objetivamente inverificável, têm de ser uma questão de fé. Mas enquanto

a vida humana for considerada inestimável e insubstituível, a ação deliberada de extingui-la não pode ser perdoada.

Fonte:
Brasil Seikyo, ed. 2.117, 28 jan. 2012, p. A3

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