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Com base em informações de empresários e especialistas, as pontuações do Índice

de Percepção da Corrupção (CPI, na sigla em inglês) da Transparência


Internacional (TI) vão de zero a cem. Quanto mais baixa a pontuação de um país,
mais corrupto é considerado.
"A corrupção representa um risco e uma ameaça para as instituições democráticas,
porque quando a corrupção prevalece num país, tornando-se sistémica, as pessoas
perdem a confiança em suas instituições. Ela também surge em forma de menos
tolerância para as pessoas expressarem os seus direitos democráticos e até
denunciarem a corrupção," explica Samuel Kaninda, assessor regional para a África
subsaariana da Transparência Internacional.

Samuel Kaninda
"Mas, ao mesmo tempo, também observamos que em muitos países não
democráticos, governados por lideranças autoritárias, há pouco espaço para que as
pessoas também denunciem a corrupção e para que os líderes sejam
responsabilizados", acrescenta.
Os resultados referentes a 2018, publicados esta terça-feira (28.01), mostram que
mais de dois terços dos 180 países e territórios avaliados no índice pontuam abaixo
de 50, quando a pontuação média é de apenas 43 pontos. A maioria obteve pouco
ou nenhum progresso e apenas 20 fizeram progressos significativos nos últimos
anos.
Com uma média de apenas 32 pontos, a África Subsaariana é a região de menor
pontuação no índice. Assim, é considerada a região mais corrupta do mundo, onde
a corrupção é sistémica e endémica, afirma Samuel Kaninda.
"Há muito que ainda precisa ser feito para garantir que a corrupção seja melhor
controlada, em termos de prevenção, mas também em termos de sanções ou
processos, quando os casos não são trazidos diante dos olhos do público e dos
tribunais," avalia.
Manuel Chang no Tribunal de Kempton Park, África do Sul
Moçambique só piora
Nos últimos sete anos, Moçambique caiu oito pontos no índice, passando de 31 em
2012 para 23 em 2018 e ocupa agora o lugar 158 do ranking. Num dos maiores
escândalos de corrupção em África, Moçambique enfrenta acusações contra vários
ex-funcionários do Governo, nos EUA.
O ex-ministro das Finanças e banqueiro do Credit Suisse, Manuel Chang, é acusado
de concender mais de dois mil milhões em empréstimos ocultos e subornos, no
chamado escândalo das dívidas ocultas.
Um aumento nos raptos e ataques a analistas políticos e jornalistas investigativos
cria uma cultura de medo, acrescenta Samuel Kaninda.
"Há este clima de medo que existe no país, o que significa que as pessoas pensarão
duas vezes antes de se opôr à corrupção. A questão da corrupção não é apenas ao
ato em si, é também sobre o ambiente que é criado e que irá deter aqueles que são
testemunhas ou vítimas de corrupção de darem voz às suas opiniões ou mesmo
denunciar", considera.
"O espaço cívico e democrático deve estar aberto para permitir aos cidadãos
denunciar, demandar responsabilização sem medo de represálias", recomenda o
especialista da TI.
Vista parcial de Luanda
Angola é fonte de esperança
Com 19 pontos, Angola manteve a pontuação do ano passado e ocupa a posição 165.
"Significa que a corrupção está muito entranhada no país, é sistémica. Devido ao
país ter estado sob o governo de um líder por quase 40 anos, significa que a
corrupção se tornou a ordem do dia, que o país está numa posição muito crítica em
termos de como a corrupção afeta a vida diária dos cidadãos", descreve Kaninda.
Mas as reformas promovidas pelo Presidente João Lourenço e a sua campanha de
combate à corrupção deixaram os analistas animados. Por isso, é considerado um
país que dá "esperança para reformas anticorrupção".

João Lourenço
"Democracia também é uma questão de mudança, em termos de liderança política
por meio de eleições. Vimos uma mudança de liderança com a chegada do
Presidente Lourenço e que ele enviou todos os sinais corretos em termos de
intolerância à corrupção – ao atacar alguns peixes graúdos, incluindo até mesmo
filhos do ex-Presidente Eduardo dos Santos, dá sinais de que a justiça será para
todos", pondera. "Veremos com o tempo se essa determinação será
institucionalizada e sistémica - aplicável a todas as pessoas, mesmo aos mais
próximos do seu regime, sem medos ou favores", considera.
Guiné-Bissau e os golpes
Já a Guiné-Bissau, perdeu mais um ponto este ano e só somou 16, ocupando a
posição 172 do índice – algo que não surpreende o especialista da TI.
"Ir de golpe de Estado em golpe de Estado não permite a um país estabilizar-se e
construir instituições para prevenção à corrupção e mesmo para o sistema de
justiça. É um país onde, devido à instabilidade, a corrupção não está sob controlo",
afirma.
Cabo Verde e São Tomé e Príncipe em ascenção
Dos 49 países africanos avaliados, apenas oito alcançaram mais de 43 dos 100
pontos. São Tomé e Príncipe está entre eles e ao manter os 46 pontos que obteve em
2017, ocupa a posição 64 do índice. Mas a melhor notícia vem de Cabo Verde, que
subiu mais dois pontos, de 55 para 57, ficando na posição 45.
 

Ouvir o áudio06:27

Relatório: Angola dá "esperança para reformas


anticorrupção"
"Acreditamos que se trata dos sistemas em vigor e da liderança presidencial e do
funcionamento do judiciário, apesar de sabermos que não está livre de problemas.
Mas o Estado de Direito está a funcionar, o que significa que cada instituição pode
exercer o seu papel na prevenção e na repressão da corrupção por meio do sistema
de justiça", considera Samuel Kaninda.
A Somália, com 10 pontos, é o país com a pior avaliação este ano, ocupando a
posição 180. Já o Sudão do Sul, com 13 pontos, ficou na posição 178 do índice.
Recomendações para a transparência
A Transparência Internacional mantém as suas recomendações para os líderes que
queiram melhorar o desempenho do seu país em termos de democracia e combate à
corrupção.
"Prover liderança certificando-se de que as leis são respeitadas, dando mais meios
às comissões anticorrupção e respeitando os espaços democrático e civil e parar as
detenções de ativistas políticos e civis e jornalistas, especialmente aqueles que
denunciam a corrupção por parte da elite dominante", conclui Samuel Kaninda,
assessor regional para África subsaariana da Transparência Internacional.

JOÃO LOURENÇO: VIAGEM DE NEGÓCIOS À ALEMANHA

À procura de parcerias
O Presidente angolano, João Lourenço, veio à Alemanha numa visita oficial de dois dias e
foi recebido com honras militares pela chanceler Angela Merkel. O chefe de Estado veio
sobretudo à procura de atrair investidores para diversificar a economia, mas também com o
intuito de comprar embarcações de guerra, e a Alemanha deu sinais de abertura.

https://www.dw.com/pt-002/relat%C3%B3rio-angola-d%C3%A1-esperan%C3%A7a-para-
reformas-anticorrup%C3%A7%C3%A3o/a-47270710

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