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SOMOS TODOS CATÓLICOS

Reflexões sobre a Igreja Universal de Cristo em um mundo conturbado

Gil Vicente Gama*

“Paris bem vale uma missa!”, com esta afirmação, Henrique IV, o
huguenote, transformou-se em Henrique IV, rei dos franceses, aderindo ao
catolicismo numa missa solene em Paris e fez com que Roma, em 1595, sob o
papado de Clemente 8º, revogasse o banimento, do então protestante e
candidato a rei, da Igreja. Mesmo com a emissão do ato solene da Santa Sé, o
Rei Henrique IV, da família dos Bourbons, permaneceu mais protestante que
católico, e em 1598, fez a emissão do Edito de Nantes, reconhecendo a crença
da minoria protestante, os huguenotes, e entrando para a história como
Henrique O Grande, por ter promovido, dentre outros valores sociais, a paz e a
tolerância na convivência entre as religiões. De senhor da guerra, transformou-
se em monarca sábio.

Em 14 de maio de 1610, o Rei Henrique IV, foi assassinado por um


monge fanático, inconformado com o Edito de Nantes.

Os huguenotes, cujo maior expoente foi Henrique IV, surgiram na cidade


de Genebra no século XVI, o termo veio de "confederados" (francês
"Eidguenot", suíço-alemao “Eidgenossen”) e designava as cidades e cantões
helvéticos partidários da Reforma Protestante, liderados naquela região por
Calvino.

Em 10 de março de 1557, coube a dois pastores protestantes


huguenotes a celebração do primeiro culto evangélico realizado no Brasil, na
Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro.

Interessante que estes pastores chegaram ao Brasil através do convite


feito a Joao Calvino, por um católico francês de nome Nicolas Durand de
Villegaignon, fundador do Forte Coligny na Baia da Guanabara e que viria a
ficar conhecido como a França Antártica.

Por ironia do destino, ao longo dos meses seguintes aquela celebração


evangélica, Villegaignon começou a se desentender com o pastores
huguenotes por questões doutrinárias relacionadas a eucaristia, o que causou
a deportação dos pastores e a prisão de outros cinco huguenotes, acossando-
os de desordem publica. Na prisão, esses protestantes produziram um
documento que ficou conhecido como “Confissão de fé da Guanabara” e que
os transformou nos primeiros mártires protestantes em terras brasileiras e
fazendo com que Villegaignon entrasse para a história como o “Caim das
Américas”.
Uma década depois da realização daquele primeiro culto na Guanabara,
outro huguenote, Jacques le Balleur, terminou executado por cometer o “crime”
de pregar o Evangelho segundo a visão protestante, sentença esta executada
por Mem de Sá, com a assistência do padre Jose de Anchieta no dia de São
Sebastiao, 20 de janeiro de 1567, data escolhida para comemorar o domínio de
Portugal e expulsão definitiva dos franceses.

Quatro séculos depois destes acontecimentos, em 31 de outubro de


1999, representantes da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica
Apostólica Romana, assinaram a Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da
Justificação pela Fé, cujo o preâmbulo diz: " ...(esta Declaração) quer mostrar
que, com base no diálogo, as Igrejas luteranas signatárias e a Igreja católica
romana estão agora em condições de articular uma compreensão comum de
nossa justificação pela graça de Deus na fé em Cristo. Esta Declaração
Comum (DC) não contém tudo o que é ensinado sobre justificação em cada
uma das Igrejas, mas abarca um consenso em verdades básicas da doutrina
da justificação e mostra que os desdobramentos distintos ainda existentes não
constituem mais motivo de condenações doutrinais". A declaração pode ser
resumida neste trecho: "Confessamos juntos que o pecador é justificado pela fé
na acção salvífica de Deus em Cristo; essa salvação lhe é presenteada pelo
Espírito Santo no baptismo como fundamento de toda a sua vida cristã. Na fé
justificadora o ser humano confia na promessa graciosa de Deus; nessa fé
estão compreendidos a esperança em Deus e o amor a Ele".

Em outubro de 2016 o Papa Francisco viajou a Suécia para celebrar


uma missa, no dia de Todos os Santos (1º./novembro), marcando um
Comemoração Conjunta Católico-Luterana da Reforma. Um ano depois, o
Vaticano anunciou a emissão de um selo postal que representa Lutero aos pés
da Cruz, para comemorar o 500º aniversário da Reforma Protestante. Neste
selo, ao valor de 1,00 euro, encontramos na descrição da Santa Sé, a imagem
de Martinho Lutero, “em uma visão dourada e atemporal da cidade de
Wittenberg, em postura penitencial, ajoelhado respectivamente à esquerda e à
direita de Jesus crucificado, em suas mãos detém a Bíblia, fonte e destino de
sua doutrina, enquanto Philipp Melanchthon, teólogo e amigo de Martinho
Lutero, um dos principais protagonistas da reforma, mantém em mãos a
confissão de Augsburg (Confessio Augustana), a primeira apresentação pública
oficial dos princípios do protestantismo escrito por ele.”

Já antecipando a série de conflitos que haveriam por influencia da


pregação do evangelho, Jesus Cristo, em Marcos 9:38-41, ao ser comunicado
por Joao que os apóstolos ao verem um homem expulsando demônios em
nome de Jesus, procuraram impedi-lo dizendo que não era um dos “nossos”,
responde: "...Não o impeçam”, disse Jesus. "Ninguém que faça um milagre em
meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra
nós está a nosso favor. Eu digo a verdade: Quem der um copo de água a
vocês em meu nome, por vocês pertencerem a Cristo, de modo nenhum
perderá a sua recompensa.”

Se observássemos mais as escrituras, a Igreja Universal de Cristo,


sintetizada na palavra Católica, do grego καθολικος, formada das palavras Kat
= Igreja e Holikos = Universal, abrangeria uma denominação muito mais ampla
que as 24 Igrejas particulares Latinas (sui iuris) em conjunto com as 23 outras
Igrejas Orientais que formam o cânone romano, somados as milhares de
denominações de origem protestante, já estaríamos mais unidos para receber
a volta de Jesus Cristo no cumprimento da promessa de Deus cuja a casa esta
nos céus e será continuada no novo céu e na nova terra, se estendendo por
toda a eternidade (2Pe:3 e Ap:21).

Em uma recente reunião ocorrida no Rio de Janeiro, com o objetivo de


refundação no Estado da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas –
ADCE, me apresentei, para surpresa de muitos dos presentes, como sendo
“católico de denominação Batista”, ou seja, Comungo da Igreja Universal onde
Cristo é o Centro.

Com este testemunho, além é claro de muitos outros que se espalham


aos quatro cantos do nosso mundo, creio que em meio a tantas perseguições,
inclusive a recentemente divulgada contra os cristãos na China, impedidos de
comprarem ou mesmo portarem as suas Biblias, existem sinais, cada vez mais
evidentes, de que em meio ao caos deste fim dos tempos, a nova terra, na
unidade da Igreja, esta sendo edificada no coração daqueles que creem e
professam a sua fé através de uma mensagem viva em seus praticados, como
o apóstolo Paulo, sabendo que esse expediente bem se aplicava aos
seguidores de Cristo, escreveu: “Vós sois a nossa carta… conhecida e lida por
todos os homens” (2Co 3.2).

* Gil Vicente Gama

Advogado e Membro da Primeira

Igreja Batista de Copacabana

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