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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA

CRIMINAL E DO TRIBUNAL DO JURI DA COMARCA DE ...

Processo-crime nº ...

HELENA, já qualificada nos autos do processo-crime em


epígrafe, por seu advogado que esta subscreve (doc. 1), não se conformando
com a respeitável sentença de pronúncia de fls. ..., vem, perante Vossa
Excelência, tempestivamente, no quinquídio legal, interpor:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

com fundamento no art. 581, inciso IV, do Código de Processo Penal.

Requer que seja recebido e processado o presente recurso


com as inclusas razões.

Caso Vossa Excelência entenda por manter a decisão


recorrida, requer, outrossim, a oportuna remessa ao Egrégio Tribunal de Justiça
...

Termos em que se pede deferimento.

Local, data.

Advogado ...
OAB ...
RAZÕES RECURSAIS

Recorrente: Helena
Recorrida: Justiça Pública
Origem: 1ª Vara Criminal e do Tribunal do Juri de ...
Processo nº: ...

Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara,
Nobres Julgadores!

Em que pese a ilustríssima decisão ora proferida pelo


Douto Juízo a quo, com a devida vênia, a mesma não pode subsistir, pelas
razões a seguir expostas:

I. DOS FATOS

Em apertada síntese, teria a Recorrente, no dia 17 de junho


de 2010, praticado o delito previsto pelo artigo 123 do Código Penal contra sua
filha, recém-nascida.
Durante a fase inquisitória, testemunhas que afirmaram
que a Recorrente vinha sofrendo de um quadro de depressão profunda no
momento anterior ao parto, bem como após este.
Não obstante, fora realizado exame médico legal, que
constatara que, de fato, a mesma estava sob influência do estado puerperal.
Adiante, em face da ausência de autoria do r. crime, fora
decretada interceptação telefônica da linha de telefone móvel da Recorrente,
vindo esta a confirmar os fatos investigados.
Acerca desses fatos, veio o delegado investido no caso a
intimar Lia, interlocutora do diálogo usado para demonstrar a alegada autoria do
crime, que acabara por reiterá-la perante a autoridade.
Assim sendo, fora denunciada a Recorrente pelo crime de
infanticídio perante a 1ª Vara Criminal e do Tribunal do Juri de ... .
Instaurado o processo, juntou-se aos autos o laudo de
necropsia realizado no corpo da criança, concluindo que a mesma já nascera
morta.
Designada audiência de instrução no dia 12 de agosto de
2010, Lia reitera aquilo que havia informado em sede de inquérito, porém
apresenta um fato novo, ao dizer que a Recorrente havia ingerido substância
abortiva, vindo esta a negar tais alegações.
A Procuradoria manifestou-se pela pronúncia da
Recorrente, nos termos da denúncia, enquanto que a defesa pela impronúncia.
O magistrado, com base nos fatos narrados, decidiu pela
desclassificação do crime de infanticídio para o crime de aborto provocado pela
gestante e intimando as partes no ato.
Em síntese, é o necessário.

II. PRELIMINARES DE MÉRITO

Primeiramente é necessário abordar a ilicitude da prova


obtida através de interceptação telefônica. Diz o artigo 2ª, Inciso III, da Lei 9296
de 1996, a qual disciplina a matéria da interceptação telefônica, que não é
admitida a interceptação quando o fato constituir infração punível, no máximo,
com pena de detenção.

Quando nos remetemos ao artigo da denúncia, o 123 do


Código Penal, podemos ler de forma clara as penalidades do infanticídio:

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio


filho, durante o parto ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

Mediante a clara situação de ilicitude da prova apresentada


nos autos requerer o seu desentranhamento, nos termos dos arts. 5º XII, 93, IX
da Constituição Federal c/c art. 157 do CPP.
Art. 5ºXII, CF - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;

Art. 157 de CPP - São inadmissíveis, devendo ser


desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou
legais.

III. DO DIREITO

Para que haja o pronunciamento, é necessário a existência


de dois requisitos fundamentais, quais sejam, os indícios de autoria e
materialidade delitiva. Assim, caso haja dúvidas acerca destes requisitos o juiz
deverá decidir “in dubio pro reo”, como amplamente discutido no Processo Penal.

Não só isso, o artigo 414 da Código de Processo Penal


aborda tacitamente a presunção de inocência afirmando que “não se
convencendo da materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de
autoria ou de participação, o juiz, fundamentadamente, impronunciará o
acusado”.

Ora excelência, caso seja considerada ilícita a prova, não


existem fundamentos para conceder base à decisão que pronunciou a ré. A
simples declaração afirmando que Helena estava em forte depressão não é
indicativo claro de culpabilidade, apenas que ela estava doente.

IV. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a este Egrégio Tribunal dignar-


se de dar provimento ao presente recurso para:

a) determinar o desentranhamento da prova Ilícita;


b) nulidade da decisão de pronúncia, com fundamento na
mutatio libelli;
c) impronunciar a recorrente em virtude do
desentranhamento da prova ilícita e consequente ausência de indícios
suficientes de autoria dos crimes de aborto e infanticídio.

Termos em que
Pede deferimento.

Local, data.

Advogado ...
OAB ...

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