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Rio de Janeiro
2008
1
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Rio de Janeiro
2008
2
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
_______________________________________________________________
Prof. Marcelo P. Sucena - D. C.
_______________________________________________________________
Profa Maria Cristina de Fogliatti Sinay – PhD.
_______________________________________________________________
Profa Vânia Gouveia Barcelos Campos – D. C.
_______________________________________________________________
Rio de Janeiro
2008
3
AGRADECIMENTOS
4
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.............................................................................................. 04
SUMÁRIO ............................................................................................................. 05
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ..................................................................................... 07
LISTA DE TABELAS .............................................................................................. 10
RESUMO ............................................................................................................... 11
5
3.5 – ÁRVORE DE FALHAS .................................................................................. 56
6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
7
Figura 22: Compressor refrigerado a ar ................................................................. 45
Figura 23: Estrutura típica de um truque de locomotiva Fonte KITAMURA (2006)
................................................................................................................................ 46
Figura 24: Curva da banheira. Fonte: SUCENA (2008) ......................................... 50
Figura 25: Padrões de falhas nas três gerações. Fonte: SUCENA (2008) ............ 50
Figura 26: Símbolos de eventos da árvore de falhas. Fonte: Análise de Falhas
(Aplicação dos Métodos de FMEA – FTA) – Fonte: HELMAN et al.(1995) ........... 59
Figura 27: Símbolos de portas lógicasda árvore de falhas. Fonte: Análise de Falhas
(Aplicação dos Métodos de FMEA – FTA) - Fonte: HELMAN et al.(1995)
................................................................................................................................ 60
Figura 28: Matriz para determinação dos cortes mínimos. Fonte: SUCENA (2008)
................................................................................................................................ 61
Figura 29: Malha Ferroviária da MRS Logística S.A. Fonte: MRS Logística S.A.
(2006) ..................................................................................................................... 62
Figura 30: Evolução do transporte anual de cargas da MRS e projeção de
expansão. Fonte: MRS Logística S.A. (2008) ........................................................ 63
Figura 31: Produção Ferroviária em Bilhões de TKU. Fonte: ANTF. (2008) ......... 64
Figura 32: Volume transportado Milhões de TU. Fonte: ANTF (2008) .................. 64
Figura 33: Trem Hora Parado Devido a Falhas e Falta de Locomotivas X Meses
(setembro de 2007 a agosto de 2008. Fonte: MRS Logística S.A. (2008) ............ 66
Figura 34: Número de Defeitos entre os dias 01/07 e 24/07/08. Fonte: MRS
Logística S.A. (2008) .............................................................................................. 67
Figura 35: Número de Reboques entre os dias 01/07 e 24/07/08. Fonte: MRS
Logística S.A. (2008) .............................................................................................. 68
Figura 36: KMED entre os meses de novembro de 2007 e julho de 2008. Fonte:
MRS Logística S.A. (2008) ..................................................................................... 69
Figura 37: MKBF entre os meses de novembro de 2007 e julho de 2008. Fonte:
MRS Logística S.A. (2008) ..................................................................................... 70
Figura 38: Retrabalho em turbo alimentadores GM durante os anos de 2007 e 2008
................................................................................................................................ 71
Figura 39: Arranjo típico de turbo alimentador. Fonte: Manual GM ....................... 73
Figura 40: Vista em corte do turbo alimentador. Fonte: Manual GM ..................... 74
Figura 41: Conjunto cavilhado do turbo. Fonte: Manual GM ................................. 75
8
Figura 42: Seção de engrenagens de acionamento. Fonte: Manual GM .............. 76
Figura 43: Seção do compressor. Fonte: Manual GM ........................................... 77
Figura 44: Rotor ou conjunto rotativo. Fonte: Manual GM ..................................... 78
Figura 45: Seção da turbina. Fonte: Manual GM ................................................... 79
Figura 46: Conjunto da embreagem de sobrevelocidade. Fonte: Manual GM ...... 80
Figura 47: Locomotiva SD40-2. Fonte: MRS Logística S.A ................................... 82
Figura 48: Detalhe das “orelhas de elefante”. Fonte: MRS Logística S.A ............. 83
9
LISTA DE TABELAS
10
RESUMO
O modal ferroviário no Brasil, nos últimos anos, tem apresentado um grande
crescimento em volume de transporte de cargas. A tendência deste crescimento é
se manter para os próximos anos. E para atender tal demanda faz-se necessário
que as ferrovias estejam preparadas no que tangem os seus processos e grupos
de ativos.
A Manutenção dos Ativos tem um papel fundamental no cenário de
crescimento da demanda, principalmente, no que está relacionado à qualidade da
manutenção, já que ela está diretamente ligada às questões de segurança,
confiabilidade e disponibilidade dos grupos de ativos.
Objetivando isto, pode-se utilizar a Manutenção Centrada em Confiabilidade
(MCC), pois é uma metodologia voltada para maximização da confiabilidade e
segurança operacional, por intermédio de planejamento sistêmico e com foco na
função do sistema, além da possibilidade de minimização dos custos e impactos
ambientais. A MCC propõe intervenções baseadas na condição do equipamento,
ao invés de intervenções baseadas no tempo de operação do mesmo.
A MCC pode utilizar diversas ferramentas para auxiliar o seu desenvolvimento,
dentre elas destacam-se a Análise da Árvore de Falhas (FTA – Fault Tree
Analysis), Análise dos Modos e Efeitos de Falhas (FMEA – Failure Modes and
Effect Analysis) e Análise dos Modos, dos Efeitos e da Criticidade das Falhas
(FMECA – Failure Modes, Effects and Criticality Analysis).
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo a análise de utilização da
técnica Árvore de Falhas como subsídio para implementação da MCC na MRS.
Pretende-se ainda avaliar este processo, sob os aspectos pertinentes à
restauração dos componentes mecânicos da Oficina de Recuperação de
Componentes de Locomotivas.
11
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 - INTRODUÇÃO
O sistema ferroviário brasileiro, desde a primeira ferrovia inaugurada em
1852 por Barão de Mauá, passa por constantes modificações institucionais. Por
exemplo, CAIXETA-FILHO et al. (2001) registra três ciclos distintos do sistema
ferroviário brasileiro:
Primeiro Ciclo: início, no final do século XIX, com a instalação das
primeiras ferrovias financiadas pelo capital privado inglês e mediante
concessões do governo;
Segundo Ciclo: caracterizou-se pelo processo de nacionalização das
ferrovias. Para se ter uma idéia, em 1929 o Estado detinha 67% das
companhias ferroviárias brasileiras e era responsável pela administração
de 41% da rede;
Terceiro Ciclo: o estágio atual em que se encontram as ferrovias
brasileiras após o processo de desestatização da Rede Ferroviária
Federal S.A (RFFSA).
12
Melhorar a qualidade dos serviços.
1.2 – OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é a análise da utilização da técnica Árvore de
Falhas (AF) como subsídio para a implementação da Manutenção Centrada em
Confiabilidade (MCC) em oficinas de material rodante ferroviário. Como forma de
validar o emprego da AF pretende-se realizar estudo de caso desta técnica sob os
aspectos pertinentes à recuperação de componentes mecânicos da oficina de
Recuperação de Componentes de Locomotivas, na MRS Logística S.A.
1.3 – JUSTIFICATIVA
Sabe-se que os veículos são parte integrante dos sistemas de transporte, e
que sem utilização correta deles, o nível de serviço produtivo deve ser degradado.
Algumas partes destes veículos apresentam particularidades quanto ao seu
grau de criticidade perante o sistema como um todo. Visto isso e avaliando-se os
dados de manutenção da MRS Logística, detectou-se alto índice de retrabalho
durante os anos de 2007 e 2008 devido às falhas prematuras na operação,
caracterizando uma baixa confiabilidade dos ativos.
13
Além disso, nota-se também que o retrabalho afeta diretamente, de forma
negativa, o ambiente de trabalho das oficinas de campo, das células de trabalho da
oficina de recuperação de componentes e o moral de todos os seus colaboradores.
Tais falhas propiciam um grande transtorno para as oficinas, principalmente
para aquelas voltadas para manutenção de veículos ferroviários, pois influenciam
na disponibilidade dos veículos para a operação ferroviária, impactando
diretamente nos seus indicadores e, conseqüentemente, nas suas metas.
Para vencer o desafio de minimizar as falhas críticas em veículos
ferroviários, aumentando a sua disponibilidade, pretende-se, neste trabalho, utilizar
a Análise da Árvore de Falhas (FTA – Fault Tree Analysis).
Com a implantação da Árvore de Falhas no processo de recuperação de
componentes críticos de locomotivas esperam-se alguns ganhos, tais como:
Aumento da confiabilidade dos componentes;
Aumento da disponibilidade das locomotivas;
Eliminar os retrabalhos;
Otimizar o atendimento aos clientes;
Melhorar o clima das células e o moral dos colaboradores;
Aumento do volume transportado em relação às falhas em locomotivas;
Redução de indicadores de operação da empresa, tais como Trem Hora
Parado (THP), Locomotiva Hora Parada (LHP), Número de Defeitos,
Número de Reboques, KMED e MKBF.
O THP tem como finalidade medir o tempo total que o trem ficou parado
devido a algum evento. Estes eventos serão definidos no capítulo 4.
O indicador LHP tem como objetivo medir o valor financeiro total de uma
locomotiva imobilizada devido à alguma falha.
O KMED é o indicador que considera a quilometragem total dividida pelo
somatório do número de defeitos e o número de reboques.
O MKBF é o indicador que considera a quilometragem total dividida pelo
número de reboques.
14
1.4 - METODOLOGIA PROPOSTA
Para se atingir o objetivo deste trabalho, pretende-se seguir a seguinte
metodologia:
Desenvolver pesquisa bibliográfica sobre os temas Material Rodante,
Manutenção Centrada em Confiabilidade e Árvore de Falhas a fim de
obter embasamento teórico sobre a técnica utilizada;
Identificar a base de dados sobre índice de retrabalho de componentes
mecânicos na MRS, para estudo de caso, a fim de selecionar os
componentes críticos, ou seja, aqueles componentes que apresentaram,
nos últimos tempos, um elevado índice de retrabalho e
conseqüentemente uma baixa confiabilidade;
Detectar a base de dados sobre as falhas que o componente crítico eleito
no tópico anterior apresentou para que se tenha todas as informações
necessárias à montagem da árvore de falhas;
Desenvolver estudo sobre a metodologia Árvore de Falhas baseando-se
nas informações referentes às falhas com intuito de adquirir maior
conhecimento sobre AF e as suas fórmulas de análise;
Avaliar os resultados obtidos.
15
CAPÍTULO 2 – SUBSISTEMAS FERROVIÁRIOS
16
Circulação interna, manobras e estacionamento de veículos ferroviários.
17
Segundo VENÂNCIO (2008) sistema de comunicação é um conjunto de
mecanismos que possibilita processar e transportar a informação entre estações e
equipamentos diversos.
O sistema de comunicação é responsável pela intercomunicabilidade entre
todos os equipamentos envolvidos no sistema ferroviário. Ele controla, endereça e
gerencia todo o fluxo de dados trocados no sistema.
Vagões são veículos ferroviários responsáveis pelo transporte de cargas,
não possuindo tração própria.
Podem ser classificados de acordo com a sua finalidade, tais como:
Tipo de produto a ser transportado;
Tipo de terminal de carga e descarga;
Tipo de proteção exigida para a carga;
Condições geométricas e operacionais das ferrovias onde irá circular;
Interação com os demais veículos existentes na frota.
18
Tabela 01 – Categoria de vagões e características especiais de cada categoria. Fonte: ABNT.
19
Tabela 02 – Classificação de vagões de acordo com peso máximo admissível para cada bitola.
Fonte: ABNT.
20
Tabela 04 – Regionais as quais os vagões pertenciam. Fonte: ABNT.
2.2 LOCOMOTIVAS
Atualmente a maior parte das locomotivas utilizadas para transporte de
carga utilizam a tração diesel-elétrica, ou seja, um motor diesel gera energia
mecânica através do calor gerado pela queima da mistura ar e combustível dentro
dos cilindros do motor. A energia mecânica é transferida a um alternador/gerador
acoplado a este motor transformando-a em energia elétrica que é transferida para
os motores de tração acoplados aos rodeiros, conjunto formado por eixo, rodas e
rolamentos, a fim de tracionar as locomotivas.
As locomotivas ainda podem utilizar somente a energia elétrica como fonte
de energia para tração. Este tipo de tração é bastante empregado no Brasil para
transporte de passageiros.
Para exemplificar a complexidade de ligações e a quantidade de
componentes envolvidos em uma locomotiva, a figura 01 ilustra um desenho
esquemático de uma locomotiva SD40-2.
21
Figura 01 - Principais componentes de uma locomotiva SD40-2. Fonte: KITAMURA (2006).
22
ainda modelos de locomotivas que utilizam o gerador-auxiliar ou a
excitatriz para dar partida no motor;
Com o motor diesel em funcionamento, a energia mecânica é fornecida,
por intermédio de eixos e acoplamentos, acionando diretamente
geradores elétricos e também, na maioria das locomotivas, o
compressor;
O gerador auxiliar carrega as baterias, fornecendo corrente contínua em
baixa voltagem para os circuitos de controle, de iluminação e de
excitação do gerador principal. Alguns modelos de locomotivas utilizam a
excitatriz para excitar o gerador principal;
O gerador principal/alternador, dependendo do modelo da locomotiva,
converte a energia mecânica do motor diesel em energia elétrica,
fornecendo corrente contínua ou alternada, que é retificada
posteriormente, em alta voltagem aos motores de tração para o
tracionamento da locomotiva;
Pelo uso dos comandos localizados na cabine, vários circuitos de baixa
tensão são estabelecidos para acionar o governador do motor diesel, os
contatores, as chaves e relés do armário de controle. Estes
equipamentos elétricos ao funcionarem, completam outros circuitos ou
produzem os efeitos desejados para a operação da locomotiva;
Os motores de tração estão acoplados aos truques da locomotiva, cada
um engrenado a um eixo trator diferente. Eles recebem a energia elétrica
do gerador principal através de circuitos estabelecidos pelos contatores
localizados no armário de controle;
Os truques recebem e distribuem o peso da locomotiva às rodas
motrizes;
A alavanca de aceleração comanda eletricamente o governador, que
está instalado no motor diesel, controlando sua velocidade e potência.
Em locomotivas com motor diesel com injeção eletrônica o comando da
aceleração do motor diesel não é realizado pelo governador, e sim por
uma unidade governadora eletrônica (EGU);
Nas locomotivas cuja rotação do motor diesel é controlada pelo
governador, existe um regulador de carga, cuja função é evitar
23
sobrecarga ou subcarga elétrica do motor diesel. Como o próprio nome já
diz, ele regula a carga elétrica sobre o motor diesel em todas as posições
da alavanca de aceleração. Já nas locomotivas mais modernas esta
função é desempenhada por um controle microprocessador;
O compressor fornece ar, sob pressão, aos reservatórios de ar para freiar
o trem.
24
Os motores de combustão interna podem ser de dois ou quatro tempos
possuindo ciclos de trabalho que são um conjunto de fases sucessivas necessárias
para transformar a energia calorífica do combustível em energia mecânica.
A frota da MRS é composta por locomotivas GM que possuem motores
diesel de dois tempos e locomotivas GE com motores de quatro tempos.
Os motores dois tempos possuem dois cursos e necessitam apenas de uma
revolução do eixo virabrequim para completar o seu ciclo de trabalho que tem seu
início no PMI e uma explosão a cada PMS.
A figura 02 ilustra o ciclo de trabalho de um motor diesel dois tempos em
função da energia calorífica do combustível.
Figura 02 – Ciclo de trabalho de um motor diesel dois tempos. Fonte: BORBA (2008).
25
Figura 03 – Lavagem do cilindro. Fonte: KITAMURA (2006).
26
Figura 05 – Tempo motor. Fonte: KITAMURA (2006).
27
A figura 07 ilustra o funcionamento de um motor dois tempos turbo
alimentado.
Figura 08 – Ciclo de trabalho de um motor diesel quatro tempos. Fonte: BORBA (2008).
28
Quando pistão atinge o PMI e parte deste em sentido ao PMS, tem-se o
segundo tempo do motor, também conhecido como tempo de compressão.
Neste momento a válvula de admissão fecha-se e o ar comprimido no
interior do cilindro sofre uma forte compressão.
Ao final deste tempo o cilindro encontra-se novamente no PMS, as válvulas
de admissão e escape estão fechadas e o ar está comprimido em um espaço
reduzido denominado câmara de combustão ou câmara de compressão. Neste
exato momento o eixo virabrequim já executou uma revolução completa.
O terceiro tempo do motor, ou tempo de combustão, inicia-se com a injeção
de combustível pressurizado alguns graus antes do pistão atingir o PMS.
A mistura ar-combustível inflama-se, aumentando a pressão ainda mais, e
empurra o pistão em direção ao PMI, transmitindo ao eixo virabrequim uma força
motriz favorável a rotação. Este fenômeno é conhecido como tempo motor.
Ao se aproximar do fim do terceiro tempo, a válvula de escape começa a se
abrir e os gases queimados são expulsos do interior do cilindro por intermédio do
movimento de retorno do pistão para o PMS. Este é o quarto tempo, ou tempo de
exaustão.
Ao final do movimento de retorno do cilindro para o PMS, a válvula de
escape se fecha e a válvula de admissão se abre dando início a um novo ciclo.
A figura 09 ilustra o que foi descrito sobre os ciclos de um motor quatro
tempos.
Para alimentar com combustível o motor diesel faz-se necessária a
utilização de uma bomba de sucção para sugar e bombear o óleo diesel contido no
tanque de combustível até o motor.
O combustível bombeado passa por tubulações, mangueiras e filtros até
chegar às bombas injetoras, onde apenas uma quantidade de combustível será
injetada a uma alta pressão dentro do cilindro, o restante do combustível escorre
internamente pelo injetor, lubrificando-o e refrigerando-o, até a linha de retorno de
combustível.
Este combustível chega à válvula de contrapressão, localizada no visor do
combustível de retorno. Quando a válvula se abre o combustível circula pelo visor e
segue para o tanque de combustível.
29
Figura 09 – Ciclos de um motor quatro tempos. Fonte: KITAMURA (2006).
O óleo diesel que passa pelo visor deve estar limpo e isento de bolhas de ar
para garantir que o seu fornecimento ao motor seja satisfatório. Se surgirem bolhas
de ar no visor, durante a passagem de combustível, é um indício da entrada de ar
ou gases no sistema, o que irá comprometer a alimentação do motor.
30
Além do visor de retorno existe outro denominado visor de desvio, ou visor
de by-pass. Dentro dele está instalada a válvula de alívio.
O visor de desvio deverá permanecer sempre vazio. Quando o combustível
atingir este visor, a válvula de alívio irá atuar permitindo o retorno do óleo diesel ao
tanque sem alimentar o motor.
A figura 10 ilustra um diagrama típico do sistema de combustível de um
motor GM.
2.2.2 GOVERNADOR
O governador é um componente eletro-hidráulico responsável por regular a
rotação do motor diesel através do controle da quantidade de combustível
fornecida aos cilindros. Para qualquer ponto de rotação do governador é mantida
constante a rotação do motor diesel independente das condições variáveis da
carga.
Além desta função o governador regula a potência constante de saída do
motor diesel para cada posição específica de rotação, controlando a carga do
31
motor. O controle da carga é possível através do controle da intensidade da
corrente de excitação no campo do gerador principal para compensar as variações
de cargas elétricas aplicadas no mesmo e mais aquelas que resultam das cargas
auxiliares variáveis.
O governador caracteriza-se por ser uma unidade independente possuindo
seu próprio suprimento de óleo e a sua própria bomba de pressão de óleo. O
governador é controlado pelo acelerador instalado no painel principal de operação.
Além das funções descritas anteriormente, o governador possui algumas
funções auxiliares que serão descritas a seguir:
Controle remoto do acelerador para os oito pontos de rotação e uma
posição de desligamento do motor diesel;
Sobrepassagem de operação normal do controle de patinação das rodas
e na frenagem dinâmica;
Para locomotivas GE U20C e U23CA o governador possui dispositivos
moduladores de carga e de desligamento automático do motor diesel em
caso de falha por baixa pressão de óleo lubrificante e de água;
Dispositivo de controle de carga e limitador de combustível por equilíbrio
de pressão do ar do turbo alimentador fornecido ao motor diesel;
O controle de carga por equilíbrio de pressão reduz a carga do motor
diesel através do reostato de controle de carga, quando a pressão de ar
fornecida pelo turbo alimentador cai abaixo de um valor predeterminado,
evitando assim temperaturas excessivas dos gases de exaustão;
O controle de limite de combustível por equilíbrio de pressão funciona
durante as mudanças de rotação e as alterações de carga do motor
diesel. Ele limita a quantidade de combustível entregue ao motor até que
exista pressão do ar suficiente para perfeita combustão, reduzindo assim
o excesso de fumaça na exaustão e conseqüente consumo de
combustível;
32
Figura 11 – Governador do motor diesel GM. Fonte: Manual GM.
33
A abertura gradual da válvula despressuriza a linha sensível de pressão de
óleo do governador e conseqüentemente desliga o motor diesel. Este dispositivo é
auto resetável, ou seja, após a redução da temperatura o dispositivo volta à sua
condição normal.
Existe ainda um dispositivo de sobrevelocidade do motor diesel que impede
o excesso de rotação, cerca de 10% acima da rotação de oitavo ponto é
considerado como excesso.
Este dispositivo quando acionado trava todos os bicos injetores impedindo
que o combustível alcance a câmara de combustão dos cilindros.
O funcionamento deste dispositivo se dá através de contrapesos giratórios e
um mecanismo de mola.
A figura 12 ilustra o dispositivo de sobrevelocidade do motor diesel GM.
34
O sistema de construção do filtro obriga o ar a mudar de trajetória
bruscamente, as partículas pesadas contidas no ar não conseguem acompanhar
esta mudança de trajetória na mesma velocidade, devido à sua inércia, e sendo
assim prosseguem na mesma trajetória até atingirem um obstáculo. As partículas
se chocam contra o obstáculo e descem para uma caixa onde serão coletadas
através de um exaustor e expelidas para o ambiente externo da locomotiva.
Cerca de 1/3 do ar isento de partículas pesadas é aspirado pelo motor
diesel, onde o ar é novamente filtrado por um filtro tipo “sacola”.
O restante do ar é aspirado pelos sopradores dos motores de tração e do
gerador principal.
O soprador dos motores de tração aspira o ar dentro de um compartimento
selado e o direciona para as galerias existentes no estrado da locomotiva, onde o
ar vai ser dividido e encaminhado para arrefecer os motores de tração, o armário
elétrico e os mancais dos ventiladores de resfriamento das resistências do freio
dinâmico.
O soprador do gerador principal aspira o ar e o direciona para o interior do
gerador principal para arrefecer o mesmo e o alternador companheiro que está
localizado no mesmo eixo. Ao sair do gerador principal, o ar irá pressurizar o
compartimento interno da locomotiva, desde que a mesma esteja com todas as
portas laterais trancadas, impedindo que a sujeira externa entre.
O ar que pressuriza o compartimento interno da locomotiva também será
aspirado pelo compressor de ar para atuar no sistema de frenagem do trem.
As figuras 13 e 14 ilustram o sistema de admissão de ar de uma locomotiva
SD40 e o desenho esquemático que o ar percorre em um motor turbo alimentado.
35
Figura 13 – Sistema de admissão de ar da locomotiva SD40. Fonte: KITAMURA (2006).
36
Figura 14 – Desenho esquemático do caminho percorrido pelo ar em um motor turbo alimentado.
Fonte: BORBA (2008).
Em seguida uma bomba de ação dupla aspira o óleo por meio de um coador
de malha fina e o impulsiona para os tubos do óleo de refrigeração dos pistões e
para o coletor principal de óleo que se localiza acima do eixo virabrequim, se
estendendo ao longo de todo o motor. Parte deste óleo irá lubrificar os mancais
principais do eixo virabrequim e os mancais de biela. Esta lubrificação se dá
através da passagem do óleo pelos furos existentes no eixo virabrequim.
Outra parte do óleo contido no coletor principal irá lubrificar os mancais dos
eixos de comando de válvulas e demais mancais, eixos, balancins e pontes.
O lubrificante passa pelo filtro de óleo do turbo alimentador para em seguida
alimentar a linha sensível de pressão de óleo lubrificante, lubrificar os mancais das
engrenagens intermediárias 1 e 2, lubrificar o eixo de acionamento do gerador
auxiliar e lubrificar e refrigerar o turbo alimentador. O óleo lubrifica ainda os dentes
das engrenagens planetárias, intermediárias e de acionamento auxiliar.
Uma parte do óleo irá alimentar a válvula piloto de controle de carga
localizada no governador do motor diesel e na engrenagem de acionamento do
governador.
37
A figura 15 ilustra o sistema de lubrificação descrito acima.
38
Figura 16 – Sistema de Lubrificação do turbo alimentador. Fonte: BORBA (2008).
39
A chave ETS irá alertar o operador quando altas temperaturas forem
atingidas e irá reduzir a potência do motor diesel para protegê-lo.
Para locomotivas microprocessadas as chaves termostáticas são
substituídas por um sensor de temperatura.
A figura 17 ilustra o sistema de refrigeração de uma locomotiva GM.
40
Figura 17 – Sistema de Refrigeração de uma locomotiva GM. Fonte: KITAMURA (2006).
41
Figura 18 – Alternador de uma locomotiva GM. Fonte: Manual GM.
42
O gerador auxiliar se localiza ao lado da excitatriz (nas locomotivas GE) e
também está acoplado ao motor diesel por meio de engrenagens. Sua função é
fornecer energia elétrica para o sistema de baixa tensão e recarregar as baterias.
Estas fornecem energia elétrica ao circuito de baixa potência na partida do motor.
A figura 20 ilustra um modelo de gerador auxiliar de uma locomotiva GM.
43
A figura 21 ilustra uma grade de resistências de freio dinâmico.
Figura 21 – Grade de Resistências de Freio Dinâmico de uma locomotiva. Fonte: Manual GM.
44
ou duas válvulas de admissão e uma ou duas válvulas de descarga, a quantidade
de válvulas no cilindro depende do modelo do compressor.
Para os compressores de três cilindros, dois são de baixa pressão
localizados nas laterais e um de alta, localizado no centro. Para os de seis
cilindros, quatro são de baixa e são localizados nas laterais e dois são de alta e
são localizados no centro do compressor. Já para os compressores de dois
cilindros, um cilindro é de alta e o outro é de baixa pressão. Os pistões dos
cilindros são acionados por um eixo virabrequim do próprio compressor, que se
localiza no interior da carcaça.
O sistema de lubrificação é independente e do tipo forçado através de uma
bomba. O compressor pode ser refrigerado a água ou a ar.
O ar da atmosfera é aspirado e passa por filtros. Ao chegar aos cilindros de
baixa, ele é comprimido a uma pressão de cerca de 55psi. O ar então passa por
um resfriador, cuja função é dissipar parte do calor gerado durante a compressão.
Ar frio ocupa menor espaço do que o ar quente, sendo assim o rendimento do
compressor será maior devido ao aumento da capacidade volumétrica. O resfriador
possui ainda uma válvula de alívio que irá atuar caso a pressão ultrapasse o limite
de 60psi. Ao passar pelo resfriador o ar se dirige ao cilindro de alta, onde será
comprimido a uma pressão que varia entre 125 e 140psi. Após esta etapa o ar é
entregue ao reservatório principal.
Quando a pressão no reservatório principal atingir um valor pré-
estabelecido, uma chave eletro-pneumática comandará um circuito elétrico para
que o ar do reservatório principal chegue até as válvulas de admissão, colocando-
as abertas e fazendo o compressor trabalhar em vazio.
A figura 22 ilustra um modelo de compressor refrigerado a ar.
45
O sistema pneumático é formado ainda por válvulas pneumáticas que
controlam o fluxo de ar do sistema, reservatórios de ar que armazenam o ar
comprimido gerado pelo compressor, cilindro de freio que aciona as sapatas de
freio, tubulações e mangueiras que conduzem o ar por todo o sistema, além dos já
mencionados areeiro, buzina, limpador de parabrisa e sino.
2.2.8 - TRUQUES
Os truques recebem o peso da locomotiva e o distribuem entre os rodeiros e
a via permanente.
A estrutura do truque é composta por duas laterais fundidas que são unidas
por meio de outra estrutura fundida composta por duas transversais. Esta estrutura
é interligada à plataforma da locomotiva por meio de uma travessa flutuante ou
bolster.
A figura 23 ilustra um esquema típico de um truque de uma locomotiva.
46
No bolster está localizado o prato do pião. Entre o bolster e a estrutura do
truque estão instalados molas ou coxins de borracha e aço, cujas funções são
absorver os impactos provenientes da plataforma.
O movimento entre o truque e o bolster é limitado por batentes com chapas
de desgaste, que evitam o excesso de solicitações ao cisalhamento.
O truque recebe a timoneira de freio que são alavancas que multiplicam o
esforço resultante na haste do cilindro de freio até as sapatas que freiam as rodas.
Os pedestais das laterais do truque limitam o movimento dos eixos e
possuem chapas de desgaste que guiam os movimentos das caixas de rolamento.
Os motores de tração se apoiam sobre o eixo por meio de mancais de
suspensão e na estrutura do truque por meio dos coxins de borracha e aço, que
absorvem os choques oriundos do torque do motor de tração.
47
CAPÍTULO 3 – A ATIVIDADE MANUTENÇÃO
48
A primeira geração se caracterizava por possuir máquinas simples,
superdimensionadas e de simples reparação. O tempo de imobilização do
equipamento e a espera de reparação não eram prioridade. Além disso, a
reparação se dava após a falha, ou seja, a intervenção não era planejada. A
concepção da falha era de que a sua ocorrência estava relacionada com o
envelhecimento do equipamento. Este tipo de intervenção é conhecido como
manutenção corretiva, e é justificada quando os custos envolvidos e a segurança
não são considerados como prioridade pela empresa. Diante de uma falha é mais
fácil e barato trocar determinado componente do que estabelecer um plano de
manutenção para o mesmo. A primeira geração se estendeu até a II Guerra
Mundial.
Com a II Guerra Mundial surge a segunda Geração devido o aumento da
demanda por produtos industrializados e a escassez de mão-de-obra. Para suprir
estas necessidades foi preciso aumentar a mecanização nas indústrias,
estabelecendo dependência ainda maior pelas máquinas.
A partir daquele momento, o tempo de imobilização do equipamento durante
a manutenção passou a ser importante e conseqüentemente a prevenção das
falhas.
Neste novo cenário surgiu o conceito de manutenção preventiva, que se
baseava em revisões planejadas realizadas em intervalos fixos. A manutenção
preventiva tem como objetivo reduzir a probabilidade de ocorrência das falhas dos
equipamentos, melhorando o funcionamento do sistema onde o equipamento está
inserido, reduzindo a indisponibilidade e também o estoque de peças de reposição.
Para sua implantação, é necessária a criação de rotinas, roteiros de trabalho,
procedimentos e equipes qualificadas.
Com a manutenção preventiva surgiu também a preocupação com os custos
da manutenção, o que proporcionou o desenvolvimento do planejamento e controle
das atividades de manutenção.
Nesta geração a curva da banheira foi disseminada devido à crescente
conscientização da “mortalidade infantil” dos equipamentos.
A figura 24 ilustra a curva da banheira.
49
Figura 24 - Curva da banheira. Fonte: SUCENA (2008).
50
No período da Terceira Geração surgiram ainda Manutenção Produtiva Total
(MPT), a Manutenção Preditiva e a Manutenção Centrada em Confiabilidade
(MCC), ou em inglês Reliability-Centred Maintenance (RCM).
A Manutenção Produtiva Total (MPT) propõe envolvimento entre os
funcionários do processo produtivo e os da manutenção, buscando a melhoria
contínua através de planejamento, treinamento, controle, foco na segurança,
higiene e meio ambiente.
Para que o programa da MPT seja bem sucedido é necessária a
conscientização e a capacitação dos operadores, buscando-se maior envolvimento,
interesse e o desenvolvimento de habilidades e idéias com o intuito de melhorar a
qualidade da manutenção, o rendimento dos equipamentos, o sentimento de auto-
realização, o espírito de equipe e o relacionamento entre as pessoas.
Na MPT aplica-se o programa dos “oito S”, onde se busca, em termos
práticos, a conscientização de que a participação deve ser a mais ampla possível.
Os “oito S” são:
Seiri: senso de organização;
Seiton: senso de arrumação;
Seiso: senso de limpeza;
Seiketsu: senso de padronização;
Shitsuke: senso de disciplina;
Shido: treinamento;
Seison: eliminar perdas;
Shikari yaro: realizar com determinação e união.
51
Ainda neste contexto, existem alguns balizadores para considerar a “quebra
zero”:
Estruturação das condições básicas;
Obediência às condições de uso;
Regeneração do envelhecimento.
Sanar as falhas do projeto (terotecnologia);
Incrementar a capacitação técnica.
3.3.1. CONFIABILIDADE
Segundo LAFRAIA (2001) a confiabilidade está associada à operação de um
sistema ou produto na ausência de falhas. Em termos de engenharia, a
confiabilidade pode ser definida como a probabilidade de um sistema, ou produto,
de desempenhar adequadamente o seu propósito especificado, por um
determinado período de tempo e sob condições ambientais pré-determinadas.
Para SUCENA (2002) o conceito de confiabilidade está relacionado ao
acontecimento de situações que prejudicam o funcionamento de um produto ou
serviço e em conseqüência, ao usuário que o utiliza, podendo colocar vidas em
risco, causar prejuízos econômicos-financeiros e impactos ambientais.
52
A confiabilidade está relacionada a diversas áreas de aplicação, tais como:
Análise de risco e segurança;
Proteção ambiental;
Qualidade;
Otimização da manutenção;
Projeto de produtos.
3.3.2. DISPONIBILIDADE
Para LAFRAIA (2001) pode-se entender disponibilidade como a habilidade
de um sistema, ou produto, mediante manutenção apropriada, desempenhar sua
função requerida em um determinado instante do tempo ou sobre um período pré-
determinado de tempo.
O conceito de disponibilidade pode variar de acordo com a capacidade de
reparo do sistema ou produto.
Caso o sistema seja não reparável, a disponibilidade se equivale à
confiabilidade.
53
Para sistemas reparáveis os estados do sistema, em um determinado
período de tempo, são “em operação” ou “em manutenção” e a disponibilidade
pode ser calculada pela fórmula:
Disponibilidade = ____MTTF______
MTTF + MTTR
Onde:
MTTF: tempo médio entre falhas;
MTTR: tempo médio até a conclusão dos reparos.
3.3.3. SEGURANÇA
Segundo MOUBRAY (2000) um modo de falha tem conseqüências na
segurança, se causar uma perda da função ou outro dano que poderia ferir ou
matar alguém.
Um modo de falha tem conseqüências ambientais se causar uma perda de
função ou outro dano que poderia levar a romper qualquer regulamento ou padrão
ambiental conhecido.
Segundo SUCENA (2008) modo de falha é o modo pelo qual os elementos
do sistema falham para realizar a sua função.
MOUBRAY (2000) sugere ainda que para modos de falha que têm
conseqüências sobre a segurança ou ao meio-ambiente, uma tarefa pró-ativa só
deve ser feita se reduzir a probabilidade de falha em um nível baixo tolerável.
Caso esta tarefa pró-ativa não possa ser implantada, significa que os riscos
ambientais e a segurança não podem ser prevenidos antecipadamente.
Faz-se necessária alguma ação para tornar o sistema seguro. Esta ação é
classificada como reprojeto e deve ser implementada com os objetivos de:
Reduzir a probabilidade de ocorrência da falha em um nível tolerável;
54
A segurança também pode se referir à segurança ou ao bem-estar da
sociedade. As falhas que afetem esta segurança são classificadas como causas
ambientais.
55
Analysis), a Análise dos Modos e Efeitos de Falhas (FMEA – Failure Modes and
Effect Analysis) e a Análise dos Modos, dos Efeitos e da Criticidade das Falhas
(FMECA – Failure Modes, Effects and Criticality Analysis).
O presente trabalho irá utilizar a ferramenta Árvore de Falhas como suporte
à aplicação da MCC na manutenção dos turbo alimentadores GM utilizados nas
locomotivas SD40-2 e SD40-3 da frota da MRS. Na próxima seção esta ferramenta
será detalhada para balizar o desenvolvimento do estudo de caso.
56
Simplificação e otimização de equipamentos.
57
As figuras 26 e 27 ilustram os símbolos utilizados para os eventos e paras
as portas lógicas respectivamente.
Após a construção da árvore é possível avaliar qual é a precisão e a
veracidade da representação gráfica. Para isso podem ser utilizadas avaliações de
forma direta, análises qualitativas (determinação dos cortes mínimos) e análises
quantitativas (cálculo das probabilidades de ocorrência).
A forma direta de avaliação consiste em construir a expressão lógica para o
evento de topo em termos das combinações de todos os eventos básicos
envolvidos, ou seja, expressa a ocorrência do evento de topo em função de todos
os eventos básicos.
Segundo SUCENA (2008) a análise qualitativa é viabilizada pela
determinação dos cortes mínimos. “Corte” em uma árvore de falhas significa um
conjunto de falhas básicas cuja ocorrência implica na ocorrência do evento topo.
“Corte mínimo” ocorre quando o corte não puder ser reduzido sem perder a sua
condição de corte. Os cortes mínimos são os pontos fracos do sistema sob análise,
quanto menor a ordem do corte, maior é a criticidade do mesmo.
Para se determinar o conjunto dos cortes mínimos foi desenvolvido o
Algoritmo de Vesely-Fussel que determina que portas do tipo “OU” aumentam o
número de cortes mínimos e portas do tipo “E” aumentam o tamanho do corte
mínimo. Deve-se partir da primeira porta antes do evento topo, representando-a
pelas suas entradas até que todas as portas tenham sido substituídas.
A figura 28 ilustra a matriz para determinação dos cortes mínimos.
A quantidade de cortes é representada pelo número de linhas da matriz,
enquanto as colunas indicam a ordem do corte, ou seja, a criticidade das falhas
básicas.
Se não há eventos repetidos na matriz, significa que os conjuntos de cortes
são os conjuntos de cortes mínimos.
A análise quantitativa está relacionada ao cálculo das probabilidades de
ocorrência dos eventos superiores e está atrelada às probabilidades de ocorrência
dos eventos básicos e das ligações entre estas duas categorias de eventos.
De acordo com SUCENA (2008), a análise quantitativa pode ser efetuada
independentemente da análise qualitativa.
58
SÍMBOLOS DE EVENTOS
SÍMBOLO SIGNIFICADO
RETÂNGULO
Eventos associados
a falhas básicas ou
primárias
CÍRCULO
Eventos não
realizados
(omitidos)
DIAMANTE
Parâmetro associado
a um evento que deve
ser monitorado
CASA
Evento condicional:
usado em janelas de
inibição
OVAL
Indica a conexão
com outro evento
TRIÂNGULO
Figura 26 - Símbolos de eventos da árvore de falhas. Fonte: Análise de Falhas (Aplicação dos
Métodos de FMEA – FTA) – Fonte: HELMAN et al.(1995).
59
SÍMBOLOS DE PORTAS LÓGICAS
Evento de entrada só
INIBIÇÃO conduz ao de saída se
(CONDICIONAL) o condicional ocorrer
n
Figura 27 - Símbolos de portas lógicasda árvore de falhas. Fonte: Análise de Falhas (Aplicação dos
Métodos de FMEA – FTA) - Fonte: HELMAN et al.(1995).
60
Figura 28 – Matriz para determinação dos cortes mínimos. Fonte: SUCENA (2008).
61
CAPÍTULO 4 – ESTUDO DE CASO
Figura 29 – Malha Ferroviária da MRS Logística S.A. Fonte: MRS Logística S.A. (2006).
62
A figura 30 demonstra a evolução da MRS no transporte anual de cargas e a
projeção do plano de expansão do transporte até o ano de 2011.
63
Figura 31 – Produção Ferroviária em Bilhões de TKU. Fonte: ANTF. (2008).
64
4.2 - ANÁLISE DOS DADOS
Conforme abordado anteriormente, o Índice de Retrabalho impacta
diretamente nos indicadores operacionais e conseqüentemente nas metas da
empresa.
Como exemplo de indicadores operacionais afetados, podem ser citados:
THP: Trem Hora Parado; ou seja a média dos últimos seis meses.
LHP: Locomotiva Hora Parada;
Número de Defeitos;
Número de Reboques;
KMED: quilometragem total percorrida dividida pelo número de
ocorrências, sendo que o número de ocorrências é o somatório do
número de defeitos e o número de reboques;
MKBF: quilometragem total percorrida dividida pelo número de reboques.
A figura 33 ilustra o gráfico de THP, utilizado pela MRS, devido aos três tipos
de ocorrência no tráfego durante o período de setembro de 2007 a agosto de 2008.
Através do gráfico THP é possível avaliar o efeito que as falhas proporcionam à
operação ferroviária.
A linha azul do gráfico refere-se ao evento “601 - Aguardar Defeito de
Locomotiva”, ou seja, indica a quantidade de horas, dentro de cada mês, que os
trens ficaram parados devido à uma falha em alguma locomotiva que estava
tracionando naquele mesmo trem.
A linha marrom refere-se ao evento “605 - Aguardar Defeito de Locomotiva
Trem a Frente” e sinaliza a quantidade horas que os trens ficaram parados devido
à uma falha em uma locomotiva que estava tracionando em uma composição que
estava situada à frente destes trens que ficaram parados.
65
Figura 33 – Trem Hora Parado Devido a Falhas e Falta de Locomotivas X Meses (setembro de 2007
a agosto de 2008. Fonte: MRS Logística S.A. (2008).
66
a retirada imediata da locomotiva da composição em que ela está tracionando. Ela
segue com defeito no trem até a próxima oficina onde será atendida e o defeito
sanado. Esta ocorrência é classificada como defeito e é contabilizada nos
indicadores da operação e das oficinas de campo.
A figura 34 ilustra o gráfico com o indicador Número de Defeitos entre os
dias 01/07 a 24/07/08.
Figura 34 – Número de Defeitos entre os dias 01/07 e 24/07/08. Fonte: MRS Logística S.A. (2008).
67
Figura 35 – Número de Reboques entre os dias 01/07 e 24/07/08. Fonte: MRS Logística S.A.
(2008).
68
KMED
8.000
6.201
7.000
6.240
5.730 5.756 5.897 6.074
6.000 5.454 5.550 5.597
5.000
km
4.000
3.000
2.000
5.957 5.771 5.603 6.910 5.612 5.799 7.102 6.753 5.485
1.000
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL
Pontual Semestralizado Meta KMED semetralizado
Figura 36 – KMED entre os meses de novembro de 2007 e julho de 2008. Fonte: MRS
Logística S.A. (2008).
69
MKBF
70.000
60.000
50.302 52.214
46.544
50.000 44.180 46.006
41.481
38.543 38.179 39.145
40.000
km
30.000
20.000
10.000
56.217 36.525 40.278 59.251 47.243 45.465 59.858 55.712 49.681
-
NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL
Pontual Semestralizado Meta MKBF semestralizado
Figura 37 – MKBF entre os meses de novembro de 2007 e julho de 2008. Fonte: MRS Logística
S.A. (2008).
70
Figura 38 - Retrabalho em turbo alimentadores GM durante os anos de 2007 e 2008.
71
4.4 TURBO ALIMENTADOR GM
O turbo alimentador GM é empregado nas locomotivas SD40-M, SD40-2 e
SD40-3, que utilizam o motor diesel EMD Série 645 (motores de dois tempos) de 8,
12, 16 e 20 cilindros. Todas as locomotivas SD40-2 e SD40-3 da frota MRS
possuem motor diesel de 16 cilindros.
Os componentes do turbo alimentador são projetados de modo a
proporcionar um pico de eficiência, mesmo com a energia dos gases disponíveis à
plena carga, sendo assim os turbo alimentadores não são intercambiáveis entre os
motores de 8, 12, 16 e 20 cilindros.
As figuras 39 e 40 ilustram respectivamente o arranjo típico de um turbo
alimentador para motor diesel EMD Série 645 e uma vista em corte.
72
Figura 40 - Vista em corte do turbo alimentador. Fonte: Manual GM.
73
combustível poderiam ser utilizados compressores de ar ou sopradores, sendo que
tais equipamentos requerem alta potência motora para o seu acionamento.
Se o acionamento mecânico fosse realizado pelo motor diesel, uma
quantidade considerável de potência seria consumida durante o acionamento, o
que reduziria significativamente a potência disponível no eixo do motor.
Ao invés disso, utilizam-se os gases de escape oriundos dos cilindros do
motor diesel, que possuem uma considerável quantidade de energia calorífica,
para acionar o rotor de uma turbina que por sua vez aciona uma roda compressora
de ar (o turbo alimentador) para suprir o sistema com ar de combustão. A plena
carga, a energia calorífica dos gases de escape atinge uma temperatura próxima a
538°C (1000°F) a aproximadamente 96kPa (14psi).
Nas condições normais de operação, a maior parte da potência necessária
para acionar o compressor do turbo alimentador é fornecida pela turbina acionada
pelos gases de escape, o restante (uma parte muito pequena) é fornecida através
do acionamento mecânico. O ar extra suprido pelo acionamento mecânico é
necessário para uma melhor performance do motor diesel.
O conjunto do turbo alimentador é composto por várias seções e
subconjuntos que serão descritos a seguir.
74
requisitos de desempenho. A figura 42 ilustra os componentes da seção das
engrenagens de acionamento.
75
Figura 42 - Seção de engrenagens de acionamento. Fonte: Manual GM.
76
queima do óleo combustível. A figura 45 ilustra os componentes da seção da
turbina.
77
Figura 44 - Rotor ou conjunto rotativo. Fonte: Manual GM.
78
Figura 45 - Seção da turbina. Fonte: Manual GM.
79
Figura 46 - Conjunto da embreagem de sobrevelocidade. Fonte: Manual GM.
80
No regime de carga alta há energia suficiente nos gases de escapamento
para manter o funcionamento do turbo alimentador sem o acionamento mecânico.
81
modulares de controle eletrônico, truques HT-C e muitas outras melhorias. A SD40-
2 foi uma das locomotivas mais vendidas de todos os tempos.
A figura 47 ilustra uma locomotiva SD40-2.
82
Figura 48 - Detalhe das “orelhas de elefante”. Fonte: MRS Logística S.A.
83
Tabela 05 – Levantamento das falhas do turbo alimentador GM ocorridas durantes os anos de 2007
e 2008.
84
12 100
90
10
80
70
Quantidade de Falhas
Porcentagem (%)
8
60
6 50
40
4
30
20
2
10
0 0
Vazamento de óleo Ruído estranho Expelindo óleo pela Expelindo óleo e água Incêndio e roda Grimpamento e
lubrifiante admissão pelo escapamento compressora fratura do turbo
quebrada
Figura 49 – Diagrama de Pareto das falhas do turbo alimentador GM ocorridas durantes os anos de
2007 e 2008.
85
Sendo assim, através da elaboração da árvore de falhas será possível
detectar as causas básicas que provocaram os vazamentos de óleo lubrificante,
entender como funciona o sistema, os seus modos de falha, compilar informações
para manutenção do componente, elaborar procedimentos, testes, inspeções e
treinamento dos mantenedores atuando de forma preventiva.
A figura 51 ilustra a árvore de falhas do turbo alimentador GM para o evento
topo vazamento de óleo lubrificante.
O próximo passo após a construção da árvore de falhas é analisar a
precisão e a veracidade da representação gráfica.
Utilizar-se-á a análise qualitativa pela determinação dos cortes mínimos,
para com isso, determinar-se os pontos fracos do sistema.
Conforme estudado no capítulo 3, “corte” em uma árvore de falhas significa
um conjunto de falhas básicas cuja ocorrência implica na ocorrência do evento
topo. “corte mínimo” ocorre quando o corte não puder ser reduzido sem perder a
sua condição de corte. Quanto menor a ordem do corte, maior é a criticidade do
mesmo.
As falhas básicas foram enumeradas de 1 até 29 e os eventos que levam
até essas falhas foram identificados por letras.
As portas do tipo “OU” aumentam o número de linhas e as portas do tipo “E”
aumentam o número de colunas.
A figura 52 ilustra as matrizes para determinação dos cortes mínimos.
Pela análise da árvore de falhas, determinaram-se 24 cortes mínimos de
primeira ordem e 3 cortes de segunda ordem. Isto significa que para evitar a
existência do evento topo devem-se tratar as falhas básicas mais críticas, ou seja,
àquelas 24 determinadas na análise dos cortes mínimos.
Entretanto, como as organizações têm dotação orçamentária definida em
seu planejamento estratégico, necessita-se priorizar as diretrizes de manutenção
nas falhas que possam causar mais danos.
86
Figura 51 – Árvore de Falhas do turbo alimentador GM para o evento topo vazamento de óleo
lubrificante.
87
Figura 52 – Matriz de determinação dos cortes mínimos da Árvore de Falhas.
88
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
De acordo como capítulo 3, notou-se que a MCC está focada nas questões
relacionadas com o aumento da confiabilidade e da segurança operacional,
buscando, concomitantemente, o incremento da disponibilidade dos ativos, pela
visão da manutenção da função do sistema com a minimização dos custos e dos
impactos ambientais.
Com relação à AF construída para o evento topo “vazamento de óleo
lubrificante” do turbo alimentador GM, foram identificadas vinte e nove causas
básicas que são aquelas cuja eliminação tem como conseqüência a não-ocorrência
do evento topo.
Estas causas básicas geraram vinte e quatro cortes mínimos de primeira
ordem e apenas três cortes de segunda ordem, pela maior utilização da porta
lógica “OU” em detrimento da “E”.
Na árvore construída, a porta lógica “Saída Condicional” ocorreu apenas
uma vez. Por esta configuração pode-se concluir que a ocorrência “selo raspado” é
eliminada se o evento “conjunto rotor raspado” não ocorrer.
Pela árvore construída fica comprovada a criticidade da falha “vazamento de
óleo lubrificante” e a necessidade de se tomar ações para que esta falha deixe de
ocorrer.
A utilização da AF como ferramenta para análise de alternativas para
tomada de decisão, na área de manutenção, mostrou-se ser de extrema utilidade e
viabilidade. Por meio dela é possível estabelecer uma metodologia padronizada de
análise para o entendimento das falhas, possibilitando a priorização das ações
corretivas, a análise da confiabilidade, a indicação dos componentes mais críticos,
a compilação de informações para a manutenção e a elaboração de procedimentos
e treinamentos.
Além disso, notou-se que a AF é uma ferramenta de fácil confecção e
interpretação, mesmo pelos profissionais não envolvidos com a sua elaboração.
Este detalhe mostrou-se relevante para contexto atual das empresas ferroviárias
de carga, pois elas estão em franca evolução operacional, necessitando-se
modificar as suas formas de gestão e a cultura da exclusividade da manutenção
preventiva e corretiva.
89
Como recomendação para outros trabalhos notou-se, no momento da
revisão bibliográfica, que se poderia utilizar o conceito de análise da criticidade
inserido na técnica FMECA (Failure Mode, Effects, and Criticality Analysis) para
hirarquização das 24 falhas mais críticas proporcionando-se, com isso, a formação
de lista hierarquizada com os elementos mais prioritários quanto à necessidade de
manutenção.
Além da análise da criticidade também é possível utilizar a lista dos modos
de falha, das causas e dos efeitos, obtida na elaboração dos formulários propostos
pela técnica FMECA, servindo de análise preliminar para a construção da AF. Cabe
observar que pelos critérios pressupostos pela técnica FMECA, pode-se obter
falhas mais básicas que as relacionadas na AF.
Após a construção da árvore também pode-se efetuar a análise quantitativa,
utilizando-se cálculos de probabilidades de ocorrência dos eventos superiores e
eventos básicos e as ligações entre estas duas categorias de eventos para se
determinar quais as prioridades das ações a serem tomadas.
90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
91
SUCENA, Marcelo Prado. Engenharia de Manutenção. Curso de Especialização
em Transporte Ferroviário de Cargas. Instituto Militar de Engenharia. Rio de
Janeiro. 2008.
92