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r e v i s t a d e
O Missal:
entre o modelo da prática e a
prática do modelo
SUMÁrio
A tenda da transfiguração
Penha CarPaneDo 4
ISSN 1982-6303
www.revistadeliturgia.com.br
EdiToriaL
A tenda da transfiguração
Penha CarPaneDo, PDDm
Interno Altar
Ambão Ícone
Construção coletiva
da obra, tanto em relação à parte estrutural Contudo, esses materiais não constroem a
do prédio, a exemplo da instalação do piso, casa do Senhor senão quando são unidos pela
da estrutura especial de madeira do forro, caridade. Se estas madeiras e pedras não se
do telhado, da parte elétrica e do sistema de encaixassem ordenadamente, não se entrela-
çassem pacificamente e, por assim dizer, não
ampliação do som, como em relação aos seus
se amassem mutuamente, ninguém poderia
componentes litúrgicos: o altar, o ambão, a estar aqui. Mas, vês em qualquer construção
cadeira da presidência, a fonte batismal, o pedras e madeiras formando um todo ajus-
tabernáculo para a reserva eucarística, a tado, então podes entrar nela sem temer que
restauração do grande ícone da Deposição desabe.1
e outros mais. Durante a construção, uma
comissão de 10 pessoas, incluindo o prior do Para terminar, não posso deixar de agra-
Mosteiro, Dom Emanuele, acompanhou os decer às pessoas que se dispuseram a contri-
engenheiros na compra dos materiais, bem buir com a elaboração deste relato, também
como a execução da obra. ele, um trabalho coletivo. Gratidão muito
Assim, enquanto a “Casa de Deus” foi especial a dom Emanuele, que acompanhou o
sendo erigida pelo povo, como lugar de sua percurso desde o sonho até a realização, que
perene presença, Deus construiu o templo teceu a unidade dos irmãos e irmãs em tor-
vivo, a habitação do Espírito (1 Cor 3,16). no da construção do templo e da Igreja viva
Nesse sentido, nada mais oportuno que as e que traz, bem presente em sua memória,
palavras de Santo Agostinho: o espírito que moveu toda a comunidade a
construir sua casa.
O que acontecia aqui, enquanto esta casa
estava sendo erguida, é o que acontece agora
quando se reúnem os que creem em Cristo. 1
SANTO AGOSTINHO. Sermão 336,1.6: PL 38, [4--].
Com efeito, ao abraçarem a fé, foram como
In: OFÍCIO divino: renovado conforme o decreto do
a madeira cortada na floresta e as pedras Concílio Vaticano II e promulgado pelo papa Paulo VI:
talhadas nos montes; ao serem catequizados, tradução para o Brasil da edição típica: liturgia das ho-
batizados e instruídos, foram lavrados, acerta- ras segundo o rito romano IV: tempo comum: 18ª – 34ª
dos e aplainados pelas mãos dos carpinteiros semana. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Paulinas: Paulus:
e construtores. Ave-Maria, 1995.
mÁrCio Pimentel
S
abendo que a Liturgia não se encon- parágrafo da Constituição Apostólica se lê,
tra no livro, mas no corpo que age sobre o Missal pós-tridentino: “[...] durante
in memoriam de Cristo, morto e res- quatro séculos, os sacerdotes de rito latino
suscitado, é necessário nos indagar sobre o o tiveram como norma para a celebração
seu lugar no ato de culto. Em se tratando da do sacrifício eucarístico”; no Proêmio da
celebração eucarística, a própria Instrução Instrução Geral, por sua vez, tomando como
Geral nos oferece algumas pistas. referência a ordem do Senhor de preparar a
Tanto a Constituição Apostólica Missale ceia pascal, afirma: “A Igreja sempre julgou
Romanum1, com a qual vem promulgado o dirigida a si tal ordem, estabelecendo como
livro litúrgico para a celebração eucarísti- preparar as pessoas, os lugares, os ritos e
ca na Igreja de rito romano por ordem do os textos” (IGMR 1).
Concílio Vaticano II, quanto o Proêmio da Nesses documentos, ambos partes do
Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), Missal, discernimos dois aspectos funda-
consideram o livro litúrgico dentro do pro- mentais para receber, acolher e dispor de
cesso de transmissão da fé. No primeiro qualquer que seja o livro litúrgico : esses
A
Constituição Sacrosanctum Concilium po, como a teologia9, a fenomenologia10, a
(SC) n. 48, ao incentivar a mais provei- antropologia11 e a sociologia12.
tosa participação possível dos cristãos O reconhecido teólogo Romano Guardini,
na liturgia, afirma que ela se dá “por meio de numa de suas obras-chave para o Movimento
uma boa compreensão dos ritos e orações”1. Litúrgico, afirmou que o rito é como um jogo:
Tal afirmação abre margem para refletirmos capaz de reportar quem participa dele desde
sobre o que é o rito e sobre como ele tem sido a realidade objetiva até outra realidade alter-
entendido no seio da teologia litúrgica. De nativa13, remetendo-o do “como é” ao “como se
acordo com Terrin2, a palavra rito encontra fosse”. Há muitas pesquisas, ainda, sobre a
sua raiz no vocábulo latino ritus, que significa liminaridade do rito, isto é, sobre sua capaci-
algo como “ordem estabelecida, prescrição, dade de interromper o ritmo da cotidianidade
decreto, modo de ser, disposição organizada e abrir portas de acesso à transcendência14.
e harmônica das partes no todo”. Terrin afir- Alguns dos dados elementares para a iden-
ma que o mesmo termo teria também uma tificação de uma ação como ritual, conforme
segunda possibilidade de raiz etimológica muitos pesquisadores, são: a ruptura com
encontrada nas palavras rta ou rita (do idioma a cotidianidade, a repetição e o exagero. Por
sânscrito) e arta (do iraniano). Esses corres- romper com o ritmo comum da vida, o rito
pondentes são traduzidos, em português, resulta como marcador do tempo. É o caso,
por “arte, rito e ritual” respectivamente. Uma por exemplo, do dia de domingo, em torno do
terceira possibilidade estaria ligada, ainda, qual se organiza a vida dos cristãos. Devido à
a uma raiz indo-europeia, que poderia ser repetição, o rito é sempre transmitido de gera-
traduzida por “escorrer” e, nesse caso, estaria ção em geração, e isso garante certa invaria-
vinculada aos sentidos de “ritmo, rima e rio”. bilidade em seu cronograma. Em decorrência
O sociólogo francês Émile Durkheim da ruptura e da repetição, os gestos rituais
entende que ritos são práticas relativas às são sempre carregados de exagero, o que os
coisas sagradas3. O cientista da religião e diferencia das ações costumeiras do dia a dia.
exegeta argentino Severino Croatto afirma No cristianismo, a palavra rito tem sido
que o rito é, ao lado do mito, uma linguagem utilizada muitas vezes como sinônimo de
religiosa que coloca os símbolos da fé em liturgia15. Inclusive, as famílias litúrgicas (ro-
ação4. O teólogo italiano Giorgio Bonaccorso mana, bizantina, armênia...) são compostas
diz que o rito é como um olho por meio do conforme as particularidades do conjunto
qual cada ser humano é iniciado na cultura, de ritos que celebram e são classificadas e
de modo que cada pessoa forme sua cosmo- identificadas pelas expressões “rito romano”,
visão acerca da realidade a partir das vivên- “rito bizantino” e assim por diante. Ademais,
cias rituais5 que frequenta. Assim, é possível os livros litúrgicos, no catolicismo romano,
afirmar que o rito, embora componha o são denominados “rituais”. Portanto, é pos-
quadro das tradições religiosas, o extrapola. sível afirmar que a palavra rito açambarca a
Enquanto dado antropológico, o rito parece enorme gama de significados que orbita em
ter lugar em todas as culturas conhecidas. torno das ações religiosas.
E, atualmente, ele tem sido objeto de inte- Nesse sentido, é possível problematizar a
resse das mais diversas ciências, a saber: a afirmação depreendida da SC 48, citada ante-
linguística6, a psicologia7 e a neurobiologia8; riormente. Na liturgia católica, rito e oração se
além daquelas onde ele figura há mais tem- fundem. As orações, proclamações dos textos
N
esta série de artigos sobre os livros do o leitor termina, o presidente faz uma
litúrgicos que compõem o Missal Ro- exortação e convite para imitarmos esses
mano, já analisamos o Sacramentário belos exemplos. Em seguida, levantamo-nos
(o livro do presidente da celebração) e o An- todos juntos e elevamos nossas preces”1.
tifonário (o livro do cantor). Hoje falaremos Nesse testemunho podemos perceber
sobre um livro litúrgico fundamental para a que, já no início do cristianismo, havia lei-
estrutura celebrativa, sem o qual não é pos- turas específicas para serem realizadas aos
sível realizar nenhum dos sacramentos: o domingos. É certo que, nos primeiros sécu-
Lecionário, ou livro do leitor. los, utilizava-se o método da lectio continua,
O mais antigo atestado de uma Liturgia ou seja, a leitura continuada e sequencial
da Palavra na celebração da Eucaristia se dos diversos escritos bíblicos. Mas de que
encontra na 1ª Apologia de Justino, n. 67, do modo essas leituras foram escolhidas e, de-
século II: “No dia que se chama do sol, cele- pois, agrupadas, até se tornarem um livro
bra-se uma reunião de todos os que moram derivado e independente da Bíblia? Antes de
nas cidades ou nos campos, e aí se leem, en- responder a essa questão, vamos analisar a
quanto o tempo o permite, as memórias dos figura ministerial relacionada ao lecionário,
apóstolos ou os escritos dos profetas. Quan- ou seja, o leitor.
O
valor e a riqueza da Palavra de Deus enumerados acima, pois, na liturgia da Pa-
foi uma das marcas do Concílio lavra, o diálogo se manifesta com a voz do
Vaticano II. Na Igreja, a celebração Leitor ou da Leitora que, do ambão, proclama
litúrgica é um dos terrenos privilegiados a Palavra, e com a escuta e a resposta da
onde a Palavra ressoa hoje, pois, na liturgia, assembleia celebrante.
a Palavra de Deus não é um conteúdo a ser Desse modo, repensarmos o ministério do
compreendido por meio de uma abstração Leitor e da Leitora pode ajudar a fortalecer e
cognitiva racional, mas essa Palavra é o pró- a recolocar no centro a dimensão dialógica
prio Senhor (cf. Jo 1,14) que espera de nós e profética da Palavra de Deus em nossas
um diálogo com Ele. comunidades de fé. Assim, nos propomos,
Com a renovação conciliar, não há ação no presente artigo, a redescobrirmos a im-
litúrgica, especialmente sacramental, que portância da função ministerial do leitor e da
não envolva uma liturgia da Palavra. De leitora com a sua dupla missão: proclamar a
acordo com o documento conciliar sobre a presença de Cristo na liturgia e manifestar,
liturgia, através dessa Palavra proclamada através do testemunho, a força profética da
na assembleia cristã “Deus fala ao seu povo e Igreja.
Cristo proclama novamente o seu Evangelho”
(SC 33). Assim, todos os elementos de um Origem dos leitores e leitoras: da exclu-
diálogo verdadeiro devem se fazer presentes são a uma verdadeira inclusão
em nossas celebrações, isto é: a voz de quem
fala, a escuta atenta do interlocutor, o espaço O ministério do leitor e da leitora nasce
adequado, o silêncio, as respostas, etc. do fato de que alguém deveria proclamar a
A dimensão dialógica de escuta e de Palavra – ler o texto. Para tal função, eram
resposta à Palavra em nossas celebrações necessárias pessoas alfabetizadas. No mun-
litúrgicas é mediada por linguagens simbó- do greco-romano, ambiente das primeiras
licas que ajudam a manifestar os elementos comunidades, muitas escolas eram difun-
A
publicação da terceira edição típica do a sua reinserção nos formulários quaresmais.
Missal Romano (MR) indica uma atua- O fato de se encontrarem num “apêndice”
ção prática dos princípios basilares do do Ordinário da Missa do MR e não estarem
Concílio Vaticano II, tanto de continuidade ligadas a uma determinada celebração ou
ininterrupta da tradição orante da Igreja, tempo particular fez, sim, com que o seu
quanto no que se refere a oferecer a essa uso se tornasse muito raro. Além disso, essa
mesma Igreja a possibilidade de uma sempre disposição não favoreceu a compreensão do
renovada compreensão do mistério eucarísti- seu significado e, sobretudo, da sua função
co (cf. SC n. 231), feita a partir dos conteúdos dentro da celebração3.
teológico-eclesiais e litúrgico-ritual-celebrati-
vos, que sublinham sempre mais a lex orandi “Ó beleza, tão antiga e tão nova”
como a fonte primeira da profissão de fé do
povo de Deus e o substrato essencial para a A inserção das Orações sobre o povo nos
espiritualidade e o viver cotidiano. formulários do Tempo da Quaresma é uma
Entre as muitas consideráveis “novidades” retomada daquilo que já era presente no
do “novo” MR se encontram as chamadas Missal Tridentino como elemento dos ritos de
“orações sobre o povo”, ou melhor dizendo, conclusão que caracterizavam os dias feriais
as “orações de bênçãos sobre o povo”. Essas da Quaresma. A sua história funda as suas
orações aparecem assinaladas para cada raízes nos primeiros séculos da formação dos
formulário de missa, dominical e ferial, do ritos cristãos.
Tempo da Quaresma, precedidas da rubrica Uma forma de despedida da assembleia
“Para a despedida, o sacerdote voltado para o litúrgica é uma exigência de tipo sociológi-
povo, com as mãos estendidas sobre ele, diz co e também psicológico, além de assinalar
a seguinte oração”2. Trata-se, propriamente formalmente a relação temporal do rito. Já
falando, não de uma novidade, no sentido Tertuliano († 220c.) o atesta, as Constitui-
de uma coisa que nunca existiu, mas da ções Apostólicas ( séc. IV) fazem o diácono
recuperação de um elemento eucológico e dizer “Ide em paz” e a peregrina Egéria (IV
ritual antigo, sempre presente nas edições séc.) nota frequentemente que, no fim das
do Missal Romano anteriores a 1970 e que celebrações litúrgicas, o bispo abençoava os
resulta em um enriquecimento positivo em fiéis e se tinha uma despedida. Nesse mesmo
vista de uma maior compreensão da Qua- período, alguns concílios na Gália proibiam
resma enquanto caminho de conversão na que os fieis saíssem da igreja antes da bênção
direção da Páscoa. dada pelo bispo. As Constituições Apostólicas
Não que o MR restaurado pelo Concílio apresentam a forma e a fórmula ritual para
Vaticano II tenha deixado de lado ou esque- tal ocasião: depois da comunhão se prevê
cido esse precioso tesouro. Essas orações se uma oração que se conclui com o “amém”
encontram, em número reduzido, até o pre- da assembleia. O diácono diz: “Inclinai-vos a
sente momento, numa sessão à parte do MR Deus, pelo seu Cristo, e recebei a bênção” e o
intitulada exatamente “Orações sobre o povo” bispo recita uma longa oração que diz, entre
(p. 531-534). O que há de realmente “novo” é outras coisas: “Deus onipotente, abençoai
1. Aprofundando os textos bíblicos: Atos 14,21b- 1. Aprofundando os textos bíblicos: Atos 15,1-
27; Salmo 145(144); Apocalipse 21,1-5a; João 13,31- 2.22-29; Salmo 67(66); Apocalipse 21,10-14.22-23;
33a.34-35 João 14,23-29
O Evangelho ressalta o mandamento do amor doado O Evangelho convida a percorrer o caminho do
por Jesus na Ceia de despedida (13,1ss), o “ágape”, sinal seguimento a Jesus por meio da vivência e testemunho
da fraternidade que nasce de sua vida a serviço do bem da Palavra, que torna a comunidade cristã e cada ser
das pessoas. Eu dou a vocês um mandamento novo: humano morada de Deus. A escuta de Jesus, o qual
Como amei vocês, amem uns aos outros, proclama manifesta a bondade e a compaixão do Pai, leva à iden-
Jesus que exemplifica seu modo de amar através do tificação através da doação e entrega da vida. Na hora
gesto concreto de lavar os pés. Mestre e Senhor, Jesus da despedida de Jesus, a promessa do Espírito Santo
ensina a praticar o amor fraterno para transformar as garante a certeza da comunhão com Deus. “Paráclito”,
injustiças, a violência e a opressão. Em meio às trevas que significa defensor, consolador, confortador, indica
da noite, quando Judas Iscariotes saiu (13,30-31), Jesus a atuação do Espírito Santo que o Pai envia em nome
ilumina a seguir seus passos com fé e esperança. A obra de Jesus para guiar todos os que continuam a missão
de Jesus, o Filho do Homem, resplandece de glória e libertadora. O Espírito ensinará todas as coisas e recor-
Deus é glorificado nele. Filhinhos, tratamento carinhoso dará tudo o que Jesus disse, mantendo viva a memória
de Jesus à pequena e frágil comunidade, designa os diante dos novos desafios. Iluminados pela experiência
cristãos em 1João. Diante da iminência de sua morte, da ressurreição, os discípulos compreendem o sentido
Jesus ensina a viver com a dignidade de filhos e filhas das palavras e ações do Mestre (2,22; 12,16). A ação do
de Deus, deixando seus ensinamentos mais preciosos Espírito Santo conduz a viver a paz do Ressuscitado,
na forma de um testamento literário (13–17). O legado proclamada com insistência: Deixo para vocês a paz,
essencial é o novo mandamento do amor fraterno, funda- dou-lhes a minha paz. A missão de Jesus Cristo, o Un-
mentado na entrega radical de Jesus por amor até o fim. gido de Deus, liberta do medo e dá vida em plenitude.
Amar uns aos outros como Jesus amou, com gratuidade No tempo de Jesus e das comunidades primitivas, a paz
e sem interesses egoístas, deve ser a marca distintiva romana pacificava pelas armas e mantinha os povos sob
da comunidade cristã. Se tiverem amor uns aos outros, o domínio imperial. Jesus é o Caminho, a Verdade e a
todos vão reconhecer que vocês são meus discípulos, Vida que infunde confiança em meio às adversidades
apelo a multiplicar os gestos de Jesus em benefício de (14,1ss). A obra de Jesus confiada pelo Pai estando
todos. O mandamento do amor a Deus vem junto com consumada (19,30), realizada plenamente, motiva seus
o amor aos outros, pois amar a Deus implica o compro- seguidores/as a continuar a missão com alegria. Na
misso solidário com os irmãos e irmãs. Na leitura dos leitura dos Atos, o Concílio de Jerusalém sublinha a
Atos, Paulo e Barnabé retornam à Antioquia da Síria e adesão a Cristo e recomenda a observar o que favorece
partilham a experiência missionária, a obra de Deus que a comunhão fraterna. O salmo responsorial impele a
leva os gentios ao caminho da fé. O salmo responsorial glorificar o Senhor, que manifesta sua benevolência a
bendiz o Senhor, bondoso e compassivo com todas as todos os povos. A leitura do Apocalipse descreve a nova
suas criaturas. Na leitura do Apocalipse, Deus está no Jerusalém com portas sempre abertas para acolher todos;
meio da humanidade em Cristo, que revela a esperança repleta da presença de Deus e do Cordeiro.
de um novo céu e uma nova terra.
2. A palavra na vida
2. A palavra na vida Jesus não nos deixa órfãos; promete o Espírito Santo
A Palavra mostra que a nova criação começa em para guiar-nos no caminho da fidelidade ao seu projeto.
Jesus, o Enviado para manifestar a presença do Deus-
-Amor e ensinar a viver como filhos, buscando o bem 3. A palavra na celebração
uns dos outros. Celebrando o mistério pascal de Cristo, neste domin-
go, acolhemos a promessa do Espirito que estará conos-
3. A palavra na celebração co para prosseguirmos na missão que nos foi confiada.
Celebramos hoje o domingo do mandamento novo:
“amai-vos uns aos outros”. O mandamento do amor.
O amor é nossa “identidade” de discípulo e discípula
de Cristo.
32 - Revista de Liturgia 291 - Maio / Junho 2022
DOMINGO DA ASCENÇÃO DO SENHOR DOMINGO DE PENTECOSTES
29 de maio de 2022 5 de junho de 2022
1. Aprofundando os textos bíblicos: Atos 1,1-11; 1. Aprofundando os textos bíblicos: Atos 2,1-11;
Salmo 47(46); Efésios 1,17-23; Lucas 24,46-53 Salmo 104(103); 1Coríntios 12,3b-7.12-13; João
No Evangelho, os discípulos reunidos fazem a 20,19-23
experiência do encontro com Jesus ressuscitado e O relato do Evangelho sublinha que o dom do Es-
acolhem suas últimas instruções, que enfatizam a paz pírito Santo flui da Páscoa de Jesus, de sua exaltação
e a comunhão de mesa (24,36-53). Iluminados pelas na Cruz e na glória, como fonte de vida que permanece
Escrituras compreendem que Jesus é o Servo rejeita- para sempre (7,39; 19,30). No primeiro dia da semana,
do, mas também o Cristo e Filho de Deus exaltado. o domingo da ressurreição, a presença do Ressuscitado
A ressurreição de Jesus e sua elevação ao céu é prova no meio da comunidade infunde confiança para crer
da fidelidade do Pai que o manteve de pé ao longo do na força da vida que vence o medo e as aflições do
caminho. O Espírito Santo, a força do Alto revestirá os mundo (16,33). Jesus cumula seus discípulos com sua
discípulos para o anúncio e o testemunho do Senhor. paz, animando-os a abrir as portas para o anúncio e o
Jesus os levou para fora até Betânia, lugar de sua en- testemunho de sua mensagem libertadora. A alegria
trada messiânica em Jerusalém e que agora se torna o dos discípulos por verem o Ressuscitado, manifesta
local da consumação do seu êxodo. Erguendo as mãos e reconhecimento de Deus que realiza suas promessas de
abençoando seus discípulos, Jesus é elevado para junto salvação. Jesus, que fora enviado pelo Pai, agora envia
do Pai. Os discípulos se prostraram, reconhecendo a seus discípulos como continuadores de sua missão pro-
presença do Cristo Senhor que abençoava as pessoas fética, multiplicando gestos solidários que humanizam e
com gestos e palavras de bondade. Experimentam a transformam o pecado da injustiça. Sopra sobre os dis-
grande alegria, anunciada em 2,10 e louvam a Deus cípulos dizendo: Recebam o Espírito Santo. Evocando
sem cessar no Templo, comprometidos em espalhar a o Sopro Divino no ser humano modelado de argila (Gn
Boa Notícia da vida que vence a opressão e a morte. A 2,7), a ressurreição de Jesus é uma nova criação que
leitura dos Atos narra a elevação de Jesus na glória do restaura a vida segundo o projeto de Deus. O Espírito
Pai e a missão dos discípulos, chamados a testemunhar do Ressuscitado, o Cordeiro de Deus que tira o pecado
a mensagem do Ressuscitado ao mundo inteiro. O salmo do mundo (1,29), conduz a missão de eliminar o peca-
responsorial celebra a exaltação do Senhor, que estabe- do através de formas de vida e convivência marcadas
lece seu reinado em todo o universo. A leitura da carta pelo perdão e amor fraterno. A leitura dos Atos narra
aos Efésios proclama a força de Deus na ressurreição manifestação do Espírito Santo no dia de Pentecostes,
de Cristo, elevado à direita do Pai e constituído cabeça fruto da ressurreição de Jesus Cristo que estabelece a
da Igreja que é seu corpo unido à plenitude. fraternidade entre os povos e desfaz a confusão de Ba-
bel. O Salmo responsorial bendiz o Criador que envia o
2. A Palavra na vida seu Espírito e renova a face da terra, com seu cuidado e
A partir da exaltação plena de Jesus, o dom do seu afeição às criaturas. A leitura aos Coríntios acentua que
Espírito garante a sua presença na caminhada de seus fomos batizados num único Espírito, para formarmos
seguidores e seguidoras. Portadores e testemunhas da comunidades unidas em Cristo na diversidade dos dons.
bênção de Jesus no mundo, possamos buscar o bem
das pessoas e multiplicar gestos compassivos com os 2. A palavra na vida
mais sofridos. Jesus ressuscitado fortalece nossas comunidades
com sua paz e seu Espírito para realizarmos a missão,
3. A palavra na celebração reconhecendo tudo o que é contrário ao projeto de Deus
Demos graças a Deus pelo pão e pelo vinho neste e anunciando a salvação por meio da fraternidade e da
domingo da ascensão do Senhor aos céus, vivendo o comunhão. Que o agir do Espírito Santo renove a face
sentido mais profundo de sua ressurreição e da missão da terra.
que ele nos confiou, e que sugere que nós, os seguidores
de Jesus, temos que construir, com nosso esforço diário, 3. A palavra na celebração
o novo céu e nova terra. Na eucaristia, o pão e o vinho se convertem em sacra-
mento da Páscoa de Cristo, Corpo e o Sangue do Senhor;
participando na mesa do Senhor nos tornamos em Cristo
um só corpo e um só espírito (III Oração Eucarística).
Aprofundando os textos bíblicos: Zacarias 12,10- 1. Aprofundando os textos bíblicos: 1Rs 19,16b.19-
11; 13,1; Salmo 63(62); Gálatas 3,26-29; Lucas 21; Salmo 16(15); Gálatas 5,1.13-18; Lucas 9,51-62
9,18-24 O relato do Evangelho marca o início da subida de
O Evangelho começa com a oração de Jesus, que Jesus a Jerusalém, onde será elevado na cruz e consumi-
marca os momentos importantes de sua vida e missão rá seu êxodo com a morte, ressurreição e ascensão. Os
desde 3,21. As multidões seguiam Jesus com esperança peregrinos que iam a Jerusalém para as grandes festas
e muitos identificavam sua atuação profética a João evitavam passar pela Samaria, utilizando o caminho da
Batista, outros a Elias ou ainda a outros profetas como costa ou o vale do rio Jordão. O culto dos samaritanos
Jeremias, Amós. Os que compartilham o caminho com era centralizado no monte Garizim (Jo 4,20). Jesus passa
Jesus no discipulado são interpelados pela pergunta do pela Samaria, pois é o Enviado de Deus que manifesta
Mestre: Mas vocês, quem dizem que eu sou? A resposta a salvação a todos (17,11-19). Ao encontrar inimizade
de Pedro, em nome da comunidade dos discípulos e entre os samaritanos, os discípulos Tiago e João pensam
discípulas, é um ato de fé em Jesus, o Enviado do Pai. em rogar raios do céu como fez o profeta Elias (1Rs
Então, Jesus adverte para não contar isso a ninguém, 18,36-38), mas Jesus se opõe e ensina a fazer o bem
pois havia a expectativa de um Messias poderoso para para transformar toda forma de violência (6,27-29.35).
libertar o povo do domínio e opressão imperial. Jesus O ensinamento do Mestre sublinha que o discipulado
explica o sentido de seu messianismo por meio do exige viver a caminho, com despojamento absoluto,
anúncio da Paixão, o qual evoca o Servo sofredor de compartilhando a existência do Filho do Homem que
Is 52,13–53,12 e acentua que a entrega é consequência não tem onde reclinar a cabeça. Jesus se deslocava de
da prática da justiça e solidariedade. Jesus, o Filho do um lugar para outro devido ao trabalho missionário
Homem, toma o caminho da libertação pela doação até itinerante, a fim de realizar a obra libertadora confiada
o fim, não pelo poder das armas. Ele anuncia também pelo Pai. Sepultar os mortos é um dever e os discípulos
a sua ressurreição, pois é o Vivente que caminha com sepultarão o corpo do Crucificado (23,53-56), porém o
todos os seus. A opção por Cristo leva a carregar a cruz, ensino de Jesus insiste na urgência de estar a serviço
assumindo a cada dia seu modo de viver e o compro- do Reino da vida, justiça e fraternidade. Quem põe a
misso sem reservas de levar adiante o Reinado de Deus. mão no arado e olha para trás abre sulcos tortos; não
Todos são chamados a colaborar com o projeto de Deus é apto para o Reinado. A entrega confiante em Deus,
a favor da humanidade, que se manifesta de modo espe- conforme o modelo de Cristo, elimina o que pode ser
cial em Cristo e proporciona encontrar a fonte da vida obstáculo no testemunho cotidiano do Evangelho. Na
e salvação. O profeta Zacarias, em meio ao sofrimento leitura, tirada de 1Reis, o gesto de Elias de impor o
e morte de inocentes, anuncia a esperança de salvação: manto significa o chamamento profético de Eliseu, que
“Olharão para aquele a quem transpassaram”, texto apli- assume a missão a serviço do Senhor. O salmo respon-
cado a Cristo na cruz (Jo 19,37). O salmo responsorial sorial exprime a confiança em Deus, a herança da vida.
exprime a confiança do justo que, diante das tribulações, A leitura aos Gálatas convida a permanecer firmes na
busca a Deus como a terra sedenta sem água. A leitura liberdade em Cristo, guiados pelo Espírito na vivência
aos Gálatas lembra que, pelo batismo, nos revestimos de do amor fraterno.
Cristo para viver na igualdade de filhos e filhas de Deus.
2. A palavra na vida
2. A palavra na vida A tarefa mais urgente deve ser sempre trabalhar a
“Quem é Jesus, para nós?”, pergunta a ser renovada serviço do Reino de Deus por uma vida mais humana,
todos os dias a fim de manter viva nossa fé em Cristo seguindo os passos de Jesus de Nazaré.
e manter nossa conduta de vida segundo a fé de Jesus.
3. A palavra na celebração
3. A palavra na celebração A liturgia é uma escola de fé que mantém em nós a
Na celebração litúrgica, lembramos a Deus e a nós memória viva do crucificado-ressuscitado, o Filho de
mesmos quem é Jesus, em quem cremos. Deus que se encarnou para nos humanizar.